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Estudo de Casos Clássicos da Neurociências

QUESTÃO PROBLEMA: A discussão sobre o problema de mente e cérebro começa desde ao


período do Renascimento em meados do século XVI e XVII. Foi Descartes (1596-1960) que, pela
primeira vez, formulou explicitamente a necessidade de se distinguir entre mente e corpo. A partir
do problema de separação da mente e do cérebro, surge os estudos sobre anatomia humana
influenciaram os estudos de anatomia cerebral. Assim, fundamenta-se a área da Frenologia com
exames para medição e análise anatômica do cérebro humano. A partir desse momento, surge o
princípio Localizacionista do cérebro e em contraponto a essa ideia surge a tendência Globalista
do funcionamento cerebral. A partir dos casos clínicos seguintes (HM, Mnemonista profissional e
Phineas Gage) e elabore um texto argumentativo de como é o funcionamento cerebral de cada
caso, se parte de um princípio globalista ou localizacionista. Defenda seus argumentos a partir dos
casos clínicos.
Caso de HM

"H.M.", na verdade, são as iniciais de Henry Molaison, um cidadão norte-americano,


nascido na cidade de Manchester em 1926. Durante sua infância (a partir dos 10 anos), Henry
sofreu de episódios recorrentes de crises epilépticas focais. Alguns de seus parentes alegam que
as crises começaram após um acidente de bicicleta sofrido por ele aos 7 ou 9 anos. Quando Henry
completou 16 anos, suas crises começaram a aparecer com mais frequência e se generalizaram,
manifestando-se como crises tônico-clônicas, que são o tipo mais conhecido de epilepsia, em que
o indivíduo apresenta espasmos musculares generalizados, perde o controle de seus esfíncteres e
perde a consciência.
Sua epilepsia piorou de tal forma que Henry foi declarado incapacitado para trabalhar em
1953, com apenas 27 anos, mesmo tentando o tratamento com medicação anticonvulsivante. Por
causa disso, um neurocirugião chamado William Scoville se ofereceu para fazer uma cirugia
experimental em Henry com o intuito de curar sua epilepsia. Após alguns testes, Scoville deduziu
que a "origem" das crises de H.M vinha dos lobos temporais mediais dos dois hemisférios
cerebrais. O tratamento proposto foi, então, realizar uma cirurgia de resecção dessas regiões
encefálicas. H.M. e sua família consentiram com o procedimento.
Quais foram as consequências da cirurgia de H.M. ?
Dr. Scoville retirou partes do lobo temporal conhecidas como hipocampo, amígdala e uncus
dos dois hemisférios cerebrais de H.M.. A princípio, a cirurgia parecia ter sido bem sucedida, porque
foi constatado que H.M. tinha melhorado muito em relação a suas crises epilépticas. Porém, logo
ficou claro que o procedimento de resecção cerebral havia deixado uma sequela neurológica muito
grande em H.M: o paciente desenvolveu uma amnésia anterógrada gravíssima. Isso significa que
H.M. não conseguia mais consolidar nenhuma memória nova de fatos que aconteciam após a sua
cirurgia.
Também houve um pequeno comprometimento de memórias passadas de H.M,
principalmente de sua infância, caracterizando uma amnésia retrógada. Porém esta não era nem
de perto tão grave quanto sua amnésia anterógrada. Apesar dessa incapcidade de formar novas
memórias, o restante da capacidade intelectual de H.M permaneceu relativamente intacto, sendo
preservada sua habilidade de raciocínio. Além disso, outros tipos de memória não foram
comprometidas em H.M. como, por exemplo, a "memória de trabalho" (capacidade de reter
informações por pouco tempo, apenas para elas serem utilizadas em uma tarefa em andamento) e
também a habilidade de aprendizado motor (apesar de H.M. não conseguir se lembrar como havia
adquirido essa nova habilidade).

Caso Mnemonista Profissional


Luria (Psicólogo e pesquisador) relata que em meados do século 20, começou a acompanhar
um caso do sujeito S., que na época tinha menos de 30 anos e apresentava uma capacidade
extraordinária de memorização, o que acabou se tornando um mnemonista profissional (é um
indivíduo com uma capacidade extraordinária para recordar centenas de palavras e repeti-las em
qualquer ordem).
Luria observou que S. tinha uma grande competência de memorização, além de possuir um
altíssimo grau de sinestesia, ou seja, S. relacionava determinada informação a uma característica
sinestésica, e isso facilitava a memorização. Ademais, S. conseguia envolver-se em uma narrativa
nunca perdendo nenhum detalhe, porém apresentava dificuldade em conteúdos abstratos e
generalização. Desse modo, todo pensamento de S. consistia apenas em operações que realizava
sobre imagens.
Em relação à informação abstrata, S. não conseguia visualizar através de imagens e isso
comprometia todo o entendimento de uma determinada situação ou história apresentada. Além
disso, S. não conseguia esquecer os conteúdos das informações o que dificultava o processo de
generalização. Dessa maneira, a estratégia de memorização de S. trazia prejuízos, uma vez que
não conseguia compreender elementos abstratos e generalizar determinados conteúdos, que como
Luria salienta, são essenciais no uso convencional da linguagem.

CASO DO PHINEAS GAGE

Phineas Gage era um jovem americano comum de 25 anos, até que, em 1848,
uma explosão acidental durante a construção de trilhos colocou uma barra de ferro de um metro
atravessando seu crânio de forma bizarra. Mas ele não morreu. Phineas passou por tempos
difíceis durante a recuperação após a remoção e quase faleceu de um abcesso (infecção na ferida,
que de acordo com os registros chegou a ter 250mL de pus, líquido resultante do metabolismo de
bactérias, fragmentos de células e sangue). Após quase três meses sob cuidados médicos, Phineas
voltou para casa dos pais e começava a retornar para as tarefas do cotidiano, aguentando meia
jornada de trabalho. Entretanto, a mãe dele logo notou que parte da memória dele parecia
prejudicada, apesar de segundo os relatos do médico a memória, capacidade de aprendizado e
força motora de Gage ter sido inalterada. Com o passar do tempo, o comportamento de Gage já
não era mais o mesmo de antes do acidente. Gage parecia ter perdido parte do tato social, e se
tornou agressivo, explosivo e até mesmo profano. O antes doce rapaz, se tornou inconsequente
e rude e abandonara os planos para o futuro, não tendo constituído família. Ele não conseguiu
recuperar o emprego, e por anos se tornou uma espécie de museu ambulante, afinal como um
homem tem o cérebro atravessado por uma barra e ousa sobreviver? Sem maiores danos? Era um
caso tão notório, que por dois anos a comunidade médica se recusava em acreditar! Como o
caso ocorreu no interior, o médico que acompanhou Phineas, John Harlow, teve que atestar a
autenticidade perante advogados. John e Phineas também viajaram para Boston rumo a faculdade
de medicina para expor o caso.
Apesar de não ter constituído família, Phineas foi um homem independente e funcional,
tendo ido trabalhar como cocheiro no Chile. Os relatos indicam que foi através do trabalho, que
suas habilidades sociais retornaram e ele estava cada vez mais reabilitado ao convívio. Em 1860,
Phineas adoece, volta para a casa da mãe após começar a ter quadros convulsivos e falece em
maio do mesmo ano. A família Gage enviou ao médico Harlow o crânio de Phineas Gage após a
exumação bem como a barra de ferro. Hoje, o crânio está exposto no Warren Anatomical
Museum da Universidade de Harvard.

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