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QUÍMICA

ORGÂNICA

Iohanna Deckmann
Álcoois e fenóis:
nomenclatura,
estrutura química e
propriedades físicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever álcoois e fenóis de acordo com as normas da União Inter-


nacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC, do inglês International
Union of Pure and Applied Chemistry).
„„ Identificar as origens de suas propriedades físicas.
„„ Reconhecer algumas diferenças fundamentais no que tange à acidez
desses compostos.

Introdução
Álcoois e fenóis são substâncias orgânicas oxigenadas, ambas caracteriza-
das pela presença do grupo funcional hidroxila (–OH). Enquanto os álcoois
apresentam a hidroxila ligada a um carbono saturado, os fenóis têm esse
grupamento ligado diretamente a um anel benzênico. Historicamente,
esses compostos são amplamente utilizados na indústria como solventes
orgânicos, desinfetantes, combustíveis e até mesmo para consumo, como
no caso das bebidas alcoólicas.
Você vai aprender sobre compostos abundantes na natureza que têm
diversas aplicações industriais e farmacêuticas: os álcoois. Dois dos mais
importantes compostos químicos industriais são o metanol e o etanol.
O metanol, antigamente preparado pelo aquecimento de madeira na
ausência de ar, também chamado de álcool de madeira, é extremamente
tóxico ao ser humano e utilizado na indústria como solvente ou matéria-
2 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

-prima para a produção de formaldeído, ácido acético, entre outros.


O etanol, por sua vez, é produzido por fermentação de grãos e açúcares,
purificado por destilação, e muito utilizado como solvente ou interme-
diário químico em outras reações industriais. Da mesma forma, os fenóis
também são abundantes na natureza e servem como intermediários na
síntese industrial de diversos produtos, como adesivos e antissépticos.
Neste capítulo, você vai aprender a reconhecer e a caracterizar esses
compostos no que tange à nomenclatura, às propriedades físicas e à
acidez.

Álcoois e fenóis: União Internacional


de Química Pura e Aplicada
Álcoois e fenóis são substâncias orgânicas oxigenadas, ambas caracterizadas
pela presença do grupo funcional –OH. Enquanto os álcoois apresentam a
hidroxila ligada a um carbono saturado, os fenóis têm esse grupamento ligado
diretamente a um anel benzênico.

Nomenclatura

Álcoois

Os álcoois são compostos orgânicos caracterizados por um grupo funcio-


nal –OH ligado a carbono saturado, com hibridização sp3 e que apresenta
apenas ligações sigmas ou simples (Figura 1). Comparado com os alcanos,
os álcoois seriam o correspondente à substituição de um grupo alquila pelo
grupo hidroxila. Quanto à cadeia carbônica, os álcoois podem apresentar
cadeias abertas, fechadas ou mistas, desde que a hidroxila esteja ligada a um
carbono –. Assim como outros compostos químicos, os álcoois apresentam
uma nomenclatura oficial estabelecida pela IUPAC e também uma nomencla-
tura mais usual, a qual geralmente é a mais utilizada para se referir a esses
compostos (MCMURRY, 2005).
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 3

Figura 1. Representação da formação do orbital molecular sp3 pela hibridização de 1 orbital


atômico s e 3 orbitais atômicos p do carbono.
Fonte: Adaptada de Bruice (2006).

Em relação à nomenclatura oficial dos álcoois, deve ser levado em con-


sideração o tamanho da cadeia carbônica (número de carbonos), a saturação
da cadeia (presença de ligações duplas ou triplas), a presença e a localização
das ramificações e a posição do grupo hidroxila (Figura 2). A seguir segue
um passo a passo para obter a nomenclatura oficial dos álcoois:

1. reconhecer a cadeia principal que compõe a molécula (em geral é a


cadeia contínua mais longa, desde que contenha o grupo hidroxila);
2. numerar a cadeia principal iniciando pela extremidade mais próxima
da hidroxila;
3. quando necessário, deve-se enumerar o carbono ao qual está ligado
a hidroxila, de forma que fique o menor número possível (necessário
para álcoois a partir de 3 carbonos);
4. quando houver ramificações na cadeia principal, elas devem ser enume-
radas pelo carbono a que estão ligadas e citadas em ordem alfabética;
4 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

5. por fim, a nomenclatura oficial insere a terminação OL para os álcoois,


conforme a Figura 3.

Figura 2. Representação de uma cadeia carbônica do grupo funcional


álcool com a identificação da cadeia principal e seus radicais.
Fonte: Adaptada de Bruice (2006).

Prefixo Intermediário Sufixo


Tipo de ligação entre
Quantidade de carbonos Grupo funcional (álcool: _
ol)
carbonos

Figura 3. Nomenclatura de álcoois segundo a IUPAC.

Quanto à nomenclatura usual, segue-se a ordem demonstrada na Figura 4.

Inicial Intermediário Sufixo


Nome do grupo
Álcool “Ico”
orgânico

Figura 4. Nomenclatura usual de álcoois.


Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 5

Para melhor entender a nomenclatura oficial dos álcoois, segue o mesmo


exemplo da Figura 5.

Exemplos das etapas de construção de nomenclaturas. Veja a Figura 5.

Nome oficial (IUPAC) Usual

OH
6 5 4 3 2 1
H3C – CH – CH2 – CH – CH2 – CH3
5–metil–hexan–3–ol Álcool hexílico

CH3
metil

Figura 5. Construção de nomenclaturas.

No caso dos álcoois cíclicos (álcoois cíclicos), por exemplo, é atribuído o


número 1 automaticamente ao carbono ligado ao grupo funcional (Figura 6).

Figura 6. Representação do 3-metil-


-ciclo hexanol (um álcool cíclico com
ramificação).
Fonte: Adaptada de Bruice (2006).
6 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

Fenóis

Os fenóis são compostos orgânicos caracterizados por um ou mais grupos


funcionais –OH ligados diretamente a um anel benzênico (Figura 7).

(a) (b)
g
g =b g
b b
=

b= b
g b g
g

Diferentes representações de anel benzênico


Figura 7. (a) Diferentes representações do anel benzênico; (b) representação da estrutura
do anel fenol.
Fonte: Adaptada de Bruice (2006).

Em relação à nomenclatura dos fenóis, considera-se o nome do composto


aromático ao qual está ligado ao grupo hidroxila. Por exemplo, o fenol mais
simples, com apenas um grupo hidroxila ligado a um anel benzênico, é o hi-
droxibenzeno. Conforme outros grupos substituintes aparecem ligados ao anel
benzênico, a nomenclatura deverá então considerar a numeração do carbono
ao qual está(ão) ligado(s) esse(s) novo(s) substituinte(s), considerando que o
carbono ao qual a hidroxila está ligada será sempre o carbono 1. A seguir segue
um passo a passo para obter a nomenclatura dos fenóis com outros grupos
ligados ao anel benzênico (Figura 8):

„„ enumerar o carbono ao qual está ligado a hidroxila, o qual será o car-


bono 1;
„„ as ramificações devem ser enumeradas pelo carbono ao qual estão
ligadas e devem ser citadas em ordem alfabética.
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 7

Figura 8. Representação de um fenol


com a identificação do carbono que
contém a ramificação.
Fonte: Adaptada de Bruice (2006).

A nomenclatura IUPAC também permite a utilização do sufixo OL em


vez do termo hidroxi. Dessa forma, é comum a utilização de prefixos que
representam a posição de um ligante relativamente à posição da hidroxila,
conforme Figura 9.

Prefixo Intermediário Sufixo


Orto (carbono 2)
Nome do aromático
Meta (carbono 3) OL
correspondente
Para (carbono 4)

Figura 9. Nomenclatura de fenóis segundo a IUPAC.


8 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

Para melhor entender a nomenclatura oficial dos fenóis, seguem alguns


exemplos listados no Quadro 1.

Quadro 1. Nomenclatura usual de fenóis

Nome oficial (IUPAC) Usual

hidroxibenzeno Fenol

Orto-metil-fenol
1,2-metil-
(conhecido também
hidroxibenzeno
como cresol ou creolina)

Naftol (conhecido
α-hidroxinaftaleno também como
naftalina)

Classificação
Existem diversos critérios para a classificação de álcoois e fenóis. Os álcoois
podem ser classificados conforme os critérios explicitados no Quadro 2.
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 9

Quadro 2. Classificação dos álcoois

Posição do radical

Álcool primário: o Secundário: o Terciário: o grupo –


grupo –OH se liga grupo – OH se liga ao OH se liga ao carbono
ao carbono primário, carbono secundário, terciário, ou seja, aquele
ou seja, aquele que ou seja, aquele que que está ligado a mais
está ligado a mais está ligado a mais dois três outros carbonos.
um outro carbono. outros carbonos.

R — CH2 — OH

Quantidade de grupos funcionais –OH

Monoálcoois: Diálcoois (diois): Triálcoois (triois) ou


apresentam apenas apresentam 2 hidroxilas. poliálcoois: apresentam
1 hidroxila. 3 ou mais hidroxilas.

Saturação da cadeia

Saturados: têm Insaturados: têm pelo Aromáticos: ocorre


ligações simples menos uma ligação quando um anel
entre carbonos. dupla ou tripla entre benzênico está ligado
carbonos, desde que à cadeia carbônica que
não seja o carbono contém a hidroxila.
que está ligado ao „„ Note que a hidroxila
grupo hidroxila. não é diretamente
„„ Note que este grupo ligada ao anel
funcional não está benzênico (essa
ligado diretamente característica define os
ao carbono com fenóis).
ligação dupla (essa
característica define
os enóis).
10 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

R representa a cadeia de carbonos, sendo que R' e R'' representam cadeias


que podem ser diferentes entre si. Já os fenóis podem ser classificados conforme
os critérios listados no Quadro 3.

Quadro 3. Classificação dos fenóis

Posição da ramificação

Orto: ramificação está Meta: ramificação Para: ramificação


ligada ao carbono 2, sendo está no carbono 3. está no carbono 4.
que o 1 está ligado ao Exemplo: metacresol Exemplo: paracresol
grupo funcional OH.
Exemplo: ortocresol OH OH

OH
CH3

CH3
CH3

Quantidade de grupos funcionais –OH

Monofenol: apresenta Difenol: apresenta Trifenol: apresenta


apenas 1 hidroxila. 2 hidroxilas. 3 hidroxilas.

OH

OH

Álcoois e fenóis mais comuns


Álcool isopropílico (isopropanol ou propan-2-ol): muito utilizado na lim-
peza de componentes eletrônicos (sensíveis à eletrostática) em razão da sua
característica de ser mais apolar que o álcool comum.
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 11

Metanol (álcool metílico): por ter solubilidade “infinita” (por ser uma molécula
pequena), é utilizado como solvente industrial, na indústria de plásticos e como
combustível em algumas categorias de corridas automobilísticas.

O metanol já foi amplamente utilizado como combustível. Porém, durante a combustão


dele, era gerada uma chama transparente que dificultava o controle em casos de
incêndio.
Além de ser tóxico e corrosivo, pode levar à cegueira e à morte quando ingerido,
pois sua metabolização resulta em aldeído fórmico que, por sua vez, resulta em ácido
fórmico. Hoje as suas principais utilizações são na síntese de formaldeído (formol) e
como solvente de tintas e vernizes.

Etanol (álcool etílico): produzido por fermentação a partir da cana-de-açúcar,


é utilizado principalmente para a fabricação de bebidas e combustível.

No Brasil, existe tolerância zero para o consumo de álcool associado ao ato de dirigir. O
indivíduo não deve apresentar níveis de etanol no sangue, ou seja, nenhuma quantidade
de álcool é tolerada.
Para tanto, a polícia utiliza etilômetros (conhecidos como bafômetros) para medir a
quantidade de álcool no sangue de motoristas por meio de uma reação química que
utiliza o etanol como produto.
Resumidamente, o etanol é oxidado na reação com o agente oxidante dicromato
de potássio (de coloração laranja) com o catalisador ácido sulfúrico, formando ácido
acético e sulfato de cromo (de coloração verde). Quanto mais intensa a coloração,
maior a quantidade de etanol circulante no indivíduo.

Fenol: O fenol e seus derivados são comumente utilizados como bactericidas


e desinfetantes de instrumentos cirúrgicos. Dois derivados popularmente
conhecidos são a creolina e a naftalina.
12 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

O fenol, apesar de ser tóxico e corrosivo, ainda é utilizado na indústria


como matéria-prima para fabricação de corantes, o preparo de resinas e a pro-
dução de aspirina, ácido pícrico, cresóis e também fenolftaleína (um indicador
ácido-base amplamente utilizado em processos de titulação em laboratórios)
(MCMURRY, 2005).
Em razão da toxicidade, o fenol vem sendo substituído pelos seus derivados,
por exemplo, o 1,3-benzenodiol (di-hidroxibenzeno ou resorcinol, utilizado
no tratamento de manchas de pele causadas por acnes, sol e envelhecimento
precoce) e o 2,4,6-trinitrofenol (ácido pícrico ou picrato de butambeno, usado
em pomadas para queimaduras e na produção de tomadas, interruptores, cabos
de panelas, entre outros).

Identificação das origens das propriedades


físicas de álcoois e fenóis
As propriedades físico-químicas de álcoois e fenóis está intimamente rela-
cionada à sua estrutura química. Essas duas funções orgânicas apresentam as
chamadas ligações de hidrogênio, que ocorrem quando um átomo de hidrogênio
se liga a um átomo extremamente eletronegativo (flúor, oxigênio ou nitrogênio).
A presença do grupamento hidroxila confere aos álcoois e fenóis a ocorrência
desse tipo de interação molecular, que, por sua vez, ajudam a explicar as pro-
priedades físicas de estruturas orgânicas, como a solubilidade, a polaridade e
os pontos de fusão e ebulição (MCMURRY, 2005; BRUICE, 2006).

Pontos de fusão e ebulição


Tanto os álcoois quanto os fenóis têm elevados pontos de fusão (PF) e ebulição
(PE) quando comparados aos seus hidrocarbonetos correspondentes, uma vez
que as ligações de hidrogênio que as moléculas realizam umas com as outras
são forças eletrostáticas muito intensas, ou seja, é preciso muita energia para
romper as interações entre as suas moléculas. Assim, a passagem do estado
físico sólido para o líquido e do estado líquido para o gasoso requer maiores
temperaturas, o que faz elevar seus pontos de fusão e ebulição, respectivamente.
Além disso, a tendência é que quanto mais grupamentos –OH existirem na
molécula, maior será o PE. Essa é uma explicação de porquê os monoálcoois
e os monofenóis têm PEs menores que os poliálcoois e os polifenóis.
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 13

Polaridade
Em razão da presença do grupamento hidroxila, altamente polar, os álcoois e
fenóis num geral são moléculas polares, quando comparadas ao seu hidrocar-
boneto correspondente. Os álcoois de cadeia curta têm as maiores polaridades,
diminuindo conforme aumenta o tamanho da cadeia carbônica. Por outro lado,
os poliálcoois são mais polares que os monoálcoois correspondentes, em razão
do maior número do grupo polar hidroxila.
Os fenóis, de uma maneira geral, também são moléculas polares, apesar
de alguns polifenóis serem menos polares. Isso ocorre em razão da simetria
de alguns polifenóis, como o 1,4-dihidroxibenzeno, em que a polaridade de
um grupo hidroxila é compensada pela polaridade da outra hidroxila disposta
na posição contrária.

Solubilidade
No caso dos álcoois, a solubilidade é extremamente dependente do tamanho
da cadeia carbônica. Enquanto moléculas pequenas (como álcoois metílico,
etílico e propílico) são solúveis em água em razão da formação de ligações
de hidrogênio entre as moléculas de água e álcool, outras têm menor solubi-
lidade em água à medida que a cadeia carbônica vai aumentando. Nos álcoois
de grande massa molecular, as longas cadeias carbônicas com um pequeno
grupo – OH se comportam como hidrocarbonetos.
Já os fenóis têm solubilidade limitada em água, chegando a ser completa-
mente insolúvel em muitos casos. Isso ocorre em razão da presença do anel
aromático, que apresenta características apolares por si só, uma vez que a
nuvem eletrônica sobre o anel aromático é dispersa ao longo do anel, não
havendo formação de momento de dipolo. Apenas o hidroxibenzeno é solúvel
em água, pois a presença da hidroxila causa um momento de dipolo em razão
da eletronegatividade do átomo de oxigênio, fazendo com que esse composto
apresente certa polaridade e consequentemente maior solubilidade em água.

Reconhecimento de diferenças fundamentais


na acidez de álcoois e fenóis
Compostos orgânicos como álcoois e fenóis, que contêm um grupo –OH ligado
a um hidrocarboneto, são ácidos muito fracos comparados com alguns ácidos
inorgânicos e mesmo com ácidos orgânicos (os ácidos carboxílicos).
14 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

Da mesma forma que a água, os álcoois são ao mesmo tempo ácidos (ou
eletrófilos) fracos e básicos (ou nucleófilos) fracos. Como ácidos fracos, tanto
álcoois quanto fenóis se dissociam em um grau baixo em solução aquosa
diluída, doando um próton à água. Isso gera o íon hidrônio (H3O+) e um íon
alcóxido (RO–) ou um íon fenóxido (ArO–) (Figura 10).

Figura 10. Representação da dissociação de álcoois e fenóis em solução aquosa com a


doação de prótons para a molécula de água, formando H3O+.
Fonte: Adaptada de McMurry (2005).

A força de um ácido é a capacidade que esse composto tem de se dissociar


em solução, e essa propriedade pode ser expressa pela constante de acidez,
Ka (equação 1).

Os compostos com valores de Ka baixos (ou valores de pKa elevados) são


menos ácidos, enquanto os compostos com valores de Ka elevados são mais
ácidos. O Quadro 4 mostra a acidez de alguns álcoois e do fenol comum.
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 15

Quadro 4. Representação da acidez de alguns álcoois e do fenol comum

Álcool pKa Característica

(CH3)3COH 18,00 Fraco

CH3CH2OH 16,00

HOH (água)

CH3OH
15,74

15,54

CF3CH2OH 12,43 Médio

Fenol comum 9,89 Forte

Fonte: Adaptado de McMurry (2005).

A acidez relativa dos álcoois sofre efeito da substituição de grupos al-


quílicos em sua molécula, gerando diferenças na solvatação do íon alcóxido
(íon formado após retirada de um próton H+, após ionização). Quanto mais
facilmente o íon alcóxido é solvatado pelas moléculas de água, mais estável
e mais energeticamente favorável é a sua formação e, consequentemente,
maior a acidez do referido álcool. Por exemplo, o átomo de oxigênio de um
íon alcóxido desprotegido (metanol) é mais acessível e facilmente solvatado
pelas moléculas de água. Por outro lado, um íon alcóxido mais inacessível
(terc-butanol) é menos facilmente solvatado e, portanto, menos estabilizado
(MCMURRY, 2005) (Figura 11).

Figura 11. Demonstração da acidez relativa entre moléculas de álcool. Nota-se, então, que
o metanol tem caráter ácido mais forte que o terc-butanol.
Fonte: Adaptada de McMurry (2005).
16 Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas

Além do efeito dos substituintes, os efeitos indutivos também são impor-


tantes na determinação da acidez dos álcoois. Os substituintes “retiradores”
de elétrons, como os halogênios, estabilizam o íon alcóxido, pois distribuem a
carga negativa sobre toda a molécula, tornando o álcool mais ácido. Compare,
por exemplo, a acidez do etanol (pKa = 16,00) com o 2,2,2-trifluoroetano
(pKa = 12,43).
Apesar de também apresentar características de ácidos fracos, quando
comparados a ácidos carboxílicos e ácidos inorgânicos, os fenóis são mais
ácidos que os álcoois, mesmo ainda se tratando de ácidos fracos. A maior acidez
dos fenóis comparativamente aos álcoois se deve ao efeito de estabilização da
base conjugada formada após ionização da molécula correspondente.
Ao sofrer ionização, o próton do grupo hidroxila é transferido para uma
base. Por exemplo, em solução aquosa, o fenol comum é ionizado, de forma
que a água age como base e captura o próton da hidroxila do fenol, formando
o íon hidrônio (H3O+) e um íon fenóxido (ArO), conforme demonstrado na
Figura 10.
Ao perder o próton, o íon fenóxido formado pode ser estabilizado em
razão das estruturas de ressonância formada com o anel aromático. A carga
negativa no átomo de oxigênio se espalha ao longo de todo o íon fenóxido,
estabilizando-o. Quanto mais estável for o íon fenóxido, maior a sua pro-
babilidade de se formar. Grupos ligantes ligados ao anel aromático podem
contribuir ou prejudicar essa estabilização, influenciando na acidez do fenol
correspondente.
Por exemplo, o íon fenóxido será ainda mais estabilizado se houver grupos
fortemente eletronegativos ligados ao anel aromático. No caso de grupos
retiradores de elétrons, como o –NO2 e o –C=O, o efeito é mais pronunciado
quando estes se encontram ligados nas posições orto e para, pois a carga
negativa pode também estar localizada sobre eles. Já a presença de grupos
doadores de elétrons no anel aromático desestabiliza o íon fenóxido, dimi-
nuindo, portanto, a acidez do fenol correspondente.
Portanto, neste capítulo, foram estudadas as substâncias orgânicas oxigena-
das álcool e fenol, ambas caracterizadas pela presença do grupo funcional –OH.
Os álcoois estão entre os compostos orgânicos mais versáteis, distribuídos na
natureza de uma maneira muito ampla, e são muito utilizados na indústria,
ao passo que os fenóis também são abundantes na natureza, servindo como
intermediários na síntese industrial de diversos produtos, como adesivos e
antissépticos.
Álcoois e fenóis: nomenclatura, estrutura química e propriedades físicas 17

BRUICE, P. Y. Química orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. v. 1.
MCMURRY, J. Química orgânica. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2005.

Leituras recomendadas
ACIDEZ e basicidade de compostos orgânicos. [S. l., 201-?]. Disponível em: http://www.
iq.usp.br/wjbaader/qfl2345/Capitulo_1%273_QFL%202345.pdf. Acesso em: 15 set. 2019.
CAREY, F. A. Química orgânica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. v. 1.
SILVA, R. B. da; COELHO, F. L. Fundamentos de química orgânica e inorgânica. Porto
Alegre: SAGAH, 2018.
SOLOMONS, T. W.; GRAHAM; L. Química orgânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
VOLLHARDT, P.; SCHORE, N. E. Química orgânica: estrutura e função. 6. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2011.

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