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º ANO|2023
Prof. Afonso Miguel
CONTEÚDOS – 2023/2024
O PARÁGRAFO
Conceito de parágrafo (Rei, 1996):
As frases que constituem um texto organizam-se em grupos naturais chamados parágrafos. O parágrafo é uma
unidade na elaboração de um texto e na sua análise, possuindo sentido completo e independência sintáctica.
Delimitado, geralmente, por um ponto final e nova linha, surge quando se oferece uma nova ideia ou uma
informação diferente sobre o assunto ou se analisa de um outro ponto de vista o tema tratado.
O parágrafo já foi chamado arquipélago onde a vista do leitor pode (re)pousar para assimilar e reflectir.
Alguns autores fazem depender da teoria todo o trabalho da composição, assim como o modo de escrever
bem, de expor bem e de ler bem. É que, para exprimir um pensamento, é necessário decompô-lo e ver bem
quer os aspectos que o pensamento comporta quer os princípios que lhe são implícitos e que ele pressupõe.
Tais aspectos, uma vez conhecidos, devem ser expostos um a um.
Para a significação global de um texto escrito, concorrem vários segmentos gráficos que se sucedem uns aos
outros em progressiva escala de grandeza e função significativas: fonema/som, palavra, frase, parágrafo.
Parágrafo é uma ampla parcela lógica do texto e uma unidade visual. As duas características do parágrafo são
processos de organização lógica do texto e, simultaneamente, processos que facilitam a sua leitura.
1- O parágrafo de abertura (introdução), que apresentará o tema ou problema nos seus aspectos
sequenciais;
2- Cada um dos parágrafos de desenvolvimento abordará um aspecto em que o tema ou problema
(ideias) se pode subdividir;
3- O parágrafo de conclusão, que retomará o essencial da mensagem, de modo a que perdure na mente
do leitor.
Um parágrafo pode ser formado por uma só frase – estratégia a considerar quando se quer, adequadamente,
realçar algo. Com mais frequência, porém, é constituído por uma sequencia de frases1. O parágrafo,
normalmente, compõe-se de uma seqüência de frases, orações e períodos, pormenorizando e
aumentando a compreensão de uma idéia, mediante a especificação de suas partes.
Os conhecimentos que temos sobre o parágrafo podem ser reunidos da seguinte forma:
é cada uma das partes da estrutura formal externa (física) de um texto;
é formado por um ou mais períodos;
é estruturado em torno de uma idéia-núcleo;
a ideia-núcleo é desenvolvida por idéias subsidiárias;
a cada nova ideia-núcleo deve corresponder um novo parágrafo;
o desenvolvimento da idéia-núcleo, por idéias subsidiárias, é que vai
determinar a extensão de um parágrafo.
1
Tipicamente, os parágrafos em português marcam-se abrindo um espaço (na primeira linha) para a direita. Actualmente,
no entanto, começa a usar-se também o chamado parágrafo americano”, cujo alinhamento se faz para a esquerda.
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ESTRUTURA, TIPOS, QUALIDADES DO PARÁGRAFO
Estrutura do parágrafo (cf. Capítulo 11: CONCEITUAÇÃO DE PARÁGRAFO (simonsen.br); consultado em:
14/11/2020))
Da mesma forma que o texto, o parágrafo também tem uma estrutura. Existe nele uma introdução, um
desenvolvimento e, às vezes, escondida ou subentendida uma conclusão. Na introdução do parágrafo, há o
tópico frasal que é a motivação composta por um bloco de palavras, suficiente para desencadear o parágrafo.
Pode ser uma declaração, uma interrogação, uma exclamação, uma referência a determinado episódio
histórico ou ficcional, uma definição, uma divisão. Deve caracterizar-se pela simplicidade, rapidez, síntese e
por ser capaz de realmente levar à construção do parágrafo.
Você pode encontrar parágrafos em que o tópico frasal se encontra deslocado para o final, ou embutido no
desenvolvimento, visto que essa estrutura não é rígida.
Para quem não é experiente em redação, é prático seguir a ordem seguinte:
introdução (tópico frasal ou sentença-tese) X causas X conseqüências);
desenvolvimento: sentença-tese, causa, conseqüência;
conclusão: ratificação da introdução, sugestões.
1. Declaração: o autor afirma ou nega algo na abertura do parágrafo para, logo a seguir,
desenvolver a proposição, justificando ou fundamentando o que afirmou.
Ex.: A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimentos, experiências.
A educação é ação formadora da personalidade, que faculta ao indivíduo alcançar, com sua
atividade, a meta da sua vida.
3. Referência Histórica: um facto acontecido no passado é relembrado como ponto de partida para
novas afirmações e julgamentos. É necessário explicar que essa referência não precisa
necessariamente estar ligada à história de um povo, de um país. Qualquer fato representativo, já
acontecido, pode servir para abrir este tipo de parágrafo.
Ex.: Diz a lenda que Rômulo e Remo, fundadores de Roma, foram amamentados por uma loba.
Esse mito do herói amamentado por animais foi revivido neste século por Edgar R. Burroughs,
com a criação do personagem Tarzan, que deveu sua subsistência a uma macaca e cuja trajetória
passou do livro para o cinema.
4. Interrogação: uma frase interrogativa inicia o parágrafo. Uma questão é lançada para reflexão
ou mesmo para motivação da leitura das idéias subseqüentes. Nelas, o autor, geralmente,
procura responder à indagação feita, apresentando seus motivos.
Ex.: O que é redigir? Redigir é um ato do nosso cotidiano. Estamos, até sem nos dar conta,
redigindo nas diversas situações.
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5. Citação: o autor cita uma declaração de alguém para, a partir daí, desenvolver as suas
próprias idéias.
Ex.: O silêncio não é a negação da palavra, como a palavra não é tampouco a negação do
silêncio. Tristão de Athayde, ao afirmar tais verdades, declara-se novamente inimigo mortal
das palavras vãs.
Tipos de parágrafo
O tipo de parágrafo está condicionado ao tipo, estilo e à dimensão do texto, assim como também da
experiência/habilidade de quem escrever, podendo ser:
Longos: muito utilizado em textos acadêmicos, monografias, teses e artigos, pois apresentam
conceituações, definições e exemplificações.
Médios: normalmente encontrado nos meios de comunicação como as revistas e os jornais. Esse tipo
de parágrafo prende a atenção do leitor, uma vez que suas ideias são apresentadas de maneira menos
extensa.
Curtos: encontrados nos textos infantis ou propagandas de publicidades. Constituídos por poucas
palavras e, no caso das propagandas, uso de frases de destaque.
Narrativos: utilizam dos recursos de textos narrativos (contar uma história) para a construção do
parágrafo como o predomínio dos verbos de ação. Nesse caso, se o discurso utilizado for o direto,
pode haver travessões para indicar as falas das personagens.
Descritivos: parágrafos repletos de adjetivos, verbos de ligação e orações coordenadas, dos quais
apresentam uma descrição e/ou apreciação de objeto, pessoa, lugar, acontecimento, dentre outros.
Dissertativos: parágrafos que apresentam uma ideia; sua proposta é defendê-la através da
argumentação.
Qualidades do parágrafo
Propriedades (qualidades)
As principais características de um parágrafo bem redigido que constituem as suas propriedades ou qualidades
são: a unidade, a coesão e a clareza, consistência, concisão e ênfase. Elas são interdependentes, isto é, não existe
uma sem as outras.
I. A unidade do parágrafo:
A unidade de um parágrafo consiste no facto de todas as ideias nele contidas tratarem do assunto do texto
sob uma mesma perspectiva, sob um mesmo ângulo, a partir duma ideia reitora. A estrutura unitária é
determinada por uma correcta relação entre os vários períodos (frases), de modo a ajudar o leitor a seguir o
fio do discurso.
Exemplo de unidade de parágrafo
§1. Há duas maneiras de receber a vida. – Duas maneiras distintas de estar no mundo
§2. Uns recebem-na mecânica e automaticamente, como aqueles que aceitam uma moeda, não
investigam se ela é falsa e assim a vão passando de mão em mão. Outros recebem-na num acto de
vontade e de raciocínio, pensamento, reflectidamente, aplicando às noções morais a consciência do
químico que não recebe o produto das fábricas sem o analisar e lhe reconhecer o valor. Sê destes
últimos. – Explicitação das duas maneiras de viver (ideia implícita)
§3. Não adoptes sem exame as noções comuns; pelo contrário, pensa de novo o que foi pensado ou
impensado antes de ti; mede as noções de família, de pátria, de caridade, de liberdade, de tolerância,
de coragem, com uma curiosidade séria de observador e um cuidado beneditino de analista; disseca
tudo, comete todos os sacrilégios. Sê o iconoclasta combatido, contando que ponhas de acordo a tua
vida com a tua razão. – Coerência pessoal (ideia reitora explícita)
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§4. A vida que possuímos foi-nos dada por um acto de estranhos, em dia de júbilos ou em noite sagrada
de amores; é preciso fazermos dessa vida que outros fizeram alguma coisa que nós fazemos; de
criaturas, tornemo-nos criadores; colaboremos, pois, na obra oferecida, metamos também a picareta
no terreno doado. – Nossa transformação em criadores
§5. É verdade que é preciso ter coragem, ainda hoje, para se ser diferente e que, como diz Anatole
France na sua delicada e ao mesmo tempo profunda ironia, se chama honestos àqueles que pensam
como nós. Mas que importa? O triunfo é este: em vez da vida automática e passiva que tantos vivem,
viver de uma vida activa, de uma vida reflectida, de uma vida pensada. – Incentivo à coragem
Raul Proença, Estudo e Antologia
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III. A clareza do parágrafo
A clareza consegue-se sempre que o modo de expressão das ideias se torna compreensível para o leitor. No
lado oposto, diremos que o modo de expressão das ideias perde clareza quando se produzem alterações
pouco correctas no sujeito, na pessoa, na voz ou no tempo verbal, tal como nos pronomes, na concordância
do adjectivo com o substantivo e ainda na colocação sintáctica dos elementos da frase.
Ex.: Meus prosélitos seguidores, atravessamos um momento deveras angustiante e premente, que exige
de nós muita argúcia e espírito resiliente. Mas confiando na vossa incansável capacidade de resistência
à qual se soma as minhas doutas competências, garanto-vos, no alto deste púlpito, que sairemos desta
nefasta e crítica situação; as medidas necessárias já foram gizadas...
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Expressões preposicionadas Concisão
VI. Ênfase
O escritor tem vários caminhos: escolha cuidadosa da palavra ou expressão forte e adequada para representar a
ideia; posição das orações no período; o tamanho das orações e dos parágrafos; repetição da ideia principal. O
conhecimento e o emprego judicioso dessas técnicas sobre a ênfase aprimoram o estilo e abrilhantam o texto.
Oposição das Comecei a escrever o livro (cumulativa), depois do belo curso sobre meio ambiente.
orações Depois que fiz o belo curso sobre meio ambiente, comecei a escrever o livro (periódica).
(alteração da
ordem
Tamanho das Contraste: orações ou parágrafos curtos no meio de parágrafos médios ou longos dão
orações e dos contraste e ênfase.
parágrafos Proporção: se uma ideia importante precisa ser mais bem explicada, ela ocupará mais
espaço, exigirá mais orações e parágrafo mais longo, enfatizando a ideia principal.
Repetição da Calma e tranquilidade era o seu forte (sinónimos).
ideia principal Não era inquieto nem intranquilo (antónimos de calmo).
Ele é que manda (partícula de realce).
Ele é forte, e valente, e ousado (polissíndeto).
Vozes veladas, veludas vozes (aliteração).
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III. Conclusão
A conclusão é uma síntese que deve destacar – com vivacidade e concisão – o essencial do que foi dito, do
modo a que perdure na memória do destinatário. Uma boa conclusão é bem diferente de uma simples
repetição descolorida.
Em princípio é vedado à conclusão acrescentar uma nova ideia, pois privilegia-se a retoma resumidamente de
ideias essenciais desenvolvidas ao longo do texto. Deve evitar-se, quando desnecessárias, o uso de citações
ou frases feitas na conclusão. O autor pode expor os seus pontos resultantes da abordagem do texto,
sobretudo em estudos que se baseiem em métodos qualitativos, e também prever trabalhos de “pesquisas
futuras”.
BIOGRAFIA
Ana Cristina Gomes (2012); in: Tese mestrado final.pdf (rcaap.pt); 23/11/2021
Capítulo 11: CONCEITUAÇÃO DE PARÁGRAFO (simonsen.br); (consultado em: 14/11/2020).
Cavalcante Filho, Urbano (2011). Estratégias de leitura, análise e interpretação de textos na universidade: da
decodificação à leitura crítica. In: Anais do XV Congresso Nacional de Linguística e Filologia. Cadernos do CNLF, Vol.
XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL. 1721-1728.
GIASSON, J. (1993). A compreensão na leitura (trad. Mª José Frias). Porto: Asa, col. Práticas Pedagógica.
Nascimento, Zacarias e Manuel José Pinto (2003). Dinâmica da escrita – como escrever com êxito. Lisboa: Plâtano Editora.
Nina, Isabel Feliz Andrade (2008). Da leitura ao prazer de ler: contributos da biblioteca escolar. Lisboa: Universidade
Aberta (dissertação de Mestrado; disponível em: Microsoft Word - Dissertacao.doc (uab.pt); consultado em
23/11/2021).
Rei, J. (1996). Curso de Redacção I. A frase. Porto: Porto Editora.
Rei, J. (2000). Curso de Redacção II. O texto. Porto: Porto Editora.
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Sousa, Luís Gabriel Venâncio (s.d.). Conheça os tipos de leitura; disponível em: Conheça os Tipos de Leitura
(cebraep.com); consultado em 23/11/2021.
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