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Paradigmas de Avaliação

Amílcar Inácio Cipriano¹


Estudante da UCM˗ Extensão de Gurué no curso de Mestrado em Gestão e Administração
Escolar
Amil.cipriano2013@gmail.com
845839971 / 861692502
Introdução

A avaliação é uma peça crucial no decurso do processo de ensino e aprendizagem visto


que ela orienta o professor assim como o aluno sobre o percurso do processo
pedagógico, o presente trabalho é intitulado“ Paradigmas da avaliação”. Nas práticas
docentes de avaliação da aprendizagem dos alunos, a avaliação formativa tem sido
proposta cada vez com mais frequência nos últimos anos, como uma das alternativas à
avaliação tradicional pautada em provas pontuais e consideradas autoritárias. A
avaliação, tal como concebida e vivenciada na maioria das escolas, tem se constituído
no principal mecanismo de sustentação da lógica de organização do trabalho escolar,
ocupando o papel central nas relações que estabelecem entre si os profissionais da
educação, alunos e pais. Avaliar, no contexto formativo, não se resume à mecânica do
conceito formal e estatístico; não é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão
de avanço ou retenção em determinadas disciplinas. Avaliar significa acção provocativa
do professor desafiando o educando a reflectir sobre as situações vividas, a formular e
reformular hipóteses, encaminhando-o a um saber enriquecido, acompanhando o “vir a
ser”, favorecendo acções educativas para novas descobertas. Não há como evitar a
necessidade de avaliação de conhecimentos, muito embora se possa torná-la eficaz
naquilo que se propõe: a melhora de todo o processo educativo. Avaliar
qualitativamente significa um julgamento mais global e intenso, no qual o aluno é
observado como um ser integral, colocado em determinada situação relacionada às
expectativas do professor e dos alunos. Nesse momento, o professor deixa de ser um
simples coleccionador de elementos quantificáveis e utiliza sua experiência e
competência analisando os fatos dentro de um contexto de valores, que legitimam sua
atitude como educador.

¹Licenciado em ensino de Biologia pela UP˗ Quelimane, Actualmente cursando o mestrado e


Gestão e Administração Escolar na UCM˗ Extensão de Gurué.
Conceito de Paradigma

Paradigma é um modelo ou padrão a seguir.

Etimologicamente, este termo tem origem no grego paradeigma que significa modelo


ou padrão, correspondendo a algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido
em determinada situação.

São as normas orientadoras de um grupo que estabelecem limites e que determinam


como um indivíduo deve agir dentro desses limites na actualidade a partir do seculo
XX.

Os “paradigmas são as realizações cientifica universalmente reconhecidas que,


durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma
comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 1991, p. 13).

Paradigmas educacionais

Um paradigma educacional é um modelo usado na área da educação.

Paradigmas inovadores constituem uma prática pedagógica que dá lugar a


uma aprendizagem crítica e que causa uma verdadeira mudança no aluno.

O paradigma usado por um professor tem grande impacto no aluno, muitas vezes
determinando se ele vai aprender ou não aprender o conteúdo que é abordado.

A forma de aprendizagem das novas gerações é diferente das gerações anteriores, e por
isso um paradigma conservador não terá grande eficácia.

Conceito de avaliação

A avaliação faz parte da acção educativa, deve ser indissociável do processo de ensino-
aprendizagem, através da reflexão, da observação e do questionamento da própria
acção. Neste sentido, vale enfatizar o pensamento sempre atemporal de Paulo Freire
(1996) que argumenta que:

A avaliação é a medição entre o ensino do professor e as aprendizagens do


aluno, é o fio da comunicação entre formas de ensinar e formas de aprender. É
preciso considerar que os alunos aprendem diferentemente porque tem histórias
de vida diferentes, são sujeitos históricos, e isso condiciona sua relação com o
mundo e influencia sua forma de aprender. Avaliar, então, é também buscar
informações sobre o aluno (sua vida, sua comunidade, sua família, seus
sonhos...). É conhecer o sujeito e seu jeito de aprender (p.123).

Origem da Avaliação

O termo avaliar provem do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito ao
objecto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a propriedade de
um processo para a aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão do
processo de avaliação no processo ensino-aprendizagem tem sido pautada pela lógica da
mensuração, isto é, associa-se o ato de “avaliar” ao de “medir” os conhecimentos
adquiridos pelos alunos. (Kraemer, 1995)

Funções do Processo Avaliativo

Segundo KRAEMER (1995), as funções da avaliação podem ser distinguidas


classicamente como: de Diagnóstico, de Formação e de Verificação (somativa ou
creditativa).

Função Diagnóstica: proporciona informações acerca das capacidades do aluno antes


de iniciar um processo de ensino-aprendizagem, ou ainda, busca a determinação da
presença ou ausência de habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das
causas de repetidas dificuldades na aprendizagem.

Função Formativa: permite constatar se os alunos estão, de facto, atingindo os


objectivos pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais objectivos e os
resultados efectivamente alcançados durante o desenvolvimento das actividades
propostas. Representa o principal meio através do qual o estudante passa a conhecer
seus erros e acertos, assim, maior estímulo para um estudo sistemático dos conteúdos.
Orienta tanto o estudo do aluno como o trabalho do professor, principalmente através de
mecanismos de feedback, os quais permitem que o docente detecte e identifique
deficiências na forma de ensinar, possibilitando reformulações no seu trabalho
didáctico, visando aperfeiçoá-lo.

Função Somativa: tem como objectivo determinar o grau de domínio do aluno em uma
área de aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que, por sua vez, pode
ser utilizada como um sinal de credibilidade da aprendizagem realizada. Pode ser
também denominada de função creditativa. Possui o propósito de classificar os alunos
ao final de um período de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento. A
avaliação somativa pretende ajuizar do progresso realizado pelo aluno no final de uma
unidade de aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos por avaliações do
tipo formativas e obter indicadores que permitem aperfeiçoar o processo de ensino.
Corresponde a um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a um todo sobre
o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos parciais.
Paradigmas de avaliação

Actualmente existe uma busca por mudanças no paradigma de avaliação, já que no


modelo tradicional de ensino, baseado na abordagem comportamentalista, a avaliação
limitasse a verificar, por meio de exames, se o aluno assimilou os conhecimentos que
lhe foram transmitidos, podendo ser comparada ao que Freire denomina de:

“Relação bancária”, na qual o professor avaliador deposita conhecimentos


prontos, esperando que os alunos avaliados reproduzam os conhecimentos
recebidos. A aprendizagem é passiva e individual, os aprendizes não são
levados a reflectir sobre o que está sendo ensinado, sobre as aplicações das
informa acções que lhes são transmitidas. Este modelo não prepara os alunos
para solucionarem os problemas da vida real que irão enfrentar fora das salas de
aula, e tão pouco para construírem seus conhecimentos, ou se comunicarem e
trabalharem em grupo (Otsuka et al.,2002).

Neste contexto, é necessário rever as práticas pedagógicas e, consequentemente, as


concepções e práticas de avaliação. Actualmente, está em curso uma mudança de
paradigma na área de avaliação, passando de um modelo de testes e exames que
valoriza a medição das quantidades aprendidas de conhecimentos transmitidos, para um
modelo em que os aprendizes terão oportunidade de demonstrar o conhecimento que
construíram, como construíram, o que entendem e o que podem fazer, isto é, um modelo
que valoriza as aprendizagens quantitativas e qualitativas no decorrer do próprio
processo de aprendizagem.Nesta ordem de ideias, a avaliação deste novo paradigma
deixa de ser apenas um instrumento de verificação da aprendizagem para actuar
directamente no processo de ensino-aprendizagem, de forma contínua, ao longo de todo
o processo (Otsuka et al., 2002).

A avaliação tradicional, tal como concebida e vivenciada na maioria das escolas , tem se
constituído no principal mecanismo de sustentação da lógica de organização do trabalho
escolar e, portanto, legitimador do fracasso, ocupando mesmo o papel central nas
relações que estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e pais. Esta
informação é necessária ao professor para procurar meios e estratégias que possam
ajudar os alunos a resolver essas dificuldades e essencial aos alunos para se
aperceberem delas (não podem os alunos identificar claramente as suas próprias
dificuldades num campo que desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do
professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem uma intenção formativa
(Kraemer, 1995).
Há uma busca, portanto, por uma avaliação formativa, a qual pode ser entendida como
toda prática de avaliação contínua que pretenda melhorar as aprendizagens em curso,
contribuindo para o acompanhamento e orientação dos alunos durante todo o seu
processo de formação. É formativa toda a avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se
desenvolver, que participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no
sentido de um projecto educativo (Otsuka et al., 2002).Segundo Luckesi (1996)
argumenta que:

A avaliação é um julgamento sobre uma realidade concreta ou sobre uma


prática, à luz de critérios claros, estabelecidos prévia ou concomitantemente,
para tomada de decisão. Desse modo, três elementos se fazem presentes no ato
de avaliar: a realidade ou prática julgada, os padrões de referência, que dão
origem aos critérios de julgamento, e o juízo de valor (Medel, 2010).

Através desses elementos constata-se que a avaliação não é um processo apenas técnico.
O educador deve reflectir acerca de algumas questões: Quem julga? Por que e para que
se julga? Quais os aspectos da realidade que devem ser julgados? Deve-se partir de que
critérios? Esses critérios se baseiam em quê? A partir dos resultados do julgamento,
quais são os tipos de decisões tomadas (Medel, 2010)? Como foi dito, a avaliação não é
um processo apenas técnico, é um procedimento que inclui opções, escolhas, ideologias,
crenças, percepções, posições políticas, vieses e representações, que informam os
critérios através dos quais será julgada uma realidade. A avaliação do aproveitamento
de alunos, por exemplo, pode basear-se em critérios reduzidos, apenas à memorização
de conteúdos, ou pode basear-se em critérios que visem ao crescimento pessoal dos
alunos, no que diz respeito as suas atitudes, liderança, conscientização crítica e cidadã.
Esses critérios se originam de opiniões acerca do que se entende por educação, e vão
direccionar o julgamento de valor acerca do desempenho daqueles alunos (medel,
2010).

O Mito da Avaliação

O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada histórica, sendo que seus fantasmas
ainda se apresentam como forma de controle e de autoritarismo por diversas gerações.
Acreditar e efectivar um processo avaliativo mais eficaz é o mesmo que cumprir sua
função didáctico-pedagógica de auxiliar e melhorar o ensino-aprendizagem.
(Kraemer,1995).
O professor entra na sala de aula e anuncia: “- Hoje é dia de prova!” Pode-se observar a
ansiedade em todos os alunos. Uns, têm um ar pensativo, outros tentam encontrar uma
inspiração e⁄ou reflectem profundamente. Mas, o principal pensamento de todos em
relação à prova é a nota (Barbosa, 2008).

Assim, o termo avaliar tem sido constantemente associado a expressões como: fazer
prova, fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar de ano. Essa associação, tão presente
ainda em nossas escolas, é resultante de uma concepção pedagógica ultrapassada, mas
tradicionalmente dominante. Nela, a educação é concebida como mera transmissão e
memorização de informações prontas, e o aluno é visto como um ser passivo e
receptivo. Em consequência, a avaliação se restringe a medir a quantidade de
informações retidas. Nessa abordagem, em que educar se confunde com informar, a
avaliação assume um carácter selectivo e competitivo (Otsuka et al., 2002).

Quando se registra em forma de nota o resultado obtido pelo aluno, fragmenta-se o


processo de avaliação e introduz-se uma burocratização que leva à perda do sentido do
processo e da dinâmica da aprendizagem. Os dados registrados são formais e não
representam a realidade da aprendizagem, embora apresentem consequências
importantes para a vida pessoal dos alunos, para a organização da instituição escolar e
para a profissionalização do professor. Uma descrição da avaliação e da aprendizagem
poderia revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse instituída, a
descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de dados da realidade, desde que não
houvesse uma vinculação prescrita com os resultados. A isenção advinda da necessidade
de analisar a aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a constatarem
o que realmente ocorreu durante o processo: se o professor e os alunos tivessem espaço
para revelar os fatos tais como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, e
principalmente, discutidos colectivamente (Kraemer, 1995).

A avaliação classificatória hierarquiza, selecciona, e classifica os alunos. A nota ou o


conceito atribuído ao aluno tem sido valorizado, numa relação directa, à aprovação ou à
reprovação, tornando-se fim, em si mesma, ficando assim, distanciada dos processos de
ensino-aprendizagem. Dessa maneira, tudo é feito para melhorar a nota, as quais são
comumente utilizadas para reprimir e controlar a disciplina, revelando total ausência de
reflexão sobre o desenvolvimento da aprendizagem e o significado da avaliação (Otsuka
et al., 2002). Este tipo de avaliação favorece a repetência e, consequentemente, a evasão
escolar, não garantindo a afectiva apreensão dos conhecimentos dos alunos aprovados,
já que julga e classifica o desempenho dos alunos nos aspectos cognitivos, mas de
forma parcial e inadequada. Assim, a avaliação classificatória discrimina e exclui,
valorizando a submissão e a obediência incondicional (Barbosa, 2008).

Mudanças no Paradigma da Avaliação

A avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na


construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da
aprendizagem dos alunos. Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir
que os resultados das provas periódicas, geralmente de carácter classificatório, sejam
supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de carácter diagnóstico
Assim, o professor, que trabalha numa dinâmica interactiva, tem noção, ao longo de
todo o ano, da participação e produtividade de cada aluno. É preciso deixar claro que a
prova é somente uma formalidade do sistema escolar. Como, em geral, a avaliação
formal é datada e obrigatória, devem-se ter inúmeros cuidados em sua elaboração e
aplicação (Kraemer, 1995).

A avaliação diagnóstica é contínua e se dá no dia-a-dia da sala de aula, permitindo que o


professor faça intervenções privilegiando a aprendizagem dos alunos. Deste modo, é
capaz de perceber que o aluno pode fazer sozinho, de forma independente, com a ajuda
de outros colegas ou do professor. A avaliação continuada da aprendizagem nos permite
identificar as conquistas e os problemas dos alunos em tempo hábil, auxiliando a escola
a exercer sua função básica, que é ensinar e aprender promovendo o acesso ao
conhecimento, transformando-se num recurso de diagnóstico para o professor. Dessa
maneira, a avaliação precisa adequar-se à natureza da aprendizagem, não pode levar em
conta somente o produto, resultado das tarefas, mas principalmente o processo, o que
ocorre no caminho. (Barbosa, 2008). Hoffmann apud Hamze (2010) propõe para a
realização da avaliação, na perspectiva de construção, duas premissas fundamentais:
confiança na possibilidade do aluno construir as suas próprias verdades; valorização de
suas manifestações e interesses. Para Hoffmann, o aparecimento de erros e dúvidas dos
alunos, numa extensão educativa é um componente altamente significativo ao
desenvolvimento da acção educacional, pois permitirá ao docente a observação e
investigação de como o aluno se coloca diante da realidade ao construir suas verdades.
Assim, o diálogo entre professor e aluno como indicador de aprendizagem, é necessário
à reformulação de alternativas de solução para que a construção do saber aconteça. A
reflexão do professor sobre seus próprios posicionamentos metodológicos, na
elaboração de questões e na análise de respostas dos alunos deve ter sempre um carácter
dinâmico (Hamze, 2010).

Na avaliação mediadora o professor deve interpretar a prova não para saber o que o
aluno não sabe, mas para pensar nas estratégias pedagógicas que ele deverá utilizar para
interagir com esse discente. Para que isso aconteça, o desenvolvimento dessa prática
avaliativa deverá decodificar a trajectória de vida do aluno durante a qual ocorrem
mudanças em múltiplas dimensões, e isso é muito mais que conhecer o educando. Em
um processo de aprendizagem toda resposta do aluno é ponto de partida para novas
interrogações ou desafios do professor. Devem-se ofertar aos alunos muitas
oportunidades de emitir ideias sobre um assunto, para ressaltar as hipóteses em
construção, ou as que já foram elaboradas. Sem tais atitudes, não se idealiza, de fato, um
processo de avaliação contínua e mediadora (Hamze, 2010).

Avaliar é acção provocativa do professor desafiando o educando a reflectir sobre as


situações vividas, a formular e reformular hipóteses, encaminhando-o a um saber
enriquecido, acompanhando o “vir a ser”, favorecendo acções educativas para novas
descobertas. A avaliação apresenta uma importância social e política fundamental no
fazer educativo vinculando-a a ideia de qualidade. Não há como evitar a necessidade de
avaliação de conhecimentos, muito embora se possa torná-la eficaz naquilo que se
propõe.

Avaliar qualitativamente significa um julgamento mais global e intenso, no qual o aluno


é observado como um ser integral, colocado em determinada situação relacionada às
expectativas do professor e dos alunos. Nesse momento, o professor deixa de ser um
simples coleccionador de elementos quantificáveis e utiliza sua experiência e
competência analisando os fatos dentro de um contexto de valores, que legitimam sua
atitude como educador (Hamze, 2010).

Avaliação como Facilitadora da Aprendizagem

A avaliação deve ser a “reflexão transformada em acção”. Acção essa que nos
impulsione às novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua realidade e
acompanhamento, passo a passo, do educando na sua trajectória de construção do
conhecimento. Um processo interactivo, através do qual educando e educadores
aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no ato próprio da avaliação. Não
se deseja uma avaliação autoritária que assuma a responsabilidade pelo diagnóstico do
desempenho do aluno e a partir daí, tomam-se decisões fora do alcance que a própria
avaliação oferece (Otsuka et al., 2002).

A avaliação deixa de ser um momento final do processo educativo para se transformar


na busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de
novas oportunidades de conhecimento. Na medida em que a acção avaliativa exerce
uma função dialogada e interactiva, ela promove os seres morais e intelectualmente,
tornando-se críticos e participativos, inseridos no contacto social e político.

É necessário avaliarmos os alunos através da observação diária de seu desempenho,


individual e em grupo, o que nos leva a acreditar que a avaliação é mais do que a
produção do conhecimento, é um acto político (Otsuka et al., 2002).

No acto da avaliação, vale mais considerar importantes princípios, tais como


afectividade e amor no domínio escolar, o respeito à liberdade e a tolerância, que são
inspirados nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Ambos têm
por fim último o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para as ocupações no trabalho. Avaliar envolve valor, e
valor envolve pessoa. Avaliação é, fundamentalmente, acompanhamento do
desenvolvimento do aluno no processo de construção do conhecimento. O professor
precisa caminhar junto com o educando, passo a passo, durante todo o caminho da
aprendizagem (Hamze, 2010). Todos nós educadores desejamos uma escola de
qualidade, prazerosa e competente, que permita a transformação da sociedade.
Queremos uma escola que permite aos alunos uma vida cidadã plena, dentro de uma
sociedade humana, justa, ética e solidária, em consonância com o nosso tempo e com a
natureza do trabalho didáctico-pedagógico. Dentro da uma concepção pedagógica
contemporânea, a educação é concebida como a vivência de experiências múltiplas e
variadas, tendo em vista o desenvolvimento motor, cognitivo, afectivo e social do aluno.
Na sucessão de experiências vivenciadas, os conteúdos são os instrumentos utilizados
para activar e mobilizar os esquemas mentais operatórios de assimilação. Neste
contexto, o aluno é activo, dinâmico e sujeito, que participa na construção de seu
próprio conhecimento (Otsuka et al., 2002).
Considerações Finais

Chegados a este momento do trabalho, pode-se aclarar que nos dias de hoje, a avaliação
da aprendizagem não é algo meramente técnico. Envolve auto-estima, respeito à
vivência e cultura própria do indivíduo, filosofia de vida, sentimentos e posicionamento
político. Embora essas dimensões não sejam perceptíveis a todos os professores,
observa-se, por exemplo, que um professor que usa o erro do aluno como ponto inicial
para compreender o raciocínio deste educando e rever sua prática docente, e, se
necessário, reformulá-la, possui uma posição bem diversa daquele que apenas atribui
zero àquela questão e continua dando suas aulas da mesma maneira. Do mesmo modo, o
educador que faz uso de instrumentos de avaliação diversos para, ao longo de um
período, acompanhar o ensino-aprendizagem, é diferenciado daquele que se restringe a
dar uma prova ao final do período. Entende-se que a avaliação não pode morrer. Ela se
faz necessária para que possamos reflectir, questionar e transformar nossas acções. Os
novos paradigmas em educação devem contemplar o qualitativo, descobrindo a essência
e a totalidade do processo educativo, pois esta sociedade reserva às instituições
escolares o poder de conferir notas e certificados que supostamente atestam o
conhecimento ou capacidade do indivíduo, o que torna imensa a responsabilidade de
quem avalia. Pensando a avaliação como aprovação ou reprovação, a nota torna-se um
fim em si mesmo, ficando distanciada e sem relação com as situações de aprendizagem

Mudar a nossa concepção se faz urgente e necessário. Basta romper com padrões
estabelecidos pela própria história de uma sociedade elitista e desigual. Neste sentido,
mudar a avaliação significa provavelmente mudar a escola. Automaticamente, mudar a
prática da avaliação nos leva a alterar práticas habituais, criando inseguranças e
angústias e este é um obstáculo que não pode ser negado, pois envolverá toda a
comunidade escolar. Se as nossas metas são educação e transformação, não nos resta
alternativa senão juntos pensar uma nova forma de avaliação. Romper paradigmas,
mudar nossa concepção, mudar a prática, é construir uma nova escola.

A avaliação é uma tarefa didáctica necessária e permanente do trabalho docente, que


deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Por meio dela, os
resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos
alunos são comparados como os objectivos propostos, a fim de constatar progressos,
dificuldades e, também, reorientar o trabalho docente. Assim, a avaliação é uma tarefa
complexa que não se resume a realização de provas e atribuições de notas. Representa
um processo contínuo, participativo, com função diagnóstica e investigativa, cujas
informações devem proporcionar o redimensionamento da acção pedagógica e
educativa, reorganizando as próximas acções de todos, no sentido de avançar no
entendimento do processo de aprendizagem. A escola não pode ser desvinculada da
vida, do mundo que a rodeia, mas tem de estar em sintonia com a comunidade e com o
tempo em que vivemos. Logo, a escola responsável não ensina a memorizar, mas a
reflectir, fazer correlações entre dados, informações e ideias, desafiar o senso comum e
aprender aprendendo. Esta tem a preocupação com a aprendizagem de todos e acredita
nas potencialidades dos alunos, trabalha para o sucesso, estimula a auto-estima e não
precisa preocupar-se com o binómio aprovação-reprovação, pois sabe que, no processo
de apreensão do conhecimento o Aluno sempre alcança o progresso e deve prosseguir
do ponto em que parou. Avaliar não é reprovar, mas sim, compreender e promover, a
cada momento, um desenvolvimento pleno de quem vivencia um processo de
aprendizagem.

Finalmente, no processo ensino-aprendizagem, na interacção professor-aluno, pode-se


concluir que juntos acertamos, assumimos riscos, alcançamos objectivos. A avaliação
não pode servir para seleccionar e excluir o aluno desse processo, pois tal prática é uma
violência ao direito à educação. A avaliação deve servir para redimensionar a
planificação do professor e subsidiar o fazer pedagógico. Por conseguinte, voltada para
a transformação, a avaliação é muito mais do que a expressão de terminar conceitos
para os alunos, ela expressa a postura do educador responsável, ético-político,
competente e comprometido com a construção do conhecimento e do desenvolvimento
de capacidades, habilidades, competências e atitudes numa escola democrática e
cidadania.
Referências bibliográficas

1. Barbosa, J.R.A.( 2008). A avaliação da aprendizagem como processo


interactivo: um desafio para o educador. Democratizar, v.II, n.1.
2. Freire, P. (1996.) Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa.:Paz e Terra ed. São Paulo.
3. Goldberg, M.A.A.; Souza, C. P.(1982) Avaliação de Programas Educacionais:
vicissitudes, controvérsias e desafios. Editora Pedagógica Universitária. São
Paulo,Brazil.
4. Hamze, A. (2010).O mito da avaliação da aprendizagem. 2ª Ed. São Paulo.
5. Kraemer, M.E.P. (1995) A avaliação da aprendizagem como processo
construtivo de um novo fazer. Publicação Raízes e Asas n. 8. CENPEC, São
Paulo.
6. Medel, C.R.M.A.( 2010.) A avaliação da Aprendizagem nos dias de hoje,
Guanabara Editora,4ª Edicao, Porto.
7. Otsuka, J.L. et al. (2002).Suporte à avaliação formativa no ambiente de
educação à distância TelEduc.5ª Edição, Brasil.

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