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COORDENAÇÃO:
FREDERICO ANTÔNIO LIMA DE OLIVEIRA
JEFERSON ANTÔNIO FERNANDES BACELAR
ORGANIZAÇÃO
ALBERTO DE MORAES PAPALÉO PAES
MARCO ANTÔNIO LOBO CASTELO BRANCO
COORDENAÇÃO:
Introdução
1
Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA),
Mestre em Direito pela Universidade da Amazônia (UNAMA),
Professor Universitário das Disciplinas de Direito
Constitucional, Hermenêutica e Argumentação Jurídica e
Filosofia do Direito, Pesquisador vinculado ao Grupo de Estudos
e Pesquisa em Hermenêutica Constitucional (GEPHC-UNAMA),
Membro da Comissão de Educação Jurídica da OAB-PA,
Advogado sócio do Escritório Amin, Dib Taxi & Papaléo
Advocacia e Consultoria Jurídica. E-mail:
betomppaes@msn.com
2
Acadêmica do 8º semestre do de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia (UNAMA), foi monitora
da Disciplina de Direito Constitucional II, estagiária em
escritório de Advocacia na cadeira de Direito Tributário.
maressapinheiro@live.com
hoje. Os escândalos políticos recentes, a instabilidade
das instituições democráticas, quase todos os assuntos
da pauta do nosso cotidiano, hoje, versam sobre Direito
Constitucional. Nunca fui tão abordado nos corredores,
para responder sobre questões sobre a Constituição,
quanto nestes últimos dias (ou, até anos). Daí porque
um evento sobre este ramo do direito, nestas condições
históricas, destaca o comprometimento e o
envolvimento desta instituição com o esclarecimento de
questões necessárias para garantir o futuro da nossa
juventude e da nossa democracia.
Falar de Orlando Chicre Miguel Bitar é tentar
resgatar um pouco da história de nosso Estado, nascido
dia 13 de Junho de 1919 em Belém (PA) filho de
libaneses, Bitar estuda no colégio Paes de Carvalho
(Antigo Liceu/Ginásio Paraense), lugar o qual ainda
volverá enquanto professor pouco antes de se graduar
em Direito pela Universidade Federal do Pará. Atuou
como secretário na junta de conciliação e julgamento de
Belém (PA), e foi professor do curso de Direito da
UFPA, primeiramente na disciplina de Direito
Administrativo (preenchendo o cargo de Otávio Meira,
impedido) e posteriormente, para titular da cadeira de
Direito Constitucional, oportunidade na qual apresenta
uma Tese intitulada: “A Lei e a Constituição”. Dentre
outras coisas, o Professor Orlando Bitar defendia que o
Procurador Geral da República não poderia interpretar
como uma faculdade a submissão ou não de arguição de
Inconstitucionalidade (tese de Alfredo Buzaid), sob
pena de usurpação da competência exclusiva do
Supremo Tribunal Federal (ser o guardião da
Constituição).
O nobre professor não se provou errado neste
tema. Paulatinamente, no Brasil, houve uma lenta e
gradativa supervalorização do Supremo Tribunal
Federal e de seu papel enquanto guardião da
Constituição. Embora pareça quase óbvio que há um
problema estrutural, sobre ele não pretendo fazer
grandes considerações, pois já me debrucei sobre a
questão em outra oportunidade, além do que, neste
mesmo evento, o Professor Franco Aurélio já se
reportou a uma perspectiva mais estrutural do problema
que enfrenta o Judiciário brasileiro. Minha questão, meu
problema principal diz respeito a uma constatação
teórica (não muito evidente) e visa tentar corrigir uma
severa injustiça contra um dos mais importantes autores
da Teoria do Direito no século XX: o Professor Hans
Kelsen.
a) Breve Histórico.
Conclusões (e a Constituição?).
Referências Bibliográficas
3
Advogada civilista. Graduada em Direito pela Universidade da Amazônia (2006)
e Mestre (2009) e doutora em Direito pela Universidade Federal do Pará
(2017). Atualmente é professora titular da Universidade da Amazônia. Tem
experiência na área de Direito, com ênfase em Direitos Humanos e Teoria do
Direito, atuando principalmente nas seguintes áreas: Direito civil
constitucional, Teoria Geral do Processo e Processo Civil. Membro da
ABDPC - Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Membro da
Comissão de Ensino Jurídico da OAB/PA..
civil na Europa, e, por reflexo, no Brasil, o qual herdou
as diretrizes básicas do direito de origem romano-
germânica, até meados do século XX embasou-se
puramente em interesses em estabelecer relações com
bens patrimoniais.
Essa relação possuía um sistema simplificado
de dedução para aferir qualquer espécie de indenização,
embasando-se na teoria da diferença. Para essa teoria,
bastava-se verificar qual o prejuízo patrimonial sofrido
por uma pessoa, atribuir-lhe o exato valor monetário o
qual a pessoa perdeu, e obrigar o causador do dano a
restituir à vítima.
Esse critério, de caráter matemático, tinha
essência filosófica cartesiana, almejando indenizar
(significando tornar indene, como se não houvesse
ocorrido o dano causado) de forma simplificada e
cômoda configurava o modo de aplicação da
responsabilidade civil tradicionalmente prevista.
Por outro lado, na segunda metade do século
XX até o início do século XXI, a responsabilidade civil
entrou em crise. Os danos não mais poderiam ser
visualizados unicamente como danos ao patrimônio da
pessoa. O direito deveria sair da sua zona de conforto.
Primeiramente, verificou-se que os danos a
uma pessoa não são unicamente de caráter patrimonial,
sendo, aliás, esses os de menor importância. Isso porque
os piores danos que se pode causar a uma pessoa são os
danos relacionados à sua própria essência humana.
Adentrou-se então na necessidade de repensar a
responsabilidade à luz de uma nova hermenêutica,
aplicando-se novas teorias e critérios, desta vez com
fundamento filosófico no existencialismo.
O ser humano é um ser temporal, localizado em
um breve período de tempo e inserido em um
determinado contexto espacial. Naquele breve período,
projeta seus desejos intimamente relacionados às suas
necessidades, as quais embasam seus interesses, que são
juridicamente tutelados.
Um dano ao corpo, à mente ou aos direitos
mais básicos do ser humano é uma espécie de dano que
não se pode mensurar pelo critério da diferença. Sequer
é um critério cômodo de se cogitar, tampouco de se
aplicar. O que se aplica, nesse caso, é a compensação do
que se causou, dado que não se pode retornar ao período
passado, viabilizando a pessoa a reviver e refazer suas
possibilidades interrompidas.
O critério a ser relacionado, nesse sentido, é o
critério do interesse e do bem extrapatrimonial, ou seja,
bens que não são postos em comércio e estejam fora do
mercado, mas ainda assim sejam essenciais à vida do ser
humano.
Ocorre que, há mais de três décadas, o dano
extrapatrimonial é erroneamente interpretado de modo
reducionista, como se coincidente unicamente com o
dano moral puro.
Dano moral classicamente na doutrina é
concebido como uma dor infligida à vítima, uma
angústia, uma exposição vexatória, uma humilhação ou
rebaixamento que possa lhe causar perturbação e
instabilidade em seu estado anímico.
Por outro lado, como se pode perceber, essa
noção de dano moral é espécie de dano à pessoa que
tranquilamente se pode afirmar ser distinta de outras
modalidades de danos que se pode causar à uma pessoa.
Ora, assim como ocorre nos danos
patrimoniais, que podem ser subdivididos em danos
emergentes e lucros cessantes, dependendo do objeto do
direito atingido, os danos extrapatrimoniais da mesma
forma podem atingir vários objetos, sejam bens ou
interesses da vítima. Assim, um único evento poderá
causar resultados de várias órbitas.
Ademais, devem ser necessariamente ser
analisadas as situações no caso concreto, sendo a
aplicação de um precedente de cunho extremamente
delicado, não se podendo falar em engessamento da
normatividade criada pelo próprio Poder Judiciário,
efeito inverso do engessamento legislativo causado pelo
ranço positivista.
Imagine-se assim que uma pessoa venha a
causar um acidente de trânsito envolvendo uma
professora, causando-lhe rompimento nos ligamentos do
joelho, bem como estilhaços em sua garganta,
impedindo-a de falar normalmente. Nesse exemplo,
facilmente se pode pensar na quantia do dano
patrimonial sofrido: o dano emergente, pelo que foi
gasto no tratamento, bem como o lucro cessante, pelo
que a pessoa deixou de ganhar em virtude dos trabalhos
perdidos.
Não obstante, não se pode unicamente falar em
dano moral. O dano moral, mais breve, configura-se
pela dor e exposição a um tratamento doloroso sofrido
por conta do acidente. Mas, além de ser temporário, não
pode ser de longe considerado o único bem atingido
pela vítima.
O dano injusto é o dano que não deve ser
suportado pela vítima, pois não lhe deu causa ou
ocasionado por um fato jurídico stricto senso, e ele não
é unicamente moral.
Há de se considerar no caso concreto a
possibilidade da mudança da anatomia da pessoa,
relacionado assim, à sua estética. A anatomia que
constitui a identidade da pessoa constitui sua estética e
funcionalidade, motivo pelo qual ainda se pode
mencionar, no exemplo fornecido, o dano estético, que,
conforme expressa previsão do Superior Tribunal de
Justiça, deve ser cumulado com o dano moral.
O dano existencial, também conhecido como
dano ao projeto de vida também deve ser pensado nesse
contexto como outro dano autônomo, com objeto
próprio e preceitos interpretativos próprios, cumulando-
se com as demais formas de dano.
O dano existencial, ou, como conhecido na
Corte Interamericana de Direitos Humanos, o dano ao
projeto de vida, é um dano ainda muito mais cruel. É
um dano que impede a pessoa de ter liberdade de
escolha e estabelecer ou manter suas relações já
firmadas.
No caso do exemplo da professora que sofreu o
acidente de trânsito, a mesma encontrou-se
impossibilitada de dirigir, seguir sua carreira, já que
necessita da fala, e mesmo de praticar qualquer
exercício, além das mudanças em sua rotina e de toda a
sua família.
Esse tipo de dano, muitas vezes, poderá ser tido
para a vítima como algo pior do que a interrupção de
sua existência, tornando-a apenas sobrevivente de um
projeto frustrado o qual não poderá ser realizado em sua
plenitude de seus direitos fundamentais.
Ainda há de se destacar a situação do dano
existencial aos direitos indisponíveis, em que não se há
sequer de se afirmar a anuência ou liberdade da vítima.
Exemplifica-se com o caso do trabalhador que,
ainda que seja tomado por ser um workholic inveterado,
não poderá sequer pedir ao seu empregador trabalhar
além do limite permitido pela Organização Mundial do
Trabalho –OIT, violando claramente seus direitos
fundamentais mais básicos.
Não poderá o empregador alegar a requisição
do empregado relacionados à jornadas de 13, 16, 18 ou
20 horas ininterruptas de trabalho, principalmente
quando se exija esforço físico e mental ininterrupto. O
mesmo estaria completamente inviabilizado de exercer
qualquer alimentação correta, repouso, informação,
educação ou lazer, todos direitos fundamentais mais
básicos do ser humano.
Seria o mesmo que se assistir, incentivar ou
tolerar um suicídio, pela mesma interpretação dentro do
ordenamento jurídico brasileiro.
Afirma-se assim, que um único evento poderá
causar vários resultados, a bens e interesses diversos,
sendo que cada um embasará um pedido em eventual
ajuizamento de ação para a tutela desses direitos
eventualmente violados ou ameaçados.
O pedido deverá ser certo e determinado, sendo
que o pedido será imediato, relacionado à tutela que se
pretende do Poder Judiciário, bem como mediato,
relacionado ao bem ou interesse violado. Cada bem ou
interesse violado, portanto, forma um pedido autônomo,
vinculando o magistrado e assim formando coisa
julgada relacionada especificamente aquele bem ou
interesse.
Ainda que, no exemplo da professora vitimada
pelo acidente, erroneamente seu advogado requeresse de
modo genérico um pedido exorbitante de milhões
referentes a danos extrapatrimoniais, sua petição
poderia ser considerada inepta, dado o pedido se
configurar como genérico.
Acaso seu advogado peça unicamente danos
morais, ainda que o réu alegue enriquecimento sem
causa e a ação transite em julgado, uma vez que se
requeira unicamente danos morais, considerando-se
bens ou interesses distintos, pode-se ajuizar nova ação,
desta vez requerendo danos estéticos e existenciais.
Como se pode verificar, o dano existencial é
uma categoria jurídica autônoma, balizada por
interpretação e critérios próprios, que deverão ser
reconhecidos e a partir de então identificados e
interpretados propriamente como tal.
O Brasil caminha assim para uma separação da
responsabilidade civil. A responsabilidade será o estudo
da aplicação da indenização ou compensação pelos
danos. Há de se falar no Direito dos Danos para a
categorização individualizada dos danos, para que não
se possa simplesmente lhes rotular e banalizar-lhes
como uma “torre de babel de danos”; e ainda, a
possibilidade de desmembrar o estudo da análise das
condutas relacionadas, como a responsabilidade
subjetiva, objetiva e mesmo a responsabilidade por mera
conduta, tal como já está ocorrendo o reconhecimento
em diversos países da Europa e na Corte Interamericana
de Direitos Humanos.
O Direito privado, no que tange à
Responsabilidade Civil, está em rumos de evolução,
devendo sempre estar atrelado à norma constitucional e
principalmente, à realização da dignidade da pessoa
humana, formando um sistema de proteção integral.
HERMENÊUTICA JURÍDICA E
GARANTISMO PENAL
4
Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Pós-graduado (especialização) em Direito Eleitoral pela
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL/SC). Graduado
em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Graduado
em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina
(UNISUL/SC). Graduado em Teologia pela Faculdade de
Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil
(FACETEN/RR). Foi professor de Direito Processual Penal e de
Direito Eleitoral da Universidade da Amazônia (UNAMA), nível
graduação. Foi professor da Faculdade Pan Americana (FPA), do
curso de Licenciatura em Filosofia, da disciplina Hermenêutica
Filosófica. Professor convidado de instituições como o Centro de
Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do MP do Pará (CEAF-
MP/PA), a Escola Superior da Magistratura do Estado do Pará, as
Escolas Judiciárias Eleitorais do TRE do Pará e do TRE do
Amapá. Professor convidado da Universidade da Amazônia
(UNAMA) em cursos de Pós-Graduação (especialização).
Desenvolve estudos sobre Hermenêutica com enfoque na
Hermenêutica Filosófica segundo Hans-Georg Gadamer e suas
relações com o acontecer da decisão penal (no Brasil). Promotor
de Justiça do Ministério Público do Estado do Pará, onde já
desempenhou diversas funções como Promotor Auxiliar do
Procurador Regional Eleitoral, e atualmente é Diretor de
Publicações e Diretor de Cursos e Eventos do CEAF-MP/PA,
além de Promotor Auxiliar do Centro de Apoio Operacional
Constitucional do MP do Pará.
(a) Na primeira, o termo hermenêutica possui
um sentido clássico significando a arte referente à
interpretação de textos. Esse desenvolvimento ocorreu,
principalmente, na teologia para a interpretação de
textos sagrados ou canônicos. Daí dizer o mesmo autor
que na teologia se desenvolveu uma hermenêutica
sacra, no direito, uma hermenêutica iuris e na filosofia,
uma hermenêutica profana. Sua função é auxiliar a
interpretação quando o intérprete estivesse diante de
passagens obscuras, ambíguas. Nesse sentido, a
proposta hermenêutica nessa acepção está voltada para
formulação de regras, preceitos ou cânones que
viabilizem uma boa interpretação.
(b) A outra forma de se conceber a
hermenêutica é inaugurada por Wilhelm Dilthey para
quem a hermenêutica deve voltar-se para as regras e
métodos das ciências do entendimento. Noutras
palavras, a hermenêutica é o fundamento metodológico
para as chamadas ciências humanas. Essa perspectiva
desenvolveu-se tendo em vista o desejo de considerar
tais ciências como “verdadeiras ciências”, pois, até
então, o rigor metodológico das ciências puras
(exatas/naturais) inviabilizava esse projeto. Era preciso
uma metodologia diferenciada e caberia à hermenêutica
essa tarefa.
(c) Por fim, a terceira acepção é, na verdade,
uma reação a tudo isso. A hermenêutica passa a ter um
caráter de filosofia universal, pois não é apenas um
método, mas processos fundamentais da essência da
vida. A existência humana no mundo é caracterizada
inexoravelmente pela interpretação. Coube a Martin
Heidegger a ruptura definitiva com aquelas acepções
clássica e metodológica (além do clássico Ser e tempo,
vide também HEIDEGGER, Martin. Ontologia:
(hermenêutica da facticidade). 2ª. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013).
A hermenêutica, nessa perspectiva, vincula-se à
existência. É a passagem de uma hermenêutica de textos
para uma hermenêutica da existência, isto é, como
ontologia da compreensão centrada como o modo ser do
Dasein.
Hans-Georg Gadamer, discípulo de Heidegger,
desenvolveu vários pontos do pensamento de seu mestre
e introduziu outras vias para apresentar, no seu clássico
de 1960, Verdade e método: traços fundamentais de
uma hermenêutica filosófica, o que conhecemos como
Hermenêutica filosófica.
Portanto, feita essa sucinta exposição sobre
acepções para o termo Hermenêutica, vejamos o
Garantismo. Em relação ao Garantismo, certamente
somos remetidos ao pensamento do jusfilósofo italiano
Luigi Ferrajoli e, dentre suas várias obras, ao seu
Direito e razão: teoria do garantismo penal. No
entanto, no Brasil particularmente, o termo Garantismo
tem sido apresentado com os mais diversos significados,
preponderando, em muitos meios, inclusive acadêmicos,
um sentido depreciativo ou, noutros, uma tentativa de
complementar a teoria do maestro italiano, o que não
deixa de ser também uma indicação de falhas na teoria
original.
Vamos sintetizar esses sentidos da seguinte
forma:
(a) Sentido vulgarizado, banalizado: não há
aqui uma “teoria” desenvolvida ou em curso, mas uma
adjetivação negativista do tipo “fulano é garantista” ou
“não sou garantista”, querendo-se com isso dizer que o
Garantismo seria sinônimo de “tolerância” com a
criminalidade. É o mesmo discurso que ridiculariza os
direitos humanos. Possivelmente, as origens dessa visão
estão no completo desconhecimento, leia-se, falta de
leitura e compreensão, da obra de Luigi Ferrajoli, e
também no papel (ou no desserviço) que a “mídia
policialesca” desempenha diariamente popularizando
discursos de Lei e Ordem.
b) Sentido “pleno”. Podemos apontar várias
propostas teóricas que têm surgido no Brasil a respeito
do Garantismo, ora para criticá-lo total ou parcialmente,
não sob o ponto de vista epistemológico, mas sob o viés
negativista à semelhança do que foi dito na letra “a”; ora
para apresentar possíveis complementações teóricas ao
pensamento de Ferrajoli, que seria uma teoria deficiente
para proteger certos direitos (dos cidadãos). Qualquer
dessas perspectivas tem a pretensão de sustentar um tipo
de Garantismo que seria “pleno”, “total”, “mais
completo”.
Podem ser mencionados aqui o “Garantismo
positivo”, como uma preocupação do sistema jurídico
quando o Estado não protege de maneira suficiente
determinado direito fundamental, que se coloca ao lado
do “Garantismo negativo”, que objetiva coibir os
excessos do Estado, ambos constituindo a dupla face do
princípio da proporcionalidade.
Há vários textos nesse sentido, entre os quais o
artigo (disponível na internet) “A dupla face do
princípio da proporcionalidade: da proibição de excesso
(Übermassverbot) à proibição de proteção deficiente
(Untermassverbot) ou de como não há blindagem contra
normas penais inconstitucionais” de Lenio Streck; e o
“Garantismo Penal Integral” (In: CALABRICH, Bruno;
FISCHER, Douglas; PELELLA, Eduardo (orgs.).
Garantismo penal integral: questões penais e
processuais, criminalidade moderna e a aplicação do
modelo garantista no Brasil. 3ª. ed. São Paulo: Atlas,
2015), que apresenta uma leitura semelhante à proposta
anterior. Ambos, em determinados pontos, expõem um
modelo maximalista para o direito penal.
(c) Sentido epistemológico: sintetizamos aqui
as três respostas de Ferrajoli à pergunta “O que é
garantismo?” apresentada no Capítulo XIII de Direito e
razão.
(c.1) Modelo normativo de direito: modelo de
estrita legalidade, o que significa dizer que no plano
epistemológico, o Garantismo é um sistema cognitivo
ou de poder (intervenção) mínimo; no plano político, é
uma técnica de tutela idônea a minimizar a violência e a
maximizar a liberdade; e no plano jurídico, é um
sistema de vínculos impostos à função punitiva do
Estado em garantia dos direitos dos cidadãos.
(c.2) Teoria jurídica da validade e da
efetividade como categorias distintas na medida em que
exprime uma aproximação teórica que mantém
separados o ser e o dever ser no direito. Essa
aproximação é uma teoria da divergência entre
normatividade e realidade, direito válido e direito
efetivo. É uma teoria ao mesmo tempo normativa e
realista: opera como doutrina jurídica de legitimação e
perda de legitimação. E, por isso, exige uma tensão
crítica sobre as leis vigentes (perda de legitimação
interna do direito penal ou crítica interna).
(c.3) Filosofia política, pois exige do direito e
do Estado o ônus da justificação externa com base nos
bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia
constituem a finalidade. Nesse âmbito, pressupõe a
separação entre direito e moral e propicia uma
perspectiva de crítica externa.
Apresentados, então, os sentidos para
Hermenêutica e Garantismo, é possível agora relacionar
os dois termos. Esclarecemos, desde logo, que
Garantismo para nossas pretensões aqui é o de Luigi
Ferrajoli. E, como veremos, Hermenêutica ou
interpretação para Ferrajoli tem uma natureza técnica,
instrumental.
Relações entre garantismo e hermenêutica
jurídica. Ferrajoli encara a interpretação (ele utiliza esse
termo) a partir de uma perspectiva instrumental,
portanto, no âmbito de uma acepção clássica da
hermenêutica iuris. Ferrajoli é declaradamente um
juspositivista, mas possui diversas particularidades
frente a outros teóricos do positivismo jurídico. Uma
delas é sua grande preocupação com a decisão ou sobre
a relação entre interpretação e decisão. Ferrajoli está
mais próximo da tradição positivista de Hans Kelsen do
que de H. Hart, por exemplo.
Não é sem motivo que Norberto Bobbio, um
kelseniano, escreveu o prefácio para a primeira edição
de Direito e razão. Para entendermos melhor a
interpretação para Ferrajoli, é bom fazermos uma ligeira
comparação entre os dois (Ferrajoli e Kelsen). Kelsen
entendeu, em sua Teoria pura do direito, que as
indeterminações no direito podem decorrer de três
fatores:
(a) a norma superior nunca pode vincular em
todas as direções o ato pelo qual é aplicada tanto na
produção normativa quanto na sua execução;
(b) a indeterminação pode ser intencional por
parte do órgão que criou a norma;
(c) a indeterminação pode ser não-intencional,
quando resultante da pluralidade de significações de
uma palavra ou de uma sequência de palavras. O sentido
verbal não é unívoco.
Portanto, podemos notar que Kelsen não cria
na precisão (controle) da linguagem. Para Kelsen
discutir qual a resposta correta dentre as várias
possibilidades não é um problema de teoria do Direito,
mas um problema de política do Direito, pois o juiz é
dotado de relativa liberdade ou discricionariedade.
Dentro da moldura que lhe é outorgada ele pode
movimentar-se; e, ao aplicar o direito, o órgão julgador
combina uma operação de conhecimento do direito com
um ato de vontade ou de escolha. É exatamente esse ato
de vontade que distingue a interpretação feita pelo órgão
julgador de todas as outras interpretações.
É a chamada interpretação autêntica, pois cria
direito. Ferrajoli, por sua vez, taxa esse juspositivismo
de paleopositivismo. Sua aposta está no controle da
linguagem e, para isso, sua teoria objetiva minimizar os
espaços de discricionariedade existentes em face do que
ele denomina de poder de disposição no âmbito do
poder judicial. Esse poder, que é eivado de
ilegitimidade, só existe porque aqueles espaços são
inevitáveis, pois a linguagem jurídica possui
significados ambíguos.
Ferrajoli apresenta os axiomas do Garantismo
(SG) e chega a propor a criação de uma linguagem
legal. Na sua obra posterior a Direito e razão, que é
Principia iuris, o terceiro volume é dedicado à
apresentação de sua teoria a partir de um modelo
axiomático e utiliza, para isso, uma série de enunciados
lógicos. Ferrajoli divide o poder judicial em:
(a) poder de verificação jurídica ou
interpretação;
(b) poder de verificação fática ou de
comprovação probatória;
(c) poder de conotação (equidade do juiz);
(d) poder de disposição: esse poder é resultado
de carências, imperfeições do sistema; é patológico e
está em contradição com a natureza da jurisdição.
Os três primeiros são, para Ferrajoli,
intrínsecos à função jurisdicional e estão presentes no
sistema garantista aperfeiçoado; o quarto, não – ele está
em contradição com a jurisdição. Em sentido amplo,
Ferrajoli divide a interpretação em (a) interpretação
doutrinal, que é a praticada pelos juristas com o
objetivo de lidar/elucidar os conceitos próprios do
direito (fato de língua); e (b) interpretação operativa, a
realizada pelos juízes e demais operadores do direito
diante da análise que fazem dos fatos em apreciação
(fato de linguagem).
Podemos dizer, como desfecho, que Ferrajoli
está preocupado com a intepretação ou com uma teoria
de decisão; para isso, recorre à filosofia analítica no seu
viés de controle de linguagem, criação de uma
linguagem legal com a finalidade de minimizar ao
máximo os espaços de discricionariedade. Isso só é
possível a partir de uma teoria de verdade como
verificação para que a produção do direito, incluindo a
elabora de leis e a própria interpretação, seja um ato de
conhecimento (verificável empiricamente), embora
paire a sombra da ilegitimidade do poder de disposição.
Se é impossível reduzir esses espaços, a teoria
deve trabalhar para reduzi-los ao máximo. A proposta
teórica do Garantismo, não limitada ao direito penal,
como vista antes, é sofisticada e merece ser estudada
com mais empenho no Brasil. Sustentar uma
hermenêutica jurídica e, ainda mais, partindo da
possibilidade de empreender esforços para controlar a
linguagem é a questão posta sobre o acerto ou não de
Luigi Ferrajoli no que se refere aos fundamentos
epistemológicos do Garantismo.
QUESTÕES HERMENÊUTICAS NA
HORIZONTALIZAÇÃO DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E A
CONSEQUENTE INSEGURANÇA
JURÍDICA
Carlos Alberto Schenato Junior5
INTRODUÇÃO
5
Graduando no curso de Bacharelado em Direito no Centro
Universitário do Estado do Pará (CESUPA).
6
Guardadas suas diferenças, pode-se fazer um paralelo com o
movimento de Constitucionalização do Direito Civil. Por exemplo, a
observância da função social da posse nas ações possessórias nas
Ao tratarmos de Direitos Fundamentais,
mesmo em seu viés originário de verticalidade, já
encontramos relevantes críticas acerca da sua
interpretação e aplicabilidade. Para Michel Villey, a
textura aberta das normas que declaram os direitos
humanos e, consequentemente, os direitos
fundamentais, é base para sua crítica de que:
8
Tal possibilidade abre uma grande margem na qual decisões judiciais
podem ser realizadas, praticamente, de forma discricionária,
bastando o juízo fundamentar sua decisão, sem um método
adequado, em direitos fundamentais, expressos ou não na Carta
Magna, ignorando quaisquer outras normas e favorecendo o
decisionismo. A crítica aqui não é ao controle difuso, mas a
ausência de um método no qual se fundamentar (tema discutido
no próximo tópico).
9
SILVA, Vírgilio Afonso da. A Constitucionalização do Direito: os
direitos fundamentais nas relações entre particulares.
MALHEIROS: São Paulo, 2011. p. 99.
fundamentais, especialmente o direito de igualdade,
pode ser objeto de controle judicial.
Não apenas o conceito da doutrina do State
Action, mas também seus fundamentos e limites na
vinculação dos atos de particulares encontram inúmeras
controvérsias. Uma delas, de maior importância para o
nosso tema, é a razão da opção de Virgílio Afonso da
Silva pelo conceito exposto: a assistematicidade e
casuísmo das decisões na equiparação dos atos
particulares a atos do Estado.
As decisões assistemáticas e casuísticas
impedem que qualquer particular tenha segurança ao
realizar os seus atos, contribuindo para o sentimento de
insegurança jurídica por estar “pisando em ovos”, ou
seja, o fato de que qualquer ato poderá ser objeto de
vinculação aos direitos fundamentais (de textura aberta,
como já brevemente arrazoada) e possível sanção por
parte do Poder Público10.
A jurisprudência nacional tem dado atenção a
10
Em análise da jurisprudência americana, podemos verificar a
manobra argumentativa de equiparação de atos privados a atos
públicos nos casos Shelley v. Kramer, em que a Suprema Corte
norte-americana decide no sentido de que um contrato (privado)
que proíbe a venda de propriedade para indivíduos não-brancos
não fere a igualdade de direitos, mas a decisão de primeiro grau
que julgou o contrato como correto era uma ação estatal
(judicial) em favor da discriminação e, portanto, passível de
invalidação, juntamente com o contrato. Ver também: Burton v.
Wilmington Park Authority. Em que pese se tratar de decisões
estrangeiras, o problema argumentativo ultrapassa fronteiras e é
passível de análise.
esta equiparação em alguns temas importantes, como o
mandado de segurança em face de diretores de escolas
particulares11 e habeas corpus em face de hospitais e
asilos12.
Para fugir desse problema metodológico de
equiparação na doutrina do State Action, podemos citar
a Teoria de Jürgen Schwabe, que não pretende equiparar
os atos privados à atos estatais, mas imputar ao estado a
responsabilidade na omissão em regulamentar os atos
dos particulares de acordo com os direitos
fundamentais.
Destarte, um particular que, em nome de um
direito fundamental, acabe por “ofender” direito
fundamental de outrem não será responsabilizado, pois,
conceitualmente, essa violação a direito fundamental
não pode ser realizada entre particulares e a
responsabilidade seria, consequentemente, do Estado,
caso este não tenha proibido o ato do particular que
ofendeu o direito fundamental de terceiro.
A ideia de que o Estado teria uma
“responsabilidade objetiva” quanto a ações de
particulares em que omitiu regulamentação, causa
estranheza. Para Stern13, essa responsabilidade seria
11
RT 554/113; RT 738/286.
12
RT, 574/400; RT, 577/329.
13
STERN, Klaus. Das Staatsrecht der Bundesrepublik Deutschland. §
76. Iii. 1. p. 1551. apud SILVA, Virílio Afonso da. A
inaceitável, visto que nos casos “legislativamente
omissos”, o Estado, no máximo, reconhece a ação, mas
não necessariamente dela participa.
É mister avaliar que, mesmo em dois
modelos centrais (de equiparação e de imputação) na
horizontalização dos direitos fundamentais, há
controvérsias relevantes a serem tratadas e, embora não
resolvidas, serão abordadas à título de conclusão do
trabalho.
A INTERPRETAÇÃO NORMATIVA, A
PONDERAÇÃO E O RISCO DO DECISIONISMO
JUDICIAL.
15
Estes problemas ainda ocorrem se analisada a margem aberta pelo
controle difuso com o decisionismo observado neste tópico.
16
O juiz, ao optar pela aplicabilidade da horizontalização no hodierno
momento, dificilmente encontrará uma regra (norma) que
possibilite tal interpretação e deverá recorrer à princípios e
direitos fundamentais para evadir-se da necessidade da
fundamentação na regra. Para fins práticos, a regra seria
inexistente e os princípios seriam utilizados. Como visto na nota
de rodapé nº 2, os juízes de primeira instância ignoram os
requisitos expressos no art. 561, CPC ao considerarem a função
social da posse como um quinto requisito.
São louváveis e encorajadas todas as
tentativas de criação de mecanismos objetivos para
sistematizar decisões judiciais em casos difíceis. No
entanto, não podemos olvidar de problemas inerentes à
própria técnica da ponderação.
Como abordado por George Marmelstein17, a
ponderação enfrenta dificuldades que posso clssificar
como de ordem objetiva e subjetiva. A
incomensurabilidade dos direitos fundamentais, por si
mesma, seria um problema de ordem objetiva, visto que
ponderar o “imponderável”, ou seja, aquilo que não
poderia ser passível de hierarquização, é uma
contradição conceitual.
De ordem subjetiva e de maior interesse para
nosso tema, constam: 1) a Subjetividade de Valores,
situação em que os valores de determinada comunidade
se alteram significativamente, seja geograficamente ou
no tempo, para alterar a atribuição de pesos nos direitos
fundamentais. 2) o decisionismo judicial, este em que a
ideologia e valores pessoais do julgador afetam
significativamente a maneira em que a ponderação pode
ser realizada, podendo as causas serem deferidas ou
indeferidas no “mero sorteio de distribuição do
17
MARMELSTEIN, George. A difícil arte de ponderar o
imponderável: reflexões em torno da colisão de direitos
fundamentais e da ponderação de valores. apud SARLET, Ingo.
et. al. Direitos, Deveres e Garantias Fundamentais.
JUSPODIUM: São Paulo, 2011. p. 441 a 488.
processo”.
Por todo o exposto aqui e no artigo de
Marmelstein, termino por apontar o último problema
observado por Marmelstein: o consequente
enfraquecimento dos direitos fundamentais pela
incerteza nas decisões.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
18
Acadêmica do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia – ICJ/UNAMA. Membra do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Direito Constitucional-GEPDC da
UNAMA.
princípios que giram em torno das teorias acima citadas)
e quais são os posicionamentos da doutrina e
jurisprudência sobre o assunto. Inicialmente, neste
resumo expandido, será feita esta análise mais teórica,
ficando ainda para uma próxima oportunidade a análise
de decisões concretas em diversos níveis judiciais e os
impactos destas decisões na sociedade.
3 – Considerações Finais
4 – Referencias Bibliográficas
I – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
19
Acadêmica do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia- ICJ/UNAMA.
adara.cortes.ac@gmail.com
20
Acadêmico do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia- ICJ/UNAMA. Membro
do Grupo de Estudo e Pesquisa em Hermenêutica Constitucional-
GEPHC. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Pessoas e
Relações Familiares-GEPPRG. Monitor de Direito Empresarial
II. Membro do Grupo de Extensão Economia Solidária. Membro
da Liga Jurídica do Pará-LAJUPA e Membro do Grupo de
Pesquisa Novo Código de Processo Civil- LAJUPA.
madsonslobato@gmail.com
dignidade da pessoa humana, sem olvidar a estrutura do
sistema jurídico brasileiro.
O paradigma de efetivação dos direitos
fundamentais por vezes distancia-se da realidade social,
pois não disponibiliza ao indivíduo a melhor ou a
mínima garantia de ter seu direito devidamente ajustado,
adimplido. Desse modo é imprescindível a criação de
outras formas para o cumprimento. A Constituição
Brasileira de 1998 em seu artigo 5°, XXXV, prescreve
que “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”. O ativismo
judicial é uma das maneiras de garantia da equidade, ou
seja, a justiça do caso concreto, porém faz-se mister a
observação dentro de limites principiológicos, evitando
a discricionariedade e a arbitrariedade.
Sendo assim, a coletividade - como um grande
organismo vivo que é - deve garantir outros meios para
que os direitos plasmados na Constituição Federal de
1988 permaneçam gerando eficácia jurídica e social.
Será que esse meio de validação de direitos
fundamentais é por via ativista do Poder Judiciário ou a
Constituição consegue eficácia sem meios
hermenêuticos para a concretização de direitos?
Veremos como proposta de instigar o pensar nesse
sentido.
II- O ATIVISMO JUDICIAL BRASILEIRO
IV-CONSIDERAÇÕES FINAIS
V-REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS:
METODOLOGIA
21
Acadêmica do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia- ICJ/UNAMA. Membro do
Grupo de Estudo e Pesquisa em Constitucional- GEPC. Membro do
Grupo de Estudo e Pesquisa Bioética e o Direito à Vida-UFPA.
karlaecmuniz@outlook.com
22
Acadêmico do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia- ICJ/UNAMA. Membro
do Grupo de Estudo e Pesquisa em Hermenêutica Constitucional-
GEPHC. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Pessoas e
Relações Familiares-GEPPRG. Monitor de Direito Empresarial
II. Membro do Grupo de Extensão Economia Solidária. Membro
da Liga Jurídica do Pará-LAJUPA e Membro do Grupo de
Pesquisa Novo Código de Processo Civil- LAJUPA.
madsonslobato@gmail.com
existente ou não em decisões proferidas pela Corte
Popular.
OBJETIVOS
I- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
A história do punir se confunde muito com a
evolução humana por estarem intrinsecamente ligadas.
É notório que parte de nossa espécie, homo sapiens,
cometeu ou cometerá algum ilícito penal, isto porque
possuímos uma sociedade complexa e heterogênea em
diversos contextos em modelo de análise. Sendo assim,
faz-se mister meios eficientes para a apuração e
verificação de culpa do transgressor da norma,
tornando-se imprescindível que todo o processo ocorra
de forma adequada ao caso e vinculada ao conceito de
equidade, para que não haja figuras escusas na função
de punição estatal, em particular do Tribunal do Júri.
Na construção evolutiva da aplicação da pena a
humanidade transitou em diferentes meios, esses
formados pelo: período da vingança privada, período da
vingança divina, período da vingança pública e o
período humanitário. A vingança privada preponderava
a “lei” do mais forte, a reação da ação imprimida não
guardava proporções e vinculação em nenhum requisito,
apenas a “sede” de obter sua pretensão como desconto
do sofrido. Surge, então, o talião, o Código de
Hamurabi, rei da Babilônia (séc. XXIII, a.C.),
conhecido pela frase do “olho por olho, dente por
dente”. O período da vingança divina consistia na
satisfação da divindade ofendida no ato criminoso pelo
transgressor, era o meio de aplicação das penas,
demonstrava-se um critério de natureza religiosa,
teocrática e sacerdotal, os deuses do saber espiritual
eram inquestionáveis para os viventes da época. O
período da vingança pública caracterizava-se pelo
objetivo de segurança do soberano, caracterizava-se
através de penas amedrontadoras, severas e cruéis para
quem ousasse ir de contra aos mandos e costumes, a
pena de morte era a regra. Predominava o arbítrio
judicial, a desigualdade perante a justiça e a
desumanidade das penas. Por fim, o período
humanitário representou e representa uma reação contra
todo o passado de crueldade, desumanidade e
fragilidade probatória, todavia deve ser analisado de
outro paradigma, isto é, da modernidade e das garantias
atualmente previstas em decorrência da evolução dos
direitos humanos.
Não há como negar o desenvolvimento da
execução de penas na história da humanidade, porém
não se pode afirmar que o atual modelo adotado pela
República Brasileira é o mais adequado, justo,
igualitário para com os submetidos. Mostra-se
imprescindível a análise do ponto de vista
argumentativo-reflexivo para o conhecer dos métodos
utilizados, assim pretendemos adiante.
DISCUSSÃO
23
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade Federal do Pará (UFPA) na linha de pesquisa
Direitos Humanos e Inclusão Social.
fenômeno jurídico, Joseph Raz se destacou ao realizar
sua análise sobre o Direito a partir de noções
relacionadas à racionalidade prática. A pretensão de Raz
é explicar o Direito em termos de razões e da ideia de
autoridade de forma a construir uma teoria abrangente
sobre o fenômeno jurídico, isto é, uma teoria capaz de
explicar certos aspectos do fenômeno jurídico
independentemente de variáveis como tempo, lugar e
cultura.
Esse parece ser um dilema interminável na
teoria jurídica que, nas precisas palavras de Geertz
(1997) consistiria em saber o lugar dos fatos no
universo dos julgamentos.
Trata-se de um objetivo extremamente árduo
de ser cumprido, pois sabemos que normas variam
conforme os grupos sociais de referência. Diferenças
profundas existem entre práticas normativas existentes,
por exemplo, em países ocidentais, tribos africanas e
comunidades balinesas. A proposta de Joseph Raz,
portanto, fica comprimida entre dois marcos de
reprovação comuns em teorias com essa pretensão: não
pode ser algo extremamente concreto, sob pena de
deixar de capturar algum elemento necessário da
realidade, e não pode ser algo extremamente abstrato,
sob pena de ser inútil.
Manter-se nesse meio-termo não se constitui
em tarefa fácil. Apesar disso, Joseph Raz construiu uma
das mais sólidas Teorias do Direito contemporâneas, seu
rigor e precisão conceitual a transformaram em grande
adversária dos não-positivistas. Afora outras questões
que podem ser suscitadas sobre a proposta de Raz a
respeito do fenômeno jurídico, este estudo pretende
analisar, em que medida, a hipótese positivista a respeito
da identificação do conteúdo do Direito, proposta por
Joseph Raz, pode ser aceita de forma abrangente.
Embora existam inúmeras variações entre
teorias positivistas, Raz (1985b) identifica três teses
fundamentais do que se pode chamar de positivismo
jurídico: (1) a tese social; (2) a tese moral; (3) a tese
semântica.
Esta investigação se circunscreve à análise da
tese social e, em especial, à versão da tese social
proposta por Joseph Raz. Segundo Raz (1985b, p. 55,
tradução nossa), a tese social pode ser resumida da
seguinte forma: “o que é e o que não é Direito é uma
questão de fato social”.
Em outra passagem, Raz reelabora a hipótese
positivista da seguinte forma:
24
Hipoteticamente, poderíamos definir “amigo” como a pessoa em
relação a qual não se pode praticar um ato de traição. Nesse
sentido, poder-se-ia afirmar que é “conceitualmente impossível”
trair um amigo, pois, caso tenha sido praticado um ato de traição
contra a pessoa, isso significará que ela não é sua amiga.
respeito do sentido de todas as expressões postas como
signos jurídicos.
Se, por qualquer motivo, o legislador viesse a
promulgar legislações em linguagem que requeresse a
utilização de juízos avaliativos, a identificação das
razões jurídicas em termos positivistas ficaria abalada.
Da mesma maneira, a inexistência de um amplo
consenso a respeito do sentido de determinado signo,
faria com que o intérprete necessitasse realizar uma
seleção entre sentidos possíveis e, sendo uma “seleção”,
necessitaria, portanto, avaliar os sentidos em disputa.
O que fazer diante de situações em que o
legislador insculpe, em textos normativos, noções como
igual consideração, respeito ou dignidade, como ocorre
na Constituição Federal brasileira de 1988? Há a
possibilidade de identificar o conteúdo dessas
expressões (razões para agir/conteúdo do Direito) sem
apelar a enunciados avaliativos?
A hipótese positivista de Joseph Raz, de que a
identificação do conteúdo do Direito independe de apelo
a enunciados avaliativos, não pode ser compreendida de
forma tão abrangente como, em um primeiro momento,
se poderia crer. Existem inúmeras variáveis factuais a
serem cumpridas para que a identificação do conteúdo
do Direito independa de considerações avaliativas.
Exemplo típico desse fenômeno ocorre com a
Constituição Federal de 1988 em que o sentido de
inúmeras expressões não é compartilhado
consensualmente de forma objetiva na comunidade de
intérpretes constitucionais.
Nesse sentido, para não ser falsa, a hipótese
raziana sobre a identificação do conteúdo do Direito
necessita ser restringida. Por exemplo, poderia ser
reformulada em termos de que, em alguns casos, a
identificação do conteúdo do Direito pode ser realizada
independentemente de apelo a enunciados avaliativos.
Contudo, isso pode ser caro às pretensões de Raz, pois
sua hipótese ficaria muito mais próxima de uma
afirmação de natureza sociológica de característica
localizada, do que de uma afirmação geral de natureza
filosófica.
REFERÊNCIAS
1- Considerações Iniciais:
25
Acadêmica do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia- ICJ/UNAMA. Membro
do Grupo de Estudo e Pesquisa em Constitucional- GEPC.
26
Acadêmica do 5º semestre de Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade da Amazônia- ICJ/UNAMA. Membro
do Grupo de Estudo e Pesquisa em Constitucional- GEPC.
estatal.
Assim, objetiva-se compreender o papel do rol
dos objetivos fundamentais da República na atualidade.
Diante disso, lança-se mão da reflexão da hermenêutica
jurídica de modo a possibilitar a interpretação do art. 3º
da CF/88, bem como estabelecer mecanismos de
aplicação da referida norma constitucional.
2- Reflexões metodológicas
A interpretação de um determinado
ordenamento jurídico consiste em buscar ou atribuir
sentidos às diretrizes normativas. Desse modo, a
atividade dos operadores do direito e também dos
agentes públicos se faz importante na aplicação
concreta, das promessas constitucionais do art. 3º da
CF/88, cabendo perquirir questões como qual seria o
entendimento sobre os Objetivos e quais seriam suas
aplicações nas políticas públicas.
Nesse ínterim, destaca-se a existência da
sociedade democrática pluralista como fator
fundamental de justificação para empregar elementos
metajurídicos como meio de solução de impasses
sociais. Isso é devido à crise contemporânea do direito
na qual exprime a dificuldade em harmonizar a vontade
objetiva da norma com a sua aplicação concreta.
Para tratar da concretização dos objetivos
fundamentais da CF/88, elenca-se a interpretação
histórica e teleológica, como também é necessário
através de pesquisas bibliográficas e dados estatísticos.
4 – Considerações Finais
Referências