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Como a luta travada nesta obra é sobre os filósofos do seu contexto histórico,
sobretudo os jovens hegelianos, Marx e Engels mostram que, a partir da imaginação
destes jovens hegelianos, “a relação entre os homens, todos os seus atos e seus
gostos, suas cadeias e seus limites são produtos da consciência” (MARX e ENGELS,
1999, p. 9). Aqui, como postulado moral, estes propõem a substituição da consciência
atual por uma consciência humana crítica (MARX e ENGELS, 1999, p. 9) . Fazer isto,
ou seja, esta substituição significa interpretar os fatos e fenômenos da vida cotidiana
de uma forma diferente: isto que significa tomar consciência para os jovens
hegelianos. O grande equívoco dos jovens hegelianos foi a não ligação da sua filosofia
com o mundo real, isto é, a percepção que as condições matérias determinam a
consciência e não o contrário.
Deixando de lado os jovens hegelianos para se entrar na teoria marxista, Marx
e Engels entram primeiramente num discurso filosófico pós-Descarte, utilizando do
postulado metodológico cartesiano, a dúvida metodológica: colocar tudo a prova do
questionamento. O próprio Descarte utilizou isso ao perguntar-se sobre sua própria
existência. Ao se perguntar se ele próprio existia, a sua constatação foi o pensamento
como forma real da sua existência. Se ele pensava era porque existia. Daí viria o
clássico “Penso, logo existo!”. Seguindo o mesmo caminho para depois trilhar a sua
própria metodologia, Marx e Engels postularam que a primeira condição de toda
história humana é evidentemente a existência de seres humanos vivos (MARX e
ENGELS, 1999, p. 11).
Para provar este primeiro postulado, Marx e Engels, logo em seguida, mostram
o primeiro estado real é então constituído pela complexidade corporal e as suas
relações com a natureza (MARX e ENGELS, 1999, p. 11). Desta maneira, o primeiro
estado é o aparato físico deste, bem como as “condições naturais, geológicas,
orográficas, hidrográficas, climáticas e outras” (MARX e ENGELS, 1999, p. 11).
Embora não aprofundem muito até mesmo pelo fator objeto de análise, Marx e Engels
descrevem acerca da “physis”, que comprovaria seu postulado primeiro, da existência
evidente de seres humanos vivos.
Partindo daí, o que o distingue diretamente os seres humanos dos animais é a
produção dos seus meios de vidas, ou nas mesmas palavras mas de forma
simplificada, seus meios de produção, seus meios de existência, em síntese, o
trabalho. De forma antropológica/filosófica, o trabalho teria sido o fator constituinte da
saída do ser humano do estado de natureza para a entrada no estado de cultura. Por
conseguinte, temos os seguintes postulados: primeiro da existência dos seres
humanos, comprovado pela sua materialidade morfofisiológica e suas relações com a
natureza para satisfação das necessidades primárias naturais; segundo, por sua vez,
é que, mesmo dotado de materialidade física, o ser humano conseguiu se diferir dos
animas, criando aquilo que Aristóteles chamava de “segunda natureza” – Marx e
Engels não usam esta categoria - , isto é, a partir do trabalho, o ser humano criou o
que chamamos de cultura, se isto for aprovado por vocês, leitores.
Para mim, aqui fica marcado a genialidade de Marx e Engels nesta obra. Por
fins metodológicos, eles partem da filosofia para elabora o postulado principal para
todas as coisas: a concordância sobre a existência humana. Para tal, mostrou-se a
materialidade corpórea do ser humano, bem como sua relação com o mundo natural
no sentido fisiológico. Diante disto, o que marca a genialidade, a meu ver, é a noção
de trabalho como fundante do lado sociocultural humano. Daqui, Marx e Engels
partem duma empreitada social, mostrando que sua teorização não está apenas no
campo da filosofia ou da economia política, mas sobretudo no âmbito Sociológico.
Ao transformar o seu meio externo pelo trabalho, o homem transforma a si.
Estes meios de existência, em primeiro momento, são retirados na natureza. Aqui,
para clarear a ideia de Marx e Engels, o Professor Sérgio Lessa, na sua palestra
“Trabalho (fundante) e Trabalho (produtivo e improdutivo) 2” mostra esta relação
2 Nesta palestra, o Prof. Sérgio Lessa discute e esclarece os “dois” trabalhos da teoria de Marx,
onde os dois se distinguem, ou seja, não são os mesmos. O primeiro é categorizado a partir da
fundação do estado de sociocultural do ser humano; o segundo, por sua vez, representa o trabalho
teorizado na economia política, que representaria o trabalho na sociedade capitalista. Neste viés,
olhando para o trabalho fundante, não nenhuma essência filosofal que fixa ou naturalmente prenderiam
os seres humanos em posições ou relações na sociedade. Uma vez que essas posições e relações
foram criadas a partir da produção dos meios de existência e estes meios de existência condicionam
as relações, os seres humanos poderiam ultrapassar esta “fase”, que não é dada na ordem natural das
coisas, mas sim criação humana. Ver: https://www.youtube.com/watch?v=T2wPphIdeaI.
dialética entre o mundo exterior e o ser humano. Ao expressar sua vida a partir do
trabalho (MARX e ENGELS, 1999, p. 12), o ser humano conheceria e descobriria as
leis do mundo físico, uma vez que por este o ser humano tira os seus meios de
existência. Assim, ao entender o funcionamento do mundo, o ser humano ajustaria
sua ação a partir do seu entendimento das leis da natureza. Assim, ao mudar a
natureza, o ser humano estaria mudando-se por este ajuste da ação a partir do
funcionamento do mundo externo, pelo trabalho – daqui sairia esta noção de dialética
por via do trabalho. “A forma que o indivíduo manifesta sua vida reflete exatamente
no que são, que coincide portanto com a sua forma de produção (...) Aquilo que são
depende portanto das condições materiais da sua produção” (MARX e ENGELS,
1999, p. 12).
Esta produção, por assim dizer, mostrando mais uma vez a veia sociológica,
agora por via da demografia, só apareceria com o aumento populacional e
pressupunha a relação entre estes indivíduos, segundo Marx e Engels. E estas
“relações dos indivíduos são condicionadas pela produção” (MARX e ENGELS, 1999,
p. 12), visto que a o próprio trabalho a criou, ou melhor, os seres humanos, no
trabalho, criaram estas relações. Portanto, estas serão e são condicionadas pela
produção.
Na economia política, sobretudo de Adam Smith, a divisão do trabalho seria o
grande responsável pelas riquezas das nações. Marx e Engels pegam isto para
desenvolvimento posterior da sua obra. Seguindo este princípio, o grau de
desenvolvimento interno das forças produtivas de uma nação consiste
necessariamente com a divisão do trabalho. A divisão do trabalho numa nação obriga
a divisão entre trabalho industrial, comercial e trabalho agrícola, separando assim,
cada vez mais, o espaço urbano do espaço rural, a cidade do campo. No seu
desenvolvimento posterior, separa-se trabalho comercial de trabalho industrial (MARX
e ENGELS, 1999, p. 13). Dessa divisão do trabalho, nascem subdivisões entres os
indivíduos, pelo fato do trabalho ser coordenado. Aqui se dá a origem daquilo que
conhecemos como estratos sociais: classes, ordens, castas etc. A posição hierárquica
dessas subdivisões relativas a outras é determinada pelo modo de exploração do
trabalho agrícola, comercial e industrial (MARX e ENGELS, 1999, p. 13).
O desenvolvimento dos estágios de divisão do trabalho representa aquilo que
chamamos de ordem ou sistema econômico, que Marx e Engels sintetizará a partir da
noção de propriedade. Dado o desenvolvimento pleno da divisão do trabalho, originar-
se-ia, daí, novos arranjos das relações de produção e, evidentemente, também aquilo
que a economia política define como excedente, ou renda – aqui é onde, na relação
social, se definiria para aonde (ou para quem) seria destinado este excedente. Cada
“novo estádio na divisão do trabalho determina igualmente as relações entre os
indivíduos no que toca à matéria, aos instrumentos e aos produtos do trabalho” (MARX
e ENGELS, 1999, p. 14)
A primeira forma de propriedade é a propriedade da tribo, onde a divisão do
trabalho ainda era muito rudimentar, ligado a aspectos naturais (MARX e ENGELS,
1999, p. 14). Nesta, a divisão do trabalho é pouco desenvolvida e se limita a “constituir
uma extensão da divisão do trabalho natural que existia na família” (MARX e ENGELS,
1999, p. 14). A estrutura social é ela própria a estrutura familiar: no topo, tínhamos o
chefe da tribo patriarcal, seguido pelos membros da tribo, chegando, por fim, nos
escravos. A escravatura latente desenvolve-se ao passar do tempo, com o
crescimento populacional.
Dada as circunstâncias anteriores, a segunda forma de propriedade é a
comunitária ou estatal, que provém da união entre várias tribos, em comunidades
comunitárias, numa única cidade, onde a escravatura é a sua forma de produção,
onde se dá início a propriedade privada, sendo está dependente, anormalmente, da
propriedade comunitária (MARX e ENGELS, 1999, p. 15). Aqui nesta propriedade
comunitária, desenvolve-se a propriedade mobiliária e posteriormente a imobiliária,
sendo estas subordinadas a propriedade comunitária. Embora isso seja confuso, onde
propriedade privada e propriedade coletiva se juntam, fica claro com esta citação: “os
cidadãos só em coletivamente exercem seu poder sobre os escravos que trabalhavam
para eles, o que os liga à comunidade comunitária” (MARX e ENGELS, 1999, p. 15).
A terceira forma é a sociedade feudal3. “A população existente, espalhada por
uma enorme superfície (...) condicionou esta mudança de ponto de partida” (MARX e
ENGELS, 1999, p. 16). O desenvolvimento feudal, ao contrário da Grécia e da Roma,
se deu numa extensão territorial muito maior que estas. Marx e Engels, a partir de
aspectos historiográficos, tecem aquilo que seria os processos para a origem da
propriedade feudal. O declínio do império romano e as conquistas dos bárbaros
destruíram uma grande quantidade de forças produtivas. Por consequência, a
19, desta obra, Marx e Engels darão especificidades do sistema feudal, ou melhor, da propriedade
feudal.
agricultura definhava, a indústria entrava em decadência por falta de mercados, o
comércio é “interrompido” pela violência (MARX e ENGELS, 1999, p. 17). Com isso,
a população urbana e rural diminuiu. Estes fatores foram os decisivos para origem da
propriedade feudal, segundo Marx e Engels. Aqui não são os escravos, mas sim os
servos da gleba que constituem a classe diretamente produtora.
Diante de tudo isso sobre condições materiais, trabalho, produção e afins,
vimos que são sempre “indivíduos determinados com uma atividade produtiva que se
desenrola de um determinado modo, que entram em relações sociais e políticas”
(MARX e ENGELS, 1999, p. 19). Marx e Engels vão além advogando para a pesquisa
empírica nos mostrar o elo que liga a produção às estruturas sociais e estruturas
políticas.
A produção de ideias, representações e da consciência está diretamente ligada
a atividade material do homem, isto é, seus meios de produção, atividade material e
comercio material: é a linguagem da vida real (MARX e ENGELS, 1999, p. 20). Numa
melhor concepção, onde a consciência seria um produto social:
São os homens os produtores das suas representações, das suas ideias, etc.; mas
os homens reais agentes, tais como são condicionados por um desenvolvimento
determinado das suas forças produtivas e das relações que lhes correspondem (...)
A consciência nunca pode ser coisa diversa do ser consciente e o ser dos homens
é o seu processo de vida real (MARX e ENGELS, 1999, p. 20).
E na ideologia que “os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal
como acontece numa câmara escura (...) do mesmo modo que a imagem invertida
dos objetos que se formam na retina é uma consequência do seu processo de vida
diretamente físico” (MARX e ENGELS, 1999, p. 21). Assim, conseguimos definir
ideologia como a realidade invertida, ou seja, aquilo que aparenta ser.
Lembramos da pergunta inicial. Para dar esta resposta, utilizaremos esta
citação: