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Trabalho apresentado na
disciplina Estética I
Rio de Janeiro
2009-1
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1. Introdução ....................................................................................................................... 2
2. A arte no Íon ................................................................................................................... 3
3. A arte em A República .................................................................................................... 6
4. A concepção estética de Schopenhauer ........................................................................ 11
4.1 A influência de Platão........................................................................................... 11
4.2 O mundo como vontade e representação .............................................................. 12
5. Referências bibliográficas ............................................................................................ 16
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1. Introdução
Este trabalho visa apresentar três interpretações estéticas quais sejam aquelas
propostas nos diálogos Íon e A República de Platão, bem como na obra O mundo como
vontade e representação de Schopenhauer.
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2. A arte no Íon
Íon está chegando de Epidauro, cidade onde teria obtido a vitória nos concursos
entre rapsodos que lá se organizavam. O rapsodo lisonjeado com os elogios de Sócrates,
responde: “Mas assim será, se o deus quiser!”. É justamente esta frase que o rapsodo
pronuncia sem maiores pretensões que vai mover o diálogo.
Sócrates prossegue sua lisonja dizendo invejar o “aspecto externo” dos rapsodos,
sempre muito bem alinhados. Mas é também invejável a capacidade dos rapsodos para,
além das palavras do poeta, penetrar-lhe o pensamento. Aqui um primeiro ponto fica
estabelecido. O rapsodo, pelo menos o bom rapsodo, é aquele que, além de dizer o que o
disse o poeta, sabe dizer sobre o que o poeta disse. É o seu interprete. Com o que Íon
prontamente concorda. Pelo menos no que diz respeito a Homero, que é a sua
especialidade, diz ser a maior autoridade, tanto declamativa quanto interpretativa. Sócrates
prossegue tentando estabelecer novos pontos, premissas com as quais pretende enredar seu
companheiro.
Seria Íon capaz de falar sobre outros poetas que não Homero? Desde os primeiros
passos do diálogo, seu autor, Platão, parece querer deixar claro que não se quer discutir
Homero, apenas. Ainda que Íon seja declaradamente um especialista em Homero, a questão
a ser discutida de fato vai aos poucos se revelando. Mas o rapsodo só se sente capaz nas
questões homéricas.
Ora, mas se a respeito de muitas coisas estão de acordo os poetas, se tanto Homero
quanto Hesíodo, sobre determinadas coisas, dizem o mesmo, nosso rapsodo, pelo menos,
no que diz respeito a essas coisas sobre as quais dizem o mesmo os poetas, deverá sair-se
bem ao falar sobre o que disseram os dois. Estabelecida a proposição, Sócrates pergunta a
Íon o que se passa no caso contrário, quando os poetas a respeito do mesmo não dizem o
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mesmo. Só que antes mesmo de ser esboçada uma resposta, muda a argumentação,
introduzindo um elemento particular. Um exemplo concreto.
O objeto agora é a arte de predizer o futuro, sobre a qual falaram ambos os poetas.
A respeito da arte, quem é o mais apto para julgá-la, o rapsodo ou o poeta? Íon concorda
que é o poeta detentor de tal arte. Nesta passagem fica claro que o alvo do diálogo não é
Homero mas sim a própria poesia. No momento a pergunta não declarada mas feita é pelo
objeto da poesia.
A respeito do que falam os poetas? De uma forma geral todos os poetas falam das
mesmas coisas. Mas se falam do mesmo por que não dizem o mesmo a respeito de tais
coisas? Surge a questão de saber por que é então que Íon é incapaz de compreender a
poesia dos outros poetas. Chegamos ao argumento central. Que Íon de uma forma sintética,
meio que sem querer, já havia enunciado: “... se o deus quiser”. O rapsodo não possui arte
(techne) nem conhecimento (episteme). Sem técnica, sem ciência, está sujeito à vontade das
musas. Ora se Íon houvesse chegado a ser um dos melhores intérpretes de Homero por
meio de uma arte determinada, o que o impediria de interpretar os outros poetas? Isso se de
fato as obras inspiradas pelas diversas musas constituírem uma poética. Sócrates lança a
dúvida. Íon afirma a existência de uma poética.
A musa entusiasma o poeta que, por sua vez entusiasma o rapsodo e este a
audiência. Toda relação efetiva que se mantém com a poesia. Para participar dessa corrente
é preciso não estar consciente de si mesmo, não agindo de acordo com a própria capacidade
intelectiva e tornando-se assim um meio através do qual possa fluir a presença das musas.
Dentro desta cadeia o rapsodo ocupa uma posição intermediária entre o poeta e o
espectador. Ele é aquele que traz aquilo que o poeta trouxe da musa.
Parece então estar mais do que evidente que não é por meio de uma arte específica
que alguém se torna poeta ou rapsodo. Só o dom divino é capaz de engendrar o poeta.
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Sócrates tentou mostrar ao rapsodo que o seu fazer e o seu saber, a rapsódica, não
pode ser fruto de uma arte e de uma ciência, sendo antes oriundas de uma espécie de
predisposição divina. O rapsodo possuído, no caso por Homero, como que partilha a
inspiração divina que antes moveu o poeta. O que Platão chama de arte e ciência é algo que
deve estar à disposição. Ele pressupõe um saber que pode ser acessado a qualquer momento
pelo detentor desse saber. No diálogo ficou claro que o rapsodo não possui essa sabedoria
sendo antes possuído pela sabedoria do poeta, que por sua vez, é possuído pela sabedoria
dos deuses.
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3. A arte em A República
A poesia é tratada nos livros II e III como parte da educação musical que deveria ser
destinada aos guardiões da cidade. Essa poesia da qual Sócrates fala são os mitos ou as
histórias sobre os deuses, que eram contadas às crianças desde cedo e que também serviram
de base para o surgimento da tragédia e da comédia. Mas Sócrates irá dizer que “das
(fábulas) que agora se contam, a maioria deve rejeitar-se” (República, 377c), pois para ele
elas estão cheias de mentiras e não deveriam mostrar os seres mais elevados lutando e se
odiando uns aos outros.
eram contadas e qual seria a forma mais adequada. Sócrates expõe então três formas de
narrativa que podem ser utilizadas ao se contar uma história: a simples narrativa na qual o
poeta fala de seu ponto de vista sem representar ser outra pessoa; a imitação ou mímese
que é pura representação e na qual o poeta se omite; e uma terceira mista, constituída pela
mistura de ambas ( República, 392d). Mais à frente, Sócrates irá identificar cada um desses
tipos de narrativa da seguinte forma: “em poesia e em prosa há uma espécie que é toda
imitação, como tu dizes que é a tragédia e a comédia; outra, de narração pelo próprio poeta
– é nos ditirambos que se pode encontrar de preferência; e outra ainda constituída por
ambas, que se usa na composição da epopéia e de muitos outros gêneros” (394d). No livro
III da República, a conclusão é que o uso da mímese deverá ser limitado, destinando-se
apenas à imitação dos homens de bem, pois, segundo Sócrates, “a baixeza, não devem ser
capaz de praticá-la nem ser capazes de a imitar, nem nenhum dos outros vícios, a fim de
que, partindo da imitação, passem ao gozo da realidade” (395c).
A partir daí, o tema da poesia irá reaparecer no diálogo somente no livro X, após o
assunto principal da República, que é a definição da justiça na cidade, estar aparentemente
concluído.
Quais seriam as razões para esse deslocado retorno ao tema? Vários comentadores
consideram o livro X como um apêndice 1, e ainda que haja quem o considere até mesmo
como um epílogo 2 em relação ao restante da obra, o fato é que o que é dito sobre a poesia
e a mímese no livro X não parece se encaixar muito bem com o que havia sido dito antes.
Se nos livros II e III, como vimos, o objetivo de Sócrates é tratar dos regulamentos
que deveriam ser impostos à poesia como um todo, fazendo parte dela suas modalidades
imitativa e não imitativa, no livro X há um deslocamento do foco da discussão e esta
recairá unicamente sobre a poesia imitativa ou mimética. Outro ponto é que se antes a
aceitação da poesia imitativa era parcial, ou seja, deveria ser utilizada apenas para imitar o
homem de bem, no livro X Sócrates declara a necessidade de a recusar em absoluto
(República, 595a). Há aqui, portanto, um isolamento da mímese como tema principal,
enquanto a discussão sobre os guardiões e a função educativa da poesia é deixada de lado.
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Sendo assim, o problema do livro X não é mais o de determinar se a poesia imitativa seria
ou não adequada à educação dos jovens daquela cidade ideal, mas o de mostrar por que ela
não deveria mais ser executada nem ouvida, ao que parece, por ninguém dessa cidade justa.
As razões dadas por Sócrates no começo do livro X para o retorno ao tema são duas:
primeiro o fato de ter se definido anteriormente cada parte da alma e depois diz que: “todas
as obras dessa espécie se me afiguram ser a destruição da inteligência (dianoia) dos
ouvintes, de quantos não tiverem como antídoto (farmacon) o conhecimento da sua
verdadeira natureza” (República, 595b).
Mas parece que o principal motivo do descompasso entre o livro X e o resto da obra
está na flutuação do sentido da palavra mímese, a qual passa a ser concebida como a
própria poesia e não mais como apenas um de seus modos.
Enquanto no livro III a mímese era caracterizada no contexto das artes dramáticas
como modo de expressão ou representação, no livro X a mímese será caracterizada, de um
modo mais geral, como o modo através do qual o homem pode produzir qualquer coisa:
artefatos, pintura ou poesia. A diferença entre modo de expressão e modo de produção se
expressa no fato de que na primeira acepção da palavra mímese o poeta assume em si a
forma do que imita, enquanto na segunda, ele produz algo exterior a si.
Isso implica em que, se antes a mímese não era totalmente admitida em virtude de
um julgamento moral sobre bons ou maus modos de conduta, agora a mímese deverá ser
completamente rejeitada em virtude de seu estatuto ontológico, ou seja, por um julgamento
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acerca da realidade de seus produtos. E é isso que define a mímese no livro X, uma forma
de produzir coisas que serão sempre inferiores em realidade em relação aos modelos dos
quais partiram. Não interessa aqui se os modelos são moralmente bons ou maus, o que
condena a imitação é sua natureza ontologicamente inferior.
Mas de que modo a metáfora da imitação visual pode servir ao segundo objetivo do
livro X, que é determinar qual o estatuto do conhecimento dos poetas, se um pintor não
precisa necessariamente ter conhecimentos verdadeiros sobre aquilo que imita?
Dizer que os pintores são produtores de algo que se encontra “três graus afastado da
realidade” só faz sentido a partir da descrição metafísica da Forma dos particulares e da
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pintura, mas para explicar por que faltam conhecimentos ao poeta será necessário outro
argumento.
O exemplo dado por Sócrates para explicar esse ponto será o das três artes relativas
ao mesmo objeto (República, 601c-602b). Segundo ele, há “a de o utilizar, a de o
confeccionar, e a de o imitar” (601d), sendo que quem utiliza o objeto possui sua ciência
(episteme), quem fabrica pode ter no máximo uma opinião (doxa) verdadeira pelo contato
com quem utiliza, ao passo que, quem imita não possui nem ciência, nem opinião
verdadeira e, nesse sentido, podemos dizer que Platão nega o valor das artes como base
para o conhecimento.
A principal diferença entre esse argumento das três artes e o anterior da analogia
entre a pintura e a poesia é que nesse caso não se discutem os níveis de realidade dos
objetos envolvidos, pois o que se utiliza, o que se produz e o que se imita se encontram
num mesmo nível de realidade. O poeta é um imitador enquanto não utiliza nem fabrica
aquilo que fala, mas não enquanto não tem nenhum conhecimento das Formas ou Idéias.
Platão afirma no Livro X da República, via Sócrates e Glauco, que há Idéias eternas
das coisas. Assim, haveria uma Idéia única de cadeira ou mesa, à qual se referem todos os
outros exemplares desses objetos. Quando o artista pinta, apenas imita a cadeira do artífice,
o qual, por sua vez, imita a cadeira divina. O artista, portanto, é definido como o imitador
de uma imitação.
Segue-se portanto, diz Sócrates, que há as três seguintes cadeiras: uma que está na
natureza e da qual nós, segundo a minha opinião, podemos muito bem dizer que foi feita por Deus ... Outra
que foi feita pelo carpinteiro ... E outra que foi feita pelo pintor.
admitido num Estado que tenha boas leis”, pois estimula e alimenta justamente esse lado
[inferior] da alma, fortificando-o e tendendo a destruir o racional” (Platão, 604e-605c). A
poesia faz de regente aquilo que deveria ser regido e fomenta o que “tinha de extinguir-se,
para que, ao fim, nos tornássemos melhors e mais felizes, em vez de piores e mais
miseráveis”. A sentença de Sócrates é inclemente: “Deixe-nos, portanto, concluir o nosso
retorno ao tópico da poesia e à nossa apologia e afirmar que temos bons motivos para
desterrá-la de nosso Estado, em virtude do seu caráter” (Platão, 606d-607c).
Nota-se que Platão despreza por completo seja o valor cognitivo, seja o de
experiência vital das artes, três vezes mais distante do rei e da verdade. Das Idéias, elas não
passam de imitação e, mais grave, comerciam com o lado ruim da alma, excitando-o, razão
por que não pode ser cidadão da boa república. Numa palavra, Platão, apesar de a sua
doutrina das Idéias operar aquele vôo da pomba de que fala Kant, não funda uma teoria das
artes enquanto lugar estético da verdade e de uma profunda experiência acerca do conteúdo
da vida e da experiência.
Apesar de não haver identidade entre coisa-em-si kantiana e Idéia platônica, para
Schopenhauer elas são assemelhadas. Cada uma é o melhor comentário da outra na medida
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Primariamente, portanto, a arte pode ser definida como o modo de consideração das
coisas independentes do princípio de razão, em oposição ao que o segue, caminho da
experiência e da ciência. A arte, como exposição de Idéias, significa a visibilidade perfeita
da objetidade adequada da Vontade. A faculdade genial intui e reproduz do modo mais
perfeito possível essa beleza exemplar, aquele primeiro átimo de aparecimento da forma
objetal da espécie. Ela expõe esteticamente a verdade dos objetos, os quais na efetividade
são imperfeitos.
também para sua fruição estética. É por intermédio do artista que a Idéia torna-se
"inteligível [intuitivamente] mesmo para uma inteligência de fraca receptividade e de uma
esterilidade completa" (MVR § 50, p.304, p.249). Deste modo, o artista assume o papel de
um "facilitador" dessa contemplação, pois "o artista empresta-nos os seus olhos para ver o
mundo" (MVR § 47, p.251, p.205).
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5. Referências bibliográficas
PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 11ª edição.