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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUCLÉCIA NEVES COSTA

NEUROARQUITETURA APLICADA AO AMBIENTE HOSPITALAR:


ANTEPROJETO DE UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA EM MACEIÓ - ALAGOAS

MACEIÓ - AL

2023
LUCLÉCIA NEVES COSTA

NEUROARQUITETURA APLICADA AO AMBIENTE HOSPITALAR:


ANTEPROJETO DE UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA EM MACEIÓ - ALAGOAS

Trabalho final de graduação apresentado


como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal de Alagoas.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Márcio


Toledo

MACEIÓ - AL

2023
Dedico este trabalho a todos que me
acompanharam e me apoiaram durante toda
a minha trajetória.
AGRADECIMENTOS

O caminho da graduação foi árduo e desafiador, muitas vezes exigindo


de mim o que eu não sabia que conseguiria entregar. A vontade da
desistência permeou por muitas vezes, mas mantive-me firme, e isso só foi
possível com o apoio e a presença das pessoas que direta ou indiretamente
contribuíram para que seguisse e realizasse esse sonho. Nessa perspectiva
expresso os meus agradecimentos.

Aos meus pais, Neves e Cláudio, pela base familiar e por, mesmo com
todo receio e medo de uma nova cidade, me apoiarem e torcerem
incondicionalmente para tornar possível essa realização.

Aos meus irmãos, Cláudia, Carlos, Fernando, Fagner, Clécia, Luzia e


Vania, por sempre me apoiarem, acreditarem e torcerem por essa conquista.
Em especial a Cláudia, por ter sido uma das minhas maiores incentivadoras.

As minhas cunhadas, cunhados, sobrinhos e sobrinhas, que sempre


acreditaram em mim e me apoiaram.

A minha dupla de faculdade, Mayra, que partilhou comigo do árduo


caminho da faculdade, desde perrengues a conquistas, e tornou essa
caminhada mais leve.

Aos meus amigos, José Gabriel, Amanda, Lalo, Patrick, Lucas, Valdir,
Gabriel D., por me apoiarem, incentivarem e partilharem comigo as alegrias e
tristezas da graduação.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandre Márcio Toledo, por ter


despertado em mim o interesse na área projetual e por sua competência,
paciência e tranquilidade.

E a todos que torceram por mim e me apoiaram direta ou


indiretamente. Muito obrigada!
Nós moldamos nossos edifícios e depois, eles no moldam
(Winston Churchill)
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
1.
2. A NEUROARQUITETURA

A neurociência é um campo científico que estuda o sistema nervoso, com suas


estruturas, funcionalidades e aspectos fisiológicos, em busca de respostas para a
relação entre as atividades de células nervosas dentro de circuitos neurais e a
complexidade dos processos mentais (KANDEL et al., 2014). Centrada
principalmente no cérebro, busca desvendar os mistérios que cercam este órgão
responsável pelo comportamento e pelas percepções humanas. A Arquitetura é uma
intervenção no meio ambiente, como forma de criar novos espaços que abriguem
diversos tipos de atividades humanas, com a junção da arte e elementos estéticos.
Diante disso, os recentes avanços desses estudos nos mostram a relevância dessa
ciência para a aplicação em muitos outros campos científicos e é neste contexto que
surgem outras áreas de pesquisa, como a neuroarquitetura (GONÇALVES, PAIVA,
2018).

A NeuroArquitetura é a aplicação da neurociência à arquitetura. É uma área


interdisciplinar que junta a área da neurociência cognitiva e da psicologia à
arquitetura e ao urbanismo e busca compreender, de forma mais completa, como o
ambiente construído impacta os usuários. A fusão de ambos resulta no estudo do
comportamento humano em meio ao ambiente construído.

Investigações formais sobre como os humanos interagem


com o ambiente construído tiveram início na década de 1950,
quando vários grupos de pesquisa analisaram o quanto os
projetos de hospitais, em especial de instalações
psiquiátricas, influenciavam o comportamento dos pacientes.
(OLIVEIRA, p. 4, 2012)

Em 2003 com a fundação da Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA) em


San Diego, na Califórnia (EUA) o termo neuroarquitetura passou a ser utilizado
oficialmente. Os estudos apresentados na convenção de junho de 2003 pelo
neurocientista Fred Gage e pelo arquiteto John Paul Eberhard possibilitaram
discussões que levaram a grandes avanços na arquitetura (ANFA, 2021). A missão
da ANFA é promover e avançar o conhecimento que liga a pesquisa em
Neurociência a uma compreensão recente das respostas humanas ao ambiente
construído.
Desde as primeiras edificações é possível notar que arquitetos e construtores tinham
o objetivo de estimular algo nos usuários. Frank Lloyd Wright falava sobre o uso de
ângulos, planejamento aberto e grandes janelas, que tinha a intenção de replicar
uma psicologia enraizada, uma fogueira aconchegante e uma visão ampla de
floresta. Wright estava consciente do poder que um edifício pode ter sobre a mente.
O historiador William Cronon reflete sobre o uso de elementos de design para
influenciar a mente, usado por Frank:

E então, o que ele tentou fazer foi trazer todos esses


elementos, controlá-los, subordiná-los à sua visão como
forma de criar uma realização perfeita da beleza e da sua
visão de como seria viver dentro de si. Esse espaço seria
genuinamente transformador. Isso tornaria diferente as
pessoas que habitavam aquele espaço. E assim a sua visão
é de uma estética que serve toda a vida espiritual humana.
(CRONON, WILLIAM, 1998)

A partir de então, cientistas e arquitetos se uniram para explicar a relação existente


entre o cérebro e o ambiente, além de obter mais informações de como os usuários
percebem o ambiente e como ele influencia em seus comportamentos, tomada de
decisões e sensações.

A maneira como o ser humano interage com o meio e seu


envolvimento cognitivo está diretamente ligada a como os
ambientes são organizados e construídos, sendo essencial
no seu desenvolvimento físico e social. (FALEIRO, p. 28,
2020)

Fred Gage, neurocientista do Salk Institute, foi um dos pioneiros no assunto,


interessado pelos efeitos causados no cérebro quando se muda de ambiente. Em
um de seus estudos, Dr. Gage juntamente de sua equipe, descobriram a
neurogênese, que é o processo em que novas conexões neurais são regeneradas
ao longo da vida, quando o indivíduo está constantemente dentro de espaços físicos
ricos em detalhes e conforto (TECHAU et al., 2016).

O edifício do Salk Institute, na Califórnia, foi fundado em 1963 pelo cientista Dr.
Jonas Salk perante os conceitos da influência da arquitetura sob a pessoa, criando
um ambiente colaborativo e contemplativo (SALK, 2020). Salk sentiu a necessidade
de mudar de cenário para que a sua pesquisa evoluísse, resultando em um período
sabático na Basílica de São Francisco de Assis, na Itália. Ele notou que a mudança
para um local amplo e cercado de paisagens naturais influenciou grandemente suas
emoções e aumentou sua capacidade mental, tendo grande auxílio na descoberta
da vacina da poliomielite.

Imagem 01: Basílica de São Francisco de Assis - Itália

Fonte: Brasil na Itália, 2022

Jonas Salk acreditava que a arquitetura tinha uma profunda influência no bem estar
físico e mental, o que o fez buscar por Louis I. Kahan com um projeto, em 1959,
para construir um centro de pesquisas biológicas. Ele estava convencido de que o
projeto para essa instalação deveria explorar as implicações das ciências para a
humanidade. Estabeleceu alguns requisitos mais práticos para o projeto: os espaços
de laboratório teriam que ser abertos, espaçosos e facilmente atualizados à medida
que novas descobertas e tecnologias avançassem na pesquisa. Toda estrutura
deveria ser simples e durável, exigindo pouca manutenção, ao mesmo tempo
deveria ser acolhedora e brilhante. Um ambiente inspirador para os pesquisadores
que lá trabalhassem. O resultado disto foi o Instituto Salk, inaugurado em 1963.

Kahn esquematizou espacialmente o Instituto de maneira semelhante a um


mosteiro: uma comunidade intelectual isolada. O projeto conta com blocos
alongados, pátios (com referência à Basílica de São Francisco de Assis) e praças.
Tanto o laboratório quanto as salas de estudos tem sua vista voltada para o oceano
a oeste. No pátio há uma fonte de água que dá a impressão que deságua no
oceano.

Imagem 02: Vista do pátio do Instituto Salk

Fonte: Archdaily, 2013

Através desses experimentos sabe-se, objetivamente, que


toda experiência que o ser humano vivencia é consequência
do resultado de atividades do cérebro, da mente e de sua
percepção individual. Dessa maneira, os arquitetos precisam
se preocupar com a relação do espaço físico e o cérebro,
projetando assim ambientes capazes de suprir não somente
as necessidades físicas dos usuários, mas também as
necessidades psicológicas e emocionais. (OLIVEIRA, 2012)

John Zeisel, sociólogo e arquiteto, abordou durante a convenção anual de


arquitetos, nos Estados Unidos em 2012, sobre a neurociência. Para sua surpresa, o
assunto foi muito bem recebido pelos convidados. Sua palestra era sobre como o
ambiente construído influenciava nos pacientes com Alzheimer, e aprofundou com
pesquisas e estudos de caso, para comprovar que o espaço construído tem
influência no comportamento do ser humano.

Os arquitetos já entendem de estética e psicologia, o próximo


passo é compreender o cérebro e seu funcionamento,
percebendo por que as pessoas se sentem melhor em certos
ambientes. (ZEISEL, 2012)
Segundo Paiva (2015), há uma estimativa que os seres humanos passam 90% de
suas vidas dentro de ambientes construídos. Sejam em residências, escolas,
shoppings centers, local de trabalho, restaurantes, clínicas, etc. A partir disso, é
possível compreender o impacto que as edificações têm sobre os indivíduos. A
forma como nos sentimos e agimos em ambientes construídos pode estar ligada a
variações nas características físicas desses ambientes. Quando se modifica o
ambiente ao redor de uma pessoa, há alterações no cérebro com a produção de
hormônios que são imperceptíveis a olho nu, mas que podem ser verificadas através
da mudança de emoções e comportamento (TECHAU et al., 2016).

Os conhecimentos acerca do estudo percorrem uma linha do tempo bastante longa,


entretanto esses estudos dependiam apenas da observação e reações dos
indivíduos em um estudo pós-ocupação. Com a junção multiprofissional de
arquitetos, neurocientistas e psicólogos foi possível aplicar ferramentas de
diagnóstico a partir de exames de ressonância magnética funcional (fMRI) e análises
de eletroencefalogramas (EEG) (GONÇALVES; PAIVA, 2018).

Essas tecnologias estão sendo empregadas para identificar pontos hedônicos do


cérebro, que são estimulados por associações agradáveis com o ambiente ao nosso
redor por meio de pensamentos e sentidos. As evidências neurológicas podem
desempenhar um papel fundamental na demonstração da eficácia dessa
abordagem.

Na imagem 03 é possível ver as imagens de uma ressonância magnética do cérebro


de uma pessoa que foi exposta a situações de prazer.

Imagem 03: Ressonância Magnética - Pontos de acessos hedônicos

Fonte: TECHAU et al., 2016


Através das imagens obtidas na ressonância magnética, foram destacadas as partes
em vermelho, que são chamadas de “pontos hedônicos”. Essas áreas foram
estimuladas devido à exposição do indivíduo em algumas situações, como: observar
paisagens agradáveis, ouvir sons agradáveis, ter pensamentos agradáveis,
relembrar memórias agradáveis e trabalhar em tarefas agradáveis (TECHAU et al.,
2016).

Além da ressonância magnética, também pode-se realizar a coleta de dados


fisiológicos por meio da frequência cardíaca, resposta galvânica da pele (que é a
mudança na resistência elétrica da pele causada por emoções de estresse), reflexos
do corpo, níveis hormonais e dados da atividade cerebral com o
eletroencefalograma (EEG) eletroencefalograma. A junção de todos eles dão uma
vasta amostra das experiências de bem-estar, aumentando a compreensão das
respostas de um ser humano aos ambientes construídos.

De acordo com Coburn, Vartanian e Chatterjee (2017), apesar da existência de


diversas técnicas e aparelhos de medição, essa ainda é uma parte da
Neuroarquitetura que precisa ser mais desenvolvida. Os mesmos afirmam que
existem quatro aspectos que fazem a medição da percepção humana no espaço
algo desafiador, que são: temporalidade, dimensionalidade, multimodalidade e a
profundidade do processamento psicológico.

Segundo Techau et al. (2016), as pessoas atribuem significado aos locais onde
vivem e trabalham. Isso é observado a partir da forma como as pessoas absorvem
um sentido psicológico de apego ao local (vínculo emocional entre a pessoa e o
local) e a identidade do local (a relação entre preferências de estilos de vida e
oportunidades ambientais). O estudo do significado é uma área fundamental para
compreender a relação entre as pessoas e o lugar. John Dewey afirmou em “The
Pattern of Inquiry” (1938, p.330), que “somente aquelas coisas do ambiente que são
consideradas como tendo conexão e influência nesta vida, entram no sistema de
significado”.

A influência que um espaço pode ter sobre o comportamento humano é mediada


pela interpretação que o cérebro faz dele, através de uma série de processos
cognitivos, afetivos e conativos de um local é utilizada para construir a
representação e determinar a forma na qual irá interagir com o ambiente.
“As mentes habitam ambientes que agem sobre elas e sobre
quais elas, por sua vez, reagem.” (William James)

A imagem 04 ilustra e permite uma melhor compreensão, através de uma estrutura


experimental, da relação entre ambiente e indivíduo.

Imagem 04: Modelo de resposta do ambiente

Fonte: TECHAU et al., 2016

Os seres humanos se conectam fisiologicamente e psicologicamente com formas


mais complexas do que com formas muito planas ou com uma complexidade
desorganizada.

O Homem Vitruviano é um desenho criado por Leonardo da Vinci, baseado na


correlação das proporções ideais do corpo humano com a geometria, sendo
classificado como a principal fonte de proporção (EBERHARD, 2015). Fracta é um
termo criado por Benoít Mandelbrot em 1975 e descreve formas de geometrias não
Euclidianas. São sequências de formas repetidas em diversos tamanhos aplicáveis
em todo o universo. Pode-se observar os retângulos formados pela espiral da
proporção áurea para entender melhor.

A proporção Áurea é uma constante real algébrica, no valor de 1,618, presente em


várias formas da natureza e utilizada desde a Antiguidade em obras de arte, da
música e da arquitetura.

Imagem 05: Espiral Áurea


Fonte: Gonçalves e Paiva, 2015

Segundo Gonçalves e Paiva (2015), a Neuroarquitetura afirma, em linha com


Gestalt, que nossos sentidos percebem de forma não cognitiva essa harmonia
arquitetônica derivada do uso da simetria, da proporção áurea e do fractal.

O Parthenon é um exemplo onde essas proporções são muito exploradas na


arquitetura, como ilustra a imagem 06, extraída do livro Triuno.

Imagem 06: Parthenon

Fonte: Gonçalves e Paiva, 2015


A NeuroArquitetura é a aplicação da Neurociência à Arquitetura, trazendo
embasamento científico do funcionamento do cérebro humano para as atividades
projetuais da Arquitetura. É o estudo da relação entre a concepção dos ambientes e
a mente humana, projetando ambientes eficientes que se baseiam, além dos
parâmetros técnicos, em índices subjetivos, como emoção, felicidade e bem estar.

Baseia-se na compreensão de que o ambiente físico ao nosso redor tem um impacto


significativo em nosso cérebro e em nossa experiência subjetiva. Considera
aspectos como iluminação, layout, materiais e outros elementos arquitetônicos e
busca criar espaços que promovam o conforto, produtividade, criatividade,
recuperação, cura e bem-estar, levando em consideração as necessidades dos
indivíduos.

O termo “neuroarquitetura” surgiu como o resultado da junção da arquitetura e a


neurociência, e só começou a ganhar destaque no início do século XXI, embora
essa interação tenha raízes históricas.

Essa ideia de que o ambiente físico pode afetar o bem-estar das pessoas é
mencionada a muitos séculos. Porém, a neuroarquitetura como disciplina científica
resultante só começou a se desenvolver quando os avanços na neurociência
demandaram a fornecer uma compreensão mais detalhada dos processos
emocionais e cognitivos humanos.

Foram iniciados a investigação da relação entre o ambiente e o funcionamento do


cérebro. As tecnologias de neuroimagem auxiliam e permitem a visualização dos
padrões de atividade cerebral em resposta aos diferentes estímulos. Os estudos
precursores na área investigaram fatores, como: luz, cor, textura, espaço e forma.
Essas pesquisas observaram que o ambiente projetado pode ter um impacto
significante na mente humana, influenciando em comportamentos, humor, atenção,
cognição e emoções.

Com base nessas descobertas, a neuroarquitetura foi estabelecida como campo de


estudo e desde então arquitetos, neurocientistas, psicólogos e outros profissionais
têm colaborado para compreender como projetar espaços que promovam saúde e
bem-estar das pessoas.

A neuroarquitetura pode ser aplicada em diversos contextos, como: hospitais,


escolas, escritórios, residências e espaços públicos. No caso de hospitais, em
específico, a neuroarquitetura busca a criação de espaços que auxiliam na cura,
garantindo privacidade, segurança, conforto e bem estar dos pacientes, assim como
a eficiência da equipe médica e de toda equipe que trabalha no hospital.
3. O AMBIENTE HOSPITALAR
4. A ARQUITETURA HOSPITALAR
4.1. MUNDO
4.2. BRASIL
4.3. ALAGOAS
5. CARACTERIZAÇÃO DO HOSPITAL DE EMERGÊNCIA E OS
TRATAMENTOS OFERTADOS
6. A NEUROARQUITETURA APLICADA AO AMBIENTE HOSPITALAR
7. ANÁLISE DOS HOSPITAIS DE EMERGÊNCIA DO ESTADO DE ALAGOAS
8. ANÁLISE DOS HOSPITAIS COM A APLICAÇÃO DA
NEUROARQUITETURA
9. ANTEPROJETO DE UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA EM MACEIÓ -
ALAGOAS
10. CONCLUSÃO

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