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Aldelogia da rran Vhtar

Revsuoo Nepa)sta
(19671969)

Marcos de Mentbnç 0 Ry

eröi 935
MARCOS DE MENDONÇA O' REILLY

A IDEOLOGIA DA CORRENTE MILITAR "REVOLUCIONZRIO


NACIONALISTA " (1967-1969)

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

INSTITUTUO DE CIÊNCIAS HUMAAS E FILOSOF IA

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

NITEROI, 1985
MARCOS DE MENDONÇA 0' REILIY

A IDEOLOGIA DA CORRENTE MILITAR " REVOLUC IONÁRIO


NACIONALISTA" (1967-1969)

Dissertação apresentada ao Curso

de Mestrado em Históría da Uní -

versidade Federal Fluminense co


mo parte dos requisitos para ob
tenção do tÉtulo de Mestre em

HistÑr ia.
Orientador: Professor Dr. Francis
co Calazans Falcõn

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOF IA

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

NITEROI
1985
a31.08
8.G6u
4935
AGRADECIMENTOS

Estes, destinam-s¢ as pcssoac yue


colaboraram
de alguma forna para a tze cugpo do prescnte trabalho. En
tre estas queria destacar, Ana de ALbuqucrqe Lima, D. Io
landa Costa Silva, Márcia de Mendonga 0'Reilly, Prof.
Franeis co Faloon, Prof. Cira F. S. Cardosp, Prof. Jorge Ca
minha, Prof. Monteiro de Barros, que participaram atraves
da obtengao de docume ntos, infd rmaçoes, opiniöes,
orienta
gão e cqrre çõcs.

Por ltimo, mas nao menos imp ortante, quero


gradeer ao Nivaldo : 0 Vikg4u peLa didicaçun a dati lo
grafaguo do traba lho, ao Conse lho Matonat de Desenvo lvi
mento Cientifi oole te enoLigi,eo eà Coapdenação de Aperfei
çoamento e Pepquisa de Nivel lsuperior, quela0 propiciarem
-me bolsas de csludo, favilitarqn em muito a realinagão
desta disserLayao.
Ameus pais e minha fi lha.
RESUM0

O contoûdo da dissort acao 6 dividido om três

partes, sendo ue a primci ra delas, apesar de n£o Dreten

der csyotar nem apresentar uma oriyinalidade total em rela


ção ao tema o Governo Costa e silva em alguns de Seus

aspectos econômicos, politiços e sociais - épremissa fun


dament al na detectação de certa condiçõcs sociais de pro
ducão do discurso do Gen Albugucrquc Lima. 0 que há de mais
relevante nesta parte é a apresentaçao de documentação ine
dita a respeito da implantação do Ato Institucional ng 5 e
do processo sucessório do Presidente Costa e Silva.

A seyunda e terceira partes prcocupam-se com

anâlise de certos discur_os, conferências etc., considera


dos como os mais perti nentes, do Gen Albuquerque Lima,
quais foram pronunciados quando da sua atuação frente ao

Ministério do Interior e no restante do Governo Costa e

silva. Nestes discursos, a atençao principal é centrada em


duas lexi as chaves, ou seja, "teiora'itmo" e" t p i , ".
A hartir de técnicas de Lingüística e dc An£lise de Con
teûdo, juntamente com as informaçocs obtidas cn função da
pesquisa realizada para primeira parte, inferimos da anâli
se do iiscurso ".npt i " dados bum interssantes.

A tentativa de cmprcgar metodos e técnicas lin

güísticas cm documentação histõrica também um aspecto re


relevante do presente trabalho, principalmente se levarmos
Cm cota carencia de cstudos sobre o Governo Costu e 31l
va, c mais ainla, a Lolal i nuxikLönçia de cstudos solbrt

participação politic-ai litar do Gen Albuquereque lLima ,prin


cipal representante ye uma importante facçao militar uo e
riodo, c yuc por muito pouco, näo cheyou ao poder quando
da suqessão do Prqsidante Costa c si lva, en 1969.
sUMÃRIO

RESUMO IV

LISTA DE ILUSTRAÇÕES *

LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS XII

1 INTRODUÇÃO 1

2 ASPECTOS ECONOMICOS, POLITICOS E socIAIS DO GO

VERNO CosTA E SILVA (1967-1969) 21

A - ASPECTOS ECONOMICos 21

B ASPECTOS POLITICOs E SOCIAIS 26

B.l - INTRODUÇÃO 20

B.2 APOIO POLITICO 31

B.3 - HETEROGENEIDADE DO GOVERNO 32

B.4A FRENTE AMPLA

B.5OPOSIÇÃO MILITAR 38

B.6- A POSIÇÃO DA IGREJA 41

B.7 - A OPOSIǦO ESTUDANTIL 44

o POSICIONAMENTO DO GEN ALBUQUEROUE LIMA E

DA CORRENTE "REVOLUCIOWKRI0-NACIONALISTA " 49

C.l A FASE DE APOIO AO GOVERNO COSTA

SILVA 49

C.2 o AUGE DÀ PRESENÇA DA CORRENTE "REVO


LUC rONARIO-NAC1ONALISTA " 57

C.3- A DOENÇA DO PRESIDENTE COSTA E SILVA


EA SUCESSÃO PRESIDENC IÀL 64

O NACIONALISM0 NA IDEOLOGIA DA CORRENTE "REVOLU

VIII
CIONARI0-NA CIONALISTA 8
A INTRODUÇÃO
80
B NAÇÃO E "NACIONALISMo"
81
C BREVE HISTORICco DO
NACIONALISMO NO BRASIL.
DA LEXIA NACIONALISMO
89
E0 NACIONALISMO DA CORRENTE "REVOLUCIONKRIO
-NACIONALISTA n
104
AS POSSIBILI DADES DE ALIANÇA POLITICA ENTRE
o EMPRESARIADO NACIONAL E A CORRENTE "REV0
LUCIONARIO-NACIONALISTA" 107
P.1 INTRODUÇÃO ..
107
F.2 AS PROPOSTAs DO EMPRESARIADO NACIO
NAL E DA CORRENTE
"REVOLUCIONAR IO-NA
CIONALISTA
111
F.3 CONCLUSÃo
117
4 A LEXIA REVOLUÇÃO NO DISCURSO DA CORRENTE "REVO
LUCION¤RIO-NA CIONALISTA" 131
A QUESTÖES TEORICAS E METODOLOGICAS 131
B A co-0CORRÊNCIA DA PALAVRA-POLO REVOLUÇÃO. 137
C 0 CAMPO SEMÄNTICO DA LEXIA REvOLUCÃO 148
DCONCLUSÃo
154
5 - cONCLUSÃO FINAL 165

ANEXOS 171

BIBLIOGRAFIA 310
LISTA DE ILUSTRAÇÖES 318

LISTA DE TABELAS 356

IX
LISTA DE ILUSTRAÇõES

1-CAMPO SEMANTICo DA LEXIA NACIONALISMO.

2 CAMPO SEMÂNTICO DA LEXIA REVOLUÇÃO.

3 CAMPO SEMANTICO DA LEXIA DEMOCRACIA.

4 C0-0CORRENCIAS DA LEXIA REVOLUÇÃO.


(GRAFIcos DE l A 10)
LISTA DE TABELAS

Tabela I ESTRUTURA DO PRODUTO INDUSTRIAL (1955 e 1964) .


Tabela II MEDIDAS PARA AMPLIAR O MERCADO INTERNO ,

Tabela III DADOS RELATIVOS A DISTRIBUICÃO DA RENDA(1960).

Tabela IV-TENDENCIAS LATENTES RELATIVAS A MERCADO IN


TERNO E SETORES DE ATIVIDADES.

Tabela V-ADMISSÃo DE OPERÁRIOS E EMPREGADOs NO EsQUE


MA DE ALIANÇAS E SETORES DE ATIVIDADE
Tabela VI FORTALECIMENTO DO BLOCO OCIDENTAL E SETORES

DE ATIVIDADES.

Tabela VII VINCULAÇÖES cOM FIRMAS ESTRANGEIRAS E SETO


RES DE ATIVIDADES.

Tabela VIII PAUTAS DE COMPORTAMENTO E SETORES DE ATIVI


DADES.

Tabela IX- PARTICIPAÇÃO DE GRUPOS soCIAIS NA FORMULA


CÃO DA POLÍTICA ECONOMICA.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.I. -Alo Instituo.


A.Lima
Nbuquctque Lima.
Almte. AImiranle.
AME'S Associucho Mtropol itana d Estudant cs Secundá
rius,

ARENA Aliançl Renovadora Nuctonal.


Copanlo d Cuca uos Cununistas.
Coronel
Cit, Comandkinte.
CNUD Confçrêneta Naclonal cdos bispos do brasil.
DCE Di retório Central dos Estudantes.
LMBRATLL, - mpresa Bras) leifa de "eleconunicaçocs.
EMEA - Estaio Maior das l'orças Armadas.
L'SG Escola Superior de Guerta.
PANC Frente Armada Anti-Comunista.
Gen
General.
INPS Instituto Nacional du Previdencia Social.
LSN Lei de SegurançalNacional.
MAC Novimento Anti Comunista.

Nar Marechal.

MDB Movimento Democrático Hras1leiro.


ML.C Mi nistrio da Educaçaoe Cultura.
MI:COR - Ministönjo Es raordinino dos Orj.tntsmos ketto

MINTER Ministörid do Interior.


X11
I'OLO

PSB -Parti do Socialista Brasi leiro.


'S - ParLidp Soeial DemoeritLco.
PTE - Partido Traba lhi sta Brasileiro.
PUC 3 Pontiffdia Uni versidadee Catálica.
SUDLNL Superintendencia do Desqnvolvimento do iordes
Le.

UDN -Uni£o Democrática Nacional.


UME:
1Uniio Met TOpoli Lana dos lstudntes.
UNE | UnL0 NICiOnaI dps Estud.itos.
USP - Uni ve rsi dade de Sao Paulo,

X1I
1 PARTE INTRODUÇO

A pertinênci a atual de um tema que trata dos


militares no
poder, do processo político
nal militar, desencade ado intra-institucio
pelo proprio exercício do po
der, e das relações entre militares e
membrOs da socieda
de civil e política,
parece-nos evidente. Além disto, h£
o fato da quase inexistênci a de estudos sobre o periodo
do Gove rno Costa e Silva, e
sobretudo, sobre a corrente
militar " Revo lucionario-!!aci ona lista" e a
análise de sua
ideologia. (1) Anlise da ideologia sim, pois em primeiro
lugar, a anãlíse dos discursos do Gen A. Lima -
Ministro
do Interior naque le perfodo- implíca, ao noss ver, na
constataçao ou comp reensao, de que a sua mensagem repre
sentava as formas de pens amento daque la corrente mí li tar
dentro das Porças Armadas. De acordo com o Gen. A. Lima, na
introdução de seu manuscrito indito, ele preten de "de ma
neira muito franca c leal...
Pepor
verdades, de smentir
falsas interpreta goes e oaracterizar a leviandade de fal
sas informaçoes,as quais, no decurso de certo tempo, fo
ram Lan çadas com o objetivo principal de
evitar a ascen
çao da corrente revoluoionario-naeiona lista a unica ag
pas de unir o povo brasileiro, integrando-o no movimen to
esboçado em 31 de mar ço de 1964. " (9)

Em segundo 1ugar, apoiando-nos nas conclusoes


de Eli seo Verõn (3), analisamos a ideologia da Cor
rente "Revolucionario-Nacionalis ta", presente no dis
curso do Gen A. ILima porquc consideranos o ideólo
2.

gico como um traço do social existente tambem na prãtica

di scursiva. e constituindo-se num dos niveis possiveis de


um discurso.

Quanto à relevância histõria o periodo em


quest o 1967 a 1969 - , esta poderia residir na afir
mação de José Enrique Miguens (4) segundo o gual, 1964 e

1968 seriam ois anos básicos para o inicio de um novO ti

po de golpe militar. Entre 1961 a 1965, ocorreram dez gol


pes militares na America Latina, periodo de transição en
tre a fase do tradicional golpe militar 1920 a 1961 -
e a fase do novo e profissional golpe mi litar - 1968 em

di ante.

Ainda sequndo Miguens, as bases deste novo ti

po de golpe militar explicitaram-se em alguns eventos no

ano de 1966,, como por exemp lo, o discurso o Gen Juan Car
los Ongania na Academia Militar de West Point, acerca da

posiço das Forças Armadas na sociedade, ou ainda, em as


pectos do periodo de intervençao militar no Brasil entre
1964 e 1968. Os golpes inseridos nesta tipologia são:

"levan tamiento" de junho de 1966 na Argentina, que colo


cou o Gen Onganía no poder; o golpe de Estado encabeçado
pelo Gen Barrientos na Bolivia; o "levantamiento" no Peru
em 1968 que colocou o Gen Juan Velasco Alvarado no poder;
o "levantami cn to" da Guarda Nacional no Panam em 1968,

sob o comando do Gen Omar Torrijos; e o golpe de pal£cio


no Brasil em dezembro de 1968, que forçou o Gen Costa e
ilva a militarizar mais ainda o regime, com a implantação
do AI-5.
.3.

Para Miquens, "levantamiento" vem a ser um gol


pe militar em que as tropas equipadas deixam os quart is,
ilegalmente, e ocupam posiçöes estratégicas nas cidades ,
com ou sem oposição de outras forças militares. Por outro
lado, quando o golpe mi litar acontece no interior de um

governo militar, e realizado pelo chefe da Junta Mili


t a r no poder com o auxilio de oficiais leais, temos um

golpe de Estado. Caso um governo militar sofra um golpe


tambem militar, mas realizado por um grupo issidente, te
mos então um "golpe de palãcio".

Quanto às diferenças entre o tradicional e

novo golpe militar, Miguens aponta as seguintes: no pri


meiro caso, o golpe não possuía objetivos claros nem Jme

tas definidas, enquanto no moderno golpe, os militares ja


possuem uma ideologia especifica conhecida como doutrina;
para o golpe clássico, as Forças Armadas eram um instru

mento provisôrio para o restabelecimento da ordem e não se


consideravam como qualificadas para qovernar o pais, en

quanto o inverso å-se no moderno golpe militar.

Assim sendo, para os militares responsãveis

por estes golpes considerados do tipo moderno e profissio


nal, o Governo ½ para ser administrado. Todos os proble

mas de desenvolvimento devem ser resolvidos tecnocratica


mente, com o auxilio de economistas e outros especialis
tas. Para Miguens, "the basic orientation seems to be the
Creation of a new social group of adminis trators and techni
cians to consolidate a bureaueracy in the Weberian sense

that wiLL take the plaee and the functions of the politi
4

oal elite," is)


Em termos de comparação com outros sistemas po
liticos, Miquens aponta uma simi laridade entre os regimes
o Marechal Henri Petain, e até mesmo o de Mussolini, com
os golpes militares çonsiderhdos modernos e profissio
nais, pois a "a very simi lar ideo logy of a no npolitieal,
teehndlog ieal upproaei appeaed in a little-known secre t
movement behind the Viehy government in Erance callcd si
narquisme, and io alio a typical feature of the present
mtilary govemente all ovcr te uurld. Al ao it was
conatant objcetiv: in faveia Ttaly, but in a very diffc
"enL oci« ta onteæt und emotio nal pathon. "(6)

Todavia, em função do nosso objetivo, preferi


mos considerar mais relevante no periodo como bem salien

ttou EliÃzer R. de 0liveira (7), a sucessão de acontecimen


tos tendentes à concretizaçap de um determi nado tipo de
Estado vigente em qua se toda sua totalidade atÇ
atualidade, e contando, ainda, com a instituicão mili
tar no papel de agente privilegiado nos centros do po

der. Tais acontecimentos culminaram com a implantaçao do

Ato Institucíonal n9 5 e com a sucesso presidencial do


Marechal Costa e Silva, verdadeiros pontos de inf lexão
dentro do processo "revolucibnário" eclodido em 1964.

AI-5 representou o cume de uma escalada centralí zadora

por parte do Governo Militar, acentuando sua interferen


cla tanto na esfera estadual quanto na federal, simulta
neamente a um processo de desmobilização da classe politi
ca fechamento do Congresso e da sociedade civil
-intervençao em Universidades, Sindicatos, na Imprensa
etc. Jã a sucessao do Presidènte Costa e Silva rcpresen

tou a consolidação de um mode lo de desenvolvímento basea

do na acumulação de capital via capitais estrangeiros, e,

concomi tantemente, uma "definiçao" nos conflitos entre se


tores intermediários da hierarquia militar e os oficiais
superiores, principalmente no que tange à forma de esco

lha, entre os prõprios militares, dos sucessivos "presi


dentes-genera ia-revolucionávios".
ASsim sendo, temos a delimitação cronolQgica
de nosso tema, abrangendo os anos de 1967 a 1969, periodo
em que a corrente "Revolueionário-Nneionalinta" c seus re

presentantes principalmente o Cen A. Lima estiveram


mais perto do poder : no cargo de Ministro de Estado e na

disputa da sucessão do Presidente Costa e Silva. Tambem


neste periodo as aspirações e reivindicaçöes desta corren
te militar obtiveram signi ficativa ressonância,, sendo am
plamente acatadas pelo Governo, quer espontaneamente,quer
sob pressão.

0 estudo inicia-se com a assunção do Gen A. Lí


ma no cargo de Ministro do Interior, guando os elementos
da corrente "Revolucionario-Nacionalita" apoiavam quase

que integralmente o Governo osta e Silva, ganhando grada


tivamente força dentro dos circulos do poder. A decreta
çao do AI-5 representou o momento do auge da influência

desta corrento sobre o Governo c dentro das Forças Arma


das, ao mesno tempo cm que o Coverno personificado pe
lo Mar Costa e Silva desgas tava-se politicamente e en
6.

veredava numa linha de desenvolvimento calcada no afluxo


maciço de capitais estrangeiros. Acentuavam-se as

divergências intramilitares, ate que aconteceu o rompimen


to explicitado pela exoneraço do Gen A. Lima, do Mi

nistèrio o Interior-entre os "Revo Luo onario8-Nacionalis


taa" e os "costistas ". Pelos pronunciamentos do Gen A. Li

ma, como tambm pelo seu apoio s reivindicaçoes dos seto

res intermediários da hierarguia mílitar como Q Mani

festo dos Capitãcs, em fins de 1968 observamos esta

gradual exacerbaçao do conflito intramilitar. 0 ponto de

ruptura, como jã mencionamos, explicitou-se quando da exo


neração do Gen A. Lima, e materializou-se no seu discurso

de despedida do Ministério.

Ironia da histQria, o AI-5, ponto


Culminante
da influência e pressoes da corrente "RCvO iueionario-a

cionalicta", teve como um de seus primeiros alvos o pro


Lima. Respaldados no Ato Institucional, os Mi

nistros da Fazenda e o Planejamento, Delfim Netto e Hlio


Beltrao respectivamente, contando com o consentimento
presidencial, reformularam a politica de incentivos s á
reas prioritárias na açao do Ministário do Interior - o
Nordeste principalmente alÅm de reduzirem as verbas
constantes no Orçamento da Uniao destinadas ao Ministê
rio. 0 AC-40, "que alterava o pereentual dos Recurs 0s

iad, e o Deerto-bei n 401, que modificava a siatemáti


du do Imposto de Renda e Capitai de Giro das Rmpresa6. Am
.7.

do e
ineomprcensivel, a Politica Wacional de Desenvolvi
mCnto, e feria, 'ronta lmente, a nova
filosofia da politt
ea ceon mi ca, uté então ado
tada pelo
própric Governo
cempromitsor tolenes, objeto, adenaig, de inequivoco8
"Pti dou prn0antot, ulraoéa dß t ode: o meios de
dvlgaçao". (8) A posição do Presidente Costa e Silva, na
medida em que aceitou tais
reformulaçoes, que iriam inclu
sive contra seu programa inicial de
Governo, revestia-se
de nítidas caracteristicas politicas. Em primeiro lugar,
enfraquecia a situaçao e a escalada polÍtica do Gen A. L1
ma, um de scus maiores críticos e
principal candíidato nos
meios militares ä sucessao presidencial. Em sequndo lu
gar, fortalecia a posiçao o candidato preferido de Costa
e Silva å sucessão presidencial, ou seja, o Ministro Ma
rio Andreazza. Em terceiro lugar, o Mar Costa e Silva pro
curava assim recuperar, em parte, a sua
autoridade, jã
bastante contestada naquela altura de seu Governo. De uma
maneira geral, a tomada desta nova orientação refletia u

ma mudança nas relaçoes de força intraministeriais -


conflito entre os Ministros Delfim Netto e Albuquerque Li

ma não era novidade - e no prõprio seio da sociedade,


quando os setores sociais favor veis à acumulaçao de capi

tal, via penetração de capitais estrangeiros, e å preser

vação da concentração de capital na região sul-brasilei


ra - principalmente Sao Paulo- passavam a predominar

frente à posição nacionalista, contrária a tal modelo de


desenvolvimcnto " t " e ampliador das disparida
des rcqionais.
.8.

Passamos ento ã exoneração o Gen Albuquerque


Lima do cargo de Ministro e o seu
retorno ås fileiras do
Exército, na Diretoria Geral de Material
Bélico, estenden
do-nos até a doença do Presidente Costa e Silva, ou seja,
o "goipe d Eatado" dentro da "Revo lução" perpetrado pela
Junta Militar em setembro de 1969. Continuamos a
anlise
do processo politico intramilitar e militar-civil, sendo
que a primeira análise é prejudicada, em seu aprofundamen
to, por dois motivos: um deles e quc, como seu
retorno a
tropa, o Gen A. Lima nao poderia fazer uso dos meios de
comunicação da mesma maneira que lhe fora possivel guando
ainda estava no cargo de Ministro de Estado; 0 outro,

que uma rigorosa censura impusera-se sobre seu nome e seus

pronunciamentos o unico jornal a publicar seu discurso


de despedida do Ministerio foi o Estado de São Paulo. Te
mos então quc, como documento específico da corrente "Re

Doluci nris-Wtoiondiiata" neste periodo, contamos essen


cialmente com aquele intitulado Programa do Terceiro Go
verno Revolucionário, onde se encontram as propostas des

ta corrente quanto ao encaminhanento do processo "rcve tu


or irie ", o qual circulou em meios restritos durante
mes de agosto de 1969.

Por fim, nesta segunda parte, analisamos a per


manncia no poder da Junta Militar e a deflagração da cri
se militar decorrente da sucessão presidenc ial. De grande
interesse & a apresentação de documentos inedi tos e as
conclusões refercntes i não escolha do Gen A. Lima para a

Pres idênc ia da Repiblica, além da nceitação pacifica pela


1.9.

corrente "Revolucionário-Naeional ista" e pelo General, o


"esbulho" sofrido. 0s estudos sobre o assunto não aprofun
dam explicação de tal aceitação, sendo bem nitido o assom
bro de Fernando H. Catdoso (9) e a tranqüila omissão de

Portella (10), apesar de ambos terem enfatizado a importn


cia daguela corrente 'militar na época. Jå stepan (11), co
locou a cotiplexidade, da sociedade brasileira e a oposição
dos centros financeiros internacionais e da comunidade em
presarial paulista, como os grandes obstáculOs à "elgi
gao" do Gen A. Lima. Embora interessante e pertinente es

ta explicaçao, peca por enfatizar o nivel da problematica


que diz respeito aos possiveis aliados ou inimigos políti
cosie sociais das facções militarcs em pugna, os quais, a
nosso ver, na realidade, fundamentariam o poder dos mili

tares. Acontece que,


Gue se o poder dos militares fundamenta

-se em classes ou fraçõcs de classes sociais, a definição


desse poder cra monopolio da instituição militar. Dai

necessidade de uma abordagem mais profunda do processo po


1ftico intramilitar, das relacöes de forca entre as fac

ções militares, relações de carter politico e de caráter


eminentemente militarcomando de tropa, homens armados
disponiveis e sob sua chefia. A constataço e que a defi

nição o poder era monopQlio das Forças Armadas fica cla


ro, por exemplo, com a posição de humilde cspectador assu
mida pelo presidente da Aliança Renovadora Nacional, o se
nador gakcho Daniel Krieger, em relação ao processo de es
colha do novo Presidente da Repkblica, quando afirmou "aue
deria remalada cnll tieia da minha parte pens2r cm in tep

ferir nm problema que es tá reservado ao Alto Comando". (12)


.10.

Sintetizando, a anli se destes aspectos econo


micos , políticos e sociais do Governo Costa e
Silva desem
boca na anli se específica do posicíon amento e pape 1 da
corrente militar
to Governo.
"Revolueionárto-Naeionalista" dentro des
Como se deua aliança entre esta
corrente e
os mi litares que
apoiavam o Mar Costa e Silva? Como se

manteve esta aliança, e como paulatinamente, desintegrou


-se provoc ando atrítos e uma seria crise
militar? 0 resul
tado das "icigö a" intramí litares, além de explicitar a
forma de definição do poder ao nivel da
cipula, propician
do a manutenção da hierarguia e da estrut ura castrense,
coloca-nos por outro lado
algumas questões. Por que uma
corrente militar que parecia ter forte consenso e apoio
entre os militares, não con seguiu sair vitorios a destas
":loiöes"? Por que ao sair perdedora, sequer esboçou uma
tentativa mais seria de contestar tal resultado?

C bom realçar que o desenvolvimento deste capí


tulo primeiro e periferico em relação ao núcleo da disser
tação, e que desenvolvidas estas problematícas acerca do
período enfocado, julgamos possuir informações suficien
ces para lançarmos alguma luz sobre as condiçoes de produ

cão dos discursos do Gen A. Lima, as quais constítuem pre

mi ssa necessåria å prõpria possibilidade de ana lisar tais

discur'sos.

A part do lovantainento destos aspectos cconô

Inicos, oliticos s0ciais, pissanos ao nosso objctivo


central uc o do analisar a ideologia albuquerquísta,
pesqui slndo alquns pronunciamnLos, discursos c conferon
.11.

cias proferidas pelo Gen A. Lima. £ bom


ressaltar que, a
preocupaçao central dentro do "eorpua"
duas lexias essenciais, a noSso
selecionado é con
ver, do vocabulário poli
tico social da corrente ".
e
ou seja, "nacionaliamo" e
aimirid-iiomaliata",
"revoluoao".
Na terceira parte, apresentamos uma
peguena in
troduçao à qucestão nacional, discorrendo sobre alguns

picos na util1 zação do conceito
Nação. A partir aí, tra
çamos um breve historico do
nacionali smo no Bras il, ten
tando sintetizar algumas das principais correntes e pro
postas dos nacionalistas brasileiros ap×s
1930. Por fim,
desenvolvenos o nosso objetivo contral, ou seja, o estabe
lecimento do campo semntico das lexias "naciona lismo",
"revolpau" "lenocracia", visando à partir dai a detec
tar suas ligaçõcs "noetonaig" ou "temáticas", e finalmen
te os zquivalentes aprozinadoe". 0 propösito deste proce
dimento e a comprovação da hipótese
CAMPO SEM de que o
TICO DA LEXIA
NACIONALISMO, NO DISCURSO ALBUQUERQUISTA,
POSSIBILITA VERIFICARA SUPERAÇÃO DA OPOSIÇÃO DEMOCRACIA
X REVOLUÇÃO, oposição esta freqüente e constante nos dis
cursos dos ex-Presidentes milítares Castelo Branco e Cos
ta Silva.

Na quarta parte, pretendemos atraves da anli


se da lexia "euoluço" no di scurso albuquerquista, detec
tar possÉve1s mod 1ficações no emprego dsta lexia, ocorri

das paralelarmente a mudanças na conjuntura politica da é


UOc a. Para isso, anali sanos as conjunturas em que as fac

coes militarcs "RDplueiorari-zutenalista" e Hacetta


cstavan aliadas o apoi ando Governo Costa e S1lva, e
.l2,

em que tais correntes rompem a aliança e paSsam a díver

gir dentro da instituição militar, Fundamental para a via


bilização deste objetivo ¿ a utilização da orientação teó
rica proposta pela análise socio-lingiistica do iscurso,
auxiliada por uma técnica da anãlise de conteudoa co
-0corrëncia eo estabelecimento o campo semntico da
lexia "rcvoluçao".

O quadro teorico-metodologico gue orienta nos


so trabalho ½ perne ado por duas questoes que baseiam
mesmo. De um lado as possibilidades de analisar-se um dis

Curso sem faze-lo de modo intuitivo , mas sistem tico, con

tando com principios e tcnicas que a Lingüistica e a Anã


1ise de Contekdo nos permitem utilizar. Por outro lado,

hã a gquestäo de como encarar as relaçoes entre a institui

ção militar e o poder, as relações entre os militares, co


mo parte integrante e agente dentro de uma socieade e es
ta. Qual o papel e o posicionamento social da instituição
dentro da sociedade? Como se ã a interação, se ½ que e
xiste, entre os militares e a sociedade?

Em relaçao s questoes lingüisticas, a obra de

Eliseo verón (13) e fundamento teorico do presente traba


lho. De acordo com Edward Lopes e Eduardo Penuela Cañi

zal (14), "a maior partc a obra de Eliseo Veron se move


nos dominios fron teirigos da lingüistica, da semiologia,
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