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#walk
MARCOS
abu dhabi
#02
HILLER
ABU DHABI
brand and consumption
global trend research
#walk 2
MARCOS HILLER
Fotos
Érico Luis Hiller
Design
Juliana Mortari
ISBN: 9788590770466
Patrocínio
Apoio
Projeto em Vídeo
#walk 2
Além do formato eBook, o projeto WALK Abu Dhabi
também está disponível em vídeo.
assista!
www.projetowalk.com.br
Siga também o Projeto Walk no Instagram
SOBRE
O AUTOR
MARCOS
-HILLER
M
arcos Hiller é mestre em Comunicação
e Práticas do Consumo pela ESPM. É
professor convidado de escolas de negócio
como FIA-USP, FGV Management e PUC-PR,
onde leciona e ministra palestras sobre temas
relacionados ao universo da marca, consumo,
cultura digital e tendências. Nos últimos anos marcos@hillerconsulting.com.br
um olhar sobre o
desconhecido
U
Essa é a primeira impressão que temos
ao pensar numa viagem com destino aos
Emirados Árabes Unidos, ainda mais quando
nos referimos à Abu Dhabi, uma cidade jovem
e de cultura estonteante.
Supervisora de marketing na Etihad Airways É isso mesmo, a capital dos Emirados Árabes
juliana
Unidos, construída há 50 anos, busca sua mo-
dernidade e o reconhecimento cultural atra-
vés da Arte. A cidade abrigará o primeiro mu-
seu do Louvre fora da famosa Paris, e outros
ribeiro
nomes de peso, como o museu Guggenheim.
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PREFÁCIO
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o projeto
E
m 2015, nasceu o WALK, um projeto de No ano de 2016, o projeto WALK deu um se-
investigação de tendências de consumo gundo passo. Justamente para dar um con-
ao redor o mundo. A primeira edição foi pela tra-ponto em relação ao que vimos na edição
cidade de Nova York e contou com o apoio da novaiorquina, decidimos ir para um mercado
Copa Airlines. O resultado dessa mirada in- mais distante, mais peculiar e que reunia, à
vestigativa foi a edição 1 do eBook que pode princípio, características mais latentes de
ser baixado em marcoshiller.com.br/walk. marcas de luxo. Aterrissamos em Abu Dhabi,
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“antes tudo
era vivido,
e agora se esvai na representação“ Guy Debord, 1967
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a calibragem do olhar
para tendências
Hiller no pátio central
da maior mesquita do país.
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O nome WALK não é uma simples retórica, pois em um projeto como esse caminha-se muito, cerca
de 10 Km por dia. E o Mizuno Wave Prophecy foi o modelo de tênis gentilmente cedido
pela Alpargatas para o pesquisador Marcos Hiller.
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por que
abu dhabi?
A entrada do Ritz Carlton Grand Canal, com vista para a suntuosa
Mosque Zayed, a maior mesquita dos Emirados Árabes Unidos,
inaugurada em 2009.
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comprovadas de petróleo do mundo, o que construindo ao longo dos últimos 200 anos,
credencia a metrópole como uma potência na gênese da Modernidade, Abu Dhabi é
financeira mundial. E para a cidade não fi- uma cidade jovem, tem cerca de 50 anos de
que apenas assentada em uma monocultura vida. E sabemos que qualquer cidade é, em
do petróleo, ainda que muito possante, o go- grande medida, o resultado de uma série de
verno tem investido nos últimos em diversas movimentações sociais, culturais, religiosas,
outras frentes econômicas. Hoje Abu Dhabi é artísticas e econômicas. E Abu Dhabi é regida
uma das sedes do campeonato mundial de por essa dinâmica, mas que foi amplamente
Fórmula 1 desde 2009, e na carona disso foi acelerada a partir do vigor e da vontade de
inaugurado o Ferrari World. A maior mesqui- seus governantes em demonstrar o poderio
ta dos Emirados Árabes está localizada em financeiro-econômico deles. E em virtude dis-
Abu Dhabi, a Mosque Al Zayed, que mostra- so, ares de artificialidade saltam aos nossos
remos nesse livro. E até mesmo uma espécie olhos, tudo parece ser montado, ordenado, e
de filial do Museu do Louvre deve abrir portas poucos elementos parecem ser organicamen-
por lá nos próximos anos (era para ter sido te construídos. A prova disso é que por conta
inaugurado originalmente nesse ano de 2016, das elevadas temperaturas e da escassez de
mas por conta de restrições orçamentárias chuva, são construídas montanhas artificiais
advindos da crise do petróleo, a abertura do para provocar pancadas de chuvas na re-
museu foi postergada). gião, e até mesmo um mini fauna de pássaros
Ao contrário de outras grandes cidades são trazidos de longe para transparecer um
globais do mundo, como Nova York, Lon- certo tom de tropicalidade e vivacidade para
dres, São Paulo, que nasceram e foram se a cidade de Abu Dhabi.
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um captalismo
imagético
A ssim como fizemos na edição 1 do pro-
jeto WALK, antes de entrar no mote de
nossa pesquisa, é importante que coloque-
tornou-se essencialmente imagético. Ou seja,
há indubitavelmente uma miríade de elemen-
tos estéticos que vestem nossos tempos, que
mos alguns alicerces conceituais que cria- são advindos dos signos, traduzidos pelas
rão a pedra de toque de nosso olhar sobre marcas, e caracteriza o que chamamos aqui
as tendências de consumo. Partindo dessa de capitalismo imagético.
perspectiva, entender como se dão as trans- Nesse mundo em que vivemos, o design, o
formações ocorridas no modo de produção estilo, a estética e a beleza se impõem como
das mercadorias são bases essenciais para fatores imperativos estratégicos das mar-
compreender o fetichismo das imagens que cas. Sobretudo, em cidades-vitrine como
nos rodeiam. O sistema capitalista no qual es- Abu Dhabi, o excessivo apelo ao imaginá-
tamos inseridos introduz astutamente a mar- rio e a astúcia em despertar aspectos emo-
ca como um elemento central de estetização tivos em nós consumidores impulsionam o
das mercadorias, e parte da premissa que processo criativo de forma massiva e sobre-
os pilares produtivos do mundo que vivemos tudo por meio de mecanismos de sedução,
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Turistas advindos de países dos tigres asiáticos circulam pelos corredores do Yas Mall. Na foto, a menina segura um pau-de-selfie e as
demais posam para uma foto no The Cheesecake Factory, rede norte-americana de comidas do ocidente.
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nossa premissa:
a cultura
do consumo
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o consumo
indoor
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uma bricolagem
de paisagens The Ritz Carlton Grand Canal.
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Yas Viceroy
Y as Viceroy Abu Dhabi Hotel está locali- Claramente, a engenharia é a principal
zado dentro do Yas Marina Circuit, Abu característica do design do hotel. Com uma
Dhabi. É o primeiro hotel novo no mundo a extensão de 217 metros de cobertura de
ser construído dentro de um circuito da F1. O vidro e aço torcido, conhecida como Grid
Hotel, projetado por Hani Rashid e Lise Anne Shell, a arquitetura do “hotel-obra de arte”
Couture, diretores da arquitetura de Asympto- possui um sistema de iluminação LED in-
te, prestigiado escritório localizado em Nova corporando vídeos que são transmitidos ao
York, é composto por duas torres de doze an- longo de sua fachada.
dares, em meio a todo um complexo do circui- Concebida artificialmente no extremo leste do
to de corrida e muito próximo de uma marina. litoral de cidade de Abu Dhabi, a Yas Island
Asymptote criou e concebeu o edifício como onde está localizado o Hotel Yas Viceroy é
um marco arquitetônico que incorpora influ- uma espécie de ilha construída para o entre-
ências e inspirações locais e globais que vão tenimento, pois costuma abrigar os grandes
desde a estética e formas associadas que ex- eventos midiáticos da cidade. E foi o circo da
primem a ideia de velocidade, do espetáculo, F-1 que obviamente trouxe vida para essa re-
da arte, com geometrias que formam uma ex- gião, mesmo porque se localiza a poucos qui-
trema imponência e arrojo. lômetros do aeroporto internacional.
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a praia da
Ilha de Saadiyat
E m sentido oposto à Yas Island, totalmente
artificial e construída pelas mãos do ho-
mem, a Saadiyat Island já existia e era ape-
A areia, ainda que super refinada, parece ser
advinda de construção, e até mesmo as con-
nas um conjunto de praias desertas, vegeta- chas vem de longe, e há quem diga que as
ção rasteira peculiar e dunas desérticas. No ondas do mar também sejam um simulacro.
entanto, o avanço desenvolvimentista de Abu Tanto nos aparentes residentes como nos vi-
Dhabi atingiu esse espaço que tem como am- sitantes, evidencia-se uma pluralidade étnica,
bição se tornar o pólo de cultura dos Emira- mas com uma leve predominância de cida-
dos. O projeto do chamado Saadiyat Cultural dãos europeus, que desfilam pela praia com
Distict é extremamente audacioso e tem con- área de exclusividade. Ninguém consome ál-
clusão prevista para 2020. A ilha abrigará as cool no local, que é proibido no país, exceto
filiais do Louvre de Paris e do Museu Gugge- em hotéis, alguns restaurantes e lojas autori-
nheim, um dos mais visitados no mundo. zadas. Ao nosso sensório ocidental, a praia é
Em meio à Saadiyat Island visitamos uma praia um local essencial democrático, demarcado
em uma localização extremamente privilegia- pela natureza e que faz parte do cotidiano de
da dentro do distrito de Saadiyat. Por mais que muitas capitais brasileiras, por exemplo. Mas
ela já existisse, os ares de artificialidade pre- ao pisarmos na praia da Saadiyat Island nosso
valecem, e com enormes gruas no horizonte. sensório é remixado. O estar na praia é outro.
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louvre
Abu Dhabi
O Louvre Abu Dhabi é um museu ainda em
fase de construção, dentro da Saadiyat
Island. Originalmente a inauguração estava
centro de entretenimento.
No ano de 2007, o Museu do Louvre de Paris
anunciou que associaria o seu nome a este
prevista para 2013, mas atrasos, sobretudo novo museu de Abu Dhabi, como parte de um
por conta de crises mundiais do petróleo e acordo de trinta anos entre a cidade de Abu
consequentemente perda de liquidez, leva- Dhabi e o governo francês. O projeto do mu-
ram a prever a data de 2017 que também seu, desenhado pelo arquiteto francês Jean
tende a não acontecer. O projeto é que o mu- Nouvel, terá uma área total de 24 mil m² e o
seu do Louvre seja parte de um gigantesco custo da construção está estimado em 100
bairro cultural que está brotando na ilha de milhões de euros. A intenção é que o espaço
Saadiyat, junto a outros três museus e a um exiba obras de arte de todo o mundo, focando
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consumo da fé
A principal atração de Abu Dhabi é um tem-
po religioso, é uma mesquita. A Grande
Mesquita Xeque Zayed foi construída toda em
mulheres devem cobrir a cabeça com véus,
devem usar blusas de manga comprida e usar
calças compridas e largas ou saias longas.
mármore branco da Macedônia e tem deta- São oferecidas gratuitamente batas brancas
lhes arquitetônicos que remetem a Marrocos, e burkas pretas para homens e mulheres fora
Turquia e até ao Taj Mahal. Construída duran- do padrão. Dentro do templo religioso, os
te 10 anos, entre 1996 e 2007, a mesquita tem abraços e beijos entre homens e mulheres
torres de até 107 metros de altura, que po- também são proibidos. Toda a pregação é de
dem ser vistos de boa parte da cidade. hora em hora. Indubitavelmente, há uma tea-
A mesquita é a maior do país e a única onde tralidade e uma dramatização extrema como
pessoas de origem não-islâmica podem ir estratégia comunicacional.
sozinhas, mesmo que os serviços religiosos O nome é uma homenagem ao xeque Zayed
sejam fechados. As regras de costume habi- bin Sultan Al Nahyan, que autorizou a cons-
tualmente são rígidas, onde os homens não trução da mesquita e que morreu em 2004.
podem entrar de bermuda e camiseta, e as O seu corpo está sepultado em uma câmara
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o mundo da
ferrari
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a vitória do
luxo
A sociedade contemporânea está visivel-
mente entrando em uma nova etapa da
cultura do espetáculo que constitui uma nova
formas de cultura, relações sociais e novos
modelos de experiência. E isso está produzin-
do uma nova cultura do espetáculo e de forma
configuração da economia, política e vida co- muito evidente em cidades como Abu Dhabi.
tidiana. Essa nova dinâmica envolve novas Quando selecionamos os bens, os produtos
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a luz de
conclusões
jamais definitivas
S em dúvida, o consumo é um dos indica-
dores mais efetivos das práticas sociocul-
turais e do imaginário de uma sociedade. E
ciência. Entrelaça-se o trabalho concreto e
o trabalho abstrato.
A cultura do consumo posiciona-se como o
a pesquisa de tendências em um país como alicerce central mais uma vez nessa continui-
os Emirados Árabes Unidos nos evidencia o dade do projeto WALK. Não que as marcas
que as cidades nos querem comunicar, afi- tenham se tornado mais importantes para in-
nal a forma como nos apropriamos de deter- dicar status mas sim a estrutura de significado
minados espaços urbanos já diz algo sobre que consumo de marca traz, esses sim fica-
aquele local. Estar na cidade de Abu Dhabi ram mais flexíveis, dinâmicos e não-lineares.
é estar diante de uma constante mescla en- A observação atenta dos rituais de consumo
tre o real e o imaginário, entre um mundo de continua sendo um modo muito privilegiado
aparências e de aparições, e que instiga de- se entender a identidade das pessoas, das
sejos desejos produzindo por uma falsa cons- cidades e dos países.
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novos
caminhos
Simão Mairins e Leandro Vieira
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abastecem, tudo que se consome no mundo conduz seus negócios, sua carreira, sua vida.
- sejam produtos ou experiências - é consumi- Em Walk, Marcos Hiller nos permite aprender
do primeiro por lá. A imponência dos hotéis, sobre marketing, branding e consumo dire-
a extravagância dos shopping, o exagero dos tamente dos centros nervosos dessas áreas,
restaurantes, a tecnologia das ruas. Tudo isso nos permite aprender no momento e local em
se dá no coração de uma região marcada, que as coisas acontecem. Este não é um livro
entre outras coisas, pelo conservadorismo que traz um apanhado de teorias. É uma obra
nos costumes. Mas um conservadorismo que que destrincha as teorias mostrando na práti-
não tem braços suficientes para conter a ava- ca como elas se aplicam.
lanche do consumo. Tudo isso sob o olhar atento e muito bem se-
Walk não é simplesmente um livro sobre ten- dimentado de Marcos Hiller, um pesquisador
dências - afinal, dentro de alguns meses o cujo trabalho fala por si. A percepção do au-
que era perspectiva já será passado. Walk tor é, definitivamente, um dos pontos chave
é uma obra que vai abrir seus olhos para do livro. Walk é uma obra que vai fazer você
como o consumo dita os rumos do plane- caminhar. Desbravar novas estradas. Revisar
ta e de que maneira a compreensão desse paradigmas. E construir novos caminhos.
modus operandi afeta a maneira como você Simão Mairins e Leandro Vieira
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