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CRÔNICA
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Graduanda do Curso de Nutrição pela Universidade Regional e Integrada do Alto Uruguai e das Missões/
Câmpus de Frederico Westphalen (URI-FW). E-mail: cristinatelles93@hotmail.com.
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Nutricionista. Docente do Curso de Nutrição da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões - URI – Câmpus de Frederico Westphalen, Mestranda em Bioexperimentação – UPF-
Câmpus Passo Fundo.
de regular o meio interno e configura-se perda fato, dos pacientes no processo hemodialítico
significativa da função renal, incompatível perderem aminoácidos para o dialisato, é
com a vida (SIVIERO; MACHADO e RO- fundamental um aporte proteico adequado
DRIGUES, 2013; BELLO; NWANKWO e para suprir essas demandas e evitar um
NAHAS, 2005). quadro de desnutrição proteica, no entanto,
a desnutrição energético-proteica é um fator
de risco de morbi-mortalidade, ou seja, essa
Fisiopatologia da Insuficiência maior necessidade proteica, que tem como
Renal Crônica objetivo prevenir a desnutrição dificulta
o tratamento da hiperfosfatemia, devido à
Atualmente, se acredita que em resposta a deficiência de calcitriol e ao descontrole do
uma diminuição em TFG, o rim é submetido balanço cálcio-fósforo, ocasionando o apare-
a uma série de adaptações para prevenir esta cimento do hiperparatireoidismo secundário,
doença, apesar de num curto prazo isto levar a que pode determinar o desenvolvimento de
melhora da taxa de filtração, em longo prazo doença óssea, influenciando na velocidade
leva a perda acelerada de néfrons e insuficiên de progressão da DRC (OLIVEIRA et al.,
cia renal progressiva (MAHAN, 2005). 2011; PINTO et al., 2009; SILVA et al., 2010;
Os rins têm como função excretar a maior SANTOS et al., 2013).
parte dos produtos finais do metabolismo or-
gânico, controlar a concentração da maioria
dos líquidos corpóreos, manter a composição Tratamento da Insuficiência
iônica do volume extracelular, participar Renal Crônica
na regulação do equilíbrio ácido básico do
organismo, além de sintetizar hormônios e Diálise
enzimas, como a eritropoetina, a renina, o A hemodiálise é o uso de uma máquina
calcitriol e outros (CUPPARI, 2009). que substitui a função do rim para remover as
Na DRC, uma lesão renal inicial desen- substâncias tóxicas do sangue, com o objetivo
cadeia um processo de perda progressiva da de ajudar a restaurar os nutrientes e metabó-
função renal. Durante esse processo, ocorrem litos aos níveis normais. Para preparar um
várias adaptações estruturais e funcionais. A paciente para hemodiálise é preciso haver um
primeira resposta frente à redução no núme- acesso criado para levar o sangue para fora e
ro de néfrons é o aumento do seu tamanho, para dentro do corpo, para isto, existem três
caracterizado por hiperplasia renal. A partir tipos de acesso vascular: fistula arteriovenosa
daí ocorre aumento nas taxas de filtração e (FAV), enxerto AV e cateter venoso central
perfusão no rim. Esse processo é responsável (NIX, 2010; REPLENA/NEPRO HP, 2013;
pelo aumento na TFG em indivíduos com le- MAHAN, 2005). Quando conectado à má-
são renal. Além disso, os glomérulos sofrem quina, o sangue flui para dentro de um tubo
adaptações hemodinâmicas que resultam em composto de uma membrana de diálise e a
hipertensão glomerular e, posteriormente, difusão ocorre entre o sangue e o líquido de
perda de seletividade, que é a capacidade de diálise circundante. Uma pessoa, em média,
impedir a passagem de macromoléculas para tem aproximadamente 4,5 a 5,5 litros de san-
a urina (CUPPARI, 2009). gue, durante a diálise, mais ou menos 450 ml
Os indivíduos em hemodiálise apresentam ficam fora do corpo de cada vez (REPLENA/
significante prevalência de desnutrição. Pelo NEPRO HP, 2013).
A diálise é um processo físico químico órgãos e nos vasos sanguíneos. Quando isso
pelo qual duas soluções, separadas por uma acontece, levam ao endurecimento do tecido
membrana semipermeável, influenciam na chamado de calcificação. A ocorrência dessas
composição uma da outra. A função da diálise calcificações extra-articulares é favorecida
é substituir parte das funções exercidas pelos pela idade, hiperparatireoidismo secundário
rins, tais como promover depurações de solu- e ingestão excessiva de cálcio, fosfato e vi-
tos, remover o excesso de líquido corpóreo e tamina D (BRASIL, 2010; OLIVEIRA et al.,
manter o equilíbrio ácido-básico. No entanto, 2011; MENDONÇAS, 2007).
as funções endócrinas do rim não podem ser No entanto, o fósforo é pouco retirado na
exercidas pela diálise (CUPPARI, 2009). hemodiálise. Devido a isso, a hiperfosfate-
O paciente com DRC, geralmente, neces- mia é bastante frequente. Os alimentos ricos
sita de duas a três sessões por semana, cada nesse mineral devem ser diminuídos na dieta,
uma delas com duração de 3 a 4 ou 5 horas, porém é impossível eliminar totalmente o
com fluxo de sangue de 250 a 300 mL/min, fósforo visto que essas são também fontes
podendo chegar ao valor máximo de até de proteínas e cálcio, os quais são essenciais
400mL/min e fluxo dialisato de 500 mL/min para o nosso organismo. Para retirar o
(NISHIYAMA e MEYER, 2010; NIX, 2010; excesso são usados os quelantes de fósforo
MAHAN, 2005). impedindo que seja absorvido (NERBASS,
et al., 2008).
O cálcio está envolvido nas principais
Tratamento Nutricional na
reações do organismo, porém para a sua
Insuficiência Renal Crônica
absorção ser eficaz é essencial a presença da
vitamina D, que está presente em nossa pele
O rim e sua relação (ativada pela exposição solar) e em alimentos
com os micronutrientes como, leite e derivados, carne bovina, peixes,
Os rins são órgãos importantes para ovos e margarinas enriquecidas, frango, peru
manter o equilíbrio do corpo. Sua função é e vísceras. Quando a função renal é diminuí-
eliminar através da urina os restos e exces- da, ocorrem mudanças na dinâmica do cálcio,
sos da alimentação que o corpo não pode ocasionando a deficiência de cálcio no san-
usar. Normalmente, realiza sua função pela gue, caracterizada como hipocalcemia. Em-
filtração, secreção e reabsorção contínua de bora a ingestão seja adequada, o excesso de
sangue (ZAMBRA e HUTH, 2010). fósforo impede que o cálcio seja absorvido.
O cálcio e o fósforo atuam em conjunto, Como consequências, causa fragilidade nos
bem como, fazem o papel de manter os ossos, ossos e dentes, cãibras, contrações muscula-
dentes, coração e vasos sanguíneos em boas res, dificuldade na coagulação e diminuição
condições. Na presença da DRC, o fósforo dos batimentos cardíacos. Para prevenir a
tende a se acumular no sangue e o corpo não hipocalcemia é necessário equilibrar os níveis
usa o cálcio eficientemente. Pelo fato do de cálcio e fósforo na alimentação (BRASIL,
cálcio estar diminuído, o organismo tenta cor- 2010).
rigir retirando cálcio dos ossos para o sangue, O potássio é um mineral que atua junto
podendo provocar doenças ósseas. Conse- aos músculos e nervos. Quando os rins estão
quentemente, grandes quantidades de cálcio saudáveis filtram o excesso que é ingerido
e fósforo no sangue podem levar a formação através da urina. Na DRC, ele não pode ser
de depósitos de cálcio nas articulações, nos excretado adequadamente, podendo acumu-
fator de risco independente para mortalidade O tratamento deve ser sempre individua-
na DRC, devido à indução da calcificação lizado e ajustado de acordo com a progressão
vascular (CV), relacionada à hiperfosfate- da doença, com o tipo de tratamento e com a
mia. Também é de importância a deficiência resposta do paciente. O acompanhamento nu-
de calcitriol na fisiopatologia do HPTS. A tricional específico e individualizado auxilia
concentração desse hormônio encontra-se no tratamento e melhora da qualidade de vida
diminuída na DRC, uma vez que o rim é o destes pacientes, bem como, na diminuição
principal órgão responsável pela sua pro- da incidência das taxas de mortalidade (SAN-
dução, sua deficiência de calcitriol acarreta TOS et al., 2013).
hipocalcemia pela menor absorção intestinal A DRC também requer do conhecimento
(NIX, 2010; SOCIEDADE BRASILEIRA de aspectos distintos, pois uma vez estabe-
DE NEFROLOGIA, 2013). lecida no organismo humano, pode levar a
No HPTS podem aparecer sintomas como um conjunto de complicações e morbidades,
dores ósseas e articulares, mialgia e fraqueza que englobam a doença base, o estágio da
muscular. Fraturas, prurido, deformidades doença, a velocidade da diminuição da FG,
ósseas, tumor marrom, calcificações de partes proteinúria persistente; dieta elevada de pro-
moles e ruptura de tendões estão presentes es- teína e fosfato, dislipidemia, hiperfosfatemia,
pecialmente nos pacientes com doença de lon- anemia, doença cardiovascular, tabagismo e
ga duração. Paciente portadores de HPTS em obesidade (SIVIERO; MACHADO e RO-
diálise apresentam uma incidência de fraturas DRIGUES, 2013; BASTOS; BREGMAN e
4,4 vezes maior que a população em geral. A KIRSZTAJN, 2010).
doença cardiovascular (DCV), também é uma
complicação do HPTS que se manifesta pela
presença de calcificações extra-esqueléticas, Considerações Finais
incluindo vasos, valvas cardíacas e miocárdio,
que contribui para a alta taxa de mortalidade O conhecimento mais aprofundado
na DRC (SOCIEDADE BRASILEIRA DE da DRC e dos fenômenos envolvidos na
NEFROLOGIA, 2013). manutenção da homeostase e equilíbrio de
cálcio, fósforo e potássio dos indivíduos
que encontram-se em hemodiálise é muito
Terapia Nutricional na complexo. Dessa forma, a nutrição clínica
Insuficiência Renal Crônica voltada à DRC demonstrada a importância
de uma dieta restrita e bem estruturada, feita
A nutrição desempenha papel importante exclusivamente a cada indivíduo.
no tratamento dos pacientes com DRC, no Os principais cuidados relacionados à
entanto, existem grandes problemas nutricio- hipocalcemia são uso de quelantes e a di-
nais afetando esses pacientes, incluindo dieta minuição dos alimentos ricos em fósforo
restrita. Os elementos da dieta renal incluem presentes na alimentação, bem como, porque
obtenção de calorias e proteínas adequadas ao a hiperfosfatemia é prejudicial ao organismo
mesmo tempo que se limitam determinados e pode levar a várias consequências relacio-
nutrientes, como cálcio, potássio e fósforo. O nadas, dentre as quais o hiperparireoidismo
aconselhamento nutricional dietético auxilia secundário. Além disso, o excesso de potássio
no controle e na prevenção das complicações nos alimento pode agravar o estado clínico do
da DRC (REPLENA/NEPRO HP, 2013; paciente, podendo ocasionar ataque cardíaco
PINTO et al., 2009). e até mesmo a morte.
Nesse contexto, o portador de DRC indicado para lidar com as diversas restri-
demonstra a necessidade de um acompa- ções dietéticas, apto a prescrever uma dieta
nhamento multiprofissional no processo de saudável com as quantidades apropriadas de
compreensão da sua doença e adesão ao cálcio, fósforo e potássio na dieta ao portador
tratamento. Assim, mostra-se necessária de DRC, sendo esse um recurso de extrema
a inclusão do nutricionista na Unidade de importância para melhoria da assistência e da
Hemodiálise, visto ser ele o profissional qualidade de vida desses pacientes.
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