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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
ALUNO: BRUNO QUINTANILHA ARAUJO
PROJETO EXPERIMENTAL
SalvadorBA
96.02
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
PROF. ORIENTADOR: JEDER JANOTTI
ALUNO: BRUNO QUINTANILHA ARAUJO
PROJETO EXPERIMENTAL
MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO
SalvadorBA
96.02
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO .................................................................................. 4
2. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 5
...................................................................................................................
2.1 Cinema Experimental de Norman Mclaren ..................................... 5
2.2 A VídeoArte de Bill Viola.................................................................. 7
5 CONCLUSÃO ......................................................................................... 27
6 BIBLIOGRAFIA
1 APRESENTAÇÃO
1
Os trabalhos de Norman Mclaren foram gravados, numa fita de vídeo VHS, do programa
Lanterna Mágica, da TV Cultura de São Paulo, retransmitido há cerca de cinco anos pela TV
Educativa da Bahia, que na época transmitia com um sinal precário e por isso a fita apresenta
limitações de reprodução. Para melhorar a visualização da mesma, aumente o brilho do
aparelho de TV no qual estiver sendo exibido. Quanto às legendas não podem ser melhoradas,
pois a falta de clareza devese à má qualidade da transmissão. A TV Educativa da Bahia não
dispõe do material que só se encontra à disposição na TV Cultura de São Paulo, onde não é
permitido que se façam cópias do material, sendo que, no máximo, ele poderia ser reexibido.
2. INTRODUÇÃO
sido marcado por convenções estéticas como o realismo, que era uma herança
(de 1900 a 1902) com “A Viagem à Lua” e “Cinderella”; e Edwin S. Poter nos
EUA com “The Great Train Robbery” (1903) que lançou os filmes de estórias
de “cowboys”.
Século XX, passaram a desenvolver uma repulsa contra o padrão estético que
burguês.
fazer cinema, influenciada pela tradição artística do Século XIX. “(...) Este filme
esta mídia e a pintura moderna foi tão evidente como no Cinema Abstrato e em
Mclaren. Ele aperfeiçoou como poucos a técnica do filme pintado a mão, onde
que, aos nossos olhos viciados por cinco séculos de império da figura, aparece
como modelo renascentista durante todo Século XIX, assim como serviu ao
cinema o romance realista, logo nos seus primórdios e até o surgimento das
vanguardas.
técnicas) ele criou imagens inéditas em vídeo. Ele descobriu também que se
1988, p117)
125126)
numérico binário, que quantifica cada um dos pixels existentes na tela (de
imagética, capaz de produzir uma gama de formas e de cores que antes era
Poético, dos anos 20 e 40 (Bazin e Epstein), Viola faz com a câmera de vídeo
“surrealistas”.
a nível da imagem ser mostrada, por vezes, quase que como um mosaico. A
uma mão destacada do corpo, por duas câmeras, uma de cinema e outra de
vídeo pode ser captada mesmo que ela esteja imersa numa escuridão quase
cada espectador,
3 “ ARTE EM MOVIMENTO” DE NORMAN MCLAREN :
" LOVE ON THE WING", “ HEADTEST” , “ BEGONE DULL
CARE”
Vanguarda do Cinema Abstrato ou Cinema Puro. Ele não só pintava com tintas
e uma “pena” incríveis formas que deixava fluir de seu subconsciente, como
Canada)
possibilidades artísticas.
arte do futuro seriam os filmes. Então pensei, vou fazer filmes”, conta Norman
Mclaren que a partir daí começa a fazer filmes com uma câmera bem simples.
Ainda na Escola de Artes ele consegue uma câmera melhor, que permitia
divididos”, e um único frame por vez. Foi a primeira oportunidade que Mclaren
por si só vai para a cama dormir”, e ele consegue este efeito filmando “frame a
Whoopie”, apresentado num festival de filme amador, mas percebe que ele
Mclaren adquiriu a disciplina e o domínio sobre como trabalhar com filmes, ele
imigra para os EUA em 1939 a fim de dar continuidade ao seu trabalho com
Norman Mclaren. Ele afirmava que, com 18 anos, antes de entrar para a
som. “Eu queria fazer o som ser visualizado”, afirmava Mclaren. “Músicas em
vários ‘tempos’, ou ritmos, que pode ser mais devagar ou mais rápido,
cineasta/artista plástico que certa vez declarou que quase metade de sua
ritmo da música. Ele disse: “É isso, o filme é a mídia para expressar meus
mais admirava era Yves Tanguy, e o cineasta não negava ter sido muito
aposentou.
em 1939, foi seu primeiro filme como cineasta profissional. Nele as formas
de um céu multicolorido.
Emile Colbi, que usou a técnica desde 1908, fazendo desenhos e filmandoos
transformação.
Norman Mclaren fez “Love on the Wing” sem utilizar uma câmera,
(caneta para desenho). Ele também usou a técnica do traço para criar as
monumentos e o céu multicolorido que servem como uma paisagem onírica por
Esta técnica do filme pintado à mão, que ele tinha experimentado ainda
onde imigrou em 1939. Lá ele conta que passou tempos difíceis, no início,
morando num pequeno quarto, onde fez vários filmes para o Museu
nos seus filmes, "a vida brilhar", criando universos de fantasia e esperança.
filmes de animação do início dos anos 40, "The Headtest", inspirado na pintura
sentimentos, e foi deixado incompleto pelo artista. Nesse filme Mclaren utiliza
uma técnica que consiste em colocar uma câmera cinematográfica em frente a
uma tela de pintura e filmar "frame a frame" cada uma das alterações que ele
como artista plástico (pintor) faz em sua tela. No momento da projeção normal
passando fome, num quarto na Rua 123 com a River Side Drive. Tudo que eu
tinha era alguns pigmentos (tintas), uma mesa plana, um prendedor para fixar
da época, ele se mudou para uma casa com árvores e pássaros onde passou
cinema foi porque ele percebeu que aquela era uma mídia descoberta há
com a mídia do filme, cheia de possibilidades artísticas pois lida com sons e
imagens, suas duas grandes paixões. Ainda em Nova Iorque, no final dos
anos 30, ele justificava seu trabalho com cinema da seguinte forma:
“Eu tento, o mais que possível, preservar em minha relação com o filme,
Normalmente, ao se fazer filmes, todos sabem que existe uma elaborada série
produto final. É muito mais fácil para o artista e sua tela, então decidi
um mestre da “cinestesia” que acreditava que existia uma relação direta entre
sons e cores, e ele seria capaz de gerar cores dos sons, ou o que o
Norman Mclaren uma vez disse que “Begone dull Care” era o seu sonho
inspirado por um script musical, improvisado pelo músico Oscar Petersen. Mais
formas, traços e cores que ele e sua colega Evelyn Lambert pintaram
Durante sua carreira de cineasta, Norman Mclaren fez filmes com várias
técnicas, não apenas a do filme pintado à mão, com tintas e pincel diretamente
sensação que ele quer transmitir. Com a filmagem “frame a frame” (ou quadro
a quadro), por exemplo, ele podia manipular a mudança dos quadros, e assim
dos fotogramas. Desta forma, ele podia fazer pessoas ou objetos inanimados
Com esta técnica, em um de seus trabalhos, “Chairy Tale”, o cineasta faz uma
cadeira “criar vida” própria e fugir da pessoa que deseja sentar nela.
nos objetos filmados. Mas o que Mclaren considerava mais importante neste
filme foi feito depois de uma viagem feita pelo cineasta à China em 1949, no
desta nova disputa de poder. Mclaren passou este sentimento, então, para o
filme, que conta uma estória simples, como praticamente todos os seus
inspiração principal, ou melhor, a sonorização do filme foi feita com uma trilha
sonora que na verdade são apenas ruídos na maior parte do tempo, com
pouca musicalidade, pois o que ele quis destacar foi a mensagem humana.
“Eu não posso julgar meus filmes, mas se todos eles tivessem que ser
destruídos, com exceção de um, eu preferiria que esse fosse “Neighbours”, por
humana que nenhum de meus outros filmes traz”, chegou a declarar Norman
Em certo momento Norman Mclaren não quis mais fazer filmes pintados
filmes como “Pas de Deux”. Nesse trabalho, dividido em duas seções (ou
percebem que a felicidade de cada um deles está no amor que um sente pelo
Outra influência foi uma pintura do artista plástico Marcel Duchamp, “Nú
descendo a Escada” (1912), que era descrita por ele mesmo como sendo “a
movimento. Mclaren tinha uma foto de Edgerton na porta de sua oficina, para
inspiração.
vivas. Uma ação era filmada em câmera lenta (um homem andando, por
exemplo), e esta imagem do filme era superposta a ela mesma várias vezes,
mas sempre com o atraso de alguns “frames”, para que se pudesse visualizar
mestre do Cinema Abstrato, Norman Mclaren, foi questionado sobre o que ele
achava do computador como nova mídia que estava começando a ser utilizada
respondendo ao repórter.
com certeza, procurar um computador para começar a fazer coisas com ele.
determinada época, usamos certas coisas”, dizia ele que durante toda sua
com a mídia eletrônica. Norman Mclaren, no entanto, sempre frisou que uma
pessoa com natureza artística é capaz de pegar uma nova tecnologia e usala
à sua maneira.
Passing” (1991), o vídeomaker norte americano Bill Viola faz a crônica de uma
enquadramento que coloca seu olho em primeiro plano não traz tranquilidade
ao olhar do espectador.
relação câmeraobjeto, e para isso ele utiliza recursos simples como o puro
Semelhante à teoria do esteta francês dos anos 40, Jean Epstein, cada objeto
primeiro plano fere também de outro modo a ordem familiar das aparências. A
imagem de um olho, de uma mão, de uma boca, que ocupa toda a tela não
estes dedos, estes lábios, já são seres que possuem, cada um, seus próprios
limites, seus movimentos, sua vida , seu próprio fim. Eles existem por si
nenhuma lógica, que não seja a do sonho, algo que pode ser comparado ao
“modelo onírico”, como usado pelos surrealistas nas artes plásticas (e nos
estrutura psíquica, a partir de meados dos anos 20. Este vídeo é considerado
quase afogamento quando ele tinha 10 anos de idade, a morte de sua mãe e o
muito pessoal para mim, a partir de certo momento de minha vida, e ao ficar
mais velho isso foi ficando cada vez mais profundo, de uma maneira que eu
sinto que não tenho escolha. Minha mãe morreu em 1991 e isso entrou no meu
trabalho, tem que ser assim, não há outro jeito”, conta Bill Viola. (VIOLA, 1994)
pela câmera, experiências profundas passadas em sua vida. Este trabalho foi
feito de forma tão intuitiva que por vezes parece não ter sido produzido (o
puro registro videográfico e alguns recursos oferecidos por esta mídia, ele é
nova forma, lidando com seus traumas, suas dores, sensações realmente
vivenciadas, e agora expressos, de acordo com seu sentimento e suas
“Vivendo dentro do frame” é uma frase que Bill Viola tem usado para
descrever como ele localiza a si próprio no interior de seu trabalho, mas ela
também pode ser interpretada como sendo um tipo de filosofia ética. “Vivendo
dentro do frame significa vivendo dentro da experiência. Arte tem que ser parte
da vida diária ou não é honesta”, ele explica. Esta integridade de sua visão
vanguardas (Xavier, 1984, p 83), e também no Cinema Poético dos anos 20.
Bill Viola trabalha como ninguém esta tendência no vídeo, para dar
sempre estão num intervalo entre uma imagem enevoada, escondida nas
sombras, e que aos poucos vai sendo revelada, como se estivesse ganhando
ainda mais esta tendência com recursos de “slow motion” (câmera lenta),
contou com recursos que somente são possíveis com a tecnologia do vídeo.
Ele usou uma “lowlight vídeocamera” (uma câmera de vídeo especial para
Desta forma ele coloca suas visões, quase espectrais, situandoas dentro e
através deste efeito, Bill Viola consegue criar uma atmosfera de “noitepara
imagens.
Assim, ele consegue criar ilusões nas quais formas brancas tornamse lençóis
em uma mulher.
uma mesa, posta de forma bem arrumada para uma pessoa, cena tipicamente
renascentista, que aos poucos vai sendo tomada por uma força não vista que
realidade.
porque eu acho que nós criamos o mundo ao nosso redor, (....) e literalmente
criamos as percepções do que estamos vendo”, declarou certa vez Bill Viola. (
VIOLA, 1994)
Bill Viola conseguiu criar efeitos visuais em “The Passing”, como nunca
jamais conseguiu criar esta atmosfera da lógica inconsciente, pois não tinha
perceptível.
passamos a maior parte de nossas vidas, é a parte de nós que pega o ônibus
na hora certa, que vai ao banco tirar dinheiro quando precisamos, que marca
encontros e vai ao trabalho e volta para casa, é de fato uma pequena parte de
quem nós somos na totalidade de nossos seres", afirma Bill Viola. Em seu
trabalho, "The Passing", ele parece querer nos revelar como seria o seu
"Um fato real é simplesmente um estreito foco de luz num grande quarto
escuro do qual não tomamos consciência, e este quarto escuro está presente
está ligado e tende a pensar em grandes termos, tende a pensar que é o mais
níveis mais profundos, e que nós apenas não estamos conscientes disso, e
que essa mente mais profunda, aquele 'eu maior', é a parte de nós que pode
voar através de paredes, sobre montanhas, deixar nossos corpos, pode voltar
no tempo ou ir à frente no futuro", afirma Bill Viola que transporta essa filosofia
a que não estamos acostumados a ter do ambiente. Uma nova forma de ver
seria como anular a escrita que viciou a mente com uma forma específica de
seria como voltar ao mundo oral, da palavra falada das sociedades tribais.
imagens, dos elementos da natureza (dos animais, das plantas, do próprio ser
humano, até dos astros como o sol), transformandoos pela sua percepção e
transfigurações que pudessem surgir no ato criativo. Por isso a pintura (assim
naturais) tinha uma importância tão grande para os povos primitivos. As artes
desses povos.
ocidental.
artísticas do início do Século XX, quebraram com esta tradição clássica como
campo das artes plásticas e entre aqueles artistas que exploravam as novas
estéticas destas vanguardas podem ser identificadas até hoje, pois são
filmes Mclaren usou a técnica do filme pintado à mão, ou seja: ele pintou cada
e cinema.
que o cinema (o filme) era uma nova forma de se perceber e vivenciar o mundo
eleva este conceito ao máximo com seu vídeo, pois, acima de tudo, toda mídia
aqueles que vão revelar, através de suas respectivas mídias, este material dos
interiorizado em nossa psique, que o processa segundo princípios que não são
os mesmos da mente consciente. Nossos processos mentais inconscientes de
interior subjetivo.
vivendo dentro de uma outra realidade. A arte, como afirma Bill Viola, deve
VIDEO/FILMOGRAFIA