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NUMAPE/UEM: TECNOLOGIAS UTILIZADAS NA ADAPTAÇÃO AO TRABALHO

REMOTO DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

NUMAPE/UEM

Amanda Cavalin da Costa1; Crishna Mirella de Andrade Correa2; Cinthya Ayumi


Yotani 3; Letícia Feltrin Stahlhoefer4

RESUMO
O presente resumo expandido possui como objetivo demonstrar as tecnologias
utilizadas pelo Núcleo Maria da Penha da Universidade Estadual de Maringá durante
a pandemia de Covid-19, na adaptação da equipe ao teletrabalho, mantendo-se a
escuta qualificada e o atendimento interdisciplinar para mulheres financeiramente
vulneráveis e em situação de violência doméstica na Comarca de Maringá. Ainda,
exploraremos o desenvolvimento de um módulo, no grupo de estudos do Núcleo,
sobre a saúde mental da equipe durante este processo de adaptação, um cuidado que
foi percebido como necessário, principalmente por conta do aumento dos casos de
violência doméstica durante a pandemia. Foram utilizados relatos de experiência
como metodologia.

Palavras-chave: Enfrentamento à violência doméstica. Interdisciplinaridade. Escuta


qualificada.

INTRODUÇÃO

O Núcleo Maria da Penha da Universidade Estadual de Maringá é um projeto


de extensão, subsidiado pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior, que fornece atendimento psicológico e jurídico gratuitos a mulheres de baixa
renda em situação de violência doméstica, na Comarca de Maringá (SETI, 2021). O
projeto se iniciou no ano de 2016, e possui uma equipe composta por profissionais

1 Amanda Cavalin da Costa: Psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Maringá. Pós-
graduanda na Residência Técnica em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
http://lattes.cnpq.br/3413925283006222. amandacavalin@gmail.com.
2 Crishna Mirella de Andrade Correa: Doutora no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas pela

UFSC. http://lattes.cnpq.br/9793811097701949. XXX@gmail.com.


3 Cinthya Ayumi Yotani: Graduanda em Direito pela Universidade Estadual de Maringá.

http://lattes.cnpq.br/7775006791523434. yotani.cinthya@gmail.com.
4 Letícia Feltrin Stahlhoefer: Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Maringá. Pós-

graduanda na Residência Técnica em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
http://lattes.cnpq.br/6108049700646272. leehfeltrin@gmail.com.
recém-formadas (advogadas e psicóloga), residentes técnicas (advogada e psicóloga)
e estagiárias (área do direito e psicologia), sendo orientadas por 2 professoras de
cada área, e ainda, por uma coordenadora geral.
O atendimento prestado pelo Núcleo se inicia primeiramente com a equipe da
psicologia, que realiza o primeiro acolhimento, observando as características do caso,
solvendo as dúvidas da assistida e verificando se a mulher preenche os requisitos
para atendimento com a equipe jurídica. A equipe da psicologia acompanha a
assistida durante toda sua permanência junto ao Núcleo, com acompanhamentos
mensais, que reforçam a relação de confiança da assistida com a equipe.
Posteriormente, a assistida recebe atendimento jurídico, para que possamos dar
entrada nas ações relacionadas principalmente à área de família, tais como divórcios,
pensão alimentícia, guarda e regulamentação de visitas.
Atualmente as maiores dificuldades enfrentadas pela equipe é a adaptação
ao teletrabalho durante a pandemia de Covid-19, uma vez que houve um aumento
exponencial nos casos de violência doméstica, ocasionando aumento da demanda
dos serviços prestados pelo Núcleo, além do desgaste da própria equipe em relação
a problemas técnicos, falta de equipamentos e a complexidade de realizar os
atendimentos de forma remota.

DESENVOLVIMENTO

O Núcleo Maria da Penha da Universidade Estadual de Maringá pauta seu


atendimento em três estratégias consideradas primordiais: a interdisciplinaridade, a
interseccionalidade e a intersetorialidade, sendo asseguradas através da formação
constante da equipe nos grupos de estudo, além de reuniões de área e reuniões
gerais. A utilização destas estratégias possui como finalidade a construção de uma
equipe qualificada para prestar uma escuta qualificada, orientadas pelos princípios da
Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), portarias e parâmetros do SUAS, assim como
dos órgãos de orientação à Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher.
No entanto, após o mês de março de 2020, com a decretação do isolamento
social por conta da pandemia de Covid-19, o Núcleo passou por desafios para a
estruturação do serviço, respeitando as estratégias primordiais, mesmo com o
teletrabalho. Dessa forma, o serviço passou a ser prestado principalmente através do
Whatsapp e contatos telefônicos, e as supervisões e reuniões do Núcleo passaram a
ser realizadas através da plataforma, Google Meets.
Ainda, um dos maiores obstáculos enfrentado foi o aumento da demanda de
trabalho, uma vez que por conta do isolamento, os casos de violência doméstica
também tiveram um aumento exponencial. Os dados de atendimento dos meses entre
os meses de abril e setembro de 2019 em comparação com os mesmos meses do
ano de 2020 demonstram este crescimento.

2019 Nº de atendimentos 2020 Nº de atendimentos


Abril 117 Abril 308
Maio 255 Maio 537
Junho 264 Junho 561
Julho 205 Julho 616
Agosto 282 Agosto 585
Setembro 239 Setembro 613
Total 1362 Total 3220
Fonte: UEM (2020)

Por conta deste aumento da demanda, a complexidade dos casos trabalhados


e os próprios desafios da adaptação ao teletrabalho com todas dificuldades técnicas,
falta de equipamentos, entre outros fatores, fora verificada a necessidade de cuidado
especial com a saúde mental da própria equipe. De acordo com Gondim e Borges
(2020), um dos maiores desafios do chamado home office é admitir que reagimos não
apenas às dificuldades do trabalho em casa, mas também às condições que
vivenciamos naquele momento, neste caso, à vivência da própria pandemia. Deste
modo, a solução encontrada pelas coordenadoras do Núcleo foi propor a utilização do
grupo de estudos para a criação de um módulo de saúde mental, como uma estratégia
para lidar com essa nova dificuldade.
O módulo foi realizado em quatro encontros ao longo de três meses,
utilizando-se de recursos textuais, audiovisuais e de elementos disparadores para
fomentar a discussão entre a equipe acerca da saúde mental das profissionais que
trabalham no atendimento das mulheres em situação de violência doméstica. Os
encontros foram pensados a partir de uma metodologia ativa, modelo utilizado para
despertar o olhar crítico-reflexivo das profissionais, possibilitando um espaço de troca
(PINTO et al., 2018).
O desenvolvimento e participação no módulo sobre saúde mental foi de
extrema importância para toda equipe, que pode encontrar um espaço seguro para
compartilhar suas experiências, dificuldades, medos, entre tantos outros sentimentos
envolvidos no trabalho com mulheres em situação de violência. Tal experiência gerou
um fortalecimento entre as profissionais, estagiarias e orientadoras, demonstrando
que toda equipe possuía dentro do próprio Núcleo, um espaço de acolhimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste resumo expandido, buscou-se expor as tecnologias desenvolvidas pelo


Núcleo Maria da Penha da Universidade Estadual de Maringá durante a pandemia de
Covid-19 e a adaptação ao teletrabalho, com a intenção de preservar à prestação de
um serviço qualificado às mulheres em situação de violência doméstica e ao seu
enfrentamento enquanto fenômeno que atinge diversas esferas na vida das assistidas
e as coloca em especial situação de vulnerabilidade.
Ainda, observa-se que a implementação de tais tecnologias, o acolhimento, a
preparação da equipe para que se paute na escuta qualificada, foi essencial para que
a possamos realizar os atendimentos, evitando a revitimização das mulheres por nós
assistidas, tanto pela equipe da psicologia, bem como pela equipe jurídica. Por fim, a
conservação dos contatos ocorridos através dos acompanhamentos mensais
realizados pela equipe da psicologia busca o fortalecimento das mulheres assistidas
para que possam se desvencilhar da situação de violência doméstica, além do
desenvolvimento de uma relação de confiança com a equipe.
Em decorrência da pandemia ocorrida por Covid-19, que alterou o
funcionamento do núcleo ao teletrabalho, além de um aumento na demanda, o
desenvolvimento de um módulo para cuidado da saúde mental da equipe nos grupos
de estudos se mostrou ser de extrema importância, promovendo o acolhimento das
demandas da própria equipe em suas vivências profissionais, para que, enquanto
grupo de mulheres que cuidam de outras mulheres, também possamos nos fortalecer
e nos apoiar umas nas outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério da cidadania.
Parâmetros de atuação do sistema único de assistência social (suas) no sistema
de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência. Brasília, 2019.

GONDIM, S; BORGES, O. L. Significados e sentidos do trabalho do home-office:


desafios para a regulação emocional. Orientações para o home office durante a
pandemia da COVID-19 (pp. 39-48). Porto Alegre, 2020.

PARANÁ. Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do


Estado do Paraná. Núcleo Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.seti.pr.gov.br/cct/usf/numape#>. Acesso em 29 jul. 2021.

PINTO, S. G. et al. Metodologias ativas no território: a pluralidade dos encontros.


Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida. Manaus, 2018.

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