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HOMENS E DEUSES EM “BRASÍLIA”, POEMA DE SOPHIA ANDERSEN

MEN AND GODS IN “BRASILIA”, SOPHIA ANDERSEN’S POEM


HOMBRES Y DEUSES EN “BRASILIA”, POEMA DE SOPHIA ANDERSEN

RESUMO
O objetivo da resenha crítica é mostrar que realidades diferentes podem cumprir
relação harmoniosa no interior dos versos de um poema, como assim é em “Brasília,
poema de Sophia Andersen.
A metodologia musical é a base afirmativa da convivência, no verso, ora de nomes
impares, ora de sintagmas nominais, demonstrando que questões étnicas, políticas e míticas
são interseccionais, ou seja, existe pontilhados que formam uma terceira figura, a partir da
relação entre duas figuras.
Sendo figuras, sintagmas ou apenas nomes impares; a poetisa portuguesa, ao falar de
Brasília e sua construção, promove a dinâmica necessária para a edificação dessa cidade, a
mobilização humana e teórica.
A identidade nacional e humana, de um Brasil em formação, fora elaborada no poema
“Brasília”, sob metodologia das notas musicais, na disputa harmônica de “meios tons”.
Cada verso e cada nota musical estão fundamentando esse poema, como poderemos
conferir.
Palavras-chave: [Humanidade. Literatura. Poesia. Brasília]

ABSTRACT
The objective of critic review is shows that differ realities can keep harmonity relaction
inside on poem’s verses, like Sophia Andersen at “Brasilia”´s poem does.
The musical methodology is the basis to affirm that close contact –on verses, first of
odd names, than of nominal sintagms –means be interceptble for etnics, political and
mithical questions. In other words, dotted forms make a third figure, starting up other two
figures in relaction.
Being figures, syntagms or isolated names, the portuguese poet, talking about Brasilia
and which construction, promote the dinamic necessary to built this city; the human and
teoric mobilization.
The identity of nation and human, by the Brazil in formation, has been elaborated at
“Brasilia”’s põem over musical notes’ methodology, in harmonic dispute of “semitones”.
Such verses and such musical notes, as conffering can, are basing fundamentally that
poem.
Keys-words: [Hamanity. Literature. Poem. Brasilia]

RESUMEN
Lo objetivo de la reseña critica és mostrar que diferentes realidades podem cumplir
relacción, como así es em el poema de Sophia Andersen, “Brasilia”.
La metodologia musical és la base afirmativa de la convivência; em lo verso, oye de
nombres impares, oye de sintagmas nominales, demonstrando que questiones étnicas,
políticas e míticas son interseccionais, o sea dos figuras moteadas a formar uma tercera
figura.
Siendo figuras, sintagmas o solamente nombres impares, la musa portuguesa, al hablar
de Brasilia y su construcción, promove la necessária dinâmica para la edificación de esta
ciudad, la mobilización humana y teórica.
La identidade nacional y humana de uno Brasil em formación fue elaborado em lo
poema “Brasilia” sob metodologia de notas musicales, em la disputa harmônica de
“semitones”. Cada verso e cada nota musical, como podremos comprovar, estan
fundamentando esse poema.
Palabra-llave: [Humanidade. Literatura. Poesia. Brasilia]

INTRODUÇÃO
Discutir a Ecologia e a relação entre homens e deuses no poema Brasília de Sophia
Andresen sugere que a construção da cidade mobilize recursos humanos e ecológicos.
Intentando mostrar o valor poético das relações lógicas –matemática e arquitetônica;
sociais –etnológicas, políticas e as associações ecológicas figuradas na explicitação das
deusas Ártemis e Atenas, busca-se interpretar essa harmonia ao aprendizado basilar da
teoria musical através da qual Sophia Andresen imbui suas imagens.
As imagens e a organização dos versos evidenciam relevâncias semânticas em disputa
no verso, cujo a precisão fá-las complementares. Ou seja, a harmonia em colocar duas
imagens nominais, em quase todos os versos, tem fundamento no unir realidades que
possivelmente já se apresentaram relacionadas. Logo, a ecologia do verso coaduna e
partilha de uma identidade.
BRASÍLIA

Brasília
Desenhada por Lucio Costa Niemayer e Pitágoras
Lógica e lírica
Grega e brasileira
Ecumênica
Propondo aos homens de todas as raças
A essência universal das formas justas

Brasília despojada e lunar como a alma de um poeta muito jovem

Nítida como Babilonia


Esguia como um fuste de palmeira
Sobre a lisa página do planalto
A arquitetura escreveu a sua própria paisagem

O Brasil emergiu do barroco e encontrou o seu número


No centro do reino de Ártemis
- Deusa da natureza inviolada –
No extremo da caminhada dos candangos
No extremo da nostalgia dos candangos
Athena ergueu sua cidade de cimento e vidro
Athena ergueu sua cidade ordenada e clara como um pensamento

E há no arranha-céus uma finura delicada de coqueiros

Sophia de Mello Breiner Andresen


O primeiro verso evoca a capital da República Federativa do Brasil. O texto evoca;
chama por Brasília. Ernst Cassirer em “A palavra mágica” inicia a crítica a partir da
cosmogonia. Sophia vale-se de um recurso semelhante para criar seu mundo poético.
Evoca; não apenas se refere à cidade, tornando-a viva no imaginário dos leitores.
No segundo verso o poema faz menção e homenagem aos responsáveis pela edificação
de Brasília. Os possuidores do conceito primordial: Lúcio Costa, Niemayer e Pitágoras. O
grego Pitágoras é a fonte teórica para as ousadas curvas e ondas geométricas das quais se
vale Oscar Niemayer em sua arquitetura arrojada. Começa-se, assim, a formar o universo
poético de Brasília. O mito da criação. Criação, não do mundo e do surgimento do homem,
mas das ferramentas originadas pelas mãos e ideias humanas.
Em “a palavra mágica”, Ernst deixa claro o processo divinatório que as coisas
construídas pelo homem passam1. Não seria, portanto, absurdo pensar na força de qualquer
criação como advinda do espírito:
“Aqui, como já houve quem acentuasse, concebe-se, milhares de anos antes da era
cristã, Deus como um Ser espiritual, que pensou o mundo antes de criá-lo, e usou a
palavra como meio de expressão e como instrumento de criação”.
(“A palavra mágica”, pág. 65).

DESENVOLVIMENTO
Dois versos remetem ao segundo verso do poema e condensam em bom tom a
importância das figuras homenageadas no verso segundo. A conexão, então, de conceitos
ímpares aparece nos dois versos seguintes:

Lógica e lírica
Grega e brasileira
Importa também a sonoridade das escolhas lexicais. A poetisa consegue com quatro
termos três aliterações:
1. /L/ -lógica –lírica –brasileira.
2. /R/ -lírica –grega –brasileira
3. /velar surda e sonora/ -lógica –lírica –grega.

1
Vide último parágrafo da página 76 do livro Linguagem e Mito.
Com o quinto elemento, no quinto verso. “Ecumênica”. Percebe-se a firmeza das
imagens em Sophia Andresen. A poetisa faz da sua lírica uma razão lógica. Mas, antes de
concentrar energias em favor do quinto verso, uma digressão faz-se inadiável.
Além da importância lógica e lírica de uma razão numeral –o quinto elemento no
quinto verso. Temos a força conclusiva do termo “ecumênico”, imagem que expande ao
universal. De origem grega a palavra ecumenismo tendia a ser encarada como “cultura
aberta”, mais tarde com as conquistas do império romano passou a ser vista como
ampliação cultural e civilizatória. O termo popularizou-se no cunho religioso em que se
prezou a tentativa de unificar as igrejas cristãs que estavam em imenso conflito no começo
do século XX. A partir da Conferência Missionária Mundial –1910; nove anos antes de
Sophia nascer.
Por fim, o quinto verso não se encerra em si mesmo, antes, clarifica-se pelos dois
seguintes versos que conformam a estrofe.
“Propondo aos homens de todas as raças
A essência universal das formas justas

Conclui-se a análise dessa estrofe em razão do ecumenismo que a poetisa enxerga no


projeto arquitetônico de Niemayer, elaborado com princípios sólidos da matemática
universal, conferindo-lhe –essência. Portanto, é capaz de ser respeitado e admirado por
povos de diferentes tradições culturais. A ode tecida por Sophia soa harmoniosamente. A
poeta também usa conceitos da matemática, porém se vale da matemática aplicada à
música.

METODOLOGIA
Nesta estrofe de sete versos, “Brasília” é o fundamento, por isso aparece no primeiro
verso e de forma ímpar. Os três próximos versos são compostos por duas imagens de valor
importante. O tom musical se eleva na quinta estrofe. Os dois últimos versos mantêm o
tom elevado. Já não existe um par semântico de figuras, mas uma unidade plural –todas as
raças // formas justas – e uma “essência universal”.
O intervalo entre as notas musicais é chamado uma “quinta”, o que corresponde a sete
meio tons. Para Pitágoras o número três representava a divindade e o intervalo 3/2 a
perfeição musical. A nota [Lá] é a ressonância fundamental. A harmonia exata à qual todas
as outras se afinam.

Brasília é a nossa freqüência fundamental. Após ela seis figuras são evocadas. Em
ordem:

Figuras:
1. Niemayer, [lá sustenido]
2. Pitágoras, [si]
3. lógica, [dó]
4. lírica, [dó sust.]
5. grega, [ré]
6. brasileira, [ré sust.]

(1) Brasília
(2) Desenhada por Lucio Costa Niemayer e Pitágoras
(3) Lógica e lírica
(4) Grega e brasileira
(5) Ecumênica

Não à toa “Pitágoras” aparece com destaque. A saber, as duas notas musicais que não
possuem um meio tom correspondente é o [si] e o [mi]. Portanto, essa é evidência de que há
na poesia de Sophia Andresen camadas de significação contidas na imagem, mas que estão
para além do “sentido aparente”. Otávio Paz diz em seu texto: “A imagem”.
“Quando percebemos um objeto qualquer, este se nos apresenta como uma pluralidade
de qualidades, sensações e significados. Esta pluralidade se unifica, instantaneamente, no
momento da percepção. O elemento unificador de todo esse conjunto e qualidades e de
formas é o sentido”(Paz, O. pág. 46).

A coincidência da nota inteira [si] cair na figura de Pitágoras é sinal de uma elevação
dessa figura em sentido expressivo. A homenagem do poema não é apenas à Brasília e a seu
famoso arquiteto; como também, ao mestre grego.
A quinta nota recai exatamente no quinto verso: ecumênica -[mi]. De lógica a ecumênica é
uma razão de 5. Os dois versos seguintes fazem das imagens uma interdependência pelo uso
da preposição:
(4) Propondo aos homens de todas as raças
(5) A essência universal das formas justas

(6) Brasília despojada e lunar como a alma de um poeta muito jovem

Por fim, o oitavo verso encerra a imagem sonora com a oitava nota. Partimos do [lá] e o
ciclo se completa novamente [lá], mas aqui; agora, sete tons mais agudos do que o inicial.
Para demonstrar isso Sophia se vale do recurso da disposição espacial do poema. Destaca o
oitavo verso.
A retomada de Brasília ratifica e encerra essa questão dialética com outro meio
expressivo. Pois se há identificação entre as notas [lá], deve haver o mesmo no campo das
palavras:
“Brasília despojada e lunar como a alma de um poeta muito jovem”.

O verso é o ponto clímax desta estrofe. Dois termos ressaltam: Brasília e alma.
Aproximação que penetra na fonte de maior mistério e riqueza da existência humana, a alma.
Se no primeiro verso Sophia evoca Brasília dando-lhe vida, materializando a cidade pelo
poder da palavra, “diz para ver”. Neste oitavo verso confere-lhe comparação à alma.
Mas não é qualquer alma. É a alma de um poeta.
Com isso Andresen encerraria Brasília a um estado sublime, a alma que dedica seu oficio
à confecção do belo. A arte enquanto utilidade. Mas esse poeta ainda é muito jovem; será
então, uma crítica à imaturidade, não apenas da alma do poeta, mas em vias opostas, ao
próprio projeto de Niemayer, por ser incipiente?
DESENVOLVIMENTO – SEGUNDA PARTE
A segunda parte do poema possui metade dos versos contidos na primeira. A referência ao
período clássico ainda é visível. A universalização à qual se atribui a essência da construção
moderna de Brasília emerge. O décimo verso do poema, segundo deste segundo movimento; é
estático. Irresoluto e ereto.
(7) Nítida como Babilônia
(8) Esguia como um fuste de palmeira
(9) Sobre a lisa página do planalto
(10) A arquitetura escreveu a sua própria paisagem

Sophia foi capaz de reunir a relevância do décimo verso de forma a caracterizar essa haste
como palmeira. Árvore mais que consagrada pela literatura nacional. Faz nova alusão ao
mundo clássico com a imagem da coluna grega, assim também fortifica a homenagem à
arquitetura.
Se por diversas vezes as palavras foram capazes de dar vida através da imagem. Nestes
dois versos, que encerra o quarteto central, temos o oposto. O planalto se transforma em
página lisa. Para assim, a “arquitetura escrever sua própria paisagem”.
A consideração que Andresen, no entanto faz, é de uma realidade escrita nas “páginas do
planalto”, o que equivale dizer que na esfera ecológica, a arquitetura conflui e não se
distingue da paisagem natural. A estrofe conclusiva assemelha-se à primeira em número de
verso: oito, sendo o último destacado do poema.
“O Brasil emergiu do barroco e encontrou o seu número”

Três imagens –Brasil, barroco e número. Essa estrofe tende a um diálogo com a primeira.
Emparelha-se as três imagens mais importantes:

Brasília//Brasil; Ecumênico//barroco; Pitágoras//número

A imagem ‘central’ pode fazer jus ao planalto onde Brasília foi projetada. Deusa Ártemis,
uma das muitas filhas de Zeus, bela virgem companheira das ninfas em meio a animais
campestres; guerreira ranger de arco e flecha: condiz com a vegetação campina existente na
região do serrado brasileiro.
Figura pacifica e tida como uma das mais ‘puras’ e casta divindade.
“No centro do reino de Ártemis”
“-Deusa da natureza inviolada-”.

A valorização humana dos dois versos seguintes homenageia os construtores de Brasília;


aparente na figura dos “candangos”, dos migrantes do nordeste brasileiro rumo ao centro-
oeste, traçando uma caminhada pela diagonal geográfica sentido sul. A mudança significativa
entre os dois versos diz respeito à migração –deslocamento físico. E ao sentimento que esse
processo evoca –nostalgia.
Os antepenúltimo e o penúltimo versos também aparecem conectados pela semelhança e
definem a relação entre deuses e homens na contrução de Brasília:
“Atena ergueu sua cidade de cimento e vidro
Atena ergueu sua cidade ordenada e clara como um pensamento”

A mitologia grega oferece dois modos distintos de seguir o caminho da independência,


caminhos personificados pelas virgens Ártemis e Atena. A primeira opta pela natureza
selvagem, a segunda pelo caminho da civilização.
Filha da deusa da sabedoria, Métis; Atena impulsiona o desenvolvimento civil em
proporções justas. Por isso as imagens de “ordem’ e “clareza” e força do “pensamento”,
Sendo filha da sabedoria e tendo se auto gerado a partir a cabeça de Zeus, sua importância
bélica é inquestionável, porém se distancia do meio irmão Ares –deus do furor da guerra. Sua
guerrilha é estratégica, como a edificação de uma cidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O poema é um diálogo perfeito entre homens e deuses, e, entre poesia e música. A
natureza e a construção de uma cidade precisam estar integradas ecologicamente para a
edificação ser sustentável. O recurso humano mobilizado pela migração dos candangos é
vital para o poema e unifica o labor humano. Medidas precisas e “formas justas” fazem que
na paisagem do planalto cultivado surja novas e integradas molduras arquitetônicas. Sendo a
criação humana tão divina quanto a natural.
REFERÊNCIAS:

ANDERSEN, Sophia Brenner “Brasilia” in “Geografia”, ed. Travessa. Rio de Janeiro.


[1967]2014.

CASSIRER, Ernest “A Palavra Mágica” in “Linguagem e Mito” pp. 65-80 Tradução: J.


Guinsburg e Míriam Schnaider-man. Ed. Perspectiva. São Paulo. 1992

PAZ, Octávio “A Imagem” in “Signo em Rotação” pp.37-50. Tradução: S. Uchoa Leite.


Ed. Perspectiva. São Paulo.1971

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