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CONTABILIDADE CONDOMINIAL:
PERCEPÇÃO DOS CONDÔMINOS
QUANTO AO CONHECIMENTO
TÉCNICO DA PRESTAÇÃO DE CONTA
À LUZ DA LEGISLAÇÃO VIGENTE
Recebido em 07.12.2017
Aprovado em 12.12.2017
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de 2002 (que instituiu o novo Código Ci- aprovar o orçamento das despesas, as
vil), vários artigos da Lei n. 4.591/64 foram contribuições dos condôminos e a pres-
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Lei n. 10.406/02, art. 1.348, VIII, e Lei n. determinado período. A seção seguinte ex-
4.591/64, art. 22, § 1º, f de Condomínio? põe a metodologia de pesquisa, seguida da
Dessa forma, o objetivo principal deste discussão e apresentação dos resultados
estudo é evidenciar a percepção dos condô- desta pesquisa. Finaliza-se o estudo com as
minos quanto ao conhecimento técnico da conclusões e as referências.
prestação de contas à luz do Novo Código
Civil, Lei n. 10.406/02, que dispõe sobre CONTEXTO E A REALIDADE
condomínio edilício, e Lei n. 4.591/64, que INVESTIGADA
dispõe sobre o condomínio em edificações
e incorporações imobiliárias. A razão deste O desafio da vida condominial pode ser
estudo se assenta na Lei n. 4.591/64 em seu aquele originado de conflitos entre vizinhos.
artigo 22, letra f, que diz que é obrigação do Com isso, existe uma necessidade de um ad-
síndico “prestar contas à assembleia dos ministrador flexível, com o conhecimento
condôminos”, e na letra g, “manter guarda- das mais variadas áreas, “tanto nas áreas de
da durante o prazo de cinco anos para even- direito (legislação condominial, trabalhista,
tuais necessidades de verificação contábil contratos, consumidor, etc.), administração
toda a documentação relativa ao condomí- (gestão condominial), contabilidade, entre
nio” (BRASIL, 1964). outras, todas essas necessidades permitiram
O presente estudo está estruturado da o surgimento de novos administradores dos
seguinte forma: a seção que segue apresenta condomínios que é chamado de Síndico
uma contextualização do objeto de estudo. Profissional” (GONI, 2008, p. 9).
A seção posterior traz uma breve revisão A administração de condomínios é
dos aspectos teóricos, apresentando a ad- uma atividade complexa influenciada pe-
ministração condominial como um proces- las expectativas dos moradores. Por isso é
so de gestão de recursos oriundos de mul- aconselhável aos administradores procu-
tas, cotas etc.; a convenção condominial rar conhecer primeiramente as expectati-
como um acordo estipulado em uma folha vas dos condôminos em relação à gestão
entre os condôminos e toda a sua adminis- do condomínio, podendo assim traçar
tração; e prestação de contas como um pro- com clareza os objetivos a serem alcança-
cesso de justificar receitas e despesas de um dos, atingindo a maior satisfação dos
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A Lei n. 4.591/64, em seu art. 1º, diz do condomínio é realizada pelo síndico
que condomínio são edifícios ou conjuntos com a ajuda de um grupo de moradores. Já
de edifícios, de um ou mais pavimentos, na cogestão, a função de síndico é auxiliada
construídos sob a forma de unidades isola- por uma assessoria especializada, com aju-
das entre si, destinadas a fins residenciais da de um profissional de contabilidade de-
ou não residenciais, em que as suas partes vidamente registrado no CRC. Por último,
ou como todo podem ser alienados, objeti- temos o síndico profissional, que é uma
vamente considerados; e a forma da utiliza- empresa especializada contratada para ad-
ção de cada unidade, propriedade autôno- ministrar o condomínio, assumindo toda
ma está sujeita a limitações dessa Lei. responsabilidade a respeito da sua ges-
Dentro do condomínio existem áreas tão (GONI, 2008, p. 18-19).
que são de uso comum e área de uso parti- O Código Civil de 2002 prevê o art.
cular de cada condômino. Essa disposição 1.347: “A assembleia escolherá um síndico,
está no Código Civil Brasileiro em seu ar- que poderá não ser condômino, para ad-
tigo 1.331 § 1°. As partes de propriedade ministrar o condomínio, por prazo não
de uso particular são constituídas por superior a dois anos, o qual poderá reno-
apartamentos próprios separados com pa- var-se” (BRASIL, 2002). Nessa óptica, po-
redes e cada condômino tem domínio úni- de-se constatar que o Código Civil de 2002
co das suas áreas. No § 2° da mesma lei as não exige que o síndico seja um condômi-
partes que compõem o uso comum são o no ou proprietário. Há intérpretes dessa lei
solo em que se constrói o edifício, suas que consideram que o síndico pode ser
fundações, pilastras, teto, vestíbulos etc. pessoa física ou jurídica, proprietária ou
Todas as partes destinadas a uso comum não de uma propriedade condominial.
podem ser utilizadas livremente por todos Além de respeitar o Código Civil de 2002 e
os condôminos, desde que respeitem a a Lei n. 4.591/94, o dever do síndico se es-
convenção. tende por outras leis, como: “Lei n. 8.137
Existem três modalidades de adminis- de 27 de dezembro de 1990, que trata dos
tração de condomínio, que são: autogestão, crimes da ordem tributária, econômica e
cogestão e administração do síndico pro- contra relações de consumo e também có-
fissional. Na autogestão, a administração digo da defesa do consumidor, regulado
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pela Lei n. 8.078 de 11 de setembro de Parágrafo único. Para ser oponível con-
A convenção condominial nada mais é que Com base no artigo da lei acima, todo
um acordo estipulado em uma folha entre condomínio tem que ter a sua convenção,
os moradores do condomínio e toda a sua e deverá ser registrada no Cartório de
administração. Nesse acordo será decidida Imóveis para ser validada perante tercei-
a forma da convivência dentro do condo- ros. Também é preciso assinatura de titula-
mínio. Para Franco (apud FERNANDES, res de direitos que representem no míni-
2013, p. 26), “a convenção é a lei interna do mo 2/3 dos membros que compõem a
edifício e, por isso, é de obediência obriga- assembleia do condomínio. Lembrando
tória por todos os seus ocupantes”. Por sua que, conforme reconhecido pela Súmula n.
vez, Vargas (2004, p. 32) define convenção 260 do Superior Tribunal de Justiça, mes-
como “lei universal do condomínio, eis mo sem ter feito o registro da convenção
que obriga a todos sem distinção valendo no CNPJ, o condomínio pode beneficiar-
até para os que penetrarem no condomí- -se da convenção aprovada para regula-
nio após sua constituição”. rizar as relações entre os moradores
O novo Código Civil, Lei n. 10.406/ (VARGAS, 2004, p. 31).
2002, art. 1.333, afirma: Tanto a convenção de condomínio
como o regimento interno devem ser ela-
A convenção que constitui o condomí- borados com base no respeito às “normas
nio edilício deve ser subscrita pelos titula- constitucionais e infraconstitucionais per-
res de, no mínimo, dois terços das fra- tinentes à regulamentação da boa convi-
ções ideais e torna-se, desde logo, vência em edifício composto por unidades
obrigatória para os titulares de direito autônomas, de forma que as regras alcan-
sobre as unidades, ou para quantos so- cem legitimidade coercitiva no âmbito
bre elas tenham posse ou detenção. condominial” (CAMPANA, 2014, p. 16).
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cendo normas que valem para o comporta- forma prevista na convenção, a fim de
dade, para que o condomínio possa ter contribuições dos condôminos e a pres-
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fenômenos e toda a sua abordagem não 2ª Fase: etapa em que foi realizada a
estão claros. Para evidenciar essas relações delimitação do estudo e se estabeleceram
ele utilizará várias fontes de evidências, os contornos do fenômeno, apropriando-
como: questionários, entrevistas etc. É um -se da questão problema e definindo-se o
modelo adequado quando o pesquisador objeto de estudo. Foram escolhidas nessa
quer responder a perguntas do tipo “como” fase as técnicas de coleta de dados.
e “por quê” (YIN, 2015, p. 12). Desse 3ª Fase: a última etapa foi destinada à
modo, o método de estudo de caso permi- análise sistemática e redação do relatório.
te investigar processos sociais quando es- A pesquisa possui dois momentos de
ses ocorrem, o que permite uma análise abordagem dos dados:
processual, contextual das várias ações que 1º Momento – Dados qualitativos: entre-
ocorrem nas organizações. vistas com as pessoas-chave do condomínio.
2º Momento – Dados quantitativos:
Coleta de dados solicitação do arquivo que contém a pres-
tação de contas do exercício findo em
A coleta de dados foi realizada mediante 31/12/2014.
corroboração junto aos administradores e
moradores do Conjunto Residencial Ignêz Análise dos dados
Andreazza, por meio de reuniões presen-
ciais, bem como pela obtenção de infor- Primeiramente foi realizada a tabulação
mações e documentações suportes neces- dos dados no Excel, possibilitando a visua-
sárias às análises, para fins de obtenção do lização das relações entre eles, o que facilita
resultado desta pesquisa. a sua compreensão e interpretação. Os da-
As fases do processo se estabeleceram dos são classificados pela divisão em gru-
da seguinte forma: pos e reunidos de modo que os critérios
1ª Fase: etapa exploratória na qual se possam ser comprovados ou refutados.
definiu o escopo do objeto de estudo a par- Para análise e interpretação dos da-
tir de visitas e contatos com a organização, dos foi usado o modelo estatístico por
permitindo inferência dentro do contexto meio das funções “CONT.SE” e “CONT.
do mundo real (YIN, 2015, p. 23). SES” do Microsoft Excel 2010. A função
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“CONT. SE” possibilita a contagem dos de um critério. Para descobrir quantos res-
dados coletados através de um determina- pondentes (funcionário público) têm ren-
do critério estabelecido. Nesse caso, possi- da familiar, incluindo a dele, de mais de
bilitou a realização da contagem dos dados seis salários mínimos, foi escolhido um
coletados deste estudo pelo seguinte crité- intervalo entre a ocupação dos responden-
rio. Por exemplo: as planilhas do gênero tes e a renda, e depois com o critério de
dos respondentes contêm lista de gêne- busca referente a esse intervalo, depois
ros na coluna A (1=masculino e 2=femini- mais um intervalo e seu respectivo critério
no) e a resposta do respondente na coluna de busca, exemplo =CONT.SES (‘F2:-
B. Foi usada a função CONT.SE para con- F83;”1”;G2:G83;”5”).
tar quantas vezes se repetem o número 1
ou 2 na coluna B e, dessa maneira, deter- RESULTADOS DA PESQUISA
minar quantas pessoas são do sexo mascu-
lino ou feminino. Por exemplo: =CONT. Nesta seção realiza-se uma análise descri-
SE (B2:B25,”1”). tiva dos questionários respondidos por 82
A função “CONT. SES”, além de auxi- condôminos, incluindo administradores e
liar a realização da contagem dos dados funcionários, para identificar o nível da
por um critério estabelecido, possibilita percepção técnica dos condôminos no que
cruzar dados por meio de buscas com mais tange à prestação de contas.
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lino) (BRASIL, 1991). O Gráfico 3 mostra dentes não têm nenhum conhecimento a
que 35=42,68% dos respondentes conside- respeito da lei.
ram ter conhecimento baixo das leis, e Sobre o conhecimento da Lei n.
26=31,71% deles alegam não ter nenhum 4.591/64 no que tange à prestação de con-
conhecimento a respeito dessa lei. Ainda tas do condomínio, sendo o síndico obri-
temos 19=23,17% com o conhecimento gado a justificar sua gestão, o Gráfico 3
médio, e apenas 2=2,44% com o conheci- mostra que 64=78,05% dos respondentes
mento alto, percebendo-se assim um nível não dispunham de nenhum conhecimen-
de conhecimento fraco. Essa situação pode to e 10=12,20% consideram ter conheci-
gerar impasse entre as partes na hora de mento baixo.
cumprir suas obrigações. Por último, o resultado do Gráfico 3
Quando questionados sobre o conhe- mostra que não existe nenhum responden-
cimento do Código Civil de 2002, que pre- te com o conhecimento alto sobre a norma
vê o art. 1.347 sobre Assembleia, onde são do CFC-ITG 2002, que dispõe sobre enti-
tomadas as decisões do condomínio como dades sem fins lucrativos, ficando 4=4,88%
a escolha do síndico, a formação de um dos respondentes com o conhecimento en-
conselho consultivo, entre outros, o Gráfi- tre médio e baixo, destacando assim um
co 3 mostra que 61=74,39% dos respon- resultado significativo de maioria absoluta
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que 74=90,24% dos respondentes não têm suficiente para realizá-la, nem recursos
nenhum conhecimento da norma. necessários a essa prática (GAO; HO, 2011
Percebe-se que, ao longo do Gráfico apud MALHEIRO, 2013).
3, a maioria dos respondentes não tem ne- Por esse motivo é relevante ter conhe-
nhum conhecimento a respeito das leis do cimento das leis que favorecerem o conví-
condomínio, concluindo-se assim que o vio de forma harmônica, com ajuda da
nível de conhecimento técnico a respeito convenção de condomínio onde estará es-
das leis do condomínio é fraco, e essas si- tipulada a forma ideal da utilização de
tuações podem gerar desconfiança e con- cada unidade; a forma de rateio das despe-
flitos entre condôminos e administração. sas; a data para convocação das assem-
A falta de conhecimento adequado a bleias; a duração do mandato do síndico e
respeito das práticas e das leis que regulam do conselho consecutivo; as penalidades e
as entidades condominiais cria dificulda- as multas referentes ao descumprimento
des para o condomínio administrar as pro- das normas (SCHWARTZ, 2009).
priedades; os condôminos muitas vezes Pela relevância que a capacitação tem
não sabem o que fazer quando deparam em uma determinada organização, o Grá-
com uma situação a realizar ou simples- fico 4 demonstra a participação dos res-
mente não têm disponibilidade de tempo pondentes em capacitação da gestão do
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Não se
Como você avalia sua Em Não
participação?
Sim % Não %
Parte
% aplica a este %
respondeu
%
condomínio
Presença nas reuniões
8 9,76 44 53,66 15 18 15 18,29 0 0
ordinárias do condomínio
Presença nas reuniões
extraordinárias do 7 8,54 44 53,66 15 18 16 19,51 0 0
condomínio
Busco ler os documentos
7 8,54 43 52,44 1 1,2 31 37,8 0 0
enviados pelo síndico
Analiso os documentos de
2 2,44 48 58,54 0 0 30 36,59 2 2,4
prestação de contas
Observo os livros de
5 6,1 57 69,51 0 0 13 15,85 7 8,5
contabilidade
Procuro participar de
5 6,1 60 73,17 0 0 7 8,54 10 12
comissões
Não me interesso por
6 7,32 36 43,9 0 0 5 6,1 35 43
assembleias
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