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EMOCIONAL
UNIDADE I
INTELIGÊNCIA E
EMOÇÃO
2021
Ficha Técnica:
Título: Inteligência Emocional- Inteligência e Emoção
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modo nenhum ser interpretada como sendo extensiva à transcrição de textos em recolhas
antológicas ou similares, de onde resulte prejuízo para o interesse pela obra. Os transgressores
são passíveis de procedimento judicial
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 5
CAPÍTULO I – PERSPECTIVAS TEÓRICAS DO CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ............. 7
Objectivos do Capítulo ........................................................................................... 7
1.1. CONTRIBUTO DAS TEORIAS PARA A DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE
INTELIGÊNCIA ......................................................................................................... 8
1.1.1 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL ........................................................ 8
1.1.2. ABORDAGEM COGNITIVA ..................................................................... 12
1.1.3. ABORDAGEM PSICANALÍTICA ............................................................... 13
1.1.4. ABORDAGEM HUMANISTA ................................................................... 16
1.2. INTELIGÊNCIA MENTAL E QUOCIENTE INTELECTUAL ............................... 17
1.3. INTELIGÊNCIA REAL .................................................................................. 17
1.4. DETERMINANTES DA INTELIGÊNCIA ......................................................... 18
CAPÍTULO II – EMOÇÃO ........................................................................................ 20
OBJETIVOS DO CAPÍTULO ..................................................................................... 20
INTRODUÇÃO AO CAPITULO................................................................................. 20
2.1. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ............................................................................ 22
2.1. 1. EMOÇÕES................................................................................................... 24
2.2.2. EVOLUÇÃO DO ESTUDO DAS EMOÇÕES .................................................... 24
2.3. DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS EMOÇÕES .......................................... 27
2.4. TIPOS DE EMOÇÕES: PRIMÁRIAS, SECUNDÁRIA E INSTRUMENTAIS............. 28
2.3.1. EMOÇÕES PRIMÁRIAS ................................................................................ 29
2.3.2. EMOÇÕES SECUNDÁRIAS ........................................................................... 32
2.3.3. EMOÇÕES INSTRUMENTAIS ....................................................................... 32
2.4. A TRADUÇÃO DAS EMOÇÕES NO CORPO HUMANO ..................................... 33
2.5. NEUROPSICOLOGIA DAS EMOÇÕES .............................................................. 33
2.6.A TRADUÇÃO DAS EMOÇÕES NA EXPRESSÃO FACIAL .................................... 35
2.7. O IMPACTO DAS EMOÇÕES NA SAÚDE FÍSICA .............................................. 35
CAPíTULO III- INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ............................................................ 37
CAPÍTULO IV– COGNIÇÃO E EMOÇÃO .................................................................. 39
OBJETIVOS DO CAPÍTULO ..................................................................................... 39
INTRODUÇÃO AO CAPITULO................................................................................. 39
4.1. A RELAÇÃO EMOÇÃO – COGNIÇÃO ............................................................... 39
4.2. A RELAÇÃO EMOÇÃO – ATENÇÃO, MEMÓRIA, APRENDIZAGEM .................. 41
4.3. EMOÇÕES E MOTIVAÇÃO .............................................................................. 42
4.4. EMOÇÕES E PERSONALIDADE ....................................................................... 43
4.5. EMOÇÃO E TEMPERAMENTO/CARÁTER ....................................................... 43
4.6 CHOQUES EMOCIONAIS ................................................................................. 45
4.8 PROCESSO DE REGULAÇÃO DA EMOÇÃO ....................................................... 47
4.9. EMOÇÃO E CULTURA ................................................................................ 50
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO .................................................................................. 51
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO COM PISTAS DE RESOLUÇÃO ................................... 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 54
INTRODUÇÃO
Prezados Estudantes: A disciplina de Inteligência Emocional será ministrada
em 3 unidades. Nesta 1.ª unidade, temos como objectivo abordar os diferentes
conceitos de Inteligência fundamentados pelas principias teorias que o constrói.
De igual forma, será abordado o conceito de emoção demostrando -se os seus
efeitos no sistema cognitivo.
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- No segundo, define-se o conceito de Emoção, descrevendo a evolução que o
mesmo tem sofrido ao longo dos anos. Nesta parte procura-se explicar o
processo de desencadeamento da emoção e seus constituintes, nomeadamente
em termos fisiológicos;
- No terceiro, aborda-se especificamente o conceito de inteligência emocional,
explorando duas das principais propostas teóricas neste âmbito;
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CAPÍTULO I – PERSPECTIVAS TEÓRICAS DO CONCEITO DE
INTELIGÊNCIA
Objectivos do Capítulo
No final deste capítulo, o aluno deverá ser capaz de:
• Compreender a relevância do estudo do conceito de inteligência emocional
no âmbito da actividade profissional em psicologia;
• Conhecer os contributos das principais teorias da aprendizagem na
definição de inteligência;
• Distinguir inteligência mental de inteligência real;
• Conhecer o conceito de inteligência emocional e compreender as
implicações de duas das principais propostas neste âmbito.
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relevância do estudo da inteligência emocional no âmbito da formação de base
em Psicologia prende-se com as necessidades específicas no âmbito desta
profissão, designadamente com a capacidade dos profissionais estabelecerem
relações de qualidade com os seus clientes, baseadas em processos empáticos e
de aceitação incondicional, de gestão das emoções dos outros bem como gestão
das próprias emoções e o auto-conhecimento, fundamental para qualquer
intervenção cujo objectivo seja apoiar os outros nos seus processos de
desenvolvimento pessoal.
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Segundo a teoria do condicionamento clássico, todos os comportamentos são
observáveis e aprendidos. Isto significa que, deste ponto de vista, a
inteligência será a capacidade de estabelecer relações entre estímulos e
respostas – no caso das experiências clássicas de Pavlov, a associação que os
cães faziam entre o tocar da campainha (estímulo) e o aparecimento da comida,
que os fazia salivar (resposta), e que pode ser traduzida na seguinte fórmula: E
→ R (que significa que um determinado estímulo provoca uma resposta
específica). No entanto, não pode assumir-se que animais inferiores como os
canídeos sejam dotados de inteligência, uma vez que esta é uma das
características que distingue o ser humano dos outros animais.
9
numa família com elevado nível intelectual, seria também dotado dessa mesma
característica.
10
Mais tarde, foram acrescentadas outras três áreas da inteligência a este modelo:
• Ética/moral: capacidade de compreender o comportamento
humano numa perspectiva ética/moral;
• Pictográfica: capacidade de ilustrar sentimentos, pensamentos e
ideias através de imagens;
• Política: capacidade para lidar com assuntos relativos a questões
de cidadania, participação, políticas públicas, etc..
Outro autor psicométrico de destaque foi Robert Sternberg, que propôs a teoria
triárquica da inteligência. Sternberg defendia que a abordagem da inteligência
através dos seus conteúdos (verbal, matemática, visual, etc.) era
demasiadamente estreita para compreendê-la, desenvolvendo uma leitura com
base nos processos intelectuais. A sua teoria triárquica inclui três tipos de
inteligência:
• Analítica: capacidade de realizar tarefas de natureza académica,
como aquelas que são classicamente utilizadas nos testes de QI;
• Criativa/sintética: capacidade de enfrentar e gerir situações
novas e inesperadas, através dos conhecimentos anteriores;
• Prática: capacidade de adaptação quotidiana, de tomar decisões
e agir no dia-a-dia.
Esta auto-regulação pode funcionar em dois níveis: local (este estilo observa a
particularidade das situações), ou global (neste estilo há uma visão mais ampla
e abstracta dos problemas). Os focos da auto-regulação podem ser internos
(neste estilo os indivíduos preferem trabalhar de forma independente) ou
externos (preferem trabalhar na base da colaboração com outros). As duas
orientações da auto-regulação podem ser liberal (este tipo de pessoas está
aberto a novas experiências e desafios), ou conservadora (este tipo de
indivíduos prefere ambientes estruturados e previsíveis). O ser humano está
dotado de diferentes estilos, utilizados em diferentes momentos e situações.
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1.1.2. ABORDAGEM COGNITIVA
O biólogo Jean Piaget, por seu turno, foi um dos autores de destaque na
abordagem cognitiva da inteligência através do seu modelo de epistemologia
genética, tendo estudado o desenvolvimento dos processos cognitivos do
pensamento e da inteligência, concluindo que as estruturas cognitivas se
desenvolvem através de processos de assimilação (aquisição de nova
informação), e equilibração (inserção dessa informação nas estruturas
cognitivas, transformando-as), processos estes que, numa sucessão de fases (ou
estádios) progressivamente complexas, determinam a sua transformação,
através da interacção contínua entre o indivíduo e o meio ambiente. Esta
perspectiva introduz na discussão sobre os conceitos de inteligência uma
abordagem construtivista, que pressupõe a individualidade das pessoas na
construção dos sentidos da aprendizagem e compreende também os efeitos do
meio nessa construção. Segundo D’Antoni (2004:6), a metáfora mais interessante
(…) que se encontrou para descrever o processo de aprendizagem humano, segundo
Piaget, é a metáfora do jogo de ténis.
1
Força que a água exerce sobre um determinado corpo quando submerso.
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A psicologia cognitiva tem como objecto fundamental de estudo o
conhecimento dos processos através dos quais o ser humano toma consciência
do mundo, e o seu desenvolvimento relaciona-se profundamente com os
campos da inteligência artificial, o estudo da linguagem e o processamento
de informação. A partir da segunda metade do século XX, a psicologia
cognitiva foi influenciada pelo desenvolvimento informático, nomeadamente
dos computadores, das teorias da comunicação, da teoria geral dos sistemas
e da teoria da informação, contribuindo para a concepção do ser humano
enquanto construtor activo dos seus conhecimentos e da sua experiência,
através dos processos internos de processamento da informação recebida e da
influência que ele próprio exerce sobre o ambiente que o rodeia.
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Na perspectiva desta autora, “[a] inteligência deve ser pensada como adaptação,
como produtora de significações e conexões, porém seu reservatório, sua fonte,
não está nas conexões, mas naquilo que a agita constantemente e a obriga a
ligar e organizar a tensão a que a submete o inconsciente” (Sordi, 2005:342).
Neste sentido, a inteligência é considerada como um processo adaptativo, que
está sujeito às forças inconscientes (pulsões) e que permite a adequação dos
comportamentos, a partir da acção das instâncias pré-consciente e consciente,
que se formam com base na inscrição das normas socialmente aceites nos seus
contextos de vida.
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da boca – “só pode aceitar-se sobre a base de amor que circula entre ambos”
(ibid.). Estas são as renúncias pulsionais primárias, que originam uma fixação
das representações no inconsciente, impedindo que o sujeito procure
compulsivamente a sua satisfação. Mais tarde, o processo secundário permite a
diferenciação dos sistemas psíquicos, permitindo a categorização das
representações num ou noutro sistema.
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1.1.4. ABORDAGEM HUMANISTA
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“Tornar-se pessoa” é, sem dúvida, a obra mais conhecida de Carl Rogers, que o catapultou
como autor na área da psicologia, e acabou por ser lida por milhões de pessoas no mundo.
Nesta obra, Rogers apresenta a perspectiva na qual os indivíduos precisam de relações
interpessoais significativas para que possam resolver os seus problemas psicológicos,
inscrevendo na intervenção psicológica os termos de “empatia” e “consideração positiva
incondicional” (Rogers, 1984).
16
1.2. INTELIGÊNCIA MENTAL E QUOCIENTE INTELECTUAL
17
felizes? Graças à importância atribuída aos resultados dos testes psicológicos,
desde a segunda metade do século XX, que fundamentavam a opinião
generalizada de que esses resultados permitiam aceder ao nível intelectual dos
indivíduos, caracterizando a sua inteligência, descurando deste modo todos os
outros factores que a influenciam.
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dificilmente o indivíduo consegue accionar todas as suas potencialidades
intelectuais. Por exemplo, no caso da atenção, que é um mecanismo
fundamental da inteligência, se a pessoa estiver deprimida ou ansiosa, esta
capacidade pode ficar diminuída, influenciando negativamente a sua prestação
intelectual. Finalmente, nas palavras de Goleman (1995: 65), “a inteligência
emocional é aquela que mais contribui para as qualidades que nos tornam
plenamente humanos”.
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CAPÍTULO II – EMOÇÃO
OBJETIVOS DO CAPÍTULO
INTRODUÇÃO AO CAPITULO
Apesar de as emoções terem sido negligenciadas no passado, actualmente, no
domínio da Psicologia, é consensual que assumem um valor essencial na
compreensão do comportamento e do funcionamento dos seres humanos. Como
se constatou no capítulo anterior desta unidade, a inteligência, como era vista
no passado, enquanto capacidade de integração de conhecimentos e sua
aplicação, não basta para dar resposta às exigências da sociedade e da
humanidade. Para sermos cidadãos activos, felizes e colaborantes a expressão
emocional e relacional adequada toma cada vez mais centralidade nos dias de
hoje.
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e tem inspirado muitos programas de aprendizagem social e emocional em
escolas e no contexto profissional.
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo...
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2.1. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS
Após uma detalhada análise sobre a inteligência no primeiro capítulo desta unidade, para melhor
compreender o constructo inteligência emocional urge compreender o outro conceito que a
compõe – a emoção. Este conceito está muito presente na nossa vida, assim como no nosso
discurso. No quotidiano todos assumem saber o que são emoções sem necessidade de as definir,
já no contexto científico, para ser possível estudar e compreender este constructo é necessário
defini-lo com clareza. Contudo, tal não é tarefa fácil visto este ser um dos constructos mais
difíceis de explicar devido às diversas propostas de definição (Dias, Cruz & Fonseca, 2010).
Mas afinal a que nos referimos quando falamos de emoções? Será àquele friozinho no estômago
no primeiro dia de trabalho? Ou será aquele calor que nos percorre quando alguém injustamente
nos critica? Será antes aquele nó na garganta que sentimos quando nos despedimos de alguém a
quem nunca mais vamos ver? Ou antes aquele conforto que sentimos quando estamos nos braços
de alguém que amamos? Sim, quando falamos de emoções falamos de receio, de raiva, de
saudade, de amor e de muitas outras emoções que já experienciamos, que podemos ter sido
capazes ou não de identificar em nós e nos outros.
Como referido, ainda não existe uma definição consensual, aceite pela generalidade dos
investigadores ou que abranja as conclusões de todos os estudos científicos sobre o tema (Ekman
& Davidson, 1994, citado em Dias, Cruz & Fonseca, 2010). Contudo, de seguida apresentamos
aquelas propostas mais frequentemente reconhecidas e utilizadas.
Fridja (1986) defende que as emoções preparam-nos para a reação a situações que nos
preocupam baseando-se para o feito em avaliações das mesmas, que se expressam na forma de
sentimentos.
Damásio (2001) defende que os conceitos emoção e sentimento não devem ser confundidos.
Preconiza que a emoção representa um conjunto de respostas despoletadas por partes do cérebro
ao corpo e por partes do cérebro entre si. Considera que o resultado final destas respostas
representa o estado emocional, que por seu turno despoleta um complexo estado mental, que é o
sentimento. Já Lane e Nadel (2000) retratam os sentimentos como a experiência privada e
mental das emoções, defendendo que não é possível observar-se os sentimentos dos outros,
sendo no entanto viável observar-se alguns aspetos das emoções que desencadearam os
sentimentos. Damásio (2001) considera que as emoções são mais acessíveis à análise do que os
sentimentos por motivos de serem mais facilmente identificáveis, nomeadamente pelo facto de
muitas das suas respostas serem externalizadas, logo mais facilmente mensuráveis.
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Os resultados das emoções podem ser dois: comportamento, como por exemplo a expressão de
alegria com um grito quando o nosso clube de futebol ganha o campeonato; sentimentos, ou seja
representações cognitivas de estados emocionais, que têm o potencial de alterar os pensamentos
sobre o objeto, assim como de alterar o comportamento futuro face ao mesmo.
Outros autores (Gentilhomem, 2012) distinguem ainda as emoções dos estados de humor,
considerando as primeiras mais curtas e intensas.
O processo emocional envolve inteligência, motivação, impulso para ação, aspetos sociais, de
personalidade, que acompanhados de mudanças fisiológicas, expressam um acontecimento
significativo para o bem-estar subjetivo do sujeito no seu encontro com o ambiente. Os estímulos
às emoções são representações de objetos ou situações, que podem provir do exterior do
organismo, à medida que este interage com o meio, ou ser gerados do interior do próprio
organismo (por exemplo, graças às memórias) (Woyciekoski & Hutz, 2009).
Assim, a emoção é tomada como fortemente determinada pela biologia, mas moldada pela
experiência no contexto sociocultural.
Conforme apresentam Woyciekoski e Hutz (2009), o papel das emoções é central ao marcarem
fatos importantes da nossa vida e simultaneamente influenciarem as nossas reações aos mesmos.
Por outro lado têm um impacto fundamental no bem-estar (físico e mental), assim como nas
relações interpessoais. Assim, há que distinguir, por último, emoções de psicopatologia. Como
se viu, as emoções têm um profundo impacto no bem-estar e equilíbrio psicológico, sendo que
pela mesma razão poderão contribuir para o desenvolvimento de psicopatologias. Note-se que a
psicopatologia é um diagnóstico médico baseado, entre outros fatores, na identificação do padrão
emocional do indivíduo no momento (Lazarus, 1991). Veja-se o caso de um sujeito deprimido,
que apresenta emoções de ansiedade e tristeza.
Para concluir, de acordo com António Damásio (2001) o estudo das emoções é essencial para a
compreensão do ser humano, nomeadamente da sua mente, defendendo que seu estudo não deve
ser negligenciado por diversos motivos, dos quais destaca:
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• A emoção desempenha um papel importante na memória, que é uma das características
dos sistemas vivos e é determinante para a sobrevivência. Considera que é essencial
compreender a emoção para conhecer a memória e vice-versa.
• A emoção desempenha um papel importante no discernimento e na tomada de decisão
(desde as decisões mais simples como escolher um alimento, às decisões mais complexas
como optar por emigrar).
2.1. 1. EMOÇÕES
No âmbito da temática da disciplina Inteligência Emocional este capítulo vai-se focalizar no
constructo emoções. Depois de ter sido explorado o conceito Inteligência será essencial
compreender o conceito Emoção que a este se associa dando lugar ao complexo constructo
Inteligência Emocional.
Na Antiguidade Clássica, de uma forma geral, as emoções eram tidas como “algo
desconcertante” (Dias, Cruz & Fonseca, 2010:4), sendo a alma considerada como o mais
importante. Aristóteles foi o filósofo que mais se debruçou sobre o estudo das emoções nesta
época remota, focalizando-se nas mesmas e definindo-as como um dos domínios importantes da
existência, entre a vida cognitiva e a vida sensorial. Mais tarde, filósofos como Descartes ou
Espinoza também se debruçaram sobre o estudo das emoções.
a) Darwin, conhecido pela sua teoria evolucionista sobre a seleção natural da espécie,
focaliza-se na função das emoções no contexto da evolução pela seleção natural, ou seja,
preconiza que as emoções têm uma função adaptativa que tem permitido ao ser humano
sobreviver e evoluir enquanto espécie.
b) De acordo com a perspetiva de James, as emoções são o sinónimo das alterações
corporais.
c) Para a perspetiva cognitivista o pensamento é a génese das emoções, defendendo que as
emoções são moldadas consoante a avaliação que o sujeito faz do ambiente que o rodeia.
d) Para os construtivistas sociais as emoções são uma construção social, que servem
agendas sociais e só têm uma leitura compreensível caso se analise o contexto em que
surgiram.
e) A Neuropsicologia procura explicar o surgimento das emoções ao nível neurofisiológico
e neuroanatómico.
Perspetiva Ideia principal
Darwinista Funções adaptativas das emoções
Jamesiana Emoções = respostas corporais
Cognitivista As emoções são baseadas em avaliações
Construtivista Social As emoções são construções sociais, que servem objetivos sociais
Neurológica A neurofisiologia e neuroanatomia são o cerne das emoções.
Fig. 1: Cinco perspetivas teóricas da Psicologia sobre as emoções (cf. Cornelius, 1996)
Queirós (1997, citado em Branco, 2004), numa perspetiva cronológica, identifica as seguintes
teorias das emoções, que serão de seguida apresentadas atendendo ao modo como em cada uma
delas se compreende os três níveis de ação das emoções – neurológico, comportamental e
experiencial:
• Neurofisiológicas
• Comportamentais
• Subjetivo-experimentais
• Cognitivas
• Sistémicas
a) Teorias neurofisiológicas
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Estas teorias focalizam-se na ativação neurofisiológica associada às emoções, considerando que
a energia motivacional é ativação, que se materializa em mecanismo fisiológicos. O que todas
estas teorias têm em comum é o pressuposto que há uma componente de ativação neurológica,
um estímulo, que impele o animal ou ser humano para a ação, ligado de alguma forma à
sobrevivência ou ao hedonismo (Branco, 2004). De seguida apresentam-se as propostas dos
principais autores no âmbito deste modelo de compreender as emoções
• James Papez, que identificou o “circuito de Papez”, defende que a emoção não
depende de outros centros cerebrais, apenas deste circuito fechado formado por
estruturas corticais e subcorticais;
• William James defendia que as emoções eram desencadeadas pela perceção de
respostas a nível visceral, glandular e muscular, ou seja: perceção pelo indivíduo →
modificações orgânicas → tomada de consciência → emoções;
• Juntamente com Carl Lange, James formulou em 1884 a Teoria Periférica das
Emoções de James-Lange. Esta teoria pressupõe que a emoção resulta da tomada de
consciência das alterações viscerais periféricas quando desencadeadas pela perceção
do estímulo. Acrescentaram que a cada perceção distinta do estímulo correspondia
uma emoção diferente;
• Paul McLean aborda a emoção na perspetiva neuroquímica e corrobora Papez, na
medida em que atribui ao sistema límbico o protagonismo de integração da
experiência emocional. Este autor defende que as emoções estão intrinsecamente
ligadas aos comportamentos adaptativos.
• António Damásio preconiza uma interrelação entre emoção e razão. Na sua
investigação concluiu que no caso de existir uma lesão nos lóbulos frontais encontra-
se incapacidade de sentir ou exprimir emoções e também se encontram perturbações
ao nível do raciocínio.
b) Teorias comportamentalistas
Estas teorias vêm opor-se às anteriores, focalizando-se nos aspetos objetivos das emoções e no
comportamento expresso e observável. Centraram-se na componente comportamental da
emoção, pondo de parte o seu carácter subjetivo, pelo que foram alvo de diversas críticas que
rotularam estas teorias de reducionistas (Branco, 2004; Forgas, 2000, citado em Dias, Cruz &
Fonseca, 2010).
c) Teorias subjetivo-experienciais
De acordo com Lazarus (1991, citado em Dias, Cruz & Fonseca, 2010) estes modelos teóricos
propuseram simplificações do conceito, acabando por tornar o fenómeno unidimensional, sem
riqueza ou significância.
d) Teorias cognitivistas
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Após o afastamento gradual do positivismo das explicações estímulo-resposta, surgiu o interesse
pelas estruturas e processos mentais que poderiam explicar a forma como reagimos (Lazarus,
1991 citado em Dias, Cruz & Fonseca, 2010).
e) Teorias sistémicas
Ao contrário das teorias anteriores, estas enfatizam o papel das interações humanas, concebendo
a emoção numa perspetiva interativa, logo mais complexa e exaustiva segundo Queirós (1997,
citado em Branco, 2004). Estas teorias defendem que as emoções são “construções sociais
mediadas por normais sociais que interagem com a avaliação do estímulo da organização das
respostas e do controlo do comportamento” (Branco, 2004: 35)
Para concluir esta reflexão acerca da evolução do estudo deste conceito não se poderá deixar de
referir que, paralelamente à Psicologia, esta temática é também alvo de estudo de diversas áreas
do saber, tais como a Biologia, a Sociologia e a Antropologia, o que denota desde logo a sua
complexidade.
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avaliação do estímulo, fortemente dependente do percurso de aprendizagem que o sujeito
realizou no passado.
De acordo com Lazarus (1991), as emoções poderão ser compreendidas tanto pelo seu grau de
intensidade, como pelas suas dimensões ou categorias.
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Existem algumas propostas de diferenciação de tipos de emoções, a saber: primárias,
secundárias e instrumentais. De seguida apresentar-se-ão as propostas de caracterização de
cada um destes tipos de emoções procurando distingui-las entre si.
As emoções primárias são aquelas reações básicas e diretas a um estímulo, não redutíveis a
outras emoções. São vários os autores que defendem a existência de emoções primárias inatas,
porém continuam a debater quais as emoções a incluir neste role (Branco, 2004; Goleman, 1995;
Lazarus, 1991). De seguida apresenta-se a proposta de autores clássicos como Tomkins-Izard
(ver Rodrigues e colegas, 1989), de feição experimentalista, principalmente por se basear numa
metodologia de investigação muito rigorosa. Estes autores defendiam a existência de emoções
primárias, presentes nos seres humanos desde os primeiros dias de vida, independentemente do
fator aprendizagem, ou seja, defendem que existem emoções inatas.
Damásio (1995) corrobora a divisão entre emoções primárias e secundárias. Considera que as
emoções primárias são um conjunto de mecanismos pré-organizados em relação às
características dos estímulos fortemente influenciadas pela ativação da amígdala, área cerebral
que considera o cerne das emoções. Esquematicamente define as emoções primárias conforme a
seguinte sequência:
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Tríade de auto-culpabilização - Emoções de Medo
tonalidade desagradável mas de finalidade
Vergonha
adaptativa em situações negativas
Culpa
Fig. 2: Emoções Primárias (Branco, 2004)
O interesse é considerado a emoção mais básica, sendo também a emoção positiva mais
frequentemente experimentada. É desencadeada perante situações novas ou modificações do
contexto, que provocam a estimulação neuronal promovendo o enfoque da atenção. Esta emoção
é essencial para a aprendizagem e para o desenvolvimento de competências (Branco, 2004;
Rodrigues e colegas, 1989). Damásio (2001) defende ainda a centralidade desta emoção para a
memória do trabalho, ou seja, a memória que nos permite reter e manipular mentalmente a
informação.
Quanto às emoções de expectativa, estas poderão ter uma tonalidade afetiva ligeiramente
agradável ou desagradável. Estas emoções desencadeiam a estimulação neuronal e ativam outras
estruturas neuronais ligadas à cognição e à ação. A surpresa é desencadeada por uma situação
súbita ou inesperada, provocando a estimulação neuronal. De acordo com Rodrigues e colegas
(1989), trata-se mais de uma emoção preparatória e adaptativa, já que o seu papel é mais o de
desencadear outras emoções, pois apenas ativa as funções psíquicas.
A angústia é desencadeada por uma rutura, uma separação no percurso de vida do sujeito, que o
deixe em dúvida relativamente ao que será a continuidade do seu percurso de vida futuro. Veja-
se o exemplo da primeira separação na vida do ser humano – a separação física do recém-
nascido da sua mãe no momento do seu nascimento. Esta emoção é adaptativa na medida em que
prepara o ser humano para o futuro, incitando a agir no sentido de mudar o que não está bem
(Rodrigues e colegas, 1989).
De entre as emoções que constituem a tríade de hostilidade, a cólera é mais intensa e aquela que
mais altera as condições de equilíbrio. Mobilizando muita energia esta emoção assume um papel
fundamental na preparação para a luta e sobrevivência (Rodrigues e colegas, 1989). Goleman
(1995) considera esta a emoção primária mais difícil de gerir.
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Desta tríade, o desprezo é a emoção mais fria, ou seja, aquele que menos perturba a organização
emocional. Trata-se de uma emoção associada à sensação de superioridade, pois ocorre quando o
sujeito subjetivamente perceciona a necessidade de se sentir superior. A sua dimensão adaptativa
justifica-se pelo facto de esta emoção preparar o sujeito para reagir a adversários perigosos (por
exemplo, situações desumanas de crime ou guerra).
Segue-se a tríade da auto-culpabilização da qual faz parte o medo, uma emoção que despoleta
elevada intensidade da estimulação neuronal face à presença (real ou imaginária) de perigo. Esta
emoção tem um cariz adaptativa ao preparar o indivíduo para a mobilização de energia no
sentido da fuga ao perigo, ou seja, mobilização de energia em prol da sobrevivência.
Por último, a emoção de culpa está estreitamente relacionada com a vergonha, mas neste caso
emerge da censura feita pelo próprio aos seus atos que os seus princípios morais desconsideram.
Ao contrário da vergonha, que leva o indivíduo a pensar nos seus atos momentaneamente, a
culpa induz a pensamentos persistentes sobre os erros cometidos. A função adaptativa desta
emoção é a responsabilização da pessoa perante a sociedade (Rodrigues e colegas, 1989).
Goleman (1995) identifica ainda um conjunto de “famílias básicas de emoções” propostas por
alguns autores, ainda que esta proposta esteja longe de gerar unanimidade junto da comunidade
científica.
De acordo com Damásio (1995), as emoções secundárias produzem alterações fisiológicas que
seguem uma estrutura diferenciada das anteriores:
32
2.4. A TRADUÇÃO DAS EMOÇÕES NO CORPO HUMANO
As emoções têm impacto no corpo humano a vários níveis, sendo uma das componentes das
emoções a comportamental. Como veremos nos pontos seguintes, as emoções desencadeiam
diversas reações orgânicas que se traduzem frequentemente na ação direta noutros sistemas
orgânicos e no comportamento humano.
Antes de mais recorde-se que o sistema nervoso se divide entre sistema nervoso central e
sistema nervoso periférico. Este último divide-se em sistema somático e sistema autonómico
(ver esquema seguinte).
33
Fig. 5: Sistema Nervoso Autónomo (Lopes, S. (2002), consultado em
http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso4.asp)
De acordo com Cornelius (1996), o sistema simpático e parassimpático são o “hardware” que
permite a ocorrência de alterações fisiológicas percebidas como uma componente essencial das
emoções.
O cérebro tem um papel fundamental em todo o processo emocional. O cérebro pode receber
feedback do corpo através do sistema visceral aferente, que consiste num conjunto de recetores
nos diferentes órgãos viscerais que enviam impulsos sensórios ao cérebro. Por outro lado o
sistema endócrino liberta hormonas para a corrente sanguínea que produzem efeitos em
determinadas áreas cerebrais.
Tem-se defendido por alguns autores que há áreas no cérebro mais responsáveis pelas emoções
do que outras, sendo unânime que determinadas áreas cerebrais são efetivamente mais ativadas
que outras face a determinada emoção.
Tem sido defendido que no cérebro um dos componentes essenciais no processo emocional é a
amígdala, estrutura presente em ambos os lados do cérebro, dentro do lobo temporal anterior,
aproximadamente atrás das orelhas. Defende-se que a amígdala desempenha um papel muito
importante na interpretação do significado emocional dos estímulos e no controlo da expressão
emocional (LeDoux, 1987, citado em Cornelius, 1996) e também na geração da emoção medo.
34
Juntamente com o hipocampo, a amígdala é responsável pela receção de informação tanto dos
órgãos sensoriais como dos órgãos viscerais. Em conjunto com outras estruturas do sistema
límbico, a amígdala e o hipocampo integram informação sensorial com informações dos órgãos
viscerais, assim como com informação do sistema autonómico de forma a controlar a resposta
emocional no sistema autonómico atribuindo assim um significado afetivo. De acordo com
Filliozat (1997), é neste núcleo que nascem as emoções.
Também o córtex cerebral tem um papel importante nestes processos emocionais, embora não
haja evidência unívocas de que a sua influência seja direta. Certamente que ocorre estimulação
do córtex de associação quando o processo emocional envolve recuperação de memórias (por
exemplo: quando estamos numa conversa com um amigo sobre eventos passados que nos
alegraram) (Cornelius, 1996).
Veja-se o exemplo de como é ativado o sistema nervoso face ao despoletar de uma emoção (ver
Goleman, 1995):
35
emoções. Outro psicólogo, Felten, descobriu ainda que as emoções têm um efeito poderoso sobre
o sistema nervoso autónomo (por exemplo, controlando a pressão sanguínea ou a quantidade de
insulina que é produzida). Por outro lado, também as hormonas produzidas por estimulação das
emoções, por exemplo, em situações de stress, vão ter um forte efeito no sistema imunológico,
podendo este ver a sua ação prejudicada (por exemplo, a ansiedade poderá levar ao
enfraquecimento do sistema imunitário).
Apesar destas descobertas científicas, grande parte dos médicos continua a não valorizar o papel
das emoções na sua prática clínica.
36
CAPíTULO III- INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
O seu conceito de inteligência emocional inclui três grandes dimensões: avaliação e expressão
da emoção; regulação da emoção; e utilização da emoção. Destas, são ainda listadas quatro
competências: planeamento flexível; pensamento criativo; atenção redireccionada; e
motivação. Estes autores afirmaram que a capacidade de compreender as emoções implica
compreender também que alguns sentimentos negativos podem ser encarados pelas pessoas
como uma etapa em função de um objectivo “maior” (como por exemplo, fazer parte de uma
equipa de voluntários em campos de refugiados – a angústia, receio, tristeza, podem ser vistos
pelo indivíduo como sacrifícios necessários por um bem maior).
Outro dos autores que promoveu o desenvolvimento do conceito de Inteligência Emocional foi
Daniel Goleman (1997:19), segundo quem “o lugar do sentimento na vida mental sempre foi
surpreendentemente descurado pela investigação ao longo dos anos; as emoções foram durante
muito tempo um continente largamente inexplorado pela psicologia científica”. No entanto, a
emoção tem sido um tema profundamente estudado ao longo dos últimos anos do século XX e
no século XXI, aliados sobretudo às novas tecnologias que permitem a visualização do cérebro
em acção. Os dados neurobiológicos disponibilizados por estas novas tecnologias vêm dar novos
entendimentos aos significados e aos mecanismos que estão por trás das lágrimas, das alegrias,
das fúrias e dos êxtases humanos, acrescentando conhecimento ao funcionamento do complexo
sistema cerebral e neuronal que condiciona o comportamento humano.
37
• Utilização das emoções para se auto-motivar: a capacidade de usar as emoções
em função de objectivos é importante para o desenvolvimento das competências e
da criatividade, contribuindo para um elevado desempenho em diferentes
dimensões;
• Reconhecimento das emoções dos outros: esta componente relaciona-se com a
empatia, que é uma capacidade fundamental nas relações sociais, estando na base
do altruísmo, sendo extremamente importante no âmbito das actividades sociais
(educação, assistência social, psicologia, etc.);
• Gestão das relações: a gestão das relações implica a gestão das emoções dos
outros, e está subjacente à liderança e eficácia interpessoal.
Nas palavras de Daniel Goleman (1995: 50), num certo sentido, possuímos dois cérebros, duas
mentes, e dois tipos diferentes de inteligência: racional e emocional. Como nos portamos na vida é
determinado por ambas – não é só o QI, mas também a inteligência emocional, que conta. O intelecto não
pode funcionar no seu melhor sem a inteligência emocional. (…) O velho paradigma postulava um ideal
da razão livre dos constrangimentos da emoção. O novo paradigma incita-nos a harmonizar a cabeça e o
coração. Para melhor o fazer temos primeiro de compreender mais exactamente o que significa usar
inteligentemente a emoção.
A importância do estudo da inteligência emocional no âmbito da psicologia decorre do seu
próprio objecto de estudo, que é o comportamento humano. Neste sentido, a compreensão das
relações entre cognição e emoções é um dos aspectos considerados mais importantes no estudo
da inteligência emocional, isto é, perceber de que forma as emoções influenciam (e/ou são
influenciadas por) os pensamentos, a aprendizagem e o comportamento. Do ponto de vista dos
profissionais de psicologia, o estudo das emoções reveste-se de uma grande relevância, na
medida em que estes são os profissionais da relação, ou seja, é com base na qualidade das
relações que estabelecem com os seus interlocutores que a sua intervenção pode ser significativa.
Assim, compreende-se que o auto-conhecimento, o (re) conhecimento das diferentes emoções
em si próprio e nos outros, a capacidade de gerir essas emoções, capitalizando-as em função do
desenvolvimento pessoal do outro, sejam relevantes no âmbito da acção profissional não apenas
dos psicólogos, mas de qualquer agente que desenvolva a sua actividade com o objectivo de
apoiar o desenvolvimento pessoal dos indivíduos.
38
CAPÍTULO IV– COGNIÇÃO E EMOÇÃO
OBJETIVOS DO CAPÍTULO
No final deste capítulo, o aluno deverá ser capaz de:
INTRODUÇÃO AO CAPITULO
De acordo com vários autores os processos da emoção e dos sentimentos estão intrinsecamente
relacionados com a razão. Estes fenómenos intersetam-se numa mesma integração neuronal,
bioquímica e endócrina por controlos homeostáticos, impulsos e instintos (Branco, 2004). De
acordo com Damásio (1995), pensamos com o corpo e com as emoções, pois o processo de
raciocínio passa pelo corpo.
Ao longo deste capítulo apresentar-se-ão diversos fatores que sustentam a relação que existe
entre as emoções e a cognição, desde o impacto que a cognição tem nas emoções e também o
efeito destas ao nível da cognição.
Para Mayer e colegas (2011), as emoções enquadram-se nas principais classes de operações
mentais, das quais se inclui a motivação, a cognição e a consciência. Enquanto as motivações
básicas respondem diretamente aos estados corporais (por exemplo: fome), sendo responsáveis
por direcionar o organismo para operações básicas no sentido da sobrevivência, as emoções
denotam uma certa evolução do ser humano por se adaptarem às mudanças nas relações dos
39
seres humanos com o seu meio ambiente (por exemplo: sentimentos angústia face à perceção de
incapacidade de resolver um problema). Já a cognição permite ao organismo aprender graças ao
ambiente, ganhando a capacidade de resolução de problemas novos. Em suma, estes autores
defendem que a inteligência emocional se encontra no cruzamento entre as emoções e a
cognição.
Outros autores (ver Lane & Nadel, 2000) defendem que a emoção é o resultado da avaliação da
forma como os nossos objetivos estão a ser concretizados em interação com o contexto, para a
qual os processos cognitivos são fulcrais.
Defende-se ainda que existe uma relação direta entre o nível de desenvolvimento cognitivo e a
capacidade de simbolizar ou nomear emoções (Engelberg & Sjöberg, 2005; Izard, 2001, citados
em Milhomem, 2012) e que “um maior desenvolvimento cognitivo irá permitir experienciar
emoções mais complexas, sendo estas referenciadas como auto-conscientes, na medida em que
requerem um self consciente enquanto ator cujo comportamento tem o potencial para
influenciar os sentimentos, pensamentos e ações dos outros” (Milhomem, 2012: 8).
Note-se que a razão não é necessariamente superior à emoção. Goleman, na sua obra de 1995,
apresenta casos em que a emoção suplanta a razão. Inclusivamente todos nós nos podemos
lembrar de ocasiões na nossa vida em que para tomar determinada decisão nos sustentamos mais
na emoção do que em pressupostos racionais. Para ilustrar este fenómeno costuma-se dizer
popularmente “pensamos com o coração”. Goleman dá o exemplo de um acidente em que o pai,
julgando ter um intruso em casa, orientado pelo medo e instinto de promover a segurança à sua
família, acabou por inadvertidamente dar um tiro fatal à sua filha que andava a brincar às
escondidas. Este acidente ocorreu, pois a emoção ultrapassou a capacidade cognitiva de avaliar a
situação (neste caso visualizar o alvo do seu tiro) antes de agir (neste caso disparar o revolver).
Conforme defende este autor, numa situação como esta a amígdala é ativada após receber a
mensagem visual, desencadeando de imediato uma resposta emocional antes mesmo de a
informação ser tratada pelas restantes áreas do cérebro mais associadas à razão.
Este autor apresentou ainda um caso revelador de que a cognição não é o único sistema
subjacente à nossa forma de interpretar uma situação, defendendo mesmo a existência de “duas
mentes” - a cabeça e o coração. (Goleman, 1995: 30) Veja-se o exemplo de alguém que após o
divórcio expressa sentir-se bem na sua vivência independente, mas em simultâneo apresentar um
semblante carregado e os olhos cheios de lágrimas. É notório neste exemplo a existência de duas
estruturas – a racional e a emocional – que neste caso são incongruentes.
40
4.2. A RELAÇÃO EMOÇÃO – ATENÇÃO, MEMÓRIA, APRENDIZAGEM
Lane e Nadel (2000) consideram evidente que a emoção tem um papel muito importante noutras
funções mentais como é o caso da perceção, atenção e memória.
Atenção
Filliozat (1997) explica que a emoção tem um papel importante na atenção, já que focaliza o
organismo face ao estímulo evocador, que será posteriormente analisado pela razão. Veja-se o
exemplo de um aluno numa aula, face a um ruído elevado do outro lado da janela a sua atenção
será deslocado no sentido do estímulo que provocou esse ruído, pois este estímulo ativou o seu
sistema emocional. Assim, poder-se-á concluir que o estímulo que tem prioridade sobre a nossa
atenção é aquele que despoletar de forma mais veemente a nossa emoção.
Memória e Aprendizagem
A relação entre emoções e memória tem sido alvo de interesse pela comunidade científica sob
diversos prismas. De uma forma geral, é unânime que as emoções também desempenham um
papel fundamental na memória.
A maioria dos estudos conclui que existe relação entre as emoções e a memória explícita, ou
seja, a recordação de informação consciente ou intencional do processo de processamento desta
informação. As formas mais comuns de acesso a este tipo de memória é a evocação ou o
reconhecimento (Albuquerque & Santos, 2000).
De acordo com Filliozat (1997), quanto maior impacto emocional tiver um acontecimento para o
sujeito, mais ele será capaz de o memorizar e recordar, o que se deve ao facto de a ativação da
amígdala favorecer o processo de memorização. Veja-se o seguinte exemplo: somos capazes de
recordar o que fizemos no dia do nosso aniversário no ano passado, mas não nos recordarmos do
que aconteceu no dia seguinte, pois esse dia não teve tanto impacto emocional quanto o dia do
nosso aniversário. Albuquerque e Santos defendem inclusivamente que os professores se
poderiam focalizar em promover experiências com carga emocional significativa aos seus
alunos, na medida em que constituiriam importantes marcos autobiográficos.
Os estudos sobre a relação entre a emoção e a memória explícita poder-se-ão dividir nos
seguintes paradigmas (Albuquerque & Santos, 2000):
Em vários estudos no contexto académico tem sido atribuído um papel de destaque aos objetivos
na sua relação com as emoções, tanto no seu desencadeamento como na avaliação das suas
consequências. A avaliação do significado de determinada situação vária de pessoa para pessoa
consoante o seu sistema de valores. Os valores podem ser compreendidos no âmbito da
motivação na medida em que especificam, de forma abstrata, objetivos que orientam as acções
dos indivíduos (Rokeach, 1973; Schwartz, 1992 citado em Nelissen, et al, 2007).
De acordo com diversas teorias os estados emocionais são caracterizados pela tendência para
alcançar ou manter um objetivo. Esta característica é também evidência da sua natureza
adaptativa, já que as emoções se apresentam como a solução para obstáculos e oportunidades de
sobrevivência física e social (confrontar Plutchik, 1991; Tooby & Cosmides, 1990, citado em
Nelissen et al, 2007).
Recorde-se o exemplo da emoção “medo” que sinaliza a implicação de uma situação identificada
como perigosa (por exemplo: estar próximo de um precipício) face ao objetivo de evitar o risco,
que despoleta a ação (por exemplo, afastamento da berma do precipício) para alcançar o
objetivo, neste caso de sobrevivência. Assim, de acordo com as conclusões do estudo de
Nelissen e colegas (2007), à emoção medo estão associados valores como segurança,
42
concretamente: pessoas que frequentemente se sentem receosas atribuem uma grande
importância ao valor segurança.
Alguns estudiosos da personalidade consideram que as emoções são como que subsistemas ou
fatores determinantes de diversos aspetos do funcionamento da personalidade, tais como o
autoconceito, a motivação, o humor, o estilo cognitivo e os traços de personalidade (confrontar
Brody, 1985, citado em Milhomem, 2012). Associam ainda a personalidade a questões de
psicopatologia, defendendo que alguns traços de desequilíbrio de personalidade ou mesmo de
psicopatologia poderiam ser explicados pela incapacidade de lidar com as emoções ou com a
vivência recorrente de emoções inapropriadas (Brody, 1985, citado em Milhomem, 2012.
Rodrigues e colegas (1989) defendem que em alguns casos a personalidade estrutura-se de uma
determinada forma que leva a que a energia motivacional produza emoções face a uma
determinada situação. Estaremos assim perante um caso de predisposição emotiva da
personalidade, que pode ocorrer, quer por programação genética, quer por condicionamentos
estabelecidos durante a estruturação da personalidade.
Uma das questões que se tem vindo a colocar no contexto académico e que corresponde a uma
dúvida existencial na nossa sociedade é saber se o temperamento é inato ou adquirido. Não raras
vezes ouvimos no meio de uma discussão o seguinte argumento “Eu sou assim”. Será este
argumento verdadeiro?
43
Ainda que se tenha vindo a considerar que o temperamento é inato, atualmente defende-se que
este vai sofrendo modelações ao longo da vida, predominantemente nas primeiras etapas da vida
(Filliozat, 1997; Rodrigues e colegas., 1989).
Contudo, nem sempre se atribuiu este valor à aprendizagem no que concerne a caracterizar o
perfil emocional dos sujeitos. Até aos finais do séc. XIX a antropometria gozava de reputação no
cerne da comunidade científica. Acreditava-se ser possível tirar conclusões acerca do
temperamento de sujeitos com base nas suas características físicas. Recorde-se a teoria do
criminoso nato de Lombroso, segundo a qual era possível identificar os criminosos natos por
determinados traços físicos.
• Colérico – tipo forte, mas desequilibrado. Sujeito também designado por excitável ou
impetuoso, pois desenvolve processos de excitação emocional intensos com inibição
débil, que conduz a reações de grande agitação e irritabilidade.
• Sanguíneo – tipo forte equilibrado, mas inquieto. Este tipo também se designa
simplesmente por equilibrado, pois a processos de excitação intensos correspondem
processos de inibição igualmente intensos, resultando um comportamento mais adequado
às situações perturbadoras.
• Fleumático – tipo forte, equilibrado e tranquilo. Também conhecido por inerte, este tipo
quando perturbado por estimulação lentamente desencadeia os processos nervosos,
apesar de serem fortes, não produzindo assim uma resposta imediata à estimulação
perturbadora.
• Melancólico – tipo fraco. Este tipo caracteriza-se pela debilidade dos seus processos de
excitação e de inibição. O seu sistema nervoso é incapaz de responder adequadamente a
estimulações perturbadoras, pelo que é comummente designado por inibido. Reconhece-
se por apresentar frequentemente fadiga, anorexia e incapacidade de ação.
Outra proposta que enquadrada nas classificações fisiopsicológicas é a de Heymans e Wiersma.
Estes autores defendem que existem estruturas do comportamento que são independentes dos
níveis intelectuais e socioeconómico. De acordo com estes autores existem oito temperamentos
diferentes:
• Colérico – estes sujeitos são enérgicos, estão sempre em movimento e são eficazes,
embora dispersos relativamente aos objetivos a longo prazo. São os chefes natos.
• Nervoso – também são muito enérgicos, mas de uma forma repentina e repetida, o que
revela alguma instabilidade crónica. São aqueles que incessantemente buscam por novas
experiências.
• Apaixonado – têm boas reservas energéticas, que são libertadas lentamente, pelo que são
sujeitos com predisposição para realizações a longo prazo.
• Sentimental – a energia que tem é dispensada apenas na intimidade. É um sujeito lento,
tímido e com sentimentos de inferioridade, pelo que dificilmente o veremos como chefe.
44
• Sanguíneo ou realista – trata-se de uma pessoa objetiva e prática. Sujeitos com este
temperamento são hábeis para explorar todas as circunstâncias e triunfar, são felizes,
otimistas e egoístas.
• Amorfo – tal como o anterior prioriza o seu bem-estar, mas ao contrário deste não se
esforça para controlar e aproveitar os acontecimentos.
• Fleumático – trata-se de um sujeito metódico que rege a sua vida de forma regular, com
lucidez e respeito pelas normas.
• Apático – neste temperamento predomina uma economia de esforço e baixa vitalidade,
que leva à invariabilidade do humor que tende a produzir solidão e fraca
comunicabilidade.
Jerome Kagan (ver Goleman, 1995) defende por seu turno a existência de pelo menos quatro
tipos temperamentais - tímido, confiante, alegre e melancólico – correspondendo cada um a um
padrão diferente de atividade cerebral. De acordo com este autor, a principal diferença reside na
facilidade com que cada pessoa desencadeia uma emoção e o tempo em que esta perdura e a
intensidade que atinge.
Kagan levou a cabo uma investigação durante décadas em que estudava a interação entre mães e
crianças, tendo concluído que crianças excessivamente tímidas e receosas se tornam em adultos
tímidos, sugerindo que estas crianças nascem com circuitos neuronais que as tornam mais
reativas ao stress.
São diversas as situações que podem levar à superação das nossas estruturas comportamentais,
ou seja, são várias as situações que podem originar choques emocionais, desde desastres de
45
ordem natural (por exemplo: tremores de terra, inundações) a incidentes provocados pelo homem
(por exemplo: morte e violência). Nestas situações, ao sentimento de injustiça soma-se a emoção
de angústia, emoção primária anteriormente explanada. Face a um choque emocional traumático
desencadeiam-se sintomas que podem incluir a dificuldade de reconhecer no imediato as
perturbações vivenciadas com o incidente, a dificuldade de expressão emocional, a dificuldade
de concentração, a presença de pesadelos, entre outros. Para ultrapassar este choque é útil
promover a expressão emocional associada à (re) significação do evento de forma mais
apaziguadora possível (Filliozat, 1997). Atualmente já são consideradas equipas para intervenção
psicológica em crise e emergência de forma a apoiar as vítimas ou famílias das mesmas a melhor
lidar com os choques emocionais associados a situações de catástrofe.
A resposta organizada das emoções pode efetivamente ser entendida como uma resposta
adaptativa que poderá conduzir a mudanças na relação que estabelecemos com o mundo
complexificando-a e enriquecendo-a (Salovey & Mayer, 1990, citado em Milhomem, 2012).
Frequentemente considera-se que a função das emoções pode ser a de comunicar com o meio
envolvente, nomeadamente as necessidades, objetivos e estados emocionais do indivíduo de
forma a regular o próprio comportamento e o dos outros (Greenberg, 2002, citado em
Milhomem, 2012), tendo assim um forte impacto no desenvolvimento humano.
São situações novas, aquelas com as quais nos confrontamos pela primeira vez, logo não
estamos preparados para lhes reagir, o que se apresenta como um obstáculo para nós. Este
fenómeno dificulta a libertação da energia motivacional no sentido da ação. Assim, defendem
46
estes autores, esta energia acumulada segue para o sistema nervoso vegetativo e origina a
emoção. Exemplo de uma situação nova poderá ser pedirem-nos uma resposta a um problema
urgente no primeiro dia de trabalho, pois não estamos preparados para o resolver, mas se for no
segundo mês de trabalho, já mais preparados, a energia motivacional produz um comportamento
de resolução do problema e não tanto de emoção.
As situações insólitas também nos causam emoção, pois apesar de poderem ter ocorrido no
passado, por ter um caráter de novidade provoca sempre emoção, como poderá ser exemplo um
ruído violento repentino.
As situações súbitas provocam emoção particularmente porque, ainda que possam estar
previstas, ocorrem antes do tempo esperado, levando a que o organismo ainda não esteja
preparado à adaptação às mesmas.
O conceito regulação emocional começou a ser utilizado nos anos 80, tendo surgido múltiplas
propostas para este processo, o que gerou a diminuição de consenso e clareza do mesmo.
Actualmente tem havido uma tentativa no sentido de clarificar o conceito de regulação
emocional e, particularmente esclarecer os mecanismos envolvidos neste processo (Melo, 2005).
De acordo com Fridja (1986) não só temos emoções como lidamos com elas. Considera que a
regulação é uma componente essencial do processo emocional definindo-a como o processo que
modifica outros processos elicitados pela situação, como por exemplo ações e experiências.
Mas porque é que as pessoas controlam as suas emoções e não as expressam livremente?
Niedenthal e colegas (2006) consideram que temos diversos motivos para esconder as nossas
emoções, desde logo por motivos pessoais, que pode ser o facto de considerarmos que as
emoções são dolorosas ou até que podem magoar os outros ou nossas relações com estes. A
conformidade com as normais sociais poderá também ser uma explicação para a regulação
emocional. Veja-se o exemplo da implicação do dito popular “Um homem não chora” que tem
levado a uma maior repressão da expressão de tristeza por parte de muitos homens.
Niedenthal e colegas (2006) chamam a atenção para o facto de a regulação emocional implicar
uma certa autoconsciência das emoções, nomeadamente as suas causas e expressões corporais,
pois o indivíduo só decide regular uma determinada emoção se a percebe como desalinhada com
os seus objetivos e/ou as normas sociais.
Fridja (1986) defende que o processo de regulação das emoções está presente ao longo de todas
as etapas do processo emocional podendo traduzir-se em:
Fridja (1986) acrescenta que esta reação tem também a sua influência sobre a própria emoção
indo ao encontro ao preconizado por Cole, Martin e Dennis (2004, citado em Melo, 2005) que
defendem existir dois tipos de regulação emocional: um em que é a própria emoção que está a
ser alvo de mudança e outro em que a emoção regula outros processos (por exemplo: cognitivos,
comportamentais, relacionais).
Para alguns autores (Bridges, Denham e Ganiban, 2004, citado em Melo, 2005) o cerne da
regulação emocional está na flexibilidade e capacidade de o indivíduo se conseguir ajustar às
circunstâncias do momento pela modulação das suas emoções, por exemplo, iniciando ou
mantendo estados emocionais positivos ou diminuindo os negativos ou diminuir as emoções
quando a sua ativação já não é útil ou foi ativamente de forma desadequada ou enganosa.
Considera-se também que a regulação emocional pode funcionar como ativador da ação,
aumentando a sua intensidade para impulsionar determinado comportamento (Melo, 2005).
Fridja (1986) considera que o sistema emocional deverá ser visto como regulado por um sistema
dual, ou seja, simultaneamente controlado por mecanismo de ativação e de inibição, pelo sistema
nervoso simpático e parassimpático, pelas respostas hormonais. Constata-se que o
comportamento emocional revela um equilíbrio constante entre ação e inibição, embora a
inibição nunca estará totalmente ausente variando conforme as características da situação
(nomeadamente o perigo percebido).
Gross (1998, 1999 citado em Niedenthal et al, 2006) sugere que poderemos usar duas estratégias
de regulação emocional: estratégias focalizadas nos antecedentes da emoção, que se refere a
estratégias postas em prática aquando do desencadeamento da emoção, produzindo modificações
no impacto que o evento chega a ter; estratégias focalizadas na resposta, que vão atuar ao nível
das respostas experienciais, expressivas e mesmo fisiológicas da emoção que foi já
desencadeada. Veja-se um exemplo do recurso a uma estratégia de regulação emocional
focalizada nos antecedentes da emoção, em que promovemos a modificação de uma situação: se
sabemos que na casa de um amigo nosso existe um cão que nos causa medo e ansiedade
evitamos frequentar a casa desse amigo de forma a evitar o contacto que desencadeia em nós
emoções indesejadas, optando antes encontrar esse amigo noutro contexto. Para a estratégia de
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regulação emocional focalizada na resposta veja-se o exemplo do esforço cognitivo que fazemos
quando estamos perante uma situação que desencadeia em nós uma emoção indesejada: numa
visita à casa do nosso amigo, o cão do qual tínhamos medos aproxima-se. Para tentar regular a
expressão emocional típica do medo – fugir ou gritar – procuramos autoconvencer-nos que o cão
não é agressivo e que não representa qualquer perigo.
O controlo emocional, nomeadamente o poder inibitório, é também afetado pelo estado geral de
bem-estar da pessoa. Assim, face a situações de doença, exaustão, stress, as respostas
emocionais tendem a aumentar de intensidade, nomeadamente a irritabilidade, ansiedade,
sentimentalismo e mesmo tolerância à dor. Pensemos em situações em que estivemos doentes,
podemos facilmente recordar-nos de ter tido menor resistência à frustração e termo-nos sentido
mais sensíveis e apegados aos nossos familiares. Deste modo conclui Fridja (1986) que estas
emoções estiverem sempre latentes, mas em condições normais foram reguladas, neste caso
inibidas.
Recente investigação no âmbito da neurociência aponta para a existência de uma relação entre a
regulação da emoção e psicopatologia da criança e do jovem, particularmente ansiedade e
perturbações do humor (DelCarmen-Wiggins, 2008).
Lazarus e Folkman (citado em Fridja, 1986) consideram que os efeitos das emoções podem ser
desconfortáveis e provocar distúrbios. Estes autores preconizam a distinção destes efeitos em
três categorias:
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1. Desconforto provocado pelas emoções, tais como a ansiedade e culpa.
2. Interferência das emoções na performance, que pode ter como consequência a falta de
concentração, a diminuição da eficiência e até mesmo alguma perturbação motora.
3. Desconforto provocado pelo efeito fisiológico das emoções, como é o caso da sudação
excessiva e falta de ar.
Estes autores consideram essencial a capacidade para lidar com estes desconfortos, não apenas
por motivos hedónicos, mas também por motivos de melhor integração social e mesmo de
sobrevivência. Aos esforços em lidar com estas questões estes autores chamam de “esforços
paliativos” que dividem em quatro estratégias:
1. Procura de informação de forma seletiva que suporte uma avaliação positiva da situação;
Também a interpretação das emoções não é unânime em todas as culturas. Compare-se a leitura
entre ocidente e oriente acerca de “emoções positivas” ou “negativas”. Para os povos ocidentais,
as emoções “positivas” são sinónimo de bem-estar, já para os povos orientais o mesmo não é
claro, podendo mesmo as emoções positivas estar associadas a valores e pressupostos negativos.
(Leu, Wang & Koo, 2011, citado em Milhomem, 2012). Por exemplo, para muitos povos
ocidentais, as emoções “positivas” como a “felicidade” não são necessariamente vistas como
positivas, como é o caso dos indivíduos japoneses, que não raras vezes associam a felicidade a
consequências sociais negativas, como a inveja ou a falta de harmonia nos relacionamentos
sociais (Uchida & Kitayama, 2009, citado em Milhomem, 2012). Compreende-se assim que, ao
contrário do mundo ocidental, nas culturas orientais o objetivo é essencialmente a moderação das
emoções positivas.
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EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
1. Explique o contributo de Howard Gardner para a definição do conceito de inteligência
emocional
2. Qual a proposta do conceito de inteligência apresentada por Jean Piaget?
3. Exponha as fases da constituição da inteligência nos primeiros anos de vida tal como
foram propostas por Bleichmar, no âmbito das perspectivas psicanalíticas
4. Qual é a importância do conceito de QI?
9. De acordo com Fridja (1988) as emoções funcionam como um mecanismo de interação com
o meio e regem-se por um conjunto de leis. Identifique e esclareça duas das leis preconizadas por
este autor.
10. Alguns autores defendem que existem emoções inatas que não sofrem o impacto da
aprendizagem. Identifique o tipo de emoções a que se refere e caracterize as mesmas em
contraposição com outros tipos de emoções.
11. Atendendo à psicofisiologia das emoções identifique qual dos sistemas do sistema nervoso
central é ativado face a uma situação em que nos confrontamos com um animal selvagem.
Explique que tipos de reacções fisiológicas poderão ocorrer e em que medida serão as mesmas
adaptativas.
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nível intelectual, traduzido num número (QI) que permitisse diferenciar os indivíduos
segundo este critério.
2. Qual é a diferença entre a inteligência mental e a inteligência real?
R: A inteligência mental, ou nível intelectual, é apenas um dos elementos que permite
analisar a inteligência, que por vezes não é consistente com aquilo que é esperado de um
indivíduo com determinado nível intelectual: por exemplo, quando uma pessoa com um
nível intelectual médio tem desempenhos elevados a nível de liderança e gestão ou, pelo
contrário, um indivíduo com um QI elevado apresenta comportamentos relacionais
negativos. Facto é que apenas 20% da inteligência pode ser explicada através do QI,
sendo esta composta por vários outros factores determinantes como, por exemplo, a
inteligência emocional.
3. De acordo com Damásio (1995) “pensamos com o corpo”. Esclareça este argumento
explicitando a relação existente entre cognição e emoção.
R: Damásio defende a impossibilidade de separação a razão da emoção, definindo esta
última como a combinação de um processo avaliativo mental que emite alterações
dirigidas maioritariamente ao corpo, tais como mudanças induzidas pelos órgãos através
das terminações nervosas sob controlo do cérebro.
A emoção é o resultado da forma como avaliamos se os nossos objetivos estão a ser
concretizados em interação com o contexto, para a qual os processos cognitivos são
fulcrais. Assim, a emoção é capaz de se adaptar às mudanças nas relações dos seres
humanos com o seu meio ambiente através do corpo.
4. Considerando que existem emoções que são inatas, como é que explica que a mesma
emoção alegria pode ser expressa de formas diferentes em diferentes contextos
culturais?
R: Conforme foi revisto nesta unidade existe uma multiplicidade de emoções, que se
podem distinguir entre emoções primárias, secundárias e instrumentais. Diversos autores
concordam com a existência de um determinado número de emoções que representam
reações básicas e diretas a um estímulo, não redutíveis a outras emoções, a que designam
de emoções primárias. Defendem ainda que estas emoções são inatas, ou seja, presentes
nos seres humanos desde os primeiros dias de vida, independentemente do fator
aprendizagem. Damásio (1995) explica que estas emoções são um conjunto de
mecanismos pré-organizados em relação às características dos estímulos fortemente
influenciadas pela ativação da amígdala. Paul Ekman (confrontar Goleman, 1995)
defende que estas emoções serão devido ao resultado de um estudo que levou a cabo
onde comprovou o reconhecimento da expressão facial de quatro das emoções básicas
(medo, ira, tristeza e prazer) por pessoas de diferentes culturas e proveniências. Contudo,
sabe-se hoje que a vivência emocional, excluindo ou não as emoções primárias, varia
conforme o contexto sociocultural em que nos inserimos, desde a expressão da mesma
emoção (nomeadamente a sua expressão biológica), como a regulação emocional e ainda
a interpretação das emoções entre indivíduos.
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5. . Explique em que medida evoluiu o conceito emoção ao longo dos séculos.
R: As emoções têm sido alvo de atenção desde a Antiguidade Clássica, contudo,
tradicionalmente era-lhes atribuído um papel secundário e mesmo “desconcertante”, tendo a
alma o papel principal na tentativa de explicação do ser humano. Com Darwin foi reconhecido às
emoções um papel adaptativo de sobrevivência e evolução da espécie e com James percebeu-se o
impacto que as mesmas têm ao nível das alterações corporais. Mais tarde, com o paradigma
Cognitivista introduziu-se o valor do meio ambiente que é avaliado pela cognição dando lugar ao
despoletar de emoções, de seguida, com o Construtivismo Social, não só se valorizou a
envolvente do sujeito, como se defendeu que as emoções são uma construção social e só ganham
sentido no contexto em que surgiram. Mais recentemente, graças ao contributo da
Neuropsicologia começou-se a ganhar entendimento do processo das emoções a nível
neurofisiológico e neuroanatómico.
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