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Processos Psicológicos Básicos II

LINGUAGEM
Neurobiologia
Existe um hemisfério exclusivo da
linguagem?
O hemisfério cerebral esquerdo é dominante para a linguagem na
maioria dos indivíduos destros e em um número menor, mas
significativo, de indivíduos canhotos. Independentemente da
preferência em utilizar a mão direita ou a esquerda, em mais de 95%
dos indivíduos, a gramática, o léxico, a construção fonêmica e a
produção fonética da linguagem dependem do hemisfério esquerdo.

Linguagens com base em sinais visuais e motores em vez de auditivos


e da fala » linguagens de sinais, como a ASL - também dependem do
hemisfério esquerdo.
A expressão vai além do movimento vocal
Existe um hemisfério especializado na linguagem!

Estudos da neurocientista Helen Neville mostram que o


hemisfério esquerdo é ativado não apenas por estímulos
auditivos, mas também por estímulos visuais que tenham
significado linguístico.

Os indivíduos surdos processam informações visuais nas


regiões de processamento da fala do hemisfério esquerdo.
Esses estudos sugerem que as regiões do hemisfério
esquerdo relacionadas à fala estejam bem adaptadas ao
processamento da expressão, independentemente da
modalidade
A DESCOBERTA DE ÁREAS ENCEFÁLICAS
ESPECIALIZADAS NA LINGUAGEM

Muito do que sabemos sobre a importância de


certas áreas encefálicas provém de estudos de
afasias.
Afasia é a perda parcial ou completa das
capacidades da linguagem devido a lesões
encefálicas, muitas vezes sem a perda de
faculdades cognitivas ou da capacidade de mover
os músculos utilizados na fala.
A DESCOBERTA DE ÁREAS ENCEFÁLICAS
ESPECIALIZADAS NA LINGUAGEM

Em 1861, o neurologista francês Paul Broca


teve um paciente que era quase totalmente
incapaz de falar (o homem era chamado de
Tan, porque “tan” era o único som que era
capaz de produzir).

O paciente morreu pouco depois de Broca o ter


conhecido e, no post-mortem, ele encontrou
uma lesão nos lobos frontais.
Afasia de Broca
O caso de David Ford é típico. Ford era um operador de rádio da Guarda Costeira, de 39 anos, quando sofreu um
acidente vascular encefálico (AVE). Ele continuou sendo um homem inteligente, mas apresentava pouco controle
sobre seu braço e perna direitos (mostrando que sua lesão era no hemisfério esquerdo). A sua fala também era
anormal, como ilustrado na conversa abaixo com o psicólogo Howard Gardner

Com a prática era possível entendê-lo, mas no


“Perguntei ao Sr. Ford sobre o seu trabalho antes início encontrei uma dificuldade
considerável. “Deixe-me ajudá-lo”, eu disse.
de ele vir para o hospital. Sou um sin...não...
“Você era um sinalizador...” “Um
homem... uh, bem,... de novo.” Essas sinalizador... certo”, Ford completou a
palavras eram emitidas vagarosamente e minha frase triunfantemente. “Você era da
com grande esforço. Os sons não eram Guarda Costeira?” “Não, er, sim, sim...
articulados com clareza. Cada sílaba era navio... Massachu... chusetts... Guarda
emitida de forma grosseira, explosiva, com Costeira... anos.”
(...)
uma voz gutural.
“Você é capaz de entender tudo na televisão?”
“Ah, sim, sim... bem ...quase.” Ford sorriu
um pouco.” (Gardner, 1974, pp. 60-61.)
A DESCOBERTA DE ÁREAS ENCEFÁLICAS
ESPECIALIZADAS NA LINGUAGEM
Em 1874, o neurologista alemão Karl Wernicke
relatou que lesões no hemisfério esquerdo, em uma
região distinta da área de Broca, também
prejudicavam a fala normal.
De fato, Wernicke sugeriu que havia dois tipos gerais
de afasia. Na afasia de Broca, a fala é perturbada,
mas a compreensão se encontra relativamente
intacta. Na afasia de Wernicke, o discurso é
““fluente””, mas a compreensão é pobre. (Embora essas
descrições sejam simplificadas, elas são úteis para lembrar).
Afasia de Wernicke
Consideraremos o caso de Philip Gorgan, outro paciente estudado por Gardner:
Tentei várias vezes interrompê-lo, mas fui incapaz
“O que o trouxe para o hospital?” Perguntei de ir contra essa torrente implacável,
ao açougueiro aposentado de 72 anos permanente e rápida. Finalmente, coloquei
minha mão no ombro de Gorgan e fui capaz de
de idade, quatro semanas após a sua
ganhar um momento de alívio.
admissão no hospital. “Obrigado, Sr. Gorgan. Quero lhe perguntar
“Menino, estou suando, estou terrivelmente algumas poucas...”
nervoso, você sabe, de vez em quando “Ah, claro, vá em frente, qualquer coisa velha que
eu sou pego, não posso mencionar o você queira. Se eu pudesse eu faria. Ah, estou
tarripoi... há um mês, bem pouco, me usando a palavra de um jeito errado de falar,
dei bem, eu me impus bem, enquanto, todos os barbeiros aqui toda vez que eles param
você fica arrodeando, arrodeando, se você
por outro lado, você sabe o que eu quero
entende o que eu quero dizer, atando e atando
dizer, tenho que correr por aí, dar uma para repuce, repuceração, bem, estávamos
olhada, explorando e todo esse tipo de tentando o melhor que podíamos, enquanto
coisa.” uma outra vez era com as camas lá a mesma
coisa...” (Gardner, 1974, pp. 67-68.)
Vejam : Exemplo de Afasia de Wernicke (afasia
Vejam : Exemplo de Afasia de Broca (afasia compreensiva)
expressiva) https://www.youtube.com/watch?v=njtEzRdnZ8k&t=19s&ab_channel=VictorCampos

https://www.youtube.com/watch?v=houbwrZY_yg&t=38s&ab_channel=VictorCampos

Explicação: Por mais que a pessoa com afasia nesta área consiga “se
expressar”, por conta da falta de compreensão (inclusive de si), ela fala
coisas sem sentido.
Uma fala fluente (no sentido de ter um ritmo normal) e sem sentido
Um pouco mais sobre os hemisférios
e suas funções
Em seu livro “O homem que confundiu Mas essa condição os torna exímios
sua mulher com um chapéu”, o leitores de expressões faciais, tons de
neurologista Oliver Sacks descreve um voz, entonação e trejeitos, fazendo com
episódio curioso vivido nos anos 80. Em que eles entendam de certa forma o que
uma clínica psiquiátrica, no setor está sendo dito. É por isso que o discurso
destinado aos pacientes com grave de Reagan, um ex-ator de hollywood,
afasia, ouvia-se uma gargalhada geral craque na empostação e nas caras e
durante um discurso do presidente bocas, soou tão engraçado para eles.
Reagan na TV. Simplesmente não era natural.

Pacientes com afasia grave possuem


uma condição incomum em que, mesmo
possuindo inteligência normal, têm
enorme dificuldade para entender
linguagem.
Um pouco mais sobre os hemisférios
e suas funções

"O sentimento que tenho, que todos nós que trabalhamos


de perto com afásicos temos, é que você não pode mentir
para um afásico. Ele não pode entender suas palavras e,
portanto, ser enganado por elas. Ou seja, a expressão que
acompanha as palavras, aquela expressividade total
espontânea e involuntária que nunca pode ser simulada ou
falsificada."
Um pouco mais sobre os hemisférios
e suas funções

Especialização vs. exclusividade cerebral

Hemisfério direito lesionado: discurso


emocionalmente monótono,
dificuldades com pistas emocionais,
piadas, etc.
A linguagem não é só sobre gramática
PRAGMÁTICA
Pragmática se refere ao uso prático e compreensão da linguagem.
Está relacionada ao
significado pretendido e não literal, conforme expresso pelos
falantes e compreendido
pelos ouvintes, e muitas vezes envolve fazer inferências
A pragmática diz respeito ao uso funcional da linguagem em
contextos sociais e comunicativos
Ela envolve a compreensão das intenções comunicativas, a
interpretação do significado além das palavras literais e o uso
apropriado da linguagem de acordo com o contexto e as normas
sociais.

O pleno entendimento do significado pretendido muitas vezes


requer que seja levada em conta a informação contextual (p. ex., o
tom de voz, o comportamento relevante do falante, o ambiente
corrente)
A linguagem não é só sobre gramática
PROSÓDIA
A prosódia refere-se aos aspectos melódicos
da fala, como entonação, ritmo, ênfase e
variação de volume. Ela transmite emoção,
intenção e nuances comunicativas, ajudando
a diferenciar entre perguntas e afirmações,
expressar sarcasmo, ironia, entre outros.

Exemplos de prosódia incluem a forma como


levantamos a voz no final de uma pergunta ou
enfatizamos certas palavras em uma frase
para transmitir significados específicos. A
prosódia pode ser expressa tanto na fala
quanto na linguagem não verbal, como
expressões faciais e gestos.
A linguagem não é só sobre gramática
PROSÓDIA
A mãe de Ann passou um longo tempo
cozinhando o prato favorito dela: peixe
com fritas. Mas quando ela traz a comida,
Ann está assistindo à televisão e nem
mesmo agradece. Sua mãe a interrompe e
diz: “Bom, que gentil, não é! Isso é o
que chamo de gentileza!”.

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