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Falar
em
educação
diferenciada
significa
reconhecer
que
os
processos
de
aprendizagem
de
comunidades
tradicionais
se
diferem
da
educação
padronizada
dos
currículos
escolares,
pois
traz
em
sua
prá+ca
os
conhecimentos
e
as
formas
de
sua
transmissão
próprios
da
comunidade,
da
cultura
e
do
território
em
que
vivem.
Desta
forma,
buscamos
demarcar
educação
escolar
diferenciada
como
a
incorporação
dos
conhecimentos
tradicionais
e
das
prá+cas
de
sua
transmissão
nas
escolas,
em
seus
diversos
segmentos.
Garan+r
o
acesso
à
educação
escolar
para
as
comunidades
tradicionais
deve
ser
uma
forma
de
valorização
de
suas
culturas
e
de
defesa
de
seus
territórios.
Paraty,
2018
A
educação
escolar
das
comunidades
tradicionais
de
Paraty:
um
balanço
de
dois
anos
do
Plano
Municipal
de
Educação
Coletivo
de
Apoio
à
Educação
Diferenciada
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
-‐
Angra
dos
Reis,
Paraty
e
Ubatuba
-‐
A
educação
escolar
das
comunidades
tradicionais
de
Paraty:
um
balanço
de
dois
anos
do
Plano
Municipal
de
Educação
(2015-‐2017)
Coletivo
de
Apoio
à
Educação
Diferenciada
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
-‐
Angra
dos
Reis,
Paraty
e
Ubatuba
Paraty,
2018
Esse
documento
foi
elaborado
em
fevereiro
de
2018
pelo
Coletivo
de
Apoio
à
Educação
Diferenciada
do
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais,
com
a
contribuição
de
Laura
Maria
dos
Santos,
Ronaldo
dos
Santos,
Francisco
Xavier
Sobrinho
(Ticote),
Jardson
do
Santos,
Marcela
Cananéa,
Licio
Monteiro,
Domingos
Nobre,
Indira
Alves
França,
Thatiana
Lourival,
Vanessa
Marcondes
e
Lucia
Cavalieri.
Fotografia
de
capa:
Vanessa
Marcondes.
Editoração:
Licio
Monteiro.
2
Sumário
Introdução .....................................................................................................................5
1.
O
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
de
Angra,
Paraty
e
Ubatuba
e
a
luta
pela
Educação
Diferenciada...................................................................................................7
2.
O
marco
legal
da
educação
diferenciada
em
Paraty:
direitos
previstos
na
lei
e
negados
na
prática....................................................................................................... 10
3.
Educação
escolar
caiçara .......................................................................................... 17
4.
Educação
escolar
quilombola ................................................................................... 20
5.
Educação
escolar
indígena........................................................................................ 23
7.
Demandas
e
recomendações.................................................................................... 27
Anexo:
Meta
7
do
Plano
Municipal
de
Educação
de
Paraty
(2015)................................ 31
Referências .................................................................................................................. 35
3
4
Introdução
Este
documento
tem
por
finalidade
apresentar
um
resumo
da
situação
da
educação
escolar
das
comunidades
tradicionais
de
Paraty
-‐
caiçaras,
quilombolas
e
indígenas
-‐
com
o
objetivo
de
evidenciar
as
dificuldades
e
os
entraves
que
se
interpõem
ao
pleno
direito
das
comunidades
tradicionais
à
educação
diferenciada,
conforme
previsto
em
lei.
Busca
também
registrar
os
avanços
obtidos
desde
2015
e
apontar
caminhos
necessários
para
a
efetivação
do
acesso
a
uma
educação
escolar
diferenciada
para
a
valorização
da
cultura
tradicional
e
a
defesa
dos
territórios.
A
escolha
do
ano
de
2015
como
referência
se
deve
ao
fato
de
que
foi
nesse
ano
que
o
Plano
Municipal
de
Educação
foi
aprovado,
com
uma
meta
específica
voltada
para
a
Educação
das
Comunidades
Tradicionais.
Passados
dois
anos,
é
importante
observar
o
que
avançou
e
o
que
ficou
parado
em
relação
às
metas
e
diretrizes
do
PME.
O
documento
se
encerra
com
uma
síntese
de
demandas
e
solicitações
necessárias
para
atender,
no
contexto
atual,
a
educação
das
comunidades
tradicionais
de
Paraty.
Falar
em
educação
diferenciada
significa
reconhecer
que
os
processos
de
aprendizagem
de
comunidades
tradicionais
se
diferem
da
educação
padronizada
dos
currículos
escolares,
pois
traz
em
sua
prática
os
conhecimentos
e
as
formas
de
sua
transmissão
próprios
da
comunidade,
da
cultura
e
do
território
em
que
vivem.
Desta
forma,
buscamos
demarcar
educação
escolar
diferenciada
como
a
incorporação
dos
conhecimentos
tradicionais
e
das
práticas
de
sua
transmissão
nas
escolas,
em
seus
diversos
segmentos.
Garantir
o
acesso
à
educação
escolar
para
as
comunidades
tradicionais
deve
ser
uma
forma
de
valorização
de
suas
culturas
e
de
defesa
de
seus
territórios.
O
Dossiê
foi
elaborado
para
ser
entregue
ao
Ministério
Público
Federal,
por
ocasião
de
uma
reunião
lá
realizada
em
fevereiro
de
2018.
Desde
então,
alguns
avanços
se
fizeram
notar
nas
ações
do
poder
municipal
e
estadual,
avanços
estes
que
precisam
ser
consolidados
e
ampliados,
mas
que
já
são
um
resultado
imediato
da
atuação
do
movimento
social,
não
só
junto
as
instâncias
do
Poder
Público,
mas
também
na
base
comunitária
que
sustenta
a
luta
pelo
direito
à
educação
das
comunidades
tradicionais.
No
âmbito
da
educação
escolar
caiçara,
em
maio
de
2018
houve
finalmente
a
5
chegada
de
mais
professores,
totalizando
4
professores
para
atender
as
turmas
de
6o,
7o
e
8o
ano
das
escolas
da
Praia
do
Sono
e
do
Pouso
da
Cajaíba.
A
formação
dos
professores
nos
anos
iniciais
do
Ensino
Fundamental
da
Zona
Costeira
de
Paraty
também
teve
início
em
março
de
2018,
atendendo
oito
escolas
situadas
em
comunidades
caiçaras.
Ainda
está
pendente
a
regulamentação.
Na
educação
escolar
indígena,
o
ano
se
iniciou
com
a
perspectiva
da
criação
do
magistério
indígena,
que,
foi
aprovado
pelo
Conselho
Estadual
de
Educação
e
planejado
para
iniciar
em
julho
de
2018.
Os
primeiros
seminários
de
planejamento
curricular
foram
programados
para
maio
e
junho
e
se
realizarão
em
Angra
dos
Reis.
Já
na
educação
escolar
quilombola,
o
movimento
de
reorientação
curricular
nos
anos
iniciais
das
escolas
do
Cabral
e
do
Campinho
tiveram
prosseguimento,
mas
ainda
está
pendente
sua
regulamentação.
Por
outro
lado,
a
Secretaria
Municipal
de
Educação
ainda
não
apresentou
resposta
satisfatória
em
relação
aos
anos
finais
do
Ensino
Fundamental
quilombola.
6
1.
O
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
de
Angra,
Paraty
e
Ubatuba
e
a
luta
pela
Educação
Diferenciada
O
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
-‐
FCT
é
um
movimento
social
de
base
comunitária
que
surgiu
a
partir
da
união
de
indígenas,
quilombolas
e
caiçaras
da
região
da
Bocaina
-‐
Angra
dos
Reis,
Paraty
e
Ubatuba,
em
busca
de
fortalecimento
e
solução
para
problemas
comuns
relacionados
a
direitos
básicos
e
principalmente,
para
assegurar
o
direito
ao
território.
O
FCT
foi
criado
em
2007,
a
partir
do
surgimento
de
políticas
importantes
para
os
Povos
e
Comunidades
Tradicionais
do
Brasil,
como
o
Decreto
6040/2007
que
institui
a
Política
Nacional
de
Povos
e
Comunidades
Tradicionais
e
tem
como
principal
objetivo:
promover
o
desenvolvimento
sustentável
dos
Povos
e
Comunidades
Tradicionais,
com
ênfase
no
reconhecimento,
fortalecimento
e
garantia
dos
seus
direitos
territoriais,
sociais,
ambientais,
econômicos
e
culturais,
com
respeito
e
valorização
à
sua
identidade,
suas
formas
de
organização
e
suas
instituições.
Mesmo
possuindo
práticas
e
conhecimentos
passados
de
geração
a
geração
e
um
importante
papel
na
conservação
dos
recursos
naturais,
sendo
reconhecidas
como
verdadeiro
patrimônio
cultural,
as
populações
tradicionais
vivem
graves
conflitos
territoriais,
que
ameaçam
constantemente
o
seu
modo
de
vida
-‐
especulação
imobiliária,
grandes
empreendimentos,
privatização
de
territórios
tradicionais,
turismo
desordenado,
algumas
práticas
repressivas
de
órgãos
ambientais,
precariedade
de
serviços
essenciais
como
educação,
saúde,
lazer
e
saneamento,
dentre
outros.
Embora
tenham
direitos
constitucionalmente
garantidos,
a
pressão
de
órgãos
ambientais,
a
especulação
imobiliária
e
ausência
de
políticas
públicas
específicas
expõem
ao
risco
a
reprodução
social
das
comunidades
tradicionais,
colocando
em
xeque
não
só
a
cultura,
que
garante
a
diversidade
da
sociedade
brasileira
e
o
patrimônio
cultural
(material
e
imaterial)
do
país,
mas
a
sua
própria
sobrevivência.
Com
o
objetivo
de
implementar,
nos
níveis
federal,
estadual
e
municipal,
os
objetivos
e
princípios
estabelecidos
por
essa
política
e
legislações
que
protegem
os
povos
tradicionais,
desde
2007,
o
FCT
da
região,
formado
por
quilombolas,
indígenas,
caiçaras,
vem
se
consolidando
e
fortalecendo
a
luta
pelos
direitos
dessas
populações.
7
O
FCT
se
articula
em
rede
de
associações
comunitárias
e
entidades
parceiras,
buscando
o
fortalecimento
das
comunidades
tradicionais.
Exerce
o
controle
social,
pressão
participativa
e
luta
pela
democracia,
atuando
em
espaços
colegiados
como
conselhos,
redes
e
fóruns
regionais.
Promove
defesa
dos
direitos
essenciais
e
territoriais
das
populações
tradicionais
por
meio
de
articulação,
mobilização
e
diálogo
com
instituições
governamentais
e
não
governamentais
que
atuam
na
defesa
desses
povos,
como
Ministério
Público,
Defensoria
Pública,
universidades,
centros
de
pesquisa
e
ONGs.
O
FCT
exerce
ainda
atuação
importante
como
criador
e
indutor
de
políticas
públicas
a
representantes
do
poder
legislativo.
O
Coletivo
de
Apoio
à
Educação
Diferenciada
é
uma
rede
que
se
formou
em
apoio
ao
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais,
um
movimento
espontâneo
que
se
consolidou
a
partir
do
trabalho
de
lideranças
do
FCT
que
se
dedicavam
à
causa
da
Educação
Diferenciada,
aproximando
e
fortalecendo
trabalhos
realizados
inicialmente
de
forma
isolada.
O
Coletivo
também
reuniu
pessoas
próximas
às
comunidades
tradicionais,
que
de
alguma
forma
se
vinculavam
às
pesquisas
e
demandas
na
área
da
Educação
Diferenciada,
como
professores
da
educação
básica,
pesquisadores
e
estudantes
de
instituições
como
a
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro
(UFRJ),
a
Universidade
Federal
Fluminense
(UFF)
-‐
de
Angra
dos
Reis
e
Niterói
-‐,
a
Fundação
Oswaldo
Cruz
(FIOCRUZ),
a
ONG
Verde
Cidadania,
o
Grupo
de
Extensão
Raízes
e
Frutos
(UFRJ)
e
a
Pontifícia
Universidade
Católica
(PUC-‐Rio),
entre
outras.
Desde
2013,
diversos
encontros
foram
realizados
buscando
atender
a
uma
das
principais
demandas
do
FCT
e
se
criar
uma
proposta
de
pesquisa
para
a
Educação
Diferenciada.
Mas
somente
em
2015
o
Coletivo
veio
a
se
consolidar.
Com
a
formação
do
Coletivo,
os
participantes
definiram
que
o
principal
ponto
a
ser
enfrentado
era
o
novo
Plano
Municipal
de
Educação
(PME)
de
Paraty,
cujo
debate
já
estava
prestes
a
ocorrer
em
junho
de
2015.
O
Coletivo
atuou
na
formulação
e
envio
de
propostas
que
pudessem
ser
votadas
na
Conferência
Municipal
de
Educação,
ocorrida
no
mesmo
ano,
tendo
como
resultado
o
documento
base
do
Plano
Municipal
de
Educação
para
o
decênio
2015/2025.
Os
participantes
do
Coletivo
estiveram
presentes
e
participaram
dos
grupos
de
trabalho
dos
eixos
“Educação
Para
as
Comunidades
Tradicionais”
e
“Educação
para
a
Diversidade”,
discutindo
e
apresentando
estratégias
para
a
implementação
de
uma
educação
que
respeitasse
a
diversidade
cultural
do
8
município.
O
resultado
dessa
participação
foi
a
previsão,
em
lei,
de
uma
importante
meta
para
a
educação
das
comunidades
tradicionais,
que
visa
à
oferta
de
Educação
Básica
para
as
comunidades
tradicionais
e
populações
do
campo
nas
próprias
comunidades,
articulando
seu
currículo
com
o
contexto
rural,
étnico,
e
com
as
tradições
locais;
e
se
desdobra
em
31
estratégias
presentes
no
Plano
Municipal
de
Educação
de
Paraty.
Ao
final
de
2015,
o
Coletivo
participou
ativamente
das
reuniões
realizadas
com
a
Secretaria
Municipal
de
Educação
(SME)
para
a
implantação
do
2o
Segmento
(Anos
finais,
6o
ao
9o
ano)1
do
Ensino
Fundamental
na
Zona
Costeira2,
iniciando
pelas
praias
do
Sono
e
Pouso
da
Cajaíba.
Ao
longo
das
discussões,
o
Coletivo
assumiu
a
responsabilidade
de
elaborar
uma
proposta
pedagógica
junto
às
comunidades
e
professores
para
essa
nova
etapa
de
ensino
a
ser
implantada,
uma
vez
que
as
escolas
passariam
a
implantar
um
currículo
diferenciado.
Em
2016,
as
ações
do
Coletivo
ficaram
focadas
na
implantação
do
6º
ano
nas
Praias
do
Sono
e
Pouso
da
Cajaíba,
especificamente
no
apoio
à
formação
inicial
e
continuada
dos
professores
e
sua
proposta
pedagógica,
processo
coordenado
pelo
Instituto
de
Educação
de
Angra
dos
Reis
da
Universidade
Federal
Fluminense
(IEAR/UFF).
Em
2017,
iniciou-‐se
a
formação
escolar
diferenciada
quilombola
nos
quilombos
do
Campinho
e
Cabral
e
as
negociações
visando
um
acordo
para
a
formação
escolar
diferenciada
do
1o
segmento
da
costeira.
Todos
os
processos
são
coordenados
pelo
IEAR/UFF,
sendo
que
a
formação
do
1o
segmento
da
costeira
será
realizada
com
a
participação
do
Núcleo
de
Estudos
e
Pesquisas
sobre
Educação
Diferenciada
do
Colégio
Pedro
II
(NEPEDIF/CPII).
1
O
Ensino
Fundamental
é
dividido
em
1o
segmento
ou
"anos
iniciais",
que
compreende
o
1o
ao
5o
ano
(antigo
CA
a
4a
série)
e
2o
segmento
ou
"anos
finais",
que
compreende
o
6o
ao
9o
ano
(antiga
5a
a
8a
série).
2
As
escolas
de
Paraty
se
dividem
entre
zona
urbana,
zona
rural
e
costeira.
A
zona
costeira
corresponde
a
oito
escolas
cujo
o
acesso
depende
do
uso
de
barcos,
são
elas:
Praia
do
Sono,
Pouso
da
Cajaíba,
Ponta
da
Juatinga,
Ponta
Negra,
Praia
do
Calhaus,
Saco
do
Mamanguá,
Ponta
Grossa
e
Ilha
do
Araújo.
9
2.
O
marco
legal
da
educação
diferenciada
em
Paraty:
direitos
previstos
na
lei
e
negados
na
prática
Como
já
mencionado,
o
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
esteve
presente
de
forma
ativa
no
processo
de
discussão
e
nas
votações
ocorridas
na
Conferência
Municipal
de
Educação,
buscando
incluir
no
Plano
Municipal
de
Educação
(PME)
os
importantes
avanços
em
relação
a
garantia
dos
direitos
à
educação.
O
PME
está
baseado
em
diversas
legislações
que
afirmam
os
direitos
das
comunidades
tradicionais,
questão
que
ganhou
relevância
nas
últimas
duas
décadas
do
século
XX.
As
convenções
107
e
169
da
Organização
Internacional
do
Trabalho
(OIT),
que
tratam
dos
povos
tradicionais,
foram
formuladas
e
reconhecidas
no
início
da
década
de
1990.
No
Brasil,
o
Decreto
nº
5051/2004
reconhece
e
promulga
as
referidas
convenções.
Uma
característica
relevante
das
convenções,
já
derivada
das
lutas
dos
movimentos,
é
o
princípio
da
autodeterminação,
como
critério
fundamental
para
sua
aplicação.
No
âmbito
das
lutas
e
conquistas
desses
povos
do
campo
nasceu
também
o
Decreto
6040,
de
2007,
que
promulga
a
Política
Nacional
de
Desenvolvimento
Sustentável
dos
Povos
e
Comunidades
Tradicionais.
Esse
documento
evidencia
o
reconhecimento
das
formas
de
vida
dos
Povos
e
Comunidades
Tradicionais
caracterizando-‐os
como:
grupos
culturalmente
diferenciados
e
que
se
reconhecem
como
tais,
que
possuem
formas
próprias
de
organização
social,
que
ocupam
e
usam
territórios
e
recursos
naturais
como
condição
para
sua
reprodução
cultural,
social,
religiosa,
ancestral
e
econômica,
utilizando
conhecimentos,
inovações
e
práticas
gerados
e
transmitidos
pela
tradição
(Decreto
6040,
2007).
Ainda
como
marco
legal,
no
seio
das
unidades
de
conservação
no
Brasil,
destaca-‐
se
o
Sistema
Nacional
das
Unidades
de
Conservação
(SNUC,
lei
nº
9.985/2000)
e
suas
posteriores
regulamentações
(Decreto
4340/2002)
e
emendas,
que
afirmam
direitos
de
permanência
de
comunidades
tradicionais
em
diversas
categorias
de
áreas
protegidas.
Em
relação
à
escolarização,
os
povos
do
campo
e
as
comunidades
tradicionais
já
conquistaram
um
conjunto
de
direitos
relativos
ao
acesso
e
ao
tipo
de
educação
a
ser
realizada
em
seus
lugares
de
vida,
sem
precisar
migrar.
A
própria
Convenção
169
da
OIT,
10
em
seu
artigo
27,
enfatiza
a
importância
da
criação
de
um
sistema
educacional
próprio
para
as
comunidades
consideradas
tradicionais:
Artigo
27:
1.
Os
programas
e
os
serviços
de
educação
destinados
aos
povos
interessados
deverão
ser
desenvolvidos
e
aplicados
em
cooperação
com
eles
a
fim
de
responder
às
suas
necessidades
particulares,
e
deverão
abranger
a
sua
história,
seus
conhecimentos
e
técnicas,
seus
sistemas
de
valores
e
todas
suas
demais
aspirações
sociais,
econômicas
e
culturais.
2.
A
autoridade
competente
deverá
assegurar
a
formação
de
membros
destes
povos
e
a
sua
participação
na
formulação
e
execução
de
programas
de
educação,
com
vistas
a
transferir
progressivamente
para
esses
povos
a
responsabilidade
de
realização
desses
programas,
quando
for
adequado.
3.
Além
disso,
os
governos
deverão
reconhecer
o
direito
desses
povos
de
criarem
suas
próprias
instituições
e
meios
de
educação,
desde
que
tais
instituições
satisfaçam
as
normas
mínimas
estabelecidas
pela
autoridade
competente
em
consulta
com
esses
povos.
Deverão
ser
facilitados
para
eles
recursos
apropriados
para
essa
finalidade.
Já
a
Política
Nacional
de
Desenvolvimento
Sustentável
dos
Povos
e
Comunidades
Tradicionais
(PNPCT)
apresenta,
dentre
seus
objetivos
específicos,
a
necessidade
da
existência
do
diálogo
entre
educação
formal
e
saber
informal
no
âmbito
escolar:
Garantir
e
valorizar
as
formas
tradicionais
de
educação
e
fortalecer
processos
dialógicos
como
contribuição
ao
desenvolvimento
próprio
de
cada
povo
e
comunidade,
garantindo
a
participação
e
controle
social
tanto
nos
processos
de
formação
educativos
formais
quanto
nos
não-‐formais
(PNPCT,
2007).
Outra
importante
legislação
é
a
da
Educação
do
Campo.
O
Decreto
n°
7.352/2010
passou
a
regular
a
Educação
do
Campo
no
Brasil,
tornando-‐a
uma
política
pública
consistente
e
garantindo
direitos,
inclusive
para
caiçaras
e
quilombolas.
Artigo
1:
Para
os
efeitos
deste
Decreto,
entende-‐se
por:
I
–
populações
do
campo:
os
agricultores
familiares,
os
extrativistas,
os
pescadores
artesanais,
os
ribeirinhos,
os
assentados
e
acampados
da
reforma
agrária,
os
trabalhadores
assalariados
rurais,
os
quilombolas,
os
caiçaras,
os
povos
da
floresta,
os
caboclos
e
outros
que
produzam
suas
condições
materiais
de
existência
a
partir
do
trabalho
no
meio
rural.
II
–
escola
do
campo:
aquela
situada
em
área
rural,
conforme
definida
pela
Fundação
Instituto
Brasileiro
de
Geografia
e
Estatística
-‐
IBGE,
ou
aquela
situada
em
área
urbana,
desde
que
atenda
predominantemente
a
populações
do
campo.
11
É
a
partir
desse
aparato
institucional
legal
que
as
comunidades
tradicionais
de
Paraty
vêm
se
mobilizando
com
vistas
a
assegurar
uma
educação
de
qualidade
para
as
suas
comunidades,
entendendo
que
esse
é
um
direito
que
lhes
vem
sendo
negado
há
décadas.
A
partir
da
discussão
com
as
comunidades
tradicionais,
o
Plano
Municipal
de
Educação
incorporou
alguns
dos
preceitos
de
uma
educação
do
campo
diferenciada,
indicando
a
intenção
de
reconhecer
e
atender
o
direito
dessas
comunidades.
O
PME
faz
referência
a
essas
diversas
legislações:
Convenção
169
da
OIT,
Decreto
Federal
6040/2007,
Diretrizes
para
a
Educação
Escolar
Quilombola,
Resolução
CNE
nº
04/2010,
Deliberação
CEE/RJ
nº
286/2003
e
a
Lei
Municipal
1835,
de
10
de
janeiro
de
2012,
mas
deixando
de
fora
a
legislação
referente
à
Educação
do
Campo,
apesar
de
fazer
referências
a
Educação
do
Campo
em
suas
diretrizes.
O
Plano
Municipal
de
Educação
de
Paraty
(2015)
Dois
anos
após
a
data
em
que
a
nova
lei
passou
a
valer
(dezembro
de
2015),
constatamos
que
houve
alguns
poucos
avanços
e
muitos
pontos
de
estagnação
em
relação
ao
que
está
previsto
no
PME.
Sobre
os
avanços,
é
importante
registrar
o
início
da
implantação
do
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental
nas
comunidades
do
Sono
e
do
Pouso,
a
partir
de
2016,
com
a
formação
continuada
dos
professores
visando
uma
reorientação
curricular
diferenciada.
O
mesmo
processo
de
formação
teve
início
em
2017
no
1o
segmento
do
Ensino
Fundamental
nas
comunidades
quilombolas
do
Cabral
e
do
Campinho
da
Independência.
Entretanto,
os
pontos
de
estagnação
ainda
são
muitos,
conforme
descreveremos
a
seguir.
A
meta
7
do
Plano
Municipal
de
Educação
visa
"Garantir
a
oferta
da
Educação
Básica,
em
especial
dos
anos
iniciais
do
Ensino
Fundamental,
para
as
comunidades
tradicionais
e
populações
do
campo
nas
próprias
comunidades,
articulando
o
seu
currículo
com
o
contexto
rural,
étnico,
e
com
as
tradições
locais,
atendendo
às
determinações
legais
vigentes
e
respeitando
a
articulação
entre
os
ambientes
escolares
e
comunitários".
As
31
estratégias
da
Meta
7
contêm
tanto
objetivos
gerais,
válidos
para
todos
os
segmentos
e
comunidades
tradicionais,
quanto
objetivos
específicos
relacionados
à
12
educação
quilombola,
indígena
e
caiçara.
Também
existem
objetivos
relativos
a
diversos
níveis
de
ensino
-‐
1o
e
2o
segmentos
do
Ensino
Fundamental,
Ensino
Médio,
Educação
de
Jovens
e
Adultos,
etc.
Destacaremos,
nesse
primeiro
momento,
as
estratégias
7.2,
7.6,
7.9,
7.11,
7.21,
7.26,
7.27
e
7.31.
Esses
itens
se
referem
ao
conjunto
das
comunidades
tradicionais,
enfocando
o
Ensino
Infantil
e
o
Ensino
Fundamental
(anos
iniciais
e
finais).
7.2
-‐
priorizar
e
garantir
o
acesso
e
a
permanência
à
Educação
Infantil
e
ao
Ensino
Fundamental,
em
especial
dos
anos
iniciais,
nas
escolas
das
comunidades
tradicionais
e
populações
do
campo,
limitando
a
nucleação
dessas
escolas
e
o
deslocamento
de
crianças,
de
forma
a
atender
às
especificidades
dessas
comunidades,
garantindo
consulta
prévia
livre
e
informada
quando
necessário,
com
atenção
especial
às
comunidades
costeiras
de
dificílimo
acesso,
com
a
oferta
dos
anos
finais
do
Ensino
Fundamental
Regular
e
Ensino
Médio;
A
oferta
de
ensino
nos
anos
finais
do
Ensino
Fundamental
só
tem
ocorrido
nas
comunidades
da
Praia
do
Sono
e
do
Pouso
da
Cajaíba.
No
caso
do
Pouso,
que
poderia
nuclear
outras
comunidades,
como
Praia
do
Calhaus,
Praia
Grande
da
Cajaíba
e
Ponta
da
Juatinga,
não
há
disponibilidade
de
barco
para
as
crianças
matriculadas
no
2o
segmento,
questão
apontada
em
carta
ao
Prefeito
entregue
em
outubro
de
2017.
No
caso
de
outras
comunidades
como
Ponta
Negra
e
Saco
do
Mamanguá,
também
não
há
oferta
do
2o
segmento.
A
demanda
do
Ensino
Médio
ainda
não
está
sendo
colocada
no
momento,
mas
em
breve
virá
a
ser.
7.6
-‐
implantar,
conforme
o
Plano
de
Ações
Articuladas
(PAR),
ao
longo
deste
PME,
salas
de
recursos
multifuncionais
e
garantir
a
formação
político-‐
pedagógica
continuada
de
professores
e
professoras
para
o
atendimento
educacional
especializado
nas
escolas
do
campo
e
das
comunidades
tradicionais.
A
infraestrutura
das
escolas
do
Sono
e
do
Pouso
da
Cajaíba
ainda
se
encontra
muito
precária.
Em
dois
anos
de
funcionamento
do
2o
segmento,
não
conseguiram
colocar
internet
nas
escolas,
que
permanecem
sem
impressora3.
Os
aparelhos
de
3
Enquanto
no
Pouso
da
Cajaíba
a
impressora
parou
de
funcionar
e
não
foi
consertada,
na
Praia
do
Sono
existe
apenas
uma
impressora
doada
pelo
Coletivo
de
Apoio
à
Educação
Diferenciada
através
de
recursos
do
Programa
de
Apoio
à
Formação
de
Educadores
(PAFE),
um
edital
do
Instituto
Oju
Moran.
13
datashow
em
uso
são
emprestados
pelos
Pontos
de
Cultura
Caiçara
do
Sono
e
do
Pouso.
Portanto,
não
houve
implantação
de
salas
de
recursos
multifuncionais.
Quanto
à
formação
político-‐pedagógica
continuada,
esta
vem
sendo
realizada
pelo
IEAR/UFF
no
2o
segmento
(escolas
do
Sono/Pouso)
e
no
1o
segmento
(escolas
Campinho
e
Cabral).
É
demanda
premente
do
FCT
estender
essa
formação
para
o
1o
segmento
caiçara,
como
já
previsto
para
iniciar
em
2018,
e
para
o
2o
segmento
quilombola.
7.9
-‐
fomentar
o
desenvolvimento
sustentável
e
a
preservação
da
identidade
cultural
nas
escolas
das
comunidades
tradicionais,
garantindo
a
participação
da
comunidade
na
definição
do
modelo
de
organização
pedagógica
e
de
gestão
das
instituições,
consideradas
as
práticas
socioculturais
e
as
formas
particulares
de
organização
do
tempo;
7.27
-‐
promover
o
processo
de
gestão
democrática
em
todas
as
escolas
das
comunidades
tradicionais,
de
acordo
com
a
legislação
vigente,
garantindo
a
autonomia
dos
Conselhos
Escolares
e
sua
participação
na
construção
do
Projeto
Político
Pedagógico;
A
participação
da
comunidade
no
modelo
de
organização
pedagógica
e
na
gestão
ainda
não
está
sendo
garantida.
As
escolas
da
Praia
do
Sono
e
do
Pouso
da
Cajaíba
continuam
sem
Conselho
Escolar
e
Associação
de
Pais
e
Mestres,
mesmo
após
três
mães
do
Sono
terem
se
oferecido
para
a
formarem.
Os
nomes
foram
passados
à
SME,
mas
a
oficialização
não
foi
à
frente.
7.11
-‐
promover
a
elaboração
de
currículos
e
propostas
pedagógicas
específicas
para
educação
escolar
nas
escolas
do
campo
e
das
comunidades
tradicionais,
em
conjunto
com
as
comunidades,
com
abordagens
interdisciplinares
que
organizem
de
maneira
flexível
conteúdos
teóricos
e
práticos
articulados,
respeitando
todos
os
seus
aspectos
e
incluindo
os
conteúdos
culturais,
sociais,
políticos,
econômicos,
de
gênero,
geração
e
etnia,
correspondentes
às
respectivas
comunidades,
considerando
o
fortalecimento
das
práticas
socioculturais
e
da
língua
materna
de
cada
comunidade
indígena,
garantindo
a
produção
e
a
disponibilização
de
materiais
didáticos
específicos;
A
elaboração
de
currículos
e
propostas
pedagógicas
específicas
está
ocorrendo
no
2o
segmento
das
escolas
da
Praia
do
Sono
e
do
Pouso
da
Cajaíba
e
deve
iniciar
no
1o
segmento
das
escolas
do
Campinho
e
do
Cabral.
Mas
ainda
não
está
sendo
realizada
nas
14
demais
escolas.
Está
prevista
para
2018
também
o
início
da
reorientação
das
escolas
de
1o
segmento
da
Costeira.
7.21
–
propor
a
criação
de
instância
no
prazo
de
até
03
(três)
anos,
observada
a
LRF
(Lei
101/2000)
a
contar
da
data
de
publicação
desta
Lei,
no
âmbito
da
Secretaria
Municipal
de
Educação
que
garanta
de
forma
permanente
a
organização,
o
acompanhamento,
a
avaliação
e
a
socialização
das
ações
para
implementação
da
educação
diferenciada
nas
comunidades
tradicionais
do
município,
em
conformidade
com
o
Decreto
Federal
6040,
de
fevereiro
de
2007,
com
a
Lei
Municipal
1835,
de
10
de
janeiro
de
2012
e
Convenção
169
da
OIT;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº
028/2015)
Em
dois
anos
de
publicação
do
PME,
não
houve
nenhum
movimento
da
SME
para
a
criação
de
instância
responsável
pelo
desenvolvimento
da
educação
diferenciada.
7.26
-‐
garantir
que
na
organização,
administração
e
gestão
da
educação
para
as
comunidades
tradicionais,
os
critérios
científicos
e
pedagógicos
prevaleçam
sempre
sobre
quaisquer
critérios
de
natureza
administrativa
ou
outra
que
claramente
não
se
compatibilize
com
as
escolas
e
práticas
educativas
que
delas
decorrem;
Em
muitas
situações,
os
critérios
pedagógicos
estão
sendo
colocados
em
segundo
plano
em
função
de
imperativos
administrativos
(Ex:
ausência
de
coordenação;
número
de
professores;
organização
em
ciclos,
com
turmas
de
dois
anos,
etc.)
7.31
–
Implementar
a
expansão
do
Ensino
Fundamental
nos
anos
finais
nas
comunidades
tradicionais
e
do
campo,
em
pelo
menos
02
escolas,
a
cada
02
anos,
mediante
estudo
da
necessidade
das
comunidades
em
questão,
considerando
a
Pedagogia
da
Alternância
e
em
conformidade
com
as
metodologias
participativas
e
dialógicas.
A
última
estratégia
da
Meta
31
é
bem
específica
ao
definir
o
número
de
escolas
a
serem
atendidas
e
o
prazo
de
cumprimento.
Nos
dois
primeiros
anos
de
PME,
a
Prefeitura
de
Paraty
cumpriu
a
estratégia,
abrindo
turmas
de
2o
segmento
na
Praia
do
Sono
e
no
Pouso
da
Cajaíba,
embora
tenha
prometido
uma
terceira
escola
ainda
em
2015.
Passados
dois
anos,
não
houve
nenhuma
ampliação
de
2o
segmento
em
comunidades
tradicionais,
apesar
das
demandas
pelo
2o
segmento
nas
escolas
do
Campinho,
do
Saco
do
Mamanguá
e
da
Ponta
Negra.
15
Nos
tópicos
seguintes,
apresentamos
a
situação
da
educação
escolar
em
cada
uma
das
três
etnias
que
compõem
o
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
em
Paraty,
buscando
avaliar
os
objetivos
do
PME
em
função
do
que
avançou
e
do
que
ficou
parado.
16
3.
Educação
escolar
caiçara
Paraty
possui
diversas
comunidades
caiçaras,
algumas
delas
em
localidades
com
acesso
à
estrada,
outras
somente
acessíveis
de
barco
ou
trilha
-‐
a
chamada
Zona
Costeira.
Entre
as
escolas
acessíveis
pela
estrada,
podemos
citar
Tarituba,
São
Gonçalo,
Paraty-‐
Mirim
e
Trindade,
nas
quais
existem
escolas
de
1o
segmento
e
o
acesso
às
escolas
de
2o
segmento
da
cidade
ou
da
zona
rural
(Barra
Grande).
Já
na
Zona
Costeira
existem
oito
escolas
de
1o
segmento:
Praia
do
Sono,
Ponta
Negra,
Pouso
da
Cajaíba,
Ponta
da
Joatinga,
Praia
do
Calhaus,
Saco
do
Mamanguá,
Ponta
Grossa
e
Ilha
do
Araújo.
Todas
essas
localidades
são
consideradas
comunidades
caiçaras.
Essas
escolas
cobrem
a
maior
parte
da
demanda
de
1o
segmento
na
Zona
Costeira,
pois
existe
ainda
o
deslocamento
de
barco
de
alunos
residentes
em
pequenas
comunidades
para
escolas
situadas
em
comunidades
maiores.
Mas
mesmo
no
1o
segmento,
ainda
há
crianças
em
idade
escolar
sem
atendimento,
como
no
caso
da
praia
de
Martim
de
Sá
e
Saco
das
Anchovas.
A
falta
de
escolas
em
algumas
comunidades
tem
levado
muitas
famílias
caiçaras
a
migrarem
para
outras
localidades
em
busca
desse
direito
negado,
abandonando
assim
seus
territórios
tradicionais.
É
o
caso,
por
exemplo,
da
comunidade
do
Cairuçu
das
Pedras,
onde
as
famílias
com
crianças
em
idade
escolar
se
mudaram
para
a
Ponta
Negra.
A
situação
é
mais
crítica
no
acesso
ao
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental.
Até
2015,
quando
o
PME
foi
aprovado,
não
havia
escolas
de
2o
segmento
de
Ensino
Fundamental
para
as
comunidades
da
Zona
Costeira
de
Paraty.
As
comunidades
da
Ilha
do
Araújo
e
de
Ponta
Grossa,
situadas
mais
próximas
ao
centro
de
Paraty,
têm
usufruído
de
transporte
marítimo
para
acessarem
as
escolas
da
cidade,
mas
as
demais
se
encontram
em
distâncias
marítimas
muito
grandes,
o
que
dificultaria
esse
transporte.
No
caso
do
Saco
do
Mamanguá,
o
atendimento
existia,
apesar
do
enorme
tempo
dispensado
no
translado
de
barco
e
ônibus
até
a
escola
mais
próxima
(cerca
de
3
horas
para
ir
e
3
horas
para
retornar),
mas
nas
demais
comunidades
nem
mesmo
esse
translado
era
oferecido.
Ao
longo
do
tempo,
o
histórico
de
negligência
do
Poder
Público
no
atendimento
à
demanda
do
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental
na
Zona
Costeira
fez
com
que
sucessivas
gerações
fossem
alijadas
da
conclusão
do
9o
ano
(antiga
8a
série).
Poucos
adultos
dentro
das
comunidades
ultrapassaram
o
5o
ano,
alguns
só
o
fizeram
através
da
17
modalidade
de
Ensino
de
Jovens
e
Adultos
(EJA),
após
a
descontinuidade
de
seus
estudos.
Nesse
contexto,
diversas
mobilizações
foram
feitas,
nos
anos
mais
recentes,
para
que
a
Prefeitura
Municipal
oferecesse
o
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental
regular
nas
comunidades
caiçaras,
especialmente
na
Praia
do
Sono
e
no
Pouso
de
Cajaíba,
que
são
as
que
apresentavam
maior
demanda
e
se
encontravam
em
lugares
de
dificílimo
acesso
para
o
deslocamento
de
alunos
para
as
escolas
do
centro
urbano
de
Paraty.
Também
historicamente
as
condições
de
trabalho
dos
professores
da
costeira
são
precárias.
Além
da
pouca
estrutura
física
e
de
material
das
escolas,
a
Secretaria
Municipal
de
Educação
somente
oferecia
barcos
para
o
deslocamento
dos
professores
a
cada
semana,
fazendo
com
que
muitos
fiquem
em
isolamento
e
não
tenham
o
interesse
em
trabalhar
nessas
localidades
e/ou
desistam
no
meio
do
processo.
É
nesse
contexto
que
surge,
em
2015,
o
Plano
Municipal
de
Educação,
com
uma
Meta
específica
para
a
Educação
para
as
Comunidades
Tradicionais
(Meta
7)
e
a
proposta
da
Prefeitura
Municipal
de
Paraty
para
implantar
o
2o
segmento
em
três
escolas
da
Zona
Costeira:
Praia
do
Sono,
Pouso
da
Cajaíba
e
uma
terceira,
que
acabou
não
ocorrendo.
Aqui
destacamos
os
principais
pontos
do
PME
relacionados
às
comunidades
caiçaras
e
o
processo
de
implantação
do
2o
segmento
do
EF
na
Praia
do
Sono
e
no
Pouso
da
Cajaíba.
As
principais
estratégias
do
PME
que
tratam
sobre
a
educação
caiçara
são
o
7.14
e
o
7.30:
7.14
-‐
garantir,
em
até
03
anos,
a
adequação
de
escolas
em
núcleos
caiçaras
inseridos
ou
não
em
UC’s,
assegurar
a
regulamentação
da
Educação
Caiçara,
com
a
participação
dos
Movimentos
Sociais
e
Comunitários
garantindo
o
direito
às
comunidades
de
preservarem
suas
manifestações
culturais,
valorizando
a
pedagogia
Griô,
considerando
a
Pedagogia
da
Alternância
e
a
sustentabilidade
do
território,
em
conformidade
com
o
Decreto
Federal
6040,
de
fevereiro
de
2007,
com
a
Lei
Municipal
1835,
de
10
de
janeiro
de
2012,
com
a
Convenção
169
da
OIT;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº027/2015)
7.30
-‐
reconhecer
as
especificidades
das
comunidades
costeiras,
atendendo
a
toda
demanda
de
acesso
à
educação
escolar,
independente
do
número
de
crianças
em
idade
escolar,
garantindo
a
escolarização
em
nível
fundamental,
em
unidades
escolares
mais
próximas
à
comunidade
de
origem;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº
030/2015).
Na
redação
original,
o
prazo
estipulado
era
de
2
anos,
que
foi
estendido
para
3
anos
na
votação
na
Câmara
Municipal.
Esse
item
fala
expressamente
em
"adequação
das
escolas
inseridas
em
núcleos
caiçaras"
e
"regulamentação
da
Educação
Caiçara".
18
Consideramos
"adequação"
as
reformas
necessárias
para
receber
o
número
de
turmas
e
alunos
de
1o
e
2o
segmentos,
bem
como
para
residência
dos
professores
oriundos
da
sede
municipal.
A
adequação
deve
visar
também
ao
bem
estar
da
prática
educacional,
com
mobiliário,
materiais
e
instrumentos
que
atendam
aos
alunos
em
sua
aprendizagem.
Já
a
"regulamentação
da
Educação
Caiçara"
consiste
na
aprovação
e
publicação
das
resoluções
que
validam
a
expansão
para
o
2o
segmento,
que
estabelecem
o
currículo
diferenciado,
desenvolvido
em
ciclos
e
a
inserção
dessas
escolas
nas
categorias
de
Escolas
do
Campo.
A
questão
do
"número
de
crianças"
precisa
também
ser
observada,
para
que
não
se
recuse
possíveis
aberturas
de
turmas
em
função
do
baixo
número
de
crianças.
19
4.
Educação
escolar
quilombola
No
Quilombo
do
Campinho,
situado
no
município
de
Paraty,
a
Associação
de
Moradores
do
Campinho
(AMOC)
já
desenvolve
há
mais
de
uma
década
um
trabalho
de
fortalecimento
da
cultura
quilombola.
O
objetivo
é
contribuir
para
a
compreensão
da
importância
da
cultura
afro
brasileira
na
educação
quilombola,
com
a
participação
da
comunidade
em
grupos
de
jongo,
capoeira,
samba,
dança
afro
e
hip
hop.
Em
2016,
com
o
lançamento
da
campanha
dos
10
anos
do
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
(FCT
+
10),
e
o
convite
para
os
alunos
das
oficinas
se
apresentarem,
estas
ganharam
novo
fôlego.
A
partir
daí,
nasceu
o
Bloco
Afro.
Além
das
atividades
culturais,
a
comunidade
do
Campinho
também
tem
atuado
politicamente
para
a
melhoria
da
educação
escolar
quilombola.
A
luta
pela
educação
quilombola
existe
desde
os
tempos
da
titulação.
Ao
longo
desse
período,
houve
algumas
iniciativas:
instalação
do
ponto
de
cultura
na
escola
(2005),
retirada
do
mesmo
pela
SME
(2006),
projeto
na
escola
patrocinado
pelo
Itaú
Unibanco
(Vivencia
de
Saberes).
Entretanto,
há
um
histórico
de
“queda
de
braço”
com
as
gestões
e
com
os
professores
(que
muitas
vezes
resistem
à
lógica
da
educação
quilombola)
e
ainda
um
racismo
institucional
implícito.
Em
2014,
instalou-‐se
uma
crise
por
conta
das
condições
da
escola
(teto
em
más
condições,
instalações
elétricas
precárias,
morcego,
mofo
e
questões
de
insalubridade
de
um
modo
geral).
As
mães
da
comunidade
se
uniram
por
melhores
condições
e
fizeram
uma
primeira
greve:
os
alunos
não
foram
estudar.
Houve
uma
negociação
com
a
Prefeitura,
na
qual
foi
acordada
uma
reforma
mínima
emergencial
e
uma
reforma
completa
nas
férias
escolares.
Não
houve
reforma
nas
férias.
Houve
outra
greve
então
em
2015.
Junto
com
essa
crise
na
escola,
foi
ganhando
adesão
junto
à
comunidade
a
proposta
da
educação
quilombola,
ganhando
terreno
durante
o
debate
do
PME
e
formação
do
GT
para
discutir
educação
quilombola,
organizado
no
âmbito
do
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais.
Em
2016,
aconteceu
uma
série
de
reuniões
com
a
Secretaria
Municipal
de
Educação,
reivindicando,
entre
outras
coisas,
a
implantação
das
diretrizes
da
educação
quilombola
na
escola
da
comunidade.
Após
muitas
negociações,
e
com
o
apoio
20
fundamental
do
IEAR/UFF,
conseguiu-‐se
o
compromisso
da
Prefeitura
de
avançar
nessa
pauta.
Como
resultado
de
uma
luta
que
tem
mais
de
uma
década,
no
ano
de
2017,
foi
iniciada
a
implementação
de
um
programa
de
formação
continuada
visando
a
reorientação
curricular
do
1o
segmento
da
educação
escolar
quilombola,
coordenado
pela
IEAR/UFF
e
realizado
com
professores
da
UFF
e
uma
doutoranda
da
PUC,
direcionado
aos
professores
das
escolas
dos
Quilombos
do
Campinho
e
Cabral.
Este
é
um
trabalho
de
longo
prazo,
que
encerra
seu
ciclo
em
2021.
Além
disso,
ainda
no
ano
de
2017,
outro
evento
no
território
fez
com
que
se
abrisse
uma
brecha
para
um
avanço
em
relação
à
educação
escolar
quilombola
no
Ensino
Fundamental
pleno,
como
estabelecido
no
PME.
A
escola
Pequenina
Calixto,
que
fica
na
zona
urbana
e
atende
a
maior
parte
dos
alunos
de
2o
segmento
do
município
de
Paraty,
foi
interditada
por
problemas
de
infraestrutura
do
prédio
(parte
do
telhado
caiu).
Com
isso,
os
alunos
de
2o
segmento,
inclusive
os
oriundos
do
Quilombo
do
Campinho,
tiveram
que
ser
remanejados
para
os
espaços
em
outros
bairros
periféricos
da
cidade.
Muitos
alunos
não
se
adaptaram
à
nova
realidade,
e
a
comunidade,
em
processo
de
negociação
com
a
SME,
conseguiu
que
fosse
implantado
um
"estudo
dirigido"4
para
esses
alunos
no
Quilombo
do
Campinho,
com
uma
professora
da
rede
municipal.
Em
2018,
a
comunidade
tem
se
organizado
para
conseguir
a
implantação
do
2o
segmento
no
quilombo,
nos
moldes
da
experiência
em
educação
diferenciada
que
já
está
acontecendo
na
educação
caiçara.
Houve
reuniões
com
a
SME,
com
o
Coletivo
de
Apoio
à
Educação
Diferenciada
e
com
a
comunidade,
que
se
manifestou
para
que
o
pleito
seja
atendido.
Entretanto,
até
o
momento,
o
que
se
conseguiu
foi
a
implantação
de
uma
turma
de
estudo
dirigido
com
apenas
dois
professores
(matemática
e
português)
com
previsão
de
término
em
maio.
A
comunidade
tem
buscado
uma
agenda
com
o
prefeito
para
discutir
a
questão
juntamente
com
a
SME,
ainda
sem
sucesso.
4
O
estudo
dirigido
consistia
numa
aula,
dada
por
uma
única
professora,
reunindo
os
alunos
dos
quatro
anos
do
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental,
cobrindo
todas
as
disciplinas.
Essa
medida
foi
tomada
apenas
como
um
paliativo
para
se
concluir
o
ano
letivo
sem
prejuízo
para
os
alunos,
no
que
diz
respeito
ao
excesso
de
faltas
decorrente
das
dificuldades
encontradas
em
se
reinserirem
rapidamente
nos
novos
espaços.
21
A
comunidade
reivindica
o
que
está
previsto
no
próprio
PME,
como
se
pode
ler
na
estratégia
7.23:
7.23
-‐
garantir,
no
prazo
de
02
anos,
em
conjunto
com
as
comunidades
Quilombolas,
a
implantação
da
Escola
Quilombola,
em
regime
de
cooperação
entre
a
SME
e
as
Associações
Quilombolas,
conforme
preconizam
a
LDBEN
9394/96
e
a
Resolução
CNE
nº
04/2010,
e
Diretrizes
Curriculares
para
Educação
Quilombola,
visando
à
oferta
da
Educação
Infantil
e
do
ensino
fundamental
pleno
de
forma
articulada
com
o
contexto
rural,
étnico
e
tradicional
dessas
comunidades,
considerando
a
Pedagogia
da
Alternância.
Já
expirou
o
prazo
de
cumprimento
da
implantação
da
Escola
Quilombola,
com
oferta
de
ensino
fundamental
pleno.
Isto
obriga
os
jovens
das
comunidades
quilombolas
a
permanecerem
nas
escolas
urbanas,
situação
que
tem
contribuído,
ao
longo
do
tempo,
para
a
evasão
escolar
dos
mesmos.
Além
disso,
conforme
já
mencionado
anteriormente,
também
já
expirou
o
prazo
de
implantação
da
expansão
do
2o
segmento
do
ensino
fundamental
em
mais
duas
escolas
nas
comunidades
tradicionais,
como
também
prevê
o
PME
na
seguinte
estratégia
7.31,
quando
fala
em
"implementar
a
expansão
do
Ensino
Fundamental
nos
anos
finais
nas
comunidades
tradicionais
e
do
campo,
em
pelo
menos
02
escolas,
a
cada
02
anos".
Outra
questão
que
aparece
no
PME
é
referente
ao
Encontro
da
Cultura
Negra.
7.24
-‐
prever
no
calendário
escolar
a
participação
efetiva
das
Escolas
Quilombolas
municipais
no
ENCONTRO
DA
CULTURA
NEGRA,
que
se
realiza
anualmente
no
Quilombo
do
Campinho
da
Independência,
e
consequentemente,
o
recesso
escolar
quando
necessário,
de
forma
articulada
com
o
Conselho
Escolar
da
Unidade
Escolar;
O
recesso
de
um
dia
após
o
ENCONTRO
DE
CULTURA
NEGRA
nunca
foi
autorizado,
o
que
faz
com
que
a
comunidade
se
desgaste
para
entregar
a
escola
em
condições
de
ter
aula
no
dia
seguinte
ao
evento.
Além
disso,
a
comunidade
(crianças
e
adultos)
também
fica
extenuada
após
os
3
dias
do
evento
mais
importante
da
comunidade.
22
5.
Educação
escolar
indígena
É
de
direito
dos
povos
indígenas
uma
educação
escolar
específica,
intercultural,
bilíngue,
comunitária
e
diferenciada.
Cabe
ao
estado
e
aos
municípios
garantir
estes
direitos,
enquanto
a
coordenação
de
ações
referentes
às
políticas
de
educação
escolar
indígena
compete
ao
Ministério
da
Educação,
conforme
o
Decreto
no
26
de
4
de
fevereiro
de
1991.
Na
Constituição
Federal,
o
artigo
231
reconhece
os
costumes,
línguas,
crenças,
tradições
e
organização
social
dos
povos
indígenas
e
o
artigo
210,
parágrafo
segundo,
determina
que
o
ensino
nas
comunidades
indígenas
deve
ser
dado
em
língua
portuguesa
desde
que
respeite
a
língua
materna
e
seus
próprios
processos
de
aprendizagem.
O
Artigo
78
da
LDB
estabelece
dois
objetivos
da
educação
indígena
a
partir
de
programas
integrados
de
ensino:
resgatar
as
memórias
históricas
de
suas
comunidades
e
reafirmar
a
identidade
e
valorizar
a
sua
cultura,
língua
e
ciência,
garantir
à
comunidade
o
acesso
às
informações,
conhecimentos
científicos
e
técnicos
da
sociedade
indígena
e
não-‐
indígena
nacional.
O
Artigo
79
contempla
as
comunidades
indígenas
estabelecendo
o
apoio
técnico
e
financeiro
da
União
aos
sistemas
de
ensino
para
desenvolverem
programas
integrados
de
ensino
para
uma
educação
intercultural
das
comunidades
indígenas.
Em
2008,
foi
criada
a
Lei
nº
11.645,
de
10
março
de
2008,
que
obriga
a
inclusão
da
temática
“História
e
Cultura
Afro-‐Brasileira
e
Indígena”
no
currículo
das
escolas
públicas
e
privadas.
O
conteúdo
a
que
se
refere
a
lei
deve
contemplar
os
diversos
aspectos
da
história
brasileira,
reconhecendo
a
importância
do
estudo
da
história
e
luta
dos
negros
e
dos
indígenas
e
das
suas
contribuições
nas
áreas
sociais,
políticas
e
econômicas
para
a
formação
da
sociedade
brasileira.
Em
2009,
através
do
Decreto
nº
6.861,
foram
estabelecidos
os
Territórios
Etnoeducacionais
–
TEEs
que
buscam
organizar
a
educação
escolar
indígena,
como
um
espaço
de
articulação
das
políticas
públicas
voltadas
à
Educação
Escolar
Indígena,
envolvendo
seus
diferentes
atores
e
agentes
(MEC,
FUNAI,
estados,
municípios,
Universidades,
Institutos
Federais,
ONGs)
na
discussão
e
planejamento
conjunto
das
ações.
(...)
isso
pode
se
dar
a
partir
do
diálogo
de
gestores
da
educação
com
povos
ou
grupos
de
povos
com
identidades
ou
23
processos
históricos
e
culturais
articulados,
para
além
do
alcance
das
divisões
territoriais
de
unidades
federativas
ou
municipais
(Decreto
6.861/2009)
O
artigo
sexto
deste
decreto
dispõe
que
esta
organização
se
dará
a
partir
das
definições
dos
territórios
etnoeducacionais
estabelecidas
pelas
comunidades
indígenas
envolvidas,
entes
federativos,
Fundação
Nacional
do
Índio
(FUNAI),
Comissão
Nacional
de
Educação
Escolar
Indígena,
Conselhos
Estaduais
de
Educação
Escolar
Indígena
e
Comissão
Nacional
de
Política
Indigenista
(CNPI).
O
artigo
quinto
estabelece
que
a
União
prestará
apoio
técnico
e
financeiro
para
a
construção
de
escolas,
formação
inicial
e
continuada
de
professores
indígenas
e
outros
profissionais
da
educação,
produção
de
material
didático,
alimentação
e
ensino
médio
integrado
à
formação
profissional.
Este
apoio
técnico
e
financeiro
deve
ser
orientado
a
partir
das
ações
do
plano
de
cada
território
etnoeducacional
e
devem
estar
conforme
as
diretrizes
curriculares
nacionais
da
educação
escolar
indígena.
Este
plano
de
ações
deve
conter,
segundo
o
artigo
oitavo,
um
diagnóstico
incluindo
a
descrição
dos
povos,
população,
aspectos
da
cultura
e
da
língua
e
as
demandas
educacionais
do
respectivo
território
etnoeducacional,
um
plano
de
ações
para
o
cumprimento
destas
demandas,
uma
descrição
de
cada
responsabilidade
e
informações
dos
que
participam
da
educação
escolar
indígena,
além
de
construção
das
escolas,
contratação
de
professores
e
profissionais
indígenas
da
educação,
produção
de
material
didático
e
alimentação
escolar.
O
resultado
da
implantação
dos
TEEs
está
longe
de
ser
satisfatório,
pois
não
existe
uma
regulamentação
do
regime
de
colaboração,
prejudicando
as
comunidades
indígenas
de
diferentes
cidades,
como
aponta
o
próprio
MEC
i)
a
falta
de
regulamentação
sobre
o
regime
de
colaboração
que
rege
a
relação
entre
as
três
esferas
de
governo;
ii)
a
descontinuidade
da
ação
dos
sistemas
de
ensino,
a
dificuldade
de
estabelecer
um
diálogo
intercultural,
ouvindo
e
compreendendo
as
perspectivas
indígenas;
iii)
problemas
de
gestão
que
mantêm
as
escolas
indígenas
sem
receber
insumos
básicos
para
seu
funcionamento,
como
merenda
escolar
e
material
didático;
iv)
falta
de
transparência
na
aplicação
dos
recursos
públicos.
(Brasil,
2007)
Para
que
a
implantação
dos
TEEs
seja
efetiva,
é
necessário
que
haja
a
regulamentação
e
que
seja
definida
claramente
a
responsabilidade
entre
as
três
esferas
de
governo.
24
A
Resolução
No
5
de
22
de
junho
de
2012
do
Conselho
Nacional
de
Educação,
define
as
Diretrizes
Curriculares
Nacionais
para
Educação
Indígena
na
educação
básica,
que
tem
como
objetivos:
Somente
em
2004
a
Deliberação
do
CEE-‐RJ
no
286
é
publicada
estabelecendo
normas
para
autorização,
estrutura
e
funcionamento
das
escolas
indígenas
no
âmbito
da
educação
básica
no
sistema
de
ensino
estadual
do
Rio
de
Janeiro
e
criando
o
CIEGKKR
–
Colégio
Indígena
Estadual
Guarani
Karai
Kuery
Renda.
O
Plano
Municipal
de
Educação
de
Paraty
(2015)
coloca
alguns
objetivos
para
a
educação
indígena.
Aqui
citamos
e
comentamos
cada
um
deles.
7.10
–
garantir
junto
ao
governo
do
estado
conforme
a
legislação
específica
que
nas
comunidades
indígenas,
seja
ofertada
a
educação
infantil
tradicional
em
25
língua
materna
e
a
oferta
bilíngue
nos
anos
iniciais
do
ensino
fundamental,
em
língua
materna
e
em
língua
portuguesa,
a
reestruturação
e
a
aquisição
de
equipamentos,
a
oferta
de
programa
para
a
formação
inicial
e
continuada
de
profissionais
da
educação
e
o
atendimento
em
educação
especial,
que
considerem
as
especificidades
de
cada
comunidade,
bem
como
processos
pedagógicos
presentes
na
cultura
Guarani,
respeitando
as
faixas
etárias
escolares,
conforme
Deliberação
CEE/RJ
nº
286/2003,
definidas
em
consulta,
prévia
livre
e
informada;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº
026/2015).
Cabe
a
cada
comunidade
indígena
discutir
suas
demandas
próprias
por
educação
infantil
ou
não,
pois
vai
depender
das
condições
sócio
culturais
em
que
os
diferentes
grupos
infantis
vivem
e
as
diferentes
concepções
de
infância
de
cada
etnia.
O
município
pode
contribuir
estimulando
esse
debate
que
integra
a
construção
do
PPPI
-‐
Projeto
Político
Pedagógico
Indígena.
7.17
-‐
garantir
a
participação
efetiva
de
representação
municipal,
em
especial
das
lideranças
comunitárias,
no
Conselho
Estadual
de
Educação
Escolar
Indígena
(CEEEI-‐RJ),
reconhecendo
este
como
espaço
de
discussão
sobre
a
educação
diferenciada
Guarani,
em
todos
os
níveis
e
modalidades
O
município
de
Parati
tem
acertadamente
ocupado
seu
acento
no
CEEEI-‐RJ,
através
de
representação
da
SME.
O
Conselho
foi
formado
em
fins
de
2017
e
desde
então
a
SME
tem
enviado
sua
representação,
legitimando
o
CEEEI-‐RJ.
7.18
-‐
fortalecer,
em
regime
de
colaboração
com
a
SEEDUC/RJ,
o
processo
de
criação
da
categoria
professor
indígena,
possibilitando
a
realização
de
concurso
específico
para
as
escolas
Guarani.
O
processo
deve
ser
aberto
pela
SEEDUC/RJ,
mas
o
município
pode
contribuir
criando
também
a
categoria
Professor
Indígena
no
seu
sistema,
de
maneira
que
possa
eventualmente
colaborar
no
atendimento
às
escolas
indígenas.
7.19
-‐
garantir
o
cumprimento
das
determinações
legais
vigentes
para
a
educação
diferenciada
das
comunidades
tradicionais,
com
destaque
para
a
deliberação
nº
286/04
do
CEE/RJ
no
que
se
refere
à
educação
para
os
povos
indígenas.
O
município
pode
ajudar
a
cumprir
a
lei,
assumindo
seu
papel
num
regime
de
colaboração
com
o
Estado
do
Rio
de
Janeiro.
26
7.
Demandas
e
recomendações5
A
principal
reivindicação
do
Fórum
de
Comunidades
Tradicionais
é
que
seja
garantido
o
direito
à
Educação
Diferenciada
às
comunidades
caiçaras,
indígenas
e
quilombolas
do
município
de
Paraty,
ou
seja,
a
Educação
Básica
para
as
comunidades
tradicionais
e
populações
do
campo
nas
próprias
comunidades,
articulando
seu
currículo
com
o
contexto
cultural,
étnico,
social,
territorial
e
tradicional,
conforme
está
previsto
em
seu
Plano
Municipal
de
Educação.
A
seguir,
registramos
as
principais
reivindicações
por
cada
uma
das
etnias
que
compõem
o
FCT.
Demandas
da
educação
escolar
caiçara
1. Cumprir
os
prazos
estabelecidos
por
lei
no
Plano
Municipal
de
Educação
(2015),
quanto
à
criação
de
instância
da
SME
para
trabalhar
com
a
educação
diferenciada
em
3
anos
(estratégia
7.21),
adequar
as
escolas
situadas
em
núcleos
caiçaras
(estratégia
7.14)
e
abrir
duas
escolas
em
comunidades
tradicionais
a
cada
dois
anos
(estratégia
7.31).
2. Definir
administrativamente
as
escolas
situadas
em
comunidades
caiçaras
como
Escolas
Caiçaras,
dentro
da
categoria
Escolas
do
Campo,
e
realizar
concurso
específico
para
essas
comunidades.
3. Implementar
um
programa
de
reorientação
curricular
nas
escolas
de
1o
segmento
com
formação
continuada
dos
professores,
para
incorporar
os
elementos
da
cultura
caiçara
e
do
território
no
ensino;
5 O Dossiê foi elaborado para ser entregue ao Ministério Público Federal, por ocasião de uma reunião lá realizada em
fevereiro de 2018. Desde então, alguns avanços se fizeram notar nas ações do poder municipal e estadual, avanços estes
que precisam ser consolidados e ampliados, mas que já são um resultado imediato da atuação do movimento social, não
só junto as instâncias do Poder Público, mas também na base comunitária que sustenta a luta pelo direito à educação das
comunidades tradicionais.
No âmbito da educação escolar caiçara, em maio de 2018 houve finalmente a chegada de mais professores, totalizando 4
professores para atender as turmas de 6o, 7o e 8o ano das escolas da Praia do Sono e do Pouso da Cajaíba. A formação
dos professores nos anos iniciais do Ensino Fundamental da Zona Costeira de Paraty também teve início em março de
2018, atendendo oito escolas situadas em comunidades caiçaras. Ainda está pendente a regulamentação. Na educação
escolar indígena, o ano se iniciou com a perspectiva da criação do magistério indígena, que, foi aprovado pelo Conselho
Estadual de Educação e planejado para iniciar em julho de 2018. Os primeiros seminários de planejamento curricular foram
programados para maio e junho e se realizarão em Angra dos Reis.Já na educação escolar quilombola, o movimento de
reorientação curricular nos anos iniciais das escolas do Cabral e do Campinho tiveram prosseguimento, mas ainda está
pendente sua regulamentação. Por outro lado, a Secretaria Municipal de Educação ainda não apresentou resposta
satisfatória em relação aos anos finais do Ensino Fundamental quilombola.
27
4. Garantir
a
participação
da
comunidade
na
gestão
democrática
da
escola,
através
dos
diferentes
mecanismos
participativos
(Ex:
conselho
escolar,
associação
de
pais
e
mestres,
construção
coletiva
do
Projeto
Político
Pedagógico
das
escolas).
5. Regulamentar
todo
o
processo
de
implantação
do
2o
segmento
de
Ensino
Fundamental
nas
comunidades
caiçaras
(termo
de
cooperação
SME
e
UFF,
ampliação
das
escolas
para
o
2o
segmento,
currículo
diferenciado).
6. Disponibilizar
pelo
menos
quatro
professores
da
rede
municipal
para
lecionarem
nas
escolas
onde
já
está
ocorrendo
processo
de
reorientação
curricular
(Praia
do
Sono
e
Pouso
da
Cajaíba),
tendo
em
vista
atender
a
diferentes
áreas
do
conhecimento
-‐
nos
dois
últimos
anos
somente
três
professores
atenderam
as
escolas
caiçaras
de
2o
segmento,
sob
a
alegação
de
falta
de
verba
para
a
manutenção
de
mais
um
professor
nessas
comunidades;
7. Organizar
as
turmas
em
pelo
menos
dois
ciclos
(6o
e
7o
ano/
8o
e
9o
ano),
de
modo
a
evitar
a
concentração
de
alunos
de
mais
de
dois
anos
diferentes
na
mesma
turma
-‐
nos
dois
últimos
anos
só
havia
turmas
de
6o
e
7o,
mas
em
2018
teremos
além
destas
séries,
o
8o
ano,
e,
em
2019,
os
quatro
anos
do
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental;
8. Estabelecer
a
Escola
Municipal
Cajaíba,
no
Pouso
da
Cajaíba,
como
polo
para
atender
as
comunidades
de
seu
entorno
(Itaoca,
Ipanema,
Calhaus,
Praia
Grande
da
Cajaíba
e
Ponta
da
Juatinga),
garantindo
transporte
marítimo
para
os
alunos
moradores
das
mesmas.
Atualmente,
há
mais
de
10
crianças
nessas
praias
da
Cajaíba
com
o
1o
segmento
do
Ensino
Fundamental
concluído,
mas
sem
acesso
ao
2o
segmento;
9. Atender
os
alunos
da
comunidade
de
Ponta
Negra
para
que
tenham
acesso
ao
2o
segmento
regular,
uma
vez
que
a
escola
da
comunidade
só
oferece
o
1o
segmento.
Uma
estimativa
atual
indica
que
há
entre
25
e
30
alunos
que
concluíram
o
5o
ano
mas
não
puderam
continuar
os
estudos,
pois
não
há
escola
de
2o
segmento
na
comunidade,
nem
transporte
para
a
escola
na
comunidade
vizinha
(Praia
do
Sono),
nem
para
a
cidade.
10. Atender
aos
alunos
das
comunidades
do
Saco
do
Mamanguá
para
que
tenham
acesso
ao
2o
segmento
regular.
Uma
estimativa
atual
indica
que
cerca
de
25
a
30
28
alunos
precisam
fazer
um
deslocamento
diário
de
pelo
menos
três
horas,
com
travessia
de
barco
e
ônibus
para
estudarem
na
cidade,
ocasionando
perda
de
aulas,
dificuldade
no
desempenho
e
abandono
da
escola.
11. Oferecer
condições
de
infraestrutura
adequadas
para
o
funcionamento
das
escolas
das
comunidades
caiçaras,
com
a
disponibilidade
de
equipamentos
(datashow,
impressora/xerox,
computadores),
material
escolar
(livros
didáticos,
biblioteca,
material
de
consumo)
e
instalação
de
internet,
garantindo
recursos
para
a
melhor
preparação
das
aulas
e
atividades.
12. Garantir
condições
de
trabalho
adequadas
aos
profissionais
da
escola,
especialmente
alojamento
e
transporte
para
os
professores/as
e
funcionários/as.
13. Oferecer
merenda
escolar
durante
todo
o
ano,
do
primeiro
ao
último
dia
de
aula.
As
dificuldades
de
contratação
de
merendeiros/as
é
sempre
apresentada
como
um
problema,
mas
é
preciso
buscar
soluções
como
a
contratação
de
merendeiros/as
das
comunidades
ou
dispostos/as
a
irem
para
elas,
através
de
seleção
específica
e
em
período
anterior
ao
início
do
ano
letivo.
14. Dar
prosseguimento
ao
trabalho
de
reorientação
curricular
no
2o
segmento
das
escolas
do
Sono
e
do
Pouso
e
ampliá-‐lo
para
as
escolas
que
vierem
a
ser
abertas
para
atender
as
demais
comunidades.
Demandas
da
educação
escolar
quilombola
15. Cumprir
a
estratégia
7.23
do
PME
que
indica
a
implantação
de
uma
escola
quilombola
no
Ensino
Fundamental
pleno
(com
1o
e
2o
segmento),
escola
essa
que
tem
sido
defendida
no
Quilombo
do
Campinho.
16. Dar
continuidade
à
reorientação
curricular
no
1o
segmento
das
escolas
dos
quilombos
do
Campinho
e
do
Cabral
e
ampliar
essa
formação
para
o
2o
segmento.
17. Atender
as
demandas
de
Educação
de
Jovens
e
Adultos
para
a
concluírem
o
2o
segmento
do
Ensino
Fundamental
na
escola
do
Campinho.
Demandas
da
educação
escolar
indígena
18. Efetivar
o
Regime
de
Colaboração
entre
Estado
e
município,
previsto
na
Constituição
e
na
LDB.
29
19. Garantir
o
transporte
dos
Conselheiros
Indígenas
de
Parati
(Aldeias
de
Parati
Mirim,
Araponga
e
Rio
Pequeno)
às
reuniões
mensais
do
CEEEI-‐RJ.
20. Colaborar
com
o
transporte
dos
alunos
indígenas
ao
Ensino
Médio
Indígena
que
terá
início
em
2018
no
Bracuí,
Angra
dos
Reis.
21. Ceder
professores
do
Município
de
6o
ao
9o
Anos
para
atuarem
no
Colégio
Indígena
(Aldeia
Paraty
Mirim).
30
Anexo:
Meta
7
do
Plano
Municipal
de
Educação
de
Paraty
(2015)
Educação
para
as
Comunidades
Tradicionais
META
7
-‐
Garantir
a
oferta
da
Educação
Básica,
em
especial
dos
anos
iniciais
do
Ensino
Fundamental,
para
as
comunidades
tradicionais
e
populações
do
campo
nas
próprias
comunidades,
articulando
o
seu
currículo
com
o
contexto
rural,
étnico,
e
com
as
tradições
locais,
atendendo
às
determinações
legais
vigentes
e
respeitando
a
articulação
entre
os
ambientes
escolares
e
comunitários.
Estratégias:
7.1
-‐
fomentar
a
articulação
de
parcerias
institucionais,
mediante
consulta
prévia
livre
e
informada
à
comunidade
diretamente
envolvida,
em
conformidade
com
o
Decreto
Federal
6040,
de
fevereiro
de
2007,
com
a
Lei
Municipal
1835,
de
10
de
janeiro
de
2012,
com
a
Convenção
169
da
OIT
e
Diretrizes
para
a
Educação
Escolar
Quilombola,
para
garantir
a
oferta
de
Educação
Infantil
às
populações
do
campo,
prioritariamente
das
comunidades
Caiçaras,
comunidades
indígenas
e
quilombolas,
nas
respectivas
comunidades,
mediante
a
avaliação,
o
acompanhamento
e
a
supervisão
da
Secretaria
Municipal
de
Educação.
7.2
-‐
priorizar
e
garantir
o
acesso
e
a
permanência
à
Educação
Infantil
e
ao
Ensino
Fundamental,
em
especial
dos
anos
iniciais,
nas
escolas
das
comunidades
tradicionais
e
populações
do
campo,
limitando
a
nucleação
dessas
escolas
e
o
deslocamento
de
crianças,
de
forma
a
atender
às
especificidades
dessas
comunidades,
garantindo
consulta
prévia
livre
e
informada
quando
necessário,
com
atenção
especial
às
comunidades
costeiras
de
dificílimo
acesso,
com
a
oferta
dos
anos
finais
do
Ensino
Fundamental
Regular
e
Ensino
Médio;
7.3
-‐
desenvolver,
através
de
parceria
entre
a
SME,
movimentos
comunitários
e
outras
instituições,
tecnologias
pedagógicas
atuais,
com
a
implementação
da
energia
elétrica,
mesmo
que
de
fonte
alternativa
com
comprovada
eficiência
e
devida
manutenção,
que
combinem,
de
maneira
articulada,
a
organização
do
tempo
e
das
atividades
didáticas
entre
a
escola
e
o
ambiente
comunitário,
considerando
as
especificidades
das
escolas
do
campo
e
das
comunidades
tradicionais,
sob
a
perspectiva
da
inclusão
digital
através
da
escola,
garantindo
a
consulta
prévia
livre
e
informada;
7.4
-‐
articular
com
instituições
públicas
a
garantia
de
matrículas
gratuitas
de
Ensino
Médio
integrado
à
Educação
Profissional,
observando-‐se
as
peculiaridades
das
populações
do
campo
e
das
comunidades
tradicionais,
assegurando
às
mesmas
consulta
prévia
livre
e
informada;
7.6
-‐
implantar,
conforme
o
Plano
de
Ações
Articuladas
(PAR),
ao
longo
deste
PME,
salas
de
recursos
multifuncionais
e
garantir
a
formação
político-‐pedagógica
continuada
de
professores
e
professoras
para
o
atendimento
educacional
especializado
nas
escolas
do
campo
e
das
comunidades
tradicionais.
7.7
-‐
garantir
a
alfabetização
de
crianças
do
campo
e
de
comunidades
tradicionais
nas
suas
próprias
comunidades,
buscando
quando
necessário
sob
consulta
prévia
a
produção
de
materiais
31
didáticos
específicos,
construídos
em
conjunto
com
a
comunidade,
e
desenvolver
instrumentos
de
acompanhamento
que
considerem
as
especificidades
de
cada
comunidade
e
seus
processos
pedagógicos,
bem
como
o
uso
da
língua
materna
pelas
comunidades
indígenas
e
a
identidade
cultural
das
comunidades
tradicionais;
7.8
-‐
promover,
em
articulação
com
associações
comunitárias,
movimentos
sociais
e
com
entidades
públicas
e
privadas,
o
atendimento
às
escolas
do
campo
e
de
comunidades
tradicionais
na
oferta
de
educação
em
tempo
integral,
com
base
em
consulta
prévia
livre
e
informada,
considerando-‐se
as
peculiaridades
locais;
7.9
-‐
fomentar
o
desenvolvimento
sustentável
e
a
preservação
da
identidade
cultural
nas
escolas
das
comunidades
tradicionais,
garantindo
a
participação
da
comunidade
na
definição
do
modelo
de
organização
pedagógica
e
de
gestão
das
instituições,
consideradas
as
práticas
socioculturais
e
as
formas
particulares
de
organização
do
tempo;
7.10
–
garantir
junto
ao
governo
do
estado
conforme
a
legislação
específica
que
nas
comunidades
indígenas,
seja
ofertada
a
educação
infantil
tradicional
em
língua
materna
e
a
oferta
bilíngue
nos
anos
iniciais
do
ensino
fundamental,
em
língua
materna
e
em
língua
portuguesa,
a
reestruturação
e
a
aquisição
de
equipamentos,
a
oferta
de
programa
para
a
formação
inicial
e
continuada
de
profissionais
da
educação
e
o
atendimento
em
educação
especial,
que
considerem
as
especificidades
de
cada
comunidade,
bem
como
processos
pedagógicos
presentes
na
cultura
Guarani,
respeitando
as
faixas
etárias
escolares,
conforme
Deliberação
CEE/RJ
nº
286/2003,
definidas
em
consulta,
prévia
livre
e
informada;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº
026/2015).
7.11
-‐
promover
a
elaboração
de
currículos
e
propostas
pedagógicas
específicas
para
educação
escolar
nas
escolas
do
campo
e
das
comunidades
tradicionais,
em
conjunto
com
as
comunidades,
com
abordagens
interdisciplinares
que
organizem
de
maneira
flexível
conteúdos
teóricos
e
práticos
articulados,
respeitando
todos
os
seus
aspectos
e
incluindo
os
conteúdos
culturais,
sociais,
políticos,
econômicos,
de
gênero,
geração
e
etnia,
correspondentes
às
respectivas
comunidades,
considerando
o
fortalecimento
das
práticas
socioculturais
e
da
língua
materna
de
cada
comunidade
indígena,
garantindo
a
produção
e
a
disponibilização
de
materiais
didáticos
específicos;
7.12
-‐
fomentar
o
atendimento
do
ensino
médio
gratuito
integrado
à
formação
profissional
para
as
populações
do
campo
e
para
as
comunidades
tradicionais,
de
acordo
com
os
seus
interesses
e
necessidades;
7.13
-‐
assegurar
o
atendimento
específico
às
populações
do
campo
e
comunidades
tradicionais,
em
relação
a
acesso,
permanência,
conclusão
e
implementação
de
programas
específicos
para
formação
de
profissionais
de
educação
diferenciada
das
comunidades,
garantindo
a
atuação
desses
profissionais
nessas
escolas;
7.14
-‐
garantir,
em
até
03
anos,
a
adequação
de
escolas
em
núcleos
caiçaras
inseridos
ou
não
em
UC’s,
assegurar
a
regulamentação
da
Educação
Caiçara,
com
a
participação
dos
Movimentos
Sociais
e
Comunitários
garantindo
o
direito
às
comunidades
de
preservarem
suas
manifestações
culturais,
valorizando
a
pedagogia
Griô,
considerando
a
Pedagogia
da
Alternância
e
a
sustentabilidade
do
território,
em
conformidade
com
o
Decreto
Federal
6040,
de
fevereiro
de
2007,
com
a
Lei
Municipal
1835,
de
10
de
janeiro
de
2012,
com
a
Convenção
169
da
OIT;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº027/2015)
32
7.15
-‐
garantir
que
a
alimentação
escolar
respeite
a
legislação
vigente
do
PNAE,
incorporando
elementos
que
respeitem
a
cultura
alimentar
local,
observando
as
peculiaridades
do
ambiente
e
a
sustentabilidade,
valorizando
a
agricultura
tradicional
e
agroecológica,
dialogando
com
os
mestres
xeramões,
griôs
e
de
saberes
locais;
7.16
-‐
estabelecer
critérios
para
o
perfil
do
profissional
que
atuará
nas
escolas
das
comunidades
tradicionais
e
assegurar
que
a
atividade
docente
seja
exercida,
preferencialmente,
por
professores
(as)
oriundos
(as)
das
mesmas,
conforme
preconiza
a
Convenção
169
da
OIT
e
Diretrizes
Curriculares
para
a
Educação
Quilombola,
estabelecendo
prazos
para
a
realização
de
concurso
público
específico,
implementando
formação
específica
para
a
atuação
dos
docentes;
7.17
-‐
garantir
a
participação
efetiva
de
representação
municipal,
em
especial
das
lideranças
comunitárias,
no
Conselho
Estadual
de
Educação
Indígena,
reconhecendo
este
como
espaço
de
discussão
sobre
a
educação
diferenciada
Guarani,
em
todos
os
níveis
e
modalidades;
7.18
-‐
fortalecer,
em
regime
de
colaboração
com
a
SEEDUC/RJ,
o
processo
de
criação
da
categoria
professor
indígena,
possibilitando
a
realização
de
concurso
específico
para
as
escolas
Guarani;
7.19
-‐
garantir
o
cumprimento
das
determinações
legais
vigentes
para
a
educação
diferenciada
das
comunidades
tradicionais,
com
destaque
para
a
deliberação
nº
286/04
do
CEE/RJ
no
que
se
refere
à
educação
para
os
povos
indígenas;
7.21
–
propor
a
criação
de
instância
no
prazo
de
até
03
(três)
anos,
observada
a
LRF
(Lei
101/2000)
a
contar
da
data
de
publicação
desta
Lei,
no
âmbito
da
Secretaria
Municipal
de
Educação
que
garanta
de
forma
permanente
a
organização,
o
acompanhamento,
a
avaliação
e
a
socialização
das
ações
para
implementação
da
educação
diferenciada
nas
comunidades
tradicionais
do
município,
em
conformidade
com
o
Decreto
Federal
6040,
de
fevereiro
de
2007,
com
a
Lei
Municipal
1835,
de
10
de
janeiro
de
2012
e
Convenção
169
da
OIT;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº
028/2015).
7.22
-‐
promover,
através
da
SME,
em
conjunto
com
as
comunidades
tradicionais,
em
articulação
com
outras
entidades,
a
realização
de
estudos
sobre
a
educação
das
mesmas,
articulando
essas
comunidades
com
as
escolas
do
entorno,
tendo
como
finalidade
criar
e
implementar
metodologias
diferenciadas
de
trabalho
docente
dirigidas
para
o
reconhecimento
e
a
valorização
da
identidade,
da
Cultura
e
da
Memória,
visando
a
elevação
da
autoestima
destes
povos,
em
especial
crianças
e
jovens;
7.24
-‐
prever
no
calendário
escolar
a
participação
efetiva
das
Escolas
Quilombolas
municipais
no
ENCONTRO
DA
CULTURA
NEGRA,
que
se
realiza
anualmente
no
Quilombo
do
Campinho
da
33
Independência,
e
consequentemente,
o
recesso
escolar
quando
necessário,
de
forma
articulada
com
o
Conselho
Escolar
da
Unidade
Escolar;
7.25
-‐
promover
a
articulação
com
a
SEEDUC/RJ,
de
forma
a
garantir
o
atendimento
do
Ensino
Médio
gratuito,
podendo
ser
integrado
à
formação
profissional
para
as
populações
do
campo
e
para
as
comunidades
tradicionais,
em
seus
territórios,
de
acordo
com
os
seus
interesses
e
necessidades;
7.26
-‐
garantir
que
na
organização,
administração
e
gestão
da
educação
para
as
comunidades
tradicionais,
os
critérios
científicos
e
pedagógicos
prevaleçam
sempre
sobre
quaisquer
critérios
de
natureza
administrativa
ou
outra
que
claramente
não
se
compatibilize
com
as
escolas
e
práticas
educativas
que
delas
decorrem;
7.27
-‐
promover
o
processo
de
gestão
democrática
em
todas
as
escolas
das
comunidades
tradicionais,
de
acordo
com
a
legislação
vigente,
garantindo
a
autonomia
dos
Conselhos
Escolares
e
sua
participação
na
construção
do
Projeto
Político
Pedagógico;
7.28
-‐
garantir
a
implementação
de
calendários
escolares
diferenciados,
respeitando
os
tempos
e
atividades
de
cada
comunidade
tradicional;
7.29
–
(Suprimida)
–
Emenda
Supressiva
nº
001/2015
(Texto
suprimido:
7.29
-‐
criar
Conselho
Deliberativo
de
Educação
Diferenciada
das
comunidades
tradicionais,
composto
por
movimentos
sociais
e
comunitários,
além
da
SME,
para
definir
e
regular
o
modelo
de
organização
pedagógica
e
gestão
da
educação
escolar
das
mesmas);
7.30
-‐
reconhecer
as
especificidades
das
comunidades
costeiras,
atendendo
a
toda
demanda
de
acesso
à
educação
escolar,
independente
do
número
de
crianças
em
idade
escolar,
garantindo
a
escolarização
em
nível
fundamental,
em
unidades
escolares
mais
próximas
à
comunidade
de
origem;
(Redação
dada
pela
Emenda
Modificativa
nº
030/2015).
7.31
–
Implementar
,
a
expansão
do
Ensino
Fundamental
nos
anos
finais
nas
comunidades
tradicionais
e
do
campo,
em
pelo
menos
02
escolas,
a
cada
02
anos,
mediante
estudo
da
necessidade
das
comunidades
em
questão,
considerando
a
Pedagogia
da
Alternância
e
em
conformidade
com
as
metodologias
participativas
e
dialógicas.
34
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da
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Dispõe
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Lei
11.645,
de
10
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março
de
2008.
Inclusão
no
currículo
oficial
da
rede
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ensino
a
obrigatoriedade
da
temática
"História
e
Cultura
Afro-‐Brasileira
e
Indígena".
Brasília,
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Disponível
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Lei
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Institui
o
Sistema
Nacional
de
Unidades
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(SNUC).
Brasília,
DF,
jul
2000.
Disponível
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm
ESTADO
DO
RIO
DE
JANEIRO.
Decreto
33.033,
de
22
de
abril
de
2003.
Cria
a
categoria
de
Escola
Indígena
no
âmbito
da
Educação
Básica,
no
sistema
estadual
de
ensino
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro.
Rio
de
Janeiro,
RJ,
abr
2003.
Disponível
em
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/decest.nsf/532ff819a4c39de50325681f0061559e/228
6a6a9541f316583256d130061e7fe?OpenDocument
ESTADO
DO
RIO
DE
JANEIRO.
Deliberação
do
Conselho
Estadual
de
Educação/RJ
n.
286,
de
9
de
setembro
de
2003.
Normas
para
autorização,
estrutura
e
funcionamento
das
escolas
indígenas...
Rio
de
Janeiro,
RJ,
set
2003.
Disponível
em
https://ibee.com.br/materia/deliberacao-‐ceerj-‐2862003-‐estabelece-‐normas-‐para-‐
autorizacao-‐estrutura-‐e-‐funcionamento-‐das-‐escolas-‐indigenas-‐no-‐ambito-‐da-‐
educacao-‐basica-‐no-‐sistema-‐de-‐ensino-‐do-‐estado-‐do-‐rio-‐de-‐janeiro-‐para/
MINISTÉRIO
DA
EDUCAÇÃO.
Resolução
CNE/CEB
n.
4,
de
13
de
julho
de
2010.
Diretrizes
Curriculares
Nacionais
para
a
Educação
Básica.
Brasília,
DF,
2010.
Disponível
em
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf
35
MINISTÉRIO
DA
EDUCAÇÃO.
Resolução
CNE/CEB
n.
5,
de
22
de
junho
de
2012.
Diretrizes
Curriculares
Nacionais
para
a
Educação
Escolar
Indígena
na
Educação
Básica.
Brasília,
DF,
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2012.
Disponível
em
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1
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MINISTÉRIO
DA
EDUCAÇÃO.
Resolução
CNE/CEB
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8,
de
20
de
novembro
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2012.
Diretrizes
Curriculares
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para
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Quilombola
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ORGANIZAÇÃO
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Genebra,
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Disponível
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http://www.mpf.mp.br/atuacao-‐
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ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL
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TRABALHO
(OIT).
Convenção
169,
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Disponível
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http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Convencao_169_OIT.pdf
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http://otss.org.br/wp-‐content/uploads/2015/10/Lei-‐1835-‐2012pop-‐tradic-‐
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2015-‐2015.
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RJ,
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2015
36