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História Contemporânea:

Crises do
Mundo Capitalista
Material Teórico
O fim do socialismo e o capitalismo global

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Avelar Cezar Imamura

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
O fim do socialismo
e o capitalismo global

• Capitalismo global
• O fim do socialismo na União Soviética

·· Entender o processo do fim do socialismo da União Soviética, a nova configuração


das relações internacionais e o advento do capitalismo globalizado.

Caro(a) aluno(a),
Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, que lhe possibilitará conhecer o processo do
fim do socialismo da União Soviética, a nova configuração das relações internacionais e o
advento do capitalismo globalizado.
Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla
escolha, relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar
conhecimentos e debater questões no Fórum de Discussão.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos
em informações que possibilitarão o aprofundamento de seus estudos sobre o assunto.
Bons estudos!

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

Contextualização
Caro(a) aluno(a),
Para iniciar esta unidade, leia o texto a seguir:

Nenhum período da história foi mais penetrado pelas ciências


naturais e mais dependente delas do que o século XX
(HOBSBAWM, Eric. J. A Era dos Extremos: o breve século
XX. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996).

Oriente as suas reflexões pela seguinte questão:


1) Somos ou não somos dependentes da tecnologia?
Bons estudos!

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Capitalismo global

Introdução
A história do capitalismo após o “choque do petróleo” de 1973 é a de um mundo que
perdeu suas referências e mergulhou na instabilidade e na crise.

Saiba Mais
Choque do petróleo: foi desencadeado em 1973 num contexto de queda
da oferta do produto com o início do processo de nacionalizações e de uma
série de conflitos envolvendo os produtores árabes da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP), como a guerra dos Seis Dias (1967), a guerra
do Yom Kipur (1973), a revolução islâmica no Irã (1979) e a guerra Irã-Iraque
(a partir de 1980), além de uma excessiva especulação financeira. Os preços do
barril de petróleo atingiram valores altíssimos, chegando a aumentar até 400% em
cinco meses (de outubro de 1973 a março de 1974), o que provocou prolongada
recessão nos Estados Unidos e na Europa e desestabilizou a economia mundial.

Até a década de 1980 não estava claro como as bases da “era de ouro” do capitalismo do
século XX (1945-1970) haviam desmoronado. A natureza global da crise não foi reconhecida
e muito menos admitida nas regiões capitalistas desenvolvidas até depois que a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o Leste Europeu socialista desabaram inteiramente.
O crescimento econômico no mundo capitalista desenvolvido continuou num ritmo mais
lento do que durante a “era de ouro”. O crescimento do PIB das economias avançadas até
1991 foi interrompido por breves períodos de estagnação econômica nos anos de recessão de
1973-1975 e 1981-1983 (HOBSBAWM, 1996).
Os problemas sociais que tinham surgido nos países do capitalismo desenvolvido durante a
“Grande depressão”, como a pobreza, desemprego em massa, miséria, reapareceram depois
de 1973. O desemprego na Europa Ocidental subiu de uma média de 1,5% na década de
1960 para 4,2% na de 1970. No fim da década de 1980, estava numa média de 9,2% e 11%
em 1993 (HOBSBAWM, 1996).

Saiba Mais
Grande depressão: foi uma depressão econômica que teve início com a quebra
da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929 e que persistiu ao longo da década de
1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão
é considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX.
Esse período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego, queda
drástica do Produto Interno Bruto (PIB), queda na produção industrial, queda nos
preços das ações e em praticamente todo indicador de atividade econômica em
boa parte no mundo.

Já no final do século XX, o comércio internacional nos produtos da indústria, motor do


crescimento mundial, continuou e até mesmo se acelerou num ritmo comparável ao da “era de
ouro”. Os países do mundo capitalista desenvolvido se achavam mais ricos e mais produtivos

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

do que no início da década de 1970 e a economia global da qual ainda formavam o elemento
central estava muito mais dinâmica (HOBSBAWM, 1996).
No final do século XX, era impressionante o contraste entre a desintegração das economias
na região soviética no final do século XX e o espetacular crescimento da economia chinesa
no mesmo período. A China e a maioria do sul e sudeste da Ásia saíram da década de 1970
como a região econômica mais dinâmica da economia mundial, exceto o Japão do início da
década de 1990. Embora a economia mundial capitalista florescesse, ela não estava tranquila.

Crise do Welfare State no último quarto do século XX


Houve grandes mudanças no cenário político internacional e no capitalismo a partir dos
anos 1970 e, sobretudo, nos anos 1980.
Nos países do capitalismo desenvolvido, a eleição da Margareth Thatcher, em 1979, na
Inglaterra, inaugurou uma sequência de vitórias conservadoras: Ronald Reagan, nos EUA, em
1980; Helmut Khol, na Alemanha, em 1982, Poul Schluter na Dinamarca, em 1983, e, em
seguida, quase todos os países do norte da Europa ocidental, com exceção da Suécia e da
Áustria, também tiveram governos conservadores (FRIEDMANN, 2008).
O programa econômico e político que dominou esse novo cenário conservador foi o neoliberalismo.
O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial e foi uma reação teórica e política
contra o Welfare State. Seu escrito de origem é “O Caminho da Servidão”, de Friedrich
Hayek (1899-1992), publicado em 1944. Trata-se de um ataque contra qualquer limitação dos
mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciados como uma ameaça fatal à liberdade,
não somente econômica, mas também política. O neoliberalismo só veio a se tornar hegemônico
no mundo depois da crise do modelo capitalista do Welfare State após a década de 1970.
São algumas características da política neoliberal:
a) a base da economia deve ser formada por empresas privadas.
b) mínima participação estatal nos rumos da economia de um país.
c) pouca intervenção do governo no mercado de trabalho.
d) política de privatização de empresas estatais.
e) livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização.

Saiba Mais
Welfare State: ou Estado do bem-estar social é um tipo de organização política e
econômica que coloca o Estado como agente da promoção social e organizador
da economia. Nessa política, o Estado é o agente regulamentador de toda vida
social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas
privadas. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção
à população. Os Estados de bem-estar social desenvolveram-se principalmente
na Europa após a Segunda Guerra Mundial e os seus princípios foram defendidos
por partidos social-democratas. Foi implementado com maior intensidade nos
países nórdicos tais como Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia.

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Na década de 1960, os gastos com Seguridade social eram bastante elevados em muitos
dos países capitalistas desenvolvidos e revela que o Welfare State já estava consolidado. Já no
final da década de 1970, a média dos gastos com seguridade social foi reduzido pela metade.
Vamos tomar como exemplo a Suécia: entre 1965-1970 o crescimento anual com gastos em
seguridade social foi de 10,2%; entre 1970-1975 foi de 9,6%; entre 1975-1981 foi de 4,4%.

Seguridade social: consiste num conjunto de políticas sociais


cujo fim é amparar e assistir o cidadão e a sua família em
situações como desemprego, doença e velhice.

Diante da grave crise econômica dos anos 1970, onde a estagnação e a inflação se
agravavam, as correntes neoliberais passaram a acusar o Estado como o grande vilão da crise.
A tese dos conservadores era de que a crise do Welfare State levava à crise econômica.
Nos países desenvolvidos ocidentais, os primeiros sinais da crise do Welfare State estão
relacionados à crise fiscal do Estado provocada pela dificuldade cada vez maior de conciliar os
enormes gastos públicos com a estagnação da economia capitalista.
Encerravam-se assim a “era de ouro” do capitalismo de pós-Segunda Guerra Mundial. Logo
em seguida a essa crise, que atingiu os países europeus de governo social-democrata, veio a
crise do socialismo soviético com a queda do muro de Berlim em 1989 e o fim do socialismo
na URSS em 1991. O capitalismo finalmente estava livre da ameaça do socialismo.

Fonte: Wikimedia Commons

O início dessa era neoliberal do capitalismo nos anos 1980 coincidiu também com um
conjunto de inovações tecnológicas: microeletrônica, informática, internet, novas formas de
conectividade via computador, celular, engenharia genética, nanotecnologia etc. O capitalismo
sofreu grandes transformações que foram chamadas de globalização.

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

Tecnologias da informação e da comunicação


Esse sistema tecnológico em que estamos totalmente imersos no século XXI surgiu nos
anos 1970. Devido à importância de contextos históricos no desenvolvimento tecnológico
vamos recordar algumas datas associadas a descobertas básicas nas tecnologias da informação
e da comunicação.
O grande avanço na difusão da microeletrônica em todas as máquinas ocorreu em 1971
quando o engenheiro da Intel, Ted Hoff, inventou o microprocessador, que é o computador
em um único chip. Assim, a capacidade de processar informações poderia ser instalada em
todos os lugares (CASTELLS, 2005).

O microcomputador foi inventado em 1975 e o primeiro


produto comercial de sucesso, o Apple II, foi introduzido em
abril de 1977.

Uma condição fundamental para a difusão dos


microcomputadores foi preenchida com o desenvolvimento
de um novo software adaptado a suas operações. O software
para PCs surgiu com Bill Gates e Paul Allen que adaptaram o
BASIC para operar a máquina Altair em 1976. Ao perceber
o potencial, eles prosseguiram e fundaram a Microsoft,
que transformou seu predomínio em software de sistemas
operacionais no predomínio em software para o mercado de
Fonte: Wikimedia Commons microcomputadores (CASTELLS, 2005).

Saiba Mais
BASIC: do inglês Beginner’s All-purpose Symbolic Instruction Code; em
português Código de Instruções Simbólicas de Uso Geral para Principiantes,
é uma linguagem de programação criada com fins didáticos pelos professores
John George Kemeny e Thomas Eugene Kurtz em 1964 no Dartmuth College.
BASIC também é o nome genérico dado a uma grande família de linguagens de
programação derivadas do BASIC original.
Altair: o MITS Altair 8800 é um computador pessoal que foi projetado em 1975.

As telecomunicações também foram revolucionadas pela combinação das tecnologias


de “nós” (roteadores e comutadores eletrônicos) e novas conexões (tecnologias de
transmissão). O primeiro comutador eletrônico produzido industrialmente foi introduzido
pela Bell Laboratories, em 1969. Em meados dos anos 1970, os avanços da tecnologia em
circuitos integrados possibilitaram a criação do comutador digital, aumentando a velocidade,
potência e flexibilidade com economia de espaço, energia e trabalho, em comparação com
os dispositivos analógicos.
Avanços importantes em optoeletrônica (transmissão por fibra ótica e laser) e a tecnologia
de transmissão por pacotes digitais promoveram um grande aumento da capacidade das linhas
de transmissão. A fibra ótica foi produzida em escala industrial pela primeira vez pela Corning
Glass, no início da década de 1970.

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A criação e o desenvolvimento da Internet nas três últimas décadas do século XX foram
consequência de uma fusão entre estratégia militar, cooperação científica, iniciativa tecnológica
e inovação contracultural. Foi em 1969 que a ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada
do Departamento de Defesa Norte-Americano) instalou uma nova e revolucionária rede
eletrônica de comunicação que se desenvolveu durante os anos 1970 e veio a se tornar a
Internet (CASTELLS, 2005).

A economia global
Embora o modo capitalista de produção seja caracterizado por sua expansão contínua,
sempre tentando superar limites temporais e espaciais, foi apenas no final do século XX
que a economia mundial conseguiu tornar-se verdadeiramente global com base na nova
infraestrutura proporcionada pelas tecnologias da informação e da comunicação e com a
ajuda das políticas de flexibilização e de liberalização postas em prática pelos governos e pelas
instituições internacionais.
A economia global é uma nova realidade histórica bem diferente de uma economia mundial.
Economia mundial é uma economia em que a acumulação de capitais avança pelo mundo
todo e existe, no Ocidente, pelo menos desde o século XVI. Uma economia global é algo
diferente, é uma economia com capacidade de funcionar como uma unidade em tempo real e
em escala planetária (CASTELLS, 2005).
Podemos afirmar que existe uma economia global porque as economias de todo o mundo
dependem do desempenho de seu núcleo globalizado. Esse núcleo globalizado contém os
mercados financeiros, o comércio internacional e a produção transnacional. É por intermédio
desses componentes estratégicos globalizados da economia que o sistema econômico se
interliga globalmente.

Mercados financeiros globais


Os mercados de capitais são globalmente interdependentes. O capital é gerenciado vinte
e quatro horas por dia em mercados financeiros globalmente integrados e funcionando em
tempo real pela primeira vez na história.
As transações no valor de bilhões de dólares são feitas em questão de segundos, através da
internet por todo o planeta. As novas tecnologias permitem que o capital seja transportado
de um lado para o outro entre economias dos países em curtíssimo tempo, de forma que
o capital, poupança e investimentos estão interconectados em todo o mundo. Os fluxos
financeiros tiveram um crescimento impressionante em volume, velocidade, complexidade e
conectividade (CASTELLS, 2005).
Um acontecimento essencial na globalização financeira é o volume impressionante do
comércio de moedas, que condiciona o câmbio entre as moedas dos países, corroendo a
autonomia dos governos nas políticas monetárias e fiscais.
A rotatividade diária dos mercados de divisas ao redor do mundo em 1998 chegou a
US$ 1,5 trilhão, revelando assim a natureza predominantemente especulativa do câmbio de
moedas (CASTELLS, 2005).

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

Globalização do comércio
O comércio internacional é, historicamente, o elo principal entre as economias nacionais.
A importância do comércio internacional no processo atual de globalização é menor do
que a da integração financeira e do que a da internacionalização dos investimentos e da
produção internacional. Ainda assim, o comércio ainda é um componente fundamental da
nova economia global (CASTELLS, 2005).
O comércio internacional cresceu substancialmente nos últimos trinta anos do século XX,
tanto em volume quanto em percentagem do PIB, tanto para países desenvolvidos quanto
para países em desenvolvimento.
O comércio de bens manufaturados representa o núcleo do comércio internacional
em contraste com o predomínio de matérias-primas nos padrões anteriores do comércio
internacional. Desde a década de 1960, o comércio de manufaturados representa a maior
parte do comércio mundial, compreendendo três quartos de todo o comércio de fins da década
de 1990.
A construção de uma infraestrutura de transporte e telecomunicações está ajudando
a globalização dos serviços empresariais. Em meados da década de 1990, estimava-se
que o valor do comércio de serviços estava acima de 20% do comércio total mundial
(CASTELLS, 2005).

A globalização da produção
Durante a década de 1990, houve um processo acelerado de internacionalização de
produção, da distribuição e da administração de bens e serviços.
Os investimentos estrangeiros diretos (IED) estão associados à expansão das empresas
multinacionais como principais produtoras da economia global Os investimentos estrangeiros
diretos aumentaram quatro vezes entre 1980 e 1995, consideravelmente mais depressa do
que a produção mundial e o comércio mundial. (CASTELLS, 2005).
As multinacionais e suas redes de produção são o vetor da internacionalização da produção.
A expansão do comércio mundial é resultado da produção das multinacionais, já que elas
representam cerca de dois terços do comércio mundial.
As empresas com sede nos países desenvolvidos estão presentes em todo o mundo em
desenvolvimento: em fins da década de 1990, as multinacionais representavam cerca de 30%
da manufatura doméstica na América Latina e entre 20% e 30% da produção da China
(CASTELLS, 2005).
As multinacionais são, cada vez mais, redes descentralizadas e organizadas em unidades
semiautônomas, variando segundo os países, os mercados, os métodos e os produtos.
O processo produtivo incorpora componentes produzidos em vários locais diferentes,
por diferentes empresas, e montados para atingir finalidades e mercados específicos em
uma nova forma de produção e comercialização: produção em grande volume, flexível e
por encomenda.

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OMC e a globalização
Dentro do atual contexto de globalização internacional, a Organização Mundial do Comércio
(OMC), criada em janeiro de 1995, é a base do novo sistema internacional do comércio.
O acordo que criou a OMC estabeleceu os objetivos da nova organização: a área do comércio
e as atividades econômicas devem ser conduzidas para a melhoria do padrão de vida das pessoas,
assegurando o pleno emprego e um crescimento da renda real e expandindo a produção e o
comércio de bens e serviços através do desenvolvimento sustentável, procurando proteger e
preservar o ambiente.
Para atingir esses objetivos é preciso a liberalização do comércio de bens e de serviços,
principalmente através da queda das barreiras comerciais impostas pelos países.
A criação da OMC foi significativamente marcada por alguns fatores do novo cenário
internacional dos anos 1990:
a) o fim do modelo bipolar das relações internacionais e sua substituição por um
modelo multipolar;
b) a nova reorganização econômica dos países em acordos regionais de comércio, como o Mercosul;
c) o papel das empresas multinacionais no comércio internacional;
d) o fim das fronteiras entre os países para o comércio internacional derivado do fenômeno
da globalização (FRIEDMANN, 2008).
A OMC respondia a dois interesses fundamentais dos países do capitalismo desenvolvido e
as suas grandes empresas: ampliar a liberalização comercial no mundo e alargar o conceito de
comércio internacional. No livre-comércio de hoje estão também incorporados o comércio de
serviços, os investimentos externos e a proteção aos direitos intelectuais.

Globalização e relações de trabalho


No capitalismo globalizado, surge outro modelo nas relações entre capital e trabalho cujos
elementos constitutivos seriam:
a) a perda de importância do trabalho humano com crescente substituição pela tecnologia;
b) uma nova divisão da força de trabalho, com um pequeno núcleo de trabalhadores
estáveis, protegidos, com bons salários e qualificação profissional e uma grande massa
de trabalhadores instáveis, com alta rotatividade, terceirizada ou informal;
c) maior instabilidade no emprego como resultado da flexibilização e desregulamentação
dos direitos trabalhistas;
d) barateamento do custo da mão de obra (FRIEDMANN, 2008).
A crise econômica internacional dos anos 1970 desencadeou uma série ataques por parte
das empresas a tudo o que tinha contribuído para aumentar o custo do trabalho no capitalismo
do pós-Segunda Guerra Mundial (1945-1970) de forma a aumentar a taxa de lucro que lhes
permitissem sair da recessão. Foi o que a política neoliberal fez ao atacar o Welfare State, a
combater os sindicatos e a questionar os direitos trabalhistas.

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

O fim do socialismo na União Soviética

Estagnação econômica da União Soviética


O período que vai do golpe que afastou Nikita Kruchev do
poder em outubro de 1964 até o começo da Perestroika de Mikhail
Gorbatchev, em março de 1985, o sistema político e econômico
soviéticos acumulavam sérios problemas e já indicavam um processo
de estagnação econômica.
No entanto, no terreno da geopolítica internacional esse foi um
período de grande expansão da influência soviética. A União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) havia saído na frente na
corrida espacial e manteve liderança nessa área durante parte da
Fonte: Wikimedia Commons década de 1960.

Fonte: Wikimedia Commons

Já nos anos de 1970, a URSS se rivalizou com os EUA na capacidade atômica, podendo
levar os seus mísseis nucleares e bombardeiros estratégicos ao território americano e destruir
as principais cidades ocidentais. Isso conferia à URSS grande poder de dissuasão e segurança
contra uma ameaça externa (RODRIGUES, 2006).
Na guerra do Vietnã (1955-1975), a URSS esteve por trás do fornecimento de armas aos
guerrilheiros norte-vietnamitas e o conflito terminou em derrota dos EUA em 1973.

Fonte: Wikimedia Commons

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Na África, boa parte dos países que se tornaram independentes após a década de 1950,
guiava-se pelos modelos de planejamento estatal com fornecimento de materiais soviéticos
para acelerar seu desenvolvimento econômico.
Muitos países asiáticos e dos países latino-americanos utilizaram-se das técnicas de
planejamento centralizado e dos planos quinquenais para acelerar sua industrialização a partir
da metade do século XX.
O prestígio da URSS e sua influência pareciam não parar de crescer, o que aumentava a
fobia anticomunista e fornecia argumentos aos setores mais extremistas do Ocidente para
justificar novas iniciativas armamentistas destinadas a conter a expansão da URSS.
Em função da Guerra Fria, tornou-se comum no Ocidente depreciar os avanços da
economia da URSS após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, no período que vai do
início da década de 1950 até o final dos anos 1960, o PIB soviético seguiu crescendo
mais rapidamente que a maioria dos países capitalistas centrais com exceção do Japão
(RODRIGUES, 2006).

Mesmo ao final do período de Leonid Brejnev, no final


dos anos 1970 para os 1980, autoridades soviéticas ainda se
vangloriavam de que a URSS apresentaria volumes de produção
consideravelmente maiores que os dos EUA para a indústria
pesada: 80% mais aço, 78% mais cimento, 42% mais petróleo
(RODRIGUES, 2006).
Em termos de volume de produção, a URSS seguiu se
expandindo pelo menos até meados da década de 1970 e
apresentou avanços na tecnologia aeroespacial e aeronáutica.
Também demonstrou progressos significativos na produção de
equipamentos para extração de petróleo e carvão, na invenção
de novos métodos utilizados para a siderurgia e na construção de
grandes hidrelétricas.
Fonte: Wikimedia Commons
Constatada a situação de crise no início da década de 1980 foi
preciso explicar as razões da desaceleração da economia soviética. Em seu informe perante
a sessão plenária do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética de 11 de
junho de 1985, Mikhail Gorbatchev denunciou o que se seriam as principais mazelas da
economia soviética: atraso tecnológico; desperdício crescente de matérias-primas e energia;
baixa qualidade de muitos produtos industriais, que acarretava sua baixa competitividade
no mercado mundial; baixo rendimento dos investimentos, excessivos e em grande parte
efetuados em obras inacabadas e uma planificação desequilibrada e crescentemente
desarticulada (RODRIGUES, 2006).
Esses problemas por não terem sido enfrentados anteriormente, conduziram a uma situação
assustadora de estagnação no início da década de 1980. A burocracia soviética, alarmada com
a gravidade da situação, sabia que o sistema político e seu mecanismo econômico precisavam
de reformas urgentes. A resposta dos dirigentes soviéticos a tais problemas vieram através da
Perestroika (reconstrução) e da Glasnost (transparência).

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

Perestroika e Glasnost
A URSS chega ao início da década de 1980 em uma situação bastante delicada.
Dificuldades econômicas e sérios conflitos sociais ocorriam desde a segunda metade dos anos
1970 nos países do bloco, especialmente na Polônia, onde imensas mobilizações operárias
desafiaram o poder do partido comunista local e deram origem ao sindicato Solidariedade
(RODRIGUES, 2006).
Mas foi somente a partir de 1985 que o grande público ocidental tomou conhecimento
da grave crise pela qual passava a URSS, quando foi anunciado um programa de reformas
econômicas, a Perestroika, e de reformas políticas no sistema, a Glasnost, que projetou
Gorbachev como personalidade mundial.

Com a morte de Konstantin Tchernenko (1901-1985), que


teve um governo bastante breve, de um ano, o Comitê Central
do Partido Comunista elegeu um novo secretário-geral: Mikhail
S. Gorbachev em 11 de março de 1985, um líder do partido
mais jovem, dinâmico e brilhante.
No posto, inaugura diversas reformas e campanhas, que ao
longo do tempo conduziria o país a uma economia de mercado,
ao fim do monopólio do poder central do Partido comunista da
União Soviética e, posteriormente, à desintegração da URSS.
A Perestroika foi uma resposta da burocracia soviética à grave
Fonte: Wikimedia Commons crise econômica e social instalada na URSS nos anos 1980.
Alguns dos fatores que impuseram essa reação da liderança soviética foram: a estagnação
da economia, o esgotamento do modelo estatal de crescimento econômico, o atraso
tecnológico cada vez maior em relação ao Ocidente, a diminuição da qualidade de vida,
a crise de desmotivação, a degradação moral e o grande fardo das despesas militares
(RODRIGUES, 2006).
Reverter a contínua diminuição do ritmo de crescimento econômico, a estagnação e
modernizar o aparelho produtivo, o sistema de gestão e superar a diferença tecnológica em
relação ao Ocidente eram alguns dos objetivos da Perestroika. Reduzir o imenso peso dos
gastos militares, que sufocavam a economia da URSS e impediam a modernização do conjunto
do mecanismo produtivo e o atendimento das demandas sociais, era outro objetivo essencial
(RODRIGUES, 2006).
No início do processo da Perestroika, a existência de forças interessadas em reintroduzir
uma economia capitalista na URSS ainda não estava evidente.
Em uma primeira fase, entre 1985 e meados de 1986, Gorbachev tentou uma reforma
limitada que tentava reverter os problemas sociais mais visíveis do sistema e elevar a produtividade
através de campanhas contra a corrupção, o alcoolismo e a indisciplina no trabalho.
Com a resistência dos conservadores à Perestroika, o governo de Gorbachev entraria numa
segunda fase, a partir da segunda metade de 1986, na qual as reformas econômicas seriam de

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agora em diante acompanhadas de apelos à democratização da vida pública, ao envolvimento
da população. Assim nasceu a Glasnost, um conjunto de reformas políticas apresentado como
precondição para a Perestroika (RODRIGUES, 2006).
Depois de acusar que havia setores da sociedade apegados ao velho e que resistiam às
mudanças, Gorbachev afirma que a própria Perestroika só pode ser consumada através
da democracia.
A imprensa, que sempre foi amordaçada e oficial, passará a cumprir, com a liberalização política
do período Gorbachev, um papel crítico fundamental para a destruição do sistema burocrático.
Talvez pela insegurança dos reformistas mais radicais e pela absoluta falta de clareza desses
sobre como se daria o processo a Perestroika avançou muito pouco entre 1985 e 1986.

Em fins de abril de 1986, acontece então a explosão do reator


da usina nuclear de Chernobyl (Ucrânia). O desastre revelou
para o mundo e para os povos da URSS a situação precária do
equipamento soviético. Uma comoção mundial e um grande abalo
para o prestígio internacional da URSS (RODRIGUES, 2006).
Foi depois de Chernobyl que a palavra Glasnost seria conhecida
no mundo e teria sua tradução melhor esclarecida: transparência,
visibilidade, publicidade, direito à informação sobre os fatos e
sobre os atos políticos e administrativos do governo.
Fonte: Wikimedia Commons O aspecto da Glasnost que mais teve impacto no Ocidente foi
sem dúvida a liberalização da imprensa e da criação cultural. Nesse acidente, houve ampla
publicidade sobre o acontecimento. As imagens da catástrofe, transmitidas agora sem censura
para o mundo e também para dentro da URSS. Na sequência, outras alterações também foram
feitas na legislação no sentido de conceder mais liberdade à imprensa (RODRIGUES, 2006).
As reformas econômicas seriam aceleradas a partir daí. Foi aprovada uma lei em 19 de
novembro de 1986, para entrar em vigor no ano seguinte sobre o trabalho individual privado,
limitada aos domínios comercial, artesanal e de alguns serviços. Autorizava a atividade
profissional individual desde que não se contratassem assalariados. Foi uma primeira abertura
na estatização generalizada da atividade econômica. O resultado da legalização desses pequenos
serviços parece ter sido bastante dinamizador para a economia.
Em junho de 1987, o Comitê Central do Partido Comunista aprovou uma nova lei sobre
a empresa estatal, que tratava da autonomia da empresa. Deveria entrar em vigor em 1º de
janeiro de 1988. Por ela, as empresas soviéticas seriam submetidas a uma revisão radical
de sua gestão econômico-financeira. Deixariam de se guiar apenas pelo cumprimento das
metas ou valor global da produção e passariam a ser avaliadas pelos lucros que conseguissem
e pela qualidade dos produtos. A prioridade agora seria aumentar a produção de bens de
consumo (RODRIGUES, 2006).
Entre 1987 e 1991, à medida que o caos na economia se implantava, setores da cúpula
da burocracia estatal e do partido, do complexo militar-industrial e do petróleo ofereceram
resistência cada vez mais forte às orientações da Perestroika.

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

A desarticulação da economia, a queda na produção e a escassez de produtos, criaram um


clima de “salve-se quem puder”, abrindo uma corrida desesperada feita pela população, pelas
empresas, regiões e repúblicas, para a obtenção de mantimentos, materiais e suprimentos,
gerando a estocagem ilegal de produtos, mais especulação e inflação. Essa situação ampliou
ainda mais o espaço para que as máfias emergissem e passassem a controlar grandes fatias do
comércio de bens e serviços.
Depois de instalada a crise, por volta de 1990, a divisão entre reformistas e conservadores
atravessava todos os principais ramos da burocracia: a do partido; a do Estado; a do Exército;
a da KGB e demais órgãos de segurança; a burocracia das empresas; a das organizações de
massa; e a dos organismos culturais (RODRIGUES, 2006).
A perda do controle das reformas por Gorbachev em 1989-1990 explicava seu giro em
direção aos conservadores no final de 1990 e a nomeação de uma equipe, da qual boa parte
dos membros iria estar na cabeça da tentativa de golpe conservador em 1991.

Fim da União Soviética


Ao fim do primeiro semestre de 1991, enquanto a popularidade
de Gorbachev caía, subia ainda mais a popularidade de Boris Ieltsin.
Através de eleições baseadas no sufrágio universal, realizadas em
12 de junho de 1991, Ieltsin foi escolhido presidente da República
Russa, a maior república da União Soviética, o que lhe conferia uma
representatividade enorme.
Ieltsin imediatamente usou a legitimidade e o poder que lhe foram
conferidos pela eleição para tentar derrubar a estrutura da União
Soviética. Passou a declarar que os impostos arrecadados na República
Russa, bem como seus recursos naturais, pertenciam à Rússia e não
Fonte: Wikimedia Commons
à União Soviética. Como um esperto político populista continuou,
entretanto, debatendo a respeito do novo tratado da União Soviética, provavelmente ainda
por insegurança sobre o desfecho final do processo.
No início de agosto de 1991, a imprensa havia publicado a última versão da proposta de
Tratado da União. A Federação Russa, o Uzbequistão e o Cazaquistão foram convocados e
deveriam assinar o acordo através de seus presidentes no dia 20 de agosto. Exatamente um
dia antes, entretanto, a ameaça de golpe concretizou-se (RODRIGUES, 2006).
Em 19 de agosto de 1991, os golpistas partiram para o golpe. Nos meios de comunicação
anunciaram a constituição de um Comitê Estatal de Emergência, que assumia o poder em
virtude de uma suposta doença de Gorbachev, que o estaria impossibilitando de continuar
governando a URSS.
Os sete membros do Comitê golpista pertenciam todos ao comitê central do PCUS.
Decretaram a censura sobre os meios de comunicação, pondo fora de circulação a maioria
dos jornais do país, e colocaram no centro de Moscou duas divisões de tanques de guerra.

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O golpe foi facilmente derrotado menos pela força da pequena resistência e mais pela
debilidade do próprio setor golpista.
Uma consequência imediata da derrota do golpe foram as medidas tomadas por Ieltsin de
dissolver o PCUS e seu comitê central, fechar suas sedes, cassar sua existência legal, além de
confiscar seus bens.
No dia 1º de dezembro de 1991, em um novo plebiscito, a população da Ucrânia, que
representava algo em torno de um quarto da economia total da antiga URSS, foi chamada a
votar e deu 90% dos votos a favor da separação.
No dia 9 de dezembro de 1991, em reunião realizada em Minsk (Bielorrússia), os presidentes
da Rússia, Boris Ieltsin, da Bielo-Rússia, Stanislav Shushkevitch e da Ucrânia, Leonid Kravtchuk
selaram um acordo no qual declaravam que URSS e seu Estado estavam extintos e anunciavam
a constituição de uma nova Comunidade de Estados Independentes, CEI, aberta às repúblicas
que constituíram a URSS. Gorbachev nem sequer foi consultado em tal arranjo. Com exceção
da Geórgia, todas as demais repúblicas se associaram à nova comunidade (RODRIGUES, 2006).
Gorbachev ainda se movimentou e reivindicou um assento na CEI como presidente da
URSS. Mas já não havia lugar para ele entre os novos países surgidos da fragmentação da
União Soviética.
Em 21 de dezembro de 1991, os dirigentes de 11 repúblicas reunidas em Alma-Ata, no
Cazaquistão, formalizaram a fundação da nova Comunidade e enviaram a Gorbachev um
comunicado informando-lhe que tanto a URSS como suas funções simplesmente haviam
deixado de existir.
Na noite de 25 de dezembro de 1991, em pronunciamento transmitido pela televisão,
Mikhail Gorbachev tornou pública a sua renúncia à presidência da URSS, país que na verdade
não existia mais.
Terminava assim uma das mais ousadas e grandiosas experiências de transformação social
da história humana e que marcou decisivamente a evolução do Século XX e a vida de quase
todos os países e gerações. O que parecia inacreditável e impossível até alguns anos antes
aconteceu, ao final de 1991 a URSS acabou (RODRIGUES, 2006).

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

Material Complementar

Vídeos:
Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta unidade, veja o seguinte vídeo
no Youtube:
Milton Santos – o mundo global visto de cá – do cineasta Silvio Tendler.
https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM

Livros:
HOBSBAWM, Eric. J. A Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. 2. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Ambos enriquecerão sua compreensão sobre os aspectos econômicos, históricos e políticos


do capitalismo global e do fim da União Soviética.
Bom estudo!

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Referências

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX. 2. ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 1996.

RODRIGUES, Robério Paulino. O colapso da URSS: um estudo das causas. São Paulo: 2006.
Tese de Doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo.

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Unidade: O fim do socialismo e o capitalismo global

Anotações

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