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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ NOVA FRIBURGO

PSICOLOGIA

CLARIANE OLIVEIRA DA SILVA - 202002644346

TÉCNICAS PROJETIVAS E EXPRESSIVAS DE AVALIAÇÃO

NOVA FRIBURGO

2022

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TESTE DE APERCEPÇÃO TEMÁTICA (TAT)

O Teste de Apercepção Temática (TAT) é considerado uma técnica projetiva que


consiste em apresentar ao sujeito uma série de pranchas selecionadas pelo examinador
que retratam situações sociais e relações interpessoais, em que o examinando deverá
contar uma história sobre cada uma das pranchas apresentadas. As histórias obtidas com
frequência revelam componentes importantes da personalidade, que são decorrentes de
duas tendências psicológicas, segundo a teoria de Murray: a primeira delas é a tendência
das pessoas para interpretar uma situação humana ambígua baseando-se em suas
experiências passadas e em seus anseios presentes; a segunda é a inclinação das pessoas
que escrevem histórias para agir de igual maneira: utilizar o acervo de suas experiências
e expressar seus sentimentos e necessidades conscientes e inconscientes.

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IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE

Dados do paciente:Carla de Souza Oliveira.


Idade:50a 2m.
Natural: Niterói/RJ.
Escolaridade: Superior Completo.
Profissão: Professora.
Solicitante:Psiquiatra.
Finalidade: Investigação possível quadro depressivo.
Autora: Clariane Oliveira da Silva – CRP:05/12345.

OBJETIVO DA APLICAÇÃO

Demanda chega através do Psiquiatra, Dr.Lucas, que investiga possíveis


alterações nos processos de humor da paciente. Família relata que q paciente
vem apresentando dificuldades em se comunicar, fazer tarefas diárias, assim
como socialização no ambiente trazendo prejuízos para todos ao redor. Mostra-
se sempre muito indisposta.

DATA DA APLICAÇÃO

A aplicação do teste TAT (Teste de Apercepção Temática) com o paciente foi


realizada no dia 03 de Novembro de 2022 seguindo o mesmo modelo
semiestruturado, com duração de 37min.

HORARIO DA APLICAÇÃO (IDENTIFICANDO O TEMPO TOTAL E


LATENCIA)

A aplicação do TAT foi realizada no dia 03 de Novembro de 2022, tendo início


às 13h 17m e sendo finalizada às 13h 54m. O tempo de latência entre o comando
dado para realização do teste e sua finalização foi de 3min em média.

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DESCRIÇÃO DO AMBIENTE FISICO

A avaliação psicológica foi realizada em consultório clínico, estabelecido Rua Paulino


de Freitas, N 25,
Centro, Monnerat – Duas Barras/RJ. O consultório clínico apresenta uma sala
reservada, a fim de preservar o sigilo clínico.

DESCRIÇÃO DO CASO

Carla, 50 anos, professora renomada, mãe de 3 filhos, residente na cidade de Bom


Jardim/RJ. Recém separada de seu casamento de 23 anos, atualmente morando de forma
informal com o novo namorado. Carla trás ao consultório o relato de ser mãe aos 17
anos de idade. Uma jovem, na qual se envolveu com um homem mais velho. Com ele,
ela teve seus dois primeiros filhos. Izabella (32 anos) e o Filipe (29 anos). Passou pelo
luto da morte de seu companheiro aos 24 anos de idade. Logo após isso, encontrou um
rapaz, na qual teve sua última filha, Clariane (22 anos). Tiveram uma relação um tanto
conturbada, onde viveram assim durante 23 anos. Carla e seus familiares tiveram uma
perda irreparável no dia 04 de Novembro de 2018. Seu pai, um homem extremamente
presente um sua família. Saturnino foi um homem extraordionário para todos ao seu
redor. Carla, como filha primogênita, sentiu muito e sente até hoje com o falecimento de
seu pai, uma vez que, ele se manteve todos os dias muito presente em sua vida pessoal.
Ela sentiu e sente tanto com sua morte que até hoje demonstra traços de lutos não
vividos, lutos nos quais ela se rejeita a viver. A mesma tenta viver sua vida com
autonomia, porém, seu passado o marca muito.
Sua família a recomenda então, ir ao psiquiatra, onde, foi pedido uma avaliação
psicológica, com queixas de possíveis traços depressivos.

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PROCEDIMENTO

Como se tratou de uma investigação e não de um psicodiagnóstico, o processo


delineado nesta pesquisa restringiu-se apenas à aplicação reduzida do TAT (10
pranchas) em uma sessão de tempo livre, porém Carla só conseguiu estruturar 8 das 10
pranchas solicitadas. À paciente foi solicitada criar uma história para cada uma dessas
pranchas, relatando como o acontecimento apresentado surgiu, o que pensam e sentem
os personagens, qual o final das histórias e seu título. Foram escolhidas, as pranchas
mais apropriadas para o seu caso, que aplicadas em uma só sessão para cada
examinando, foram as seguintes concluídas: 1, 2, 3RH, 3-MF, 4, 6-MF, 10. E, não
concluídas: 5, 7-MF, 8-MF.

OBSERVAÇÕES DURANTE A APLICAÇÃO

Durante a aplicação, a paciente apresentou grande resistência para realizar o teste,


demonstrando insegurança para realizá-la. Muitas dúvidas sobre o que poderia ser
escrito e de que forma poderia escrever. Mostrou-se em algumas pranchas, dificuldades
para criar as histórias. Carla, apresenta ser uma pessoa muito detalhista, e preocupa-se
com o quê os demais irão pensar sobre ela – relato da mesma. Parecia estar com pressa
para á volta do trabalho. Portanto, não conseguiu concluir todas as pranchas, houve
muita dificuldades e posterior desistência na prancha 5. Relatou que não saberia o que
escrever. “Um vazio me tomou”. Já, na prancha 7-MF, logo a rejeitou. Não mostrou
nenhum interesse por esta prancha e disse que não iria fazê-la. A 8-MF, sentiu muita
dificuldade, pensou, gaguejou, mas logo desistiu.

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ANÀLISE

O conflito entre as exigências do mundo externo e a elaboração das situações de perda


torna-se inevitável. Boa parte desses conflitos, referentes ao triplo processo de luto,
manifesta-se através dos mecanismos de deslocamento presentes na projeção, ou
melhor, do deslocamento para o exterior dos medos e angústias; através da possibilidade
de expressá-los sem resistências nas histórias contadas. A padronização do modelo de
análise do TAT proposto por Guerra (1981) indica que os temas predominantes das
lâminas: 1, 2, 6MF, 6RH, 7MF e 7RH; sugerem vivências de situações familiares
rotineiras, do relacionamento materno-filial e do relacionamento paterno-filial.

O conteúdo latente das pranchas geralmente estabelece níveis tensos de relacionamento


interpessoal, envolvendo situações de perdas, decepções e surpresas, fornecendo
também, importantes aspectos para se comentar acerca dos lutos e das perdas apontadas
por Knobel (1978) e Aberastury et al (1981).

Logo na primeira prancha apresentada, a paciente, mostra-se insegura para realizar a


tarefa. Tem dificuldades para criar e narrar a história assim sugerida. Foi objetiva com
sua narração e muito curiosa se era o que estava sendo realmente pedido.

“Eduardo ganhou um violino de aniversário. Sua mãe queria muitíssimo que o filho
fosse músico. Porém, ao iniciar os estudos, Eduardo percebeu o quão difícil era pra ele
manuseá-lo, ficando assim curioso e pensativo. Mas, decidiu aprender com um novo
professor. Prancha 1.

Na segunda prancha apresentada, a mesma teve mais fluidez para criar sua narrativa.
Como professora, automaticamente associou a mulher da imagem com essa figura
importante para nossa sociedade.

“Doroth, a nova professora da Fazenda, chegara poucos dias e sensibilizada em auxiliar


os trabalhadores, observa-se atentamente, no intuito de promover ensinamentos precisos
significativos para eles.” Prancha 2.

Terceira prancha apresentada, a paciente se surpreende com a imagem. Diz ficar um


pouco confusa, perguntando qual o seu gênero, o que era os detalhes da imagem.
Porém, estava mais sensibilizada para refinar sua narrativa.

“Desolada com a morte de seu esposo, Sophia, debruça sobre o sofá velho de sua casa e
chora incessantemente, na desistência de um possível suicídio. Jogou a
ferramenta/instrumento cortante no chão.” Prancha 3-RH.

Quarta prancha apresentada, Carla traz uma criatividade incrível. Ao terminar sua
história, sorriu e sentiu-se envergonhada, dizendo “Estou “viajando” muito? Caso, eu
esteja, pode falar. Não quero passar vergonha.”.

“Os protagonistas do teatro Municipal de Areal, foram ensaiar as cenas finais. Porém,
quando Augusta, uma das filhas do casal, chega até a sala de ensaios, e os chama, Pitter
desvia olhares e interrompe a gravação e pergunta o que estava acontecendo. Assim,
Julieth o segura, pelos braços e diz que não poderiam se atrasar, pois o horário da
condução de volta, a sua casa já estava por chegar.” Prancha 4.
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Quinta prancha apresentada, a mesma trouxe relatos referentes ao seu término de
casamento. Disse que ao ver a imagem, remeteu-se toda sua trajetória.

“Um afago, um abraço apertado, um beijo no rosto, entre duas pessoas que decidem por
alguns instantes que rumo tomarem dali para frente, uma vez que por anos afins,
tiveram suas vidas separadas, por situações familiares e financeiras.” Prancha 10.

Sexta prancha apresentada, Carla queixa-se se iria demorar muito. Parecia estar
impaciente e com pressa para voltar ao trabalho. Não mostrou muito interesse nessa
prancha. Teve dificuldades para realizá-la. Precisou de algumas dicas da imagens para
conseguir concluir seu raciocinou e finalizar sua história.

“Esqueceu-se de mim querida? Júlio aborda sua irmã cantora argentina, que já estava
pronta para pegar o 1º vôo para Londres, onde iria estrear sua carreira solo. O irmão
abordo-a em sua sala de espera, pois viera receber uma transação que ambos haviam
feito antes da assinatura do contrato de sua irmã.” Prancha 6-MF.

Sétima e última prancha aceita por ela, Carla fez relatos profundamente emocionais.
Trazendo exatamente para a história a cena na qual tivera vivido no dia da morte de seu
pai. Narrou facilmente, mas com os olhos cheios de lágrimas.

“Penelope acabara de atender ao telefone de sua filha, comunicando-a a triste notícia de


que seu pai falecera. Assim, ao desligar o telefone, ela vai em direção à porá e se sente
muito mal, ficando com visão turva e cabeça para baixo, entrega-se então ao choro
intenso e inconsolável.” Prancha 3-MF.

7
CONCLUSÃO

Ao concluir esta investigação, procurou-se analisar o fenômeno da depressão no


contexto da paciente, utilizando-se como instrumento de coleta de informações para
posterior análise do conteúdo a aplicação reduzida do TAT. Três aspectos fundamentais
prevaleceram na caracterização do conceito de depressão: (1) é constitutiva do
psiquismo e da estruturação do sujeito; (2) tem como função a defesa do psiquismo; e
(3) deve ser concebida como luto, no sentido psicanalítico do termo, pois, após um certo
lapso de tempo, necessita ser superado e a libido reinvestida em outros objetos.

A ênfase no luto e nas perdas, também, deu-se em função da necessidade de


dimensionar o conceito de depressão nesta pesquisa -já que depressão corresponde ao
conceito de luto-, além disso, o conteúdo das histórias relatadas pela paciente são, de
certa forma, a expressão do conteúdo latente predominante nas pranchas do TAT sendo
natural, portanto, o relato de histórias de caráter conflitivo. Contudo, vale ressaltar que a
dimensão da alegria, da construção e da criatividade também compõem o rol de
experiências subjetivas da mesma.

O TAT se apresentou como uma ferramenta indicada, pois o conflito oriundo da


elaboração referente ao triplo processo de luto em que Carla, deve superar apareceu
através dos mecanismos de deslocamento presentes na projeção. O conteúdo latente das
pranchas estabelece níveis tensos de relacionamento interpessoal, envolvendo situações
de perdas e surpresas, fornecendo também importantes aspectos para se comentar acerca
dos lutos e das perdas apontadas por Aberastury et al (1981). O conteúdo das lâminas
facilitou a projeção das vivências relacionadas ao triplo processo de luto, sendo possível
extrair do relato das histórias fatores de correlação. Assim, observou-se em todos os
relatos a elaboração de histórias com vivências de relações paterno-filiais de acordo
com as pranchas cujos temas dessa natureza predominavam.

Portanto, tendo-se como estímulo latente as temáticas conflituosas das pranchas, foi
possível captar o significado das frustrações referentes às perdas dos objetos
anteriormente investidos (a perda do pai). A impossibilidade de renunciar totalmente às
fantasias do mundo seria uma fonte dos sentimentos que envolvem as situações de
perda: os sentimentos de tristeza, ameaça e solidão de que falam as histórias. Daí a
possibilidade de se observar indicativos da forma como estão sendo superadas as perdas
reais e fantasmáticas e, consequentemente, falar de depressão.

RECOMENDAÇÕES

Recomenda-se que Carla continue seu tratamento com seu Psiquiatra Lucas e faça
regularmente sessões psicanalíticas, para problematizar sua infância que é o tempo toda
voltada ao seu presente. A paciente, vem de muitas perdas e não sabe lidar com seus
lutos. Podendo haver alguma falha em seu momento de castração.

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REFERÊNCIA BILIOGRAFICA

ANASTASI, A. (1976). Testes psicológicos: teoria e aplicação. São Paulo:


E.P.U. [ Links ]

ANZIEUR, D. (1989). Os métodos projetivos. Rio de Janeiro: Campus. [ Links ]

DELOYA, D. (2002). Depressão, estação psique: refúgio, espera, encontro. São Paulo:
Escuta/ FAPESP. [ Links ]

FÉDIDA, P. (2000). A clínica da depressão: questões atuais. In: Berlinck, M.


T. Psicopatologia fundamental . São Paulo: Escuta, p. 73-93. [ Links ]

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KOVÁCS, M.J. (1992) Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do


Psicólogo. [ Links ]

MURRAY, H.A. (1967). Teste de apercepção temática. São Paulo: Mestre


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