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FIBROSE CÍSTICA E SUA ASSOCIAÇÃO COM AS DOENÇAS

PANCREÁTICAS
Cystic fibrosis and its association with pancreatic diseases

Rodrigo José Bumussa Freire, UNIFACISA


Marcelo Gasparetto Polli, IMED
Marcelo Henrique Vaz De Lima, Universidade De Rio Verde
Laura Coelho Pires Rocha, FCM-MG
Társila Almeida Leite, UNIFACISA
Marvin Takao Shiguedomi, UNICESUMAR
Carísia Feitosa Soares, UNIFACISA
Sara Mendonça Chahla, Universidade Federal de Ouro Preto
Sérgio Manoel Vasconcelos da Rocha, Universidade Federal de Roraima
Mayara Almeida de Melo, UNINOVE

rodrigo.bumussa@gmail.com

RESUMO
Introdução: Este artigo de revisão explora a complexa associação entre a Fibrose Cística
(FC) e as complicações pancreáticas, com foco na insuficiência pancreática exócrina
(IPE), pancreatite e diabetes relacionado à fibrose cística (CFRD). Metodologia: Essa
revisão integrativa da literatura, foi realizada por busca em base de dados de artigos que
correspondessem ao tema proposto. Incluiu-se avaliação dos artigos elegíveis na íntegra,
excluindo aqueles que não se enquadram nos objetivos do estudo, teses e dissertações,
sem contabilizar duplicatas. Resultados e Discussões: Destacam-se a importância da
disfunção do CFTR na obstrução ductal pancreática e subsequente diminuição da função
exócrina e endócrina do pâncreas. Discute-se também a eficácia potencial das terapias
moduladoras do CFTR na restauração da função pancreática, especialmente em pacientes
jovens. Conclusão: Enfatiza a necessidade de uma abordagem diagnóstica e terapêutica
personalizada, considerando a variabilidade genética entre os pacientes com FC, para
melhorar o manejo das complicações pancreáticas e a qualidade de vida.

Palavras-chave: Fibrose Cística, Metabolismo, Complicações

INTRODUÇÃO

A Fibrose Cística (FC) é uma das doenças genéticas autossômicas recessivas mais
comuns, marcada pela disfunção do gene CFTR. Isso afeta secreções de glândulas
exócrinas, levando a problemas significativos nos pulmões, digestão e, principalmente,
no pâncreas (BALDWIN, Christina et al., 2019). O tratamento, visando melhorar os
sintomas e desacelerar a progressão, é vital para elevar a qualidade e expectativa de vida
dos afetados. Este artigo foca na relação da FC com complicações pancreáticas como
insuficiência pancreática exócrina, pancreatite e diabetes relacionado à FC, que são
cruciais para morbidade e mortalidade. Dessa maneira, aprofundar no entendimento
dessas complicações, faz-se necessário.

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METODOLOGIA

Este estudo consiste em uma revisão integrativa, conduzida em fevereiro de 2024


através da pesquisa e análise de artigos científicos coletados por meio de busca eletrônica
em bases de dados especializadas, como a MEDLINE (Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online). Os termos utilizados para pesquisa estão listados no Medical
Subject Headings (MeSH) e no DeCs (Descritores em Saúde), (Cystic Fibrosis) AND
(Complications) AND (Metabolism). Os critérios de inclusão estabelecidos consideraram
artigos completos publicados em qualquer data e em qualquer idioma, resultando em
3.635 artigos. Em seguida, procedeu-se à análise minuciosa dos títulos e resumos,
seguida pela avaliação dos artigos elegíveis na íntegra, excluindo aqueles que não se
enquadram nos objetivos do estudo, teses e dissertações, sem contabilizar duplicatas.
Desse modo, foram selecionados ao todo 6 artigos para compor a amostra bibliográfica
desta revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A disfunção pancreática emerge como uma manifestação chave na Fibrose Cística


(FC), entrelaçada intimamente com a patogênese e o prognóstico da doença. Todos os
pacientes com FC apresentam diminuição do fluxo estimulado pela secretina através dos
ductos pancreáticos, uma condição que, nos fenótipos mais severos, resulta em obstrução
do lúmen pancreático por muco e secreções anormalmente espessas (MORAN, A. et al.,
2010). Esta obstrução não somente impede a secreção adequada de enzimas pancreáticas,
desencadeando a insuficiência pancreática exócrina (IPE), mas também promove a
autólise e destruição progressiva das ilhotas pancreáticas, pavimentando o caminho para
o desenvolvimento do diabetes relacionado à FC (CFRD). Por outro lado, pacientes com
variantes genéticas mais leves da FC geralmente mantêm uma permeabilidade ductal que
permite a passagem das enzimas, caracterizando-se como pancreáticos suficientes.
Entretanto, estes indivíduos não estão isentos de risco, podendo experimentar episódios
intermitentes de bloqueio e inflamação, resultando em pancreatite.

A insuficiência pancreática exócrina, afetando cerca de 85% dos pacientes com


FC, representa a complicação gastrointestinal mais prevalente da doença. Sua presença
desde o nascimento na maioria dos pacientes sublinha a importância de uma intervenção
precoce. A má absorção de gorduras devido à diminuição da produção de enzimas

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pancreáticas conduz a desafios nutricionais significativos, incluindo deficiência de
crescimento, deficiências de vitaminas lipossolúveis e doenças ósseas. A reposição de
enzimas pancreáticas e o manejo da colonopatia fibrosante são, portanto, pilares no
tratamento da IPE, visando mitigar estas consequências e melhorar a qualidade de vida
dos pacientes.

Pancreatite, embora menos prevalente, ocorre em aproximadamente 15 a 20% dos


pacientes com FC pancreáticos suficientes, e sua raridade entre aqueles com IPE destaca
a complexa interação genética e ambiental subjacente à FC. Pacientes com genótipos
CFTR mais leves possuem um risco aumentado para desenvolver pancreatite, com fatores
como álcool e fumo exacerbando esse risco pela redução da função do CFTR
(OOI, Chee Y. et al., 2011). A condição geralmente manifesta-se no final da adolescência
ou início da idade adulta e pode, em casos raros, ser o sintoma inicial da FC. A gravidade
das mutações CFTR e a zigosidade influenciam o risco e o prognóstico da pancreatite,
com uma prevalência aumentada de mutações CFTR observada em pacientes com
pancreatite aguda idiopática, pancreatite aguda recorrente e pancreatite crônica. Isso
sugere que variantes específicas do CFTR, talvez em combinação com cofatores
ambientais ou genéticos, predisponham a esta complicação. Em alguns pacientes, a
terapia moduladora do CFTR mostrou restaurar a função pancreática exócrina,
especialmente em crianças pequenas, embora a reversibilidade dessa disfunção pareça
diminuir com a idade.

O CFRD constitui uma complicação comum e clinicamente significativa da FC,


afetando cerca de 20% dos adolescentes e quase 50% dos pacientes após os 30 anos de
idade. A deficiência relativa de insulina, decorrente da destruição das ilhotas pancreáticas,
juntamente com a resistência à insulina associada a exacerbações agudas ou progressão
crônica da doença pulmonar, estão entre as causas primárias do CFRD. Esta forma distinta
de diabetes está associada a declínios na função pulmonar e estado nutricional, além de
aumento da mortalidade. Contudo, o tratamento com terapia de insulina pode atenuar ou
reverter esses efeitos, ressaltando a importância da triagem anual para CFRD em
indivíduos com FC, a partir dos 10 anos de idade (SHARER, Nicholas et al, 1998).

Dessa maneira, a integração de abordagens diagnósticas e terapêuticas


direcionadas, baseadas no entendimento aprofundado das interações entre a genética da
FC e suas manifestações pancreáticas, é fundamental para o manejo efetivo dessas
complicações.
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CONCLUSÃO

Portanto, estas complicações analisadas representam desafios significativos na


gestão da FC, impactando diretamente na qualidade de vida e na expectativa de vida dos
pacientes. Os resultados enfatizam a necessidade de uma abordagem integrada e
personalizada no manejo dessas complicações. Concluímos que o avanço nas terapias
moduladoras do CFTR oferece novas esperanças para o tratamento da FC e suas
complicações pancreáticas, mas ainda é necessário um entendimento mais profundo dos
mecanismos patogênicos para otimizar as estratégias de tratamento e melhorar os
desfechos clínicos para os pacientes.

REFERÊNCIAS
AHMED, N. Molecular consequences of cystic fibrosis transmembrane regulator (CFTR) gene mutations
in the exocrine pancreas. Gut, v. 52, n. 8, p. 1159-1164, 1 ago. 2003. Disponível
em: https://doi.org/10.1136/gut.52.8.1159. Acesso em: 7 mar. 2024.

BALDWIN, Christina et al. Acute Recurrent and Chronic Pancreatitis as Initial Manifestations of Cystic
Fibrosis and Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator–Related Disorders. Pancreas, v. 48,
n. 7, p. 888-893, ago. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1097/mpa.0000000000001350. Acesso em:
7 mar. 2024.

MALÉTH, József et al. Alcohol Disrupts Levels and Function of the Cystic Fibrosis Transmembrane
Conductance Regulator to Promote Development of Pancreatitis. Gastroenterology, v. 148, n. 2, p. 427-
439.e16, fev. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1053/j.gastro.2014.11.002. Acesso em: 7 mar. 2024.

MORAN, A. et al. Clinical Care Guidelines for Cystic Fibrosis-Related Diabetes: A position statement of
the American Diabetes Association and a clinical practice guideline of the Cystic Fibrosis Foundation,
endorsed by the Pediatric Endocrine Society. Diabetes Care, v. 33, n. 12, p. 2697-2708, 29 nov. 2010.
Disponível em: https://doi.org/10.2337/dc10-1768. Acesso em: 7 mar. 2024.

OOI, Chee Y. et al. Type of CFTR Mutation Determines Risk of Pancreatitis in Patients With Cystic
Fibrosis. Gastroenterology, v. 140, n. 1, p. 153-161, jan. 2011. Disponível
em: https://doi.org/10.1053/j.gastro.2010.09.046. Acesso em: 7 mar. 2024.

SHARER, Nicholas et al. Mutations of the Cystic Fibrosis Gene in Patients with Chronic Pancreatitis. New
England Journal of Medicine, v. 339, n. 10, p. 645-652, 3 set. 1998. Disponível
em: https://doi.org/10.1056/nejm199809033391001. Acesso em: 7 mar. 2024.

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