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O USO DA VOZ NO TEATRO

VOZ: Certos atores de hoje tem freqüentemente dificuldades em “dizer” corretamente


uma fala um pouco maior. Respirações mal colocadas, sílabas engolidas, etc., são
manifestações muito comuns. Pior ainda, o discurso, às vezes, não é audível o tempo
todo. Domínio técnico deficiente, mas também fragilidade vocal: a voz precisa ser
treinada como o músculo do atleta. Ela precisa se desenvolver em potência, aprender a
resistir ao cansaço. Na falta de uma preparação adequada, a voz, muito cedo solicitada
além das suas possibilidades, não possui mais o volume necessário para certos papéis.
As causas dessa decadência?
1. Por motivos econômicos, o jovem ator nem sempre tem meios de realizar um
treino a longo prazo e de qualidade.
2. A partir de 1968, começou a se realizar o sonho outrora formulado por Artaud
de um teatro fora dos muros, completamente cortado da tradicional arquitetura
dita “à italiana”. O inconveniente desses novos locais de representação, é que a
sua acústica é freqüentemente defeituosa.
3. A arte do ator é condicionada pelo gosto do público e pelas práticas dos meios
de comunicação de que participa. Hoje em dia, está praticamente excluída a
possibilidade de u ator se sustentar trabalhando apenas no teatro. Ele precisa se
adaptar a outras mídias, sendo a principal o cinema. Todas estas práticas,
podemos constatar, têm por base o princípio de uma proximidade visual e/ou
auditiva máxima entre o intérprete e o público, assim como a utilização de todos
os recursos do microfone e da sonorização.
É essencial que o ator não trabalhe no máximo da sua potência vocal, a fim de não
arriscar-se a desagradáveis acidentes de percurso.
É importante em certos episódios cômicos, que o ator que “ouve” tome fôlego
antes que termine a fala do parceiro a fim de poder responder imediatamente. Se
esperar para respirar no momento em que o companheiro lhe “der a deixa”, ele
introduzirá no diálogo um minúsculo silêncio que, principalmente se for repetido,
acarretará uma defasagem, uma perda de ritmo nefasta para o impacto cômico.
A dicção e a articulação precisam ser diferenciadas. A primeira permite ao ator
fazer ouvir completamente e entender materialmente o discurso do seu personagem.
As necessidades da dicção submetem a voz a um tratamento que a torna mais ou
menos artificial em relação ao que ela é na realidade.
A articulação é uma técnica de “expressão”. Melhor seria, aliás, falar de modos
específicos de articulação, pois não há dúvida de que a voz de um personagem se
define por uma pluralidade de articulações determinadas por vários fatores: idade,
temperamento, situação social, etc.

DICÇÃO:
É o estudo das normas que regem a linguagem falada. É a arte de dizer: VOZ
EMPOSTADA, ARTICULAÇÃO perfeita, PRONÚNCIA correta e EXPRESSÃO>
Ter boa dicção é falar com clareza e naturalmente, sem esforço vocal; é saber
transmitir o pensamento oralmente, exteriorizando as idéias contidas nas palavras e nas
frases, de forma que o ouvinte sinta uma emoção que corresponde exatamente à
intensidade dos seus sentimentos.
FALAR bem não é declamar. A declamação foi usada pelos Gregos e Romanos
que tinham necessidade de CLAMAR para serem ouvidos nos imensos anfiteatros.
A inspiração deve ser rápida, silenciosa e invisível, e a expiração muito lenta.
O tempo de duração de pausa e da expiração deve ser aumentado
gradativamente.
A retenção do ar não deve ir além de 5 (cinco) segundos, para não forçar a
pressão das cordas vocais mas, a expiração deve ser tão prolongada quanto possível.
RESPIRAÇÃO:
Eis a base de toda a arte de dizer, saber respirar. É a respiração que orienta a
articulação, a pontuação, a gesticulação e o próprio gesto.
Não seria inflexionar ou apenas entoar sem que a respiração utilizada com certa
técnica intervenha a desempenhar o seu papel fundamental. São dois movimentos
básicos da respiração, a qual se divide, também em dois tipos: respiração abdominal e
respiração costal (oral).

RESPIRAÇÃO ABDOMINAL é a primeira manifestação orgânica, a mais natural ou


espontânea, embora, quando já adultos, seja a menos utilizada por nós. Só as crianças e
muito mais tarde os velhos a usam sempre. Na idade mediana utiliza-se a respiração
costal (oral).
A respiração-abdominal é a mais indicada para o ator, sobretudo porque facilita
os seus movimentos, tornando-os mais elásticos e sem cansaço, armazena grande
quantidade de ar que, como é lógico, permite que o gesto mais facilmente se forme no
momento da inspiração.

RESPIRAÇÃO COSTAL-ORAL realiza-se na caixa torácica e sendo muito


fatigante, freqüentemente provoca uma gesticulação forçada, elevando os ombros no ato
da inspiração, o que é o feio e condenável em teatro.

EXERCÍCIOS PRÁTICOS...
1. Para adquirir a sensação da respiração com o diafragma, deita-se no chão,
descontraindo o corpo, e observe com rigor colocando, por exemplo, um livro
junto ao estômago. O movimento daquele músculo no ato de inspirar e expirar
prova que a respiração está correta.
2. Inspire pelo nariz, retenha o ar durante 3 (três) segundos e expire pela boca
sempre sem esforço distendendo simplesmente o corpo.
3. Inspire profundamente. Conte UM com voz clara e expire logo o resto do ar,
deixando o corpo descontraído. (procure não usar mais ar do que o estritamente
necessário). Para dizer com clareza o número, mantendo a descontração do
corpo, sobretudo o peito, o pescoço e a garganta.
Repita este exercício contando de UM a DEZ a VINTE etc. Deste modo
adquirirá o indispensável domínio sobre o volume de ar utilizado sem fugas,
dominando igualmente o uso do diafragma.
4. Inspira profundamente e pronuncie em seguida e consoante “N” enquanto expele
suavemente o ar. A intensidade do som deve ser uniforme. Repita o mesmo
exercício com a vogal “O”.
PERGUNTA: Quantos segundos poderá manter este som sem oscilações e sem
esforço?
RESPOSTA: Diga sem parar e lentamente estes versos:
Seis coisas sempre vê
Quando falares, te mando
De quem falas, onde e que
E a quem, como e quando
E se queres saber porque
Procura dizer falando.

OBS. É necessário não perder o ar com a insistente repetição do “S” que é consoante,
além do “P” e do “CH”, que mais ar obriga a consumir.

Vogal “A”
(manter a boca bem aberta)

1. Inspire pelo nariz e expire emitindo: A-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a


2. Passar a vogal oral para a vogal nasal: A-an-a-an-a-an-a-an-a-an-a-an-a-an
3. Emitir “A” antes do “S”: AS- MAS- DAS- LAS
4. Emitir “A” antes do “R”: AR- DAR- BAR- LAR
5. Emitir “A” antes do “L”: AL- CAL- MAL- SAL
6. Emitir um som nasal: LÃ- PAN- FAN- RÃ

Consoante “B”

Na boca de um beco
Na bica do belo
Um bravo cadelo
Berrava bau-bau.
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Um bêbado em botas
De bolsa e rabicho
Embirra com o bicho
Bateu-lhe com um pau.

Consoante “D”

Um doido destes de pedra


Por nome Andrônico André
Casado com Dona Aldonça
Que em vez de dois, tinha um pé.
Dia de corpo de Deus
Disse à esposa: Aldonça, andai,
Adornai-me com as gualdrapas
Que eu herdei de Adão, meu pai.
Venha o pudim de bebum
Que a dona Dulce nos deu
E o presunto quadrilongo
Do quadrúpede sandeu.
E assim ceiado e asseado
O tal Andrônico André
Saracoteando os quadris
Foi com os padres para a Sé.

Consoante“F”

Florência, Francisca, Eufrásia,


Todas de fraldas de folhas
Foram fazer uma festa
De filhos, bifes e repolhos.
Na oficina “quem com ferro fere com ferro se fode”
Forjam frente a frente com fragor o ferreiro
Felisberto Furtado e seu filho Frederico Felizardo.
Na fornalha flamejante fulge a fogo com furor, o fole
Frenético faz fumaça e fagulhas fulgurantes que ofuscam.
Afinal ofegante e farto de fazer força
O Felisberto Furtado fórça o filho fanfarrão a forjar
Com firmeza e sem fadiga ferraduras ferrolhos e ferraduras.

Consoante “J”

Nas jaulas o jaguar girando, javalis selvagens,


Jararacas e jibóia gigantes.
Girafas gingando com jeito de gente.
Jacarés e jabotis jejuando.

Consoante “P”

Pedro Paulo pacífico da Paixão e pachorrento-


Preto da propriedade do meu pranteado pai, depois de
Provar uma pinga, tomou um pileque e promoveu
Uma pagodeira com a população do porto.

Foi um pandemônio, um pânico de pasmar, um salve-se quem puder.


O Pedro Paulo Pacífico da Paixão foi preso na praia
Pela polícia, por proferir palavras impróprias para pessoas de pejo.

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