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Materialismo Histórico Dialético Marxista e

Utópico-Idealismo Reacionário e Revisionista


Diálogo entre as perspectivas filosóficas do marxismo e as principais
utopias idealistas da reação e do revisionismo

Introdução
O presente escrito trata-se de uma pequena e humilde análise no
campo filosófico da teoria marxista, ainda restrito à categoria de ensaio ou
resumo de uma tão vasta e complexa obra. Essa não pretende expandir-se à
desbravar o extenso campo da economia marxista e nem mesmo expor
suscintamente o socialismo científico enquanto teoria socioeconômica,
restringindo-se na medida do possível ao campo do pensamento filosófico de
forma coloquial e simplificada. Entretanto, tendo em vista que a própria
dialética marxista, cerne de sua filosofia junto ao materialismo histórico,
pressupõe a impossibilidade de estar completamente separada à filosofia da
economia, sociologia e política, o viés trabalhado desses conceitos se darão
em medida no campo filosófico e serão analisados pelo prisma da construção
do pensamento marxista em tal aspecto.

O objetivo desses escritos é a demonstração pela filosofia marxista,


cuja base se resume no aspecto dialético da contradição entre contrários, de
como o marxismo se estrutura, se desenvolveu e se desenvolve, além de
refutar, pela simples análise natural do pensamento, incongruências
minimamente ridículas repetidas incansavelmente sobre tal corrente teórica.
Tais objetivos estão respectivamente divididos em três partes. A terceira parte,
a refutação das absurdas teses expostas, é o objetivo final desse simples
trabalho, que necessita da segunda e primeira parte para edificar suas bases.

Obviamente que a complexidade da filosofia marxista não poderia


estar integralmente dissecada em uma só obra, porém é dessa distinta
complexidade que nasce à necessidade de um entendimento simplificado de
tal prática e teoria, de cunho coloquial e acessível – eis o objetivo dessas
presentes palavras que seguirão.
Parte I – A Estrutura Filosófica do Pensamento Marxista

Utopia e Idealismo

É extremamente natural e até previsto, ao sondarmos o senso comum,


nos depararmos com os idealismos e utopias do cotidiano, heranças do
pensamento antigo que ainda se propaga em nossa sociedade. Todavia, é
comum estarem os mesmos de forma imperceptível encrustados em nossas
próprias falas e pensamentos, sendo que tal falta de percepção é
provavelmente a maior motivo de incorporarmos as correntes idealistas
passivamente e cegamente em nosso próprio cotidiano. Explicar-vos-ei aqui as
definições básicas do idealismo e da utopia em sua diferenciação prática e
teórica do materialismo, a fim de que possamos nos policiar melhor desse vício
antigo – o pensar utópico-idealista.

Como utopia entende-se um plano inalcançável onde a mente de


quem a idealiza projeta soluções para os problemas do mundo material.

Já o idealismo é a ideia vinda de si mesma, quase sempre do universo


moral da mente humana e do mundo dos valores. Por ser advinda desse
mundo dos valores ela muitas vezes expressa o universo moral individual, os
valores éticos e morais de um ser apenas ou de um pequeno grupamento que
compartilha um código ético e/ou uma moralidade coletiva. Essa característica
faz do idealismo algo totalmente proteiforme: tal quanto é variável o
pensamento humano, tal como varia os tipos de idealismo.

Tais termos, utopia e idealismo, na prática acabam por facilmente se


fundir pois são em suma presunções fundamentadas apenas na ideia humana,
na maioria das vezes no plano individual, sem necessidade nenhuma de
conexão com a realidade empírica.

Tomemos como exemplo: um indivíduo reside em um país


devidamente industrializado dentro do capitalismo da qual sofre alguns
problemas de desigualdade, crime, áreas de pobreza, saúde precária, entre
outros. Esse indivíduo acredita que seja justo e necessário para a própria
sobrevivência de sua sociedade que seja feita uma revolução socialista e que
seja preciso implementar-se imediatamente um sistema socialista onde a
burguesia seja alijada do poder e o povo construa um novo Estado de ditadura
do proletariado, regido pelo centralismo democrático socialista que confisque
as grandes riquezas e nacionalize os meios de produção, tanto industrial como
agrária, assim como os setores comerciais e financeiros. Eu vós pergunto: esse
indivíduo pensa de forma utópico-idealista ou materialista? Para surpresa de
alguns ou como confirmação do deboche de outros esse indivíduo está a
pensar de forma idealista. Sim, idealista. O motivo é que, independentemente
do resultado de seu exercício cognitivo ou da solução por ele encontrada para
os problemas visíveis da sociedade em questão, ele não se ateve ao trabalho
de massas em sua perspectiva histórica. Por mais que o resultado de suas
conclusões possam ser idênticos aos da análise materialista, seu método fora
idealista e pode vir a conduzir à erros cruciais, tanto de análise como de
prática.

Eis que funciona a perspectiva utópico-idealista – ela observa o


problema e propõe, em relacionamento estrito com o dogmatismo muitas
vezes, uma solução. Se trata de uma via “instantânea” do -ter um problema- e
-propor uma solução- sem necessitar apoiar-se em nenhum tipo de processo
de desenvolvimento de uma saída no viés histórico e/ou cultural e muito
menos precisa penetrar na investigação presente dos dados concretos. É a
velha política do “como-deve-ser”.

Da mesma forma que o indivíduo em questão propôs o socialismo


como solução dos problemas dessa presente sociedade, outro indivíduo de
maneira igualmente idealista pode propor simplesmente uma solução reversa:
esse, em sua análise, propõe a imensa privatização dos meios de produção
juntamente com a extinção do Estado com a premissa de que isso
desmancharia o instrumento de dominação dos monopólios e faria florescer a
livre concorrência no mercado, barateando e melhorando a qualidade dos
produtos para a população. Ambas soluções tem validade e credibilidade
semelhantes, visto que foram concebidas da mesma forma por um
pensamento idealista, uma ideia da mente de alguém simplesmente, e não de
um método que possa explicar todos os fatores conectados intrinsicamente à
tal quadro de problemática em sua conjuntura temporal, não conseguindo
perceber a conexão natural entre o problema e vários outros elementos que o
acompanham e muito menos sua perspectiva histórica. Novamente:
independente do resultado dessa análise, seja ele igual ou diferente do
resultado da análise materialista, seu método é utópico-idealista, pois ele
utiliza a política do “como-deve-ser”, essa a raiz da utopia idealista.

Dialética e Materialismo

Entendamos primeiro que a dialética é o oposto à metafísica. O


“caminho entre ideias”, em sua epistemologia, se resume numa perspectiva
de análise, compreensão e entendimento dos objetos através de uma ótica
conjunta com quatro aspectos que são esses contrários à metafísica: 1) A
dialética observa os fatos em conjuntos, organicamente interligados em
interdependência e nunca separados entre si, diferindo-se da metafisica que
parte do pressuposto que a causa do ser reside em si mesmo, no próprio
objeto, total em si mesmo e não necessariamente ligado à nenhum outro. 2) A
dialética observa também os fatos em constante movimento e
desenvolvimento e nunca congelados, sempre analisando tudo em seu
contexto histórico e nunca paralisado no tempo ou à par das questões
temporais tal como o faz a metafísica. 3) A dialética observa nesse
desenvolvimento constante e interligado que esse não se resume em
mudanças de crescimento de natureza aritmética e constante simplesmente,
mas em mudanças qualitativas de estágio ulterior ou patamar superior. 4) A
dialética observa a natureza dual de todos os objetos, em seu lado positivo e
negativo, apresentam em si mesmos contradições internas que são
responsáveis pelo seu próprio desenvolvimento, diferindo-se novamente da
metafísica que pressupõe que as causas do desenvolvimento estão
interligadas com sua essência, visualizando o objeto como uno e indivisível em
si mesmo.

Já o método materialista, equivalente ao “quinto pilar” da filosofia


marxista, é avesso à utopia idealista, é a política “como-ela-é” (em alusão ao
antigo pensador genovês). São analisados com profundidade os dados como
eles são, as mecânicas de interação do capital com as massas e como esses se
desenvolveram historicamente. O materialismo, na sua perspectiva dialética –
perspectiva de interligação entre todas as coisas em continuidade ininterrupta
do seu desenvolvimento no processo histórico – trabalha de acordo e com a
natureza em processo contínuo de transformação, sendo que seu método
baseia-se na investigação dos processos históricos e dos dados
concretos/objetivos da realidade, pressupondo assim a movimentação dos
mesmos. O materialismo dialético colhe seus dados baseados na análise mais
profundamente material, objetiva e concreta, em sua conexão constante com
outros fatores e em seu ininterrupto processo de desenvolvimento, e assim
dialoga dentro desses fatos a tese, a antítese e a síntese dos mesmos. Em
suma: ele analisa a matéria e tem na matéria em movimento a tangente de sua
teoria e prática, não em qualquer outra coisa.

O indivíduo que utiliza-se do materialismo dialético para examinar os


problemas de uma sociedade qualquer a estuda em seu contexto econômico
e histórico, para então desdobrar desses dois seu contexto político e
posteriormente cultural e até religioso. Analisando os processos mais
próximos da realidade material, concreta e objetiva – os processos econômicos
– então ele os usa em consonância com a conjuntura histórica para pressupor
uma análise, ainda que primária, dentro da perspectiva materialista. Ele então
não propõe as coisas “como-devem-ser” e sim “como-serão”. Aparentemente
profético porém puramente concreto, ele analisa as perspectivas históricas
localizadas e depois generalizadas de como uma sociedade é conduzida em seu
desenvolver histórico e como as contradições internas se darão em seu seio.

Ao se estudar a história humana sob o viés do materialismo dialético


de origem marxista, depara-se com a ciência econômica como raiz do
pensamento sociopolítico de um determinado tempo, percebe-se a cultura
desenvolvida enquanto reflexo das relações econômicas, assim vinculando sua
interpenetração e interdependência. Vê-se então a história como um processo
conjunto, contínuo e dinâmico de fatos inseparáveis e interdependentes entre
si, desenvolvendo-se não só quanticamente mas qualitativamente e que a
própria história apresenta em si uma contradição principal responsável pelo
seu desenvolvimento – a luta de classes. Eis então que concretiza o
materialismo histórico dialético – o materialismo e a dialética aplicados no
estudo da história humana e cuja perspectiva histórica desenrola as ciências e
o pensamento humano em si.

O materialismo histórico dialético em suma compreende que todo


pensamento é fruto da matéria, um exercício constante do órgão humano que
é o cérebro, refletindo em si a experiência humana. Todo conhecimento é
material e a mente humana é o reflexo dinâmico da experiência material. O
pensamento em si é fruto da matéria e não o contrário. O subjetivo é reflexo
do objetivo e o metafísico reflexo do físico.

Nessa base também observa-se que não há fato ou objeto isolado,


nada que esteja “só”, sem estar conectado historicamente e organicamente
com outrem, sem estar ligado por qualquer que seja o elo entre dois aspectos
ou mais aspectos. A matéria está sempre interconectada, assim como não se
faz possível existir absolutamente nada nesse universo que esteja congelado,
paralisado e que não esteja em movimento, em uma conjuntura histórica
processual infindável.

E finalmente entende-se que tudo em si mesmo possui tese e antítese,


tal como a amanhecer e anoitecer, aparentemente opostos entre si são
necessários para o dia, o calor e frio para tangerem a temperatura, o alto e o
baixo para se conceber a altura. Tudo tem contradição em si e sua essência se
dá sempre na síntese dos contrários. Ora, se o universo como um todo é
formado por dois – matéria e movimento – a síntese da matéria em
movimento é a origem de todas as coisas.

Voltando ao exemplo da sociedade industrializada com problemas


sociais do primeiro e segundo indivíduos: uma análise sob a luz do
materialismo histórico dialético iria analisar os problemas latentes dessa
sociedade – a saber: desigualdade, crime, áreas de pobreza, saúde precária,
entre outros – e utilizar-se da análise econômica de como esses problemas
surgiram e se desenvolveram na conjuntura histórica. Somente analisando
esses problemas, de forma objetiva e concreta, com base no que se tem hoje
enquanto ciência econômica, social e política é que poderão então serem
expostas as contradições dessa sociedade. Dentre essas contradições, que
podem ser apenas uma ou várias, haverá sempre uma contradição principal da
qual todas as outras serão à ela subordinadas. Então, tendo em vista essas
contradições bem definidas e esclarecidas, a análise materialista procederá em
analisar como os conflitos estão por se manifestar nessas contradições. Uma
análise materialista bem executada das contradições com toda certeza já
proverá muito da estrutura e das bases dessas lutas que à ela são inerentes.
Analisando então como as lutas estão a se deslanchar na sociedade em
questão, poderá então se prever as atitudes dos poderes dominantes na
tentativa de assegurar seu poderio, assim como uma empresa privada cujo
objetivo é assegurar o lucro tal faz parte de sua natureza. E, finalmente, com
esse desenvolver natural e não impositivo da realidade concreta, o materialista
toma então sua postura política, reconhecendo-se, definindo-se e colocando-
se enquanto produto histórico em meio à tal processo.

No caso de Marx, apenas como exemplo, a contradição principal de


uma sociedade capitalista desenvolvida se dá em “proletariado x burguesia”,
e as lutas entre tais classes borbulham quantitativamente e qualitativamente
mediante à exploração cada vez mais draconiana do proletariado pela
burguesia. No caso de marxistas posteriores tais como V.I. Lênin, as
contradições por ele analisadas de sociedades ainda subdesenvolvidas de
capitalismo tardio se dão diferentes, mas tal assunto será tratado melhor
posteriormente, tendo como base o aspecto filosófico da contradição.

Há também uma grande diferença, de demasiada importância, entre o


indivíduo materialista e o utópico-idealista: o materialista projeta seu próprio
indivíduo inserido nas massas, inserido como classe esse projeta-se enquanto
pertencente às massas e como parte delas, entendendo-se como fruto das
mesmas em seu processo de desenvolvimento histórico. O materialista
entende-se, em seu próprio ser individual e seu próprio pensamento, como
um resultado histórico do processo contínuo, um produto de seu meio e uma
perspectiva de sua realidade. Contrariamente o utópico-idealista muitas vezes
não consegue observar seu próprio individuo inserido nesse contexto
histórico, se enxerga à par da sociedade mesmo estando nela inserido e
principalmente não entende suas ideias como fruto das massas e da sua
realidade. Esse por muitas vezes entende que sua ideia veio de sua própria
mente isolada ou até mesmo de sua “intuição” e, em casos mais extremos de
idealismo: do “além”. Da mesma forma, ele teoriza suas ideias distante das
massas da qual ele está inserido sem mesmo perceber, formulando teorias “de
uma torre de marfim”, que na maioria das vezes está extremamente distante
da realidade socioeconômica e cultural da população. Tal perspectiva pode até
possuir um caráter racional, uma espécie de racionalismo isolado, porém que
falha cabalmente por não se conectar nem com a história nem com o
desenvolvimento da matéria em constante movimento, permanecendo
distante e imaterial, etéreo à prática.
Então entendamos por consequência que a análise materialista não
tem qualquer ligação com ideias isoladas, de cunho ético ou moral de
indivíduos ou até mesmo grupamentos específicos. A análise materialista vê a
realidade tal como ela se manifesta concretamente em seu desenvolver, tendo
como base as suas relações econômicas e seu desenrolar de conjuntura
histórica, formulando conclusões à base de dados concretos sobre as
contradições específicas de cada sociedade em questão. Em suma, o
materialismo histórico dialético vê as coisas “como-elas-são” e nunca “como-
devem-ser”, e analisando “como-elas-são” de forma totalmente “impessoal”
(ou melhor, de forma “pessoal-inserido-em-contexto”) se extrai do método
materialista informações concretas que permitem ao seu utilizador enxergar o
processo continuo do desenvolver do objeto em questão, jamais encantando-
o com os fantasmas da utopia e do idealismo.

Dessa forma o materialismo investiga dados objetivos e analisa como


esses vão se alterar inevitavelmente devido aos iminentes conflitos presentes
na sociedade. Ele investiga como os processos históricos se dão, ou seja, como
as coisas vão acontecer com base no que está a acontecer em tempo presente
e como aconteceram em tempo passado. Assim, cabe aos materialistas a
decisão de postura e de política com base na natureza do conflito iminente e
não o processo criativo e presunçoso (utópico-idealista) de uma solução. Eis a
chave para se compreender o materialismo e a sua diferenciação absoluta com
a utopia e o idealismo – quem utiliza-se do materialismo como método de
obter conhecimento através da análise, tem o processo histórico continuo e
sempre interligado da matéria em movimento e toma postura política em
relação ao desenvolver histórico natural, atuando no mesmo na forma de
“mergulho” no seio das massas, nunca de uma “torre de marfim”, isolado da
sociedade.

Materialismo e Socialismo

Entendendo-se então as diferenças metodológicas entre o


procedimento de análise utópico-idealista e o materialista, então finalmente
podemos lançar o estudo da perspectiva socialista.
O termo “socialismo” pode vir a aglomerar centenas de interpretações
e isso devido à pensadores que o utilizavam sob à égide da utopia. Eles
(destacam-se Blanc, Fourier, Simon e Owen), assim como o primeiro indivíduo
do passagem anterior (Utopia, Idealismo e Materialismo) ao observar uma
sociedade com inúmeros problemas e contradições, propuseram de forma
idealista uma solução. Tão simples como assim o fizeram, hoje ainda o fazem
muitos indivíduos na presunção de soluções tão utópicas e idealistas como
tais, sejam baseados no socialismo, no capitalismo ou em qualquer outra
corrente teórica/prática.

O socialismo marxista, oriundo da análise de Karl Marx e Friedrich


Engels e também conhecido como socialismo científico, é materialista e nunca
utópico-idealista. Eis sua natureza mais profunda e sua base mais concreta.
Aquele que não entender especificamente essa afirmação jamais poderá
compreender de fato a natureza do marxismo.

E o que essa magna afirmação significa no campo prático? Significa que


o socialismo marxista é fruto de uma análise e de uma perspectiva materialista
da realidade e não uma ideia isolada de um pensador, como vorazmente por
vezes afirma a reação (aquele que é contrário ao marxismo, que reage contra
à revolução). Por estar atrelado ao uso da dialética, essa análise por sua vez é
dinâmica e está em constante mudança na exata mesma velocidade que a
sociedade se transforma, pois como sua raiz jaz na própria sociedade, o
desenvolver da sociedade imbui o desenvolver do marxismo. Compreender
isso também é cabal para a compreensão completa da teoria marxista.

Marx não simplesmente teve uma ideia, chamou-a pelo nome que
assim o desejou e proliferou essa ideia pelo globo. Marx sim analisou a
sociedade de sua época de forma magistral, encontrou e mapeou as
contradições principais dessa sociedade e, encontrando no processo histórico
como essas contradições se desenvolveriam com o desenvolver da sociedade
em si, formulou a tese científica da inevitabilidade do socialismo na realidade
humana.

Essa conclusão de Marx, de que a sociedade inevitavelmente caminha


em direção ao comunismo através do socialismo (fase de transição entre o
capitalismo e o comunismo), provém de um extremamente minucioso e
profundo estudo da economia, história, sociedade e cultura do período
histórico que os próprios Marx e Engels viveram, o período capitalista e o
advento da chamada “cisão do terceiro estado” na sociedade – a diferenciação
e a separação econômica, social e política entre burguesia e proletariado. Marx
analisou toda a conjuntura histórica da humanidade, todas as relações
econômicas desde seu período pré-feudal, analisou-as de forma objetiva e
concreta e sob essa perspectiva formulou postulados que até os dias de hoje
podemos ver claramente expostos em nossa vida cotidiana. Marx viu que as
contradições de classe entre burguesia e proletariado não cessariam devido à
sua natureza completamente distinta, sendo fadadas à um conflito continuo e
duradouro que achará solução inevitável na revolução proletária e na tomada
do poder pelo proletariado, que estenderá tal processo à nível global e fará a
humanidade entrar no comunismo.

Eis a diferença latente e explicita da análise materialista de Marx entre


as variadas análises de cunho utópico-idealista – ele expõe a causa das
contradições e também sua iminente consequência; o processo revolucionário
que resulta da luta de classes. Tal como foram processos revolucionários que
extinguiram a antiguidade e fizeram adentrar a humanidade no feudalismo,
foram também processos revolucionários dessa mesma alcunha que deram o
término do feudalismo e fizeram adentrar o ser humano na era moderna.
Igualmente os processos revolucionários fizeram a era moderna dar espaço à
era capitalista, e as primeiras ondas revolucionárias foram mais visíveis devido
à sua proximidade histórica: A Inglaterra a partir de 1642 e a França a partir de
1789. Marx analisou todos esses processos objetivamente, de forma a
entender o processo continuo e nunca separado ou disperso que é a história
humana (uso da dialética materialista), então visualizou que as contradições
da era capitalista seriam responsáveis por conduzir a luta de classes e abrir o
caminho para a ascensão do proletariado e a subjugação da burguesia.

Esse é o significado da famosa frase: “O capitalismo produz seu próprio


coveiro.” (Marx) Ora, tal como as contradições nas sociedades anteriores
produziram e desencadearam a luta de classes que por sua vez desencadeou a
revolução para uma nova sociedade, alijando uma classe do poder para a
ascensão de outra, assim se sucederá na sociedade capitalista: o proletariado,
já em profunda contradição com a burguesia e já no desenvolver de conflitos
cada vez mais excruciantes entre tais classes – a luta de classes – irá outrora
ascender enquanto classe dominante e extinguir o sistema capitalista,
juntamente com o Estado capitalista, a economia capitalista, a moral
capitalista, a cultura capitalista e todas as características que acompanham a
sociedade capitalista.

Compreender essa perspectiva marxista em seu âmago nos dias atuais


pode se fazer difícil em meio às névoas teóricas que a reação invoca para
ludibriar as massas proletárias e trabalhadoras de maneira geral, desviando a
compreensão objetiva da razão de tais fatos e jogando às massas
compreensões ilusórias para explicar tal realidade. As massas sentem na pele
as contradições e isso é inevitável, porém são enganadas quanto às razões
dessas mesmas, alienadas à sua própria condição artificialmente pela mídia e
valores culturais perpetuados pela classe dominante. Até mesmo essa reação
da classe dominante é totalmente esperada e prevista pelo marxismo mais
elementar, afinal nunca houve na história humana uma passagem de poder
brusca onde aquele que perdeu o poder não defendeu-o ferozmente e
violentamente contra essa perca. Mas por mais que seja difícil enxergar tal
realidade ela se faz muitas vezes evidente e está exposta, nítida e clara, nas
contradições que encontramos no dia-a-dia: pobreza, fome, violência,
exploração, embrutecimento intelectual das massas, guerras de rapina
imperialistas, etc. Vivemos em uma sociedade cuja 50% de toda riqueza está
concentrada nas mãos de menos de 5% da população, ao passo que pelo
menos 30% de toda população mundial, mais de 1 bilhão de seres humanos,
estão abaixo da linha da pobreza, sujeitos à fome, à guerra e à doenças. Essas
contradições estão expostas em nossa sociedade e a partir desse quadro
surgem as lutas, os conflitos, as resistências populares à dominação
imperialista do mundo – essas que são as parteiras das organizações
democráticas e populares, embriões dos partidos comunistas que conduzirão
as nações à revolução e à passagem da humanidade ao comunismo.

Essa é a lógica clara, objetiva, concreta e principalmente dinâmica do


marxismo:

1) A sociedade capitalista gera contradições irreconciliáveis, tais


como a fome que aflige mais de um terço do mundo, a pobreza
que aflige praticamente metade desse, entre outros problemas
que o capitalismo simplesmente não vai resolver pois está
edificado na manutenção desses problemas.
2) As contradições geram conflitos iminentes, as guerras de rapina
que geram guerras de resistência como exemplo clássico ou os
inúmeros protestos populares em quase todos os países.
3) Os conflitos, para serem vencidos pelo povo trabalhador
necessitam do surgimento de organizações democráticas e
populares, que coalizem as variadas lutas do povo.
4) Essas organizações para conduzirem um término absoluto de tais
contradições, acabam por unificar as lutas e mobilizar e politizar as
massas, assumindo uma perspectiva socialista que objetive o fim
das contradições que são a fonte primária dos conflitos.
5) Assim a contradição “proletariado X burguesia” (entre as
contradições subsequentes dessa, que serão tratadas adiante)
desenvolve seus conflitos que terão como fim as revoluções
socialistas no mundo e a passagem desse para a era comunista.

Essas constatações são de cunho materialista e dialético e não utópico-


idealista, pois analisam a sociedade tal como ela é, no período em que se
encontra e como se dão os iminentes conflitos de interesses em seu seio.

E, para comprovar nitidamente tal perspectiva materialista da


realidade, a sociedade contemporânea hoje está implodindo em guerras de
rapina imperialista, conflitos sociais iminentes, pobreza, desigualdade,
exploração, entre outras contradições objetivas e latentes, que podem se
alterar, mudar a aparência, mas que jamais perderão sua essência e só
poderão ter fim no advento revolucionário.

Isso deixa totalmente esclarecido que Karl Marx não foi um pensador
idealista, não pressupôs uma teoria cuja origem jazia apenas no campo das
ideias, e sim foi um estandarte do materialismo que esforçou-se à analisar a
sociedade de maneira concreta e então elaborar teses que estão mais-que-
comprovadas na sociedade contemporânea – explicitas, nítidas e nuas aos
olhos de qualquer analista sério.
Parte II – O Desenvolver Dialético da Prática/Teoria Marxista

Materialismo Marxista Aplicado

O marxismo, por se tratar de uma corrente prático-teórica de cunho


materialista e dialético, desenvolve-se de forma precisamente dinâmica junto
à história: o materialismo histórico dialético previamente analisado.
Diferentemente das correntes teóricas até então estabelecidas, o marxismo
por ser materialista e dialético é conjunto com a prática e por seu caráter
dinâmico não está, sob nenhuma hipótese, separado da sua aplicação à
realidade. “Os filósofos se preocupam em entender o mundo, quando o
importante é transformá-lo” já dizia Karl Marx e esse caráter dinâmico de um
pensamento em constante desenvolvimento se faz refletido nesses dizeres.

Contrário tanto ao racionalismo (esse criticado principalmente por


Marx e Engels) quanto ao empiriocriticismo (esse criticado principalmente por
Lênin), o materialismo histórico dialético ou materialismo marxista se
desenvolve no processo de linha de massas. Tal processo consiste, de forma
extremamente simplificada: 1) aplicar a teoria científica marxista até então
desenvolvida nas massas, 2) colher das massas os resultados e anseios
populares e 3) sintetizar os resultados obtidos utilizando-se da metodologia
científica com a teoria, de forma a desenvolve-la continuamente e novamente
aplica-la (voltar ao passo 1). Aplica-se 1,2 e 3 para engrandecer a teoria com a
prática, essa que uma vez engrandecida com novos resultados volta ao passo
1, 2 e 3 sucessivamente. Dessa forma o marxismo provou-se o mais dinâmico
dos pensamentos até então concebidos, ao mesmo tempo que uniforme em
suas conclusões visto que seu cerne é científico. Vejamos então como o
marxismo se desenvolveu ao longo da história tendo como base o princípio
dialético principal, o princípio da contradição, esse que no âmbito filosófico
centraliza os outros aspectos:

Marx visou, na construção de sua análise sobre o capitalismo, as


sociedades europeias principalmente, com enfoque especial à Inglaterra e
Alemanha – ambas nações que trilharam os árduos processos de Revolução
Industrial (a primeira e a segunda, respectivamente) onde encontra-se tal
como hoje nítida a contradição principal entre o proletariado e a burguesia.
Essa contradição “proletariado x burguesia” é a contradição-chave, alicerce do
capitalismo em si e consequentemente base das revoluções socialistas que se
darão.

O líder revolucionário bolchevique V.I. Lênin, sendo um dos maiores


marxistas da história, analisou a sociedade agrária russa e conclui que apesar
de ser uma potência militar a revolução industrial se fazia ausente em tal
nação, sendo a contradição “proletariado x burguesia” ainda escassa. Esse
concluiu de forma prática e concreta a necessidade de uma aliança operária-
camponesa (já vislumbrada por Marx) que tivesse como direção a ideologia do
proletariado, para que fosse conduzida uma ditadura do proletariado que
extinguisse de forma eficaz as contradições tanto na cidade e na indústria
como nos campos. A contradição “proletariado x burguesia” se fazia nos
centros urbanos russos, porém grande parte da população se encontrava nos
campos sob o julgo da exploração capitalista que se dava na contradição
“camponeses x latifundiários”, esse aspecto subsequente do capitalismo já no
estágio imperialista nas nações agrárias, sendo visivelmente necessária a união
dos operários urbanos com os trabalhadores do campo para galgar a supressão
do capitalismo e o fim do Czarismo absolutista autocrata na Rússia. Então que
Lênin, em sua magna opus: Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, tendo
em vista o contexto da Primeira Grande Guerra – uma partilha do mundo pelas
potências capitalistas industrializadas – uma contradição gigantesca entre as
nações imperialistas e as nações colônias e semicolônias.

Lênin, nessa obra legitimamente marxista, analisou com o uso do


materialismo dialético as contradições do capitalismo em âmbito mundial e
descobriu que ao passo que as nações industrializadas e desenvolvidas
encontravam em seu cerne a contradição “proletariado x burguesia”, essas
oprimiam e exploravam as nações agrárias impedindo seu desenvolvimento e
sua industrialização. Eis a chave para compreender o capitalismo de seu tempo
– o imperialismo –: ele impede e bloqueia o crescimento, o desenvolvimento
e a industrialização das nações agrárias, fazendo-as subservientes às nações
desenvolvidas, mantendo dentro dessas as contradições “camponeses x
latifundiários” e “pequena burguesia e burguesia nacional x burguesia
imperialista”, dessa forma expondo uma contradição mundial do “nações
colônias e semicolônias x nações imperialistas”. Esse imperialismo, chamados
por muitos de neocolonialismo devido à sua natureza, faz de poucas nações
industrializadas exploradoras do restante do mundo, subdesenvolvido, agrário
e explorado pelas mesmas, desenvolvendo a contradição do capitalismo em
novos patamares. Sob a égide do imperialismo, o capitalismo à época de Lênin,
as nações colônias ou semicolônias não industrializavam-se e mantinham-se
dependentes das potências industrializadas, sendo as contradições dessas não
centradas no operário industrial e a burguesia tal como nas nações
imperialistas, mas sim nas contradições entre o povo camponês e os
latifundiários e também nas pequenas burguesias e burguesias nacionais
oprimidas pelo imperialismo estrangeiro.

O capitalismo da época da Marx, ainda exposto nas contradições entre


“proletariado x burguesia” e na exploração industrial pela extração forçada da
mais-valia, absoluta e relativa, do suor dos trabalhadores havia se
desenvolvido em imperialismo. A livre-concorrência havia dado lugar ao
monopólio, o capital industrial havia se fundido ao capital bancário fundando
o capital financeiro, grande gerente do capitalismo mundial dos tempos de V.I,
Lênin e da Primeira Guerra Mundial.

Mao Tsétung, desenvolvendo as teses marxistas de Lênin e


consequentemente apoiado totalmente no caráter materialista e dialético de
sua análise, ao visualizar a sociedade chinesa viu que essa estava em uma
situação semifeudal, descentralizada politicamente, dividida entre senhores
de terra (os “senhores da guerra” chineses) e também explorada tal como uma
colônia pelo império britânico e pelos alemães e norte-americanos. Ele
concluiu que as revoluções burguesas (sendo a Revolução Francesa de 1789 e
a Revolução Inglesa de 1642 como exemplos principais) que transforam as
sociedades modernas absolutistas em democracias burguesas foram movidas
e dirigidas pela burguesia de sua época. Porém, com o advento do
imperialismo, as burguesias nacionais das nações colonizadas, exploradas e
ainda agrárias não seriam capazes de conduzir a revolução burguesa que
livrasse suas respectivas nações do imperialismo e do absolutismo,
construindo uma democracia burguesa. As burguesias nacionais antigas
aspiravam à libertação do absolutismo autocrata, ao passo que as burguesias
nacionais atuais estavam em conluio com o imperialismo – eis uma
característica-chave para a compreensão da economia, política, sociedade e
cultura contemporâneas.
Dessa forma Mao Tsétung visualizou então a sociedade chinesa:
semifeudal e semicolônia, explorada pelo imperialismo exterior e cuja as
burguesias nacionais não tinham forças para encabeçar uma revolução
democrática – tal caraterística Mao chamou de capitalismo burocrático, ou
seja, um capitalismo não-desenvolvido e não-industrializado que servisse
apenas para manter a situação semifeudal e semicolonial da China sob o
comando do imperialismo. Concluiu então que a passagem para uma
sociedade democrática só se daria mediante à uma revolução de novo tipo e
que essa só poderia ser encabeçada pelo proletariado e por sua ideologia,
mesmo que a contradição “proletariado x burguesia” fosse completamente
escassa na China de seu tempo. Uma revolução via Guerra Popular para uma
democracia de novo tipo, já dirigida em sua origem pelo proletariado e por sua
ideologia, que aglomerasse em seu desenvolver as lutas desenvolvidas nas
contradições “camponeses x latifundiários” e “pequena burguesia e burguesia
nacional x burguesia imperialista”.

O imperialismo de Lênin havia se desenvolvido e da mesma forma o


Presidente Mao Tsétung analisou-o e verificou em suas contradições ainda
insolúveis o desenvolvimento das lutas populares que findarão coalizadas tal
sistema. Isso, além de desenvolver o marxismo, apenas fez concluir que o
capitalismo não encontra em si uma saída para suas próprias contradições, não
encontra em si mesmo uma solução para os próprios problemas gerados em
sua natureza mais profunda, sendo que esse inevitavelmente semeia seu
próprio fim.

Tanto Lênin quanto Mao utilizaram-se da análise materialista em suas


concepções, desenvolvendo o marxismo à sua época, tal como desenvolvia-se
o capitalismo. Eis que enquanto o capitalismo desenvolve-se o marxismo
desenvolve-se analogamente – uma das chaves da compreensão do socialismo
científico.

Portanto a luta de classes nos países industrializados e desenvolvidos


hoje se dá ainda na contradição “proletariado x burguesia”, que só poderá ser
resolvida pela revolução socialista visualizada por Marx. Já nos países agrários
e subdesenvolvidos, visto que o imperialismo até então não sessou sua
existência mas pelo contrário implode-se diariamente em suas contradições,
as lutas de classes se dão de forma mais variada, cujo centro geralmente se dá
nas contradições “camponês x latifundiário”, “pequena burguesia e burguesia
nacional x burguesia imperialista”, essas que são frutos da contradição “nações
colônias e semicolônias x nações imperialistas”. Conclui-se dessa forma que as
lutas por libertação nacional – as lutas por independência – são lutas em prol
do socialismo, pois o capitalismo em seu estágio imperialista sobrevive da
dominação colonial e semicolonial de tais nações.

Além disso, Mao foi o primeiro a aplicar a dialética (com enfoque


peculiar à sua característica sintetizadora – tese x antítese – como
característica principal do materialismo dialético) na sociedade já socialista
chinesa, percebendo uma das características mais importantes de todo
conhecimento marxista na história – as lutas de classes ainda permanecem no
período pós-revolucionário, a revolução socialista não é suficiente para
conceber uma sociedade socialista completa visto que a situação mundial e a
pressão externa são potencializadas pela mesma. Mao então deu um passo
ulterior na ideologia do proletariado e encabeçou a Grande Revolução Cultural
Proletária de 1964, cuja a finalidade era continuar a luta de classes dentro da
sociedade capitalista.

Não seria incorreto concluir dessa forma que Marx foi o teórico do
capitalismo, Lênin o teórico do imperialismo e Mao o teórico do socialismo,
assim como não é incorreto dizer que o marxismo hoje é o marxismo-
leninismo-maoísmo e que fora do maoísmo não há marxismo, pois o
maoísmo é o marxismo atualizado e desenvolvido juntamente com o
desenvolvimento do capitalismo.

O Subsequente Desenvolver do Revisionismo

É interessante percebemos que o marxismo veio a ser consolidado, em


suas três partes constituintes, com a magna opus de Friedrich Engels: Anti-
Duhring, assim como com o auxílio de Engels no término da obra mais
completa da história sobre a natureza do capitalismo: O Capital. Não seria
incorreto afirmar que Engels não só auxiliou diretamente Marx, mas edificou
e consolidou seu trabalho teórico e prático na Primeira Internacional.
Não tão similar mas com pontos de convergência em comum, o
marxismo-leninismo só veio à ser edificado e consolidado com o governo de
Joseph Stálin, que sucedeu Lênin no comando da URSS. Somente com o
trabalho prático e teórico de Stálin na continuação do primeiro Estado
proletário da história, bem como da sua gloriosa vitória sobre o nazifascismo,
é que o marxismo-leninismo pode ser estabelecido em seu novo patamar do
marxismo, já construído sob o capitalismo de sua época – o imperialismo.
Stálin mencionou os aportes universais das ideias de Lênin e como o
pensamento leninista, marxista e materialista em sua essência, engrandeceu
as três partes constituintes do marxismo: socialismo científico marxista,
economia marxista e filosofia marxista.

E, seguindo a mesma lógica apesar de diferir em muito em vários


aspectos práticos, o Presidente Gonzalo edificou e consolidou o marxismo-
leninismo-maoísmo como o marxismo de sua época em sua liderança do
Partido Comunista do Peru na Guerra Popular que este conduz em tal país.
Assim como Lênin havia desenvolvido e aprimorado as três partes
constituintes do marxismo, Mao o fez ao desenvolver de Lênin e tal trabalho
fora evidenciado por Abimael Guzman.

Ora, seria extremamente raso concluir simplesmente que Engels,


Stálin e Gonzalo foram responsáveis diretos pela consolidação do
desenvolvimento do marxismo em seu dinamismo materialista da mesma
maneira, visto que Engels fora contemporâneo de Marx quase que durante
todo período enquanto intelectual/militante, Stálin sucedeu Lênin no governo
soviético e conviveu com esse por pouco tempo e o Presidente Gonzalo jamais
se quer conheceu pessoalmente o Presidente Mao Tsétung, separado desse
por tempo e espaço. Todavia seria não só correto, como necessário afirmar
que o marxismo-leninismo-maoísmo jamais estaria consolidado e
desenvolvido em tal grau de amplitude e abrangência se não fosse por essas
três personalidades. O trabalho tanto prático como teórico desses se trata de
obra indispensável para estudo dos dirigentes e militantes comunistas de todo
mundo, visto que esse fora de extrema importância e necessidade para o
desenvolvimento do marxismo em marxismo-leninismo-maoísmo.

Porém outros marcos de extrema importância a serem lembrados no


desenvolver da prática/teoria marxista são o surgimento de variadas correntes
do assim chamado “revisionismo”. Revisionismo, em suma significa “rever” a
obra de Marx, tirar dessa seu caráter materialista, científico e já comprovado
pela aplicação prática, introduzir não só utopia e idealismo ao pensamento
marxista, o que por si só seria impossível, mas aniquilar o marxismo de dentro
para fora retirando desse seu pilar básico de sustentação – o materialismo
histórico dialético. Podemos visualizar que a cada vez que o capitalismo se
desenvolvia o marxismo se desenvolvia analogamente, pela própria lógica já
exposta, e que a cada desenvolver do marxismo esse se fazia em via conflituosa
com o revisionismo de sua época.

Marx combateu os anarquistas da Primeira Internacional liderados por


Mikhail Bakunin, assim como a obra de Joseph Proudhon – ambas correntes
teóricas galgadas no revisionismo anarquista utópico em sua essência, que
desconsideravam em muito a necessidade da ditatura do proletariado e do
processo de desenvolvimento do socialismo para transição para o comunismo.

Engels combateu as conclusões equivocadas a respeito do socialismo


de Duhring em sua principal obra e assim acabou por lançar as bases do
marxismo até hoje válidas e comprovadas pela prática aplicada em
experiências posteriores.

Lênin combateu incansavelmente os revisionistas da Segunda


Internacional liderados por Karl Kautsky e Eduard Bernstein, assim como os
mencheviques e sua política girondina e conciliatória.

Stálin combateu não só Leon Trotsky, ex-menchevique e grande


traidor do Partido Comunista da União Soviética, como todo seu pensamento
denominado trotskismo, que até hoje assombra, capitula e apodrece os
movimentos populares e partidos de cunho progressista com o revisionismo
pequeno-burguês por esse difundido e praticado.

Mao combateu o revisionismo exacerbado de Nikita Krushov e Josip


Tito na URSS e Iugoslávia respectivamente, expondo através da Carta Chinesa
– documento elaborado pelo Partido Comunista da China – o teor revisionista
das teses krushovistas/titoístas: os três pacíficos (transição pacífica,
coexistência pacífica e emulação pacífica) e os dois todos (partido de todo
povo e Estado de todo povo).
Gonzalo combateu o revisionismo de Deng Xiaoping na China após a
morte de Mao Tsétung e também o dogmatismo de Enver Hoxha após sua
posição revisionista exposta em 1979 sobre o Pensamento Mao Tsétung (o
marxismo-leninismo aplicado à China de Mao). As conclusões e análises de
Gonzalo também direcionaram críticas à Fidel Castro e o revisionismo armado
conduzido em Cuba que encorajou as guerrilhas fracassadas da América Latina,
tais como a FARC, bem como pontuou os desvios idealistas do kimilsonguismo
ou filosofia Juche coreana encabeçada por Kim Il-Sung.

Todos esses revisionistas: Bakunin, Proudhon, Duhring, Kautsky,


Bernstein, Trotsky, Krushov, Tito, Xiaoping, Hoxha, Castro e Kim bem como
muitos outros que seguiram os desvios utópico-idealistas desses, são
representantes do revisionismo que até hoje está presente em muitos
movimentos degenerados que apenas capitulam os incautos e fazem florescer
o oportunismo.

Podemos concluir então que a cada desenvolver do capitalismo e


consequentemente do marxismo -hoje marxismo-leninismo-maoísmo-, o
revisionismo ei de florescer como uma resultante do oportunismo, do conflito
de duas linhas presente na sociedade e da não compreensão completa do
método materialista e do pensamento marxista pelos desvios de origem
utópico-idealista ou por oportunismo. Tal proceder é natural e faz com a luta
de classes pela ascensão do socialismo se dê sempre em duas frentes – no
combate às ideias capitalistas -reacionárias- e no combate às ideias
pseudosocialistas -revisionistas-. Se faz nítido inúmeras vezes o coro do
revisionistas com os reacionários e a forma que esses coincidem em ideias e
métodos. Em prática ambos são nocivos ao povo e ao socialismo, ao passo que
seu surgimento se dá naturalmente, a compreensão de ambos enquanto
cabeças diferentes da mesma quimera também se faz aos poucos pelas massas
que combaterão ambos durante o desenvolver da luta de classes. As atitudes
dos reacionários, marionetes do imperialismo, agridem o povo
descaradamente, ao passo que as atitudes dos revisionistas também acabam
por agredir o povo de forma mais sutil mas igualmente perceptível. Em suma
são um só inimigo – reacionários e revisionistas – e que serão combatidos pelas
massas que ganham consciência cada vez mais abrangente no desenvolver da
história. Como dizia V.I. Lênin: “Pretender combater o imperialismo
(reacionários) separado do combate ao oportunismo (revisionistas), não passa
de uma fraseologia oca.”
Parte III – A Refutação das Principais Teses Reacionárias e
Revisionistas

Teses Reacionárias Refutadas pela Própria Natureza do Marxismo

A tese reacionária “o socialismo é uma utopia”, um sistema


inalcançável do mundo idealista, cai por água abaixo ao serem analisadas as
perspectivas marxistas do desenvolver das contradições capitalistas, que
caminham cada vez mais à iminência revolucionária devido à profundidade das
contradições. A exposição das contradições irreconciliáveis de nossa sociedade
capitalista deixa muito claro que tais contradições e consequentemente tais
conflitos não chegarão à um fim antes de serem resolvidas em sua raiz – essa
que está incrustada dentro do sistema capitalista em si. O socialismo se dá,
conforme explicado anteriormente, na coalizão das lutas que são
consequências das contradições que são intrínsecas ao capitalismo, ou seja,
acompanhará e assombrará inevitavelmente o capitalismo até seu fim. O
socialismo é, em suma, uma consequência histórica natural do capitalismo,
pois esse é incapaz de resolver suas próprias contradições em si mesmo.

A tese reacionária “o socialismo falhou” ou “o socialismo não deu


certo” por si só também é completamente ilusória. O socialismo não “tenta e
consegue” ou “tenta e falha”, pois não é um projeto idealista que tentou ser
implantado no mundo. O socialismo floresceu principalmente em duas
conjunturas histórico-geográficas: na Rússia em 1905 e se concretizou na URSS
de 1922 à 1953, e na China em 1922 e se concretizou no mesmo país de 1949
à 1976. Sua ascensão e queda apenas demonstrou que as contradições
“proletário X burguesia” bem como as contradições do imperialismo, estão
borbulhando e chegando à estágios de transformação profunda na sociedade
que atingiu seu ápice na Grande Revolução Cultural Proletária da China de
1964 à 1974. Enquanto as contradições existirem, mais ondas revolucionárias
surgiram e mais o processo revolucionário aprenderá dos erros anteriores.
Enquanto houverem contradições tão explicitas, haverá luta e essa luta é
dinâmica, sendo que as organizações que as conduzem cada vez mais
aprendem com seus próprios erros e acertos do passado. A URSS de
Lênin/Stálin e a China de Mao foram apenas e tão somente a primeira onda
revolucionária, que abriram caminho para novas ondas que estão à tomar
forma e força nesse exato momento da história humana. Assim como as
Revolução Inglesa (1642-1689) e a Revolução Francesa (1789-1799), pioneiras
em derrubar o regime absolutista e trazer a democracia burguesa ao mundo
caíram após suas primeiras manifestações, suas propostas posteriormente
conquistaram o mundo com a Primavera dos Povos de 1848, apenas séculos
após. O capitalismo, origem de todas as contradições do capital, continua a ser
seu próprio coveiro, pois na própria intervenção imperialista (a fase
degenerativa que se encontra tal sistema atualmente) gera resistência popular
dos povos explorados e tais são as condutoras do processo revolucionário. A
verdade se dá e se resume de forma extremamente simples – enquanto
houver contradições, haverá revoluções.

A mesma tese reacionária “o socialismo não deu certo” também pode


ser contestada magistralmente pela própria análise materialista da história.
Uma boa análise nos fatos objetivos e concretos, embasados esses em
números documentados, pode demonstrar o gigantesco crescimento em
todos os aspectos possíveis, tanto econômicos como sociais, da URSS em
relação à Rússia czarista que a precedeu ou a China de Mao que precedeu a
China do Kuomintang. Os fatos são simplesmente incontestáveis e irrefutáveis
em demonstrar o quão grande fora o crescimento de ambos após a revolução.
Isso força até os dias atuais a reação criar números imaginários de mortes para
demonizar a revolução socialista com dados falsos que já foram desde a
década de 90 totalmente refutados – um sinal evidente de covardia e
desespero.

A tese “o socialismo vai contra a natureza humana” vai igualmente por


água abaixo, visto que o marxismo trabalha de forma intrínseca com a
natureza não só humana como em sua relação com o mundo e com a própria
natureza da progressão da matéria em movimento no mundo. Sabendo-se
comprovadamente que o marxismo é materialista, sendo materialista ele não
vai de encontro com nenhum tipo de natureza, senão analisa essa natureza em
toda sua diversidade e profundidade para dela retirar seus postulados. O
marxismo trabalha diretamente com o desenvolver natural da história e é um
produto direto dessa; fruto do desenvolver de suas contradições e que
caminha junto à natureza, inclusive humana. É valido dizer que o “socialismo
não pretende ser bom”, pois as noções de “bom” ou “mau” são de cunho
idealista, assim sendo o socialismo é um processo puramente natural da
história.

A tese “o socialismo é beligerante” é totalmente desconexa da


realidade. A guerra já está acontecendo há tempos na sociedade capitalista e
os povos oprimidos iniciaram também há tempos sua luta de resistência e
defesa contra o avanço do imperialismo. Muitas dessas guerras ou são
encobertas pelos meios de comunicação que em sua maioria pertencem à
reação e quando não conseguem ser mais encobertas por tais são por esses
tratadas e filtradas mediante à seus interesses escusos, de forma que as
verdadeiras notícias são extremamente deturpadas. Dessas guerras injustas o
povo, em sua opressão e exploração, reage por não mais querer participar do
jogo imperialista e essa contradição é também precursora do socialismo. Ora,
se a Revolução de 1917 na Rússia não surgiu de um contexto da guerra
imperialista que foi a Primeira Guerra Mundial? Ora, se a Revolução Chinesa
de 1949 não surgiu após à árdua invasão japonesa à China na Segunda Guerra
Mundial? Visto que o imperialismo sempre atacará e são dos seus ataques
nocivos ao povo e que assim é o povo se levantará em defesa, é valido até
certo ponto dizer “para o socialismo vencer ele não precisa atacar, mas ensinar
o povo a se defender”.

A tese “o socialismo é um dogma” talvez seja uma das mais ignóbeis e


chulas depreciações sem sentidos já lançada sobre tal. Visto que o marxismo é
dinâmico, esse continuamente avança em sua prática e teoria com o
desenvolver das contradições de classe, ao passo que não entra em
contradição com o que já fora concluído anteriormente. A linha de massas;
aplicar o marxismo na sociedade, colher os resultados, sintetizá-los e reaplica-
los novamente para obter-se mais resultados dá ao marxismo um dinamismo
exemplar que o faz acompanhar os desenvolvimentos históricos naturais e
cujo nenhum pensamento utópico-idealista pode alcançar pois é de sua
natureza estar preso aos seus conceitos primitivos e sendo assim não evolui.

A tese “o socialismo é um pensamento estagnado e congelado à época


de Marx” também se faz totalmente equivocada e demonstra uma não
absorção do caráter dialético do materialismo marxista. A dinamicidade e a
constante evolução prática do marxismo o faz aplicável à quaisquer condições
da sociedade capitalista, visto que ele está ao capitalismo anexado enquanto
fruto constante das contradições que são ao capitalismo intrínsecas. Notemos:
1) Enquanto o capitalismo existir – ele gerará determinadas contradições. 2)
Enquanto determinadas contradições capitalistas existirem – o marxismo irá
existir. 3) Se as contradições do capitalismo tomarem formatações diferentes,
ainda que mantenham em seu cerne a contradição principal (“proletariado x
burguesia”) parindo novas contradições à essa subservientes (“camponês x
latifundiário” e “colônia ou semicolônia x imperialismo” como principais
exemplos), a análise e a prática marxista far-se-á válida, visto que a
contradição principal se mantém da mesma forma que as raízes do marxismo.
Independentemente do tempo em que se encontra o capitalismo, esse trará
em seu âmago as contradições insolúveis que nutrem o marxismo enquanto
pensamento-guia das classes oprimidas e explorados sob a direção do
proletariado, logo, enquanto houver capitalismo esse mesmo estará a
condicionar, pela sua própria natureza, o seu fim.

Teses Revisionistas Refutadas pela Própria Natureza do Marxismo

A tese anarquista de que seja possível uma revolução que aniquile o


Estado burguês ao mesmo tempo que conquiste o poder da burguesia pelo
povo seja imediata, não sendo necessária a ditadura do proletariado, é
totalmente utópico-idealista pois tenta enxergar uma sociedade similar à
comunista sem prever a necessidade de construção histórica da mesma. Os
anarquistas pretendem de forma revolucionária tal como os comunistas
derrubar o Estado burguês e a burguesia, porém enxergam que seja possível a
manutenção de um sistema anarco-comunista imediato, sem o gerenciamento
proletariado em um novo Estado socialista. Ora, se mesmo com um Estado
socialista, centralizado e dirigido pelo partido comunista nos moldes de Lênin-
Stálin-Mao, a luta contra a reação e o revisionismo se fazem árduas e
extremamente difíceis, imagine-se lutar sem essa coalizão e centralização de
forças? Seria possível vencer a luta contra a reação inteira ou até mesmo
construir uma nova sociedade sem um órgão que centralize o poder?

A tese socialdemocrata se faz tão utópica quando à anarquista, pois


apesar de pressupor a construção histórica de um Estado socialista para
conquistar o poder da burguesia, essa pressupõe que isso possa se dar de
forma pacífica e não revolucionária. Seria pressupor que por eleições ou até
mesmo manifestações pacíficas seja possível a classe burguesa deixar o poder
de forma tranquila, visto que a mesma subiu ao poder de forma violenta e não
anseia por um segundo se quer em demonstrar tal exacerbada violência para
com o povo. Ora, se a violência do Estado burguês, principalmente
imperialista, já se faz grotesca e gigantesca via intervenções militares ou
policiamento ofensivo contra a população mesmo em tempos de relativa “paz”
onde a burguesia está ainda no poder, imagine-se quando a mesma se sentir
ameaçada perder tal poder para o povo? Ela não responderá de forma
truculenta e extremamente violenta?

A tese trotskista se mostra, assim como seu próprio precursor,


edificada sobre a traição do movimento socialista e galgada na tentativa de
minar o avanço popular. Hoje é possível serem observados praticamente todos
os partidos de cunho trotskista fazerem coro e conluio com os interesses
imperialistas ao mesmo tempo que se ocupam em difamar e atrasar o avanço
dos partidos de cunho leninista e maoísta. Mais que isso, sua própria teoria
está fundamentada sobre teses mencheviques anticomunistas tais como o
multipartidarismo como sinônimo de democracia, a desconsideração da
aliança operário-camponesa e o pressuposto que o operário possa conduzir
sozinho a revolução e também a interpretação absurdamente errônea do
contexto da revolução permanente. Ora, se um partido pode se conectar ao
povo para o exercício da ditadura do proletariado e possa representar os
interesses dos trabalhadores, qual seria a necessidade do multipartidarismo,
se não dar possibilidade de poder para os reacionários? Ora, se não foi
historicamente comprovada, pela experiência da Comuna de Paris em
comparação com a Revolução de Outubro de 1917 ou a Revolução de Chinesa
que tomou o poder para o proletariado em 1949, que a aliança operário-
camponesa é um pressuposto de extrema necessidade? Ora, se a
interpretação equivocada de Trotsky sobre a revolução permanente não cai no
mesmo erro anarquista de almejar derrubar o poder burguês sem planejar
construir um poder proletariado?

A tese krushovista é facilmente refutada não só pela teoria em si, com


seus três pacíficos e dois todos que vão totalmente de encontro com o
marxismo em sua essência, como historicamente podemos perceber que a
sucessão de Krushov implantou as arapucas que desconstruíram o socialismo
soviético “de-dentro-para-fora”, possibilitando na continuidade de seu
revisionismo seu auge nas Perestroika e Glasnost de Gorbatchov e na
dissolução completa do socialismo na URSS. Em verdade, o socialismo na URSS
terminou-se na ascensão de Krushov ao poder, precursor do social-
imperialismo soviético.

A tese conselhista/titoísta também vai de encontro ao centralismo


democrático leninista e pressupõe caracteres que lembram o caminho
anarquista em seu período pós-revolucionário. Ainda que em menor grau o
conselhismo acaba por cair no mesmo erro anarquista de negar a necessidade
do centralismo, pois crê numa sociedade de poder dividido e não unificado sob
à égide da democracia proletária. Assim como em Krushov essa tese
historicamente também se provou falha com o general Tito na Iugoslávia.

A tese de socialismo de mercado introduzida por Deng Xiaoping na


China provou-se como retrocesso absurdo à lógica capitalista de governo, de
forma amplamente descarada e desmascarada. Até mesmo o mais reacionário
dos seres pensa duas vezes antes de dizer que a China após Xiaoping estava
regida pelo socialismo, tamanho fora o desvio deste. A revolução democrática
de novo tipo assim como a nova política econômica soviética (NEP) de 1922 à
1928 pressupõe liberdade de mercado interna em países não industrializados,
subdesenvolvidos e agrários tais como a China e a Rússia de tal época, porém
essa liberdade de mercado era de caráter temporária, interna e compartilhava
de um protecionismo em relação ao mercado externo, pois precisava ejetar o
imperialismo e fazer prosperar a pequena e média burguesias legitimamente
nacionais. A política de Xiaoping, em contradição com tal pressuposto, abriu o
mercado chinês para todo o mundo e principalmente para o imperialismo, em
detrimento da pequena e média burguesia legitimamente nacional.

A tese hoxhaísta surgiu de um surto equivocado de ortodoxia de Enver


Hoxha, que por tentar criticar o revisionismo chinês de Xiaoping, aglomerou
aspectos do socialismo aplicado por Mao Tsétung anteriormente. Hoxha
deliberadamente atribuiu, seja por desonestidade ou incompreensão, a China
revisionista pós-1979 à Mao Tsétung e culpou o Presidente Mao pelo social-
imperialismo que havia substituído o socialismo nesse país e nessa época – tal
equívoco seria equivalente a culpar Stálin pelo revisionismo de Krushov, o que
no mínimo ultrapassaria as barreiras do plausível. Suas deliberações
descaradamente errôneas foram responsáveis por fissionar o movimento
comunista internacional e dificultaram durante décadas a compreensão de
vários aportes universais de Mao Tsétung ao socialismo.

A tese foquista, ainda que galgada em princípios revolucionários,


baseia-se numa equivocada compreensão da Guerra Popular e descarta o
papel do Partido Comunista e da Frente Única Antifascista e Anti-imperialista
para a revolução, depositando cegamente tal responsabilidade histórica no
exército guerrilheiro. Tal postura se faz extremamente utópico-idealista e não
conta com os principais fatores táticos que trazem à Guerra Popular sua
eficácia. A estratagema militar foquista também se faz falha, visto que prevê a
criação de focos guerrilheiros apenas e não trabalha com a perspectiva de
dispersão. A teoria foquista foi responsável por desencadear várias derrotas
populares na Venezuela, Colômbia, Congo e Bolívia. Já o revisionismo castrista,
o revisionismo aplicado à Cuba (única experiência foquista de relativo
sucesso), foi responsável por trazer à tal país o subdesenvolvimento, o
agrarísmo e a total dependência ao social-imperialismo soviético de
Krushov/Brejnev, sendo Cuba um exemplo completo de uma semicolônia e
jamais uma experiência socialista.

A tese kimilsonguista, concentrada por motivos históricos na


República Popular Democrática da Coréia sob o nome de filosofia Juche,
baseia-se num desvio idealista da filosofia marxista de retorno ao idealismo
humanista. Tal ideia foca-se no homem e esquece-se do materialismo histórico
dialético que é ao marxismo intrínseco, cometendo vários erros de análise,
compreensão e política. Esses erros iniciaram-se com uma postura
completamente errônea do Grande Debate (cisão sino-soviética) da década de
60 fizeram da Coréia do Norte uma semicolônia tanto do social-imperialismo
soviético de Krushov/Brejnev quanto parcialmente e posteriormente do social-
imperialismo chinês de Xiaoping, jamais podendo ser caracterizada como uma
experiência socialista.
Conclusão
Tal como é conhecimento científico que há apenas uma fórmula para
a água (duas moléculas de hidrogênio e uma molécula de oxigênio), há apenas
uma fórmula para o socialismo marxista, visto que esse também pode ser
chamado de socialismo científico, sua concepção enquanto pensamento se faz
igualmente científica. Não há dois tipos diferentes de marxismo assim como
não há dois resultados para uma soma simples na matemática.

Mas, como visto anteriormente, o desenvolver das contradições


internas acaba por parir, seja por oportunismo ou incompreensão, as
interpretações utópicas, idealistas, metafísicas, empiristas e racionalistas do
marxismo – o revisionismo. Por sua vez, tal revisionismo inserido
artificialmente ou por fruto equívocos no seio da classe trabalhadora faz brotar
teratologias nocivas ao desenvolvimento do socialismo, que acabam somente
por alimentar a reação.

Tal é o trabalho conjunto do revisionismo e da reação.


Respectivamente: enquanto um utiliza-se covardemente do nome do povo,
dos símbolos do povo e do trabalho do povo para degenerar a imagem das
organizações populares e democráticas, o outro aproveita desses
falseamentos para tecer absurdas críticas à tais sem qualquer fundamento,
totalmente desprovidos de profundidade analítica e argumentativa. Ora, se a
reação, movida pelos membros que lucram com a exploração do povo, não
busca incansavelmente denegrir aqueles que se declaram seus inimigos,
aquele que se diz inimigo mas se transveste em falsidade escancarada apenas
facilita seu trabalho não?

Eis que o povo se vê forçado à combater dois monstros, ou melhor,


duas faces do mesmo monstro: revisionismo e reação. Mas ao que vale a
filosofia popular, se faz mister cessar o que alimenta tal monstro: utopia e
idealismo.

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