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FRANK, ANDRE GUNDER


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BERLIM (ALEMANHA), 1929 - LUXEMBURGO (LUXEMBURGO), 2005
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Por Carlos Eduardo Martins

Andre Frank era filho de um novelista pacifista que o levou ao exílio na Suíça, aos quatro anos, para
escapar do nazismo, e se fixou a partir de 1940-1941 nos Estados Unidos, inicialmente em Hollywood.
Mais tarde Frank agregaria Gunder ao nome em razão do apelido – remetia ao corredor sueco Gundar
Haag – que lhe puseram os colegas de escola secundária.

Frank vivenciou fortes contrastes em sua vida pessoal: o ambiente hollywoodiano do trabalho do pai, o
aprendizado em escolas públicas, o trabalho nas fábricas ou em atividades de baixa remuneração, o estudo
em ciências econômicas numa universidade de elite (Swarthmore College, na Pensilvânia). Fez o
doutorado na Escola de Chicago, onde entrou em conflito com o enfoque neoliberal de seus professores,
entre eles Milton Friedman. Aprovado com distinção nos exames, foi convidado a se retirar do programa
por “incompatibilidade”. Retomou os estudos na Universidade de Michigan, mas abandonou-os por algum
tempo para tornar-se um beatnik na Califórnia. Reingressou na Universidade de Chicago por meio do
Centro de Investigação Bert Roselitz Sobre Desenvolvimento Econômico e Mudança Cultural. Escreveu
sua dissertação, em 1957, para o Departamento de Economia, sobre a produtividade na agricultura e
indústria da Ucrânia soviética.

Entre 1957 e 1962, foi conferencista e professor assistente em Michigan, Iowa e na Universidade Wayne
State (Michigan). Em 1960, iniciou viagem ao Terceiro Mundo, conhecendo Cuba, a convite de Che
Guevara, Gana e Guiné. Em 1962, tornou-se professor de teoria antropológica e participou da construção
da Universidade de Brasília (UnB), uma das primeiras fontes da Teoria da Dependência. Frank lecionou
com Theotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini e Vania Bambirra, inicialmente seus alunos.

No período brasileiro, polemizou com as teses dos partidos comunistas de linha soviética, com o
estruturalismo cepalino, com a teoria da modernização e com os neoliberais. Criticou a ideia de que o
desenvolvimento da América Latina devia estruturar-se em torno de uma burguesia industrial
progressista, afirmando que a região era capitalista desde suas origens coloniais, não havendo papel a
cumprir por uma “burguesia nacional”. Esta é integrada ao imperialismo e ao grande capital
internacional, que exerce um papel negativo e descapitalizador sobre a expansão da região, como analisou
no artigo As relações econômicas entre Brasil e Estados Unidos, de 1963. O subdesenvolvimento latino-
americano não deveria ser visto como expressão de sociedades tradicionais, mas como produto de sua
integração ao desenvolvimento da economia mundial, cuja expansão apenas poderia gerar, para os países
dependentes, o desenvolvimento do subdesenvolvimento. Segundo Frank, numa perspectiva própria,
influenciada pelo maoísmo, para os países dependentes, o desenvolvimento deveria se estabelecer com o
desligamento da economia mundial capitalista, em favor da organização paralela de uma economia
nacional e internacional socialista.

Da dependência ao sistema mundial


Com o golpe militar no Brasil, deslocou-se para o México em 1965, onde se tornou professor da Escola
Nacional de Economia da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), e para o Canadá, entre
1966 e 1968. Nesse ano integrou-se ao Departamento de Sociologia e à Faculdade de Economia da
Universidade do Chile (UC), onde se vinculou ao CESO.

Iniciou sua transição do enfoque da teoria da dependência à teoria do sistema mundial, com o artigo
Dependence is dead: Long live dependence and class struggle (1972). Para Frank, a teoria da
dependência não constituía alternativa política à dependência. A questão de sua liquidação deveria ser
posta no contexto da superação da acumulação mundial capitalista. Após o golpe militar chileno, dirigiu-
se para a Europa. Permaneceu no Instituto Max Planck, na Alemanha, entre 1974 e 1978; depois se
deslocou para Norwich, na Inglaterra, e fixou-se, entre 1983 e 1994, na Universidade de Amsterdã, na
Holanda.

Reorientação
Sua ênfase na análise do sistema mundial capitalista se expressou inicialmente em Acumulação mundial:
1492-1789 (1976) e Acumulação dependente e subdesenvolvimento: repensando a teoria da dependência
(1976), nos quais buscou entender sua longa duração, iniciada no século XVI. Declarou, em 1972, que a
economia mundial estaria ingressando em um ciclo Kondratiev depressivo, o qual levaria à reintegração
dos países socialistas nessa economia. Analisou a crise da economia mundial e da dívida externa e
apontou especificidades na ascensão dos Tigres Asiáticos em livros como Crisis in the world economy
(1980) e Crisis in the third world (1981).

Nos anos 1990, Frank radicalizou essa perspectiva. Abandonando os conceitos de modo de produção – por
seu suposto eurocentrismo –, defendeu a tese de que houve um único sistema mundial nos últimos 5 mil
anos, cujo protagonismo fora largamente asiático. Movido pela acumulação de capital e regido por
estruturas de centro e periferia e ciclos de 400 a 500 anos, o sistema mundial somente teria sido liderado
pelo Ocidente a partir do século XVIII. Nessa perspectiva escreveu ReOrient (1998), considerada por ele
sua obra máxima, na qual previu a recentralização asiática do sistema mundial no século XXI em torno da
liderança chinesa.

Polêmico, inquieto e provocativo, morreu aos 76 anos, deixando vasta obra composta de 36 livros e 880
artigos em 27 línguas.

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