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RESUMO O presente estudo analisa o tema das despesas públicas da virada dos exercícios finan-
ceiros, através da interpretação sistemática e teleológica dos dispositivos constitucio-
nais e legais pertinentes à matéria (Lei Complementar n.º 101, de 4 de maio de 2000;
Lei Federal no 4.320, de 17 de março de 1964 e a Lei Federal no 8.666, de 21 de junho
de 1993), da doutrina atual e da jurisprudência dos Tribunais de Contas da União
e o Paulista. Ao final, aponta soluções práticas de cunho eminentemente gerencial,
dentro do campo do Direito, com ênfase na conta especial “restos a pagar”.
ABSTRACT: This study examines the issue of public expenditure at the turn of the financial years
through systematic and teleological interpretation of the relevant matter (Comple-
mentary Law Nº 101 of May 4, 2000 constitutional and legal provisions;. Federal
Law no 4320 of March 17, 1964 and Federal Law no 8,666 of June 21, 1993 ); the
current doctrine and the jurisprudence of the Federal Court of Auditors and the Pau-
lista Court of Auditors. At the end, pointing eminently practical solutions managerial
nature, within the field of law.
Palavras-chaves: Créditos orçamentários. Dotação orçamentária. Vigência dos con-
tratos administrativos. Restos a pagar. Ano civil.
Keywords: Budget credits. Budget allocation. Validity of administrative contracts. Re-
mains payable. Calendar year
1. INTRODUÇÃO
1
Procuradora do Estado de São Paulo. Bacharel em Direito pela USP. Especialista em Direito Tributário
pela Escola Superior da Procuradoria Geral do Estado.
344 Vera Wolff Bava Moreira
2
JUSTEN FILHO, Marçal, Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 13. ed., São Paulo:
Dialética, 2009, p. 144.
Lei no 4.320, de 17 de março de 1964, norma jurídica esta que, embora datada de
1964, é anterior ao período da ditadura militar e não se caracteriza como uma norma
autoritária, muito menos de “de ocasião”, momentânea ou efêmera. Ao contrário, ela
vem perdurando ao longo de mais de 40 anos, sendo até mesmo elogiada por doutri-
nadores das mais diferentes correntes.
Nesse passo, oportunos os comentários de Eduardo Marcial Ferreira Jardim3
a respeito do relacionamento de ambas as leis enfocadas, frisando os propósitos da
Lei de Responsabilidade Fiscal, embora criticando sua denominação, pois, a seu ver,
o nome “Lei de Responsabilidade Financeira” talvez fosse mais adequado e compatí-
vel com sua natureza:
Com efeito, debalde a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, e outros diplomas
supervenientes já cuidassem do mesmo assunto, o controle orçamentário
ainda afigurava-se insatisfatório e, por esse motivo, o referido diploma veio
a lume com o desígnio de redimensionar a transparência no gerenciamento
do orçamento. Sua denominação depara-se inadequada, pois tem por objeto
normas de direito financeiro e regras de responsabilidade cível, administrativa
e penal, não guardando, pois, qualquer nexo direto com o âmbito fiscal. Por
isso, seria compatível com sua natureza a denominação Lei de Responsabilidade
Financeira.
3
JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira, Manual de Direito Financeiro e Tributário. 10 ed., São Paulo: Saraiva,
2009, p. 89/90.
4
CRUZ, Flávio da (Coord). Comentários à Lei nº 4.320 – Normas Gerais de Direito Financeiro – Orçamen-
tos e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2008,
apresentação.
5
PINTO Jr, Mário Engler. Desafios para Adoção do Orçamento Impositivo. In: Revista da Procuradoria da
Procuradoria Geral do Estado. São Paulo: nº 61/62, p. 78, jan/dez. 2005.
6
KANAYAMA, Rodrigo Luís. Os efeitos da despesa pública na economia: uma visão com fundamento no
Direito Financeiro contemporâneo. Biblioteca Digital Revista de Direito Público da Economia – RDPE, Belo
Horizonte, ano 6, nº 24, out./dez. 2008. Disponível em: <http://www.editoraforum.com.br>. Acesso em: 26
dez. de 2009.
7
PINTO Jr, Mário Engler. Desafios para Adoção do Orçamento Impositivo. In: Revista da Procuradoria da
Procuradoria Geral do Estado. São Paulo: nº 61/62, p. 79/80, jan/dez. 2005.
8
Ibidem, p. 80.
que o regime adotado no Brasil é um regime misto, pois vale o regime de caixa para
as receitas e o de competência para as despesas.
Assim, nas palavras de Afonso Gomes Aguiar, “[...] pertence ao exercício finan-
ceiro a receita nele arrecadada, não se levando em consideração a época, o exercício em que
ela se gerou, mas sim a data de sua efetiva arrecadação.”9 Já a despesa, por conta de seu
regime de competência, pertence ao exercício em que foi empenhada, não importan-
do a data de seu pagamento, mas o exercício em que foi criada.
9
AGUIAR, Afonso Gomes de. Lei de Responsabilidade Fiscal – Questões Práticas. 2.ed., Belo Horizonte:
Fórum, 2006, p. 67.
10
AGUIAR, Afonso Gomes de. Lei de Responsabilidade Fiscal – Questões Práticas. 2.ed., Belo Horizonte:
Fórum, 2006, p. 213.
11
Idem.
12
AGUIAR, Afonso Gomes. Lei de Responsabilidade Fiscal. Questões Práticas. 2. ed., Belo Horizonte: Fó-
rum, 2006, p. 213.
13
CRUZ, Flávio da (Coord). Comentários à Lei nº 4.320 – Normas Gerais de Direito Financeiro – Orçamentos
e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2008, p. 75.
com saldo suficiente para atendê-la, como, também, a existência dos recursos financeiros, e
em montantes suficientes para saldá-la”.14
Anteriormente à edição da Lei no 4.320, de 17 de março de 1964, não se
exigia a efetiva disponibilidade financeira para a realização de despesas.
É o que nos conta Afonso Gomes Aguiar:
Porém, corrigindo erro do passado, quando aquela legislação submetia o em-
penho de despesa apenas à existência da autorização de crédito orçamentário,
com saldo suficiente para atendê-la, sem, contudo, esboçar o menor cuidado
com a existência das disponibilidades financeiras correspondentes, a Lei nº
4.320/64 instituiu uma programação financeira, impondo, ao Poder Executi-
vo, a obrigação de aprovar um quadro de quotas trimestrais para as despesas
que cada unidade orçamentária fica autorizada a utilizar, com a finalidade de
assegurar a estas, no momento certo, a soma das disponibilidades financeiras
suficientes à execução dos seus programas, e de manter, dentro da medida do
possível, o equilíbrio entre a despesa de fato realizada e a receita efetivamente
arrecadada. (arts. 47/50).
A partir de 1º de janeiro de 1965, data em que a Lei nº 4.320/64 entrou em
vigor, só se poderia empenhar qualquer despesa, se as correspondentes dispo-
nibilidades financeiras já se encontrassem depositadas na conta bancária aberta
em nome de cada unidade administrativa ou unidade orçamentária, à sua in-
teira disposição e obedecidos os limites destes depósitos.[...] O certo é que, se
tivessem as Administrações Públicas aplicado corretamente as disposições da
lei em referência, nunca se teria realizado o arrolamento, como Restos a Pagar,
de despesas que não contassem com suas respectivas disponibilidades finan-
ceiras, em Caixa, desde o momento de sua criação, em montantes necessários
aos seus pagamentos, em razão do que, não se teria, também, a dívida pública
que se tem na atualidade.15
14
AGUIAR, Afonso Gomes de. Lei de Responsabilidade Fiscal – Questões Prática. 2.ed., Belo Horizonte:
Fórum, 2006, p. 219.
15
Ibidem, p. 216 a 218.
16
Ibidem, p. 209.
Com efeito, o artigo 41 da LRF, que tratava diretamente dos Restos a Pagar,
foi vetado. Porém, não obstante o veto, permaneceu intacta a previsão a seu respei-
to no Relatório de Gestão Fiscal (artigo 55, inciso III, da LFR) que deve ser emitido,
ao final de cada quadrimestre, pelos titulares dos Poderes e órgãos referidos no
artigo 20, do mesmo Diploma Legal.
Em tal Relatório, deverão constar as despesas inscritas em Restos a Pagar:
tanto as empenhadas e liquidadas, quanto as empenhadas e não liquidadas (e aqui
se faz referência ao artigo 41, inciso II), as empenhadas e não liquidadas inscritas
até o limite do saldo da disponibilidade de caixa e, finalmente, as não inscritas por
falta de disponibilidade de caixa e cujos empenhos foram cancelados.
Ou seja, na prática, vê-se que continuam a ser realizadas inscrições em
Restos a Pagar de despesas empenhadas com fundamento apenas na existência
de créditos orçamentários com saldos suficientes para atendê-las, mas sem a efe-
tiva existência de recursos financeiros necessários ao pagamento. Tanto é assim,
que a própria Lei de Responsabilidade Fiscal prevê a hipótese no artigo 55 acima
mencionado.
Desde a entrada em vigor da Lei no 4.320, de 17 de março de 1964, toda-
via, como já explicado, não mais deveria ser assim.
As razões do veto presidencial ao artigo 41 da Lei de Responsabilidade
Fiscal concentraram-se justamente no fato de que ele, não obstante cuidar de
medidas voltadas a conter o endividamento público, permitiria a inscrição de
despesas sem condicioná-las à existência de recursos em caixa, prática que, nos
termos da justificativa contida no próprio veto, fere o princípio do equilíbrio fis-
cal, cria transtornos para a execução do orçamento e, em última análise, ocasiona
crescimento da dívida pública.
17
Ibidem, p. 217.
18
CRUZ, Flávio (Coord.). Lei de Responsabilidade Fiscal Comentada. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2006, p. 170.
19
OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, p. 252.
20
Ibidem, p. 252 e 253.
21
SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Procuradoria Administrativa. Parecer PA 212/2007. Rela-
tora: Ana Maria de Oliveira Toledo Rinaldi. 06 set. 2007.
22
SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Procuradoria Administrativa. Parecer PA 212/2007. Rela-
tora: Ana Maria de Oliveira Toledo Rinaldi. 06 set. 2007.
23
CRUZ, Flávio da (Coord). Comentários à Lei nº 4.320 – Normas Gerais de Direito Financeiro – Orçamentos
e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2008, p. 76.
5. A TEORIA NA PRÁTICA
5.1 Jurisprudência
24
TCU – Acórdão 1249/2005 – Plenário – Consulente: Presidência da CCSIVAN. Disponível em: <www.
tce.gov.br>. Acesso em: 21 out. 2009.
5.2. Doutrina
25
BITTENCOURT, Sidney. A questão da duração do contrato administrativo. Revista Diálogo Jurídico.
Salvador, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, ano I, nº 9, dezembro, 2001. Disponível em: <http://
www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20 de out. 2009.
26
MANHANI, Danilo Antonio. Restos a pagar na Lei de Responsabilidade Fiscal. Jus Navigandi, Teresina:
ano 9, nº 542, 31 dez. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6145>.
Acesso em: 16 out. 2009.
27
BITTENCOURT, Sidney. A questão da duração do contrato administrativo. Revista Diálogo Jurídico.
Salvador, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, ano I, nº 9, dezembro, 2001. Disponível em: <http://
www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20 de out. 2009.
28
MARTINS, Lucas Furtado. Curso de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo: Atlas, 2001, p. 147
-148.
29
MANHANI, Danilo Antonio. Restos a pagar na Lei de Responsabilidade Fiscal. Jus Navigandi. Teresina,
ano 9, nº 542, 31 dez. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6145>.
Acesso em: 16 out. de 2009.
30
CRUZ, Flávio da (Coord). Comentários à Lei nº 4.320 – Normas Gerais de Direito Financeiro – Orçamentos
e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2008, p. 78.
31
SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Procuradoria Administrativa. Parecer PA 212/2007. Rela-
tora: Ana Maria de Oliveira Toledo Rinaldi. 06 set. 2007.
necessário, para tanto, que se faça uma cláusula expressa a fim de que a vigência do
ajuste fique sujeita à condição resolutiva.
Obviamente, é muito importante que se trabalhe com esta hipótese devida-
mente justificada. De qualquer forma, tem-se aqui uma situação na qual é desneces-
sário o empenho da integralidade do valor da contratação, uma vez que inserida no
contrato cláusula resolutiva condicionando a continuidade da sua vigência à existên-
cia de recursos para a finalidade na dotação orçamentária seguinte.
A parte final do Parecer PA 212/2007 é também bastante esclarecedora, por-
quanto resume de maneira completa a possibilidade já comentada, ou seja, aquela em
que há recursos na totalidade do valor do objeto, porém aqueles relativos ao exercício
subsequente onerarão orçamento futuro, desde que haja cláusula resolutiva expressa
no contrato “consubstanciada na existência de recursos orçamentários legalmente aprova-
dos pela respectiva lei de meios”:
Ante todo o exposto, em resposta às indagações da CJ, concluo:
(a) é possível celebrar contrato de prestação de serviços não contínuos, e que não
represente despesa de investimento, com vigência que ultrapasse o exercício finan-
ceiro, na hipótese prevista no artigo 57, inciso I, da Lei no 8.666, de 21.06.1993;
(b) é viável, no último ano de vigência de lei instituidora de Plano Plurianual,
celebrar contrato de prestação de serviços não contínuos, e que não represente
despesa de investimento, com vigência que ultrapasse o exercício financeiro,
não sendo o caso de haver empenho da totalidade do valor do contrato a ser
celebrado, onerando recursos do orçamento do ano da celebração, se disponí-
veis, inclusive quanto aos valores referentes aos serviços a serem prestados no
exercício subseqüente, os quais ficariam inscritos em ‘restos a pagar’ (artigos
36 da Lei no 4.320/1964 e 29 a 35 da Lei estadual no 10.320/1968). Consoante
parecer GPG n° 003/2006, deverá haver inscrição em Restos a Pagar dos recur-
sos financeiros que deverão suportar as despesas se ocorrer atraso no cumpri-
mento do cronograma e as despesas previstas no cronograma para realização
e liquidação em exercício financeiro posterior (2008) onerarão o orçamento
do exercício futuro. Anoto que a possibilidade contemplada no § 5o do art. 12
da Lei estadual no 10.320/1968 diz respeito à antecipação de execução, que
pode acontecer se houver interesse e desde que haja recursos adequados, nos
contratos plurianuais;
(c) é necessário estipular cláusula resolutiva ‘consubstanciada na existência de
recursos orçamentários legalmente aprovados pela respectiva lei de meios’, nas
hipóteses levantadas nas letras ‘a’ e ‘b’ supra, como já anteriormente definido
pela PGE por ocasião da aprovação dos pareceres PA-3 n° 301/1995 e Subg.
Cons. 173/2006.32
32
SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Procuradoria Administrativa. Parecer PA 212/2007. Relatora:
Ana Maria de Oliveira Toledo Rinaldi. 06 set. 2007
33
SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Procuradoria Administrativa. Parecer PA 173/2006. Relatora:
Ana Maria de Oliveira Toledo Rinaldi. nov. 2006
34
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 13 ed. São Paulo:
Dialética, 2009, p. 151.
35
Ibidem. p. 151.
36
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 13 ed., São Paulo:
Dialética, 2009, p. 139.
37
FERRARI FILHO, Sérgio Antonio. Aproveitamento de licitações iniciadas em exercício financeiro anterior. In:
Revista de Direito da Procuradoria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: v. 4, nº 7, jan/jun.
2000. Disponível em: <www.camara.rj.gov.br/setores/proc/revistaproc>. Acesso em: 16 dez. 2009.
38
MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Licitação e a Lei de Responsabilidade Fiscal. In: Revista de Direito
Administrativo, vol 230, pp. 357/387, out/dez 2002.
39
Ibidem, p. 140.
(um pré-contrato), dos eventuais e futuros contratos dela decorrentes, o que explica
que ora não incida, ora incida o artigo 57 da Lei no 8.666, de 23 de junho de 1993:
Tome-se como exemplo o contrato de fornecimento de combustíveis. O prazo
final deste contrato é o dia 31 de dezembro. Isto significa que, antes do dia 31
de dezembro, a Administração é obrigada a concluir licitação, para que ela tenha
condições de abastecer os seus veículos no dia 1º de janeiro. E o mesmo acontece
com material de expediente, material de limpeza, insumos de informática, etc.
Todos eles vencem, no mais tardar, dia 31 de dezembro, o que gera inconvenientes
de monta para a Administração e, muitas vezes, algo próximo do caos.
Com o registro de preços esses inconvenientes são atenuados.
Como dito, a ata de registro de preços não se confunde com o contrato. O
registro de preços abrange três etapas: licitação, ata de registro de preços e
contrato. Encerrada a licitação, o fornecedor assina a ata de registro de preços
e, depois disto, de acordo com a demanda da Administração, contratos.
O prazo da ata de registro de preços não se sujeita às regras do artigo 57 da Lei
nº 8.666/93, que dizem respeito, diga-se mais uma vez, aos contratos. Ou seja,
a Administração pode dispor de ata que vá de julho a julho, de março a março,
conforme a conveniência dela. Dentro desse prazo, de validade da ata de registro
de preços, a Administração poderá firmar vários contratos, de acordo com a sua
demanda, que serão regidos, por sua vez, pelo artigo 57 da Lei nº 8.666/93.40
Esta é, por sinal, uma das grandes vantagens do sistema de registro de pre-
ços: não há necessidade de se fazer a reserva de recursos orçamentários para deflagrar
e realizar o procedimento licitatório que constituirá a Ata de Registro de Preços.
Mas voltando ao tema propriamente dito nesta pesquisa, a questão orçamen-
tária, até aqui bem melhor equacionada, terá ainda que ser complementada com a
abordagem das despesas da virada no último ano dos mandatos eletivos.
40
GUIMARÃES, Edgar; NIEBUHR, Joel de Menezes. Registro de Preços – Aspectos Práticos e Jurídicos. 1
ed. Belo Horizonte: Fórum, 2008, pp. 32/33.
41
CRUZ, Flávio (Coord.). Lei de Responsabilidade Fiscal Comentada. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2006, p. 175.
42
AGUIAR, Afonso Gomes. Lei de Responsabilidade Fiscal. Questões Práticas. 2 ed., Belo Horizonte:
Fórum, 2006, p. 209.
aqueles que contratam com o governo atuem como fiscais da aplicação do di-
nheiro público no último ano do mandato do governante. Nessa época, por
força do período eleitoral, a propensão a gastos imoderados tende a crescer.43
43
FURTADO, José de Ribamar Caldas. Os restos a pagar de final de mandato. Jus Navigandi. Teresina,
ano 9, nº 607, 7 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6414>.
Acesso em: 16 out. 2009.
8. CONCLUSÃO
44
Procuradoria Geral do Estado. Gabinete do Procurador-Geral. Parecer GPG 003/2006. Relatora: Maria
Emília Pacheco. 10 mai. 2006.
45
Procuradoria Geral do Estado. Gabinete do Procurador-Geral. Parecer GPG 003/2006. Relatora: Maria
Emília Pacheco. 10 mai. 2006.
46
Decreto n.º 59.650, de 25/10/2013: Dos Restos a Pagar - Artigo 9º - As despesas do exercício fi-
nanceiro pendentes de pagamento poderão ser inscritas como restos a pagar processados ou não
processados, até 10 de janeiro de 2014. § 1º - O registro dos restos a pagar far-se-á por credor e
empenho correspondente. § 2º - Os restos a pagar não processados serão inscritos pelas próprias
Unidades Gestoras Executoras - UGEs, restritos às despesas de caráter essencial, devidamente justi-
ficada e condicionada à existência da disponibilidade financeira necessária à sua cobertura. § 3º - O
empenho da despesa não inscrito em restos a pagar será automaticamente anulado no SIAFEM/SP.
Artigo 10 - Os restos a pagar inscritos em 2013 terão validade até 31 de dezembro de 2014, inclusive
para efeito da comprovação dos limites constitucionais de aplicação de recursos nas áreas do ensino
e da saúde. § 1º - Os saldos de restos a pagar inscritos em exercícios anteriores a 2013, exceto os das
vinculações constitucionais, serão bloqueados no SIAFEM/SP em 30 de dezembro de 2013. § 2º - As
Unidades Gestoras Executoras - UGEs poderão assegurar a manutenção dos saldos de restos a pagar
inscritos em exercícios anteriores a 2013 providenciando os seus desbloqueios até 10 de janeiro de
2014, condicionada a real conformidade da obrigação com os respectivos compromissos e respaldada
na existência de disponibilidade financeira para sua cobertura, nos termos previstos no parágrafo único
do artigo 37 da Lei nº 14.837, de 23 de julho de 2.012. § 3º - Os saldos desbloqueados pelas UGEs,
nos termos do parágrafo anterior, terão validade até 31 de dezembro de 2014.§ 4º - Os saldos que per-
manecerem bloqueados em 11 de janeiro de 2014 serão automaticamente cancelados no SIAFEM/SP.
e orientação traçada pela Procuradoria Geral do Estado, desde que, repita-se, em ca-
ráter excepcional e devidamente justificado.
E ainda há as ressalvas à necessidade de previsão de recursos orçamentários,
como ocorre com a licitação de concessão de serviço público, quando a Adminis-
tração não assumir obrigação financeira de custeio da atividade. Ainda que haja o
surgimento de encargos para os cofres públicos, poderá ser dispensada a exigência
se houver uma previsão de recursos específicos, como, por exemplo, nas atividades
custeadas por meio de taxas, situação em que pagarão os próprios beneficiários do
serviço. Na licitação para sistema de registro de preços também não há que se falar em
previsão de recursos orçamentários, pois, somente após constituída a Ata, por ocasião
de cada contratação é que tal necessidade surgirá.
Efetivamente, o estudo de forma sistemática da matéria (por sinal, muito
pouco enfrentada), assim como das exceções às regras que obstaculizam as aqui de-
nominadas despesas da virada dos exercícios financeiros, tanto as expressamente pre-
vistas, quanto as que dependem de uma maior e mais profunda interpretação, podem
trazer o conhecimento e os esclarecimentos necessários para o efetivo cumprimento
da Constituição Federal e das leis infraconstitucionais pertinentes, organizando me-
lhor o trato da coisa pública e sendo de grande valia para que a máquina administra-
tiva possa funcionar normalmente, sem interrupções.
Enfim, o necessário para uma holística abordagem a respeito das despesas
públicas na virada dos exercícios financeiros, ao que parece, foi colocado.
As viradas dos exercícios financeiros vão continuar sendo complicadas en-
quanto as leis não forem devidamente compreendidas e interpretadas de forma siste-
mática e com bom senso, de modo a que sejam adequadas à realidade prática.
Procurou-se, contudo, com esta pesquisa, estudar a questão e buscar al-
gumas respostas concretas. Eis aqui, portanto, uma pequena contribuição para
estimular a empreitada.
Referências bibliográficas
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Horizonte: Fórum, 2006.
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FURTADO, José de Ribamar Caldas. Os restos a pagar de final de mandato. Jus Navigandi.
Teresina, ano 9, nº 607, 7 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/
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TOLEDO Jr., Flávio C. de; ROSSI, Sérgio de Ciquera. Lei de Responsabilidade Fiscal Co-
mentada Artigo por Artigo. 3 ed. rev e at. São Paulo: NDJ, 2005.