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APRESENTAÇÃO

A.1. Concepções iniciais

Apenas uma parcela da população mundial tem condições de arcar com


serviços médicos básicos, consultas, exames laboratoriais até mesmo manter
tratamentos profiláticos por longo período de tempo, devido aos altos custos
envolvidos nesses procedimentos (ANS, 2004). Em tese as populações mais
ricas em países desenvolvidos podem contar com atendimento médico de
qualidade, recursos e tecnologia de última geração, aliados no tratamento de
suas enfermidades. Estes não carecem de um sistema de saúde de
qualidade, pois, já o possuem. O contrário acontece em países extremamente
pobres ou em desenvolvimento, aldeias indígenas e tribos, que necessitam de
atendimento médico básico para o tratamento de suas doenças, onde não
possuem um sistema de saúde estruturado, igualitário onde todos tenham
acesso aos recursos disponíveis de maneira satisfatória, deste modo acabam
buscando outras formas de cura para seus males, buscando auxilio com
curandeiros ou xamãs pessoas dotadas de incrível sabedoria sobre ervas e
como prepara-las satisfatoriamente para a cura de determinado mal.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2005), cerca de


80% da população Africana se utilizam da medicina tradicional (MT) ou
medicina complementar (MC) para o tratamento de suas afecções, 40 % de
toda America latina e Ásia continuam utilizando a medicina tradicional em
decorrência de circunstancias histórica e crenças culturais, somente na China
a MT contabiliza um total de 40% de sua atenção básica. Entretanto outros
países a MT/MC vêm se tornando cada vez mais popular, com a parcela maior
da população utilizando de MC pelo menos uma vez na semana 48% na
Austrália e 70% no Canadá (OMS, 2005). Em muitos lugares do mundo os
gastos com a MT/MC só não é tão importante, como também vem crescendo
nos últimos anos, somente na malásia, estima-se que se têm gasto
anualmente US$ 500 milhões de dólares com esse tipo de cuidado com a
saúde. A medicina tradicional ou complementar é uma terminologia muito
ampla utilizada em todo o mundo, não existe apenas uma em si, mas vários
exemplos de medicina tradicional como a Chinesa, Ayurveda hindu, Árabe,
diversas formas de medicina indígena. As terapias incluem medicação a base
de ervas, materiais elaborados com ervas ou preparado a base de ervas,
preparados que contém componentes ativos de plantas ou outras partes de
plantas ou combinações das mesmas. Também podem ser utilizadas parte de
animais e minerais. A MT/MC inclui, entre outras, terapias medicinais como a
Fitoterapia, a Homeopatia, a Acupuntura (MOREIRA et al., 2011).

A.2. Produtos naturais: Visão histórica

Ao longo dos anos, os seres humanos têm contado com as plantas para
suas necessidades mais básicas como alimentação, vestimenta, abrigo e
proteção. Ferramentas construídas a partir de matrizes plantas (folhas,
madeira, fibras) ou partes armazenáveis como (frutas e tubérculos). Plantas
são utilizadas também para fins adicionais como, setas e dardos venenosos
para caça, venenos em assassinatos, como alucinógenos em rituais,
estimulantes para aumento de resistência, no controle da fome e como fonte
de medicamentos (KINGHORN et al., 2008). Essa história se contrasta com a
da própria humanidade, a natureza tem proporcionado muitos benefícios para
humanidade ao longo dos milhares de anos de evolução, incluindo
ferramentas para as primeiras intervenções terapêuticas, restos antigos
encontrados de Neandertais continham vestígios de ervas medicinais,
revelando que os povos antigos utilizavam de plantas também com atividade
terapêutica e conservação de corpos. O Nei Ching é uma das mais antigas
obras de ciências médicas já produzidas e remonta ao trigésimo século a.C.,
alguns dos primeiros registros sobre o uso de produtos naturais foram
gravados em tabuas de argila em escrita cuneiforme na antiga Mesopotâmia
datam de 2600 a.C. (SPAINHOUR, 2005).

Muitos dos conhecimentos referentes às plantas medicinais foram


compartilhados ao longo da evolução humana, nas diferentes partes do globo.
A utilização de produtos naturais, especialmente as plantas para a cura é tão
antiga e universal como a própria medicina. O uso terapêutico de plantas
medicinais remonta certamente para a civilização Suméria 400 anos da era
comum. Os registros apontam que Hipócrates usava cerca de 400 espécies
vegetais para fins medicinais e é considerado por muitos como o pai da
medicina.

Os produtos naturais desempenharam papel importantíssimo no


desenvolvimento do sistema de medicina tradicional, como da dos Chineses,
Ayurveda e egípcia entre outros, esses métodos ainda são utilizados e seus
conhecimentos propagados de geração em geração. Segundo a organização
mundial de saúde (OMS, 2005) 75% das pessoas ainda dependem de
medicamentos tradicionais a bases de plantas para os cuidados primários de
saúde a nível mundial, devido aos mais variados fatores o que contribui
ativamente para o desenvolvimento de políticas serias em relação a MT/MC. A
Tabela 1. mostra um breve resumo da história da medicina natural e suas
contribuições seguindo ordem cronológica.

História da Medicina de Produto Natural

Período Modelo Descrição


Antes 3000 Ayurveda (Conhecimento da vida) Introduziu as propriedades medicinais das plantas e outros

a.C. Medicina tradicional Chinesa produtos naturais

1550 a.C Papiro de Ebers Apresentava uma grande numero bruto de drogas e suas
receitas (e.x., sementes de mamona e goma Arábica)

460-377 a.C. Hipocrates “o pai da medicina” Descrição de diversas plantas e animais que poderiam ser
utilizadas na medicina.

370-287 a.C. Teofrasto Descrição de diversas plantas e animais que poderiam ser
utilizadas na medicina.

23-79 d.C. Plinio, O Velho Descrição de diversas plantas e animais que poderiam ser
utilizadas na medicina.

60-80 d.C. Dioscórides Escreveu De Materia Medica, que descrevia mais de 600
plantas medicinais.

131-200 d.C. Galeno Praticada medicina Galenica muito praticada em sua época.

Século 15 Livro Krauter Apresentava informações e imagens sobre as plantas


medicinais

Tabela 1: Resumo da história da medicina de produto natural (traduzido de


(SAKER et al, 2006).

A.3. Produtos naturais: presente e futuro


A natureza tem sido fonte de agente terapêuticos por milhares de anos, há um
impressionante numero novos medicamentos que foram derivados de fontes
naturais. Mais de 100 drogas consideradas importantes no mundo hoje, que são
utilizadas amplamente em um ou mais países, foram derivadas de pouco menos
de 100 plantas diferentes. Aproximadamente 75 % dessas substâncias foram
descobertas como resultado direto de estudos químicos voltados ao isolamento
de constituintes químicos ativos em plantas amplamente utilizadas na medicina
tradicional (SPAINHOUR, 2005).

Ao longo do último século, grande partes dos medicamentos mais vendidos


foram desenvolvidas através de produtos naturais como exemplo pode citar a
vincristina no Brasil tem como nome comercial Oncovin utilizada no tratamento
da Leucemia desenvolvida através da Vinca rósea, a morfina através da Papaver
Somniferum entre outros medicamentos (SAKER et al, 2006). Também houve um
resurgimento significativo no interesse nos produtos naturais como fonte potencial
de novos medicamentos entre as universidades, e indústrias farmacêuticas.
Aproximadamente 40 % dos medicamentos modernos em uso hoje são derivados
de produtos naturais. 39% das 520 novos compostos identificados e aprovados no
período de 1983-1994 são ou são derivados de plantas, 60-80 % de
anticancerígenos ou antibacterianos são de origens naturais, apenas no ano 2000
60% de novos medicamentos em ensaios clínicos para verificação de
multiplicidade de tipos de câncer tinham origens naturais. Em 2001 dos trinta
medicamentos mais vendidos nos EUA oito deles (Sinvastatina, Pravastatina,
Amoxicilina, Ácido clavulânico, Azitromicina, Ceftriaxona, Ciclosporina, e
Paclitaxel) eram produtos naturais ou seus derivados, juntos a vendas desses
medicamentos totalizam somente nos EUA US$ 20 bilhões de dólares anuais
(SPAINHOUR, 2005).

Apenas uma pequena parte da biodiversidade mundial foi estudada para fins de
constatar alguma bioatividade, estima-se que existam no mundo
aproximadamente 250 mil espécies de plantas superiores, mas apenas 10%
destas já foram estudadas para a identificação de compostos quimicamente ativos
(CALIXTO, 2000). Além disso, novos estudos em plantas previamente estudadas
revelaram a presença de novos compostos ativos com potencial farmacológico,
estes compostos representam ainda fonte valiosa para novos compostos
bioativos. Sabemos que menos se sabe sobre as plantas do que sobre
organismos marinho como exemplo, (SAKER et al 2006).

O Brasil possui a maior biodiversidade vegetal do mundo, estima-se que detenha


em torno 20% da biota de plantas superiores de todo o mundo, esse imenso
patrimônio tem um potencial gigantesco no que tange o descobrimento de novos
compostos quimicamente ativos, tendo valor econômico estratégico e inestimável,
o maior potencial esta no campo de descobrimento de novos fármacos, devido à
quantidade comprovada de medicamentos derivados direta ou indiretamente de
produtos naturais, só em mercados internacionais o impacto desses
medicamentos foram responsáveis por uma receita de US$ 19 bilhões em 2002
(CALIXTO, 2000).

O relativo interesse pelo estudo da biodiversidade e consequente produção


de medicamentos aumentou significativamente com a conclusão do genoma
humano, aumentando assim a quantidade de alvos terapêuticos. Graças aos
produtos naturais, neste caso incluindo também toxinas extraídas de animais,
bactérias, fungos e plantas, cientistas puderam entender como funcionam
fenômenos complexos relacionados à biologia molecular e eletrofisiologia,
permitindo que enzimas, receptores, canais iônicos entre outras estruturas
biológicas fossem identificadas e copiadas. Possibilitando a indústria farmacêutica
desenvolver drogas com maior seletividade e muito mais eficazes contra as
diversas patologias tratadas de maiores complexidade (CALIXTO, 2000).
Também produtos naturais têm sido utilizado como matéria prima na síntese de
moléculas complexas de interesse farmacológico, atualmente as gigantes
farmacêuticas em todo o globo possuem programas de pesquisas ligados aos
produtos naturais, estes programas possuem vantagens e desvantagens, como
vantagens podemos citar: a elevada quantidade de estruturas químicas que
podem ser encontradas, muitas estruturas complexas, classes de estrutura
homologas, estrutura química di e tridimensional e grande possibilidade de
utilização como banco de moléculas par ensaios de velocidade, entre outras
vantagens, as desvantagens relacionadas ao desenvolvimento de novos
medicamentos, estão diretamente ligadas a falta de leis especificas para o
acesso a biodiversidade, a grande complexidade das moléculas sintetizadas e o
tempo necessário para a síntese que pode ser muito grande (SAKER et al 2006).
Como consequências disso os custos envolvidos no processo de
desenvolvimento de novos fármacos tornam-se muito elevados e depende de
tecnologias modernas e sofisticadas, poucos países desenvolvidos dominam as
modernas tecnologias na área de desenvolvimento de novos medicamentos,
tornando o processo um investimento de altíssimo risco, a cada 30 mil compostos
sintetizados apenas oito (0,003%) passam por todas as fases do processo de
obtenção de novos medicamentos (estudos pré-clinicos, fase clinica I, II e III)
conseguem obter um mercado satisfatório (CALIXTO, 2000).

A biodiversidade também é amplamente empregada na produção de


fitomedicamentos, mais conhecidos como fitoterápicos. Medicamentos estes
constituídos de preparações contendo extratos de plantas ou de combinações das
mesmas, esses produtos são amplamente comercializados em países ricos e
pobres. A (OMS, 2005) define fitomedicamento com substancias ativas presente
em determinada planta como um todo, ou em partes especifica da planta, na
forma de extrato total ou processado, os constituintes responsáveis pelo efeito
terapêutico são pouco conhecidos e acredita que a ação benéfica destes produtos
esta ligada a interação de inúmeras moléculas presentes no estrato. Nas ultimas
décadas a indústria de fitofármacos viu um aumento expressivo em seu mercado
mundial atingindo marcas impressionantes de US$ 20 bilhões anuais
(GRUNWALD, 1995). Apenas o mercado brasileiro de fitomedicamentos atingiu
em 2001 cerca US$ 270 milhões correspondendo a 5.9% do mercado brasileiro
de medicamento, maior, portanto que a comercialização de genéricos que foi de
US$ 226 milhões.

Comparado o desenvolvimento de um fitomedicamento e um medicamento


sintetizado os valores para o desenvolvimento de um sintético envolvem vultosas
somas de dinheiro cerca US$ 350 a US$ 800 milhões e demanda anos de
pesquisas em torno de 10 a 15 anos, o desenvolvimento de um fitomedicamento
requer muito menos recursos, e também um tempo de pesquisa relativamente
menor. Com base no amplo conhecimento popular já existente a cerca de muitas
plantas medicinais, estima-se que os custos para o desenvolvimento de um
fitomedicamento não ultrapasse de 2 a 3% o valor previsto para um medicamento
sintético. Este sem duvidas é o desafio para o aproveitamento racional da
biodiversidade brasileira, almejando a produção de medicamentos, como
transformar esse patrimônio natural em riquezas, com indústrias de base e
desenvolvimento de novas tecnologias gerando empregos e qualificando mão de
obra (CALIXTO, 2000).

BIBLIOGRAFIA INICIAL

BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar.


Documentos técnicos de apoio ao fórum de saúde suplementar de 2003/
Ministério da Saúde, Agencia Nacional de Saúde Suplementar; Januario Montone,
Antonio Joaquim Werneck de Castro (organizadores)- Rio de Janeiro:
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004.

CALIXTO, J. B. Biodiversidade como fonte de medicamentos. CIÊNCIA E


CULTURA. V. 55 n. 3, São Paulo, jul/set, 2003.

CALIXTO, J.B.; Efficacy, quality control, marketing and regulatory guidelines for
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MEDICAL AND BIOLOGICAL RESEARCH, V. 33, p.179-189. 2000.

GRUNWALD, J.; The European phytomedicines market: Figures, trends, analysis.


HERBALGRAM. 1995.

KINGHORN, A.D et al.; Drugs discovery from plants. Bioactive Molecules and
Medicinal Plants. Springer, 2008.

MOREIRA, M.; GONÇALVES, R.; Medicina tradicional, complementar e


alternativa no mundo, O processo de regulamentação em Portugal – o caso da
Acupuntura. 2011. 94 f. MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, Porto, 2011.

ORGANIZACION MUNDIA DE LA SALUD. Estrategia de La OMS sobre a


medicina tradicional 2002-2005. Genebra, p.9, 2002.

SAKER, S. D.; LATIF, Z.; GRAY, A. L.; Natural products isolation. 2 Ed. Totowa:
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SPAINHOUR, C.B; Natural products. Drug discovery handbook, 1º Ed. Hoboken:
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