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A câmara escura privilegia a visão, mas o que está em jogo é uma sensibilidade
prévia e que independe de um sentido em especial; não se trata de uma história
da visão, mas da formação de uma postura diante do mundo. Até o surgimento
do estereoscópio, havia uma concepção quanto à fungibilidade dos sentidos (tato
e visão), que não funcionariam por si, mas a serviço de uma racionalidade
centralizadora (um "espírito" ou uma alma)
No século XIX, já há outra concepção sobre o que se vê. Goethe usa a estrutura
da câmara escura (antes sede da cisão entre corpo subjetivo e visão objetiva)
para refletir sobre "cores fisiológicas" que, manifestações da própria estrutura do
olho, são eminentemente subjetivas. Essa noção seria tanto produto como
produtora da modernidade e decorreria de uma interiorização do estudo da visão
(estruturas oculares, e não mais fenômenos ópticos). Há uma reversão (ou uma
integração, um achatamento) da separação inicial entre interior/exterior (cor
atópica). Não há hierarquia entre o sujeito e o ambiente - do que resulta que,
dada a possibilidade de erro interpretativo, há a possibilidade de criação de
realidades objetivadas puramente em função do funcionamento fisiológico do
olho (concepção bastante diferente das noções antigas de ilusão/caverna de
Platão). Se com a câmara escura havia uma concepção de objetividade pura
alheia ao observador, no século XIX passa a haver uma objetivação do subjetivo.