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Habilidades Profissionais 6 – Dermatologia Maria Fernanda de Almeida Cavalcante Aranha

Semiologia dermatológica

® Anamnese: passo-a-passo:
1. Apresentar-se ao paciente;
2. Identificação:
a. Nome;
b. Sexo;
c. Idade;
d. Estado civil;
e. Profissão;
f. Ocupação;
g. Escolaridade;
h. Naturalidade;
i. Residência;
j. Procedência;
k. Cor:
i. Raça:
• Branco ou leucoderma;
• Pardo ou faioderma;
• Negro ou melanoderma.

ii. Fototipo (classificação de Fitzpatrick):

Sensibilidade à luz
Fototipo Cor da pele Cor do cabelo Cor da íris Exemplos
solar

Queima fácil, nunca


I Muito clara Ruivo Azul
pigmenta

Queima fácil, pigmenta


II Clara Loiro Azul/verde
pouco

Queima e pigmenta
III* Morena clara Castanho-claro Castanho-clara
com moderação

Queima pouco,
IV* Morena Castanho-escuro Castanho-escura
pigmenta

Castanho- Castanho- Dificilmente queima,


V* Parda
escuro/negro escura/negra pigmenta
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Nunca queima,
VI Negra Negro Negra pigmenta
intensamente

*Fototipos mais comuns na nossa região

3. HDA:
a. Início (quando?);
b. Forma de início (como?);
c. Evolução posterior (foi para outras áreas? Melhorou ou piorou? Acometimento extra cutâneo?)
d. Estado atual dos sintomas;
e. Manifestações subjetivas:
i. Prurido:
• Lesão antes ou depois do prurido?
• Intensidade;
• Periodicidade;
• Fatores relacionados (horário? Uso de medicações? Contato com algo?).
ii. Disestesias:
• Anestesia;
• Hipoestesia;
• Hiperestesia.
iii. Nevralgias.
iv. Sintomas sistêmicos (febre?...)
f. Tratamentos realizados para o quadro clínico em questão:
i. Tipo (nome do medicamento e/ou classe farmacológica);
ii. Posologia;
iii. Resultado obtido (melhora? Piora? Nada?).
g. Casos semelhantes:
i. Familiares;
ii. Conviventes.

4. ISDA (“sente alguma coisa a mais pelo corpo?” Pode ser mais sucinto mesmo).

5. Medicamentos em uso (uso geral; interações medicamentosas, fármacos que levam a manifestações cutâneas,
alergias...).

6. Antecedentes mórbidos pessoais:


a. Alergias?
b. Teve outro quadro similar antes?
c. Câncer de pele?
d. Outras neoplasias?
e. Tem/teve alguma doença de pele?
f. Gerais (DM, HAS, transfusões, traumas, internações – se for importante para o caso).

7. Antecedentes mórbidos familiares:


a. Doenças crônicas?
b. Mortalidade?
c. Câncer de pele?
d. Outras neoplasias?
e. Casos similares na família? (escabiose, hanseníase, TB e outras tendem a ter outras pessoas na família/que
moram na mesma casa também com o mesmo quadro, além de genodermatoses, dermatite atópica e outras
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que possuem herança genética envolvida. Já está na HDA, mas as vezes o paciente esquece de dizer, então
é bom perguntar novamente se necessário).
f. Alguém tem/teve alguma doença de pele (geral)?

8. Hábitos de vida (bem breve):


a. Fuma?
b. Bebe?
c. Atividade física?
d. Alimentação?
e. Sono?
f. Higiene?
g. Parceiros sexuais? (no caso de suspeita de ISTs).

9. Condições socioeconômicas (bem breve):


a. Mora com quantas pessoas? (lembrar sempre de doenças infectocontagiosas, para haver o combate efetivo
na residência)
b. Condições de compra?
c. Animais de estimação? (em casos de algumas dermatozoonoses, alergias, é relevante).

® Exame dermatológico:
• Pedir consentimento para examinar;
• Inspeção;
• Palpação: consistência, mobilidade, espessamento, aderência...

® Semiologia complementar:
• LUZ FLUORESCENTE DE WOOD: uso de luz fluorescente negra (RUV 340-400 nm com filtro de óxido de zinco) em
ambiente escuro. É importante para as seguintes doenças:
à Micoses superficiais do couro cabeludo:
– Microsporum canis e audouini: verde/verde-azul*;
– Trichophyton schoenleinii: verde-palha/amarelo*.
à Pitiríase versicolor: róseo-dourada.
à Eritrasma: vermelho-coral.
à Infecção por Pseudomonas aeruginosa e pyocyanea: verde-amarelado.
à Porfiria (nas amostras de sangue, urina, fezes, dentes e líquido de bolhas): róseo-avermelhado ou amarelo-
avermelhado.
à Melasma (epidérmico é mais evidente): áreas mais pigmentadas aparecem mais escuras enquanto as menos,
mais ressaltadas.
à Carcinoma espinocelular: vermelho-brilhante (aspecto em brasa).
à Vitiligo: branco-azulado.
à Hipocromias: branco-pálido.
*Cores indicadas pelas professoras, mas que não são ditas pelo Azulay
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Porfiria

Eritrasma

OBS: considerar róseo-dourada, pois é como as


professoras orientam

• CURETAGEM METÓDICA DE BROCQ: atrito superficial da lesão de forma lenta e pouco agressiva, sem o paciente acusar
dor. É importante nos seguintes casos:
à Psoríase: uso de cureta, gerando:
– Sinal da vela: liberação de escamas micáceas esbranquiçadas.
– Sinal de Auspitz ou do orvalho sanguíneo: cureta levanta a membrana de Duncan, deixando expostos
os ápices papilares e, com novos golpes da cureta, fere-se o ápice das papilas dérmicas e, assim, brota o orvalho sanguíneo
(lembrar que a derme é a região vascularizada da pele). Isso ocorre na psoríase por conta da papilomatose e da dilatação dos
vasos sanguíneos no topo das papilas dérmicas, favorecendo o sangramento.
à Pitiríase versicolor: uso da cureta ou das mãos. Em ambos os casos, há a saída de escamas
puntiformes/pitiriásicas/furfuráceas/finas/farinináceas, como um “pó”. Quando é feita com as mãos, há nomes especiais:
– Sinal de Zileri: estiramento da pele com os dedos.
– Sinal de Besnier: atrito com as unhas.
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Sinal da vela e de Auspitz Sinal de Zileri

Sinal de Besnier

• PESQUISA DE SENSIBILIDADE: importante para o exame físico em casos de suspeita de hanseníase. A ordem indicada
e a semiotécnica são:
1. Térmica: uso de tubo de ensaio com água quente (até 45ºC) e fria, ou com algodão embebido em água e
outro em éter. Paciente de olhos fechados, fazendo o exame em área sadia e com lesão, de forma bilateral
e repetitiva.
2. Dolorosa: uso de fundo e ponta de agulha descartável, com toques leves, ou ponta de agulha e ponta de
lápis. Paciente de olhos fechados, fazendo o exame em área sadia e com lesão, de forma bilateral e repetitiva.
3. Tátil: uso de chumaço de algodão. Paciente de olhos fechados, fazendo o exame em área sadia e com lesão,
de forma bilateral e repetitiva.

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• •

• PROVA DA HISTAMINA: pingar cloridrato de histamina 1:1000 na pele lesada e na pele sadia ou perilesional, seguida
de puntura. Avalia a função vasomotora, a qual é prejudicada na hanseníase, sendo útil no diagnóstico de manchas hipocrômicas
hansênicas iniciais. É uma prova considerada perigosa e, por isso, é pouco realizada atualmente.
à Pessoa sadia: tríplice resposta de Lewis (eritema inicial local ou sinal da puntura (mais circunscrito – ação
direta do trauma) ® eritema reflexo ou pseudopódico (mais extenso – vasodilatação arteriolar por ato reflexo axônico)
® pseudopápula ou seropápula – ação direta da histamina sobre a parede capilar, dilatando-a e viabilizando a
exosserose).
à Hanseníase: resposta incompleta (sem eritema reflexo ou pseudopódico).
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• PROVA DA PILOCARPINA: pincelar área sadia e área lesada com tintuta de iodo e esperar secar ® injetar cloridrato de
pilocarpina a 1%, 0,1-0,2 ml, intradérmica/provocar sudorese ® polvilhar as áreas com amido. Na hanseníase, a prova é negativa
por comprometimento da inervação glandular écrina. Essa prova tem grande valor, sobretudo em melanodérmicos, nos quais há
dificuldades de observação da tríplice resposta de Lewis à histamina.
à Pessoa sadia: surgimento de coloração azulada devido ao suor.
à Hanseníase: ausência de sudorese, não havendo o surgimento de coloração azulada.

• URTICAÇÃO PROVOCADA/PESQUISA DO SINAL DE DARIER: uso de objeto rombo, como uma espátula, para atritar a
lesão.
à Dermografismo (lesão ponfosa linear eritematosa, com ou sem prurido): urtica linear/urticária colinérgica.
à Dermografismo branco (mancha linear, anemiada e sem urticação, ao contrário do eritema leve esperado,
decorre de constrição arteriolar): dermatite atópica.
à Sinal de Darier (atrito em lesão papulosa ou mácula, gerando urtica ou lesão ponfosa, decorrente da liberação
de histamina e demais aminas vasoativas pela degranulação dos mastócitos com o atrito): patognomônico de mastocitose.

Sinal de Darier Dermografismo

Dermografismo branco
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• PESQUISA DO SINAL DE NIKOLSKI: pressão na pele perilesional com o dedo ou objeto rombo gerando o descolamento
parcial ou total da epiderme. Utilizada em doenças bolhosas, como pênfigos e necrólise epidérmica tóxica (NET), a fim de observar
o assoalho das bolhas.
à Pênfigo vulgar e NET: assoalho hemorrágico e róseo-avermelhado (o descolamento ocorre na junção
dermoepidérmica).
à Pênfigo foliáceo: assoalho seroso e róseo-amarelado (o descolamento é intraepidérmico, onde não há vasos
sanguíneos, sendo mais pálido).
– OBS: Uma variante desse sinal é o sinal de ASBOE-HANSEN, que consiste na aplicação vertical de
pressão sobre a bolha, e é positivo se ela aumentar perifericamente.

NET (assoalho róseo-avermelhado)


Pênfigo vulgar (assoalho hemorrágico)

Pênfigo vulgar (assoalho róseo-amarelado)

• VITROPRESSÃO/DIGITOPRESSÃO: pressão de uma lesão por meio de uma lâmina de vidro e, até mesmo, pelo dígito.
à Eritema X púrpura: no eritema, a lesão desaparece com a pressão (pela vasoconstrição). Já a púrpura, não
desaparece (por ser uma lesão por extravasamento sanguíneo).
à Lesão hipocrômica X nevo anêmico: na mancha hipocrômica, a lesão não desaparece com a pressão (pois é
uma lesão ocasionada por pouca melanina no local). Já o nevo anêmico, desaparece (pois ocorre a vasoconstrição perilesional).

Púrpura Eritema
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• DERMATOSCOPIA: uso do dermatoscópio (aparelho óptico promove aumento de até 400x, e os portáteis, até 10-30x),
aparelho o qual emite um feixe luminoso que incide na pele e promove um aumento da imagem, permitindo uma melhor
visualização de:
à Lesões negras;
à Lesões com suspeita de malignidade (mais detalhes em câncer de pele);
à Tricoscopia (cabelo);
à Capilaroscopia periungueal (visualização da microcirculação cutânea digital – auxílio no diagnóstico de
colagenoses);
à Identificação de alguns patógenos (escabiose, pediculose, dentre outros).

• EXAMES DIRETOS:
à Micológico: pode ser realizado em pele, unha e cabelo. Há a coleta de material com uma lâmina cega de bisturi
(pele/pelos)/ método da fita gomada (pele)/ alicates (unha) ® embeber em KOH 20% ou tinta parker azul e glicerina
® visualizar no microscópio óptico (dar enfoque aqui, pois elas cobram a forma como ele é feito).
à Bacteriológico: alguns exemplos são a baciloscopia com a coloração de Ziehl-Neelsen (hanseníase) e a
investigação de ISTs com a coloração de Gram (gonorreia).
à Citológico: exemplo – lâmina de vidro e coloração Giemsa (células de Tzanck – herpes).
à Parasitológico: alguns exemplos são lâmina de vidro e uso de KOH (escabiose) ou coloração de Leishman ou
Giemsa (leishmaniose).

• BIÓPSIA E HISTOPATOLÓGICO:
à Incisional (parte da lesão) ou excisional (toda a lesão);
à Uso de punch, bisturi e agulhas;
à Coleta da epiderme + derme + hipoderme (pele), mas também pode ser feita em unhas e folículos pilosos;
à Uso de formol (fixação do material), H&E e outras colorações;
à Aplicabilidades diversas (mais detalhes quando for para estudar cada doença).

• CULTURA: permite a identificação de fungos, bactérias, parasitas e vírus (meio de cultura com células vivas).

• IMUNOFLUORESCÊNCIA: visualização de antígenos em tecidos ou em suspensões celulares utilizando corantes


fluorescentes. Permite a visualização de antígenos em material de biópsias fixado em meio de Michel para demonstrar a
presença de imunoglobulinas. Utilizada para a detecção de agentes infecciosos, doenças bolhosas cutâneas, lúpus,
neoplasias, dentre outras indicações.

• IMUNOHISTOQUÍMICA: método de diagnóstico complementar ao exame anatomopatológico, realizado em material de


biópsia fixado em formol. Neste exame são analisados antígenos que podem ou não estar presentes, bem como sua
quantidade e características, utilizando anticorpos ligados a substâncias fluorescentes. Permite a detecção de antígenos
específicos e imunofenotipagem (técnica a laser que estuda as células) de tecidos ou agentes infecciosos. Utilizada em
doenças inflamatórias, infecciosas e neoplasias.

• BIOLOGIA MOLECULAR: realização de uma análise precisa das macromoléculas biológicas (DNA e RNA). Utilizada na
identificação de patógenos.

• TESTE DE CONTATO/PATCH TEST: uso em eczema de contato alérgico (mais detalhes em eczemas).

® Recomendações:
• Deem enfoque naquilo que está em negrito. Alguns assuntos serão abordados com mais detalhes posteriormente.
• A semiologia complementar é muito cobrada nas provas, então estudem com atenção.
• Na anamnese, priorizem fazer uma HDA focada na dermatologia. Não esqueçam os tópicos que estão dispostos lá. O
restante é secundário.
• Em caso de dúvidas, entrem em contato J

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