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2º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 07 de dezembro de 2016 – ANAIS Artigo

A aplicação dos princípios pedagógicos da aprendizagem baseada em


projetos na elaboração de projetos de ensino/aprendizagem em
música

Patrícia Furst Santiago1


Carlos Aleixo2
Adriane Lins3
David Ferraz
Ester dos Santos
Gabriel Estanislau Machado
Janice Maria Moreira Soares
Jéssica Del Forno
Lucas Ladeira
Silene Costa Leão
Tatiana Martins

Resumo: Este artigo apresenta um relato de experiência sobre a aplicação dos


princípios pedagógicos da Aprendizagem baseada em Projetos na elaboração coletiva
de projetos de ensino/aprendizagem em música, especificamente do instrumento
musical. Tal experiência ocorreu em disciplina ministrada aos alunos de Graduação
da Escola de Música da UFMG. Além de uma discussão teórica sobre o tema, o artigo
oferece o projeto elaborado pelo Grupo de Cordas. A elaboração dos projetos resultou
em uma aprendizagem significativa para os alunos, que foram desafiados a organizar
suas experiências e conhecimentos prévios, bem como produzir projetos escritos e
em apresentação audiovisual.

Palavras-chave: Projeto de ensino/aprendizagem. Instrumento musical.


Aprendizagem baseada em Projetos.

An application of Project-based learning to the elaboration of


teaching/learning projects in music

1 Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Escola de Música, Departamento Teoria Geral da Música,
patfurstsantiago@gmail.com
2 Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Escola de Música, Departamento de Instrumentos e

Canto, aleixor@ufmg.br
3 Graduandos em Licenciatura e Bacharelado em Música, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,

Escola de Música, Escola de Música.

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Abstract: This article presents a report of the aplication of Project-based learning to


the elaboration of teaching/learning projects in musical instrument tuition. This
experience occured in the context of a discipline ministrated in the Graduation Course
at the University Federal of Minas Gerais. The article offers a theoretical discussion
on the issue and the project of Strings tutition. The stundents’ leaning process was
significant: they were able to elaborate a pedagogical written projects as well as
audiovisual presentations.

Keywords: Teaching/learning projects. Musical instrument tuition. Project-based


Learning.

1. Introdução
Este artigo relata uma experiência pedagógica que utiliza a produção de projetos
de ensino/aprendizagem para favorecer a formação de professores de instrumento
musical no contexto da Graduação em Música da UFMG (Licenciatura e Bacharelado). A
produção desses projetos foi amparada por valores e suporte teórico provindos da
abordagem conhecida como Aprendizagem baseada em Projetos4 (BENDER, 2014;
OLIVEIRA, 2016; FREITAS et al., 2003; VIEIRA, 2009). A disciplina intitulada Formação
do Professor de Instrumento – Projetos de Ensino, ministrada por Patrícia Furst Santiago
na Licenciatura em Música da UFMG, tem aplicado e testado substâncias dessa
abordagem, que é considerada uma renovação pedagógica significativa, muito embora ela
não seja uma abordagem recente, como enfatiza Bender (2014, p. 10).
Vieira (2009, p. 2) argumenta que as sociedades contemporâneas exigem ações
inovadoras para lidar com a diversidade de problemas e com a complexidade dentro da
qual se encontram; neste sentido, “as instituições de ensino superior tornam-se, então,
lugares de importantes contradições, estando o professor, naturalmente, no centro dessas
contradições”. Portanto, há de se pensar atitudes pedagógicas por parte do educador, que
favoreçam o espírito de autonomia, o desejo de auto nutrição e o desenvolvimento de
habilidades de pesquisa, a integração dos saberes dos aprendizes, suas atitudes e
sentimentos. Hernández (2004, p. 3) comenta:

Na perspectiva sobre o aprender, que está presente na nossa concepção


de projetos de trabalho, levamos em conta que aprender está relacionado
à elaboração de uma conversação cultural, na qual se trata de dar sentido
(na medida em que se conecte com as perguntas que deram origem aos

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Alguns autores adotam diferentes termos para denotar a mesma abordagem. Por exemplo, Pedagogia de
Projeto (FREITAS et al., 2003); Metodologia de Projetos (OLIVEIRA, 2006); Projetos de Trabalho (HERNANDEZ,
2004).

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problemas que abordamos e com as indagações que os sujeitos se


colocam sobre si mesmos e o mundo) e de transferi-lo para outras
situações. Conversação que serve de ponte entre as identidades dos
aprendizes, o entorno da aprendizagem e a conexão que se estabelece
com o que se aprende. Por isso, aprender é, também, uma prática
emocional, não somente uma questão cognitiva e comportamental.

Na busca de integrar esse pensamento procuramos compreender as


potencialidades da Aprendizagem baseada em Projeto como recurso pedagógico, não
como transformação de todo um currículo, uma vez que nossos cursos de Graduação nos
inserem dentro de premissas curriculares definidas. Nossa intenção aqui não é negar ou
criticar, nem mesmo questionar a relevância de se manter ações pedagógicas que podem
ser consideradas de tradicionais, mesmo porque estas ações são fundamentais em nosso
próprio percurso pedagógico. Mas buscamos novos horizontes de ensino e constatamos
que, compreender os princípios que regem a Aprendizagem baseada em Projeto, pode nos
ajudar a renovar nossas metodologias de ensino/aprendizagem. Portanto, buscamos
mesclar tradição e renovação pedagógica para formar um conjunto integrado de
experiências relevantes para a formação do professor de instrumento musical. Nas
palavras de Vieira (2009, p. 7) encontramos inspiração para refletir sobre os princípios
da Aprendizagem baseada em Projeto:

A docência da educação superior por meio do desenvolvimento de


projetos é uma forma de conceber educação que envolve o aluno, o
professor, os recursos disponíveis, inclusive as novas tecnologias, e todas
as interações que se estabelecem nesse espaço, denominado espaço de
aprendizagem. Este contexto é organizado para promover a interação
entre todos os sujeitos envolvidos, propiciar o desenvolvimento da
autonomia do aluno e a construção de conhecimentos de distintas áreas
do saber, por meio da busca de conhecimentos significativos para a
compreensão, representação e resolução de uma situação-problema.
Trata-se de uma nova cultura do aprendizado que não se fará por
reformas ou novos métodos e conteúdos definidos por especialistas que
pretendam impor melhorias ao sistema educacional vigente.

No intuito de partilhar as experiências vividas com a elaboração de projetos


pedagógicos na disciplina supracitada, as próximas seções apresentarão: (1) Alguns dos
fundamentos da Aprendizagem baseada por Projeto e comentários sobre projetos
pedagógicos; (2) Detalhes sobre a disciplina e sobre a elaboração de projetos de
ensino/aprendizagem; (3) Um dos projetos elaborados por alunos na disciplina, o projeto

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do Grupo Cordas. Nas palavras finais, faremos um breve comentário sobre a validade da
elaboração de projetos pedagógicos por alunos no contexto da Graduação em Música.

2. Aprendizagem baseado em projeto e projeto de ensino/aprendizagem


2.1. Aprendizagem baseada em projeto (ABP)
Para Hernández (apud VIEIRA, 2009, p. 8), a ABP é uma abordagem ou estratégia
de ensino que vincula prática e teoria por meio da investigação de um problema ou de um
tema, rompendo com a imposição de conteúdos pré-estabelecidos; tais conteúdos serão
definidos pelo próprio processo de desenvolvimento do projeto, segundo as demandas
daqueles que o elaboram. Bender (2014, p. 15) sugere que a ABP é uma forma eficaz de
“envolver os alunos com o conteúdo de aprendizagem” e que ela é “um formato
empolgante e inovador” de ensino. Neste sentido, a ABP se assemelha ao ensino pré-
figurativo defendido por Koellreutter (2015, p. 44):

Entendo por ensino pré-figurativo um método de delinear


antecipadamente o que, provavelmente, sucederá no futuro, ou seja,
figurar imaginando. Entendo por ensino pré-figurativo um método de
delinear aquilo que ainda não existe, mas que pode existir ou se receia
que exista. Esse método de ensino, naturalmente, não rejeita os métodos
tradicionais, mas sim os complementa.

Desta forma, o ensino pré-figurativo incentiva o professor a se libertar de


programas pré-concebidos permitindo que os alunos determinem qual o caminho que as
aulas podem tomar. Tanto a ABP quanto o ensino pré-figurativo constroem ações
pedagógicas democráticas, nas quais os próprios alunos definem seus temas de interesse,
os conteúdos que devem ser incluídos e o ritmo de desenvolvimento do trabalho. Então,
a ABP tipicamente demanda de seus autores uma busca interdisciplinar ou mesmo
multidisciplinar para abarcar os elementos necessários à sua elaboração e execução.
Neste sentido, um projeto elaborado para um contexto de aprendizagem musical - por
exemplo, a construção de instrumentos de percussão com materiais recicláveis -, levará
seus autores a estudar tudo aquilo que é necessário para sua realização, deste a busca de
informações sobre a construção dos instrumentos até o estudo de técnicas apropriadas
para a produção sonora.

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A metodologia de Moura & Barbosa5 (apud OLIVEIRA, 2006, p. 11) para a


produção de projetos leva alunos e professores a desenvolver “conhecimentos e
habilidades que são comuns às atividades de desenvolvimento de projetos e de pesquisas,
em geral”. Moura & Barbosa (apud OLIVEIRA, 2006, p. 11) nos oferecem um modelo de
planejamento - Modelo SKOPOS – que está estruturado em três etapas básicas Escopo,
Plano de Ação, Plano de Controle e Avaliação. O Quadro 1 abaixo especifica estas etapas.

Quadro 1: Modelo SKOPOS.


Fonte: Adaptação de MOURA & BARBOSA, 2006 e de OLIVEIRA, 2006, p. 11.

Modelo de planejamento baseado no SKOPOS

Escopo Representa os objetivos e as realizações que se pretende alcançar com o projeto.


 Definição do problema ou questão.
 Justificativa.
 Objetivos geral e específicos.
 Resultados esperados.
 Abrangência.
Plano de Organização dos procedimentos e recursos necessários à elaboração do projeto.
ação  Desdobramento de atividades e tarefas.
 Estimativa de prazos.
 Estimativa de custos e recursos.
 Rede de tarefas.
 Cronograma.
Plano de  Procedimentos acompanhamento e avaliação da execução do projeto.
controle e  Matriz de resultados e produtos.
avaliação  Planilha de procedimentos de monitoramento.
 Planilha de procedimentos de avaliação.
 Análise de risco.

Este modelo realça a relevância de um plano de ação para a elaboração de


projetos. Adicionalmente, os alunos precisaram desenvolver algumas habilidades
necessárias a esta ação e assumir a autoria do próprio processo de aprendizagem,
desenvolvendo suas ideias sobre a elaboração de projetos a partir de questões que os
impulsionou a contextualizar suas experiências e conhecimentos para produzir um
trabalho coerente.

5MOURA, Dácio Guimarães; BARBOSA, Eduardo F. Trabalhando com Projetos – Planejamento e Gestão de
Projetos Educacionais. Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 2006.

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2.2. Projeto de ensino/aprendizagem (PEA)


O PEA se configura como um plano de ensino e/ou o planejamento de atividades,
bem como desenvolvimento de mecanismos de acompanhamento e avaliação para uma
disciplina ou para um contexto educacional específico, que visa organizar e substanciar o
trabalho de um professor. Moura e Barbosa (20076) definem projetos de ensino como
“projetos elaborados dentro de uma (ou mais) disciplina (s), dirigidos à melhoria do
processo ensino/aprendizagem e de elementos de conteúdo relativos a essa disciplina”.
Freire e Prado (apud PRADO7) complementam:

A ideia de projeto envolve a ANTECIPAÇÃO de algo desejável que ainda


não foi realizado, traz a ideia de pensar uma realidade que ainda não
aconteceu. O processo de projetar implica analisar o presente como fonte
de possibilidades futuras.

Alguns atributos caracterizam a qualidade de um PEA, tais como o


desenvolvimento reflexivo e as avaliações contínuas do projeto, a elaboração de
atividades significativas ao contexto e a instalação de condições adequadas para a
aprendizagem significativa do aluno e a clareza da apresentação oral e escrita do projeto,
quando for o caso.

2.3. A disciplina Formação do Professor de Instrumento


A disciplina Formação do Professor de Instrumento – Projetos de Ensino,
ministrada no primeiro semestre de 2016, contou com aproximadamente 40 alunos da
Licenciatura em Música e do Bacharelado em Instrumentos. Cinco grupos instrumentais
foram formados para a elaboração de Projetos de Ensino/Aprendizagem (PEA) referentes
aos seus respectivos instrumentos, a saber: Grupo Cordas; Grupo Guitarra; Grupo Piano;
Grupo Sopros e Grupo Violão. Os grupos contaram com a colaboração dos seguintes
professores da Escola de Música da UFMG, a quem devemos muita gratidão: Carlos Aleixo
(Cordas); Eduardo Campolina (Violão); Heloísa Feichas e Luiza Mitre (Piano); Robson
Saquett (Sopros).

6 Apresentação em Power Point. Acessível em:


BF761233A70DD3EC%7D_Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20para%20professores.pdf
7 PRADO, Maria Elisabette Brisola Brito. Pedagogia de Projetos: fundamentos e implicações Apresentação

em Power Point, p. 6. Acessível em:


http://www.virtual.ufc.br/cursouca/modulo_4_projetos/conteudo/unidade_1/Eixo1-Texto18.pdf

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Na disciplina, a atuação dos alunos envolveu dois aspectos fundamentais:

(1) Mediação social que envolve o trabalho colaborativo entre os membros do grupo.
Segundo Bender (2014, p. 23), na elaboração de projetos os alunos o percebem como
algo significativo para eles, e se envolvem com o processo de resolução de um
problema do mundo real.
(2) Mediação pedagógica que diz respeito à elaboração do projeto a partir dos
conhecimentos prévios dos membros do grupo e dos relacionamentos significativos
entre esses conhecimentos.
A atuação do professor também passa pela mediação pedagógica, através do
acompanhamento da aprendizagem e do apoio para a sistematização e formalização dos
conhecimentos, e de intervenção no processo de aprendizagem, quando necessário. O
professor também assume papel importante no norteamento das dinâmicas sociais dos
alunos. Oliveira (2006, p. 13) sintetiza as funções assumidas por professores:

O professor deixa de ser o único responsável pela aprendizagem do aluno


e torna-se um pesquisador, o orientador do interesse de seus alunos.
Levanta questões e se torna um parceiro na procura de soluções dos
problemas, gerencia todo o processo de desenvolvimento do projeto,
coordena os conhecimentos específicos de sua área de formação com as
necessidades dos alunos de construir conhecimentos específicos.

Com esta distribuição de funções entre alunos e professores, o que se quer


garantir na elaboração dos PEA é o protagonismo dos alunos, o trabalho em equipe, a
avaliação contínua do processo de aprendizagem pelos próprios alunos com o
consequente crescimento da consciência dos participantes sobre seu próprio
aprendizado. E, finalmente, a ênfase nos processos de organização, sistematização,
previsão e tomada de decisões que a elaboração de projetos requer.
Na disciplina as duas primeiras etapas do modelo de planejamento SKOPOS
(Escopo e Plano de Ação) foram utilizadas como suporte para a elaboração de projetos.
Não houve oportunidade de avaliação dos efeitos dos projetos nas atividades pedagógicas
empreendidas pelos alunos nos seus contextos de trabalho, portanto, a terceira etapa
proposta no SKOPOS - Plano de controle e avaliação - não foi implementada. Na primeira
etapa – Escopo -, os grupos (Cordas; Guitarra; Piano; Sopros e Violão) definiram temas

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sobre os quais deveriam desenvolver o seu PEA. Na segunda etapa – Organização dos
procedimentos e recursos necessários à elaboração do projeto -, os grupos conduziram o
desdobramento de atividades e tarefas relativos a cada projeto.
O desenvolvimento do tema do projeto contou com os conhecimentos e
experiências que os participantes já tinham como instrumentistas e como professores de
instrumento. Porém, a escolha dos temas pelos alunos teve como ponto de partida uma
situação motivadora, ou uma situação problemática levantada pelos alunos, que
necessitava de reflexão e de organização de atividades de aprendizagem. Oliveira (2006,
p. 13) explica:

O trabalho com a Metodologia de Projetos é baseado na problematização.


O aluno deve ser envolvido no problema, ele tem que investigar, registrar
dados, formular hipóteses, tomar decisões, resolver o problema,
tornando-se sujeito de seu próprio conhecimento.

Os cinco PEA produzidos na disciplina versaram sobre os seguintes temas:

 Projeto Grupo Cordas - Estratégias motivacionais para o estudo de instrumento de


cordas.
 Projeto Grupo Guitarra - Iniciação à guitarra: As primeiras palhetadas.
 Projeto Grupo Piano - Tocando de ouvido na aula de piano.
 Projeto Grupo Sopros - Embocadura, postura e apoio em instrumentos de sopro (Oboé,
Flauta e Saxofone).
 Projeto Grupo Violão - As dificuldades de aprendizagem do violão em diferentes faixas
etárias.

Os PEA foram apresentados pelos grupos em forma escrita. Os grupos também


produziram uma apresentação explicativa de seus projetos em formato audiovisual -
Power Point ou filme. Para o trabalho escrito foram dadas aos alunos sugestões de alguns
itens a serem incluídos nos projetos, itens que eles redefiniram de acordo com os
interesses de seus projetos:

 Título.
 Nome dos elaboradores.

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 Palavras-chaves.
 Nome hipotético da Instituição para a qual a disciplina é destinada.
 Ementa da disciplina.
 Faixa etária para a qual a disciplina se destina.
 Justificativa - Porque a disciplina está sendo elaborada.
 Objetivos gerais e específicos, metas a alcançar - Para que a disciplina está sendo
elaborada.
 Conteúdos da disciplina.
 Metodologia a ser empregada – Como a disciplina será desenvolvida?
 Recursos necessários.
 Processos de avaliação.
 Bibliografia consultada - “bases de inspiração”.

A seguir, devido aos limites de escopo desse artigo, apresentaremos apenas o PEA
produzido pelo Grupo Cordas com a colaboração de Carlos Aleixo. O filme de apresentação
do projeto, produzido por eles, está inserido na apresentação audiovisual deste artigo. Os
outros PEA (Guitarra, Piano, Sopros e Violão), igualmente merecedores de serem
partilhados, serão disponibilizados aos leitores em futura oportunidade.

3. PEA Grupo Cordas: Estratégias motivacionais para o estudo de instrumento de


cordas
Caracterização do projeto: Este projeto pedagógico apresenta uma série de
estratégias pedagógicas para favorecer o estudo diário do instrumento.
Palavras-chave: Abordagens e estratégias do estudo instrumental;
Autorregulação; Motivação; Ciclo de estudos Diários; Estudos diários.

3.1. Justificativa
Através de nossas perspectivas como professores, observamos que os principais
fatores que comprometem o desenvolvimento técnico musical do aluno de instrumentos
de cordas estão relacionados à falta de estudo diário. Pretendemos nesse trabalho, através
de estratégias propostas, desenvolver no aluno autonomia e interesse pelo estudo do
instrumento musical. Como parâmetro de análise, definimos uma faixa etária de 07 a 10

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anos para melhor aplicação das estratégias propostas, podendo estas serem adaptadas a
outras idades, conforme o nível de cada aluno.

3.2. Objetivos
Gerais:
 Auxiliar o professor de instrumentos de cordas a estimular e motivar o estudante no
entendimento e na aplicação dos ciclos dos estudos diários;
 Fornecer estratégias para o desenvolvimento da autonomia de estudo de alunos de
instrumento de cordas.

Específicos:
 Favorecer a compreensão do ciclo de estudos diários;
 Promover a organização do estudo;
 Identificar e definir metas de estudo;
 Motivar o desenvolvimento da autorregulação e da autonomia no aluno;
 Conscientizar a família sobre a importância no processo de aprendizagem do aluno e
envolvê-la neste processo;
 Identificar aspectos motivacionais que favorecem o estudo do instrumento;
 Orientar a pratica especifica para uma determinada obra musical;
 Identificar os motivos que impedem ou dificultam o estudo diário.

3.3. Metodologia
A metodologia é composta por estratégias motivacionais em sala de aula,
estratégias extraclasse, estratégias relativas à organização do estudo em casa e estratégias
de interação do núcleo familiar com o processo de aprendizado e estudo do aluno

3.3.1. Estratégias motivacionais em sala de aula


 Desenvolvimento de hábitos autorregulatórios8

8Habilidades autorregulatórias se referem à capacidade de planejar o próprio estudo e de se tornar


participante ativo do seu próprio processo de aprendizado musical (NIELSEN, 2001, p.156).

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Estratégia 1: Através do diálogo, estimular o aluno a desenvolver independência


e comprometimento para identificar e sanar suas dúvidas e problemas no processo de
estudo do instrumento.

 Estímulos áudio visuais

Estratégia 1: Ambientação da sala com cartazes informativos (postura, família do


instrumento, cuidados, alongamentos, curiosidades). Sugestões para preparação do
material: Optar por cartazes com cores vivas que chamem a atenção do aluno. Estimular
a participação dos alunos na confecção dos cartazes.
Estratégia 2: Apreciação musical por meio de filmes, desenhos, curiosidades,
vídeos de concerto, solos, trilhas sonoras de músicas clássicas e populares. Arranjos
dessas pelas podem ser executadas pelo aluno no instrumento estudado. Sugestão para
otimizar a estratégia: Estar atento aos conteúdos extramusicais disponíveis (desenhos
com conteúdos pesados, linguagem). Sugestões de materiais a serem usados:

https://www.youtube.com/watch?v=d95L1wqZ1Dc
https://www.youtube.com/watch?v=ZfBxhgohU6Y
https://www.youtube.com/watch?v=wM1DgihKHVI
https://www.youtube.com/watch?v=DQ9XWXxhuj8
https://www.youtube.com/watch?v=FtLZchdU5Ho
https://www.youtube.com/watch?v=xiA6qe5S2wU
https://www.youtube.com/watch?v=OFR34sxjAec
https://www.youtube.com/watch?v=1X8tP4W4ZfM
https://www.youtube.com/watch?v=Ssn6GC40ZrY
https://www.youtube.com/watch?v=L6ggbmok0pQ

 Estímulos de engajamento/envolvimento na interação professor-aluno

Estratégia 1: Preparar aulas dinâmicas: usar elementos surpresa e ludicidade.


Estratégia 2: Jogos com finalidades pedagógicas para auxiliar na compreensão técnica de
maneira lúdica. Sugestões de jogos:

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 Associação de palavras a células rítmicas.


 Jogo da janela: Isole trechos das peças mais difíceis para o aluno e/ou enumere os
trechos da peça que deseja que ele estude mais. Escreva em pedaços pequenos de
papel os números, dobre-os e peça ao aluno para sortear um papel. Ele deverá tocar o
trecho correspondente ao número sorteado. A Figura 1, abaixo, apresenta o desenho
da janela que deve ser recortada em papelão e usada para isolar o trecho na partitura
que precisa ser estudado. Caso o mesmo número seja sorteado 3 vezes consecutivas,
o aluno tocará a peça inteira.

Figura 1: Jogo da janela

 Registro de aula em caderno

Estratégia 1: Pontuar, junto ao aluno, as dificuldades a serem observadas durante


o estudo diário. Registrar as dificuldades e progresso feitos pelo aluno. É importante que
o registro seja feito em todas as aulas.

3.3.2. Estratégias extraclasse


 Gratificações

Estratégia 1: Criação de uma lojinha: o aluno recebe brindes após objetivos


alcançados.
Sugestões de conteúdos da lojinha: lápis, clips (personalizados), meias, chaveiros,
brincos, cordões, doces, brinquedos e objetos. Todos os itens com temas musicais, cada
um deles terá uma pontuação relacionada aos exercícios e repertório trabalhado em sala.

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A somatória dos exercícios concluídos resultara a aquisição de algum desses objetos. A


Figura 2 mostra algumas sugestões de brindes.

Figura 2: Sugestões de brindes.

 Maratona

Estratégia 1: Elaborar cronograma de estudos a ser utilizado como parâmetro de


análise, observando a tabela de estudo sugerida no presente trabalho (Figura 3).

3.3.3. Estratégias relativas à organização do estudo em casa


No nosso encontro com o Prof. Carlos Aleixo, foi sugerido que observássemos
como o aluno chega para a aula, se ele traz consigo o instrumento e todo material didático
e como esses materiais estão organizados. Assim podemos observar se ele está
organizado ou não, se a mente dele está organizada.
Estratégia 1: Registro de estudo para comparação em aula. Sugerir ao aluno a
reflexão por meio de gravações de áudio e/ou vídeos dos exercícios realizados em casa
para autoavaliação sobre os aspectos musicais como: performance, postura, afinação,
ritmo, expressividade, andamento etc.

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Estratégia 2: Diário de estudo. Delegar ao aluno a função de registrar conteúdos


estudados diariamente em um caderno, podendo também utilizar a tabela sugerida a
seguir neste trabalho (Figura 3).
Sugestão para otimizar esta estratégia: Propor horário regular de estudos, de
acordo com a disponibilidade de tempo do aluno para que se crie uma rotina de estudos.

Figura 3: Tabela de estudos.

3.3.4. Estratégias de interação do núcleo familiar com o processo de aprendizado e estudo


do aluno
 Mini-recitais

Estratégia 1: A cada ampliação significativa do repertorio estudado, organizar


uma apresentação para o núcleo familiar ou para pessoas a convite do aluno. Sugestão
para otimizar esta estratégia: organizar em casa um palquinho ou um espaço especial para
os mini-recitais (Figura 4).

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Figura 4: Espaço para mini-recitais.

 Criação do cantinho de estudo

Estratégia 1: Ambiente organizado e personalizado para gerar estímulo e


motivação do aluno nos seus estudos musicais (Figura 5).

Figura 5: Cantinho de estudo.

 Conversa com os familiares

Estratégia 1: Diálogo dos pais com o aluno, sobre para a conscientização sobre a
importância do estudo diário, os cuidados com o instrumento, a boa conservação do
material didático e a importância de um bom aparelhamento (arco, resina, metrônomo
etc.). Segundo o Prof. Carlos Aleixo, a didática não pode ser padronizada, pois cada aluno
responde de uma maneira diferente às propostas do professor. A técnica do instrumento

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vai ser a mesma, ou seja, a mecânica pura não se modifica. Contudo a aplicação do
conteúdo será diferente para cada indivíduo. O objetivo e o papel do professor é enxergar
o ser humano que está por traz do instrumento.

4. Resultados e conclusões
A disciplina Formação do Professor de Instrumento – Projetos de Ensino propôs a
elaboração de Projetos de Ensino/Aprendizagem de instrumento musical sob a inspiração
da abordagem conhecida como Aprendizagem baseada em Projetos. Os resultados desse
processo sugerem que os alunos se envolveram em uma experiência motivadora e
interessante de construção de conhecimento, e que assumiram plenamente a
responsabilidade por esse processo. A elaboração dos projetos resultou em uma
aprendizagem significativa que teve relação com sua vida como professores de
instrumento e que os desafiou no sentido de organizarem suas experiências e
conhecimentos prévios em formatos específicos – projeto e escrito e apresentação
audiovisual. A elaboração dos projetos levou os alunos a fazerem escolhas e a se
organizarem enquanto grupo.
Os alunos do Grupo Cordas oferecem comentário sobre o processo de elaboração
do projeto e sobre as adversidades encontradas por eles ao longo do trabalho:

O trabalho inteiro foi realizado de forma colaborativa e presencial, uma


vez que as agendas dos integrantes não se encaixavam para extrapolar os
horários das nossas aulas na Formação do Professor de Instrumento. [...]
O grande número de integrantes [do Grupo Cordas] também contribuiu
para que as tarefas fossem mal divididas e houvesse sobrecarga em
alguns integrantes, fazendo com que alguns se focassem no desenvolver
do trabalho em maior proporção que outros (Grupo Cordas, na Conclusão
do Projeto Cordas).

Por outro lado, eles também enfatizaram um aspecto positivo e fundamental dos
resultados do seu trabalho:

Durante as conversas nas aulas constatamos que o projeto já está gerando


frutos. Como a grande maioria do grupo já atua como professor de
instrumento, começamos a aplicar as estratégias do projeto e
percebemos avanços significativos no desenvolvimento dos alunos.
Assim concluímos que uma aplicabilidade e resposta às estratégias
propostas no presente trabalho se faz de forma imediata, refletindo em
maior aproveitamento das aulas de instrumento dos alunos e melhor
preparo didático do professor.

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No contexto da disciplina, observamos algumas dificuldades que precisaremos


enfrentar no futuro, no sentido de aprimorar esta abordagem de ensino. Citaremos aqui
apenas a principal dificuldade encontrada, que se refere à pouca prática que os alunos têm
com o processo de pesquisa. A busca e a leitura de textos relevantes sobre os temas
tratados podem favorecer a elaboração de projetos pedagógicos indo de encontro com às
demandas da Aprendizagem baseada em Projetos, que se baseia na solução de problemas
do mundo real. Sobre isto, Bender (2014, p. 16) comenta: “A investigação dos alunos é
profundamente integrada à aprendizagem baseada em projetos [...]”. Porém, aqui também
notamos que uma as funções do professor, que assume a tarefa de facilitador do processo
de aprendizagem, é instigar os alunos a desenvolver as habilidades de investigadores,
fornecendo textos, vídeos e estabelecendo mais espaço para consultas do grupo a
especialistas no assunto em questão.
Portanto, muito embora a disciplina Formação do Professor de Instrumento –
Projetos de Ensino tenha instalado a vontade de abranger os princípios da Aprendizagem
baseada em Projetos, apenas um leve sopro desses princípios atuou sobre os caminhos da
disciplina. Há muito ainda o que repensar para fortalecer em nossos alunos de graduação
o interesse genuíno por pesquisa e a autonomia no que diz respeito ao seu próprio
aprendizado e desenvolvimento. Esta será, sem dúvida, tarefa a ser empreendida em
futuras versões dessa e de outras disciplinas.

Referências

BENDER, William N. Aprendizagem baseada em Projetos – Educação diferenciada


para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014.

FREITAS, Katia Siqueira de; LISBOA, Ana Gilena Ferraz de Novaes; SANTOS, Cáritas
Vanucci Batista; SANTOS, Cristiane Farias Barbosa; RIBEIRO, Maria Áurea Santos.
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http://www.liderisp.ufba.br/modulos/pedagproj.pdf

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incertezas. Projeto Revista de Educação (4), 2ª ed. Porto Alegre: Projeto, 2004.
Disponível em:
http://www.adventista.edu.br/_imagens/area_academica/files/Os%20projetos%20de
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0incertezas.pdf

Nas Nuvens...: <http://musicanasnuvens.weebly.com/>


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KOELLREUTTER, Hans-Joachim. O espírito criador e o ensino pré-figurativo. In: PARIZZI,


Betânia; SANTIAGO, Patrícia Furst (Organizadoras). Processos Criativos em Educação
Musical - Tributo a Hans-Joachim Koellreutter. Coletânea Seminários de Educação
Musical - Escola de Música da UFMG. Belo Horizonte: CMI/UFMG, 2015, p. 41-50.

NIELSEN, Siw G. Self-regulating learning strategies in instrumental music practice. Music


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OLIVEIRA, Cacilda Lages - Significado e contribuições da afetividade, no contexto da


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Nas Nuvens...: <http://musicanasnuvens.weebly.com/>

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