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as emoções
na arquitectura
Director:
Professor Doutor Arquitecto José Antonio Franco Taboada
Departamento de Representação
e Teoria Arquitectónica
Universidade da Corunha
1
Os processos psicológicos através dos quais o homem interage Os processos psicológicos através dos quais o homem inter
com o meio ambiente e o meio Arquitectónico com o meio ambiente e o meio Arquitectón
Informação Rodapé
Agradecimentos
"Cada um que passa na nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única, e
nenhuma substitui outra. Cada um que passa na nossa vida passa sozinho, mas
não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco
de si mesmo. Há os que levam muito; mas não há os que não levam nada. Há os
que deixam muito; mas não há os que não deixam nada. Esta é a maior
responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que duas almas não se
encontram ao acaso." Antoine de Saint-Exupéry
Resumo
O tema “As sensações e as emoções na Arquitectura”, aponta para a existência de
um fenómeno cíclico dinâmico-contagiante que se deu entre o meio e o sujeito, a sua
expressão e sua forma de comunicação ao longo do processo evolutivo da
Arquitectura, que determinaram o aparecimento dos movimentos arquitectónicos.
Uma espécie de desdobramentos que aconteceram ao longo do processo criativo,
enquanto expressão ideológica onde se formaram valores éticos e estéticos e, a obra
construída mais voltada para a parte do utilizador e a sua interacção com o meio, que
constituíu a seguinte periodização histórica: A Idade Antiga, a Era da Emoção à
Razão; A Idade Média, a Era da Razão; a Idade Moderna, a Era da Razão à Emoção;
A Idade Contemporânea, a Era da Emoção à Sensação.
Fazer esta viagem pelo mundo sensorial e emocional aproximando-nos às ciências
do foro neuropsicofisiológico, no momento em que estão acontecer os grandes
avanços do conhecimento do homem e novas preocupações relativamente à
descompensação do nosso hemisfério cerebral emocional. Permitindo-nos lançar
novos elementos para os debates e quem sabe para a descoberta de novos caminhos
para o futuro da Arquitectura, que muito bem se poderiam pautar por uma nova Era,
a da Sensação à Emoção.
Resumo
O tema proposto "As Sensacións e Emocións na Arquitectura", apunta a existencia
dun fenómeno cíclico dinámico-contagiante que se deu entre o medio eo suxeito, a
súa expresión ea súa forma de comunicación ao longo de todo o proceso evolutivo
da arquitectura, que determinaron a aparición dos movementos arquitectónicos.
Unha especie de desdobramentos que pasou ao longo do proceso creativo, mentres
expresión ideolóxica onde se formaron valores éticos e estéticos e, a obra
construída máis volta para a parte do usuario e, a súa interacción co medio, que
constituíron a seguinte periodización histórica: A Idade Antiga- A Era da Emoción á
Razón; A Idade Media - A Era da Razón; A Idade Moderna – A Era da Razón á
Emoción; A Idade Contemporánea - A Era da Emoción á Sensación.
Facer esta viaxe a través do mundo sensorial e emocional aproximándose nos ás
ciencias do foro neuropsicofisiológico, no momento en que están a ocorrer os grandes
avances do coñecemento do home coas Neurociências, permítenos publicar novos
elementos para os debates e quen sabe para o descubrimento dos novos camiños
para o futuro da Arquitectura, que ben se poderían pautar entre os valores da Razón-
Sensación-Emoción, para unha maior responsabilidade social, universalidade e
Interdisciplinaridade.
Sumario
El tema propuesto "Las sensaciones y las emociones en la arquitectura", apunta a la
existencia de un fenómeno cíclico dinámico contagioso que se produjo entre el medio
y el sujeto, su expresión y su forma de comunicación a lo largo del proceso evolutivo
de la arquitectura, que condujo a la aparición de movimientos arquitectónicos. Un tipo
de acontecimientos que tuvieron lugar durante el proceso creativo, mientras que la
expresión ideológica de la que se formaron valores éticos y estéticos y la obra
construida más centrado en el usuario y su interacción con el medio ambiente, que
constituyó la siguiente periodización histórica: La Edad Antiga, la Era de la Emoción
a la Razón; La Edad Media, la Era de la Emoción; La Edad Contemporánea, la Era
de la Razón a la Emoción; La Edad Contemporánea, la Era de la Emoción a la
Sensación.
Hacer este viaje por el mundo sensorial y emocional traernos a las ciencias del foro
neuropsicofisiológico, en el momento en que están sucediendo grandes avances del
conocimiento del hombre con las Neurociencias nos permite introducir nuevos
elementos a la discusión y tal vez descubrir nuevos caminos para el futuro de la
arquitectura, que bien podrían ser guiados entre los valores de la Razón-Sensación-
Emoción para una mayor responsabilidad social, universalidad y interdisciplinariedad.
Abstract
The proposed theme "Feelings and Emotions in architecture," points to the existence
of a dynamic-contagious cyclical phenomenon that occurred between the medium and
the subject,its expression and its form of communication throughout the evolutionary
process of architecture, which led to the appearance of architectural movements. A
kind of turning points that took place during the creative process, while ideological
expression from which they graduated ethical and aesthetic values and the work built
more focused on the user and their interaction with the environment,that constituted
the following historical periodization: The Ancient Age – The Age of Emotion to Reason;
The Middle Ages - The Age of Reason; The Modern Age - The Age of Reason to the
emotion; The Contemporary Age - The Age of emotion to feel.
Make this trip through the sensory and emotional world bringing us to the neuro
psycho physiological, at the moment that are taking place large man's knowledge
advances with Neuroscience, allowing us to introduce new elements to the discussion
and perhaps to discover new paths for the future of architecture, that well could be
guided between the values of Reason-Feel-Emotion for greater social responsibility,
universality and interdisciplinarity.
Prefácio
O processo Arquitectónico, pelas circunstâncias mais diversas e históricas,
teve o seu rumo, o seu caminho de encontro a um ideal, que parecendo
inatingível continua caminhando, sustentado e motivado pela utopia dos
homens.
“O caminho faz-se caminhando...”, também representa, para mim, uma certa
forma de estar na vida constituindo na circunstância, de forma alusiva ao
conhecido poema “no hay camino, se hace camino al andar” do Sevilhano
António Machado, uma inspiração para a dissertação a que me proponho.
O poema representou, pois, um lema e uma motivação extra nesta minha
caminhada. O Poeta e Filósofo pertencente ao Modernismo, que ao longo da
sua obra, estímulou o diálogo entre a Filosofia e a Poesia, entre a Política e a
Arte, encontrou no espírito criativo o verdadeiro paradigma cognitivo a partir
do qual, se deu a capacidade da Arte em dar as respostas ao seu tempo.
Na circunstância, a presente dissertação é o resultado de uma longa viagem
pelo mundo dialético das sensações e das emoções na Arquitectura, pelas
principais zonas de reacção do planeta como Roma, Florença, Londres, Paris,
Viena, Chicago, Nova Iorque, entre outras, onde tive oportunidade de
estabelecer o contacto in loco com investigadores e algumas das principais
obras de Arquitectura.
A caminhada não foi fácil por variadas razões, contudo penso ter recolhido os
elementos necessários para o desenvolvimento dessa ambiciosa tarefa que
foi querer abordar estes assuntos de grande complexidade do tema a que me
propus. Porque as sensações e as emoções são uma constante no nosso
quotidiano, seja quando fazemos Poesia, Música, Teatro, Cinema, Pintura,
Escultura, Design, Arquitectura ou em qualquer outro tipo de manifestação
artística, atingem o seu expoente, tanto na sensibilidade do artista como no
efeito contagiante que a obra exerce na contaminação do homem e, por
consequência, no espaço que o rodeia.
Esta temática não deverá ser vista como um mero assunto inerente à profissão
ou ao seu objecto, mas sim pela consciencialização da importância que este
assunto deverá ter em todos nós, tanto pela responsabilidade que lhe está
inerente como, quanto mais não seja, para sensibilizar os menos atentos à
importância que a obra e o artista têm no mundo.
Índice
Introdução.......................................................................................17
Conclusão…………………………………………………………….….…395
Bibliografia…………………………………………………………………407
Anexos…………………………………………………………………..……...….419
INTRODUÇÃO
Introdução
“ As Sensações e as Emoções na Arquitectura” são uma temática, de tal forma
abrangente, que a investigação mais exaustiva poderia levar a uma verdadeira
enciclopédia de Arquitectura. Contudo interessou, particularmente, notar a
existência de um fenómeno cíclico dinâmico-contagiante que se deu entre o
meio e o sujeito, a sua expressão e sua forma de comunicação ao longo de
todo o processo evolutivo da Arquitectura, que determinaram o aparecimento
dos movimentos arquitectónicos.
Podemos constatar ao longo da história dos movimentos de Arquitectura, a
existência de uma espécie de desdobramentos entre o mundo das sensações
e das emoções em todo o processo criativo, enquanto expressão ideológica
duma determinada classe onde se formaram valores éticos e estéticos e, a
obra construída, mais voltada para a parte do utilizador e a sua interacção com
o meio. Os movimentos tiveram na Filosofia, fundamentos que relacionaram
os problemas da existência do homem ao conhecimento da verdade da mente
à linguagem, sempre uma utilidade vital em todas as outras ciências, como foi
o caso da Arquitectura, onde constituiu a base de muitas ideologias e
movimentos arquitectónicos. Os grandes mestres da Filosofia compreendendo
a grandeza multisensorial da arte na representação dos valores do homem,
pelo seu contágio, construíram valores de ordem estética representativos das
suas doutrinas ao longo da sua história.
CAPÍTULO I
O Processo evolutivo entre a
Arquitectura e o Meio
1.1
O PROCESSO EVOLUTIVO ENTRE A
ARQUITECTURA
E O MEIO
As Sensações e as Emoções na Arquitectura 25
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
03.Cronograma do capítulo
3. Gronograma doI capítulo I
1.1.2
DA EMOÇÃO À
RAZÃO
As Sensações e as Emoções na Arquitectura 31
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
.
36 As Sensações e as Emoções na Arquitectura
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
Assim como, a civilização Maia, 1000 a.C., que se notabilizara pelo único
sistema de língua escrita do Novo Mundo, na cultura pré-colômbiana sistemas
astronômicos e matemáticos que se reflectiam no desenvolvimento da sua
Arquitectura até à chegada dos espanhóis, estendendo-se ao sul do Mexico.
A pirâmide Kukulcán em Chichén-Itza, que se estima ter sido fundada em 450
a.C, constituíu um dos exemplos mais notáveis da civilização Maia, onde pode
ser admirado o extraordinário compromisso entre a composição e o espaço
arquitectónico. Contando com motivos que simbolizam os números utilizados
no calendário solar agrícola e o calendário sagrado, onde cada uma das suas
faces se alinha com os pontos cardeais.
Tal como a grande pirâmide de Gizé, constatou-se a mesma precisão
geométrica, que através do seu alinhamento permitiu observar diversos
fenómenos como é o caso das serpentes esculpidas que guarnecem a
escadaria norte quando se parecem mover, através da luz e da sombra
durante os equinócios da primavera e outono.
09. Templo de Confúcio de Qufu, 478 a.C, Shandong, China, fonte: presentes nesses ambientes, benefícios para o corpo e para a mente.
chinesetimeschool.com, 2012
1.1.2.6 A construção da Razão 12. Fachada do Parténon restaurado por Alexis Paccard,1845-1846, fonte: Paris-Rome-
Athenes, 165, E.N.S.de Belas Artes, Paris, 1983
Após o período mitológico onde Apólo era o Deus da arte, da poesia e música,
sucedeu-se o período pré-socrático, onde se destacaríam a metafísica da
Escola Jónica de Heráclito de Éfeso, a cosmologia pitagórica e a maiêutica
socrática e, por fim, as importantes considerações estéticas de Platão e de
Aristóteles. As suas doutrinas, os avanços da Geometria e os conhecimentos
sobre os fenómenos psicológicos contribuíram decisivamente para a evolução
da Filosofia, Biologia, Antropologia, Psicologia e da própria Arquitectura.
Heráclito, conhecido pelo pai da dialéctica, foi criticado por desprezar a plebe,
muito pela sua personalidade solitária, independente e desprendida de bens
materiais. Fundou a teoria do nomismo dinâmico, onde tudo era movimento
constante e nada permanecia estático.
Platão e Aristóteles tiveram, de facto, uma larga influência nas teorias das
configurações e ideias estéticas da arte e da Arquitectura Ocidental.
Vitrúvio, trata nos seus primeiros sete livros os problemas relacionados com o
aedificatio, apresentando conceitos de Arquitectura ligados à economia social
e política, à importância que a obra tinha como testemunho histórico e
manifestação artística representativa da vida e do homem.
17. Coluna de Trajano, Apolodoro de Damasco, 113 dC, fonte própria, 2005
18. O gráfico pretende representar a existência de um contágio no ciclo na Idade Antiga – Da Emoção à Razão, através do
mundo das sensações e das emoções, entre o meio e o sujeito, entre a expressão e a comunicação.
1.1.3
A ERA DA
RAZÃO
As Sensações e as Emoções na Arquitectura 55
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
1.1.3.1 O Cristianismo
O Cristianismo, proíbido em Roma durante cerca de 300 anos, desde os
tempos de César Augusto (63-14 d.C.), acabou por ser integrado como religião
legal com Constantino (272-337 d.C.) em 330 d.C..
As primeiras manifestações do Cristianismo em Roma deram-se de uma forma
secreta e muito tímida, através da construção da Arquitectura Paleocristã no
final do século III até ao século VI, primeiro com as catacumbas e cemitérios
e só mais tarde com as basílicas. Teve origem no mediterrâneo Oriental e
expandiu rapidamente a sua influência no mundo, tornando-se no século IV a
religião dominante do Império Romano durante a Idade Média. Cristianizando
a maior parte da Europa, uma pequena minoria no oriente médio, norte de
África e algumas partes da Índia.
Assim, mais tarde, a sua filosofia daria o suporte racional que o Cristianismo
necessitava com a substância doutrinária para orientar a educação,
preparando-a estratégicamente para os novos tempos, numa época em que a
cultura helenística havia entrado em decadência e o paganismo continuava
vivo na Europa e nas regiões vizinhas, encontrando assim a melhor forma de
demonstrar aos indecisos que a conversão ao Cristianismo não era
incompatível.
Santo Agostinho desenvolveu o conceito de igreja como a cidade espiritual de
Deus, influenciando determinantemente a visão do homem medieval e, assim,
contribuir também para as primeiras conquistas da Arquitectura cristã.
19. Panteão de Roma, 118-128 d.C., Marco Agripa, fonte própria, 2005
1.1.3.2 O Bizantino
Com a queda do Império Romano Ocidental ocorrido em 476 d.C., as atenções
viraram-se para Bizâncio, cidade da antiga Grécia, fundada em 600 a.C. pelo
rei Bizas, hoje Istambul, foi conquistada em 330 d.C. pelo Imperador
Constantino e passaria a designar-se por Constantinopla.
Pertencente ao Império Romano Oriental, fora fortemente Cristianizada e
embora o Império se encontrasse em declíneo territorial durara mais de 1000
anos, muito graças à mudança do centro do Impêrio pela importância que
Constantinopla entretanto adquirira.
A Arquitectura cortesã e palaciana, associada ao ambiente cosmopolita da
cidade, devido à sua importância política dominante, era muito rica e com a
entrada dos romanos e agora com os novos protótipos da religião cristã dar-
se-ía aqui a oportunidade para os novos desenvolvimentos da Arquitectura
Romana.
Foram os construtores justinianos com os seus contributos baseados nas
experiências da antiguidade aliados a uma ideologia cristã, que se
desenvolveram novas técnicas construtivas arrojadas.
21. Santa Sofia, Istambul, 532-537 d.C. fonte: imagem cedida por Manuel Serra, 2012.
1.1.3.3 O Islamismo
Não podiamos passar do bizantismo para o românico sem referir a passagem
entre o século VIII para o século X. Tempos que serviram de preparação e
estiveram na origem da transição para a Arquitectura Românica, com a
negação gradual da concepção Bizantina. Muito pelo aparecimento do
Islamismo a partir do século VII.
Instituído por Maomé (570-632 dC.), com os ensinamentos do Corão, deu-se
início à expansão Muçulmana, vindo a derrubar o Império de Bizâncio e da
Pérsia, apoderando-se de muitos outros territórios como o Egipto e, mais
tarde, o Norte de África, Secília, Península Ibérica até ao Sul de França.
Assim, contagiaram esses territórios com os contributos das formas
arquitectónicas provenientes da civilização islâmica. Os árabes eram
sobretudo um povo nómada, dividido em várias tribos, residiam nos desertos
e estavam cercados pelos bizantinos a norte e pelos persas a este, e de uma
dessas tribos surgiu Maomé.
Maomé, mercador abastado e conhecido pelo confiável, numa viagem ao
deserto por volta dos quarenta anos transformar-se-ia radicalmente, com a
conexão que estabelecera com o divino, absorvendo a missão de entregar a
mensagem de Deus ao seu povo, criando um código de ética para os
muçulmanos onde todos deveriam submeter-se ao Corão. Diferentemente de
Jesus que é considerado a reencarnação da divindade, Maomé é visto como
um profeta, que dera origem ao Islamismo.
22. A Grande Mesquita de Samarra, 848-852, mandada construír pelo
califa al-Mutawakil, fonte: 131, Islão, Taschen, 2002
1.1.3.4 O Românico
Com a queda do Império Romano, 476 d.C., a igreja Cristã que ocupara o
vazio social e político deixado por esse grande império, viria pelas mãos do
papa Gregório VII (1020-1085 d.C.), a reforçar a crença dos fiéis através da
representação de episódios Bíblicos, forçando o desenvolvimento da arte
europeia, na tentativa de afirmar o poder do papado sobre todos os poderes,
empreendendo um movimento de regulação que visava alargar o seu contágio
a toda a Europa Central. Assim, a Arquitectura Românica que surgiu na
europa no século X, esteve directamente relacionada com a problemática da
Alta Idade Média, resultando da reforma gregoriana, onde a arte se colocaria 25. Monte de Saint Michel, séc. XI, França, fonte própria, 2014
“Como para o cristão toda a criação muda de súbito o seu aspecto, por
ser justamente criado por Deus, não existindo por si só; como todos os
valores terrenos se transformam porque, de absolutos, passam a
relativos, o ambiente natural a artificial que rodeia o homem apresenta-
se assim como um todo contínuo, onde cada forma é parecível e todas
as formas estão unidas entre si e com o homem, que as compreende e
modifica.” Benevolo, 2007, 91
26. Igreja Românica de Rates, séc. XVI, Póvoa de Varzim, Portugal, fonte própria,2015
Formulara, ainda, uma terceira teoria sobre a existência de três almas: a alma
vital, a alma vegetativa e a alma racional, em que as duas primeiras seriam as
responsáveis pela busca do que é belo e tentador, evitando o que era feio e
mau, resultando daqui o processo do desejo e aversão, e, à alma racional,
caberia a função de agir de acordo ou não com a emoção provocada.
No período em que a Arquitectura Românica já tinha amadurecido e que o
Tomismo apelava à necessidade do equilibrio entre o mundo sensível dado
pelos sentidos e o intelectivo dado pela razão. A Arquitectura Cristã começou
a configurar paulatinamente estes conceitos, dando-se a tansição do
Românico para o gótico, com a valorização da luz nas Catedrais.
1.1.3.5 O Gótico 32. Abadia de Saint-Denis, 1140-1345, 33. Catedral de Notre-Dame, 1163-1345
Paris, fonte própria, 2013. Paris,fonte própria, 2013.
O segundo momento da histórica artística medieval dar-se-ia, portanto, com o
aparecimento do gótico em França, que constituíria o amadurecimento
resultante da contribuição Românica, apontando para o estatuto unitário
desejado na cultura arquitectónica europeia. Como de resto, aconteceria com
a Escolática a partir do século XI, chegando a todos os países europeus até à
primeira metade do século XI. O Gótico tornar-se-ía um instrumento poderoso
no seio da sociedade, passando a ter uma nova abordagem no que diz
respeito às sensações de espiritualidade na sua verdadeira escensão.
Os primeiros grandes contributos para que se desse a transição aconteceram
com a construção da Abadia de Saint Denis em Paris em 1140, com a
introdução de elementos que se tornariam característicos da Arquitectura
Gótica, tais como o arco quebrado e o arcobotante. 34. Interior da Abadia de Saint-Denis, 1140- 35. Catedral de Santo Estevão, 1147,
1345, Paris, fonte própria, 2013. Viena, Austria, fonte própria, 2009
O conceito espacial gótico parece pela primeira vez entrar em polêmica com
a escala humana da história eclesiástica cristã pela introdução de um novo
estado de espírito de desequilíbrio e atingira maiores proporções no Gótico
italiano e inglês com as suas diferenciações e contrastes entre as várias
escolas.
Surgia portanto, um novo significado relativamente à escala humana, que
demarcar-se-ia da Arquitectura Românica, não apenas no que diz respeito às
proporções entre o edifício e o homem, mas de ordem causa-efeito, pela
introdução de sensações de desequilíbrio relativamente ao estado de espírito
e afecto do utilizador, relacionada com a dialéctica entre o poder temporal e
espiritual.
A Filosofia Escolástica viria a encontrar neste método dialéctico a forma de 40. Catedral de Milão, Milão, 1386-1813, fonte própria, 1995
desenvolvimento do conhecimento que provassse a verdade da revelação
divina, onde ao Arquitectura Gótica se tornaria o reflexo do pensamento
teológico e filosófico medieval dominante.
O Gótico prolongar-se-ia mais tarde por toda a França, tendo sido depois
exportado pelos construtores e artesãos de forma contagiante, com a
construção de numerosos edifícios religiosos, militares e civis por toda a
Europa, tornando-se a pouco a pouco cada vez mais belo e mais
sensacionalista, como foi o caso do Mosteiro e Santa Maria Vitória em
Portugal, num Gótico tardio com o estilo Manuelino, este exclusivamente
português. Mais tarde voltaria assistir-se por todo o lado variadas reproduções
que se deram através do neo-gótico primeiro no período maneirista como foi
o caso da Catedral de Milão e depois no período historicista. 41. Catedral de São Vito, 1344 Praga, 42. Abadia de Westminster, Londres,
República Checa, fonte própria, 2006 Inglaterra, fonte própria, 2011
43. Palácio Ducal, Veneza, Gótico veneziano, 1309-1424, imagem cedida por Marco Silva 44. Mosteiro da Batalha, 1386-1517, A. Domingues, Portugal, fonte própria, 2010
45.Palácio da Justiça de Rouen, 1499, Gótico tardio, Rouen, França, fonte própria, 2011 46. Catedral de Orleães, 1601-1829, 47.Interior da basílica do M.Jerónimos, 1502,
França, fonte própria, 2011 estilo Manuelino, J. Castilho e D. Boitaca,
Lisboa, Portugal, fonte própria, 2011
48. O gráfico pretende representar a existência de um ciclo de contágio na Idade Média – A Era da Razão, que se deu
através do mundo das sensações e das emoções, entre o meio e o sujeito, entre a expressão e a comunicação.
1.1.4
DA RAZÃO À
EMOÇÃO
As Sensações e as Emoções na Arquitectura 75
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
1.1.4.1 O Renascimento
Filippo Brunelleschi, que começara a sua vida como ourives e, mais tarde,
como Arquitecto e Escultor, entrou para a história da Arquitectura quando fora
escolhido em deterimento do seu rival de sempre Lorenzo Ghiberti (1378-
1455), para continuar a obra da autoria de Arnolfo di Cambio (1240-1310),
com a construção da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiori em Florença.
A Cúpula de Bruneleschi destacar-se-ía pelas suas dimensões, sobre uma
enorme base, que apesar de ser octogonal foi inspirada no modelo do Panteão
de Roma, tornando-se a primeira em estilo Renascentista.
Ficando aqui bem vincada a intencionalidade do Arquitecto em romper com o
Gótico tradicional conseguindo, no seu conjunto, sensações de uma harmonia
espacial de extrema inteligibilidade pela genialidade das suas proporções.
Por influência de Brunelleschi e Donatello, os tratados de Alberti viriam
54.Catedral Santa Maria del Fiori, 1296-1436, Arnoldo Di Cambio,
Francesco Talenti, com a cúpula de Brunelleschi, Florença, fonte representar os fundamentos teóricos, baseados na representação do ideal
própria, 2015
divino, na tentativa de aproximar o ser humano pela harmonia à ordem divina
da criação do Universo. Encontrou na geometria a forma da humanização do
espaço, permitindo que as leis da perspectiva interferissem nas entidades
visuais e garantindo que a beleza do rosto e dos membros ficassem
perfeitamente proporcionados.
Alberti afirmara que a pintura era a primeira das artes pois dispunha do
desenho como base da estruturação perfeita da forma projectada colocando-
se, a partir daqui, mais próximo da Arquitectura.
Sob influência de Vitrúvio, escreveria o seu último tratado artístico De re
aedificatoria, presenteando os seus 10 livros ao Papa Nicolas V (1397-1455)
em 1452, obra essa que teve como referência a arte da Antiguidade.
55.Cúpula da Capela Pazzi, integrada na Igreja da Santa Cruz,
Filippo Brunelleschi, Florença, fonte própria, 2015
63.Castelo de Chenonceaux, 1514-1522, Philibert Delorme França, fonte própria, 2014 64. Castelo de Chantilly,1358-1882, Honoré Daumet, André Le Nôtre,
França fonte própria, 2007
65. Castelo de Chambord, 1519-1547, julga~se ter sido Leonardo da Vinci o responsável pelo desenho inicial e 66. Palácio de Fontainebleau,na França, 1522-1540, fonte própria, 2014
segundo estudos de Domenico da Cartona, França, fonte própria, 2014
Não deixa de ser interessante constatar que foi a partir dos estudos
resultantes das suas preocupações anatómicas, através dos desenhos do
corpo humano, que Leonardo da VInci desenvolvera o seu interesse pela
Arquitectura, reconhecendo a dependência das proporções humanas, muito
provavelmente inspiradas pelos tratados de Vitrúvio e Alberti.
1.1.4.2 O Barroco
O Barroco surge no período da Contra-Reforma iniciada pelo Teólogo
germânico Martinho Lutero (1483-1546), figura central da Reforma
Protestante, que se levantou contra os dogmas do catolicismo romano. Depois
de todas as conhecidas dificuldades de aceitação, viria a ser introduzida pela
igreja católica mais tarde após o Concílio de Trento em 1545, pela
necessidade de se renovar, devido ao avanço das igrejas protestantes,
promovendo assim, novas ordens religiosas e uma nova estética que a
aproximasse ao novo mundo. Depois do Gótico pela introdução de um novo
estado de espírito dinâmico de desequilíbrio com a elevação das sensações
espaciais mas que não passou das directrizes bidimensionais, a passar pelo
Renascimento com a tentativa de aproximar o ser humano, pela via das leis
geométricas, que fomulariam a ideia de harmonia à ordem divina da criação
do Universo como forma de humanização do espaço, dar-se-ía o segundo
momento da passagem da Era da Razão à Emoção com o dinamismo do
Barroco e toda a experiência plástica e volumétrica em movimento.
76. Jardins do Palácio de Versalhes, 1660, André Le Nôtre, Versalhes, 77. Palácio de Versalhes, 1678, Jules Hardouin-Mansart, Versalhes,
França, fonte própria, 2014 França, fonte própria, 2014
78. Vista aérea do Palácio de,Versalhes, 1632, França, fonte própria, 2014
79. Palácio de Versalhes, 1660, Jules Hardouin-Mansart e 80. Palácio de Versalhes, 1678, Orangerie, Jules Hardouin-Mansart, Versalhes,
Charles Brun, Galerie des Glaces, Versalhes, França, fonte França, fonte própria, 2014
própria, 2014
81. Palácio de Versalhes, 1678,, Jules Hardouin-Mansart, Versalhes, França, fonte própria, 2014
85. As ruínas dos mais belos monumentos da Grécia, Julian-David Le Roy, fonte:
sua maior simplicidade.
catalogue.drouot.com, 2012
87. Igreja de S. Carlos Borromeu, 1716-1737, Viena, Johann 88. Interior da Igreja de S. Carlos 89. Igreja de Santissima Trindade, 1701-1733,
Fischer, fonte própria, 2011 Borromeu, 1716-1737, Viena, Johann Viena, Gabriele Montani, Johann Hildebrandt,
Fischer, fonte própria, 2011 fonte própria, 2011
90. Palácio de Schönbrunn, 1638-1643, Viena, Johann Fischer, fonte própria, 2011
Galileu através dum telescópio, fabricado por ele, pode concluir nas suas
observações que a Terra se estava a mover à volta do Sol e com base nisto e
noutras experiências deu consistência ao modelo heliocêntrico proposto por
Copérnico 70 anos antes, demonstrando que a Igreja e os antigos se tinham
enganado, dando o impulso necessário para o novo espírito crítico.
Ressuscitando a visão mecânica sobre a natureza do Universo, insurgindo-se
vários movimentos contra a igreja e assim contribuíndo para a diminuição do
poder escolástico.
A dúvida cartesiana dera início a uma nova Era da ciência na Filosofia pela
introdução de métodos quantitativos mais rigorosos.As investigações de
Descartes permitiram soltar o corpo da alma, numa dualidade entre a
substância corporal, onde o mundo material opera de forma mecânica, e o da
substância pensante, também chamado consciência, do mundo imaterial,
indivisível e, portanto, sagrado do corpo. Segundo Harry Mallgrave, hoje, as
neurociências têm muito a dizer sobre esta dualidade ciêntifíca. Mallgrave, 2011, 28
Para Descartes, a explicação da natureza das emoções residiam nos aspectos
meditativos de nós mesmos, na nossa alma, que intimamente ligada ao nosso
corpo podia gerar diversas reacções como o aceleramento cardíaco, como
quando choramos ou coramos. Defendia que as emoções não podiam ser
controladas na totalidade pelo raciocínio, mas podiam ser reguladas pelo
pensamento verdadeiro.
95. Igreja da Falperra, Séc.XVIII Braga, André Soares, fonte própria, 2012
96. Igreja Dominicana de Santo Estêvão, Churriguera, fonte própria, 2005 97. Catedral de Santiago de Compostela, Estilo Obradoiro, Fernando de Casas y
Novoa, Galiza, fonte própria, 1996
1.1.4.4 O Neoclassico
O final do século XVIII foi marcado por grandes mudanças ao nível político e
social, com as descobertas arqueológicas que forneceram dados novos sobre
o passado. Os arquitectos reagiram a esta realidade, alguns adoptando uma
visão mais classicista e outros mais romântica. A Arquitectura continuada pelo
Palladianismo em França, nos países anglo-saxónicos e um pouco por toda a
Europa passara a denominar-se por neoclassicismo. Constituíu uma reacção
100. Museu Britânico, 1847, Londres, Sir Robert Smirke, fonte própria, 2011
aos excessos do Barroco e do Rococo, procurando a pureza, o equilíbrio e a
simplicidade que se tinham perdido na Arquitectura, demarcando-se pelo
formalismo e linearidade dos edifícios. O Museu Británico, em Londres, ou a
Assembleia Nacional e a Igreja da Madalena em Paris, caracterizaram-se pelo
revivalismo grego, onde a linguagem exterior exprime a função e a história do
edifício, as colunas deixam de ser simplesmente decorativas e passam a ser
integralmente adoptadas estruturalmente no edifício, já nas Galerias Vitor
101. Assembleia Nacional Francesa, Séc XVIII, Paris, fonte própria, 2013 Emanuel II em Milão ainda se sentia a influência do Barroco.
Este período carregado de acontecimentos viu também representados os
feitos vitoriosos das monarquias e dos impérios na Arquitectura. Destacando-
se os notáveis símbolos históricos comemorativos das vitóras de Napoleão
Bonaparte, bem ao estilo imperial romano, designadamente a coluna da Praça
Vendôme que evoca a coluna de Trajano, comemorativa da Vitória de
Napoleão na Aústria, o Arco do Carrosel inspirado no Arco de Constantino
situado no eixo entre o Louvre e o Palácio das Tulherias, culminando no
imponente Arco do Triunfo, ambos ilustrativos das vitórias napoleónicas.
102. Igreja de la Madeleine, 1777, Paris, Contant d’Ivry, fonte própria, 2013
104. A. T. do Carrosel, 1809, Charles Percier e Pierre 105. Galerias Vitor Emanuel II, 1895-1877, Milão, Giuseppe Mengoni, 106. Coluna da P. Vandôme, 1806, Jacques Gondouin
Fontaine, Paris, fonte própria, 2015 fonte própria, 1995 et Jean-Baptiste Lepère, Paris, fonte própria, 2015
1.1.4.5.2 O Pré-romantismo
Podemos constatar a influência que o Iluminismo teve em França com um
movimento cultural de elite de intelectuais conhecidos como Voltaire e
Rosseau, que promoveram os intercâmbios intelectuais necessários, no
espírito da nova ciência, para a reforma da sociedade. Lutando contra os
abusos da igreja e do estado instalando-se, assim, a pressão social pela
procura da igualdade que levou à revolução Francesa dando-se, de seguida,
o período que daria lugar ao romantismo e ao alcance da emoção.
O Filósofo Irlandês Edmund Burke (1729-1797), na altura, parte do Império
Britânico, pôs em causa as ligações entre a revolução e a filosofia de Rosseau
por temer que com o aumento do ateísmo em França se abriria a porta à
tirania. Para Burke, os sentimentos instintivos eram bem mais importantes
para o espírito de coesão social do que propriamente a razão abstrata.
Defendia que a beleza não era o único valor estético, pois o sentimento seria
mais que o belo, que designava por sublime, conceitos que iriam exercer
grande influência em Immanuel Kant.Burke está, por isso, muito ligado ao pré-
romantismo que se assistiu em Inglaterra, primeiro pela influência que exerceu
nos irmãos Robert (1728-1792) e James Adam (1732-1794), Arquitectos que
se destacaram por um tipo de Arquitectura “sentimental”, conhecida pelo
“estilo Adam”, com uso de efeitos e ornamentos novos que tinham como
sentido evocar os sentimentos. Depois, com as diferentes teorias de Uvedale
Price (1747-1829) e Payne Knight (1750-1824) acerca do pitoresco dando-se
aqui também uma importante evolução na arte do paisagismo.
Pascal, 1999,. 45
1.1.4.5.3 O Pré-historicismo
O Filósofo Alemão, Arthur Schopenhauer (1788-1860), em oposição ao
optimismo do seu contemporâneo Hegel, como defensor dos fundamentos de
Kant quanto à forma de ler o mundo através dos nossos cérebros, no entanto,
era muito crítico em relação à terra epistomologica kantiniana, relativamente
ao mundo numenal que estava para além do nosso conhecimento.
Segundo Mallgrave, o fracasso de Kant em recorrer aos novos conhecimentos
fornecidos pela Fisiologia levam Schopenhauer, a argumentar na sua tese de
doutoramento, sobre o processo neurológico do cérebro e as sensações como
forma e significado, que não se tratava da incapacidade de Kant em distinguir
“sensação” da “transformação poderosa” que ocorre durante a percepção,
pois esta função não era apenas dada pelas extremidades dos nossos nervos,
mas de uma estrutura complexa e misteriosa do cérebro.
A visão, por exemplo, não é um simples acto, pois o cérebro inverte a imagem,
cria uma percepção única a partir de uma sensação duplamente experiente,
construi a terceira dimensão, e a eles adiciona a distânciapara completar o
espaço. Mallgrave, 2011, 58
Na sua obra principal “O mundo como vontade e representação”, composta
por quatro livros, publicada em 1818, começa pela teoria do conhecimento,
onde o mundo só é dado à percepção como representação, submetida ao
princípio da razão kantiano com a destinção do mundo fenomenal do mundo
numenal, dado pela Filosofia da natureza, onde o mundo como representação
é a objectividade da vontade submetida ao princípio da razão.
A base racional da moral era uma ilusão e, por isso, descartou a noção de
homem racional. O mundo não é ordem e racionalidade, mas desordem e
irracionalidade, não era portanto Deus e razão, mas sim a vida que actua ao
acaso e que se está dispersar e a transformar num constante devir.
A aproximação de Nietzsche à Filosofia de Schopenhauer através da
“vontade” como essência, muito embora não tenha sido valorizada naquele
período, abriu espaço à sua discussão nos últimos filósofos contemporâneos,
tendo mais tarde, em Heidegger (1889-1976) o seu maior representante.
Friedrich Schinkel (1781-1841), o Arquitecto mais destacado do neo-
classicismo na Alemanha, projectou os mais importantes edifícios da época,
estampando a imagem de Berlim, fortalecida após a vitória sobre Napoleão.
Influenciado pelo seu mestre Friedrich Gilly (1772-1800), pela literatura de
Goethe e pela reformulação do problema da Arquitectura de Schopenhauer,
herdou o gosto pela Antiguidade cássica, pelo neo-gótico e pelo romantismo,
projectando simultaneamente nos três estilos.
Segundo Mallgrave, Schinkel acrescentou uma leitura mais tectónica, além da
“apresentação do ideal”, ele delínea a intencionalidade arquitectónica através
das categorias de “distribuição espacial”, “construção” e a sua simbolização
adequada através do “ornamento”. Contrariamente a Schlegel rejeita a tese
de que a Arquitectura deve continuar a imitar os protótipos encontrados nos
templos gregos. Também foi evidente por volta de 1820, como ele se
familiarizou com as ideias de Schopenhauer, pela interpretação de uma
Arquitectura mais animada e ausente de referências históricas, com a
Friedrich Vischer, deixaria o legado ao seu filho Robert, que com a sua tese
de doutoramento “Sobre o sentimento da forma visual” daria o passo decisivo
para a introdução do conceito Einfühlung, por outras palavras, a introdução ao
sentimento, aquilo que está para além da nossa transposição emocional
quando contemplamos a obra de arte e o tipo de resposta sentimental que se
pode retirar dela, aquilo que se pode traduzir na forma de “empatia”.
Robert Vischer, tal como o seu pai, tentou encontrar a explicação para essa
transposição emocional baseando-se em argumentos fisiológicos e
neurológicos, concluindo que a chave para a experiência através da arte
estava na nossa imaginação, através da qual o artista ou o arquitecto pode
intensificar o nível de empatia, trazendo algo de novo para sujeito utilizador
que passa a espectador neurológico.
A noção de Einfühlung, teve imensa popularidade entre psicólogos e artistas
alemães, mas foi com o Filósofo e Historiador de Arquitectura Heinrich
Wölfflin, em 1886, através da sua tese de doutoramento “Prolegómenos para
uma Psicologia da Arquitectura”, que se abriram perspectivas para a
abstração formal e os caminhos para a modernidade.
Wölfflin (1864-1945) estabelecera uma analogia com a música, na convicção
que a Arquitectura tinha a capacidade de expressão, tal como a música,
através dos sons expressivos, razão pela qual também estabelece uma
relação com o nosso próprio corpo. Esta teoria permitiu superar os discursos
filosóficos de kantianos, neokantianos e as premissas Shopenhauerianas,
originando grandes avanços no conhecimento ao nível da Fisiologia e da
Psicologia, estando agora por isso, muito na actualidade das Neurociências.
Isto tudo, somado à nova Teoria proposta por Friedrich Vicher o conceito de
Einfühlung, apelando à arte e o tipo de resposta sentimental que se pode
retirar dela através da “empatia” da obra, chegaríamos à glória da Emoção na
Arquitectura.
Uma nova corrente de cientistas inspirados por estes conceitos novos
chegariam a avanços de ordem neuropsicofisiológica pela via das sensações
e percepção, concretamente, com a observação dos sentimentos
relativamente aos espaços arquitectónicos, que viriam a ser determinantes no
futuro da Arquitectura.
O conhecimento científico do homem avançou de uma abordagem
intrapsíquica nas mais diversas variantes, a começar pelos aspectos de
natureza biológica e cultural, psicológica e neurológica, emocionais e
racionais, para uma abordagem externa, tendo em conta factores como o
ambiente natural, físico e construído.
O século XIX foi uma época de mudanças revolucionárias. Após a segunda
grande guerra mundial, a Arquitectura conheceu grandes transformações
políticas, sociais e tecnológicas.
Com a revolução industrial e o aparecimento da máquina a vapor,
impulsionada pelo aparecimento do comboio ampliaria toda uma rede de
transportes que interligara a Europa, resultando conexões que levaram aos
grandes avanços da Era Moderna. Motivando, assim, o desenvolvimento dos
conhecimentos científicos, da História e da Arqueologia, que viriam a ser
determinantes para a investigação da arquitectura.
119. Gare d’Orsay (Musée d’Orsay), 1900, Victor Laloux, Reanaud Bardon, Pierre Colbac,
Arquitectura passou a fluir contagiando estilisticamente o meio, surgindo
Jean-Paul Philippon, Gae Alenti, ACT architecture, estilo neobarroco, fonte própria, 2013
edifícios de estilos provenientes de todo o mundo, que levaría ao
aparecimento do movimento eclético na Arquitectura em meados do século
XIX um pouco por toda a Europa.
A visão unificadora, planimétrica e ordenadora para o desenvolvimento de
Paris que já tinha sido uma preocupação constante desde os reinados
absolutistas, com a procura da monumentalidade e afirmação do poder, iria
ter continuidade em Napoleão III (1808-1873) através de Haussmann, com a
criação de grandes artérias, jardins e grandes praças, dotadas de planos
urbanísticos que permitiram explanar toda uma imagem de grandeza e da
dimensão da autoridade.
O Barão George-Eugène Haussmann (1809-1891), nomeado Perfeito do
Sena pelo novo imperador Napoleão III daria, assim, continuidade à expansão
parisiense, cabendo-lhe a responsabilidade da reforma urbana de Paris que
acabaria por transformar Paris na Capital da Europa oitocentista.
120. Hotel de Ville de Paris, 1873,Théodore Balu, Pierre Joseph Eduard
Deperthes, Domenico de Cortona, estilo neorenascentista, fonte própria, 2013
121. Palácio Garnier ou Ópera de Paris, estilo neobarroco, Charles 122. Interior da Igreja de Santa Clotilde, 123. Igreja de Santa Clotilde, 1846, Franz
Garnier, fonte própria, 2013 Franz Christian Gau, Théodore Ballu Christian Gau, Théodore Ballu estilo
estilo neogótico, fonte própria, 2015 neogótico, fonte própria, 2015
124. Basílica de Sacré-Coeur, 1875-1914, neoromânico-bizantino, Paul 125. Bolsa do Comércio, estilo neo-clássico, Henri Blondel,
Abadie, Honoré Daumet, Charles Laisné, Henri Rauline, Lucien Magne, Paris, fonte própria, 2013
Louis- Jean Houlot, fonte própria, 2013
132. O gráfico pretende representar a existência de um ciclo de contágio na Idade Moderna – A Era da Razão à Emoção.
Que se deu através do mundo das sensações e das emoções, entre o meio e o sujeito, entre a expressão e a comunicação.
1.1.5
DA EMOÇÃO À
SENSAÇÃO
As Sensações e as Emoções na Arquitectura 137
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
1.1.5.1 O Modernismo
A base da Arquitectura moderna deu-se assim com os novos métodos que
possibilitaram novas formas de contrução, que recorrendo à sua história deu
origem a um novo conceito de historicismo no final do século XIX, com a
introdução do ferro nos edifícios, mantendo os padrões clássicos. Teve o seu
expoente em Viollet-le-Duc que defendia que o estilo emergiria a partir das
novas técnicas de construção, tornando-se uma figura incontornável no
racionalismo construtivo.
Segundo Gregotti, esta ideia de racionalidade acabou por ver
instrumentalizada as suas técnicas que ficaram condicionadas às pressões
dos fenómenos de urbanismo e com a rentabilidade económica dos edifícios.
133. Torre Eiffel,1887-1900, Paris, Gustave Eiffel,
fonte própria, 2014
140. Lceu Italiano Leonardo da Vinci,1899-1900, Jules 141. Estação de karlsplatz, 1894-1899, Viena, Otto Wagner,fonte 142. Chrysler Building, 1930-31, William van
Laviratte, Paris, fonte própria, 2015 própria, 2011 Alen, Nova Iorque, fonte própria, 2012
1.1.5.1.2 O Funcionalismo
Pouco a pouco os novos materiais iriam assumir clarividência, desde os
edifícios historicistas que foram deixando penetrar no seu interior certas
intervenções em ferro, passando pelas obras-primas da arquitectura,
realizadas na sua generalidade por engenheiros, como foi o caso da Torre
Eiffel, até à Arquitectura do betão que viria a ser desenvolvida por Auguste
Perret.
50. Igreja Saint Joseph, Auguste Perret, Le 50. Interior da igreja Saint Joseph , Auguste Perret, Le Havre,
Havre, fonte própria, 2014 fonte própria, 2014
144. Edificio, 25 bis Rue Franklin, 1902, Auguste & 145. Edifícios de apartamentos resultantes do plano de reconstrução da cidade de Le
Gustave Perret, Paris, fonte própria, 2013 Havre por Auguste Perret, fonte própria, 2014
Já nos Estados Unidos, região rica em matérias-primas e, por isso, uma zona
privilegiada para o desenvolvimento da indústria, a forte imigração proveniente
da Europa de populações em busca do “sonho americano”, provocaria um
aumento populacional exponencial junto aos grandes centros urbanos, como
foi o caso de Chicago.
Em 1871, um incêndio arrasaria, quase por completo, a cidade, tornando
fundamental a reconstrução desta de forma rápida e eficaz. O receio de um
novo desastre natural fez com que Chicago se defendesse com novos
conceitos arquitectónicos, ao nível dos métodos construtivos e das
acessibilidades, originando mudanças radicais do ponto de vista urbanístico
com o plano quadrangular que transformaria a antiga cidade numa grande
área metropolitana em permanente expansão.
A primeira geração desta vanguarda que trabalhou nas primeiras obras após
o incêndio e foi apelidada com o termo “Escola de Chicago”, tendo como
pioneiro o engenheiro e arquitecto William Le Baron Jenney, natural do estado
de Massachusetts que havia sido formado juntamente com o seu colega de
curso Gustave Eiffel em Paris. Le Baron Jenney (1832-1907) está por isso, na
origem desse movimento artístico, uma das primeiras manifestações da
Arquitectura moderna, onde empregara quatro ainda jovens que se tornariam,
mais tarde, grandes referências do panorama da Arquitectura de Chicago,
Louis Sullivan (1856-1924), William Holabird (1854-1923), Daniel Burnham
(1846-1912) e Martin Roche (1853-1927).
Os americanos mais distanciados do conservadorismo europeu absorveram
os conhecimentos arquitectónicos e científicos com todo o distanciamento.
146. Edifício Fuller (Flatiron), 1902, Nova Iorque, Daniel
Burnham, fonte própria, 2012
Walter Gropius que viria ser o fundador da Bauhaus, a ainda famosa escola
alemã de design, artes plásticas e Arquitectura. Decidiu criar um novo estilo
arquitectónico que reflectisse a nova época, não obrigando o uso dos metais
na Arquitectura e no Design, eram apenas sugeridos como forma de
insdustrialização das artes resultando, por isso, objectos em vários metais,
desenhados pelos alunos da escola.
A Bauhaus fez assim, a síntese de movimentos como o Arts & Crafts, Art
Nouveau, a Deutscher Werkbund e o racionalismo dos artistas e intelectuais
europeus como forma de reacção à irracionalidade da 1ª. Guerra Mundial. No
entanto, a influência do seu caráter geométrico recebera-a de movimentos
como o cubismo, o construtivismo, o De Stijl e das teorias da Gestalt.
www.youtube.com, 2012
“Wright afirmava que tinha sido a sua mãe que determinara a sua
profissão, que, enquanto estava grávida, determinou que a
criança iria ser um rapaz, que cresceria para se tornar um grande
arquitecto. Ela educou o filho na sua primeira infância com base
nesta convicção.” Pfeiffer, 2004, p8
Aos catorze anos os seus pais separaram-se. A mãe de Frank estava infeliz
há algum tempo com a inabilidade do marido para sustentar a família e pediu-
lhe que se afastasse, divorciando-se em 1885. William deixou Wisconsin após
161. Walter H. Gale House, 1893, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
o divórcio e Frank nunca mais encontrou o seu pai. Por volta dessa altura, a
sua mãe entendeu que chegara o momento de introduzir outra experiência na
sua educação e decidiu mandar o seu filho trabalhar numa quinta da sua
família, nas proximidades, durante os períodos de verão.
2004, p8
162. Francis J. Woolley House, 1893, 163. George W. Furbeck House, 1897,
Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012 Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
171. Unity Temple, 1905, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012 172. Unity Temple, 1905, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
173. Edward R.Hills/Decaro House, 1906-1977, Frank 174. Willian E. Martin House, 1903, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
Lloyd Wright, fonte própria, 2012
175. Thomas H. Gale House, 1909, Frank Lloyd Wright, fonte 176. Arthur B. Heurtley House, 1902, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
própria, 2012
177. Francisco Terrace, 1977, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012 178. Francisco Terrace, 1977, Frank Lloyd Wright, fonte
própria, 2012
Em 1911, após deixar a sua mulher, Wright começou a construir a sua casa
de verão em Teliesin East, sobre o topo do monte favorito da infância, muito
motivado pelo seu novo relacionamento com ex-mulher de um cliente seu,
Mamah Borthwick, agora com o seu nome de solteira. Mudariam para Teliesin,
após o Natal de 1911.
A sua ligação a Teliesin durou para o resto da sua vida e, com a compra das
terras envolventes, ampliaria a sua propriedade. Nas décadas seguintes a sua
casa passaria a ser um tipo de estúdio experimental, pelas sucessivas
transformações que lhe ia fazendo, convidando artistas a permanecer e a
trabalhar com ele.
Daria início à construção da sua residência de inverno em 1937, migrando
entre as duas todos os anos. Wright acreditava que a mudança trazia
novidade, aperfeiçoamento e novas perspectivas, numa contínua evolução.
Em Taliesin foram projectados alguns dos seus maiores projectos, tais como,
a Fallingwater e o Museu Guggenheim, entre muitas outras, e em 1940, com
a sua terceira esposa, criaram a Frank Lloyd Wright Foundation, que ainda
existe, e que detém os arquivos de Wright.
181,182. Museu Guggenheim, 1956-1959, Frank Lloyd Wright,Nova Iorque, fonte própria, 2012
186. Casa da Cascata ou Casa Edgar J. Kaufmann, 1939,Pensilvania, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
187, 188, 189. Casa da Cascata ou Casa Edgar J. Kaufmann, 1939,Pensilvania, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
Frank Lloyd Wright morre a 9 de Abril de 1959 tendo deixado obras fantásticas
que marcaram e influenciaram gerações por esse mundo fora, escreveu livros,
muitos artigos e foi um orador popular nos Estados Unidos. Wright foi um dos
Arquitectos mais importantes do século XX, tornando-se no principal
representante da Arquitectura orgânica, muito por influência da sua vida de
infância ligado à natureza.
Pode-se afirmar que Wright dedicou à Arquitectura a sua própria vida, pela
sua total entrega à causa, sentindo desde a sua infância uma queda natural
para tal, muito por influência da sua mãe. Wright, teve uma vida repleta de
sucessos profissionais e pessoais, numa caminhada que nem sempre foi fácil,
pelos acontecimentos dramáticos que maracaram a sua vida e a sua própria
personalidade. Frank Lloyd Wright espalhou a sua Arquitectura pelo mundo,
contribuindo muito para a mudança do panorama Arquitectónico mundial.
Designou os seus edifícios como “Arquitectura orgânica”, uma expressão que
foi iniciada pelo seu mestre Louis Sullivan, cuja grande influência não poderia 192. Robie house, 1922, Chicago Ilinois, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
193. Robie house, 1922, Chicago Ilinois, Frank Lloyd Wright, fonte própria, 2012
Frank Lloyd Wright viria influênciar arquitectos em todo o mundo, como foram
os casos de Rudolph Schindler (1887-1953), Richard Neutra (1892-1970) e
Alvar Aalto.
O Arquitecto austríaco Richard Neutra que ainda trabalhara dois anos em
Berlim com o expressionista Erich Mendelsohn, imigrara para os EUA em
1923. Seduzido pela energia do país e pela Arquitectura de Frank Lloyd
Wright, com quem chegara a trabalhar, mudara-se para a Califórnia pouco
tempo depois. Tendo-se decepcionado em parte pela Arquitectura
ornamentada do seu mestre, o que o levaria a mudar-se para trabalhar com
Rudolph Schindler, estabeleceu-se mais tarde por conta própria. Richard
194. Casa Kaufman, 1947, Palm Springs, Califórnia,
Richard Neutra, p57, Taschen, 2004 Neutra que seria convidado a projectar uma casa de saúde para o Dr. Philip
Lovell em Newport Beach, que se destacara pelas suas características do
Estilo Internacional dos anos 30, obteve grande reconhecimento pelas suas
inovações, exercendo uma influência decisiva na sua carreira. As suas
preocupações com o bem-estar psico-fisiológico procuraram nas suas obras
arquitectónicas e escritas, conhecidas pelo chamado “biorrealismo”, a
associação da forma arquitectónica à saúde geral do sistema nervoso.
Segundo Mallgrave, esta visão de Neutra está em parte relacionada com a
publicação do livro sobre a percepção visual do Viennense Friederich Hayek
publicado em 1952, mas também pela curiosa posição idêntica que mantém
com o Psicólogo canadiano Donald O. Hebb, de que a actividade neurológica
do cérebro não pode estar dissociada do ambiente físico em que ela ocorre,
onde Neutra argumenta bastante preocupado, que o Arquitecto que ignora
este facto coloca o futuro da raça humana em perigo. Mallgrave, 2011, p104
195. Casa Kaufman, 1947, Palm Springs, Califórnia,
Richard Neutra, p57, Taschen, 2004
Siza Vieira absorveu muito a partir de Alvar Aalto. A sua própria linguagem,
com forte tradição construtiva portuguesa, onde o brilhantismo como utiliza a
luz, resulta em sensações enérgicas combinadas com o movimento provocado
pelos jogos das sombras, numa espécie de convívio entre a melancolia e
solidão, da utilização das cores neutras e a energia da metafísica, onde impera
a imaterialidade.
200. Boa Nova – Casa de Chã, Leça, 1953, Portugal, Siza Vieira, fonte própria, 2013
Os movimentos nórdicos tiveram, ainda, expressão com Arne Jacobsen
(1902-1971) na Dinamarca, Eliel (1873-1950) e Eero Saarinem (1910-1961)
na Finlândia e Erik Gunnar Asplund (1885-1940) na Suécia. Eero Sararinem,
filho do Arquitecto finlandês Eliel Saarinem, de quem recebera uma grande
influênca, produto do movimento moderno, imigrara para os EUA em 1923.
Segundo Barreiros Duarte no terminal da TWA em Nova Iorque, Eero
Saarinem procurou através da plasticidade do betão expressar a sua visão
arquitectónica, aproximando-se das formas que se têm explorado nos dias de
hoje como a fita de Moëbius e os desdobramentos contínuos. Duarte, 2011, 37
“Cada Era deve criar a sua própria arquitectura a partir da sua
“A ideia dum projecto que altera a realidade dirigindo o própria tecnologia, uma arquitectura que expresse o seu próprio
Zeitgeist, o espírito da época.” Eero Saarinen, citado por Serraino, 2006
pensamento e saber para uma finalidade específica, muda o
seu próprio estatuto interno.…As referências a ideais e
ausências, comprometidas com o pensamento de Nietzsche,
contém um paradoxo. O vazio da ausência constitui a casa
vazia pronta a ser ocupada por um elemento exterior. A
ausência na presença é igual às coisas que são reprimidas,
destruídas ou que estão em falta.” Duarte, 2011, 37
201 e 202. Terminal TWA, Nova Iorque, EUA, Eero Saarinem, fonte própria, 2012
Mies van der Rohe começaria a trabalhar por conta própria em 1912, casando-
se no ano seguinte com Ada Bruhn, filha de um industrial muito rico, o que lhe
possibilitaria um equilíbrio financeiro importante no exercício dos primeiros
anos da profissão.
Conquistou e desenvolveu vários projectos particulares para clientes
abastados durante esse período, terminando o seu trabalho com o
recrutamento para as tropas alemãs na 1ª guerra mundial.
Regressou da guerra em 1918, deparando-se com uma sociedade em
revolução política e cultural, com o aparecimento de várias correntes
filosóficas que fizeram Mies romper com o passado e pensasse numa
Arquitectura do futuro.
“Em 1921 e 1924, Mies desenhou cinco projectos que nunca chegaram
a concretizar-se. A posteridade lembrou-os como os célebres «cinco
projectos». Na verdade, foram estes cinco exercícios conceptuais que o
catapultaram para o topo da hierarquia da avant-garde. O primeiro, um
arranha-céus de vidro para um terreno na Friedrichstrasse, no centro de
Berlim, foi um dos projectos mais radicais de toda a sua carreira. (…)
Mies exigia, em 1923, uma nova atitude em relação à construção,
caracterizada pela «autenticidade absoluta e rejeição de toda a fraude
formal.» Isto, contudo, não significava a adesão ao racionalismo
estrutural como equivalente da verdade construída.” Zimmerman, 2007, 10,11
Mies considerara o período mais significativo da sua carreira, onde se abriram
novos caminhos, distanciando-se do materialismo do ínicio da década, em por
uma postura idealista que o levara a uma nova linguagem arquitectónica. Mais
tarde, Mies atingiria o auge da sua carreira na Alemanha, sendo convidado
para projectar o pavilhão alemão para a Feira Mundial de Barcelona em 1929,
chegando depois, ao cargo de director da Bauhaus, em Dessau, em 1930.
“Em abril de 1932, os nazistas fecharam a Bauhaus. Mies a transferiu,
com financiamento do próprio bolso, para um galpão industrial em
Berlim-Steglitz. Em julho de 1933, ela foi novamente fechada pelos
nazistas, que a consideravam “bolchevismo cultural”.Mies não se
considerava uma pessoa politizada. É interessante seu comentário
sobre um colega que havia trabalhado para os nazistas: ”Não o
desprezo por ser nazista, mas por ser mau arquitecto.” Albuquerque, Dw.de,
2012
207. Ed.Escritórios, Chicago Illinois, Mies van der Rohe, fonte própria, 2012
A década 30 não foi fácil para Mies van der Rohe, atravessando um período
crítico na sua profissão, vivia muito dos rendimentos dos móveis que tinha
projectado. Através do trabalho exposto no Museu da Arte Moderna de Nova
Iorque, exposição intitulada pela “Arquitectura internacional”, tornou-se
conhecido, sendo convidado para fazer o projecto duma casa em 1937, tendo
emigrando para os EUA em 1938.
Quando aceitou o convite para dirigir o Instituto de Tecnologia de Illinois, em
Chicago, foi recebido por Frank Lloyd Wright na sua tomada de posse, este
acusaria-o mais tarde de ter fundado um novo classicismo nos EUA. Mas,
apesar dalgumas polémicas à volta da sua obra, Mies tornou-se numa
celebridade dos EUA pelas inovações que acrescentou à sua Arquitectura.
Mies emigrara para os EUA, na altura em que os ses projecos tinham atingido
a sua maturidade criativa, fazendo uso do aço e do vidro, definindo espaços
austeros, transmitindo elegância e cosmopolitismo, ímpondo uma linguagem
racional que pudesse guiar o processo de projecto arquitectónico.
208. Mesa minimalista, Mies van der Rohe Exposição de
mobiliário, MOMA, , Nova Iorque, fonte própria, 2012
210, 211, 212. Farnsworth House, 1951, Plano, Chicago Illinois, Mies van der Rohe, fonte própria, 2012
216. Apartamentos Lake Shore Drive, Chicago Illinois, Mies van der Rohe, fonte própria, 2012
217. .Crown Hall, Illinois Institute Technology, 1939, Chicago Illinois, Mies van der Rohe, fonte própria, 2012 218. Espaço de contemplação,1995, UNESCO, Paris, Tadao ando, fonte própria,
2013
Com os honorários daqui resultantes, levado pelo entusiamo que sentia e por
uma curiosidade determinada em conquistar novos mundos, aos dezoito anos,
começou um percurso que o levou para Itália, passando por Budapeste e
Viena até Paris, onde ficara a trabalhar durante quinze meses com August
Perret.
220. Residência universitária da CIUP, “Maison du Brésil”, Paris,
fonte própria, 2013
Motivado pelos conhecimentos e pelo fascínio que foi adquirindo através das
sucessivas experiências e viagens, foi crescendo o seu entusiasmo, com
influência decisiva na sua forma de pensar a Arquitectura, vindo a colaborar
activamente com Ozenfant na revista “L’Esprit Nouveau” através de muitos
artigos sobre a arte e Arquitectura, e o primeiro texto Depois do Cubismo
constituiu, escrito no final da 2ª Guerra Mundial, o manifesto da fundação do
purismo.
Em 1922, iniciou com o seu primo Pierre Jeanneret (1896-1967) a luta por uma
Arquitectura que expressasse a sua época e não a reprodução de épocas
passadas, reunindo no seu estúdio vários jovens de muitas nacionalidades, que
viriam tornar-se grandes Arquitectos nos seus países, lançando em 1923 o livro
da sua autoria “Vers une architecture”, com as bases para o movimento moderno
com características funcionalistas.
226, 227, 228. Maison La Roche – Jeanneret, Le Corbusier, Paris, fonte própria, 2013
229, 230, 231, 232, 233. Maison La Roche – Jeanneret, Le Corbusier, Paris, fonte própria, 2013
236, 237, 239, 240, 241. Ville Savoye, Le Corbusier, Poissy, fonte própria, 2013
architecture Vitoria and Albert Museu in London, fonte própria, 2011 242. ”Armé du Salut, Cité de Refuge”, Le Corbusier,
Paris, fonte própria, 2013
Nesta fase da sua vida interessa-se pela escultura rompendo, de certa forma,
com a estética técnica, que ultrapassa a análise dos engenheiros. É neste
período que desenvolve o sistema de ‘proporções’ universal, o “Modulor”,
baseado no número de ouro e na escala humana, dimensionando todos os
seus projectos nessa escala até 1965.
41
1.1.5.2 O Pós-modernismo
Os finais dos anos cinquenta, com as técnicas construtivas cada vez mais
aperfeiçoadas, os edifícios eram construídos com grande durabilidade,
devendo-se muito à força da industrialização e ao grande desenvolvimento
tecnológico. As transformações que se deram na vida das pessoas, de tal
forma tornou a sociedade cada vez mais expectante e consumista, seduzida
pela ânsia de tudo quanto era novidade que era lançada pela teia do poder
económico.
1.1.5.2.1 O High-Tech
A sociedade foi-se transformando com o desenvolvimento tecnológico, a
liberdade e a transformação do conhecimento, certos indivíduos traçaram o
seu próprio caminho sem referências fixas e filosofias tradicionais.
O movimento High-Tech foi uma das correntes da Arquitectura que surgiriam
por volta dos anos sessenta, utilizando-se materiais de tecnologia avançada
nas construções e que se assumiam como elementos arquitectónicos. Surgiu
pela primeira vez através de James Stirling (1926-1992) com o edifício da
Biblioteca da Faculdade de História da Universidade de Cambridge.
Emergindo nos anos setenta como um sub-estilo do movimento pós-
modernista. Surgiria, a partir de um grupo inglês denominado por Archigram,
quando começaram a projectar imagens neofuturistas com influência da era
espacial, inspirados pelas visões poéticas dos metabolistas japoneses,
quando propuseram o desenvolvimento de megaestruturas que fizessem face
à superpopulação japonesa.
261 Hearst Tower, Nova Iorque, Norman Foster, fonte própria, 2012
263. Museu du Quai Branly, 1999-2008, Jean Novel, Paris, ,fonte própria, 2011
264. Metropol Parasol, 2005-2011, Jürgen Mayer-Hermann, Sevila, ,fonte própria, 2011
262. 30 St. Mary Axe, Foste and Partners,fonte própria, 2011 265. Estação do Oriente, Lisboa, Santiago Calatrava, p118, Calatrava, fonte própria,
2012
210 As Sensações e as Emoções na Arquitectura
Capítulo I - O Processo Evolutivo entre a Arquitectura e o Meio
1.1.5.2.2 O Desconstrutivismo
Os Filósofos franceses, Derrida, Foucault (1926-1984) e Deleuze (1925-
1995), a partir da grande revolução popular francesa de Maio de 1968, contra
o capitalismo, puseram em causa as políticas clássicas com novas
concepções, cada um á sua maneira.
Daí que, como refere Consiglieri, o método deleuziano consiste no ser real do
cérebro, com um novo conhecimento do Ser e do pensamento ligado à
natureza, onde as construções dos objectos artisticos têm por base as teorias
da sensação e da emoção psicológicas de sensibilidade transcendental. Onde
a sensibilidade forma a ideia pela conjugação do ser com a estrutura
transcendental e com o tempo. Consiglieri, 2007, p125
270. Pavillion Millennium Park, Chicago Illinois, Frank Ghery, fonte própria, 2012
271. The Beekman Tower, Nova Iorque, Frank Ghery, 272. Fundação Louis Vuitton, Frank Ghery, Paris, fonte própria, 2012 273. The Beekman Tower, Nova Iorque, Frank Ghery, fonte
fonte própria, 2012 própria, 2012
279, 280, 281. Train Station, Chicago Illinois, Rem Koolhaas, fonte
própria, 2012
284. O Fulereno C60, Instalação de Leo Villareal em Madison Square Park, Nova iorque, tema
importante da investigação da Nanotecnologia, fonte própria, 2012
285. O gráfico pretende representar a existência de um ciclo de contágio na Idade Contemporânea, entre o mundo das sensações e das
emoções, entre o meio e o sujeito, entre a expressão e a comunicação.
CAPÍTULO II
Com a necessidade de sobrevivência
do Homem…
2.1
OS PROCESSOS
PSICOLÓGICOS ATRAVÉS
DOS QUAIS O HOMEM
INTERAGE COM O MEIO
Porém, não pretendemos com isto querer encerrar ou muito menos querer
circunscrever este fenómeno evolutivo ao sistema ciclíco de que falamos, pois
estamos certos de todo um processo transversal a todo o conhecimento, a
começar pela complexidade do mundo transcendental, da física quântica a
partir de Albert Einstein (1879-1955) e as suas mais variadas reintrepretações
como a teoria do caos e o sistema fractal ad infinitum ao holomovimento de
David Bohm (1917-1992), onde tudo se interrelaciona.
Interessou-nos, de facto, entender os processos psicológicos através dos
quais o homem interagiu com o meio, onde a Arquitectura desempenhou na
evolução da humanidade um papel determinante, desde do mundo da
representação da realidade e os demais movimentos arquitectónicos, que se
afirmaram num determinado tempo e espaço e permitiram documentar a
história da humanidade, até mais variadas circunstâncias de adaptabilidade,
de ordem social, filosófica, antropológica, política, climatérica e cultural.
Sem querermos levar o assunto às profundezas da Física, interessa apenas
aludir o fenómeno que falamos à termodinâmica, pela troca de matéria e
energia entre sistemas e ambientes, que se foi criando e formando entre o
homem e o meio, gerando um movimento cíclico de acção-reacção, que se foi
289. Evolução da taxa populacional ao longo das Idades
repetindo e diferenciando com a progressão do conhecimento, e assim
desenvolvendo o campo neuropsicofisiológico. Com o aceleramento da
densidade populacional mundial, com os avanços tecnológicos e uma série de
acontecimentos políticos e sociais que marcaram os últimos anos, deram
origem a um mundo de incertezas, em constante mudança, onde a perda da
ideia de lugar foi-se acentuando cada vez mais
Arístoteles (384-322 a.C.), por sua vez, defendia que o espaço era um lugar,
onde residia o limite de cada corpo, no qual o corpo está contido.
Já na Idade Moderna, Descartes (1506-1650) defendia que o espaço era uma
espécie de prolongamento próprio corpo. No entanto, foi a partir das teorias
de Newton e depois com a Teoria da Relatividade de Einstein (1643-1727),
que se deu a verdadeira transformação no mundo do conhecimento. O
pensamento filosófico contemporâneo convertera-se à ciência e o conceito de
espaço deixara de se fazer pela via de preposições imediatas, passando a ser
tão real que estava em toda a parte, no tecido dos cosmos e em tudo o que
sobra, aqui considerado o espaço vazio, alterando-se assim decisivamente
todos os debates filosóficos. Os primeiros ensaios metafísicos ainda muito
cépticos começaram em David Hume (1711-1776), mas foram os conceitos
de Kant (1724-1804) que se apresentaram mais consistentes, onde o espaço
não era dado pela experiência, mas sim pela intuição pura a priori da
sensibilidade dada pela estrutura do espaço-tempo, incluíndo a substância,
onde as coisas surgem pela matéria numa relação de causa efeito. Depois,
Hegel (1770-1831) defendeu um conceito integral entre o espaço e o tempo
onde não se podia dissociar os temas da Filosofia do Espírito, trazendo os
conceitos de Kant sobre a intuição sensível, ou seja, enquanto sujeitos que
nos orientamos de modo a priori no espaço e no tempo, estabelecemos
diferenças qualitativas entre as quatro dimensões de espaço temporais na sua
totalidade e nas suas respectivas direções, tais como, a altura, largura e
profundidade num sistema de coordenadas originariamente orientadas pelo
nosso corpo, onde o futuro é objetivamente diferente do passado.
No entanto, o espaço não era nem nunca será, um elemento que se possa
tocar, mas sim algo que se pode sentir. Só damos conta da sua existência
quando está delimitado, pela própria natureza ou pelas formas
arquitectónicas, comunicando assim com o homem. Foi a partir da teoria
Einfühlung ou teoria da empatia em analogia à simpatia estética que se deu
no período romântico alemão, iniciada por Fredrich (1844-1900) e Vischer
(1847-1933) e mais tarde adoptada por Theodor Lipps (1851-1914), que se
deu a introdução dos sentimentos nas interpretações arquitectónicas,
reconhecida dentro da Filosofia e a fenomenologia do espaço e da percepção.
Teoria que derivou da formalidade kantiana da experiência estética e a sua
relação estreita com o objecto e dos elementos dados pela estética
experimental de ordem psicológica de Gustav Theodor Fechner (1801-1887).
Tornar-se-ía naquilo que o teórico de arte alemão Wilhelm Worringer (1881-
1965) designou por Psicologia do estilo.
A experiência estética resultava do contágio que começava na criação
artística, que num momento do estado de espírito criador, era dado ao nível
da sua intuição mais pura, passando um pouco de si e da sua própria
personalidade para as formas arquitectónicas.
Estas teorias para as quais nós Arquitectos devemos estar familiarizados são
de extrema utilidade, no entanto, certamente que cada caso será um caso.
Na nossa prática, deveremos saber avaliar, tirar as nossas próprias
conclusões e com a sensibilidade que nos é própria retirar os elementos
necessários para a construção do nosso pensamento arquitectónico.
17 de Julho de 2015.
294. Petronas Twin Towers, Malásia, fotografia cedida por Marco silva, 2014
295. Vista para a Torre Donald Trump, Chicago, EUA, fonte própria, 2012
Ao mesmo tempo, também não deixa de ser inquietante a forma como estão
a ocorrer as mais recentes transformações ao nível da matéria e do que esta,
pela sua própria natureza, pode deixar de proporcionar, ao nível sensorial,
algo que tem merecido já algumas preocupações pelos que se interessam
pelas ciências do foro neuropsicofisiológico, no que concerne ao nível da
comunicação entre a obra e o sujeito utilizador.
O desenvolvimento económico é inevitávelmente necessário, tanto pela
agilização e optimização dos meios, como dos recursos naturais, mas a forma
insustentada como tem sido gerido, deixou a sociedade em geral numa
situação muito difícil, influenciando determinantemente a vivência do meio e
deste com o homem, numa teia que parece incontrolável e que deriva de um
sistema em crise que provocou um decréscimo da nossa felicidade e
consequente perda de esperança.
296. Vista noturna da cidade de Nova Iorque, EUA, fonte própria, 2012
297. Vista aérea noturna da cidade de Chicago, EUA, fonte própria, 2012
uma favela menos conflituosa, fazendo nos últimos anos parte do roteiro
turístico da cidade.
Ao longo dos anos, as favelas foram atingindo grande expressão paisagística,
enraizando culturas diferentes e rivalidades entre as comunidades, tornando-
se num dos problemas sociológicos mais preocupantes do Rio de Janeiro.
No caso de Luanda, após a Guerra Civil Angolana, registou nas últimas
décadas um crescimento populacional bastante acentuado, provocando um
aumento de escassez de habitações, problemas de saneamento, tráfego
rodoviário, emprego e o aumento de criminalidade.
Com o final da guerra civil em 2002, Angola tornou-se numa das economias
de maior crescimento e mais atractivas a nível mundial assistindo-se, por isso,
a uma rápida aceleração do sector da construção, onde emergiram
construções dispersas e desordenadas, com falta de regulamentação e
planeamento. No entanto, nos últimos anos, o Governo central tem
evidenciado acções importantes e ambiciosas na reconstrução nacional, com
a reabilitação de estradas, infraestruturas, realçando-se o forte investimento
ao nível da habitação social. Contudo, a complexidade do contexto Angolano
não é fácil e, por isso, deverá merecer uma maior sensibilidade e profundidade
ao nível do planeamento do ordenamento territorial, através da
interdisciplinariedade dos especialistas competentes.
Nós Arquitectos, não podemos ficar alheios aos problemas do mundo, sob
pena de no futuro podermos correr o risco de não sabermos muito bem o que
realmente representamos na sociedade.
301. Vista aérea parcial da cidade de Luanda, Angola, fonte própria, 2009
Estamos certos que têm sido feitos grandes progressos, desde as últimas
teorias aos mais recentes movimentos arquitectónicos de ordem ecológico-
ambiental, que se têm batido e esforçado para essa maior consciencialização.
No entanto, muito gostaríamos com esta dissertação, tornarmo-nos úteis e
deixarmos também o nosso contributo, fazendo apelo a uma maior
sensibilização para os problemas da sociedade, para uma Arquitectura mais
reflexiva. Ou seja, uma Arquitectura de maior responsabilidade ambiental por
aquilo que nos pode acrescentar ao nível sensorial e de maior
responsabilidade social pelo que nos pode trazer ao nível emocional.
Uma Arquitectura voltada para a sua totalidade como essência, que se
aproxime da terra e do homem, que tire pois, o maior partido dos avanços
tecnológicos, das recentes melhorias significativas da gestão dos recursos
naturais, da maior sensibilização ecológica dos últimos anos e se aproxime
mais dos nossos verdadeiros problemas.
Pela nossa história, pela nossa formação, pelo nosso conhecimento e
experiência, alargando o nosso campo de acção, poderemos assumir no
futuro uma papel importante tanto na consciencialização que podemos exercer
ao nível dos poderes de decisão, como na pedagogia do cidadão e da
sociedade em geral para um ambiente mais humanizado e ecológico.
Contributos esses, que poderão ser extremamente úteis na definição das
novas linhas estratégicas da reestruturação necessária, no interesse comum,
de uma maior harmonização e universalização da sociedade. Os tempos são
mais sensíveis.
Cada vez mais é necessário lidar melhor com o nosso espaço, com o nosso
planeta, quase como se tratasse de uma bola de sabão molhada nas nossas
mãos pois, ao mínimo descuido, poderá revelar-se fatal em tão delicado
momento. Acreditamos que muitas das soluções dos problemas estão no que
as coisas contêm dentro de si mesmas, cabendo-nos a nós saber interpretar
e transformar. É por isso urgente, repensarmos a cidade como um todo, como
um sistema complexo, realmente multicultural, onde sejam redefinidas novas
estratégias sob pena dos seus problemas atingirem dimensões incontroláveis.
Senão tivermos essa capacidade de nos reinventarmos, então encontremos
nos bons exemplos que a história nos oferece e aproveitemos tudo que nos
for útil retirar para a construção de novos caminhos.Vejamos por exemplo, o
caso do complexo habitacional da Marina City em Chicago, cujas
preocupações urbanas e de conforto dos seus moradores estiveram de mãos
dadas, nomeadamente quanto à integração de um conjunto de serviços, tais
como, bares, supermercados, equipamentos desportivos e galerias, que
potênciam a experiência comunitária e quanto à incorporação de zonas de
estacionamento ao ar livre integradas no próprio edifício, aliviando o espaço
público.
Segundo Edward T. Hall, Urbanistas e Arquitectos deveriam potenciar
experiências que proporcionassem o alojamento de comunidades inteiras com
serviços integrados, referindo-se ao caso de Marina City como modelo de
espaços integrados, bem definido, sem a intervenção desastrosa de
corredores, isto apesar de considerar as áreas dos apartamentos algo
exíguas. Hall, !986, 201 302. Marina Ctiy Building, 1964, Bertrand Goldberg & associates, Chicago, USA,
fonte própria, 2012
2.2
A UTILIDADE DOS
PROCESSOS
NEUROPSICOFISIOLÓGICOS
NO SUJEITO CRIATIVO
temática com o Professor Harry Francia Mallgrave no Instituto Tecnológico do Illinois, Outrubro de 2012
É caso para dizer que, quanto maior forem as vivências e as experiências dos
artistas, mais fantásticas se tornarão as suas obras.
1968, 291,292
Erikson (1902-1994), tendo iniciado a sua carreira como artista plástico, viria
a tornar-se o psiquiatra responsável pela teoria de desenvolvimento
Psicossocial, em meados do século XX, por influência da filha de Freud
quando o convidou a leccionar em Viena na escola de pacientes submetidos
à psicanálise. Sem negar Freud sobre a teoria psícossexual, criticava o facto,
da psicanálise não tratar as interacções do indivíduo com o meio, privilegiando
apenas os aspectos patológicos e defensivos da personalidade. Para Erikson,
as sociedades criam mecanismos institucionais que originam o
desenvolvimento da personalidade, variando de cultura para cultura,
considerando que o desenvolvimento da personalidade do indivíduo é
constituído por etapas, momentos de opção e integração.
2.2.3.2 A Memória
A memória, pela sua capacidade de adquirir, armazenar e recuperar a
informação que os estímulos do ambiente nos proporcionam, é fundamental
na concretização do nosso pensamento.
Na concepção arquitectónica, em particular, as funções da memória, pela sua
importância na concepção, assumem um papel decisivo no bom desempenho
do Arquitecto.
2.2.3.3 A Consciência
Encontrarmos uma definição para a consciência não parece tarefa fácil, se
tivermos na circunstância a multiciplidade de significados que a própria
palavra nos faz lembrar. É comum utilizarmos o termo quando nos
encontramos em estado de vigilância, reflexão ou concentração, na
focalização do estado da consciência, onde a atenção se torna crucial para o
seu bom desempenho.
asfolhasardem.wordpress.com, 2011
A sociedade actual parece flutuar num certo abismo, sem saber muito bem
para onde caminha, verificando-se um certo adormecimento, quase
hipnotizante, que parece levar as pessoas a refugiarem-se num mundo
presente de ilusões.
2003, 18
Com isto não quisemos desviar da temática afecta à Arquitectura, mas sim
ampliar e apelar à utilidade que estes assuntos devem ter na aproximação de
nós mesmos enquanto Arquitecto às questões do homem, retirando
ensinamentos que possam contrinuir para o nosso exercício profissional e
contribuir para o debate ao nível do panorama geral da Arquitectura, a
começar nas instituições de ensino, nos primeiros passos na construção do
nosso intelecto à descoberta das suas verdadeiras aptidões, na reavaliação
dos actuais métodos de ensino até à nossa conduta e posicionamento no
mundo enquanto Arquitectos.
2.3
A RELAÇÃO QUE O
SUJEITO E O DESENHO
ESTABELECEM NA
ARQUITECTURA
2.3.1.1 A visão
Conta a história do homem que a visão foi o último dos sentidos a ser
desenvolvido, e com o avançar dos tempos, aquele que mais se especializou,
tornando-se o mais preponderante na assimilação de informação do mundo
exterior, através das fibras nervosas que chegam ao cérebro, onde a luz é o
estímulo sensibilizador.
Por outro lado, aquilo que está contido nos vários sentidos, nos grafismos
desse objecto, começa a ser percebido sem que jamais a identidade do
próprio observador seja passiva nesse reconhecimento.
Cada observador transporta consigo a possibilidade de ler esse desenho de
uma maneira única. A sua matriz pessoal permitir-lhe-á sentir e perceber o
objecto de um modo particular e único, como vivência e matriz própria da
percepção. Não se pode pensar que a visão que temos do mundo seja
determinada, exclusivamente pela simples absorção das impressões que o
mundo nos oferece, como se a percepção fosse uma cópia exacta e passiva
daquilo que captamos.
183
É ao desenhar que o arquitecto pode ver o que está a pensar e é pelo desenho
que se equacionam as soluções e é, também, pelo desenho que podemos
tomar consciência das preocupações, dos problemas e das hesitações que
fizeram parte de desenvolvimento do projecto.
Esses aspectos podem-nos elucidar sobre as ideias e os conceitos que
fundamentaram as decisões e os esforços. Sem dúvida, “o desenho” é um
elemento determinante na comunicação da ideia de Arquitectura, sendo o
testemunho das intenções e anseios, e a expressão consciente ou
inconsciente de quem desenha face à realidade objectiva.
Entender o desenho como uma ‘coisa mental’ (a relação entre o que é visto
e o que é desenhado permite a Leonardo da Vinci (1452-1519) afirmar que o
desenho “é uma coisa mental”), parece por si só insuficiente, os movimentos
corporais parecem proclamar o desenho como uma “coisa manual”.
A gestualidade, assim, o justifica, não só como ‘travão’ à velocidade do
pensar, mas sobretudo pela capacidade do gesto surpreender o espírito.
Se o desenho é uma faculdade da mente, esta em si mesma é, apenas,
loucura e esquizofrenia. Pelos movimentos corporais, o desenho adquire
positivismo e constitui-se um meio privilegiado do pensamento.
2.4
OS MATERIAIS NA
CONCEPÇÃO
ARQUITECTÓNICA COMO
VEÍCULO TRANSMISSOR DE
SENSAÇÕES
Existe uma panóplia de estímulos sensoriais que, ainda hoje, são alvo de
estudo das ciências que tratam os assuntos neuropsicofisiológicos, através
das mais diversas teorias e agora, mais do que nunca, nos estudos mais
actuais das Neurociências.
Na circunstância concorrem outros factores de ordem construtiva, tais como a
localização do terreno, o enquadramento e dimensionamento do edifício, a
organização, ergonomia e o conforto dos espaços interiores, bem como a
própria qualidade da construção e eficiência energética do edifício que,
estando presentes desde a concepção à construção, contribuirão,
decisivamente, para o encontro desse caminho, em busca do ideal e todo o
desencadeamento que resulta das suas combinações.
A Arte da construção era vista como um gesto divino primordial para a criação
do mundo, cabendo ao Arquitecto da época o profundo conhecimento nas
áreas da Metafísica, Ontologia, Cosmologia e Ciências Naturais, na expressão
da carga simbólica que estas tinham que ter na Arquitectura.
Sabemos, desta forma, que a nossa percepção visual do espaço vai depender
das características visuais dos materiais, mas também vai estar condicionada
pela presença circunstancial e incerta da luz.
2.4.1.1.1 A Cor
Como a reflexão faz parte da nossa condição humana de seres livres e
pensantes, aproveito o momento para reflectir sobre a maior ou menor
importância que a cor deve ter na Arquitectura.
Se analisarmos o estudo cromático, desde os tempos mais remotos,
verificamos que a cor sempre teve um significado especial, quer pela sua
“ Este jogo de «Yang» e de «Yin», entre artefacto e
simbologia mais diversa consoante as culturas, quer pela física e a sua
natureza, contribui para decidir o material exterior,
betão vermelho, cor oposta ao verde do bosque.” importância na investigação científica na compreensão da sua relação com
Souto de Moura, 2010
a natureza da luz.
Não podemos ignorar o valor que a cor tem no presente do processo criativo
da Arquitectura representativa de uma sociedade atenta à sua
correspondência.
O controlo do maior ou menor equilíbrio na definição e conjugação das cores
na Arquitectura actual adquire-se, como muitas outras, com a aprendizagem
variando, caso a caso, em função da linguagem pretendida.
Não obedecendo a qualquer tipo de formalidade, o que não nos parece mal
se tivermos em linha de conta a nossa identidade enquanto Arquitectos, nas
diferentes maneiras de expressão pela liberdade que nos assiste, desde que
se tenha consciência do respeito dos aspectos culturais e sociais da cor.
Acontece que, por um lado, temos uma nova corrente minimalista, que emerge
a olhos vistos, com uma tendência mais despojada e simples, objectiva e
anónima, porque as construções se pretendem mais lineares, numa
materialidade mais discreta, onde as cores neutras são as mais usadas,
predominando o preto, o branco e o cinza, tornando-a mais fria.
Por outro lado, temos construções mais exuberantes, numa tentativa de
afirmação multicolorida, por vezes até chocante, fora de escala, cansando o
observador comum verificando-se um certo desequilíbrio por oposição, com o
qual não podemos ficar de modo algum alheios.
Nós Arquitectos podemos sempre fazer algo mais ficando mais atentos a uma
questão tão sensível que mexe com as pessoas, no intuito de lhes
proporcionar o melhor “conforto” possível.
A abordagem da cor é tão complexa, apresentando vertentes tão diversas
quanto a inimaginável importância que ela representa no quotidiano da maioria
das pessoas.
A matéria capta os comprimentos de onda que compõem a luz, excepto os
que correspondem à cor que observamos e que são reflectidos. Unicamente
por oposição e por contraste de cores, o olho e o cérebro chegam a
percepções definidas.
A cor surge como um complexo fenómeno de matéria, percepção e memória.
É uma sensação produzida pelo reflexo da luz na matéria e é transmitida pelo
olho ao cérebro. Como sensação, a cor de um material vai depender do
espectro do fluxo de luz que é reflectido ou que passa através dele.
Quando alguém está muito feliz e diz, “Vejo a vida cor-de-rosa!”, está a referir-
se a algo mais que uma frase feita. Por sua vez se alguém está deprimido tem
a sensação de que tudo é opaco e sem brilho e de que a sua vida não tem
estímulos, sendo uma vida cinzenta, onde tudo são alusões às influências que
exerce a cor. “Ver a coisa preta”, “estar vermelho de raiva”, “pôr-se verde de
inveja”, “estar vermelho como um tomate”, são formas de expressar certos
estados de ânimo.As cores quentes têm um efeito estimulante, são alegres,
vitais, activas. Ajudam a criar um clima de unidade bem coordenada e
aumentam o destaque. Geralmente diminuem os espaços por serem positivas,
ou seja, são cores que “avançam”. As cores frias, pelo contrário, produzem
uma acção sedativa em geral, uma impressão de repouso e calma que,
quando empregues sozinhas, transmitem um efeito de pouca intimidade e
tristeza. As cores frias, por serem negativas, aumentam aparentemente os
espaços e produzem uma impressão de maior volume ao espaço.
2.4.1.1.3 Caracterização
Deparamo-nos muitas vezes com objectos que apresentam cores
semelhantes, mas na verdade a grande maioria têm cores diferentes.
Somente através da frequência da luz podemos caracterizar a verdadeira cor
do objecto.
2.4.1.1.4 Padrão
2.4.1.1.5 Transparência
A luz que se reflecte num determinado corpo difunde-se e a outra atravessa,
sofrendo uma reflexão de múltiplas direcções onde parte dela é absorvida pelo
próprio material, aumentando a sua energia.
O grau de transparência dos materiais é a capacidade que estes possuem
para permitir a passagem da luz.
O material é transparente quando permite facilmente a passagem de luz e é
translúcido quando permite a passagem mas de forma mais difusa, resultando
numa imagem irreconhecível. Por sua vez, é opaco, quando bloqueia
completamente a passagem da luz.
A maioria dos vidros é transparente, tal como alguns plásticos. No entanto, o
vidro é um material cujas potencialidades infinitas permitem ser,
simultaneamente, transparente e opaco, devido à sua reacção de reflectir e
refractar a luz.
A conquista da transparência do vidro na Arquitectura influenciou várias
gerações de Arquitectos das diferentes partes do mundo, resultando num
avanço bastante significativo no desenvolvimento tecnológico em matéria de
tratamento do vidro e a sua aplicabilidade na construção, tanto pelas suas
características que se apresentam hoje muito diversificadas, como pela
grande evolução dos acessórios para a sua montagem.
A arquitectura e o vidro são, por si, indissociáveis, quer pela sua natural
importância funcional, quer pelo efeito inter-penetrante que confere na
transição do exterior para o interior.
334. Biblioteca François Miterrand, Dominique Perault, Paris, fonte própria, 2014
O vidro cria uma relação de intimidade com a natureza, a que sem impor
visualmente a sua materialidade, pela sua transparência, transmite sensações
de liberdade e torna o espaço muito mais suave e aprazível.
O vidro enobrece a importância que a luz deve ter nos edifícios, tornando os
interiores mais naturais, introduzindo o movimento pelas sombras que se
desdobram num determinado tempo.
Numa sociedade contemporânea, cada vez mais exigente e atraída para
espaços confortáveis e luminosos, a materialização do vidro tem ainda um
longo percurso pela frente, na busca de soluções diferentes, cada vez mais
ajustadas a esta realidade, de forma que, o processo construtivo se torne mais
atraente ao mercado, uma vez que as boas soluções de vidro comportam,
ainda, um grande esforço financeiro por parte do investidor
A vivência de um espaço é muito mais rica se este for pensado para que o
utilizador o toque, sinta as suas texturas, temperaturas, consistências. A mão
apreende o espaço activamente e como extensão do cérebro e vivência o
espaço interactivamente. Sem esta relação, não estaremos em contacto com
o infinito da matéria ou da realidade, pois para isso terá de haver o toque, o
contacto.
2.4.1.2.1 Textura
É a cor e a textura dos materiais que vai permitir ao arquitecto definir o seu
espaço, onde este tem mais liberdade de escolha.
Podemos perceber visualmente o “frio” do mármore e o “calor” da madeira. No
entanto se o mármore tiver uma cor quente ou uma superfície não polida pode
tornar-se mais confortável; ao mesmo tempo que a cor e/ou o acabamento
dado à madeira podem provocar diferentes sensações.
2.4.1.2.2 Temperatura
2.4.1.2.3 Solidez
337. Estádio AXA, 2002-2004, Eduardo Souto Moura, Braga, fonte própria, 2015
Temos que considerar que tudo é fonte de som, o caminhar num pavimento
de madeira, o encostar na parede, o bater porta, o arrastar da cadeira ou até
mesmo o silêncio, sobre o qual se projecta o som.
Um, pavimentado a alcatifa, um material com boa absorção sonora, vai ser
completamente diferente do outro, revestido a mármore ou pedra. O primeiro
será um espaço confortável onde os ruídos de passos ou vozes são
parcialmente absorvidos pelo material.
Devido ao carácter reflector do mármore, o segundo espaço será
caracterizado pela forte reverberação, onde predominará o eco de qualquer
som. No entanto, o primeiro parecer-nos-á mais pequeno que o segundo.
A reverberação amplifica o poder do espaço, dotando o espaço de um carácter
mais monumental e dramático. Esta característica é mais evidente se o
espaço estiver vazio. A presença de um simples tapete pode retirar ao espaço
este dramatismo acústico, tornando-o mais confortável.
CONCLUSÃO
Conclusão
O homem primordial até ao aparecimento das primeiras civilizações, foi
essencialmente emocional, manifestando interesse sobre o significado da sua
existência, sendo que as questões sobre a mente nunca passaram de crenças
e superstições assentando em ideias de ordem espiritual, entre as coisas boas
e as coisas más do mundo exterior, acreditando que pela via dos rituais e
feitiçarias punham ordem no mundo. Independentemente da cultura, da sua
condição climatérico-geográfica e do tempo em que se deu e quando agiu,
designadamente, quando a materializou através da sua obra, contagiou o
meio com um pouco de si, modificando-o com a sua identidade, numa
reciprocidade cíclica entre o sujeito-meio-expressão-comunicação. Com a
passagem do nomadismo para o sedentarismo, quando começou a sentir
necessidade de comunicar e socializar, potenciou o seu hemisfério racional
pela via dos enigmas do cosmos e do mundo transcendental que deram lugar
ao aparecimento da escrita, da Astronomia, da Matemática e da Geometria.
Contudo, essa proeza não foi tão rápida para todos. Os faraós, dando conta
disso pela via das construções austeras, passaram as sensações de medo e
pavor necessárias para a monopolização dos escravos e de um povo que se
pretendia subserviente. O espírito democrático helenístico que resultou das
trocas comerciais marítimas, a partir dos avanços egípcios que levaram ao
aparecimento da Geometria euclidiana e dos princípios de harmonia orientais,
configuraram as dimensões mensuráveis que melhor serviriam a Arquitectura,
com sensações de harmonia representativas da sua cultura.
O conhecimento desta temática assume uma reflexão tal, que pode ser útil
estender a outras áreas e até a nós próprios, pela utilidade que pode ter no
nosso desenvolvimento intelectual. No caso da Arquitectura, a compreensão
deste processo é, sem dúvida alguma, fundamental para percebermos a sua
história que, através dos seus grandes mestres, os quais realmente a
perceberam, a reeditaram através dos mais variados movimentos da
Arquitectura. A Arquitectura, através da matéria, reproduziu a história da
humanidade percebendo-se a intenção da concretização do pensamento do
seu tempo no espaço que tanto influenciou o homem.
Num momento em que se acentuam incertezas e uma descrença generalizada
entre os Arquitectos, torna-se absolutamente central, encontrar equações que
nos levem a novos caminhos, com a lucidez necessária para encararmos o
presente com serenidade e naturalidade, porque a história nos ensinou a
compreender através dos seus desdobramentos que sempre se deram novos
avanços e novos rumos.
Acreditamos por isso, estar a anunciar-se um novo ciclo e para que esse ciclo
nos traga uma nova esperança, em particular para nós Arquitectos, será
absolutamente necessário abandonarmos o discurso pessimista, caótico e
destrutivo ainda que, por vezes, seja necessário desconstruir para construir.
Esses ciclos que falamos deram-se e a história avançou.
Nós Arquitectos fizemos parte dela e através dos nossos grandes mestres e
demais movimentos demos a nossa contribuição, desde a inovação das
técnicas construtivas às novas teorias arquitectónicas, contaminando o meio
e através da obra as próprias pessoas.
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ANEXOS
Resumen
"Las sensaciones y las emociones en la Arquitectura" son un tema de tal
manera integral, que la investigación más exhaustiva podría llevar a una
verdadera enciclopedia de la arquitectura.
Sin embargo es de particular interés notar la existencia de un fenómeno cíclico
dinâmico-contagioso que se produjo entre el medio y el sujeto, su expresión y
su forma de comunicación durante todo el proceso evolutivo de la arquitectura
que determina la aparición de movimientos arquitectónicos.
Podemos ver a lo largo de la historia de los movimientos de la arquitectura, la
existencia de una especie de divisiones entre el mundo de las sensaciones y
de las emociones a través del proceso creativo, como expresión ideológica de
una clase particular donde formaron los valores éticos y estéticos, y la obra
construida más centrada en el usuario y su interacción con el medio ambiente.
Los movimientos tenían en la filosofía, fundamentos que relacionaron los
problemas de la existencia humana al conocimiento de la verdad de la mente
con el lenguaje, siempre una utilidad vital en todas las otras ciencias, como
fue el caso de la arquitectura, que constituyó la base de muchas ideologías y
movimientos arquitectónicos.
Los grandes maestros de la filosofía que comprendiendo la grandeza del arte
multisensorial en la representación de los valores del hombre, por su contagio,
construyeron valores estéticos representativos de sus doctrinas a lo largo de
su historia. El tema se divide en dos capítulos.
Sin embargo, esta hazaña no fue tan rápida para todo el mundo. Los faraones,
dándose cuenta de esto mismo por medio de los edificios austeros, pasaron
las sensaciones de miedo y terror necesarios para la monopolización de los
esclavos y de un pueblo que se pretendia servil. El espíritu democrático
helenística que resultó del comercio marítimo, a partir de los avances egipcios
que llevaron a la aparición de la Geometría euclidiana y de los princípios de
armonía orientales, han configurado las dimensiones mensurables que sirven
mejor a la arquitectura, con sensaciones de armonía representantivas de su
cultura. A partir de Hipócrates, los griegos buscaron entender cómo funciona
la mente, con preocupaciónes relacionadas con sus principios humanistas,
esencia que inspiraria todo el clasicismo y contribuiria en gran medida a lo
avance del pensamiento en la humanidad. Los romanos que poseían las
técnicas más avanzadas, dándose cuenta de la importancia de los principios
helenísticos alcanzados en la órbita mediterránea, se acercó y los adoptó en
su cultura, minimizando ese espíritu de conquista y arrogancia que siempre
les ha caracterizado.
Absorbiendo conocimientos que serían decisivos en el futuro de la arquitectura
romana, como fue el caso más tarde a través de San Agustín com la aparición
de la arquitectura románica, representante del mundo sensible de Platón y
luego por medio de los tomistas con la mejora de la luz en las catedrales
mediavales que condució a la Arquitectura Gótica, representante del mundo
inteligible de Aristóteles.
Creemos, por tanto, que se conocerá un nuevo ciclo y para que este ciclo nos
traiga nuevas esperanzas, sobre todo para nosotros los arquitectos, será
absolutamente necesario abandonar el discurso pesimista, caótico y
destructivo aunque a veces deconstruir es necesario para construir.
En un contexto arquitectónico dominado por una apatía generalizada, algo
expectante y resignada por el peso escaso que actualmente ejercemos en las
estructuras de toma de decisiones, es el momento de hacer más, tanto en la
conciencia de los valores esenciales de la humanidad, con todas las
preocupaciones ambientales y sociales como mediante la implementación de
acciones que contribuyan a la recuperación de valores, de una mayor
solidaridad y la universalidad para un conjunto verdaderamente planetario.
Como sujetos sensibles a todas estas cuestiones, dotados de sensibilidad y
una creatividad en la cual somos peculiares, bien podría ser el momento de
ponernos al servicio de la humanidad, desmultiplicando y ampliando nuestro
ámbito de actuácion, a través de la interdisciplinariedad, por zonas de
especialización mucho más amplias que las actuales, como las del foro
neuropsicofisiológico, en una línea programática que bien podría pasar por
algún tipo de reestructuración y reorganización de las instituciones que
piensan la arquitectura en la consolidación conjunta de fundamentos que nos
hacen más fuertes y decisivos en los momentos difíciles que tenemos por
delante, por los valores esenciales de la vida.