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AULA 21.

09 – COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Profa. Gisele Reinaldo

Fonte: Profa. Luma Miranda

AS DIFERENTES MANEIRAS DE ESTRUTURAR UM PARÁGRAFO

O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais períodos,


em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras,
secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.
Em geral, o parágrafo-padrão consta, sobretudo, na dissertação e descrição, de duas,
e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um
ou dois curtos períodos, em que se expressa de maneira sumária e precisa a ideia-núcleo
(é o que passaremos a chamar aqui de tópico frasal), o desenvolvimento, isto é,
explanação mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos
pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.
Tópico frasal é a oração que introduz a ideia central a ser desenvolvida em um
parágrafo.. É certo que nem todo parágrafo apresenta essa característica: algumas vezes
a ideia-núcleo está como que diluída nele ou já expressa num dos precedentes, sendo
evocada por palavras de referência (certos pronomes) e partículas de transição. Mas a
maioria deles é assim construída.
(Othon M. Garcia, 1967)

 Como iniciar um parágrafo?

A) DECLARAÇÃO INICIAL
Esta é, parece-nos, a feição mais comum: o autor afirma ou nega alguma coisa logo
de saída para, em seguida, justificar ou fundamentar a asserção, apresentando argumentos
sob a forma de exemplos, confrontos, analogias, razões, restrições – fatos ou evidências.
Veja o exemplo de um parágrafo cujo tópico frasal é uma declaração acerca do tema
liberação da maconha. Perceba que após declarar a sua posição, o redator a fundamenta,
deduzindo, pois, as razões que o levam a crer naquilo:
“É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação
do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda existe sobre as drogas
psicotrópicas e as instituições brasileiras de recuperação de viciados não terão
estruturas suficientes para atender à demanda”.
(Alberto Corazza, Istoé, 20.12.95)

B) DEFINIÇÃO OU EXPLICAÇÃO:
É uma forma muito presente nos textos dissertativos. Exige do redator segurança
intelectual, a fim de não apresentar uma definição equivocada.
Vejamos o exemplo trazido pelo livro “Encontros de Redação”, do professor Jayme
Barros:
“A literatura é uma arte – a arte da palavra. Na sua natureza, ela tem origem na
imaginação criadora, e não em outra faculdade do espírito. Não é sua finalidade
ensinar nem divulgar mensagens religiosas ou políticas, ou moralizar. Isso não
compete à Literatura”.
(Afrânio Coutinho. Crítica e poética. Rio de Janeiro,
Acadêmica, 1968, p.78)
C) DIVISÃO:
É uma maneira bastante didática de construção do parágrafo. Segundo o professor
Jayme, “o tópico frasal é apenas a discriminação das ideias que serão expostas”.
Vejamos um exemplo desse tipo de parágrafo dissertativo:
“A linguagem pode ser falada ou escrita, há assim dois tipos de exposição linguística.
De maneira geral, podemos dizer que a primeira se comunica pelo ouvido e a
segunda, pela visão. Ou em outros termos, na comunicação escrita, os sons que
essencialmente constituem a linguagem humana passam a ser evocados mentalmente
por meio de símbolos gráficos”.
(Mattoso Câmara Jr. Manual de expressão oral e
escrita, p. 15)

D) OMISSÃO DE DADOS IDENTIFICADORES:


Com esse mecanismo, o redator cria uma expectativa no leitor acerca da ideia que
será desenvolvida no parágrafo. Também pode ser chamado de parágrafo indutivo, pois
vai deixando o tópico frasal para o final. As duas primeiras frases do parágrafo a seguir
criam no leitor certa expectativa em relação ao tema que se mantém em suspenso até a
terceira frase:
“Mas o que significa, afinal, esta palavra, que virou bandeira da juventude? Com
certeza não é algo que se refira à política ou às grandes decisões do Brasil e do
mundo. Segundo Tarcísio Padilha, ética é um estudo filosófico da ação e da conduta
humana cujos valores provêm da própria natureza humana e se adaptam às
mudanças da história e da sociedade”.
(O Globo, 13.09.92)
E) ALUSÃO HISTÓRICA:
Esse tipo de construção do parágrafo requer, obviamente, do leitor um
conhecimento seguro da história, para que ele, o redator, tenha condições de apresentar
dados coerentes. Segundo o prof. Jayme Barros, esse caminho “desperta a curiosidade do
leitor. Reportar-se a fatos históricos, lendas, tradições, anedotas ou acontecimentos. É
artifício empregado por oradores e por cronistas que, com frequência, aproveitam
incidentes do cotidiano como assunto ‘não apenas para um parágrafo, mas até para toda
a crônica’”.
Veja um exemplo de um parágrafo que trata da globalização:
“Após a queda do Muro de Berlim, em 09 de novembro de 1989, acabaram-se os
antagonismos leste-oeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a
globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada
pela competição”.

F) INTERROGAÇÃO/PERGUNTA RETÓRICA:
Com este recurso, o redator visa a chamar atenção do leitor para a ideia fundamental
daquele parágrafo. É um recurso elegante, pois o redator chama, inevitavelmente, o leitor
a acompanhá-lo naquele exercício de reflexão.
Perceba, todavia, que não se cria o vínculo direto redator x leitor, condenável no
texto dissertativo, como se o primeiro estivesse “batendo papo” com o segundo. Por isso,
devem ser evitadas palavras do tipo: você, eu, nós, nosso(a) e verbos em 1ª pessoa.
“Será que ainda é possível considerar-se o carnaval baiano uma festa popular? O
crescente número de blocos que cobram elevados preços e a proliferação de
camarotes ao longo dos trechos principais do percurso atestam o quanto o carnaval
baiano vem priorizando a minoria da população que pode investir altas quantias em
entidades carnavalescas e, consequentemente, diminuindo o espaço reservado ao
folião comum, que, em tese, é o verdadeiro dono da festa”.
(Trecho de redação de aluno sobre tema da UFBA, 2002)

EXERCÍCIO

Redija dois exemplos de tópico frasal sobre o tema: “Redução da maioridade penal:
solução ou ilusão?”, identificando as técnicas utilizadas para iniciar a discussão no
parágrafo.

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