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Farmácia
Introdução
A história da farmácia é milenar. Desde o início da humanidade, o homem
buscou a cura para os seus males. Como não havia conhecimento sobre
as substâncias capazes de curar, os tratamentos eram fundamentados
no conhecimento empírico de plantas na sua forma bruta. Em algumas
localidades do mundo, o tratamento de pessoas enfermas também
envolvia crenças e rituais religiosos.
No entanto, com o passar dos séculos e com o desenvolvimento das
civilizações, foram ocorrendo evoluções no modo como eram realizados
os tratamentos terapêuticos. A capacidade de extrair e isolar substâncias
farmacologicamente ativas das plantas e os progressos significativos na
síntese de novas moléculas proporcionaram à humanidade tratamentos
eficazes e seguros para suas moléstias, chegando ao modelo de farmácia
e farmacêutico que conhecemos hoje em dia.
Neste capítulo, você vai conhecer os principais fatos históricos rela-
cionados à origem da farmácia. Você conhecerá as atribuições do farma-
cêutico no cotidiano da farmácia, além de distinguir as suas atividades
profissionais nas antigas boticas e nas farmácias atuais.
História da farmácia
Evidências arqueológicas sustentam que, desde o princípio da humanidade,
a busca por remédios para combater as doenças era constante. Escavações
em assentamentos pré-históricos comprovam que os indivíduos da época já
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Teofrasto (370–285 a.C) foi um estudioso das plantas medicinais. Ele com-
pilou informações de acadêmicos, parteiras, coletores de raízes e médicos. Seu
trabalho serviu como base para Dioscórides (65 d.C.), considerado o fundador da
farmacognosia (ciência que estuda os princípios ativos naturais, sejam animais
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sejam vegetais), que elaborou uma obra de referência sobre o uso das plantas
medicinais, a De materia medica. Essa obra menciona o uso de 600 plantas
medicinais, além de indicar como elas devem ser coletadas e armazenadas.
Nesse documento, pode ser destacada a aplicação do salgueiro-branco, uma das
primeiras fontes de ácido acetilsalicílico, importante analgésico conhecido mun-
dialmente até hoje (DIAS, 2005; ALLEN JUNIOR, 2015; SÃO PAULO, 2015).
Fonte: Stocker_team/Sgutterstock.com.
disso, houve uma grande distribuição das boticas por todo o País, em virtude
da expectativa de lucros e da grande facilidade de abertura (PEREIRA;
NASCIMENTO, 2011).
No ano de 1774, foi implementado o Regimento 1774, que proibia a distribui-
ção de drogas e medicamentos por estabelecimentos não habilitados. Além disso,
criava o profissional responsável e a fiscalização sobre o estado de conservação
das drogas e dos vegetais medicinais (SANTOS; LIMA; VIEIRA, 2005).
Com a vinda da família real ao Brasil, em fevereiro de 1808, Dom João
VI instituiu os estudos médicos no Brasil, no Hospital Militar da Bahia. Após
isso, em 1832, Dom Pedro II institucionalizou o ensino de farmácia no País
e, nove anos depois (1839), foi fundado o primeiro estabelecimento de ensino
farmacêutico do Brasil e da América, a Escola de Farmácia de Ouro Preto,
no estado de Minas Gerais (PEREIRA; NASCIMENTO, 2011).
Com o Decreto nº. 2.055, de 19 de dezembro de 1857, o comércio botica
passou a ser chamado de farmácia. Esse decreto, além disso, estabeleceu as
condições para que os farmacêuticos e os não habilitados tivessem licença
para continuar tendo suas boticas (BRASIL, 1857). A regulamentação do
exercício da profissão farmacêutica foi realizada com o Decreto nº. 19.606,
de 19 de janeiro de 1931. Essa legislação definiu que somente farmacêuticos
diplomados em institutos de ensino oficiais poderiam exercer a profissão
(BRASIL, 1931). Posteriormente, o decreto foi revogado pela Lei nº. 5.991, de
17 de dezembro de 1973, que regulamentou o controle sanitário do comércio de
drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos (BRASIL, 1973;
SANTOS; LIMA; VIEIRA, 2005). Finalmente, o Decreto nº. 85.878, de 7 de
abril de 1981, definiu as atribuições privativas e exclusivas do farmacêutico
(BRASIL, 1981).
Atividades do farmacêutico
O farmacêutico é um profissional da saúde com ampla formação. O seu conheci-
mento atravessa diversas áreas, como química, bioquímica, fisiologia e anatomia
humana, além de entender sobre as plantas medicinais e, principalmente, sobre os
fármacos e medicamentos (SATURNINO et al., 2012; ALLEN JUNIOR, 2015).
Devido à formação generalista, o farmacêutico é um profissional que tem
um vasto campo de atuação, em diversas especialidades dentro das dez linhas
dispostas na Resolução nº. 572, de 25 de abril de 2013, do Conselho Federal
de Farmácia (CFF, 2013a, documento on-line):
I — alimentos;
II — análises clínico-laboratoriais;
III — educação;
IV — farmácia;
V — farmácia hospitalar e clínica;
VI — farmácia industrial;
VII — gestão;
VIII — práticas integrativas e complementares;
IX — saúde pública;
X — toxicologia.
Boticas e farmácias
Antigamente, o farmacêutico, na época denominado boticário, atuava dentro
das boticas. As boticas foram trazidas ao País durante o período colonial.
Eram caracterizadas por serem pequenos estabelecimentos comerciais, onde
o boticário diagnosticava doenças, manipulava e dispensava produtos, prin-
cipalmente de origem animal e vegetal, sempre garantindo seu preparo de
acordo com as normas técnicas vigentes da época. Atuava também na pesquisa
de novas drogas.
As formulações eram reproduzidas a partir de informações de compêndios
oficiais, de farmacopeias ou, até mesmo, formulações baseadas no conheci-
mento popular. Nesse período, a comercialização de medicamentos já era vista
como um negócio rentável e lucrativo (FERNANDES, 2004; SATURNINO
et al., 2012). As boticas (Figura 2), durante o século XX, também eram reco-
nhecidas como centros de irradiação cultural, reunindo, não somente pessoas
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Botica era o nome dado a pequenas caixas de madeira compartimentadas que con-
tinham uma série de produtos terapêuticos ou preparações medicamentosas. Essa
expressão também foi aplicada para definir o estabelecimento comercial permanente
do boticário (PEREIRA; NASCIMENTO, 2011).
BRASIL. Decreto nº. 2.055, de 19 de dezembro de 1857. Estabelece as condições com que
aos pharmaceuticos não habilitados se ha de conceder licença para continuarem a ter
abertas as boticas existentes antes da publicação do Regulamento annexo ao Decreto
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tico, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 9 abr.1981. Disponível em: http://
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Leitura recomendada
MENEZES, R. F. (org.). Da história da farmácia e dos medicamentos. [S. l.: s. n.], [20--]. Dis-
ponível em: http://www.miniweb.com.br/Ciencias/artigos/lm_historiafarmaciamed.
pdf. Acesso em: 16 set. 2019.