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A transgressão não exige que se mudem as leis, que se compareça em manifestações ou escreva
cartas. Ela pode ser conseguida fazendo algo que alguns homossexuais e lésbicas podem ter
gostado sempre, enquanto rotula-se como algo politicamente transformador por si só. Assim,
as festas noturnas, se em roupas de latex ou roupas “discordantes” do seu gênero, podem ser
vistos como ações políticas.
O sociólogo Stephen O. Murray, em sua crítica incisiva à Teoria Queer, é particularmente crítico
às noções queer de que jogar com os gêneros é revolucionário e a ideia de que “qualquer coisa
que um subalterno faça seja “resistência” – em particular, que “brincar de” ou “brincar com”
gênero corrompa a organização social de dominação de gênero. (Murray 1997). Ele sugere que
deveria haver menos celebração da “transgressão” e mais consideração de como os
comportamentos que estão sendo celebrados podem emergir do auto-ódio internalizado dos
‘subalternos’.
A transgressão tem um longo histórico entre os machos da classe alta. No século XVIII,
os gentlemen se divertiam performando suas versões sadomasoquistas no Hellfire Club.
Algumas morais podem ter sido ultrajadas, mas a estrutura social da Inglaterra heteropatriarcal
nem tremeu.
A abordagem do feminismo radical/lésbico não podia ser mais diferente. Invés de ver a criação
de mais variedades e igual oportunidades de atuação da masculinidade e feminilidade, o
feminismo radical/lésbico busca abolir o que vem sendo chamado de “gênero”, todos eles.
Não sou fã da palavra “gênero” e preferia aboli-la em favor de expressões que refiram
diretamente à fundação política da dominação masculina. Assim, prefiro descrever a
masculinidade como “comportamento dominante macho” e a feminilidade como
“comportamento subordinado fêmea”. Nenhuma multiplicidade de gêneros pode emergir dessa
perspectiva.
Christine Delphy, teórica feminista radical, expressa esse ponto de vista mais claramente
(Delphy 1993). Ela explica que é muito errado ver o problema com gêneros como sendo o de
uma atribuição rígida de certas qualidades e comportamentos que podem ser resolvidos pela
androginia, na qual os comportamentos de masculinidade e feminilidade podem ser misturados.
Os dois gêneros atuais, ela diz, são na verdade os comportamentos da dominação masculina e
da submissão feminina. Com o fim da dominação masculina, esses comportamentos não teriam
substância. Eles se tornariam inimagináveis e seres humanos precisariam imaginar novas formar
de se relacionar que não incluíssem comportamentos que não aflorassem de um sistema político
suplantado.
Assim, todos os teóricos e ativistas queer que buscam performar o gênero podem ser vistos
como lealistas de gênero com participação na manutenção do sistema de gênero da supremacia
masculina. Todos os abarcados pela política queer cuja inclusão assenta na performance da
dominação masculina e submissão feminina de atores incomuns, drag, machona/afeminado,
travestis ou transsexualismo estão engajando em comportamentos que são estritamente
limitados no tempo.