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Anuário da Produção A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO DOCENTE

Acadêmica Docente NA VISÃO DE UM GRUPO DE PROFESSORES


Vol. II, Nº. 3, Ano 2008
UNIVERSITÁRIOS

Juliana A. de Almeida Chaves Piva


Universidade do Vale do Paraíba
julichaves_dermato@hotmail.com RESUMO

A capacitação do professor universitário é um fator de extrema importância


Milenna Martins Figueiredo
para a qualidade do ensino superior. Os professores universitários vêm re-
Faculdade Anhanguera de Taubaté centemente, se conscientizando de que são educadores e necessitam de for-
millafigueiredo@ig.com.br mação pedagógica. O presente estudo teve como objetivo levantar dados
sobre a importância da formação pedagógica continuada do professor uni-
versitário. O estudo foi realizado com professores de uma faculdade do Vale
Claudia Oda Liao do Paraíba, que fazem parte de uma pós-graduação lato sensu em Didática e
Faculdade Anhanguera de Taubaté Metodologia do Ensino Superior. Foi aplicado um questionário contendo 2
clauliao@yahoo.com perguntas abertas. Nas respostas analisadas foram levantados temas a partir
das palavras citadas, das quais foram realizadas sínteses das respostas dos
mesmos. Conclui-se que a qualificação do professor universitário faz-se ne-
cessária para preparar suas ações docentes com qualidade de ensino, basea-
dos nos temas que foram julgados importantes.

Palavras-Chave: Capacitação docente; formação pedagógica; didática; meto-


dologia; pedagogia.

ABSTRACT

The development of the professor is a factor of extreme importance to the


quality of the higher education. Recently, university teachers are becoming
aware they are educators and need professional development. The aim of
this paper is to raise data about the importance of the permanent profes-
sional development of the professor. This study was done with university
teachers of a faculty from Vale do Paraíba, who study at a post graduation in
Didactics and Methodology in Higher Education. A questionnaire with 2
opened questions was applied to each of the teachers. The themes found
were a composition of the answers they gave. Therefore the professor quali-
fication is necessary to prepare their actions with quality, based on the im-
portant themes here described.

Anhanguera Educacional S.A.


Keywords: Professor development; didactics; methodology; pedagogy.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
rc.ipade@unianhanguera.edu.br
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 15/10/2008
Avaliado em: 4/2/2009
Publicação: 13 de março de 2009
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1. INTRODUÇÃO

A capacitação do professor universitário é um fator de extrema importância para a


qualidade do ensino superior. Os cursos de pós-graduação, responsáveis pela formação
dos professores universitários, têm, contudo, dado mais relevância à condução de pes-
quisas e a elaboração de projetos individuais, muito pouco ou nada oferecendo aos
pós-graduandos em termos de preparação específica para a docência. Atividades de
ensino e pesquisa são realizadas de modo dissociado, ou mesmo equivocado, e por
perpetuar a noção de que para ser bom professor basta conhecer a fundo determinado
conteúdo e, no caso específico do ensino superior, ser um bom pesquisador. Faz-se neces-
sária maior conscientização entre os próprios professores acerca da necessidade de
formação pedagógica do professor universitário, bem como, incentivos por parte de
suas Instituições de ensino onde lecionam. Ofertando, através do estudo de seus resul-
tados, e mesmo de suas limitações, subsídios para a realização de outros programas de
educação continuada para docentes. Ainda que esteja ocorrendo o início de mudança
de consciência entre os docentes em relação à necessidade de uma preparação mais es-
pecífica dirigida à docência, e tendo visto que as pesquisas a esse respeito comecem
também a se ampliar, há ainda são poucas as experiências nesse sentido. Nota-se ainda
algum descrédito de parcelas da comunidade acadêmica quanto à eficiência de pro-
gramas desta natureza. Havendo, portanto a necessidade de uma preparação específica
para a docência, objetivando inicialmente uma mudança por parte dos próprios docen-
tes quanto às limitações que estes acreditam pertencerem apenas a Instituição. A busca
por uma maior qualidade dos cursos de graduação deve passar antes pela qualificação
do docente, mas para que isso seja possível é relevante que consigamos romper com
certos paradigmas educacionais começando pela modificação conceitual a respeito da
educação continuada dos professores do ensino superior. (PACHANE, 2003).

Para muitos docentes do ensino superior a formação pedagógica não é neces-


sária bastando conhecer o conteúdo da disciplina para ser bom docente (ZABALTA,
2004). Os professores universitários têm recentemente, entretanto, se conscientizado de
que são educadores e necessitam de formação pedagógica (MAZETTO, 2003).

Para outro autor (PLONSKI, 2003), existe ainda a necessidade da utilização de


estratégias de ensino-aprendizagem objetivando as experiências profissionais dos par-
ticipantes, onde o instrutor tem o papel de facilitador. E a etapa final, que se refere ao
retorno desse profissional ao seu ambiente de trabalho, sendo importante à estrutura-

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ção também dessa etapa como maneira de assegurar o fechamento do ciclo de aprendi-
zagem.

Contudo nem todas as universidades oferecem programas de formação conti-


nuada para o docente onde o objetivo seja a formação de habilidades e competências
dirigidas para o ensino propriamente dito. Estudos demonstram que a formação peda-
gógica do professor universitário é importante para o seu desempenho na prática do
ensino e que nem sempre a sua formação no conteúdo do que ensina é o suficiente. A
formação em cursos de pós-graduação voltados a formação stricto sensu não fornece
normalmente a formação de competências voltadas para o ensino propriamente dito,
embora o fato de ser pesquisador possa influenciar de maneira positiva o desempenho
do ato de lecionar (FERNANDES, 2001).

O presente estudo pretende relatar através de um levantamento exploratório


conduzido com professores universitários em que se buscou verificar a necessidade de
complementação pedagógica na visão do professor, bem como, sua opinião a respeito
das características necessárias para ser um bom professor do ensino superior e descre-
ver alguns aspectos da sua prática pedagógica, visando identificar possíveis relações.

2. METODOLOGIA

A partir de revisão bibliográfica sobre a importância da formação pedagógica continu-


ada do professor universitário foi delineado um levantamento junto a 12 professores de
uma Universidade da Região do Vale do Paraíba, e que aceitaram participar da pesqui-
sa, de um total de 59 que cursam uma pós-graduação em Didática e Metodologia do
Ensino Superior oferecida pela Instituição da qual fazem parte. Foi aplicado questioná-
rio/ formulário padronizado contendo 2 perguntas abertas, com o objetivo de testar
hipóteses: (01-) Você acha necessário o professor do ensino superior complementar a
sua formação pedagógica para desempenhar o seu trabalho? Por quê? (02-) Quais são
as características de um bom professor no ensino superior?

Esta técnica revela-se muito útil para obtenção de informações acerca do que o
individuo “sabe, crê ou espera, sente ou deseja, pretende fazer, faz ou fez, bem como a
respeito de suas explicações ou razões para quaisquer das coisas precedentes”
(SELLTIZ, 1967). Sendo assim, justifica-se o não uso do termo de consentimento livre e
esclarecido por escrito da amostra, e sim do uso do informativo escrito ao entrevistado,
sobre a finalidade da pesquisa e que a mesma só teria o objetivo de conhecimento soci-

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al, e não aplicativo, podendo a entrevistada se negar a participar da pesquisa. O ques-


tionário buscou identificar estes itens através de questões abertas e confrontar os resul-
tados com a literatura existente e publicada nos últimos anos. Através de uma entrevis-
ta estruturada, composta de questões abertas que abordaram aspectos sobre a necessi-
dade do professor do ensino superior complementar a sua formação pedagógica, as ca-
racterísticas de um bom professor e sua correlação com a ação docente de cada profes-
sor. Os temas das respostas considerados se referem à citação de temas com as próprias
palavras dos entrevistados ou como uma síntese de parte das respostas dos mesmos.

Na pesquisa em questão os fatores de exclusão seriam professores universitá-


rios que não fazem capacitação docente.

A coleta de dados ocorreu do dia 22 de maio de 2008 a 10 de julho do mesmo


ano. Na seqüência, a coleta de dados, estes foram estudados e representados sob a
forma de gráficos e reunidos no programa software Microsoft Office Excel 2003, e rea-
lizada sua análise estatística. Finalizada essa etapa deu-se inicio a classificação, organi-
zação e análise estatística das informações coletadas nos questionários.

3. RESULTADOS

Os resultados foram analisados usando-se a análise de conteúdo na qual as categorias


são geradas a partir das próprias respostas obtidas.

Dos 12 entrevistados, todos acreditam ser necessário o professor universitário


complementar a sua formação pedagógica, destes, um, ressalta que não só a comple-
mentação pedagógica mas também a parte técnica deve ser incentivada, 1 professor de
ensino superior respondeu que a qualificação de professores devem ter inicio em níveis
que antecedem este, 1 professor declarou importante a atualização da capacitação do-
cente.

De acordo com a síntese da resposta da primeira pergunta, obtiveram-se te-


mas nos quais os professores consideram de suma importância. Todos os professores
questionados responderam afirmativamente à primeira pergunta (100%). A justificativa
à primeira pergunta envolveu os seguintes temas (Tabela 1 e Gráfico 1).

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Tabela 1. Você acha necessário o professor do ensino superior complementar a sua formação pedagógica para
desempenhar o seu trabalho? Por quê?
Temas Percentual
Didática 100%
Compatibilidade 67%
Desenvolvimento 66,66%
Compromisso Profissional 41,66%
Interdisciplinaridade 25%
Aplicabilidade Prática 33,33%
Instituição de Ensino 16,66%
Experiência Profissional 41,66%
Atualização Profissional 33,33%
Domínio do conteúdo teórico e prático 50%
Motivação Profissional 50%
Incentivo 50%

No que se refere ao Gráfico 1 que diz respeito ao Por quê? (12) 28% citaram o
termo responsabilidade; (6) 14% dedicação; (5) 11,63% busca do conhecimento contínuo, (3)
7% gestão de conflito; (3) 7% gestão de pessoas; (3) 7% expressão corporal e verbal; (2) 4,66%
interação com os alunos e com a instituição de ensino; (2) 4,66% disciplina; (2) 4,66% motiva-
ção; (1) 2,33% compromisso profissional; (1) 2,33% preparo didático; (1) 2,33% preparo peda-
gógico.

%
Didát ica 17
Desenvolviment o 11
Compat ibilidade 11
Incent ivo 9
M ot ivação Prof issional 9
Domí nio do cont eúdo t eórico e prát ico 9
Experiência Prof issional 7,14
Compromisso Prof issional 7,14 %
At ualização Prof issional 5,71
Aplicabilidade Prát ica 5,71
Int erdisciplinaridade 4
Inst it uição de Ensino 2,86
Criat ividade 1

0 5 10 15 20

Gráfico 1. Você acha necessário o professor de ensino superior complementar a sua formação pedagógica
para desempenhar seu trabalho? Por quê?

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A Tabela 2 e Gráfico 2 tratam da segunda questão (Quais são as características de


um bom professor no ensino superior?) os doze entrevistados citaram o termo didática, que
corresponde 17% da amostra referente aos termos usados pelos professores para classi-
ficar um bom professor; (8) 11% desenvolvimento; (8) 11% compatibilidade; (6) 9% incenti-
vo; (6) 9% motivação profissional; (6) 9% domínio do conteúdo teórico e prático; (5) 7,14% ex-
periência profissional; (5) 7,14% compromisso profissional; (4) 5,71% atualização profissional;
(4) 5,71% aplicabilidade prática; (3) 4% interdisciplinaridade; (2) 2,86% instituição de ensino;
(1) 1% criatividade.

Tabela 2. Quais são as características de um bom professor no ensino superior?


Tema Percentual
Expressão corporal e verbal 25%
Gestão de pessoas 25%
Gestão de conflitos 25%
Motivação 16,66%
Disciplina 16,66%
Interação com os alunos e com a instituição de ensino 16,66%
Responsabilidade 100%
Busca de conhecimento contínuo 41,66%
Dedicação (Criatividade) 50%

Responsabilidade
% 28
Dedicação 14
Busca de conhecimento contínuo 11,63
Gestão de conf litos 7
Gestão de pessoas 7
Expressão corporal e verbal 7
Interação com os alunos e com a instituição de ensino 4,66
%
Disciplina 4,66
Motivação 4,66
Compromisso prof issional 2,33
Preparo didático 2,33
Preparo pedagógico 2,33

0 5 10 15 20 25 30

Gráfico 2. Quais são as características de um bom professor no ensino superior?

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4. DISCUSSÃO

Percebe-se pelos resultados que todos os entrevistados acreditam que a educação con-
tinuada para o docente é importante, sobretudo porque estes correlacionam capacita-
ção docente, principalmente, à responsabilidade e dedicação. Os resultados da pesqui-
sa mostram que professores percebem essa necessidade de diferenciação e se dispõem
mais a usar recursos para atendê-la. Os professores entrevistados mostram na sua mai-
oria, desejo de buscar ferramentas para ser um bom professor. Reconhecem, todavia,
que pelo fato de lidarem com pessoas, de diferentes perfis psicológicos, formações e
condições socioeconômicas, faz-se necessário não só educar, mas ter habilidade na ges-
tão de pessoas. Além, segundo relato de um entrevistado “ter ciência que o que sabe
nunca é o bastante. Por final, ser apaixonado pela profissão”. Todavia, estes mesmos
professores, reconhecem que o perfil de seus alunos está associado à vida acadêmica
pregressa, além de fatores já citados. Portanto, todos dos professores entrevistados de-
sejam encontrar formas através de formação continuada, para obter equilíbrio entre o
ensino e a aprendizagem, contribuindo para que os seus alunos transponham as barrei-
ras encontradas e transformem se em cidadãos certos de seus direitos e deveres.

Cerca de 11,63% dos entrevistados afirmam que o professor do ensino superi-


or deve complementar a sua formação, porque a busca do conhecimento contínuo faz-se
necessária sobretudo em um mercado de trabalho onde “as competências mais valori-
zadas são a capacidade de obter informações”.

As reformas educativas levadas a efeito em nosso país e nos outros países da


América Latina desde o final da década de 1970, com o objetivo de adequar o sistema
educacional ao processo de reestruturação produtiva e aos novos rumos do Estado,
vêm reafirmando a centralidade da formação dos profissionais da educação. Nesse
contexto, debatem-se diferentes propostas para a formação, fundadas em projetos polí-
ticos e perspectivas históricas diferenciadas, o que faz com que a formação desses pro-
fissionais seja tratada ou como elemento impulsionador e realizador dessas reformas,
ou como elemento que cria condições para a transformação da própria escola, da edu-
cação e da sociedade “(AGUIAR, 1997; FREITAS, 1995).

Um entrevistado respondeu que “não só o professor do ensino superior deva


passar por cursos de qualificação, mas também professores dos níveis que antecedem
este”, isso vem de encontro com estudo de um autor (PEREIRA, 1999), em que ele rela-
ta que a desmotivação do jovem na procura do magistério como carreira, bem como o
desestimulo do professor na busca pelo aprimoramento estão relacionados às más con-

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dições de trabalho, salários baixos, jornada de trabalho extensa e a inexistência de pla-


nos de carreira. Ainda segundo o mesmo entrevistado, “se estamos inseridos numa so-
ciedade que tudo muda com muita rapidez é de suma importância estar atualizados
em todos os aspectos, para que possamos desempenhar nosso papel com muita segu-
rança e dignidade”, essa observação mais uma vez vem corroborar o estudo do mesmo
autor (PEREIRA,1999) em que observa que em contrapartida, há uma urgência em qua-
lificar o maior número possível de educadores, pois há no país uma crescente constante
no número de alunos sem que haja, todavia, um investimento financeiro efetivo por
parte do governo. Fato esse que segundo o autor poderá levar a ocorrência de erros do
passado, como, visões de improvisação, pressa e falta de regulamentação na formação
do professor.

Entende-se ainda a formação continuada como um direito dos professores e


dever do Estado e das agências contratantes. (ANFOPE, 1998). Mesmo concordando
com a importância da qualificação docente, um entrevistado respondeu não concordar
com o termo capacitação, pois segundo este, “implicitamente significa que quem está
atuando não é capaz, pior ainda quando usam o termo reciclagem, imagino, que nós
docentes sejamos um bando de garrafas pets passando pelo processo de reciclagem pa-
ra sermos reaproveitados novamente”.

O exame da metodologia utilizada nas dissertações e teses sobre formação do-


cente mostra que 72 pesquisas (25%) são, em geral, voltados ao conhecimento de um
aspecto muito particular ou específico da formação docente (BRZEZINSKI et al., 1999).
Outro tipo freqüente de estudos é a análise de depoimentos (14%), em que o pesquisa-
dor faz levantamento de dados com questionário ou entrevista, visando conhecer opi-
niões, pontos de vista ou representações dos informantes, no qual corrobora com o es-
tudo apresentado, pois foi utilizado questionário visando a obtenção dos temas apre-
sentados neste estudo.

Existem 9 motivos que justificam a busca pela educação continuada


(PLONSKI, 2003):

• Compensar a obsolescência do conhecimento adquirido durante o cur-


so superior;
• Necessidade de adquirir ou aprimorar habilidades intersubjetivas, de-
senvolver habilidades no trabalho em equipes multidisciplinares;
• Desejo natural de ascender na carreira;

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• Necessidade por parte daqueles que formam cooperativas de conhecer


aspectos da legislação, de administração financeira, de relacionamen-
tos e outros.
• Necessidade de buscar uma segunda carreira, por motivos como de-
missão e aposentadoria, buscando cursos de complementação que
permitam utilizar parte do conhecimento e experiência de engenharia
adquirida previamente.
• Determinadas atividades requerem uma certificação para o seu exercí-
cio, sendo necessária a busca por cursos de educação continuada espe-
cíficos.
• Necessidade de reciclagem que por motivos pessoais se afastam do
mercado de trabalho e precisam da educação continuada para sua re-
inserção.
• Expansão dos cursos de formação continuada e para tal precisa de pro-
fessores; mudança da tecnologia disponível para o ensino-
aprendizagem.
• Busca por maior empregabilidade.

O professor sabe a matéria, porém não sabe como transmitir ao aluno, de que
o professor não sabe como conduzir a aula, não se importa com o aluno, é distante, por
vezes arrogante, ou que não se preocupa com a docência, priorizando seus trabalhos de
pesquisa – mais valorizados pela comunidade acadêmica, são tão freqüentes que pare-
cem fazer parte da “natureza”, ou da “cultura”, de qualquer instituição de ensino su-
perior (PACHANE, 2003). Esses dados confirmam a observação de um entrevistado em
que segundo ele “o professor, que já não é mais um professor, mas sim um mediador,
tem que estar afinado com mentalidade coletiva. Caso contrário, não passará de um
repetido de informações”.

No Brasil, o pouco espaço para o desenvolvimento da criatividade nos cursos


universitários tem sido apontado por autores diversos: “é no terceiro grau onde menos
se fala e pensa em criatividade. Excetuando-se as escolas e/ou departamentos de artes,
parece que os demais professores têm muito mais o que fazer do que se preocupar com
a imaginação, fantasia e criação.” (ALENCAR,1995, 1996, 1997; CASTANHO, 2000 e
ROSAS, 1985)

Por outro lado, há professores conscientes das características de sala de aula


que estimulam a criatividade dos alunos (FLEITH, 2000). Entretanto, a transferência
para a prática parece ser intuitiva. A informação limitada de como cultivar as habilida-
des criativas em sala de aula é explicada, por esta autora, pela ausência de conteúdos
na área de criatividade na formação do professor, este estudo corrobora com a autora,

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pois muitos professores relatam que a presença da criatividade dentro de uma sala de
aula é de suma importância.

No Brasil as licenciaturas foram criadas nos anos 30, seguindo o modelo da ra-
cionalidade técnica, ou seja, o professor é visto como um técnico, que faz uso de regras
provenientes do conhecimento cientifica e do conhecimento pedagógico, e as aplica
com rigor na sua prática diária (FLEITH, 2000). Esse modelo de formação de professo-
res mostra-se inadequado à realidade da prática profissional docente, pois há uma se-
paração entre a teoria e a prática, sendo o maior equívoco acreditar que para ser um
bom professor é suficiente ter o domínio da área de conhecimento específico que vai
ensinar. Outro modelo de formação de professores vem sendo estudado que é o mode-
lo de racionalidade prática. Nesse modelo, considera-se o professor um profissional au-
tônomo, e a prática “não é apenas o lócus da aplicação de um conhecimento científico e
pedagógico, mas espaço de criação e reflexão, em que novos conhecimentos são cons-
tantemente gerados e modificados”. A prática pedagógica não é isenta de conhecimen-
tos teóricos e esses absorvem significados novos dentro da realidade escolar. Esse es-
tudo confirma a observação feita por um dos entrevistados, em que “quando um do-
cente se preocupa com a responsabilidade que tem no papel de educador, certamente
se preocupará coma permanente atualização e uma constante interação com a institui-
ção de ensino e seus alunos”

Sendo assim, para uma coerência com as mudanças pretendidas na educação


brasileira e com as atribuições aos docentes pela LDB, “torna-se necessário pensar na
formação de um profissional que compreenda os processos humanos mais globais”.
Faz-se necessário alguém que trabalhe especificamente com uma área do conhecimento
escolar, mas que “esteja em contato permanente com outros campos do saber”. O autor
ressalta, ainda que seja essencial investir na formação de um professor que tenha vi-
venciado uma experiência de trabalho coletivo, que tenha se formado na perspectiva
de ser reflexivo em sua prática e que se oriente pelas necessidades de sua escola e seus
alunos. “Para isso, a familiaridade com os processos e os produtos da pesquisa científi-
ca torna-se imprescindível na formação do docente” Segundo o autor é necessário que
os educadores se aprofundem “na produção científica do conhecimento, pois isso pos-
sibilitará a esses educadores o exame crítico de suas atividades docentes, contribuindo
para aumentara sua capacidade de inovação e para fundamentar suas ações”
(PEREIRA, 1999).

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A formação continuada de docentes deve ser pauta de discussão e preocupa-


ção das instituições de Ensino Superior (EIDELWEIN, 2005). Discute-se hoje tanto no
cenário internacional como nacional, a educação inclusiva, isto é, aquela que parte do
pressuposto de que o ensino deve ser para todos.

A diversidade dos alunos na universidade inclui também alunos com necessi-


dades educacionais especiais, o que exige um redimensionamento na formação do pro-
fessor universitário tanto inicial como continuada (EIDELWEIN, 2005).

Formar professores é tarefa complexa (PEREIRA,1999), mas possível de ser


desenvolvida.

No ensino superior já existem várias experiências de formação continuada,


embora segundo haja necessidade de se responder por que fazê-la (PLONSKI, 2001).

O ponto de partida desses cursos devem ser os próprios problemas vividos


pelos professores na sua prática pedagógica (MAZZEU, 1998; ALVES, 2005). É essenci-
al investir na formação de um professor que tenha se formado na perspectiva de ser re-
flexivo em sua prática e que se oriente pelas necessidades de sua escola e seus alunos
(PEREIRA, 1999). Segundo este autor “a familiaridade com os processos e os produtos da
pesquisa científica torna-se imprescindível na formação do docente” já que ao se aprofunda-
rem na produção científica do conhecimento, poderão realizar um exame crítico de su-
as atividades docentes, contribuindo para aumentar a sua capacidade de inovação e
para fundamentar suas ações.

Para um dos entrevistados, “acima de tudo o professor tem que saber formar.
Não adianta ele ser PhD no assunto, se não souber passar a informação aos alunos. Ele
também tem que ser parceiro do aluno. Alguém em que ele possa confiar e que está lá
para ajudá-lo.” Isto vem ao encontro do pensamento de que quando o aluno tem um
papel importante na construção da sua própria aprendizagem (ZABALZA, 2004).

5. CONCLUSÃO

Professores que possuem qualificação pedagógica podem fazer uso de um maior nú-
mero de estratégias para dar conta das necessidades de aprendizagem dos alunos e e-
levar o nível de qualidade do ensino na universidade.

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A qualidade do ensino superior está necessariamente relacionada à formação


pedagógica do professor, no sentido de que esta pode instrumentalizá-lo a problemati-
zar e a refletir, identificando e resolvendo problemas de ensino e/ou aprendizagem.

A qualificação do professor universitário faz-se necessária para preparar suas


ações docentes a fim de que favoreçam aprendizagens de alunos com perfis diferencia-
dos.

Reforma nas Políticas públicas e institucionais precisam ser estabelecidas e


implementadas no sentido de incentivar a formação docente de professores, para que
estes proporcionem maior qualidade e efetividade no processo de ensino aprendiza-
gem.

A prática cotidiana do professor é um desafio e possibilita o seu crescimento


quando problematizada, seja em relação ao conteúdo escolar, seja em relação aos pro-
cedimentos de ensino.

Tendo visto que o presente estudo foi realizado exclusivamente com professo-
res universitários que fazem Capacitação Docente, ressaltamos a necessidade de con-
frontar os dados aqui encontrados com novos estudos que abordem a importância da
capacitação docente segundo a visão de professores que não fazem essa qualificação,
fato esse que não foi incluído na pesquisa.

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