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Resumo:
A Advocacia Pública tem destacado assento na Constituição Federal
de 1988. No entanto, seu papel tem sido tão incompreendido, que,
a título de exemplo, se observa que, passados mais de 25 anos da
CF88, em significativos números, município há que sequer conta com
o órgão “Advocacia Pública” em suas leis. Este trabalho tem por ob-
jetivo trazer à lume mais uma vez o tema, a fim de despertar aos
agentes públicos do sistema de integridade brasileiro e ao cidadão
da importância da criação e estruturação das advocacias públicas
nos municípios em cumprimento ao mandamento constitucional. Em
seguida, ainda na defesa da Advocacias Públicas Municipais, ex-
põem-se as não incomuns ilegalidades decorrentes da contratação
de escritórios de advocacia por municípios em atividade substitutiva
de atividade privativa das Advocacias Públicas Municipais.
Abstract:
The Public Advocacy has highlighted seat in the Federal Constitution
of 1988. However, its role has been as misunderstood that, for exam-
ple, noted that after over 25 years of CF88, in significant numbers,
there are municipalities that does not have its "Public law" in their
laws. This paper aims to bring the heat once again the theme, in order
to arouse public servants of brasilian system integrity and the citizens
of the importance of the creation and structuring of public law firms in
municipalities in compliance with constitutional law. Then, even in the
defense of municipal law, expose yourself the not uncommon illega-
lities arising from the hiring of law firms by municipalities in replace-
ment activity private of the Municipality Public Advocacy.
*
Mestre em Direitos Coletivos, Especialista em Contas Públicas, Pós-Graduando
em Auditoria e Contabilidade Públicas. Promotor de Justiça do MP-GO.
269
Resumen:
La Defensoría Pública ha destacado asiento en la Constitución Fe-
deral de 1988. Sin embargo, su papel ha sido tan mal entendido,
que, por ejemplo, se observa que, después de más de 25 años de
CF88, en números significativos, hay municipalidades que siquiera
poseen una "Defensoría Pública" en sus leyes. Este trabajo se pro-
pone a estudiar una vez más el tema, a fin de despertar en los ser-
vidores públicos del sistema de integridad brasileño y a los
ciudadanos de la importancia de la creación y de la estructuración
de las Defensorías Públicas en los municipios en cumplimiento al
derecho constitucional. Por fin, aún en la defensa de la Defensoría
Pública Municipal, se exponen las no poco comunes ilegalidades
derivadas de la contratación de firmas de abogados por los muni-
cipios en actividad de sustitución a la actividad privada de las De-
fensorías Públicas Municipais.
Palavras-chaves:
Advocacia Pública, Município, Advocacia Pública Municipal.
Keywords:
Public Advocacy, County, Municipal Public Advocacy.
Palabras clave:
Defensoría Pública, Municipio, Defensoría Pública Municipal.
INTRODUÇÃO
270
De outro lado, salvo exceções entre as capitais dos estados e outros
municípios de médio a grande porte, a Advocacia Pública nos Muni-
cípios não anda bem. O seu papel tem sido tão incompreendido, que,
a título de exemplo, se observa que, passados mais de 25 anos da
CF88, em significativos números, município há que sequer conta com
o órgão “Advocacia Pública” em suas leis.
Este trabalho tem por objetivo trazer à lume mais uma vez
o tema, a fim de despertar aos agentes públicos do sistema de inte-
gridade brasileiro1 e ao cidadão da importância da criação e estrutu-
ração das advocacias públicas nos municípios em cumprimento ao
mandamento constitucional. Em seguida, ainda na defesa da advo-
cacia pública municipal, expõem-se as não incomuns ilegalidades
decorrentes da contratação de escritórios de advocacia por municí-
pios em atividade substitutiva de atividade privativa das advocacias
públicas municipais.
1
Peter Eigen, então presidente da transparência Internacional (tI) noticiou que, em
2006, a “tI estabeleceu o ‘conceito de sistema nacional de integridade’ como abor-
dagem holística da transparência e da accountability, como uma estrutura para es-
forços efetivos de reforma anticorrupção. Nesse meio tempo, o conceito entrou
rapidamente no vocabulário dos militantes contra a corrupção em todo mundo. Os
pilares da integridade do sistema abrangem uma série de instituições e práticas cujo
funcionamento e interação são essenciais para garantir níveis altos de transparência
e accountability em um país” (SPECK, 2002, p. 12).
271
haja vista a sua necessidade de harmonização, por meio do direito,
aos demais órgãos de poder e a toda sua atuação pelo povo, toda
ela secundum legem.
O artigo 131 trata da Advocacia Pública da União. Ainda no
caput do referido artigo se firmaram suas três funções: a) representar
a União, judicial ou extrajudicialmente; b) realizar a atividade de Con-
sultoria do Poder Executivo; e c) realizar a atividade de assessora-
mento do Poder Executivo.
No caput do artigo 132, em uma redação sem paralelismo
com o artigo anterior, não usa o termo Advocacia-Geral dos Estados
e do Distrito Federal, tampouco Procuradoria, mas Procuradores dos
Estados do Distrito Federal. A eles, ou à Procuradoria na qual estão
investidos, se atribuem: a’) a representação judicial e b’) consultoria
jurídica das respectivas unidades federadas.
272
O referido autor (idem, p. 2), ainda, em lição colhida a José
Iturriaga Romero, adverte que “a representação é uma figura jurídica
que se pode combinar com todos os atos jurídicos dos quais não re-
pugne a substituição”. Para De Plácido e Silva (1999, p. 704), “[j]uri-
dicamente, a representação é a instituição, de que se derivam
poderes, que investem uma determinada pessoa de autoridade, para
praticar certos atos em nome de alguém”.
Para que se exerça representação judicial do ente federado,
em grande parte da atuação, esta se faz por meio de “postulação a
qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais” (artigo 1º,
I, da Lei 8.906/1994), sendo uma atividade privativa da advocacia (artigo
1º, caput, da Lei 8.907/1994). Sobre a representação judicial dos entes
públicos, esclarece Leonardo José Carneiro da Cunha (2003, p. 15):
2
“Na verdade, a expressão Fazenda Pública representa a personificação do Estado,
abrangendo as pessoas jurídicas de direito público. No processo em que haja a pre-
sença de uma pessoa jurídica de direito público, esta pode ser designada, generica-
mente, de Fazenda Pública. A expressão Fazenda Pública é utilizada para designar
as pessoas de direito público que figurem em ações judiciais, mesmo que a demanda
não verse sobre matéria estritamente fiscal ou financeira.” (CUNHA, 2003, p. 11).
273
Da consultoria jurídica do Poder Executivo
274
23, 45, § 2º, e 49, I. E da leitura desses dispositivos legais é pos-
sível asseverar que as atribuições do advogado-geral não se limi-
tam à atividade judicial, estendem-se à área normativa,
administrativa e de consultoria. Incumbe-lhe, ainda, atuar como
hermeneuta, fixando a interpretação da Constituição e de todos
os demais atos normativos, a ser seguida por toda a Administra-
ção Federal. [...] 2.2 Atividade consultiva: sua atividade de consul-
toria e assessoria, auxiliado pela Consultoria-Geral, compreende
a apresentação de informações ao presidente da República, rela-
tivas a medidas impugnadoras de ato ou omissão presidencial –
art. 4º, V. Significa que todo ato ou omissão do chefe do Executivo
que enseje impugnação de terceiros deverá ser encaminhado à
instituição para que o advogado-geral da União, diretamente, ou
por seus auxiliares, apresente informações necessárias à defesa
do ato ou justifique, nos casos de omissão, o fato de não ter sido
tomadas determinadas medidas. É o caso das ações diretas de
inconstitucionalidade quando o Supremo tribunal Federal requer
informações.
Em seguida, arremata:
275
Do ingresso na carreira
276
Mostra-se harmônico com a CF preceito da Carta Estadual pre-
vendo a escolha do Procurador-Geral do Estado entre os inte-
grantes da carreira (ADI 2.581, Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 16/08/2007, Plenário DJE de 15-8-2008)
277
[...] no Ato das Disposições Constitucionais transitórias, somente
se admitiu a dualidade de órgãos jurídicos oficiais se, à época da
Constituição, essa dualidade já existisse. Parece-me que está a
sinalizar mesmo o princípio da unicidade de representação judicial.
Sendo principio, impõe-se à observância dos Estados e do Distrito
Federal, por força do art. 25, caput.
Estabilidade
278
tanto o artigo 131, § 2°, como o artigo 132, da CF88, pres-
crevem que os cargos da advocacia pública estão insertos em car-
reiras profissionais públicas, sendo os termos utilizados: “classes
iniciais das carreiras da instituição” e “organizados em carreira”, res-
pectivamente.
Juarez Freitas (2006, p. 619), em comento aos artigos 37,
XII, e 167, IV, da Constituição Federal em referência ao quadro de
pessoa da Administração tributária dos entes federados, mas de total
pertinência também à carreira da advocacia pública, apresenta-nos
importante definição e reflexão sobre as carreiras de atividades es-
senciais ao Estado. Observe-se:
279
sistema de benefícios fáceis sustentados pelos recursos arrecadados
pelo contribuinte”. Mas afirmava que “os caminhos de eventuais mu-
danças não determinam o rompimento com o que de melhor se se-
dimentou no âmbito do aparelho estatal, sem a perspectiva de
processos substitutivos, responsáveis, coerentes e eficazes” (FER-
REIRA, 2003, p. 352). A saber:
280
do Núcleo Estratégico a possibilidade de contrariar interesses que,
não raras vezes, não se coadunam como os princípios elementa-
res da Administração Pública, violando-se, por conseguinte, os in-
teresses permanentes do Estado. (grifei)
4
Art. 247. As leis previstas no inciso III do § 1º. E do art. 41 e no § 7º do art. 169 es-
tabelecerão critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor pú-
blico estável, desenvolva atividades exclusivas de Estado (EC 19/98). Parágrafo
único. Na hipótese de insuficiência de desempenho, a perda do cargo somente ocor-
rerá mediante processo administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório
e a ampla defesa.
281
ADVOCACIA PÚBLICA MUNICIPAL CONFORME A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
5
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que ado-
tarem, observados os princípios desta Constituição. (EC n.5/95).
282
Na Constituição de 1988, os limites à autonomia dos Estados-
membros se apresentam sob múltiplas formas e funções. Vêm
consagrados(a) ora expressamente (normas expressas), (b) ora
implicitamente (normas implícitas); aparecem sob a formulação
(c) ora de um mandamento (normas mandatórias), (d) ora de uma
vedação (normas vedatórias).6
283
ADVOCACIA PÚBLICA MUNICIPAL
i) Representa judicial e extrajudicialmente o Município; (fonte: art.
131, caput)
ii) Deve ter definida em Lei Complementar Municipal sua organi-
zação e funcionamento; (fonte: art. 131, caput)
iii) O chefe da Advocacia Pública Municipal deve ter notável saber
jurídico, reputação ilibada e idade maior que vinte e um anos;
(fonte: art. 131, § 1° c/c art. 14, VI, “b”)
iv) O chefe da Advocacia Publica Municipal pode ser nomeado li-
vremente pelo Prefeito Municipal ou, nomeado entre os membros
da Carreira Municipal de advocacia pública; (fonte: art. 131, § 1°
c/c art. 29 – ver explicação adiante)
v) O ingresso na carreira da advocacia pública municipal far-se-á
mediante concurso público de provas e títulos com a participação
da ordem dos advogados do Brasil em todas as suas fases; (fonte:
art. 131, § 2° c/c art. 132 e 29)
vi) O órgão da Advocacia Pública Municipal deve ser o único a
exercer as funções indicadas nas alíneas i e ii; (fonte: art. 131, §
3° c/c art. 69 da ADCt);
vii) Os membros da advocacia pública municipal serão estáveis
após três anos de efetivo exercício se aprovados em avaliação de
desempenho realizado por órgão da própria instituição; (fonte: art.
132, § único);
viii) A advocacia pública municipal deve contar com um órgão pró-
prio de correição que terá entre suas atribuições relatar circuns-
tancialmente a atividade dos membros da instituição para fins de
análise de estabilidade; (fonte: art. 132, § único in fine);
7
ADI 2.581, Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgamento em 16/08/2007, Plenário
DJE de 15-8-2008.
284
tantos brasis deste Brasil há, de fato, municípios muitos pequenos
com população de menos de cinco mil habitantes, ou até menos de
três mil habitantes. Não se cogita, aqui, a possibilidade de que tais
municípios não estivessem obrigados a criar seus órgãos de advo-
cacia municipal. Afinal, também são obrigados a criar seus cargos
de prefeito, vereadores, secretários municipais e chefes de controle
interno, agentes de administração tributária, todos eles previstos, ex-
plícita ou implicitamente, na Constituição Federal. Mas, excepcional-
mente e, eventualmente, talvez um único profissional possa ser investido
no cargo de Chefe da Advocacia Pública Municipal e ser capaz e traba-
lhar de modo suficiente a atender os encargos da função. Nesse peculiar
caso, não se vê a necessidade do estabelecimento de uma carreira na
instituição, pelo menos enquanto persistir a situação dele se desincumbir
sozinho de suas tarefas funcionais.
285
Agentes municipais recebem dos advogados contratados orienta-
ções jurídicas em caráter continuado e para objetos diversos, em
regime de execução indefinido e frouxo8, por preços não justifica-
dos9, a maioria acerca de fatos corriqueiros da administração10, em
verdadeira usurpação de função pública e violação ao princípio do con-
curso público11, por meio de terceirização ilegal12. O mais aviltante de
tais situações é que, em não poucas vezes, os advogados são direta-
mente contratados, valendo-se de falsas declarações de notória espe-
cialização dos profissionais13 e sofríveis justificativas da escolha do
8
Indique, nas contratações de obras e serviços, o regime de execução na forma estabe-
lecida pelo artigo 10 da Lei n. 8.666/1993. tCU. Acórdão 2237/2006 Primeira Câmara.
9
Inclua nos processos licitatórios, em atenção ao disposto no artigo 7º, § 2º, I, da Lei n.
8.666/1993, bem assim de dispensa e inexigibilidade, orçamento em planilhas que ex-
pressem de forma detalhada a composição de todos os custos unitários do objeto a ser
contratado. Apresente nos editais de licitação, como critério para julgamento, disposições
claras e parâmetros objetivos, que impeçam mais de uma interpretação, em respeito
ao artigo 40, inciso VII, da Lei 8.666/1992. Acórdão 818/2008 Segunda Câmara.
10
O tribunal de Contas dos Municípios Goianos tem firmado sua posição nos termos
da Resolução RC n. 032 – 05, consulta formulada pelo Prefeito do Município de Ca-
talão, nos termos seguintes: “EMENtA – A realização de procedimento licitatório
pela Administração Pública para a contratação de serviços de terceiros é a regra
geral imposta pelo artigo 37, XXI da Constituição da República e pela Lei 8.666/93,
sendo possível a contratação de advogado ou de empresa que atua na área jurídica,
mediante inexigibilidade de licitação, somente nos casos de alta complexidade do
objeto contratual, devidamente justificada” (Decisão Colegiada de 21/12/2005).
11
Abstenha de celebrar contratos cuja execução do objeto demande ações previstas em
seu quadro funcional como atividade fim. tCU. Acórdão 3923/2009 Primeira Câmara.
12
Um dos fatores de identificação da legitimidade da contratação consiste na natu-
reza da atividade. Para que seja realmente legítimo, o contrato de serviço tem que
ter como objeto atividades-meio, e nunca atividades-fim. Assim, a Administração
não pode celebrar contrato de serviços especializados para a função de professor
de escolas públicas ou de médico para hospitais públicos. Contratação para esse
tipo de atividades estará escamoteando uma admissão funcional indevida. Se de-
terminada atividade se configura como finalística (atividade-fim), ainda que se ca-
racterize como profissional especializado, o Poder Público precisa estruturar-se com
quadro funcional próprio, constituído de cargos ou empregos, para cujo acesso será
necessária a prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos,
como exige a Constituição” (CARVALHO FILHO, 2009, p. 49-50).
13
Discorrendo sobre o tema, Joel Menezes Niebuhr (2011, p. 93-94) esclarece:
“Sobre o assunto, o § 1º do art. 25 da Lei n° 8.666/93 preceitua: ‘Considera-se de
notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua es-
pecialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiência, publicações,
organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados
com suas atividades, permite inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente
o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato. Portanto, o dispositivo
supracitado oferece elementos que propugnam esclarecer quais os profissionais
286
profissional14 e da singularidade do objeto15 contratado, quase sem-
pre definido de forma abrangente e vaga16. Advogados contratados
são escolhidos pelos Prefeitos entre aqueles que os defenderam du-
rante o processo eleitoral que os levou ao cargo, em absoluta situa-
ção de conflito de interesses17 18 e, daí, improbidade administrativa.
que podem ser qualificados como acima da média, isto é, portadores de notória es-
pecialização. De acordo como o texto, os agentes administrativos devem analisar o
desempenho anterior do profissional, que, por dedução lógica, deve ser favorável
aos resultados visados pelo contrato, ou seja, ele deve ser alguém cuja experiência
seja cercada de méritos. Ao mesmo passo, impõe-se avaliar os estudos, os trabalhos
publicados, especialmente se o serviço a ser contratado se referir à matéria que seja
objeto de estudos acadêmicos. Além disso, se a natureza do serviço demandar a in-
tervenção de equipe de profissionais, importa apurar a estrutura organizacional de
que o futuro contratado dispõe, bem como, se pertinente, apurar se a equipe dispõe
do aparelhamento tecnológico para a produção dos resultados pretendidos”.
14
“Observe nos termos do subitem 8.2.3 da Decisão 739/00 Plenário, no sentido da
correta formalização dos processos de contratação de serviços de advocacia, quando
ocorrer por inexigibilidade de licitação, com os motivos determinantes da singularidade
dos serviços e com a documentação capaz de demonstrar a notória especialização dos
contratados. Observe sempre a necessidade de formalização de procedimento, mesmo
nos casos de dispensa e inexigibilidade de licitação, conforme preceituam os arts. 2º e
26, parágrafo único, da Lei n° 8.666/1993. tCU. Decisão 955/2002 Plenário.”
15
O tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina no processo COM – 04/02691326,
em 30 de agosto de 2004, emitiu decisão pela inadimissibilidade da contratação por
inexigibilidade para execução de serviços rotineiros: “Os serviços jurídicos ordinários da
Prefeitura (apreciação de atos, processos, procedimentos e contratos administrativos,
projetos de lei, defesa do município judicial e extrajudicial, incluindo a cobrança da dívida
ativa) e da Câmara (análise de projetos de lei, das normas regimentais, e de atos ad-
ministrativos internos) não constituem serviços singulares ou que exijam notória espe-
cialização que autorize a contratação por inexigibilidade de licitação”.
16
Discrimine, de forma precisa, no edital de licitação e no respectivo contrato, o objeto
a ser adquirido, fornecendo todos os elementos necessários à sua caracterização,
tanto quantitativa como qualitativamente, em observância ao disposto no artigo 55, I,
da Lei n. 8.666/1993. Do mesmo modo, elabore o projeto básico do serviço a ser pres-
tado previamente ao certame, no grau de detalhamento exigido nos artigos 6º, inciso
IX, e 7° da Lei 8.666/1993, especificando, para os contratos que lhe darem com o for-
necimento de mão-de-obra, a relação das atividades que serão desempenhadas
pelos agentes da empresa contratada, não sendo suficiente nestes casos a simples
enumeração dos recursos humanos a serem alocados. tCU. Acórdão 682/2006.
17
A recente Lei Federal 12.813/13, que dispõe sobre o conflito de interesses no
exercício de cargos ou empregos no âmbito do Poder Executivo Federal, nos traz
conceito legal de conflito de interesses, que se nos mostra útil e aplicável a qualquer
agente público, inobstante o cargo ou emprego que ocupe, verbis: “Lei 12.813/2013.
Art. 3º. Para os fins desta Lei, considera-se: I – Conflito de interesses: a situa-
ção gerada pelo confronto de interesse públicos e privados, que possa com-
prometer o interesse coletivo, ou influenciar, de maneira imprópria, o
desempenho da função pública e; [...]”.
18
“Abstenha de realizar licitações nas quais haja quaisquer relações entre os participantes
287
Nessa situação, sequer há ambiente para a cobrança ou fiscalização
dos serviços contratados. tais contratações se fazem em violação
não só da necessidade de criação e estruturação dos órgãos de ad-
vocacia pública municipal como apontado supra, como também às
várias prescrições legais da Lei de Licitações e Contratos, Lei
8.666/1993 e, até mesmo, Súmula do tribunal de Contas da União19.
Com a criação, devida estruturação e valorização dos profis-
sionais da Advocacia Pública Municipal, todas essas situações inde-
sejadas e imorais tendem a ser combatidas, espera-se, principalmente,
pelos próprios membros da instituição, em primeiro plano.
CONCLUSÃO
e aqueles que detenham o poder de decisão no processo licitatório, ou qualquer outra si-
tuação em que se verifique prejuízo ao atendimento dos princípios da igualdade e da
moralidade administrativa”. tCU. Acórdão 5276/2009 Segunda Câmara.
19
“SÚMULA n. 264/2011. A inexigibilidade de licitação para a contratação de serviços
técnicos com pessoas físicas ou jurídicas de notória especialização somente é ca-
bível quando se tratar de serviço de natureza singular, capaz de exigir, na seleção
do executor de confiança, grau de subjetividade insuscetível de ser medido pelos
critérios de qualificação inerentes ao processo de licitação, nos termos do art. 25,
inciso II, da Lei 8.666/1993. Fundamento Legal. Constituição Federal, art. 37, inciso
XXI; Lei 8.666, de 21/6/1993, art. 25, inciso II;”. Precedentes: Acórdão 416/2008,
571/2007, 3860/2007, 706/2007, 2839/2007 e 283/2007.
20
Prefeitos, Vereadores, tribunais de Contas e Ministérios Públicos em primeiro
plano, Poder Judiciário ao ser provocado.
288
de coerção, inclusive judiciais, este por meio da ação popular ou do
voto. talvez a Advocacia Pública Municipal organizada de forma in-
dependente nos moldes constitucionais não tenha sido ainda com-
preendida pela sociedade brasileira, em especial pelos agentes
públicos municipais, com destaque para o prefeito. Não se descarta
a hipótese, contudo, que talvez seja a plena compreensão do seu
papel, importância e poder em favor do Estado Democrático de Di-
reito que tem levado a que alguns Prefeitos - aqueles descolados do
interesse público - tenham se mantido inertes e resistentes a criá-
las. O momento é de ação, eis que não faltam argumentos e instru-
mentos constitucionais e infralegais para a defesa da Advocacia
Pública Municipal.
REFERÊNCIAS
289
FREItAS, Juarez. Carreiras exclusivas de estado: em defesa do vín-
culo institucional. In: OSÓRIO, Fábio Medina; SOUtO, Marcos Ju-
ruena Villela. Direito Administrativo – Estudos em homenagem a
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SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Positivo. 25. ed. São
Paulo: Malheiros, 2005.
SOUtO, João Carlos. A União Federal em juízo. São Paulo: Saraiva, 2000.
290