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Ética Cristã - 1º semestre 2024

Teresa Cristina Pereira


CRP 19/003326

1. INTRODUÇÃO

“Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia
reto aos seus olhos.” (Juízes 17:6 e 21:25)

O mundo em que vivemos é um mundo marcado pelo relativismo, onde o certo


e o errado nunca foram tão banalizados.
Para a maioria das pessoas, os padrões morais e valores sociais ficam a critério
de cada um.
Por isso, vivemos num mundo altamente individualista que prevalece nas
relações sociais, educacionais, econômicas, na religião e no trabalho.
A cada dia somos desafiados a viver de tal maneira que a glória de Deus se
manifeste através de nossas vidas, cumprindo assim o propósito de Deus para cada um de nós.
Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões.
Fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver
com nossa vida individual; a vida da empresa, da igreja, a vida da nossa família, enfim, a vida
de nossos semelhantes.
Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível se
pronunciar sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de
quaisquer preconcepções ou pré-convicções.
Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas “ciências exatas” é
possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos,
objetivamos e vivemos.
As decisões que tomamos são invariavelmente influenciadas pelo horizonte do
nosso próprio mundo individual e social.
Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos
baseados num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos ser certo ou errado.
É isso que chamamos de ética.

Ed. Oviedo Teixeira


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Mario Sérgio Cortella (1) ensina o seguinte:


Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três
grandes questões da vida:
(1) quero? Nem tudo que eu quero eu posso.
(2) devo? Nem tudo que eu devo eu quero.
(3) posso? Nem tudo que eu devo eu quero.
Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o
que você pode e o que você deve.

2. ETIMOLOGIA
Segundo o Dicionário Aurélio, “ética é o estudo dos juízos de apreciação que
se refere à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal”.
Etimologicamente, ética vem do grego ethos, e significa originalmente morada,
seja o habitat dos animais, seja a morada do homem, lugar onde ele se sente acolhido e
abrigado.
O segundo sentido, proveniente deste, é costume, rito, procedimento, modo ou
estilo habitual de ser.
Com o tempo, passou a designar qualquer conjunto de princípios ideais da
conduta humana, as normas a que devem se ajustar as relações entre os diversos membros de
uma sociedade.

3. DEFINIÇÃO DE ÉTICA
Como a ´tica considera o que é moralmente certo ou errado, numerosas teorias
têm sido propostas com a finalidade de discernir o que é uma ação moralmente boa. Mas,
aqui, é suficiente observar as características distintivas da ética cristã. Discutiremos cada
uma, de forma suscinta.
Para nós, que temos Jesus Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas, o
certo ou o errado devem ter como base a Bíblia Sagrada, considerada como “regra de fé e
prática”.
1 https://youtu.be/3CjH9nRhV58?si=ejyHaruTWMiJHLqR

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3.1 A ética cristã baseia-se na vontade de Deus:


A ética cristã tem a forma de um mandamento divino. Um dever ético é algo
que nós temos de fazer; é uma prescrição divina. Deus deseja que se faça o que é certo em
concordância com seus próprios atributos morais:
➢ Lv 11, 45 - “Eu sou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por
isso, sejam santos, porque eu sou santo.“
➢ Mt 5, 48 - “Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.”
➢ Hb 6, 18 - “... para que, por meio de duas coisas imutáveis nas quais é impossível
que Deus minta, sejamos firmemente encorajados...”
➢ 1Jo 4,16 - “... Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em
Deus, e Deus nele.“
➢ Mt 22,39 - “...Ame o seu próximo como a si mesmo.”
Em suma, a ética cristã baseia-se na vontade de Deus, e Deus nunca deseja algo
que seja contrário ao seu caráter moral imutável.

3.2 A ética cristã é absoluta:


A partir do fato de que o caráter moral de Deus não muda, chega-se a
conclusão de que as obrigações morais derivadas de sua natureza são absolutas, Isso significa
que são obrigatórios a todas as pessoas, em todos os lugares, em todos os tempos. Isso inclui
obrigações morais como santidade, justiça, amor, honestidade e misericórdia.
➢ Tg 1,17 - “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das
luzes, que não muda como sombras inconstantes.
➢ Gn 1.27 - “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.“
➢ Gn 9.6 - “Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será
derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado.”
➢ Ex 20.13 - “Não matarás.”

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➢ Rm 13.9 - “Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "Não matarás", "Não


furtarás", "Não cobiçarás"e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste
preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo".
➢ Tg 3.9 - “Com a língua bendizemos o Senhor e Pai e com ela amaldiçoamos os
homens, feitos à semelhança de Deus. ”

Por exemplo, matar é uma atitude errada porque os seres humanos são criados
à imagem de Deus, o que inclui uma semelhança moral com Deus.

3.3 - A ética cristã baseia-se na revelação de Deus.


Deus tem revelado a si mesmo tanto na natureza (Sl 19, 1-6) quanto na
Escritura (Sl 19, 7-14)
A revelação geral de Deus, como fonte do dever moral, não exime ninguém,
nem mesmo um ateu, de suas obrigações morais.
Ou seja, mesmo que os incrédulos não tenham a lei moral em suas mentes
ainda assim eles a têm escrita em seus corações. Mesmo que não a conheçam cognitiva, eles
a deonstram através de suas inclinações.
• Rm 1, 19-20; 2,12-15; 13-15
• Rm 2,18; 3,2
• Sl 19, 1-6; 7-14

3.4 - A ética é prescritiva.


Uma vez que o direito moral é prescrito por um Deus moral, ele é prescritivo.
Não existe lei moral, sem um legislador moral. Os cristãos não encontram seus deveres éticos
em um padrão de cristãos, mas em um padrão para cristãos: a Bíblia.

3.5 – A ética é deontológica.


Sistemas éticos podem ser divididos em duas grandes categorias: a
deontológica (centrada no dever) e a teleológica (centrada nos meios e fins).

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Duas ilustrações para esclarecer essa diferença, Um homem tenta socorrer uma
pessoa que está se afogando, mas fracassa.

➔ De acordo com uma forma de ética teleológica, a atitude desse homem não foi um ato
bom porque não produziu bons resultados. Uma vez que os resultados determinam a
bondade do ato, e os resultados não foram bons, então segue-se que a tentativa de
resgate não foi um ato bom. Por outro lado, poderia se argumentar que a tentativa foi
boa, apesar de ter falhado, porque teve um bom efeito. Pessoas ouviram falar a
respeito dessa tentativa e foram encorajados a ajudar a salvar os outros no futuro.

➔ Já na ética cristã deontológica, os cristãos não acreditam que a cruz falhou


simplesmente porque apenas alguns serão salvos. Ela foi suficiente para todos, apesar
de ser eficiente apenas para aqueles que creem. As ações morais que refletem a
natureza de Deus são vistas como boas, independente de serem ou não bem sucedidas.

Por exemplo, a ética cristã permite a imunização visando à prevenção de


doenças, mas não admite o infanticídio visando à purificação da linhagem genática da raça
humana; neste último caso os resultado final é usado para justificar o uso de meios perversos.
Em suma, o fim pode justificar o uso de meios bons, mas não justifica o uso de quaisquer
meios, principalmente o uso de meios perversos.

4. Várias visões sobre a ética:


Há sistemas éticos, obrigatórias a todos os seres humanos em geral?
➔ Antinomismo – não há leis morais
➔ Situacionismo - afirma que existe uma lei absoluta (2)
➔ Generalismo - reivindica que existem algumas leis gerais, mas não existem leis
absolutas

2 Uma lei que sempre esteve acima de todas as leis, é absoluta, inviolável, neste caso, os textos sagrados, como
os 10 mandamentos.

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➔ Absolutismo não qualificado - acredita em muitas leis absolutas que nunca se


conflitam
➔ Absolutismo conflitante - defende a ideia de que há muitas normas absolutas, que
algumas são conflitantes, o que nos obriga a escolher entre o menor de dois males
➔ Absolutismo graduado - muitas leis absolutas são conflitantes, e nós somos
responsáveis por obedecer àquela que for mais elevada

4.1 Exemplos das seis maiores visões éticas


Em várias situações bíblicas, pessoas mentiram para salvar vidas. As parteiras
hebreias mentiram para salvar os meninos recém-nascidos do faraó, que havia ordenado que
eles fossem mortos (Ex 1, 15-19).
Raabe mentiu para salvar a vida dos espiões judeus em Jericó (Js 2):

4.1.1 – Mentir não é certo nem errado; não existem leis. O antinomismo assevera que
mentir para salvar vidas não é nem certo nem errado. Não existe princípio moral objetivo que
possa julgar se essa questão é certa ou errada.

4.1.2 - Mentir é normalmente errado; não existem leis universais. O generalismo


reivindica que mentir é normalmente errado. Mas, em casos específicos, essa regra geral pode
ser quebrada.

4.1.3 – Mentir, algumas vezes, é certo: existe somente a lei universal. O situacionismo
reivindica que existe somente uma lei universal, e que falar a verdade não é essa lei. O amor
é a única lei absoluta, e mentir pode ser a atitude de amor que tem de ser tomada, sendo um
ato moralmente justificável.

4.1.4 - Mentir é sempre errado: existem muitas leis não conflitantes. O absolutismo não
qualificado acredita que existem muitas leis morais absolutas e que nunca nenhuma delas

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deveria ser quebrada. A verdade é uma dessas leis. Desse modo, a pessoa precisa sempre
falar a verdade, mesmo que alguém venha a morrer como resultado disso.

4.1.5 - Mentir é perdoável: existem muitas leis conflitantes. O absolutismo conflitante


reconhece que nós vivemos em um mundo mau em que leis morais absolutas entram em
conflitos inevitáveis. Nesse s casos, é nosso dever moral escolher fazer o mal menor. Por
exemplo, devemos mentir para salvar uma vida e, em seguida, pedir perdão por termos
quebrado uma lei moral absoluta de Deus. Nossos dilemas morais são inevitáveis mas mesmo
assim somo culpados diante de Deus. Deus não pode mudar suas prescrições morais
absolutas por causa de nossa fraqueza moral.

4.1.6 – Mentir é certo algumas vezes: existem leis maiores. Quando há um conflito há um
conflito inevitável, é nosso dever seguir a lei moral mais elevada, Deus nos acusa por aquilo
que nós não podemos evitar, Muitos absolutistas graduados acreditam que a misericórdia para
com os inocentes é um dever moral maior do que falar a verdade para os culpados. Assim, os
que defendem o absolutismo graduado estão convencidos de que é certo, em casos
específicos, mentir para salvar a vida.

5. Resumo:
➢ O antinomismo exclui todas as leis morais.
➢ O generalismo afirma que existem exceções as leis morais.
➢ O situacionismo sustenta a existência de um único absoluto moral excluindo todos os
outros.
➢ O absolutismo não qualificado insiste em que existe sempre uma saída para o conflito
aparente entre as leis morais absolutas.
➢ O absolutismo conflitante defende que, quando há conflito entre leis morais, o ato de
fazer o menor dos dois males é desculpável.

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