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Artigo-Maria Aparecida
Artigo-Maria Aparecida
1 Apresentação do artigo
A partir dos anos 60, a atenção dos pesquisadores voltou-se para o uso e o
funcionamento lingüístico com implicações que são próprias às condições de
produção real da língua, ou seja, para a atividade discursiva com todos os
fatores nela envolvidos. Com freqüência, passa-se a falar em linguagem mais
do que em língua. Passaram a integrar os estudos lingüísticos – "Lingüística"
entendida agora num sentido macro – , além dos anteriormente citados, temas
como: contexto, falante, ouvinte, referente, enunciado, enunciador, espaço de
interação, fatores socioculturais, entre outros. Algumas das áreas surgidas a
partir de então (não necessariamente nesta ordem) foram: semântica
argumentativa, sociolingüística, psicolingüística, pragmática, lingüística textual,
análise do discurso, análise da conversação, lingüística histórica (numa
perspectiva diferente da do séc. XIX), lingüística aplicada (no seu início,
entendida como subárea da Lingüística).
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diárias. Afinal, a linguagem é o maior empreendimento conjunto do ser humano
e não pode ser cercado de um lado apenas.”
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construção das funções psíquicas da criança foi vinculada à apropriação da
cultura humana, por meio de relações interpessoais na sociedade à qual
pertence. A criança se desenvolve à medida que, orientada por adultos ou
companheiros, se apropria da cultura elaborada pela humanidade. A
linguagem é um fator importante para o desenvolvimento mental da criança,
exercendo uma função organizadora e planejadora de seu pensamento, ao
mesmo tempo que lhe permite interagir socialmente e adquirir conceitos sobre
o mundo que a rodeia, apropriando-se da experiência acumulada pela
humanidade no decurso da história social.
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Moita Lopes (1996, p. 114), a respeito dessa visão interdisciplinar da LA,
afirma:
O lingüista aplicado, partindo de um problema com o qual as
pessoas se deparam ao usar a linguagem na prática social e
em um contexto de ação, procura subsídios em várias
disciplinas que possam iluminar teoricamente a questão em
jogo, ou seja, que possam ajudar a esclarecê-la.
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pragmaticamente seus significados culturais e, com eles, os
modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a
realidade e a si mesmas. Interagir pela linguagem significa
realizar uma atividade discursiva: dizer alguma coisa a alguém,
de uma determinada forma, num determinado contexto
histórico e em determinadas circunstâncias de interlocução.
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pedagógico. O foco das pesquisas é sociocultural, discursivo e
psicológico;
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qualquer ciência. Aceita-se uma multiplicidade de métodos de investigação,
sendo esses métodos variáveis de ciência para ciência.
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considerados “científicos” e contribuiu significativamente para a discussão
sobre o tema. 1
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A noção de quebra de paradigma foi estabelecida por Thomas Kuhn, filósofo da ciência. A partir da
citação de livros clássicos sobre ciências naturais, Kuhn (1987, p. 30-32) afirma:
[...] esses e muitos outros trabalhos serviram, por algum tempo, para definir implicitamente os
problemas e métodos legítimos de um campo de pesquisa para as gerações posteriores de
praticantes da ciência. Puderam fazer isso porque partilhavam duas características essenciais. Suas
realizações foram suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de partidários,
afastando-os de outras formas de atividade científica dissimilares. Simultaneamente, suas
realizações eram suficientemente abertas para deixar toda a espécie de problemas para serem
resolvidos pelo grupo redefinido de praticantes da ciência.
Daqui por diante deverei referir-me às realizações que partilham essas duas características como
‘paradigmas’ [...]. Com a escolha do termo pretendo sugerir que alguns exemplos aceitos na
prática científica real - exemplos que incluem, ao mesmo tempo, lei, teoria, aplicação e
instrumentação - proporcionam modelos dos quais brotam as tradições coerentes e específicas da
pesquisa científica. [...] O estudo dos paradigmas [...] é o que prepara basicamente o estudante
para ser membro da comunidade científica determinada na qual atuará mais tarde. Uma vez que
ali o estudante reúne-se a homens que aprenderam as bases de seu campo de estudo a partir dos
mesmos modelos concretos, sua prática subseqüente raramente irá provocar desacordo declarado
sobre pontos fundamentais. Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados
estão comprometidos com as mesmas regras e padrões para a prática científica. Esse
comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitos para a ciência normal, isto
é, para a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada.” [...] As
transformações de paradigmas [...] são revoluções científicas e a transição sucessiva de um
paradigma a outro, por meio de uma revolução, é o padrão usual de desenvolvimento da ciência
amadurecida .
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Mais informações sobre esse assunto podem ser encontradas em Coracini, 1991.
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De acordo com Moita Lopes (1996), a LA tem se utilizado de diferentes
métodos e privilegiado diferentes enfoques à medida que vai se estabelecendo
como área científica autônoma. Algumas de suas tendências, limitações e
méritos, quando voltada ao ensino de línguas, são:
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Ver: Cavalcante e Moita Lopes (1991).
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possibilidade de se modificar a situação existente em sala de aula.
Tendência para a pesquisa qualitativa, notadamente de natureza
etnográfica – preponderante hoje em dia, descrição narrativa da vida
diária da sala de aula a partir de observação participante, diários,
entrevistas, gravações de aulas. Essa é a tendência mais moderna,
voltada aos processos sociointeracionais envolvidos na construção
do conhecimento; o professor pode ser o pesquisador (pesquisa-
ação). Foco no processo de uso da linguagem.
Para concluir essa seção, devemos lembrar que, de acordo com Kuhn
(1987, p. 38), "para ser aceita como paradigma, uma teoria deve parecer
melhor que suas competidoras, mas não precisa (e de fato isso nunca
acontece) explicar todos os fatos com os quais pode ser confrontada".
Também não precisa derrotar todas as teorias competidoras. Daí se explica a
diversidade teórica existente em todos os campos de pesquisa.
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filosóficos, seus métodos e sua localização no conjunto da
história da disciplina.
6 Considerações finais
Referências
CELANI, Maria A. A. Afinal, o que é Lingüística Aplicada? In: PASCHOAL, M.S.Z. de.
; CELANI, M.A.A. (Org.). Lingüística Aplicada. São Paulo: EDUC, 1992. p. 15-24.
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CAVALCANTI, M. do C. ; MOITA LOPES, L. P. Implementação de pesquisa em sala de
aula de língua estrangeira. Trabalhos em Lingüística Aplicada, Campinas, n.17. p. 133-
144. jan./jun. 1991.
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 3. ed. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1983.
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 2.ed. rev. e atual. São Paulo:
Martins Fontes, 1993.
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WILLIAMS, Marion; BURDEN, Robert L. Psychology for language teachers. A social
constructivist approach. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
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