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Resumo
O que temos feito em nossas aulas, nós, professores das Licenciaturas, na condução de
nossos processos ensino-aprendizagem, no que tange à avaliação? Questão relevante,
cuja resposta precisa ser buscada, no âmbito da formação inicial docente, com a devida
e exigida fundamentação teórica. Nessa perspectiva, relata-se neste trabalho uma
estratégia utilizada em turmas na Licenciatura em Química e no Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília, visando contribuir para
a formação docente por meio da vivência de dinâmicas passíveis de utilização no nível
médio. Trata-se de solicitar que registros elaborados pelos licenciandos após e em
relação a cada aula, na construção de seus respectivos porta-fólios, sejam analisados por
um(a) colega, que deve redigir um parecer sobre o que foi anotado, na primeira pessoa,
pelo(a) autor(a) do registro. Este(a), por sua vez, para fins pessoais, deve escrever sua
reflexão em torno da crítica construtiva expressa no parecer. Ao final do semestre letivo,
é solicitada uma autoavaliação a partir dos registros e respectivos pareceres/reflexões.
Trata-se de um recurso que não sobrecarrega nem o professor nem os seus alunos e
induz os estudantes a se preocuparem com o próprio desenvolvimento ao longo do
curso, podendo se utilizar desse meio de avaliar em suas futuras incursões no Ensino
Médio, na condição de professores. A utilização de porta-fólios, de modo geral, não é
considerada por professores no ensino médio, por implicar acompanhamento
individualizado contínuo e julgado excessivamente trabalhoso. No entanto, há várias
pesquisas que remetem a possibilidades interessantes para o ensino-aprendizagem.
Reitera-se, com base na experiência desenvolvida e em referenciais teórico-
metodológicos, a profícua e necessária vivência de estratégias avaliativas como
constituinte da formação docente.
relevante, cuja resposta precisa ser buscada, no âmbito da formação para o exercício da
atividade docente, com a devida e exigida fundamentação teórica. Mais que isso, é preciso
discutir experiências que possam subsidiar eventuais introduções de estratégias formativas que
priorizem a gestão de processos (auto)regulatórios no ensino-aprendizagem.
Pontos a considerar...
usado por muitos docentes universitários: eu aprendi assim, por que haveria
de ser diferente com o meu aluno? (p. 289-290).
Certamente, um dos mais complexos desafios que o educador enfrenta em sala de aula
é a avaliação. E formar futuros educadores pressupõe não só avaliar o outro, mas, também,
desenvolver a prática da autoavaliação, essencial para que identifiquemos, por exemplo, como
nossas ações na sala de aula, e no contexto escolar como um todo, tem refletido no percurso
aprendente de nossos alunos (GAUCHE, 2008).
Afinal, o que é avaliar? Por que avaliar? Para que avaliar? O que avaliar? Como avaliar?
Essas perguntas, para serem respondidas, exigem reflexões sobre nossas concepções quanto a
papéis dos atores e dos objetos de conhecimento trabalhados no processo ensino-aprendizagem.
Exigem, por outro lado, estudo e discussão com os colegas docentes, com vistas a superar a
visão estritamente idiossincrática, na consolidação de uma perspectiva crítico-reflexiva em
torno do trabalho docente, especialmente se considerarmos o projeto pedagógico da escola.
A segurança com que a autoridade docente se move implica uma outra, a que
se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se
exerce ausente dessa competência. O professor que não leve a sério sua
formação, que não estude, que não se esforce para estar a altura de sua tarefa
não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. (FREIRE,
2004, p. 91-92).
A metodologia de ensino que possuímos tem relação direta com muito do que
se defende nas escolas, pois as tradições da escola e da cultura são uma fonte
de autoridade para o professor em sua prática docente1. A questão é identificar
até que ponto temos clareza do que seja nossa própria metodologia de ensino
e as decorrentes crenças sobre o que seja avaliar, para além da reprodução de
“certezas” sobre o processo ensino-aprendizagem, repetidas em reuniões de
planejamento e de conselho de classe, especialmente na decisão de aprovar ou
não os alunos para as etapas seguintes da vida escolar. (GAUCHE, 2008, p.
7).
1
“Principalmente devido a cursos de licenciatura pouco eficientes para a formação de professores, é comum
encontrarmos em inúmeros colegas uma visão muito simplista da atividade docente. Isso porque concebem que
para ensinar basta saber um pouco do conteúdo específico e utilizar algumas técnicas pedagógicas, já que a
função do ensino é transmitir conhecimentos que deverão ser retidos pelos alunos.” (SCHNETZLER; ARAGÃO,
1995, p. 27).
2
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p071-080_c.pdf e
http://www2.ccv.ufc.br/newpage/conc/seduc2010/seduc_dir/download/avaliacao1.pdf.
5
nota ou uma menção. Não se tendo mais em mãos os trabalhos do aluno, analisar o seu progresso
torna-se impossível.
Mas, para planejar a avaliação, outras questões exigem respostas claras e objetivas: “O
que avaliar?”; “Como avaliar?”. Tais questões, para resultarem em ações eficazes, devem ser
precedidas pela clareza de outras duas: “Por que avaliar?”; “Para que avaliar?”. O porquê da
avaliação remete à própria concepção do que sejam o processo ensino-aprendizagem e os
respectivos papéis docente, discente e dos objetos de conhecimento.
[...] na atividade cotidiana que acontece nas salas de aula, nas atividades de
ensino e aprendizagem que nelas são efetuadas, as respostas às perguntas
sobre o quê, como e quando ensinar e avaliar fundem-se para configurar uma
prática educativa na qual os aspectos relativos à avaliação das aprendizagens
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Nessa perspectiva, para melhor explicitar o próprio avaliar, há que se refletir sobre como
entendemos a atividade docente desenvolvida no contexto de sala de aula, haja vista estar inter-
relacionada com a atividade discente e com as demais variáveis do processo ensino-
aprendizagem.
Como também defendem Coll et al. (2003), ao avaliarmos as aprendizagens de nossos
alunos, avaliamos, independente da maior ou menor consciência em relação a isso, nossa
atuação docente. Ou seja, não há como isolarmos ensino de aprendizagem, o que se configura
como modelo interpretativo do que ocorre em sala de aula. Para os que defendem ser possível
ensinar, mesmo sem ter havido aprendizagem, e também o contrário, certamente esse modelo
não procede. De nossa parte, entendemos ser indissociável o binômio aprendizagem-ensino.
Avaliar a aprendizagem configura-se, no modelo de indissociabilidade aqui defendido,
como uma investigação
E para que se desenvolva a avaliação formativa, Villas Boas (2001) entende que devam
ser considerados os seguintes aspectos: o planejamento da avaliação, a autoavaliação pelo
aluno, a autoestima dos alunos e os procedimentos variados de avaliação. Entre as práticas
avaliativas formais, a autora destaca que as mais usadas são as provas dissertativas, as provas
de questões objetivas e trabalhos escritos, entre os quais se situam a produção de textos, os
questionários, os relatórios, as pesquisas etc. A observação, a entrevista e o porta-fólio são
desejáveis, mas não tão comumente encontrados nas escolas. A autora tece várias e
interessantes orientações quanto à realização de entrevistas e observações, tanto quanto sobre
o uso de porta-fólio (VILLAS BOAS, 2004), que apresenta várias possibilidades, entre as quais
a da construção pelo próprio aluno. Neste caso, o porta-fólio configura-se como uma coleção
de suas produções, permitindo evidenciar a sua aprendizagem. Organizado pelo próprio aluno,
permite que ele e o professor, em conjunto, acompanhem o seu progresso dentro e fora da sala
de aula.
É justamente nessa perspectiva que tenho trabalhado há mais de uma década, nas
disciplinas do curso de Licenciatura em Química, bem como nas do Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília – PPGEC/UnB.
O presente texto não se configura como relato de processo investigativo, que ainda
merecerá, em outro momento, o devido tratamento metodológico. A intenção, dada a natureza
destes Encontros, em que espera-se gerar debate com sua inclusão, é basicamente a de partilhar
a experiência, na certeza de que discussões serão geradas em favor de se construírem
alternativas viáveis de formação para o exercício docente por meio de vivências de ações
intrínsecas à profissão docente. Portanto, limitar-me-ei a relatos, supondo que inferências
decorram de reflexões de quem vivenciou a dinâmica descrita, ampliando nossa visão de
potenciais e limitações que a estratégia relatada apresenta.
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Sobre a estratégia...
A ideia associada à estratégia desenvolvida ao longo dos anos em minha atuação docente
no Instituto de Química da UnB é a de contribuir para a formação docente por meio da vivência
de dinâmicas passíveis de utilização no nível médio, no que tange à avaliação do processo
ensino-aprendizagem. Trata-se de solicitar dos licenciandos e dos mestrandos que redijam, na
primeira pessoa, após e em relação a cada aula, o que consideraram pertinente registrar sobre a
aula da qual participaram.
Um exemplo de possível formato do Registro é o que é transcrito abaixo, podendo-se,
se assim for considerado adequado, trabalhar em outro, apenas respeitando a forma do texto e
o que se espera que nele esteja contido, minimamente. Os Registros são parte do que será
utilizado na construção de seus respectivos porta-fólios.
NOME: ____________________________________________________________________
[...]
periodicamente, proceder a uma avaliação global. Trata-se de analisar todos os registros dos
colegas, e não apenas um, como é rotina, em forma de rodízio. Um exemplo de espaço para a
atividade é reproduzido abaixo.
Para propiciar inferências sobre o potencial dos registros, transcrevo a seguir trecho da
postagem de um mestrando.
No caso da análise global, que viabiliza o contato com diferentes registros, diferentes
vivências da mesma aula, trechos extraídos dos vários textos postados em relação a determinada
aula, transcritos a seguir, permitem inferir aspectos positivos dessa análise, trazendo em si
reflexões muito esclarecedoras dos papéis atribuídos aos Registros em si, na perspectiva do
processo ensino-aprendizagem, em dimensão formativo-docente. Os grifos são meus.
Após ler a coletânea dos registros [...] tenho que reconhecer que a visão de
quem tão somente assiste às aulas, é sujeito agente e paciente nelas e tem
acesso apenas a um dos registros, para o qual exercerá o papel de
parecerista, é bem superficial em comparação à visão que os professores
desta disciplina do Mestrado certamente têm em função da oportunidade de
acesso a todos os registros, o que lhes permite construir um feedback das
aulas de maneira mais abrangente.
É interessante constatar que, positivamente, embora o estilo de escrever e os
pontos considerados como relevantes sejam distintos, a essência da aula está
presente em quase todos os registros, à exceção de um ou outro em que o
aluno se atém tão somente a fazer uma descrição não reflexiva dos fatos
ocorridos. [...] Ao ser informada desta atividade [...] e refletir a respeito,
fiquei me perguntando o porquê da estratégia adotada [...]. Muitas foram as
possíveis causas apontadas, entretanto, após ler a coletânea de registros, a
grande maioria delas caiu por terra, restando poucas hipóteses, dentre as
quais destaco: (1) nos submetermos a uma avaliação pelos pares como forma
de fornecimento de feedbacks externos, que, somados aos feedbacks
metacognitivos serviriam para a autorregulação do processo pedagógico [...]
de cada um de nós; (2) propiciar a nós, alunos, uma visão globalizada do
processo; (3) confrontar as distintas críticas (construtivas) contidas nos
registros para que o sujeito dessa crítica possa refletir a respeito, [...] possa
observar a situação pelos distintos ângulos de um prisma. [...]. Embora
reconheça ser difícil levantar pontos negativos no processo, [...] há que se
reconhecer pelo menos um deles: percebo que alguns colegas não têm
assumido uma postura mais crítica e reflexiva quando da elaboração dos
seus registros, isso faz com que o processo se torne distante dos seus
objetivos e furte destes alunos a oportunidade de crescimento real. Como
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ou seja, refletirmos. Mas refletirmos sobre o quê? No meu caso, refleti sobre
meus critérios de parecerista e sob qual enfoque deveria levantá-los, mas
também refleti sobre minha forma de fazer o registro. Seria muito interessante
relacioná-los com o que estamos debatendo em nossas aulas, mas como fazer
isso? Estaria eu me autorregulando, buscando uma autoavaliação? Acho que
a questão aqui é mais ou menos essa, refletirmos e avaliarmos. Avaliarmo-
nos e avaliarmos nossos critérios de avaliação (ufa!) e assim refletir.
Mestrando D.
Não concluindo...
Referências
BERBEL, N. A. N. et al. Avaliação da aprendizagem no ensino superior. Londrina: Ed.
UEL, 2001.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2004.
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