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Monitoria do Modelo IS-LM-PC e MMEG

Caio G. V. Coutinho
(Caio.Coutinho@ufpe.br)

Universidade Federal de Pernambuco

4 de março de 2024
Sumário

1. IS-LM-PC
1.1 Lista 3: Questão 03

2. Modelo Microfundamentado de Equilíbrio Geral


2.1 Lista 4: Questão 03
2.2 Lista 4: Questão 05

3. Apêndice

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IS-LM-PC

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Questão 03.

Considere uma economia em seu equilíbrio de médio prazo em que o nível do produto,
Y0 , é igual ao potencial, Yn , e com taxa de juros real, r = rn , em que rn > 0 denota
a taxa neutra de juros. Suponha que a inflação esperada, π e é dada pela inflação
passada, π−1 . Chame esse cenário de A.

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i. Assuma que essa economia sofre um choque adverso causado pela Covid-19. As-
suma que o choque afeta negativamente o produto natural da economia. Em particu-
lar, considere que o nível de produto efetivo cai mais que o produto natural. Mostre
os efeitos sobre o produto, a inflação e o desemprego nessa economia se o BC mantém
a mesma política de juros de antes. Lembre de discutir (escrever) o passo a passo dos
efeitos. Chame esse cenário de B.

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No cenário B, mediante a contração da demanda agregada abaixo do produto
potencial sob um choque considerado persistente, deve ser imposto à economia um
crescimento do desemprego, pondo-o acima da taxa natural (NAIRU) e gerando ins-
tabilidade inflacionária. Dessa forma, tem-se uma corrida de preços e salários con-
sequente da perda do poder de barganha pelos indivíduos – devem demandar salá-
rios mais baixos, ao que os empregadores corresponderão ofertando seus produtos a
preços de reajustes menores. Assim, observa-se um processo de desacelaração da
inflação a partir do repasse aos preços pelos produtores, como mostra a Figura 1.

Y < Yn ⇒ u > un ⇒ ∆πt < 0

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ii. Assuma agora que o BC reage a esse cenário reduzindo os juros para o nível r1 =
rn′ > 0, em que rn′ corresponde à nova taxa neutra de juros. Suponha nesse cenário
que ao mesmo tempo que o BC implementa essa política, o Ministério da Economia
implementa o Auxílio Emergencial, transferindo renda para as famílias. Mostre os
efeitos sobre o produto, a inflação e o desemprego nessa economia. Lembre de discutir
(escrever) o passo a passo dos efeitos. Chame esse cenário de C.

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No cenário C, assumindo que tanto o Banco Central quanto o Ministério da
Fazenda gostariam de estabelecer o produto em seu potencial e não compactuaram
suas expansões monetária e fiscal, seria estabelecido sobre a economia uma pro-
dução acima do natural. Dessa forma, observar-se-ia uma queda do desemprego
abaixo de seu natural que permitiria um aumento de poder de barganha pelos in-
divíduos que passariam a demandar salários mais elevados, provocando reajustes de
preço maiores e a aceleração da inflação, como mostra a Figura 2.

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Figura 1: Choque de Demanda e Oferta Figura 2: Expansões Fiscal e Monetária Concomitantes

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iii. Assumindo que a economia esteja no cenário C, o que um BC preocupado com a
inflação poderá fazer? E se o BC estivesse preocupado com o nível da inflação?

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A partir do cenário C, caso o Banco Central deseje estabilizar a inflação
(mantê-la constante), deve promover uma política monetária contracionista ao
elevar a taxa de juros à nova neutra posterior à expansão fiscal, como na Figura 3.
Dessa forma, o desemprego seria levado ao seu nível natural (NAIRU), não acarre-
tando a corrida de salários e preços que levaria ao processo de aceleração da inflação.
Entretanto, caso o Bacen esteja preocupado com o nível da inflação, deve im-
plementar, uma política monetária agressiva, ao estabelecer a taxa de juros acima
da natural, como na Figura 4, contraindo a economia (abaixo de seu potencial) e pro-
vocando um processo desinflacionário. Por fim, devendo retornar à taxa de juros
neutra no nível de inflação que desejar.

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Figura 3: Política de Estabilidade Inflacionária Figura 4: Política de Nível Inflacionário

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Modelo Microfundamentado de Equilíbrio Geral

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Questão 03.

Suponha que a produtividade total dos fatores, z, afeta a produtividade da produção


governamental da mesma forma que afeta a produção privada. Ou seja, suponha que,
quando o governo arrecada impostos, ele adquire bens que são então transformados
em bens produzidos pelo governo de acordo com G = zT , de modo que z unidades
de bens governamentais são produzidas para cada unidade de imposto cobrado. Com
a configuração do governo G, um aumento em z implica que uma quantidade menor
de impostos é necessária para financiar a quantidade dada de compras do governo
G. Alternativamente, para um mesmo nível de impostos, os gastos podem ser mais
altos.

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i. Considere a situação em que o nível dos impostos é fixo num nível T̄ > 0 e G
é endogenamente determinado de acordo com G = z T̄ , ou seja, o governo sempre
satisfaz sua restrição orçamentária. Suponha que ocorra um aumento de produtivi-
dade. Utilizando o modelo gráfico, determine os efeitos de uma elevação de z sobre
a produção, consumo, emprego, o salário real e os gastos do governo. Explique seus
resultados.

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Satisfeita a restrição orçamentária do governo (ROG) e fixado o nível de tribu-
tação em T̄ , com a elevação da PTF é esperado um aumento de G (representado
graficamente pelo deslocamento para baixo da Fronteira de Possibilidade de Produ-
ção, FPP). Ademais, a capacidade de maior produção deve implicar a mudança na
inclinação da FPP, com as firmas ofertando salários reais mais elevados. Assim,
considerando que o efeito substituição é superior ao efeito renda, as famílias de-
vem trocar lazer por ainda mais consumo (o qual deve também crescer) ao decidirem
aumentar a oferta de emprego. Por fim, sabendo que, em equilíbrio, o produto
agregado é dado pela soma do consumo dos indivíduos e dos gastos governamentais
(ambos maiores que antes do choque positivo sobre z), Y também deve expandir.

↑z ⇒↑Y ⇒↑w ⇒↓ℓ ⇒↑N ⇒↑C

No modelo : ↑ z ⇒ ↑ G

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Figura 5: Choque Fiscal e de Produtividade em um MMEG

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ii. Considere a situação alternativa em que o nível dos gastos é fixo num nível Ḡ > 0
e T é endogenamente determinado de acordo com Ḡ = zT , ou seja, o governo sempre
satisfaz sua restrição orçamentária. Suponha que ocorra um aumento de produtivi-
dade. Usando o modelo gráfico, determine os efeitos de um aumento de z sobre a
produção, consumo, emprego, o salário real e os impostos. Explique seus resultados.

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Mantido constante o gasto governamental, com o choque sobre a produtividade
total dos fatores, é esperado que haja uma redução da carga tributária, permitindo
a expansão do consumo pelas famílias. Ademais, como outrora, através da melhora
da sua capacidade produtiva, as firmas devem ofertar salários reais mais elevados,
acarretando (ao considerar que o efeito renda é superior ao efeito substituição) a
redução do nível de emprego e elevação do tempo destinado a lazer. Por fim, espera-
se ainda um aumento do produto agregado com o crescimento de C.

↑z ⇒↑Y ⇒↑w ⇒↑ℓ ⇒↓N ⇒↑C

No modelo : ↑ z ⇒ ↓ T ⇒ ↑ C

Efeito Renda x Efeito Substituição

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Figura 6: Choque Fiscal e de Produtividade em um MMEG

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Questão 05.

Considere o modelo MMEG Analítico. Neste modelo as famílias escolhem consumo,


c, e lazer, ℓ, para maximizar uma função de utilidade:

c 1−γ − 1
U (c, ℓ) = + ℓ − Q̃ (1)
1−γ

Em que γ > 0 é um parâmetro e Q̃ é uma variável que representa os impactos negati-


vos da poluição sobre o bem-estar das famílias (externalidade negativa). O detalhe é
que as famílias tomam esse impacto como dado (exógeno) quando decidem consumo
e lazer. Ou seja, elas não levam em conta que, ao escolher consumo, poluem o meio-
ambiente.

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Cada família é dotada de h horas no total e esse tempo é dividido entre lazer
e trabalho, h = n + ℓ. Por simplicidade, assuma h = 1. A cada hora trabalhada,
elas recebem um salário real, w. As firmas produzem o único bem da economia de
acordo com a função de produção: y = zn, em que z é o nível da produtividade total
dos fatores. A quantidade de poluição na economia é função do nível de consumo,
Q̃ = ψc, em que ψ é um parâmetro.

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i. Resolva o problema descentralizado das famílias e firma, encontrando as quantida-
des ótimas de consumo c ∗ , lazer ℓ∗ , trabalho n∗ , produto y ∗ e salário real w ∗ .

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Dado que, mesmo com a existência no modelo de externalidades (a poluição),
a decisão dos consumidores não é distorcida, o problema descentralizado dessa
economia será determinado pelas otimizações (separadamente) de cada agente. Por-
tanto, ao considerar as famílias detentoras das firmas, suas restrições são:

1. Restrição temporal (h):


n+ℓ=1 (2)

2. Restrição orçamentária (RO):

c = w (1 − ℓ) + π (3)

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O problema das famílias será então:

max U (c, ℓ) w.r.t RO, h


{c,l}

A Função de Lagrange a partir das equações (1), (2) e (3) para a maximização
condicionada do lazer e do consumo será expressa como:

c 1−γ − 1
L= +ℓ−Q
e + λ [w (1 − ℓ) + π − c]
1−γ

First order conditions (F.O.C) para a relação de ótimos:

∂L (1 − γ) c 1−γ−1 1
= −λ=0⇒λ= γ
∂c 1−γ c

∂L 1
= 1 − wλ = 0 ⇒ λ =
∂ℓ w

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Igualados os multiplicadores de Lagrange:

1 1 cγ
λ=λ⇒ = ⇒ =w
cγ w 1

TMSl,c = w (4)

Outrossim, seja a função de produção (tecnologia) desta economia expressa ex-


clusivamente pelo insumo trabalho:

y = zn (5)

Dessa forma, o problema das firmas representativas desta economia é:

max π = y − wn w.r.t F(n)


{n}

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Aplicadas novamente as condições de primeira ordem:

∂π
=z−w =0⇒z =w
∂n

Pmg n = w (6)

Dessa forma, com a produtividade marginal do trabalho igual à taxa marginal de


substituição, através do salário real, demonstra-se que a Lei de Walras é satisfeita.
Ou seja, foram equilibrados os mercados de trabalho e bens, não deve há escassez ou
excessos. O problema reescrito em função de ℓ, igualando as equações (4) e (6):

Uℓ (zF (ℓ) , ℓ)
TMSℓ,c = Pmg n ⇒ = zFn (1 − ℓ)
Uc (zF (ℓ) , ℓ)

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−zFn (1 − ℓ) Uc (zF (ℓ) , ℓ) + Uℓ (zF (ℓ) , ℓ) = 0

Das derivadas parciais anteriores, encontra-se que:

−γ z
−zc −γ + 1 = 0 ⇒ −z [z (1 − ℓ)] = −1 ⇒ γ =1
[z (1 − ℓ)]

γ 1
[z (1 − ℓ)] zγ
=1⇒ℓ=1−
z z

Portanto, o tempo dedicado a lazer de equilíbrio:

1−γ
ℓ∗ = 1 − z γ

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Substituindo, então, o lazer ótimo nas outras variáveis endógenas para determi-
nar seus respectivos pontos de ótimo:
Da equação (2), tem-se o nível de emprego ótimo:

h 1−γ
i 1−γ
n = 1 − 1 − z γ ⇒ n∗ = z γ

Da equação (6), tem-se o nível de salário ótimo:

w∗ = z

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Da equação (4), tem-se o nível de consumo ótimo

1 1
c = (z) γ ⇒ c ∗ = z γ

E, da equação (5), tem-se o nível de produto ótimo:

 1−γ  1
y = z z γ ⇒ y∗ = z γ

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ii. Agora, resolva o problema do planejador social benevolente, encontrando as quan-
tidades ótimas de consumo ec , lazer ℓ,
e trabalho e
n, produto e
y . Note que, neste caso, o
planejador social leva em conta que a escolha de consumo afeta negativamente o
bem-estar das famílias. Ou seja, ele explicitamente considera o efeito na solução de
seu problema de otimização (usa Q
e = ψc). Compare as quantidades ótimas obtidas

nesta letra com as obtidas na letra a. Explique seus resultados. Assuma por hipótese
1
que (1 + ψz) γ > 1.

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Então, com o Planejador Social Benevolente (PSB) considerando os impactos
da poluição sobre a utilidade dos agentes e objetivando maximizar o bem-estar das
famílias restrito à produção da economia, c = y ou c = z (1 − ℓ), e à sua geração de
externalidades, Q e = ψz (1 − ℓ), tem-se o seguinte problema do PSB:
e = ψc ou Q

1−γ
[z (1 − ℓ)] −1
U (ℓ) = + ℓ − ψz (1 − ℓ)
1−γ

1−γ
(1 − ℓ) 1
max U = z 1−γ − + ℓ − ψz (1 − ℓ)
{ℓ} 1−γ 1−γ

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Aplicando as condições de primeira ordem (CPO):

1−γ−1
∂U (1 − l)
= − (1 − γ) z 1−γ + 1 + ψz = 0
∂ℓ 1−γ

−γ z 1−γ
−z 1−γ (1 − ℓ) + 1 + ψz = 0 ⇒ − γ = −1 − ψz
(1 − ℓ)
 γ1
z 1−γ z 1−γ

γ
(1 − ℓ) = ⇒ℓ=1−
1 + ψz 1 + ψz

Portanto, o nível ótimo de lazer desta economia:

1−γ
z γ
ℓ∗ = 1 − 1
(1 + ψz) γ

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Enfim, sob as mesmas substituições do item anterior, determinando os ótimos
das outras variáveis endógenas:

1−γ 1−γ
" #
z γ z γ
n=1− 1− 1 ⇒e
n= 1
(1 + ψz) γ (1 + ψz) γ

1−γ
" # 1
z γ zγ
y=z 1 ⇒e
y= 1
(1 + ψz) γ (1 + ψz) γ
1

c = y ⇒ ec = 1
(1 + ψz) γ
1
Constata-se, dessa forma, dado (1 + ψz) γ > 1, que aos impactos externos
do consumo serem incorporados à utilidade das pessoas, espera-se um aumento do
tempo dedicado ao lazer. Ou seja, havia um excesso de consumo e oferta de emprego.
Como consequência, deve haver ainda uma queda da produção desta economia.

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Apêndice

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Figura 7: Efeito Renda e Substituição sob um Choque Fiscal em um MMEG

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