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• Historia, nr. 13 Ano de 1960

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Historia, nr. 13 Ano de 1960

ARNALDO BRUXEL, S . J.

O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO


URUGUAI

I. Parte

Gráfica da Universidade do Rio Grande do Sul

imprimiu para

-------------------------
INSTITUTO ANCHIETANO DE PESQUISAS
Pôrto Alegre - Caixa Postal, 358 - Rio Grande do Sul - BRASIL
O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL
DO URUGUAI

I. Parte

Arnaldo Bruxei, S. J.

PRóLOGO

Existe111 vá1·ios t1·abalhos sôb1·e o gado 1·ioplatense e111


ge1·al, e sôbre o gado da antiga Banda 01·iental e antigo Rio
G1·ande do Sul em especial. São todos êles de g1·ande valo1·,
sob1·etudo na sua qt1alidéide de l)io11ei1·os.
O J)resente estudo intenta menos dai· dados novos, en1-
bo1·a êstes talvez tambén1 não lhe falten1. Que1· tentai· antes
un1a sisten1atização da 1naté1·ia, aj t1da1· a })ô1· u1na base co-
n1 u1n na t)esquisél, a fin1 ele que se })Ossa1n t)1·eenche1· n1ais
fàcilmente as lacunas, qt1e a ciência ainda deixa abe1·tas.
Pa1·ece-nos 1·azoável dividi1· tudo e111 duas g1·andes sec-
ções. Na 1)1·in1ei1·a se exa111ina o influxo dos homens na im-
plantação do gaclo. Na segunda se t1·ata do influxo do gado
na fixação dos hon1ens 11rt antiga Banda 01·iental, qt1e co1n-
J)1·eendia a atual Re1)(1blica do U1·uguai e o atual Estado B1·a-
silei1·0 do Rio G1·ande do Sul. Pois que, con10 vei·emos, o
homem nesta J)a1·te do mundo, dt11·ante séculos seguia em
g1·ande J)a1·te na pegada do boi. lVIas acentuamos ex1)i·essa-
mente «em g1·ande pa1·te», po1·que não comungamos na idéia
exagerada dos que pensam que tt1clo de1)endia do gado. Ha-
via n1uitos outi·os motivos nas ações dos homens, que tive-
1·an1 que ver com a antig·a Banda Oriental.
Acentuamos também que a natu1·eza dêste t1·abalho é
dupla. O J)1·in1ei1·0 aspeto é investigai· com textos, em g1·an-
de J)a1·te inéditos, do Archivo Ge11e1·éll de la Nación em Bue-
nos Aii·es, onde nos ocupan1os de os investigai· dui·ante ai-
6 PESQUISAS 1g60, HISTÓRIA N.o 13

guns mêses de 1957 e 1958, até que l)Or n1otivos de fô1·ça


maio1·, tiven1os c1t1e desistir, po1· enqt1anto, daquela ta1·efa.
Out1·a pa1·te de textos, e são sob1·etudo os qt1e oco1·1·em na
p1·imei1·a l)a1·te, ucha1n-se na Coleção de Ang·elis, em })a1·te
inéditos, l)elo n1cnos J)a1·a n1uitas das }Jessoas atingidas po1·
esta Revista, en1 1Ja1·te fo1·am aJJ1·oveitados po1· Au1·élio Pô1·-
to na sua História das Missões 01·ientais, ( cuja segunda edi-
ção se publicou e1n 195-1 na Livra1·ia Selbacl1 de Pô1·to Ale-
gre). Ninguén1 que se tenha ocupado p1·ofundan1ente com
esta edição na SUél l)a1·te 1·efe1·ente ao gado nega1·á que en1
geral os doct1me11tos não estão suficienten1ente ex1)lo1·ados e
sistematizados.
Daí surge o segundo aspeto dêste t1·abalho, que é ten-
tai· a confecção de um sistema ge1·al de todo êste assunto,
inse1·indo em set1 de,riclo lt1ga1· os qt1esitos e 1)e1·guntas, que se
})Ossam levantar. Não toclos, n1as n1t1itos dos que en1 l)l'i-
mei1·a J)lana se a1J1·esenta111 ao investigado1·. Ninguén1 nega
os n1é1·itos dos g1·andes traball1os })ionei1·os que são os de
Coni, Caviglia, Au1·élio Pôrto e out1·os. En1 1·elação ao na-
da que havia antes clêles são g1·andes t1·abalhos. Em 1·clação
ao que se pode e deve fazei· deJJois elêl cs, ca1·ecem de algu-
mas pe1·feições, sob1·ett1do no qt1e 1·es1)eita à 1·acionalização
do assunto. PrinriJ)almente Corii e Caviglia são })1·i1nei1·os
passos, decisivos e g1·andes, é ve1·clade, n1as sem1J1·e 1J1·imei-
1·os tJassos, 111ais colet2.ncas de fichas })1·eciosas ele 1·efe1·ên-
cias, encacleadas segu11clo t1n1a linha si11 L1osa ele c1·onologia
e geog1·afia ou out1·os c1·ité1·ios de 01·clenação de assuntos .
Aurélio Pô1·to já 1·acionalizou mt1ito mais os assuntos, e ac1·es-
centou muitos dados novos ti1·ados da coleç[to ele Angelis da
Biblioteca Nacional do Rio de J anei1·0. 11Ias o seu t1·abalho,
atenta a eta1)a en1 que se acha, ainda se 1·essente un1 l)Ot1co
da f ai ta de sisten1a.
Enfim temos já muitós ace1·vos J)1·eciosos de miné1·ios,
que podem e devem sei· catados, selecionados, elabo1·ados, até
que se obtenha o n1etal J)t11·0 que J)1·ocu1·amos. Mas 1Ja1·a que
possa prog1·edi1· a })esqt1isa, 1Ja1·a que auto1·es e111 colabo1·a-
ção possam confi1·111a1· ot1 neg~i1·-se mutuan1e11te us teses, con-
fo1·me os a1·gt1n1e11tos que acl1arem, é p1·eciso que os quesi-
tos sejam ben1 definidos c1·onológ·ica, geog1·áfica e temàti-
ca1nente.
Não nut1·imos a p1·etensão de pensai· q1.1e nosso esfô1·ço
escapa da pecha das c1eficiências 1·elativas. Co111 1·es1Jeito ao
qt1e J)1·ecede, que1· se1· e }Jode1·:t S t'.'~1· um passo para diante.
Co111 1·espeito a 1nt1itos 1)1·oble111as (le fundo e fo1·ma, com re-
fe1·ência a muitos quesitos, qt1e ar,csar de todos os esfo1·ços,
ainda pe1·manecen1 sem 1·esposta, inco1·re necessàriamente em


BRUXEL, O GADO MA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUA Y I 7

n1uitos defeitos. Outros com n1ais fo1·n1acão técnica nas 1nil


.>

e un1a questões, con1 mais tem})O e n1ais 1·ecu1·sos de a1·qt1i-


vos e bibliotecas, quiçá se ani1nem a. })1·eenche1· os cla1·os, qt1e
assinala1·emos ou esqt1ece1·en1os· de assinalai· no dect11·so clês-
te trabalho. .
Tomamos a libe1·dade ele J)edi1· aj ucla, e o:fe1·ecer a que
J)ossamos 1)1·esta1· a quem quer que seja, que se interesse pe-
lo assunto.
CAPíTULO PRiivIEIRO

ÀPTIDÃO E ACESSIBILIDADE DA BANDA


ORIENTAL PARA A PECUARIA

PREAMBULO

I
1. Justificação dêste capítulo. En1 1955 publicamos
un1 esbôço sôb1·e a 01·ige111, ªi)tidão e acessibilidade natu1·al
dos campos 1·iog1·andenses. Justificava-se aquêle estudo pelo
fato de a histó1·ia do Rio G1·ande do Sul, dependei· en1 J)a1·te,
não de todo, 11em sequei· en1 máxin1a l)a1·te, da l1istó1·ia do
seu gado vacum, que nas p1·in1ci1·as décadas do século XVI
foi int1·oduzido na Banda 01·iental do U1·t1guai e se alçou
e encl1eu tôdas as cam1)anhas e contribuiu muito l)a1·a as
causalidades histó1·icas l)Oste1·io1·es. Ve111 êste t1·abalho 11a
Revista do Museu Júlio ele Castilhos e Arquivo Histó1·ico
do Rio G1·ande do Sul, Pô1·to Aleg1·e, 1955, N. 5, pg. 101-121.
A história do homem de1)endia en1 })a1·te da do boi. A
do boi po1· sua vez de1)endia do ambiente que encont1·ou,
das pastagens natu1·ais qt1e estêtvam à sua dis1)osição. Es-
tas por sua vez dependiam da histó1·ia geológica desta })a1·-
te do sul do B1·asil. Justificava-se, pois, um estudo rudi-
n1enta1· que fôsse, sôbre a gênése, localização e acessibili-
dade natural e a1·tificial dos can11)os da antiga Banda
Oriental.

2. Divisão dêste capítulo. Po1· alto dividi1nos êste


ca1)ítulo em três 1-,a1·tes principais. Tratamos primeiramente
da gênese em geral das regiões natu1·ais do Rio Grande do
Sul, tomando-as n1ais en1 conjunto. E1n segundo lugar da
génese, a1)tidão e acessibilidade natural de cada t1n1a das
cinco 1·egiões natt11·ais em pa1·tict1la1·. Em te1·cei1·0 luga1· da
... a1Jtidão e sob1·etudo acessibilidacle artificial das mes1nas cin-
co 1·egiões natu1·ais, finalizando com as 1J1·incipais concl u-
10 BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I

sões, que fo1·11ece êste ca1)ítt1lo ·1)a1·a co11jett1i·as histó1·icas,


que IJOclen1 sei· necessá1·ias, 011de nos ft:1ltan1 os dados docu-
n1en tais.
Pa1·a facilitai· o estt1clo, aci·escentan10s a clivisão l)Or-
menoi·izada. Note-se que os nú111ei·os n1ai·gi11ais qt1e deJ)ois
vão estai· na n1a1·gem esqt1e1·da das IJág·inas, nestes esqt1e-
mas ele divisão, se JJÕen1 en1 tJa rêntesis 110 fin1 ele cada 111cm-
bi·o divisó1·io, })a1·a não estoi·,1é11· a visão clar~1 do cons1)eto.

r->reân1bulo.

Justificação dêste capítulo (1)


Divisão dêste capítulo (2)

Expla11ação.

A gênese en1 conjunto das ci11co regiões natu rais .

-~ constelação das fôrças que as n1odelaran1 (3)


O pred o1nínio dos n1atos ou can1pos nas diversas regiões (4)

A aptidão e acessibilidade 11atnra! das cinco grandes regiões ...

li.. Faixa Litorânea


1\.ptidão (5), Acessih:lidade (6), Porn1enores... (7)

A Serra do Sudei-;te .,
Aptidã.o (8), .i\.cessibilidade (9), Parn1enores... (10)

l\. c:an1panha do Sudoeste


Aptidão (11), Acessibilid:1de (12). Porn1enores... (13)

.A.. Depressão Ce11 trai


•.\.ptidão (14), ..\cessiblliu?.d e (15), P orn1enores ... (16)

O Planalto
Aptidão (17), .~cessibilidade (18), Por111enores ... (19)

A aptidão e acessibilidade art.iíicinl 11a antiga Banda Oriental.

Definição de aptidão e a e:essibilidade artificial


Aptidão artificial (20)
.~e;essibi l idade artificial ( 21)
\
Traços gerais da aptidão e a cessibilidade artificial.

Da aptidão artificial (2::: )

Da acessibilidade artificial (23)


Da acessibilidade artificial (23)

Por vias maritimas (29 bis )


BRUXEL, 9 GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 11

Por vias terrestres (24)


para portugueses (24 bis)
para espanl1óis (25)
para índios e Pa9-res (26)

Conclusões

quanto à aptidão e di fusão CSJ)ontiinen do gado (27)


quanto à aptidão e difusão nrtificial do gado (28)

EXPLANAÇÃO.

A GÊNESE E lVI CONJUNTO DAS CINCO REGiõES


NATURAIS

3. A co,istelação das fôrças que as modela1·am. - Os


geólogos a1)ontan1 cir.co g1·andes 1·egiões natu1·ais no Rio
G1·ande do St1l, das quais natt11·almente J)a1·tici1)an1 as 1·e-
giões da atual Re1)t.'1blica Oriental do U1·uguai, que não são
11ada n1ais que o })1·0Ionga111ento e finalização' daquelas com
J
que estão em contato. Histo1·iado1·es e economistas podem
dividir a te1·1·a de ma11ei1·a dife1·ente, e sob1·etudo de 1nanei-
1·a mais abunda11te. Tudo de acô1·do com as modificacõcs J

devidas en1 pa1·te à inte1·venção 1Joste1·io1· do homen1. l\1c:1s o


gado, en1 sua difusão es1)ontâ11ea e natu1·al, teve que ate1·-
se exclusivan1ente às condições geog·1·áficas natu1·ais. E es-
tas se ca1·acte1·izan1 1nais ou 111enos 11as cinco 1·egiões natu-
1·ais indicadas, que são a Faixa Litorânea, a Se1·ra do Su-
deste, a Campanha do Sudoeste, a Depressão Cent1·al e o Pla-
nalto.
Quais as últimas 1·azões clcsta divisão? Quais as fõ1·ças
que a modela1·am? Co11c1·etizando as opiniões dos ente11di-
dos de manei1·a sin11Jles e conc1·eta, devemos admitir - cs-
quemàticamente - que l1avia p1·imei1·0 u1n g1·ancle plaino
l 11a 1·egião sudeste do Estado. Dêste plaino emergia uma
platafo1·ma de g1·anito, na 1·egião onde ainda hoje avultam
set1s 1·estos na Se1·1·a do Sudeste. Depósitos 1na1·inhos e gla-
ciais ao pé desta Se1·1·a, nos levam a supô1· que, em dive1·-
sos tempos, desce1·ia111 gelei1·as })a1·a os mares, que ci1·cunda-
vam o alti1Jlano de g·ranito. En1 ten11)os J)oste1·iores havc1·ia
ao pé desta Se1·1·a i11tensa, vegetação, como atestan1 as ca-
madas de ca1·vão e xisto betuminoso, que serpeiam ao 1·e-
12 PESQUISAS 1960, HISTORIA N.O 13

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do1· da base de g1·anito. Mais ta1·de ainda deve1·iam te1· so-
b1·evindo climas causticantes. Atestam-no as camadas de
a1·enito qt1e 1·ecob1·em as camadas ante1·io1·es de 1·elictos gla-
ciais e ca1·bonífe1·os. Enquanto o sol esfarelava o g1·anito
primitivo, o vento que so1)1·ava naquelas altu1·as, es1)alhava
as a1·eias })a1·a os J)lainos dos conto1·nos. As can1adas de
a1·eia al cança1·an1 e111 ce1·tos l t1ga1·es es J)ess u1·as de cem e tan-
tos n1et1·os, como 1nost1·a111 os mo1·1·os de a1·enito, que 1·es-
taran1 das ca111aclas 1)1·in1itivas, cle1)ois qt1e a e1·osão as de-
n1oliu. Tê111 êste ca1·áte1· os 1nor1·os que se vên1 ao 1·eclo1· ele
algumas cidades con10 São LeoJ)oldo, l\!Ionteneg1·0 etc. São
to1·rões gigantescos, que as chuvas e out1·os agentes ainda
não co11segui1·a1n a1·rasa1·, e que fica1·am no alti1)lano, ago1·a
escavado, que e1·a out1·01·a a De1)1·essão Cent1·al.
Demolida, })ois, en1 pa1·te a l)latafo1·1na de g1·a11ito, e
es1)alhadas as a1·eias en1 es1)essas camadas, deve te1· sob1·e-
vindo um g1·ande cataclisma, cujas causas e localização ain-
da não se acham pe1·feitamente ex1)licadas. Mas a convulsão
qt1e p1·ovàveln1ente se deu na costa atlâ11tica, deve te1· f1·ag-
mentado intensa1nente a c1·osta te1·1·est1·e, até étlcança1· os
n1agmas da })rofundidade. A massa liquefeita começou a
jo1·ra1· en1 in1ensas golfadas de lava, que esco1·1·iam sôb1·e as
camadas de a1·eia. A 01·ientação ge1·al dos declives para su-
doeste })a1·ece suge1·i1· que os n1agn1as esco1·1·iam })referente-
mente nesta di1·eção. A níticla divisão da subida da Se1·ra
nos deg1·áus qt1e se notam en1 n1uitos lt1ga1·es, l)a1·ece st1ge-
rir também que êste fenôn1eno esteja vinculado ao })l'Ó})1·io
cu1·so da lava. Talvez se fizesse em ondas st1cessivas, das
quais as últin1as, po1· qualqt1e1· motivo i11e1·ente à massa
ou à quantidade se solidificassen1 a meio caminho.
Te1·íamos, J)ois, no p1·imitivo Rio G1·ancle do St1l dois te-
lhados l)luviais. O p1·imei1·0 estaria na Se1·1·a do Sudeste, e
se di1·igi1·ia J)a1·a leste. Ainda hoje em dia seus grandes 1·ios
todos têm esta di1·eção. O segundo declive se1·ia J)ara su-
doeste, abrange1·ia en1 un1 J)1·i1nei1·0 ten11)0 quase todo o res-
to do Estado, fo1·a do declive leste da Se1·1·a do Sudeste.
Atestam-no ainda hoje os 1·ios, mesmo os qt1e desag·uam na
g1·ande calha do J acuí e con1 êle se di1·igem J)a1·a leste. Pa-
1·ece que J)1·imitivamente tôda a bacia do J acui· esta1·ia di-
1·igida para sudoeste, indo desagt1a1· no U1·uguai. Isto se de-
duz da di1·eção de todos os 1·ios qt1e o fo1·man1, l)Ois todos
na sua pa1·te SUJ)erior têm niticlamente a di1·eção st1doeste,
como os 1·ios da bacia do Ibict1i. Qual a cat1sa dêstes 1·ios
depois da1·em uma flexão de mais de cem graus J)a1·a leste,
é t1m enigma ainda não bem decif1·ado.


BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 13

Se ac1·escentai·mos ago1·a às fôrças qt1e construi1·am as


can1adas ante1·io1·mente indicadas, as fô1·ças qt1e as co1neçél.-
1·am a demoli1· outra vez, entc"io te1·emos a constelação das
fô1·ças que modela1·an1 a })1·imitiva Banda 01·ie11té1.I, e ~ dei-
xa1·am na fo1·1na en1 qtie hoje se acha. Não ])oden1os ent1·ar
en1 detalhes sôb1·e estas fô1·ças, que são sob1·etudo o clin1a,
os ventos, as chuvas . ..

4. O p1·edomínio de 11zatos e campos n<lS dive,·sas ,·e-


giões, como conseqüência da ação das fô1·ças n1odelado1·as
anteriormente desc1·itas.
Só poden10s a1)1·esenta1· u111 quad1·0 esquen1ático, ge1·al,
sen1 ent1·a1· en1 })01·111enoi·es. Os 1·ios da Se1·1·a do Sudeste
vão continuai· a desmantelai· esta Ser1·a, levando os det1·itos
ao n1a1· ou antes à Lagoa l\-Ii1·im e dos Patos, que se vão
foi·mando precisamente 1)01· estêlS a1·eias e })elos det1·itos qt1e
o ma1· não aceita fo1·manclo a longa linha ele a1·eia qt1e se1)a-
1·a as lagoas do ma1·. O J act1i e seus afluentes continuam Et
escavar ainda n1ais a Dep1·essão Cent1·al e a encosta da Ser-
ra, que é a ft1tu1·a Dep1·essão Cent1·al. Com os mate1·iais de
demolição aj t1dam os rios da Se1·i·a do St1deste a const1·t1ii·
sempre mais a Faixa Litor·ânea. Os ot1t1·0s 1·ios, do Planalto
e da CamJ)anha do Stidoeste, ~ontinuan1 a e1·odi1· cada vez
mais as 1·espectivas 1·egiões, ap1·oft1ndando vales e ate1·1·an-
do cada vez mais as planícies do B1·asil, U1·ugt1ai e Ai·genti-
na, que confinam com o U1·t1guai.
A vegetação, qt1e, segt1ndo as n1ais 1·ecentes conclusões
dos geo-botânicos deve te1· ent1·ado l)ela po1·ta de To1·1·es e
pela bacia do Pa1·aná, J)i·ocu1·a invadir tudo, caminhando ao
longo dos rios, onde há n1ais umidade e solos mais fé1·teis.
Em mt1itos lt1ga1·es, dizem, que foi questão de solo não te1·
avançado mais. Em ot1t1·0s lugai·es é questão de ten1po ain-
da não tei· avançado mais. Fica po1· elucidai· a famosa qt1es-
tão que se comenta no Rio G1·ande do Sttl, a sabei· se as sub-
1·egiões de capim, com o a11da1· dos n1ilênios, sei·iam capa-
zes de acumulai· J)ouco a })Ottco tanto humus, qt1e g1·adativa-
mente te1·iam fe1·tilidade suficiente pa1·a J)lantas maiores, e,
com isto, modificando também automàticamente o regime
das águas pi uviais. Pa1·ece qt1e })01· clima tôda a Banda
01·iental })ode1·ia sei· mata vi1·gen1. O que conse1·va g1·ande
pa1·te da á1·ea en1 forn1a de can11)os, se1·ia o solo e a umi-
dade. T~in1bén1 11ão está l)e1·feitan1ente elucidado o })a})el
qt1e })Ode1·ia exe1·ce1· o índio sôb1·e o desmatamento e conse-
. -' guinte 01·igem dos can1})0S- E' ve1·dade que segundo todos os
at1to1·es, contempo1·âneos à cateqt1ese dos séculos 16 e 17,
14 PESQUISAS 1960, HISTORIA N.O 11

cada família de g·t1a1·anís, 1·oçava um novo J)eelaço ele mato


cada cinco ou seis anos, deixando en1 abandono a 1·oça antig·a.
E' possível que c1·iado1·es mode1·nos, qt1e conve1·tem a 1·oça
antiga en1 })lantação de fo1·1·agei1·as e pastage11s a1·tificiais,
e soltam então o gado, im1)edem com isto o 1·enasci111ento do •
mato. n-Ias ent1·e os índios antigos não havia gado, e ent1·e '
os ínelios elas catequeses jesuíticas não o havia em g1·ande
quantidade pe1·to das á1·eas 1·esidenciais e de J)lantação, })01·-
que as estâncias en1 ge1·al clistavan1 centenas de l(ln1s das
sedes dos Povos. Desta manei1·a é de su1Jo1· que ou a 1·oça
antiga voltava a sei· mato ou ent1·ava no tt11·no de cultura
após dez ou quinze anos de desca11so. Assin1 julgamos qtte
de fato o sisten1a de intenso desn1atamento dos índios não
influía sensiveln1ente na 01·ige1n de áreas can11)est1·es, e es-
tas se devem qt1ase exclt1sivamente à falta de água e ferti-
lidade no solo.
Po1·tanto })Or via de 1·eg1·a ge1·al J)odemos dizei· que p1·e-
dominam os matos onde há mais un1iclade no a1· e n1ais fe1·-
tilidade no solo, e J)1·edo111ina111 os can11)os onde o solo não
tem muita fe1·tilidade, nem muita un1idade e J)l'ecipita.ção
atmosfé1·ica.
Assim a Faixa Lito1·ânea é constitttida de a1·eia quase
pu1·a. Além disso J)Ottca umidade. P1·edomina o campo e às
vêzes nem há umidade e fe1·tilidade suficientes pa1·a isto.
A Se1·ra do Sudeste, como Se1·1·a, tem ce1·ta altitude e
como decomposição de g1·anito, tem ce1·ta fe1·tilidade na a1·-
gila dos feldspatos e out1·os ing1·edientes. Tem campos nos
altos e matos nos vales, nos cones de dejeção dos 1·ios.
,'

A Depressão Cent1·al no n1eio 1abo1·a em a1·enito, fo1·-


mando a1·eia pela decom1)osição das 1·ochas. Po1·tanto es-
terilidade. Conseqüentemente p1·edomínio dos cam1)os, a não
ser nas pa1·tes em que se encosta em 1·egiões mais fé1·teis.
A Campanha do Sudoeste teve antigamente un1a caJ)a
eruptiva que dava te1·1·as fé1·teis, como a teve tan1bén1 a De-
pressão Central. Mas hoje já trabalha a e1·osão em areni-
tos. Daí predomínio de campos. .:i

O Planalto, ainda ten1 os agentes da e1·osão t1·abalhan-


do nas eruptivas recentes. Ac1·esce o esf1·iamento das umi-
dades, ob1·igadas a subi1·, ao embate1·em de encont1·0 à en-
costa da Serra. Po1·tanto fe1·tilidade e cht1vas. Daí J)1·edomí-
nio dos matos, a não ser nos g1·andes diviso1·es de águas,
onde a decomposição ainda não é tão J)1·ofunda, a água é
menos e em todo caso faltou tempo pa1·a o avanço do mato .

BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 1.5

APTIDÃO E ACESSIBILIDADE NATUR.t\L DAS


REGiõES E!vl PARTICULAR

'•
'
A Faixa Litorânea.

5. Aptidão. Po1· Fai}~~1 Lito1·ânea se e11tende a ter1·a


ent1·e To1·1·es e Cht1i, er1t1·e o Oceano e t1j11a est1·eita faixa a
oeste das g1·anàes I~étgoas. T eria setis 3,1.000 Klms quad1·a-
dos de su1)e1·fície. E' fo1·mac1a cte areias, 1·ios e lagoas. As
a1·eir1s são t1·azidas em g1·ancle })arte da Dep1·essão Cent1·a)
e do i11te1·io1· cl :1 Ser1·a <lo St1dcs te, acrescida de algum hu-
mus e limo qt1e os milênios cria1·a111 sôbre as clt1nas. Em mt1i-
tos lt1ga1·es não têm sequei· fe1·tilidade st1ficiente })ara fo1·-
ma1· a tênt1e can1ada de Cl1J)in1. E' clé11·0 que em ot1t1·a JJa1·-
te, sob1·etudo a. oeste fl .'.ls Lagoéts, a1)a1·ece solo mais fé1·til
que co1111)01·ta D.té 1~1~tas, ainda qt1e 11ão muito es1Jessas.
Passa insensi\rel111ente }Jé11·a o Planalto, J)a1·a a Dep1·essão
Cent1·al e pa1·a a Se1·1·a do Sudeste co111 qt1e está em con-
tato. À pob1·eza do solo ac1·esce o sol cat1sticante e o ven-
to to1·tu1·ante. O })1·eclon1ínio é do campo. lVlas esta aptidão
é, como semiJ1·e, 1·elativ3,. IIá t1·echos que nen1 dito JJara
campo, out1·os que cleran1 })a1·a mais elo que J)a1·a ca111po. A
melho1· po1·ção ele ca1111)0 está a leste da att1al cidade de
Pôrto Aleg1·e, que com o 11ome de Can11)os de Viamão, 1·e-
cebeu as p1·in1ei1·as estiLncias })01·tt1g·t1esas da Banda 01·iental.

6. A acessibilidc,de da Faixa Lito1·ânea pa1·a a expan-


são natu1·al do gado, de1)ende do })onto de vista em que nos
colocamos ou colocássen1os o gftdo. Po1· !)arte do n1a1· nem
se fala. Até J)a1·a a acessibilidade a1·tificial é bastante di-
fícil. Na J)a1·te de Tor1·es estão os 1·ios da f1·ontei1·a qt1e pro-
vàvelmente impedi1·iam a passagem espontânea do gado, que
vivesse alçado nas ter1·as de Santa Catc1.1·ina. Talvez mais
pelas cabecei1·as !)assasse o g·ado, no caso de en}re1·ga1· 11a
out1·a ma1·gen1 o })asto qt1e ll1e falta5se na ma1·gem esquer-
da, cata1·ine11se. lVlas qunnelo se da1·ia tal caso? Aos 1·ios
da f1·ontei1·a seg·uen1 as matas es1)essas dos A1Jarados da Ser-
1·a e da Encosta da Se1·1·a, que, em todo o caso até às mar-
gens dos grandes rios Taqua1·i e outros, emba1·ga1·ian1 a des-
cida do Planalto, se 1)01· acaso lá se achasse o gado. Da
De1)1·essão Cent1·al, da Sc1·ra elo Sudeste e da Campanha elo
Sul, a Faixa Litorânea está separada pelos rios Taquari,
J act1i-Guaiba, })elas lag·oas dos Patos e 11irim, e pela Barra
da Lagoa dos Patos em Rio G1·ancle. Po1·tanto, ba1·rei1·as hi-
16 PESQUISAS 1980, HISTORIA N.O 13

d1·ográficas. Mas tan1bém ba1·1·ei1·as vegetais, pois qt1e a oes-


te das Lagoas sen11)1·e há t)astos melho1·es do que a leste de-
las, não havendo, l)Ois, motivo })a1·a o gado es1)ontâneamente
t1·ansfe1·i1·-se l)a1·a a F aixa Lito1·ânea, aincla que não houvesse
as ba1·1·ei1·as hid1·og1·áficas.
A histó1·ia n1ost1·a que de fato 11unca houve g·ado na Fai-
xa Lito1·ânea n1a1·ítima, a não sei· de1)ois que os J)o1·tt1gue-
ses o metera1n a1·tificialmente, ti1·ando-o das Vaca1·ias e es-
tâncias dos índios, e assegt11·ando-o na in1ensa t1·inchei1·a
natura l que J)a1·a êles e1·a a faixa ent1·e as lagoas e o ma1·.
Até havei· p1·ovas en1 cont1·á1·io, não ac1·editamos que o
gado seqt1e1· se aJ)1·oxin1asse e tocasse nas n1a1·gens ocidentais
das g1·andes Lagoas, J)o1· havei· melho1·es condições })ara
oeste.
7. Po1·nz enores sôb1·e a vegetação da F<tixa Litorânea
se acham em Balcluino Ran1bo: Fisionomia do Rio G1·ande
do Sul, no ca1)ítt1lo en1 que t1·ata desta Região. (P1·imei1·a
Edição em P. Aleg1·e, 1942, J)gs. 12-21 e 25-40). Enume1·am-
se os t iJ)OS qt1e J)1·ejaze111 às clunas vegetadas, e que não in-
teressam à pecuá1·ia; os tipos de dunas vegetadas, as zonas
dos olhos de ágt1a, as zonas de cobe1·tura g1·aminácea ext1·e-
n1amente r ala, as zonas b1·ej osas dos lagos inte1·nos, as zo-
nas de contato con1 as ot1t1·as regiões. En1 1·esumo podemos
dizei· que, com exceção dos cam})OS de Viamão, a Faixa li-
torânea a leste das L agoas é quase inf1·a-apta pa1·a a pecuá-
1·ia, ao l)asso que mais pa1·a oeste tem mais elementos J)a1·a a
. -
c1·1açao.

A Se,·ra do Sudeste.

8. Aptidão. A extensão desta 1·egião está n1ais ou


menos dada com a bacia de seus 1·ios inte1·nos Pi1·atini e
Camaquã. E' vagamente triangula1· e t eria set1s 44.000 Klms
quadrados de s u1)e1·fície. Seu granito decom1)osto f o1·nece
duas classes de solos p1·inci1)ais, segt1ndo p1·edomine o ele-
mento a1·enoso ou a1·giloso. O a1·giloso, a incla. que de J)e1· si
seja de boa qualidade, foi depauperado !)ela intensa ação do
clima. Pode-se dizei· em 1·esumo que o solo a1·giloso depau-
pe1·ado ou entfto o a1·enoso fazem J)1·edomina1· o cam1)0 na
Se1·1·a do Sudeste. l\tlas nos cones de dejeção dos 1·ios e ar-
1·oios há ai uviões mais f é1·teis e umidade mais a bunda nte, f a-
vo1·ecendo a fo1·mação de m atos. O p1·edon1ínio do cam1)0
levou os p1·imeiros ag1·iculto1·es 1)01·t ugueses, que po1· lá pe-

BR\JXEL, O OADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 17

net1·a1·am, a conve1·te1·-se ele lav1·adores e1n c1·iado1·es, tanto


mais que encont1·avam o g·aclo nas vizi11l1élS vaca1·ias e es-
tâncias missionei1·as, e a c1·iação e1·a muito n1ais 1t1c1·ativa
que a Ia,1ou1·a naqt1eles te1111jos, sen1 con1unicações l)a1·a o
1·esto do Brasil.

9. A acessibilidctde naturc1l da Serra do Sudeste J)a1·a


a expansão es1)ontânea do gaelo. A Ser1·::l do Sudeste está
bastante bem ma1·cada ao no1·te com os taludes n1a1·ginais
ou seja a 1·am1)a de acesso da De1)1·essão Cent1·al })ara den-
tro da Se1·1·a. No lado sul e oeste ten1os ve1·dadei1·as se1·-
1·as, que formam diviso1·es ele ágt1as. No leste, ten1os desde
a ma1·gen1 das Lagoas un1a subida n1ais st1ave, })elos vales
dos 1·ios. Mas em cont1·a1)a1·tida have1·á as te1·1·as alag·adas
e matas })alust1·es da baixada. Ao qt1e })a1·ece a acessibilida-
de da Se1·1·a do St1deste })a1·a a ex1)ansão natt11·al do g·ado
não e1·a g1·ande. Tôdas as 1·a1111)as en1 ge1·al se 1·evesten1 ele
vegetações mais 1·obt1stas, menos a1Jtas tJa1·a a alin1e11tação
das rezes. Portanto o gado que se encont1·asse ao })é da Se1·-
1·a do Sudeste te1·ia sem1)1·e a escolha ent1·e as 1·identes bai-
xadas da De1)1·essão Cent1·al, cheias de calo1·, })asto e élgt1a,
e as 1·am1)as enca1)oei1·adas da Se1·1·a, talvez faltas de })asto e
de aguadas, além do t1·abalho da subida. Jt1lgamos })ois qt1e
a Se1·1·a do Sudeste e1·a 1·elativamente inacessível })a1·a a en-
trada natt1ral do gado nas ci1·cu11stâncias conc1·etas qt1e aca-
bamos de a1)onta1·. Se as 1·egiões confinantes fôsse1n dese1·tos,
então sim que subi1·iam, vencendo as ba1·1·ei1·as 01·og1·áficas
e vegetais. Não faz objeção a estância de São Lot11·enço qt1e
ia desde a ma1·gem st1l do J act1í até a ma1·ge111 no1·te do Ca-
maquã. Pois qt1e neste caso se t1·atava de ent1·ada artificial,
ope1·ada pelos vaquei1·os daqt1ele })ovo })01· volta de 1700.
Não nos constam os g1·at1s de salinidade da Se1·1·a do
Sudeste. Mas po1· via de 1·eg1·a há menos sal nos })lanaltos
do que nas baixadas. Se1·ia ot1t1·0 n1otivo })a1·a o gado })1·efe-
1·i1· ficar na baixada da De1)1·essão Cent1·al e nas Cam1)anhas
do Sudoeste, qt1e se estendian1 sem limite até Maldonado e
Montevidéu.

10. Po1·n1enores. . . Encont1·am-se })01·meno1·es em Ram-


bo, liv1·0 citado página 59-61. A vegetação da Se1·1·a do St1-
deste conta con1 campos lim})OS, can11)os sujos (de })astos
mais altos quase im1)1·estáveis pa1·a o gado), vassou1·ais, mati-
nhas arbustivas, matos altos, ca})Ões ou matas ci1·cula1·es, ma-
tas vi1·gens, ca1Joei1·as e })al111a1·es. A ag1·icultu1·a hoje em dia
usa apenas as te1·1·as de alt1vião e n1atas mais altas. l\.ias a
pecuá1·ia usa quase todo o t e1·1·itó1·io, de modo que em 1935
18 PESQUISAS 1960, HISTôRIA N.O 13

.
a Se1·1·a do Sudeste c1·iava 17,67 % do gado 1·iog1·andense.
Donde se concl t1i o })1·edomínio do can11Jo sôb1·e o n1ato. Os
autores não indicam a JJ1·01)01·ção exata entre as áreas de
matos e campos na Se1·1·a do S 1.1deste.

A Campanha do Sudoeste

11. Aptidão. A CamJ)anha, do Sudoeste, fitogeog1·à-


fican1ente contint1ada 11a Re1Jública 01·iental do U1·t1guai, é
lin1itada no Rio Grande elo St1l, no no1·te, })elo tal t1de da
Ser1·a Ge1·al, a leste J)elo diviso1· das ág·t1as e11t1·e Oceano e
Rio U1·ugt1ai, e J)elas abas da Se1·1·21, elo Sudeste, continttan-
do-se, como dissemos, U1·t1g·t1ai a dent1·0. . . Inelica111-se t1ns
50.000 Klms qt1acl1·ados ele su1)e1·fície. Deve te1· fo1·111ado an-
tigan1ente t1n1 altiJ)lano a1·enítico, ca1)eado J)o1· ttma can1ada
de eru1)tivas 1·ecentes, con10 no Planalto, e111bo1·a de menos
altittide.
A maio1· JJa1·te de sua st1pe1·fície já foi des1)ida da ca-
mada e1·u1)tiva, 111at1·iz de solos fé1·teis. A e1·osão já t1·aba-
Iha no a1·enito da base. Mesn10 esta já foi qt1ase totalmente
demolida, ficando a1)enas uns 1·estos a avt1lta1· na Cam1)a-
nha. Mesmo o a1·cabot1co a1·enítico das coxilhas desmo1·0-
~

na mais e n1ais l)ela e1·osão inte1·na. A tendência é nivelai·


tudo aos b1·ej os n1a1·ginais elo U1·uguai.
O solo a1·enítico, 1·elati,rame11te esté1·il, jt1ntan1ente co111
a falta de ágtta qt1e ta1nbén1 é 1·elativa, 1·ef1·ea1·am ext1·ao1·-
dinà1·iamente o im1Jt1 lso ex1)ansionista elo 111ato, qt1e vinha
do no1·te. A camJ)anha elo Sudoeste ficou assim a região
cam1)est1·e e JJecuá1·ia po1· excelência. Acentt1amos que êste
é seu ca1·áte1· natt11·al e ge1·al, pois há t1·echos qtte fazem
exceção e a técnica n1ocle1·na })ode de alg·t1111a n1anei1·a co1·-
1·igir a natu1·eza.

12. Na acessibilidade nat,,,·al de, Carn.panlia do Su-


doeste, devemos distingtti1· os J)ontos de 1)a1·ticla, en1 que 1Jo-
ele1·ia te1· estado o gado. T1·ês casos JJ1·inci1)ais se nos a1)1·e-
sentam. Se o gado estivesse na n1a1·g·en1 ocidental do lJ1·t1-
g·uai, 01·dinà1·iamente 11ão te1·ia J)ossibilidade de ent1·a1· na
Banda 01·iental, nem na Can11)anha do St1clóeste. Se esti-
vesse na de1)1·essão Cent1·al te1·ia g1·andes dificttldades, en1-
bora não imJ)ossibilidades de ent1·a1·. Os afluentes setent1·io-
nais do lbicui chegam até as se1·1·anias; os afl t1entes me1·i-
dionais tocam nas cabecei1·as do Rio N eg1·0 fo1·mando un1
grande rincão fechado ent1·e Ibicui e Rio N eg1·0. E' cla1·0 qt1e
o gado em última instância, e em caso de necessidade, fu-

BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 19

i·a1·ia enti·e as cabeceii·as ou en1 vítus, que poi·ventui·a haja


nos i·es1)ectivos afluentes. l\'Ias nas cii·cunstâncias concre-
tas não o fai·ia l)oi·que tei·ia l)astos e aguadas abundantes
da l)ai·te oi·iental da Cam1)anha do Sudoeste, ao redor da
Se1·i·a do Sudoeste, l)i·àticamente de Santa l\1ai·ia J)a1·a Ba-
gé e l\'Ialdonado. Poi·tanto oi·dinài·iamente o gado não J)ene-
t1·ai·ia na CamJ)anha do Sudoeste fechada JJelos 1·ios lbicui
e Rio N eg1·0. Histõi·ican1ente se confi1·n1a êste fato l)oi·que
as Vacarias do lbicui e do Rio Negro tivei·am que sei· foi·-
madas ai·tificialmente, un1a vez que o gado que de fato este-
ve solto na Vacaria do Mai·, não enti·ou nelas, mas conti-
nuou })ara o sul até Maldonado e I\1ontevidéu.
Por outi·o lado se o gado estivesse no i·incfto foi·n1ado IJe-
los 1·ios Ibicui e Neg1·0, não sai1·ia tão fàcilmente, bai·i·aclo
que estai·ia })elas bai·1·ei1·as hid1·ogi·áficas que ali se e11con-
t1·am. Tudo isto está es1)lêndidamente confi1·mado }Jelas
fronteii·as das estâncias })Oste1·io1·es, cujos limites sen1pi·e
foi·am constituídos poi· estas bar1·eii·as, que o gado oi·dinà-
1·iamente não ti·ans})Õe, sen1 ser empu1·1·ado pelos homens.
Os sub-1·incões da Cam1)anha do Sudoeste se to1·nam aces-
síveis ent1·e si l)Or vaus que haja nos 1·ios ou pela volta que
o gado dá nas cabeceii·as. Vei·emos mais ta1·de que a in-
\7encibilidade de uma ba1·1·eii·a dete1·minada é quase sem-
pre relativa. Depende das fôrças natu1·ais que empu1·1·am
o gado pai·a sai1· duma 1·egião ou o ati·aem })ai·a enti·ai· em
outra. Assim o gado, em casos ext1·ao1·diná1·ios, entraria
nos 1·incões fechados da Cam1Janha do St1doeste e dêles tam-
bém sairia pa1·a a Dep1·esão Central e out1·as i·egiões contí-
guas.

13. Po1·meno1·es. . . Balcluino Rambo em «A Fiosono-


mia do Rio Grande do Sul», ao tratai· da Cam1)anha do Su-
doeste t1·az muitos pormeno1·es, embo1·a t1·atando o assun-
to sob outros J)ontos de vista. A1)onta, mais })a1·a o noi·te
g1·andes t1·echos de mata vi1·gem; no 1·esto da Campanha os
ca})Ões, as matas de gale1·ia ao longo dos i·ios, as matas la-
cust1·es, a vegetação dos tabulei1·os, os vassoui·ais, os pa1·-
ques es1Jinilho e os cam})OS que fo1·mam a maio1· pai·te da
Campanha. E de tal ma11eii·a sob1·epuj a o campo que se-
gL1ndo afirma Rambo na obra citada (IJágina 422) have1·á
l)Oucas i·egiões no Bi·asil que sejam mais a})tas pa1·a a pe·-
cuá1·ia em gi·ande escala do que a Campanha do Sudoeste.
Em 1935 quase a metade dos bovinos do Estado se criavam
na Cam1)anha ou seja de uns 10.000.000 de cabeças, que era
o total, umas 4.600.000 cabeças. Dos equinos se criava na
Campanha · um tê1·ço, dos ovinos cinco oitavos.
20 PESQUISAS 1960, lllSTóRIA N.0 13

A Dep,·essão Cent1·al.

14. Aptidão. Não tem u111a delin1itê1ção 1)e1·feita1nen-


te definida. Te1·á u11s 30.000 Klms qt1aclrados de st1J)e1·fí-
cie. Essencial1nente é t1n1 lo11go qt1ad1·iláte1·0 ence1·1·ado e11-
tre a Se1·1·a do St1deste e a Encosta elo Planalto, e ent1·e a
Faixa Lito1·â11ea e a Can11)anha do Sudoeste. São as te1·-
1·r1.s baixas ele an1bos os laclos do J acui.
Deve te1· sido êtntigamente t1n1 alti1)lano, en1 que sô-
b1·e a base })1·ofunda de g·1·anito, assentava111 as can1aelas de
a1·enito, ca1)eadas de e1·t11)ti,1 a recente. Esta est1·t1tt11·a an-
tiga })Ode sei· ve1·ificada ainda hoje nos n101·ros, qt1e se acha111
nas l)I'oximidades de São Leo1)oldo e lVIonteneg1·0. Estes
mo1·ros são to1·1·ões da antig·a })latafo1·n1a que ainda não fo-
1·am a1·rasados })ela e1·osão. En1 n1t1itos clêles ai11da se achan1
1·estos da ca1)a efusiva nos to1)os.
A e1·osão na De1)1·essão Cent1·al já t1·abalha há n1t1itos
111ilênios nas camadas de a1·enito. Po1· isso 1)01· via de 1·e-
g1·a seu solo é ele a1·eia, 111istt11·aela com alg·uns det1·itos qt1e
vem de n1ais longe. Nos l)Ontos de conta to con1 as ot1t1·as 1·e-
giões, sob1·ett1do com a encosta elo })lanalto, há alt1viões de
te1·1·as fe1·tilíssimas. Po1· isso nestas 1·egiões se desenvolve
a mata vi1·gen1. Mas en1 todo o 1·esto a vegetação })01· via de
1·eg1·a é cam1)est1·e, fo1·a da bei1·a dos 1·ios en1 qt1e costt11na
ser de mato de g·ale1·ia e J)al t1st1·e.
l-Iá n1enos n1atos e mais cam})OS na ma1·gen1 me1·i-
dional do J acui. A1)esa1· disso na 1)1·in1eira fé1se 1·edt1ccio-
nal, havia sedes de J)ovos e i11ci1)ientes estâ11cias excl t1siva-
mente na ma1·ge1n setentrional. lVIêlS isto l)I'Ovén1 elo fato
de que os povos gt1a1·anis era111 agricultores, e 1)01· isso n1es-
1no J)1·efe1·ian1 a ma1·ge111 setent1·ional l)Or c-at1sa dos n1atos
de que 1)1·ecisavam 1)a1·a os set1s 1·oçados. Na segt1nda fase
das 1·edt1cões
., de 1680 e1n diante ha,1 ia só estâncias na De-
J)1·essão Cent1·al, na 111arg·e1n norte a estância ele São Lt1iz e
na ma1·gem sul a de São Lot11·enço.
Rest11ninelo: na De1)1·essão Central l)1·edomina o can1po
po1· causa de 1·elativa J)ob1·ezê1 do solo.

15. A acessibilidade dct Depressão Cent,·al deve sei·


conside1·ada teo1·etican1ente ele t1·ês g1·andes 1·incões: t1111a
ao no1·te do J acui, ot1t1·a ao st1l e out1·a entre os galhos de
seus dois últimos g1·andes afluentes. O 1·incão na 111arge111
norte estava fechado l)elo J acui e J)elos 1·ios que soben1
pa1·a no1·te inte1·nando-se na encosta ela Se1·1·a e na mata
vi1·gem qt1e ali se acha. E1·a t1111 1·eci11to do qt1al o g·aelo
não sairia nem ent1·a1·ia tão fàcil111ente, po1· causa da bar-
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 21

1·ei1·a veg·etal e hidrog·r{i ficê1, alén1 da 01·og·1·áfica que era a


Ser1·a Ge1·al. O 1·i11cão elo st1l esta.va ba1·1·aelo 1Jela Se1·1·a do
Sueleste, 110 leste 1Jelo Vacacai, qt1e ent1·etanto deixava en-
t1·ada e saída fácil }Jo1· ent1·e êl:S cabecei1·as do Vacacai e Ca-
n1aqt1ã. De fato t1ma }Jonta ele gaelo que e111 1637 o.u 38
esteve solta na 111a1·ge111 st1l do J act1i saiu 1Jo1· esta JJorta,
aj t1dando a for111a1· i1 fê1111osa ·\ r acaria do lVIai·, qt1e se enca-
n1inhava JJ,11·a sul en1 di1·eção a Bag·é. O 1·incão ent1·e os (11-
timos gall1os fo1·111ado1·es do J act1i estava fechado êlO no1·-
te 1Jelê1 Se1·1·ania, a leste e oeste JJelos afl t1entes dos Rios J a-
cui e lbicui. Pa1·a st1l tinha ca1·1·eira liv1·e e1n di1·ecão a Ba-
~

gé e lVIaldonado. Foi ele f ê1to nesta eli1·eção qt1e co1·1·et1 o g·a-


do for111anelo o JJla11tel JJ1·i11ci1Jal da Vaca1·ia do lVIa1·. Os 111a-
}Jas das JJoste1·io1·es estâ11cif1s, qt1e l1ot1,1e e111 tôdas estas 1·e-
giões, confi1·man1 exatamente esta teo1·ia, JJ01·qt1e seus lin1i-
tes se1111J1·e são forn1ados 1Jo1· estas ba1·1·ei1·as hid1·og·ráficas e
01·og1·áficas natt11·ais.
Con1 refe1·ência a ot1t1·as 1·eg·iões natt11·ais, a De1J1·essão
Ce11tral se1·ia acessível co111 1·elativa facilidê1cle ela JJa1·te da
Se1·1·a do St1deste e da JJa1·te da Cam1Janha do St1eloeste. Se-
1·ia inacessível da JJa1·te cl,1 Faixa Lito1·ânea enqt1anto esta
está ent1·e o 111a1· e as g1·andes Lagoas. Dêl. 1Ja1·te do Pla-
11alto esta1·ia }J1·àtica111ente inacessível, }Jo1·qt1e os campos da
Vaca1·ia não tinha1n Sê1iel,1 natt11·al algt1n1a; os ca1111Jos mais
1Ja1·a oeste dificil111ente encont1·ê11·ian1 u1na i1b1·a de cam1Jos
na aba dii Se1·ra }Ja1·a se a1·1·isca1·e111 a descei· os gados, se
se encont1·assen1 en1 cima da Se1·1·a. Talvez n1esmo só danclo
volta }Jelas cabecei1·as do Ij t1i e Pi1·atini, 1J1·oct11·ando dês-
tes 1·incões atingi1· a Can11Janha elo Sudoeste e a De1J1·essão
Cent1·al. lVIas 1Jo1·n1eno1·es sôb1·e ent1·adas e saídas natt11·ais
1Ja1·a o gado e JJa1·a o Planalto veremos ao t1·ata1·mos des-
ta 1·egião natt11·al do Estado.

16. Po1·111eno1·es dct Dep1·essão Cent,·al. lVIais 1Jo1·me-


no1·es se e11cont1·a1·ão e111 Rambo: A Fisionon1ia. . . }Jg. 132-
143, en1 qt1e se desc1·eve111 detalhadamente as vegetações
cam1Jest1·es, }Jalt1st1·es e silváticas; e em }J,\ginas 150-162,
em qt1e se desc1·evem as 1Jaisage11s da De1J1·essão Cent1·al.

O Planalto.
17. A aptidão. O PI anal to te111 111ais ou n1enos a fo1·-
n1a de meia l t1a, con1 o a1·co fo1·111ado JJelos A1Ja1·ados da
Se1·1·a e o 1·io Pelotas-Urug·t1ai. O diân1et1·0 ot1 co1·da JJas-
sa1·ia IJela Se1·1·a Ge1·al desde São Borj a a To1·1·es a1J1·oxima-
22 PESQUISAS 11180, HISTÓRIA N.O 13

.
damente. Constitui quase a n1etade do Estado ou seja t1ns
150.000 Klms quad1·ados. Os solos são 01·iginéí1·ios da de-
composição de e1·u1)tivas recentes ent1·e as quais se destaca
o meláfiro amigdalino. Po1·tanto solos férteis, onde a de-
com1)osição já a1)rofundou bastante. A êste fato1· edáfico
alia-se o fato1· chuva. As camadas de umidade do a1·, em-
batem cont1·a a encosta da Se1·1·a, levantam-se e, com isto,
esfriam-se, l)reci1)itando-se em chuvas abundantes. Po1· isso
})1·edomina o mato em clt1as g1·andes co1·das das quais uma
se estende clesde To1·1·es até qt1ase o U1·uguai, ao longo da en-
costa da Se1·1·a, e out1·a, na J)a1·te O})osta do Planalto, ao
longo do Uruguai-Pelotas. Destas duas linhas o mato avan-
ça Planalto a dent1·0, ao longo dos vales, con1 espessu1·as
que em ce1·tos l uga1·es chegam a cen1 · e mais l{lms de ex-
tensão; nas cabecei1·as do Taqua1·i e do J acui chegan1 a to-
cai· os matos que soben1 do U1·ugt1ai. Talvez se possa dizei·
que com mais t1ns dez ot1 quinze mil anos o mato ocupa1·ia
tôda a á1·ea do Planalto, já qt1e as condições de clima e so-
lo o pe1·mitem })e1·feitamente. Estes fato1·es ocasiona1·an1 a
aptidão ou falta de a1)tidão do Planalto })a1·a a })ect1á1·ia
em g1·ande escala. As duas g1·andes faixas de mato, a st1l
e a no1·te do planalto, excluem a pecuá1·ia e são ext1·ema-
mente favo1·áveis a uma intensíssima ag1·icultu1·a à moda
eu1·01)éia. l\1as o diviso1· de águas ent1·e as duas faixas dei-
xot1 uma g1·ande área ainda não ocu1)ada })elo mato. A área
é algo sinuosa e com est1·angt1lan1entos segundo avançam
mais ou menos as cabecei1·as dos 1·ios de ambos os lados,
levando consigo o mato em set1s vales fé1·teis ca1·1·egados de
água. A começai· pelo leste e segundo o ma1)a fitogeog1·á-
fico })Ublicado po1· Rambo em sua A Fisionon1ia do Rio
G1·ande do Sul, temos en1 })1·imei1·0 luga1· cam})OS isolados a
leste de Lagoa Ve1·melha. São os antigos camJ)OS da «Va-
ca1·ia». Depois em redor de Passo Fundo e dai })a1·a oeste
temos muitas e g1·andes n1anchas de campo, que se diri-
gem em sentido ge1·al })a1·a sudoeste, sem1)1·e ent1·e os di-
visores das ágt1as do Jacui e do Ijui. Na altu1·a de Cruz Al-
ta se encont1·am com alguns campos qt1e vên1 s!.1bindo a
Campanha do Sudoeste. Isto en1 linhas ge1·ais quanto a com-
pos e matos da Planalto.

18. Na acessibilidade do Planalto })a1·a a exJ)ansão na-


tural do gado temos que distingui1· as dive1·sas 1·egiões. Os
campos da Vaca1·ia, que apont a1nos já no nún1e1·0 l)1·ece-
dente, por via de reg1·a, devia1n de estai· absolutan1ente ina-
cessíveis à expansão intei1·amente natural do gado, })01·que
estavam inteiramente fechados de todos os lados com bar-
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 23

1·ei1·as natt11·ais. No st1l a n1ata vi1·gem da Encosta da Se1·-


1·a. No leste os A1)a1·ados da Se1·1·a con1 des1)enhadei1·os
ab1·t11)tos de cê1·ca de 111il 111et1·os de altt11·a, 1·evestidos ta1n-
bén1 de n1ata vi1·ge111. No no1·te o rio Pelotas e as matas
vi1·gens elo U1·t1g·uai. No oeste t1n1a faixa de n1ato que su-
bia ele alguns fo1·n1ado1·es do Taqt1a1·i e se encont1·a,ra com
o inato que st1bia da cont1·ave1·tente. Esta in1ens~1. cê1·ca na-
tt11·al foi 1)1·ecisan1ente o qt1e en1 1712 le\10tl os ínclios e l)él-
d1·es a intentai· lá a fo1·111acão, cl t1111a Vaca1·ia a1·tificial. Pu-
se1·am 80.00 vacas con1 a intenção de abandoná-las a si n1es-
111as, e, quando tivesse111 ati11giclo un1 1nilhão de cabeças, i1·
ti1·a1· cada ano cê1·ca de 300. 000 cabeças. lVIas pa1·a atingir
os cam1)os que êles chama1·a111 e ai11da hoje se chamam da
Vaca1·ia, tive1·am qt1e ab1·i1· t11na l)icacla de uns 30 Klms de
extensão at1·avés elo n1ato.
Pode-se dizei· en1 ge1·al que todos os out1·os can11Jos
do Planalto têm 111ais ou n1enos ligação entre si 1)01· meio
dos cliviso1·es de águas ainda não ating·iclos pelo avanço do
mato. E stlJ)ondo })ossível enfia1·-se o gado })01· e11t1·e as ca-
becei1·as dos 1·ios, tan1bén1 di1·en1os qt1e l1avia ligação ent1·e
os cam1)0s do oeste do Planalto e as ê1.1·eas campest1·es da
Can11Janha do St1doeste qt1e ficavam na n1a1·gem setent1·ional
do Ibicui. C1·en10s ent1·etanto qt1e o gado natu1·al1nente não
ti11ha J)assagen1 l)êlra os ca1111)os qt1e ficavam ao sul do dito
Rio e J)a1·a a De1)1·essão Cent1·al, 1)01·que os fo1·n1adores se-
te11t1·ionais elo Ibicui se enfiam nas se1·1·anias a oeste da
att1al cidade de Santa Ivia1·ia. Isto se confi1·ma J)elo fato
histó1·ico qt1e as t1·01)as de gaclo qt1c mais ta1·de se levavan1
das estâncias dos !)Ovos situadas ao sul do J acui e Ibicui,
st1biam 1)01· l)icadas l)enosas abe1·tas na Se1·1·ania a no1·oeste
de Santa l\1a1·ia. l\ilas não se1·á i1111Jossível que em anos de
secas ext1·ao1·diná1·ias os 1·ios qt1e bar1·avan1 a passag·em pa-
r a sul, secassen1 a tal ponto qt1e dessem passagem nos váus
mesn10, }Ja1·a gado intei1·amente entregue a si n1esn10.
Em 1·esu1110 })ocle-se clize1· que o Planalto todo e a JJar-
te ela Ca1npanha elo Sucloeste qt1e ficava acima do Ibict1i
era inacessível à ex1)ansão natu1·al elo g·ado, que 1Ja1·tisse
das ot1t1·as 1·egiões natt11·ais da Banda 01·iental ot1 de fo1·a
dela. E qt1anto à acessilJilid::1de das á1·eas campest1·es do
J)1·óp1·io Planalto, havia inacessibilidade. natu1·al ent1·e os
ca1111Jos de leste e os do oeste do Planalto.

19. Porn1eno1·es. Quanto a l)Or111eno1·es de can11)os e


111atos no Planalto diz Rambo e111 Slia «A Fisionomia do Rio
Grande do Sul», l)ágina 216, q ~:c 6 tu1·efa difícil se11ão im-
J)ossível cleli1nita1· as porções Cê1n11Jest1·es ott silvestres do
24 PESQUISAS lQl!O, HISTÓRIA N.O 13

Planalto, 1Jo1·qt1e se acl1a111 disseminados po1· tôda a }Jarte,


01·a 1J1·evalece11do en1 absol t1to, 01·a 1·eco1·tando-se em 1·een-
t1·âncias n1utuan1ente. De IJáginas 248 a 306 se descrevem
ent1·etanto muitas l)aisagens do Planalto en1 que a1Ja1·ecem
bastantes 1Jo1·meno1·es, embo1·a sob out1·0 lJOnto de vista. Nos
n1a1Jas n1ode1·11os dos municípios não a1)a1·ecen1 mais os n1a-
tos, po1·que a zona já foi intensamente des111atada.

A APTIDÃO E ACESSIBILIDADE ARTIFICIAL NA


ANTIGA BANDA ORIENTAL

Deiinição da aptidão e acessibilidade a1·tificial

20. Definição da aptidão c11·tificial pa,·a a c,·iação de


gado. Chaman1os a1Jtidão a1·tificial dun1a 1·egião pa1·a a
c1·iação de gado a t1·ansfo1·mação, 01)e1·ada l)elo homem, da
te1·1·a e de st1as condições, de modo que a que antes e1·a
ine1Jta ou menos aJ)ta, agora se to1·na aJ)ta ou n1ais a1Jta.
A t1·ansfo1·mação natu1·almente }Jode sei· positiva ou nega-
tiva. Negativa, se e1·1·adica condições que antes in11Jediam a
c1·iação de gado, con10 1Jo1· exe1n1Jlo o des111atan1ento que c1·ia
um ca1n1Jo, a d1·enagen1 que seca un1 banhado, de tal fo1·ma
que a diminuição da água mata os JJastiçais in1p1·estáveis
e favo1·ece as g1·amíneas, que se contentam con1 menos água.
Pode tan1bém sei· 1Jositiva }Jela int1·odução ele fo1·1·agens boas
ou melho1·es do que as qt1e havia antes.
Cre1nos que, 1Jo1· via de 1·eg1·a, não houve nada disso na
antiga pecuá1·ia em tôda a Amé1·ica do Sul, JJelo n1enos não
nas 1·egiões da bacia do P1·ata e sul do B1·asil. P1·imei1·0
1Jo1·qt1e não havia os meios pa1·a isto e segundo JJ01·que não
havia nenht1ma necessidade, uma vez que abundava o cam-
IJO de qt1alidacle 1·elativan1ente boa. As estâncias de São
Miguel e J aJJej u tinham n1ais de 30.000 Klms quad1·ados ca-
da uma. As meno1·es de ot1t1·os povos não baixavam muito
de t1·ês a quat1·0 mil Kln1s quad1·ados. Como falai· então,
no temJJO do t1·abalho exclt1sivamente b1·aç3:l, em t1·ansfor-
ma1· á1·eas de ineJJtas pa1·a a1Jtas? !
Exemplos f1·isantes da adaptação mode1·na são as }Jasta-
gens artificais, que se c1·ia111 em todos o·s Estados do B1·a-
sil e do Rio da P1·ata. Na A1·gentina os infinitos «n1olinos»
ou bombas de catavento que })uxan1 a ágt1a do subsolo pa:ra
a su1Je1·fície, to1·nando J)ossível :1 c1·iação de gado en1 ce1tte-
nas de milha1·es de Kln1s quad1·ados de ca111pos qt1e a11tes
.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 25

não tinham suficientes aguadas à st1pe1·fície 1Ja1·a t1n1~l lo-


tação condensacla de gado.

21. Definicão
.. de acessibilidade a1·tificial. Definimos
po1· exen11Jlos. A Faixa Lito1·ânea e1·a natu1·aln1ente ina·ces-
sível 1Ja1·a o gado das l\1issões. Mas os IJ01·tugt1eses a1·1·eba-
nha1·an1 gado na cam1Janha ao st1l da Lag·oa Mi1·in1 e o ob1·i-
ga1·am a passai· a ba1·1·a da Lagoa dos Patos en1 Rio G1·ande.
Desta manei1·a a Faixa Lito1·ânea torna-se ou e1·a acessível
ao gado . a1·tificialmente. Os 1Jad1·es e índios funda1·a111 a Va-
ca1·ia dos Pinhais na hodie1·na Vaca1·i~t. Pa1·a isto ab1·i1·an1
t1ma JJicada de t1ns 30 I{lms ~it1·avés dos n1atos castelhano
e português a oeste de Passo Fundo. Isto foi em 1712. Em
1727 os lagunistas descob1·i1·am aquele gado ou ao menos
neste ano con1eça1·an1 a inte1·essa1·-se JJ1·àticamente IJOl' êle,
ab1·indo po1· st1a vez JJicadas ou n a encosta da Se1·1·a ou na •
encosta dos A1Ja1·ados ot1 IJOr sôb1·e o Rio Pelotas clesde o
JJlanalto Catarinense, }Ja1·~1 o Planalto Riog1·anclense. En1
ambos os casos os can11Jos da Vaca1·ia dos Pinhais e1·am na-
turaln1ente inacessíveis 1Ja1·a o gado, mas não a1·tificialn1en-
te. Out1·0 exem1Jlo é da ft1ndação da JJecuá1·ia. O gado tinha
que vir do lado ocidental do U1·ugt1ai, JJassando JJ01· êste 1·io,
em1Ju1·1·ado à f ô1·ça JJelos JJad1·es e índios t1·01Jei1·os. De mo-
do se1nelhante em dezenas de ot1t1·os casos nos }Jassos dos
rios da mesma Banda 01·iental. Os 1·ios e1·a111 t1ma bar-
1·ei1·a hid1·og1·áfica que foi a1·tificialmente 1·emovida JJelo in-
fluxo do home111, qt1e ob1·ig·ava o gado a JJassa1· a vat1 ou a
nado. - En1 caminhos muito t1·a11sitados const1·ui1·ian1 tan1-
bém JJontes JJara t1·ans1Jô1· mais fàciln1ente as canhadas de
ab1·u1Jtas ba1·1·ancas. C1·istóvão Pe1·ei1·a de Abreu, na est1·a-
da gadei1·a que 1·efo1·mou, desde A1·a1·angt1á até São Pat1lo,
teve que const1·t1i1· 1nais ele 300 }Jo11tes. Coisa sen1elhante f~1-
1·iam os índios nos can1inhos do gado 1Ja1·a os Povos. Nas
longas picadas de matos se.n1 }Jasto con11Jetente 1Ja1·a o gado
se1·ia JJ1·eciso at1·01Jela1· a n1a1·cha dêste IJa1·a chegai· com
tem1Jo a á1·eas cam1Jest1·es.
Po1·tanto entende1nos 1Jo1· acessibilidade a1·tificial })1·i11-
ci1)almente a ,·emoção de ce1·tas barrei,·as, a acele1·ação da
marclia, o ac1·escenta1nento de i1npulsos }Ja1·a at1·avessa1· t1n1a
ba1·1·ei1·a que aliás o gado não at1·avessa1·ia.

22. T1·aços gerais da aptidão e acessibilidade a1·tificial


na antiga Banda O,·iental.
C1·emos qt1e nos 1Jri111ei1·os séculos da pecuá1·ia no Rio
da P1·ata e na Banda 01·iental nt1nca se fêz nada para au-
menta,· a aptidão natural da te1·1·a JJa1·a a c1·iação de gado,
26 PESQUISAS 11160, ffiSTóRIA N,O 13

r1e1n da 1Ja1·te dos índios e }JG tdres, nem da 1Ja1·te dos es-
}Janhóis e dos JJ01·tuguêses qt1e lhes s t1ceele1·am. Nos docu-
111entos 11t1nca aflo1·a 111enção alg·t1111a ela cle1·1·ubada ele ma-
tos e ca1)oei1·as 1Ja1·<:1. a finalidaele de c1·ia1· melho1·es }Jasta-
gens. Não se ottve naelé1 de d1·enagens de êÍ.guas, de i1·1·i-
gação, de 1·e1J1·esas e açudes, ne1n do estabelecin1ento de 1Jas-
tage11s artificiais, 11e111 seqt1er, }Jelo 111enos n ê"lS 1nissões, a
ad111inistração de sal ele cozinl1a ao gado, uma vez que n1es-
1110 }Jara os l1on1cns só l1avia sal nas g1·andes festas elas 1·e-
duções. A (111ica a1Jtidão artificial co11sistiria na quein1a
ant1al dos cam1Jos, qt1e os í11elios conhcce1·iam do gosto ele
veados e ot1t1·0s a11i1nais }Jela ten1·ê1. veg·etação qt1e se levan-
ta de1Jois das qt1eimadas, JJelo exen11Jlo dos es1Janl1óis, JJela
i11sistê11cia dos 1nesn1os }Jadres, que trazian1 o costt1n1e das
estâncias de seus colégios.

23. Outra coisci e,·a ci cicessibilidade cr,·tificial. Deve-


111os clistingt1i1· a acessibilidade a1·tificial qt1e l1avia J)a1·a o
g·ado descle o laclo ele fora }Jara dent1·0 da Banda 01·iental
e a qt1e havia ent1·e as dive1·sas 1·egiões ela n1esn1a Banda
Orientê1I ent1·e si . Tan1bén1 clistingt1i1· ent1·e as acessibilida-
des }Jossíveis que havia e as que de fato fo1·am efett1adas.
To111en1os JJ1·imei1·0 as acessibilidades a1·tificiais de fo1·a }Ja-
l'ê'l. dent1·0, e ent1·e estas, e111 }J1·imei1·0 Juga1·, as qt1e e1·an1
}Jossíveis, ainda qt1e nen1 se1n1J1·e de fato efetuadas.

23 bis. Acessibilidade artificial por vias 11za1·ítinzc1s. On-


de e1·a 1Jossível lançar g·ado na Banda 01·iental 1Jo1· via 111a-
1·íti1na?
Lançai· nos }Jo1·tos de Santa Cata1·ina e fazei· ma1·cha1· e
ent1·a1· 1Jela }Jo1·ta de To1·1·es !1ão ent1·a neste caso. O })ô1·-
to elo Rio G1·ande JJe1·miti1·ia, ai11da que com extrcn1a elifi-
culdade, a ent1·acla de navios co111 gado. Não JJela difict1lda-
de da ba1·1·a em si mesn1a, mas }Jo1·que a ba1·1·a estava em
}J1·aia tão 1·asa, que diflciln1e11te os navios ace1·tavam o ca-
nal. 1\1esn10 em 1737, na ft1ndação do Rio G1·ancle JJ01· Silv~i
Pais, a ba1·1·a ai11cla 1·ecebia a qt1alificação de diabólica JJ01·
cat1sa da st1a invisibilielade, a1Jesa1· de já se acharero cami-
11hando }Jo1· lá os lagunistas a n1ais de 40 .anos. Já no es-
tuá1·io do P1·ata havia os portos de Maldo11ado, de 1'1onte-
vidéu e de Colônia, e talvez t1ma qt1e out1·a enseada n1ais
p1·onunciada~ e ainda a (1ltin1~1 J)a1·tc do Rio U1·uguai. To-
elo o 1·esto da costa atlântica ó tão 1·aso e 1Je1·igoso, qt1e se
pode dizei· qt1e 11ão havia acess ibilidade J)o1· vi:1 ma1·ítima.
De fato, 1Jo1·ém, nenht1ma destas possibilidades n1 ~11·ítimas
foi ap1·oveitada. E não foi ap1·oveitada po1· 1Jo1·tugt1eses po1·-
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 27

que obstava a 1·esistência l)olítica ela Es1)anha. Não foi a1)1·0-


veitada 1)01· Es1)anl1a, 1)01·qt1e lhe sob1·ava gado, e te1·1·a J)a-
1·a gado, l)e1·to ele suas cidades.

24. Acessibilidades artificiais po1· via te1·1·estre. Teo-


1·êtican1ente l)Odei·ia111 te1· int1·odt1ziclo g·ado J)Ol' via te1·resti·c
muitas nações, n1as 1)1·àtican1ente só ent1·am e111 questão os
1)01·tugueses, os es1)anhóis, os índios com os l)adres.

24 bis. Acessibilidade a1·tificial ter1·est1·e pcira os por-


tugueses. Havia evidentemente ta11tas J)ossibilidades qt1a11-
tas havia de ent1·a1·e1n os J)o1·tug·t1eses na Banda 01·iental 1)01·
via te1·1·est1·e. P1·imei1·an1ente l)Ode1·ia111 de qt1alque1· 111anei-
1·a chegai· con1 gado aos 1)01·tos de Santa Cata1·ina e lançai·
o gado 1)01· via te1·1·est1·e l)ela })orta de To1·1·es. De1)ois l)O-
de1·iam descei· sôbi·e o })lanalto J)at1lista, J)t:l1·a11êle11se e ca-
ta1·inense até Lages mais ot1 n1enos. Daí J)ocle1·iam descei·
(como mais ta1·de st1bi1·a1n) })a1·a Arara11gt1á e e11t1·a1· })Ol'
To1·1·es. Ou JJoclerian1 e11t1·a1· at1·avés do Rio Pelotrts no Pla-
nalto Riogi·ande11se e daí JJ01· })icaclas descer ot1 os AJJêli·a-
dos da Se1·1·a, ot1 J)elos vales dos 1·ios dos Sinos , Taqt1ari,
Pa1·do, J act1í, chegando assi111 à De1Ji·essiio Cent1·al, do11de
te1·ia1n can1inho aberto JJa1·a tôdêl él Banda 01·iental. Ott eles-
de o Planalto segui1· JJela divisa elas ág·t1as até a altt11·a de
C1·ttz Alta, doncle te1·iam acesso (a1·tificial, se e11tende !)
J)a1·a a Cam1)anha do Sudoeste e JJa1·a toda a Ba11cla 01·ien-
tal. Ou ainda no JJlanalto Pa1·anaense e11can1i11ha1·-se 1Ja1·a
o Pa1·aná, descei· na st1a 1na1·g·em di1·eita ou esqt1e1·da até
uma altt11·a conveniente de alcançai· o U1·uguai, qt1e ti·ans-
J)osto lhes da1·ia acesso a1·tificial, }Jara o g·ado qt1e levasse1n
a tôda a Banda 01·iental. Poi·tanto t1·ês vias de entrada te1·-
1·est1·e J)ossíveis 1Ja1·a os }Jo1·tt1g·t1eses: u111a a leste, ot1t1·a a
no1·te, out1·a a oeste ela Banda 01·iental. - Ac1·escente111os
logo que JJ01· tôclas esta,s vias e11t1·a1·a111 algu111a vez ban-
deii·antes ou J)o1·tugt1eses, 111.as nrinca t1·oxe1·an1 gaclo algu1n
consigo. E 1)a1·a qt1e t1·aze1· g·,1clo, se os bandeira11tes n t1n-
ca se inte1·essa1·am en1 ficai· na Banda 01·iental e quanto a
gado, o tinhan1 de sob1·a en1 São Pat1lo n1es1110? E' un1 êr1·0
histó1·ico g1·ave cha111a1· de bandeii·antes os J)at, listas que
fu11dai·am Laguna e Colônia e aj t1da1·am a ft1ndai· Rio G1·:1,11-
de. Pode sei· que algt1n1 dia os bandei1·antes antigos se te-
1·ian1 1·esolvido a se1· ft1nclr1,dores e t1·aze1· g·ado J)a1·a a Ba11-
cla 01·iental, se não fôsse111 tão du1·ame11te esca1·111cntados
em Mbo1·oi·é e se não se tivessen1 elesviado os setts inte1·êss cs
pa1·a as 1·eg·iões de 111i11as e ga1·in11)0s <:liamantífe1·os. Os ba 11-
dei1·antes, em ge1·al, nen1 sequer le\r,1\ran1 cavalos, po1·qt1e
28 PESQUISAS lg60, HISTÓRIA N.O 13

.
sua intenção e1·a at1·avessa1· os 111atos à cata de índios. E
para esta finalidade os cavalos só te1·ia111 esto1·vaclo })01· não
pode1·em segui1· os donos nas est1·eitas })icadas da.s n1atas
ce1·1·adas.
Parece qt1e a })ect1á1·ia de Lag·u11é1 co111eçot1 co111 gaclo
t1·azido })01· via n1a1·íti1na desde São Vicente e111 São Pat1lo.
1\1:as ben1 cêdo })erceberan1 os lag·u11istas qt1e nas can11)anhas
do sul n1a1·chavan1 dezenas e n1esn10 centenas de 1nilha1·es
de cabeças de gaclo VélCt1n1. Para qt1e, })Ois, levê11· g·ado lag·t1-
nista })ara a Bé1nda 01·iental? Talvez le,,é1sse111 gaclo 111eno1·
co1110 })01·cos, cabras e ovelhas, aincla qt1e ne111 isto consta,
qt1anto saibamos.

25. Acessibilidade ctrtificial para os espctnlióis. Po1·


n1a1· a n1es1na qt1e él elos })01·tt1gt1eses e de qualque1· out1·a
nacionalidade. Po1· te1·1·a, se ving·assen1 os estabelecin1entos
dêles na atual costa st1l do B1·asil, te1·ia1n })1·àtica1ne11te as
mesmas ent1·adas te1·1·est1·es })ossí,reis que os J)o1·tugucses.
Mas o caso é que não vi11g·a1·a111. Restan1 as acessibilidades
a1·tificiais te1·rest1·es desde as cidacles (Jt1e de fato ft1nda-
1·an1 no Rio da P1·ata. De Bt1enos Ai1·es })ode1·iam levai· g·a-
do J)or ágt1a ou també111 })01· te1·1·a, atravessando as ilhas
do delta ou va1·ando Ent1·e1·1·ios n1ais })a1·a o no1·te. De San-
ta Fé J)odian1 })assai· à bancla 01·iental do Pa1·aná e daí })a-
1·a o U1·ugt1::1i. De Co1·1·ientes })assai· até o U1·ugt1ai. De As-
sunção })assai· o Pa1·aná em Ita1)tIH. (Enca1·nación) ot1 C::tn-
delá1·ia e n1a1·cha1· até o U1·t1gt1ai. De todos êstes lt1g·a1·es,
un1a vez qt1e estivessen1 na Bé1ncla 01·iental, te1·iam acesso
a1·tificial ou natu1·al a tôda ela.

26. A Acessibilidctde artificial pa1·a índios e pad,·rs e1·a


a mesma qt1e pa1·a os esJ)anhóis. En1bo1·a l1avendo índi•Js g11a-
1·anís na Banda 01·iental, não ha,,ia gado ali.

Os esJ)anhóis não int1·oduzi1·am gado co111 f1·t1to })e1·-


n1anente 11a Banda 01·iental. Ve1·-se-á n1ais ta1·de que é bas-
tante ce1·to qt1e o gaclo que He1·nandá1·ias Ie,1ot1 de Bt1enos
Ai1·es en1 ba1·cos J)a1·a a Banda 01·ienté1l não teve a1·1·aiga-
mento pe1·manente. De fato os í11clios leva1·am gado vact1m e
cavala1· desde Corrientes e Santa Fé e gado meno1·, sob1·e-
tudo ovelhas desde Santa Fé e Bt1enos Ai1·es.

CONCLUSÕES.

27. Conclusões sôbre a aptidão e acessibilidade natu-


BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 29

ral. . . Não tomando e111 conta a difee1·nça que há na a1)ti-


dão das á1·eas ca1111)est1·es do Estado, t1mc:1 vez qt1e l1á ca111-
l)OS de })1·imei1·a, de seg·t1nda e de terceira qt1alidade, e ate11-
denclo a1)enas à J)1·edon1inftncia Oll 11ão dos can11)os sôb1·~ os
inatos, ten1os a })alav1·~l de Rambo en1 <<i\ Fisio110111ia do Rio
G1·ande do Sul», P. Aleg1·e 1942, })g. 319: «A1·1·edondando
os nú111e1·os })odemos dizer qt1e cê1·ca ele dois qt1intos são
mato, t1·ês quintos são camJ)OS. Ot1 seja em núme1·0s absolt1-
tos 131.986 Kln1s qt1ad1·ê1dos são de can11)os, 98.327 são de
mato, o 1·esto 11ão são nen1 n1atos, nen1 ca1111)0s J)l'O})l'iamente
ditos, n1as fo1·n1ações inte1·n1ecliá1·ias, con10 ce1·1·ados, ,,eg·eta-
ção lito1·ânea, cam1)os inundáveis, e ot1t1·as á1·eas, qt1e ent1·e-
tanto })Oclen1 de alg·t1ma 111anei1·a sei· adnt1n1e1·ados às dt1as
catego1·ias ante1·io1·es })1·i11ci1)ais».
Qt1anto ao 1·esto da Banela 01·iental. . . «Todo o U1·uguai
(Re}). 01·iental do U1·ugt1ê1i) é 1·e,resticlo de can11)os; de vege-
tação flo1·estal só existe111 ca1)ões, g·alerias, e 111ata de J)e-
qt1enas })l'OJ)o1·ções nos It1g·a1·es 111ais fé1·teis e ab1·igados en-
tre os n101·1·os. Tt1clo isto cle,rielo à })ob1·eza do solo, ao clin1a,
à J)ouca cht1va e fo1·tes ventos do st1l». (Ran1bo, ibidem, J)g.
330).
Qt1anto à acessibilidade natu1·al da Banda Oriental })a-
1·a a })enet1·ação es1)ontânea do gado ten1os qt1e, se o gado
estivei· fo1·a da Banda 01·iental, ela fica natt11·almente ina-
cessível })01· cat1sa das ba1·1·ei1·as natu1·ais qt1e a ce1·ca1n.
· Quanto à acessibi]iclade inte1·na ten1os vá1·ias })a1·tes qt1e
são natt11·almente inacessíveis desde as ot1t1·as })a1·tes. Mas
esta inacessibilidade inte1·na terr1 g1·adt1ação dife1·ente. As-
sim a Faixa Lito1·ânea e os camJ)OS da Vaca1·ia e1·a111 total-
mente inacessíveis à ex1)ansão intei1·amente natt11·al do ga-
do. Os cam})OS qt1e fican1 ao no1·te elo lbicui e acima elo
})1ana1to na sua J)a1·te n1édia e ocidental são n1uito inaces-
síveis, ainda qt1e menos do qt1e as duas J)a1·tes ante1·io1·-
n1ente citadas. No 1·esto ele tôda a Banda 01·iental há 1·in-
cões que fo1·mavan1 n1ais ta1·de estâncias, sinal de que as
ba1·rei1·as, qt1e as se1)a1·avan1, e1·an1 01·dinà1·ian1ente im1)as-
sáveis pa1·a o gado, sob1·etudo se nas })Ot1cas po1·tas que ha-
via se colocavan1 os índios l)ostei1·os. Tais 1·incões e1·am so-
b1·etudo o te1·1·itó1·io ao no1·te do J acui, o de dent1·0 da Se1·-
1·a do Sudeste, o 1·incão forn1ado l)elos 1·ios Ij ui e lbict1i, Ibi-
ct1i e Rio N eg1·0, Rio N eg·1·0 e Santa Lt1cia. Mas note-se qt1e
todos êstes 1·incões e1·a1n só 1·elati\ran1ente inacessíveis. O
qt1e é o n1esn10 qt1e dizei· qt1e e1·am 1·elativamente acessíveis.
Havia aJ)enas mais difict1ldade nestas 1)a1·tes do qt1e na 1·e-
gião qt1e co1·1·ia da att1al Santa lVIaria J)a1·a o sul, em di-
reção a Bagé e Maldonado. Aí 11ão havia ba1·1·ei1·a algt1ma
30 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.O 13

e esta e1·a a 1·azão 1)01·q11e aí se fo1·111ot1 a fa111osa Vaca1·ia do


lVIa1·, de qt1e fal,tre111os n1ais tê11·de.

28. Conclusões sôbre aptidão e acessibilidade a,·tificial.


O linico infl t1xo ht1mano sôb1·e a1)tidão ot1 n1aio1· a1)tidão dos
ca1n1)os que se conhece I1êl histó1·ia, tal vez seja a qt1ein1a
an t1al dos can11)os.
Qt1anto à acessibilidade a1·tificial dos ca1n1)os natu1·ais,
l)Oden1os 111enciona1·, sobrett1c1o, a abe1·tt11·a de })icadas na
ba1·rei1·a de n1atos, qt1e veclas3en1 o acesso a algt1ma 1·egião
campest1·e a1)1·oveitável })a1·a a c1·iação, de 1nodo que o gado
J)assasse J)o1· si 111esn10 ot1 tocaclo J)Ol' ,raquei1·os httmanos.
Além disso e111 ge1·al a violenta cond t1ção das t1·01)as at1·a-
vés de ba1·1·ei1·as hid1·og1·áficas ot1 orog1·áficas, qt1e })01· si
mesmo o gado não l)êlSSa1·ia.
Exen11)los clássicos são os can1inhos, as })icadas, os pas-
sos dos 1·ios qt1e ve1·emos mais ta1·de ao t1·ata1·mos de Va-
ca1·ia, e estâ~cias.

CAPíTULO SEGUNDO

1
IMPULSO E REPULSA NA DIFUSÃO ESPONTÂNEA DO
GADO BOVINO

INTRODUÇÃO.

29. Distinção fundamental. Não se })ode inct1lc,11· bas-


tante a g1·ande dife1·ença que há ent1·e a difusão intei1·a-
n1ente es1)ontânea elo gado e a expansão Ievacla a efeito J)e-
la mão h11n1ana. Esta clifusão fo1·çada cor1·es1Jonde à aces-
sibilidade a1·tificial de que falamos ante1·io1·mente, e que
consiste essencial111ente 11~1. 1·emoção de ba1·1·ei1·as, na ab1·e-
,·iação de etaJ)as, na adição de imJ)t1lsos 011 1·e1)ulsas aos im-
l)Ulsos e 1·e1)t1lsas natt11·ais do gado. Na difusão intei1·amen-
te es1)ontânea o gado fica ent1·eg11e a si mesn10, sen1 influ-
xo algum do hon1en1, nem no gaclo nem nas condições do
solo pa1·a onde vai o gado. C1·emos que hoje j á não exis-
te tal ex1)ansão intei1·an1ente esJ)ontânea de qualque1· espé-
cie de gado maio1· e 111enor 11a Amé1·ica Latina. Mas nos
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 31

te1n1)os da Conquista l1avia 110 Rio da P1·ata 111t1itas e g·ra11-


des Vacai·ias, em que se J)rocessa\7a a dift1são es1Jontânea.
Assim en1 Buenos Ai1·es havia a .dos cavalos descle 151!1 n1ais
ou me11os e a das vacas clesde 1580 en1 diante. Nas cidacles
de Santa Fé e Cor1·ie11tes as l1avia ele vacas e cavalos, · da
data da sua fu11dação en1 diante, sob1·ett1clo na n1a1·gem es-
quei·da do Pa1·aná. En1 Assu11ção talvez n1enos 1Jo1· havei·
n1enos cam1)0 desimJJedido à dis1)osição. Na Banda 01·ien-
tal houve a Vacaria do Ma1· ele 1640 e111 diante até entra-
do já o século seguinte. Qttase tôd::1s as out1·as cidades a1·-
gentinas do meio e do oeste tinhan1 as st1as Vaca1·i,1s e111
gi·att meno1· ou ·maio1·, onde o gado se elifundia es1Jontâ-
neamente.
A difusão foi·çada, en1 geral, p1·ececle c1·011olõgican1ente
à difusão es1)ontânea. Pois os }Jovoado1·es levavan1 o gado de
suas cidades de oi·igen1, e estal)e]eciam-no en1 estâncias, que
se achavam fechadas 1Jo1· algu1na vedação natt11·al: 1·ios, a1·-
roios, matos, banhados. . . Mas o g·ado ot1 })01· enchei· os 1·in-
cões das estâncias, ot1 })01· não encont1·a1· n1ais condições
de vida, como })01· exemJ)lo 1)01· ocasião das g1·andes sêcas
ott J)o1· outi·as causas, saia dos 1·i11cões da estância JJa1·a os
te1·1·enos baldios em contô1·no. Não havendo gente JJa1·a 1·e-
colhê-lo de novo ( como aconteceu en1 Bt1enos Ai1·es, e1n qt1e
duma feita n101·i·et1 a maio1· JJa1·te elos esci·avos, nun1a JJeste
que deu na cidade e no can11Jo), o gado se afasta cada vez
mais, escapa inteii·an1ente ela vista e do conti·ôle dos hon1ens,
se toi·na alçado, silvestre, «chin1ai·i·ão». E eis que está foi·-
mada a Vaca1·ia, eis o gado intei1·a1nente ent1·egt1e às leis da
difusão es1)ontânea. Então obedece exclt1sivan1ente aos seus
instintos e às condicões da natt1reza ambiente.
~

Na difusão ai·tificial sem1)1·e se im1Jõe de algun1a manei-


i·a a vontade do homen1. Enti·am tambén1 as leis da difu-
são natui·al, mas não exclusivan1ente, J)oi·qt1e o homen1 su-
l)ei·a as ba1·i·eii·as JJ01· n1eio de JJicadas, de IJOntes, de i·a1n-
})as de acesso, de at1·01Jelamento das eta1Jas, de modo que o
gado ati·avesse indene algumas ba1·1·ei1·as, que, entregue a
set1s instintos, não conseguii·ia passai·.
Antes de continuai· êste estudo deven1os })oi·tanto ali-
nhai· alguns dos fatoi·es que imJ)elem ot1 1·e1Jelem, algt1n1~lS
das bai·1·ei1·as qt1e se costun1am 01)ô1· nestas i·egiões à l)i·o-
l)agação es1)ontânea do gado. Falece-nos te1n1Jo, esJJaço e
competência })a1·a api·esentai· t11n esqt1ema comJ)leto e JJe1·-
feito, nem sequei· do que se dá 1)01· estas })artes. Nem J)ode-
mos evitai· intei1·amente a intei·1Jenet1·ação elas clefinições que
se nos ofe1·ecen1. A salinidade })ode ser de1nais e J)ode sei·
de menos No 01·imei1·0 caso é 1·e1)t1ls(,1 ativa e no segundo
32 PESQUISAS 1960, ffiSTôRIA N.O 13

caso é i·e1)ulsa negativa ot1 cai·encial. E n1es1110 en1 gi·adua-


ção suficiente })Ode havei· un1 n1ais e t1n1 n1enos, fazendo de-
clinai· pouco a J)ouco o gado do bom J)a1·a o ótimo. Vamos
})Ois chan1ai· a salinidade 11m fatoi· J)ositivo qt1e ati·ai ou um
fatoi· negativo que 1·e1)ele ou van1os dai·-lhe o 11ome de bai·-
i·eii·a, pois que no limia1· de uma zona de demasiada ou in-
suficiente salinidade existe, sen1 dúvida, algu1na, t1ma bai·-
1·eii·a, que obsta ao avanço do gado? - Assim se dá con1
ot1t1·os fatoi·es. - Poi· isto não se es1)ei·e neste ca1)ítulo uma
codificação comJ)leta e J)ei·feita, nem seqt1e1· elos fatoi·es que
se costt1mam (la1· na Banda 01·iental. Qt1eren1os apenas ali-
nhai· os conceitos fu11dan1entais , já que tanto se tem qt1e
mencioná-los na contin11acão dêste t1·abalho.
J

30. Divisão dêste capítulo. - Temos qt1e conside1·ar


as fôrças que at1·aem, as fôi·ças q11e 1·e1)elem, as bai·i·eii·as que
se opõen1 à n1a1·cha do gado, a J)i·o1)01·ção qt1e deve havei· en-
t1·e fôrças e bari·eii·as, JJa1·a estas podei·em sei· vencidas. Po1·
fim te1·íamos qt1e a1Jlicai· os conceitos na Banda 01·iental.

1. F(}r~ns positi,·ns que ntrnen1 o ga(lo para nlgu,na parte.


A «querenc1a>> (35)
A •

1. A comida (31) 5.
2. A bedida (32) 6. Os abrigos (36)
3. O instinto sexual (33) 7. o clima (37)
4. o instinto gregãrio (34) 8. A salinidade (38) etc.

2. Fôrças negnti,·ns <1ue afastam o gado <le algu1n lugar.


Conceito geral sôbre a relatividade de 'muitos fatôres negativos. (39)
Fatôres negativos em concreto.
Primeira classe: ausência absoluta ou relativa dos fatôres que
atraen1. ( 40)
Segunda classe: presença de fatôres que ativamente repelem. (41)

Animais maiores e menores


Homens (índios). que em nada cultiva1n o gado n1as apenas
se comportarn como feras inteligentes para com êle.

Fe11ô1nenos da 11atureza inanimada, causados por agentes


meteóricos ( chuvas, ventos, tempestades), l1idrográficos
(encl1entes ... ), climáticos (frios ou calores que ajam
sôbre o gado diretamente, 11ão mediante a comida e be-
bida tão sôme11te).

3. Barreiras que se 01>õe111 à prossecução da 111nrcl1a cspontt1nea do gado.

Conceito geral de barreira para o gado. ( 42)


Barreiras nP-gativas que se identificam co1n as fôrças que repelem
Barreiras positivas, que «ativamente i11terceptam a marcha» ...
BROXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 33

Distinção entre barreira absoluta e barreira relativa


Barreiras em concreto.
1. Barreiras hidrogrâficas . 2. Barreiras vegetais (44)
(43) 4. Barreiras • •
qu1m1cas (46)
• •
3. Barreiras orogrâficas ( 45) 6. Barreiras «soc1a1s» (48")
5. Barreiras climãticas (47) 7. Barreiras «raciais» (49) etc.
4. Proporção entre barreiras e íatôres para que a barreira seja vencida.
Dependência absoluta e relativa (50)
Proporção em concreto: confecção de escalas. . . (51)
ó. Áf)licnção de tudo à Danda Oriental (ó2)
1. Aplicação parcial em casos ocorrentes neste traball10 ...
2. Aplicação total, que ainda carece de muitos elementos de pre-
paração.

EXPLANAÇÃO.

FôRÇAS POSITIVAS QUE ATRAEM O GADO PARA


ALGUMA PARTE.

31. O pasto ou a comida. - T1·atamos apenas das pas-


tagens naturais ( ou to1·nadas natu1·ais })01· sua difusão na-
tural, se po1· acaso alguma fo1·1·agei1·a, não autóctone, esca-
par do cont1·ôle do homem). Não que1·emos entrai· em po1·-
meno1·es, n1as apenas ap1·esenta1· alguns tópicos que si1·vam
para coo1·dena1· uma discussão sôb1·e o assunto da difusão
es1)ontânea do gado. Have1·á luga1·es na Amé1·ica do Sul em
que falta o pasto totalmente. Na Banda 01·iental não há
tais trechos inteiramente p1·ivados de pasto, a não sei· })e-
quenas l)artidas na p1·aia do mar. Mesmo a mag1·a faixa de
a1·eias entre a Lagoa dos Patos e a costa do ma1· contém
tantas pastagens natu1·ais, que em 1730 havia bastantes es-
tâncias lagunistas po1· lá. Como 1uga1· de pasto nenhum po-
dia-se considerai· também a densa mata vi1·gem que cob1·e
a encosta da Ser1·a e as ma1·gens do Uruguai supe1·ior. Mas
neste caso a ausência já começa a ser 1·elativa. Fo1·a dêstes
dois casos ext1·emos, e de uma que out1·a mancha menor, o
caso da pastagem na Banda 01·iental é sem1)1·e relativo, isto
é, há casos de pouco, de suficiente, de abundante pasto l)a-
1·a o gado. Também há os casos em que a insuficiência ou
abundância é apenas tempo1·á1·ia, causada po1· fatô1·es even-
tuais, como sêcas, gafanhotos, geadas etc., não influindo pe1·-
manentemente na qualidade e qt1antidade do pasto. As cau-
sas permanentes estão no solo e no clima. Deve havei· ce1·-
34 PESQUISAS 11160, HISTÓRIA N.O 13

ta carência ele fertilidade e umidade l)a1·a im1)edi1· o su1·gi-


1nento de vegetações mais abundantes e deixai· a1)enas o 1·e-
vestimento g1·an1ináceo.
Po1· via de reg1·a todos os cam1)os da Banda 01·iental são
1·elativa1nente bons. No seu as1)eto ge1·al se pode dizei· qt1e,
se classifica1·mos os cam1)os do Planalto con10 de te1·cei1·a
qualidade, te1·en1os os da Ca1n1)anha do Oeste de segunda, e
os da f1·ontei1·a con1 a Re1)ública elo U1·ug·t1ai como de J)1·i-
n1ei1·a classe. Assim Sot1za Docca e ot1t1·os. Os campos da
De1)1·essão Central e de algumas })a1·tes boas da Faixa Li-
to1·ânea oscila1n no meio. l\Ias 11ote111os que en1 tôdas as 1·e-
giões há n1anchas ótimas, boas e n1enos boas.
Daí concluímos qt1e o fat.01· co1niela é aJ)l'0\7eitá,7el, n1as
não n1t1ito J)a1·2. conjett1r~t1· sôb1·e a n1a1·cha da dift1são es-
J)ontânea do g·ado na a11tiga Ba.nda Oriental. Tanto mais
que cm tôda a })a1·te te111os a co1111)licação com out1·os fatô-
res at1·aentes e 1·e1)elentcs, e con1 n.s ba1·1·ei1·as n1ê1.io1·es ou
meno1·es, que se lhe J)ossan1 OJ)Ôr.
C1·en10s qt1e a inte1·1)1·etação conj ett11·al da l1istó1·ia do
gado segundo o c1·ité1·io da melho1· ou I)io1· J)astag·e1n, só J)e1·-
mite t1mas linhas ge1·ais. O gado ft1gi1·á das 1·egiões e1111)a11-
tanadas, con1 suas g1·amíneas dt1ras e altas, 1)a1·a o to1)0 elas
cochilhas, onde os cam1)0s e1n g·e1·al sfto 111ais lim1)0s. E111
sentido ge1·al fugi1·ia, se fàcil1nente })ttdesse, do Planalto J)a-
1·a a Can11)anha elo St1doeste e desta })a1·a a 1·egião de Bagé
e Maldonado, po1·qt1e en1 linhas ge1·ais melho1·an1 os J)astos
nestas di1·ecões.
~

De 1·esto, c1·en1os qt1e o })asto causa1·ia a1)enas un1a ce1·-


ta nucleação de gado dent1·0 da 1·efe1·iela 1·egião, fo1·n1ando
n1anchas de })OJ)t1lação bo, i11a n1ais densa, ent1·e111eada de
1

lotações mais 1·a1·efeitas. 1\1:as não causa1·ia o abanclono to-


tal duma 1·eg·ião e111 benefício de ot1t1·a, a 11ão sei· qt1e in-
te1·venhan1 ot1t1·os fatô1·es ~.trae11tes ot1 1·e1)elentes.
De fato a Histó1·ia do gado a1)onta a n1a1·cha })a1·a st1l
sôb1·e a divisa das ágt1as do Atlântico e as do U1·ug·t1ê1i, 1)01·-
tanto exatamente no sentic1o do melho1·amento do pasto. lVIas
aqui influit1 g1·andemente a at1sência de ba1·1·ei1·as nesta di-
1·eção. Também não consta se a n1ig·1·ação do gado se fêz en1
fo1·n1a de enchente, qt1e fica no l t1ga1· 011de está e v~1i en-
chendo sem1)1·e mais novos l uga1·es, ou se se fêz e1n fo1·ma ele
nuvem que abandona um luga1· e vai pa1·a1· en1 ot1tro.

32. A bebida. Em ge1·al onde há J)asto tan1bém há


água. lVIas nem sen1p1·e. No 1JamJ)a a1·ge11tino há pastos po1·
centenas de Klms de extensão, e pode ser que no verão haja
dezenas e dezenas de Kln1s ele campo sem uma gôta de água
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUA Y I 35

à su1)e1·fície. lviocle1·nan1ente se vê uma flo1·esta de cata-


ventos desde Buenos Ai1·es até Có1·doba. Em 1·edo1· de ca-
da t1m se aglome1·a o gado J)a1;a bebei· da água qt1e o «mo-
lino» puxa do subsolo, onde se enco11t1·a em abt1ndância. •Em
tôda a Banda 01·iental, e mais no Rio G1·ande do St1! c1o qt1c
na Re1)ública do U1·uguai, o can11)0 está dob1·ado em ~oxi-
lhas, favorecendo o apa1·ecimento da água à st11)e1·fície. En1
muitos l t1ga1·es a água, que, J)a1·a cleixa1· a te1·1·a en1 cam1)0,
é demasiada, fo1·ma J)astiçais e 1nesmo n1atas ce1·1·adas. Pode
sei· que alguma sêca ext1·ao1·diná1·ia ob1·igue o gado a en1i-
g1·ar J)a1·a mais longe à p1·ocu1·a de água potável. Mas IJas-
sada a sêca volta1·á, se ele 1·esto há boas conclições.
C1·emos que o fato1· agt1acla po1· si só nunca consegt1i1·ia
fazei· qt1e o gado na Banda 01·iental abandonasse totaln1en-
te un1a 1·egião, mesmo J)orqt1e sem ágt1a nunca te1·ia ent1·a-
do nela. Em tô<la a }Ja1·te há aguadas n1ais ou menos abt1n-
dantes, n1as nunca faltam de todo. C1·emos que a conexão
ent1·e JJastagens e agt1adas J)ode causai-, como dissen1os aci-
ma da JJastagem, t1ma certa nt1cleação do g·acto cn1 n1an-
chas ben1 lotadas, mistu1·adas com manchas vazias ot1 me-
nos bem lotadas. lVIas também é concebível, que na di1·eção,
em que melho1·am pastos e agt1adas se p1·odt1za uma cor1·en-
teza migratória mais fo1·te, devido à maio1· J)1·oc1·iação e so-
b1·evivência e devido à mais forte att1ação do instinto g1·e-
gário etc.
Devemos antecipai· aqui que uma ci1·ct1nstância muito
impo1·tante da bebida é a sua salinidade, tanto na qualida-
de como na quantidade. Em tôda a Banda 01·iental não
constam ext1·emos de deficiência ou demasia. I-Iave1·á aJ)e-
nas dife1·enças regionais, de t1·ansição quase insensível. Na
costa do mar pode havei· ce1·tr~ demasia. Dizem os auto1·es
que em geral a salinidade está mais abaixo elo bom e óti-
mo no Planalto, qt1e na baixada da Can1panha do Sudoeste,
da Dep1·essão Cent1·al e da Faixa Lito1·ânea, e qt1e a salini-
dade na faixa da fronteira com o U1·uguai está mais pe1·-
to do ótimo do que nas 1·egiões que lhe são contíguas J)a1·a o
norte. -
O sal é abso1·vido no pasto e na água. A j tista J)rOJ)o1·-
ção do sal, quanto a quantidade e qualidade, tem efeito be-
néfico no aumento e conse1·vação de indivíduos, e pode1·á
po1· si mesmo tan1bém at1·ai1· o gaclo por causa do gôsto.
Desta manei1·a poderia determinai· em conexão com a água
uma ce1·ta direção e canalização na ma1·cha do gado no de-
curso de vá1·ias ge1·ações. Na Banda Oriental não existem
casos ext1·emos de agt1adas ct1j a salinidade a to1·nasse in-
S6 PESQUISAS 1960, msTORIA N. o 1:S

se1·vível para o gado, como pode acontecei· nas 1·egiões dos


g1·andes lagos salgados da A1·gentina.
Nas aguadas deve-se conside1·a1· tambén1 o fato1· distân-
cia e acessibilidade. Po1· causa da natureza dob1·ada em co-
xilhas da Banda 01·iental, ge1·almente os bons pastos e as
aguadas não distam muito uns dos out1·os. Já ago1·a a
acessibilidade das aguadas })ode sei· difict1ltada })elas matas
de gale1·ia ou pela altu1·a das ba1·1·ancas, sob1·etudo em tem-
po de grandes secas, quando se estancam os a1·1·oios, em que
se abebe1·avan1 os animais. Le111b1·án10-nos, que em 1757 ou
8 os soldados espanhóis que ocUJ)avam São Bo1·ja, tive-
1·an1 que ab1·i1· picadas ao U1·uguai, J)a1·a que o gado das es-
tâncias vizinhas não st1cumbisse co1n a falta de água. (A1·ch.
Gen. de la Nación, Buenos Ai1·es, Sección ComJ)afiia).
33. O instinto sexual. Se1·á que êste instinto J)ode in-
flui1· na n1a1·cha ge1·al do gado? Na vida liv1·e das Vaca1·ias
não e1·a J)ossível a existência de um lote de 1·êzes de un1 só
sexo. Só em casos 1·aríssimos se pode imaginai· que um ani-
n1al se desga1·1·asse da t1·01)a, a1·1·ebatado J)o1· uma enchen-
te pa1·a a margen1 oposta do 1·io, e qt1e no temJ)O do cio
procu1·asse abandonar o luga1· ou J)o1· seus mugidos at1·aisse
um outro animal para o seu lado. Assim se pode1·ia iniciar
o povoamento duma 1·egião que sem o instinto animal não
seria tão fàcilmente atingida. C1·emos qt1e o instinto sexual
influi muito mais como componente que é do instinto gre-
gá1·io. O instinto g1·egário se1·á inato, mas começa a atua-
liza1·-se e intensifica1·-se com a convivência fo1·çada de va-
cas e ternei1·os, de machos e fêmeas, ou seja em out1·as })a-
lavras com o institt1to sexual, nas suas dive1·sas n1anifes-
tações.
C1·emos que esta classe de instintos não cria p1·01)ria-
mente novas di1·eções na ma1·cha da difusão, mas ajuda a
conservar unida a massa. Não obstante deve-se dizer que,
quando })ouco a })ouco se estabele uma ponta de gado em
um novo 1·incão, criando uma nova que1·ência, os instintos
sexual e gregário impedi1·ão a dis1)e1·são da nova casa de boi
que é a nova que1·ência. Êstes instintos podem tanto aj uda1·
a prender num l uga1· como aj uda1· a sai1· dêle, segundo o
maior ou meno1· })êso que houve1· no antigo ot1 tiver })as-
sado pa1·a o novo.
34. O instinto g1·egário. - C1·emos que o instinto g1·e-
gário é um g1·ande fato1· tanto na 1·etenção como na emigra-
ção do gado. Parece que se 01·dena J)a1·a a conse1·vação do
indivíduo e da espécie. Da es1)écie })01·que em uma grande

BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 37

manada há sem1)1·e maio1· abt1ndância e l)1·ontidão do sexo


oposto, quando chega a ho1·a do acasalamento, evitando-se
assim o demasiado parentesco dos animais. Também se ob-
tém maio1· p1·oteção l)a1·a os indivíduos e pa1·a as c1·ias 1)01·-
que cen1 ou mil olhos e ouvidos })e1·cebem mais do que_ dois
ou quatro. Também a defesa está centu1)licada contra as
g1·andes fe1·as, sob1·etudo em benefício das c1·ias, })01·que um
tig1·e que se atrevesse a atacai· uma manada dificilmente
se liv1·aria dos chifres e das !)atadas. Só as rêzes isoladas
e desga1·1·adas estão ao alcance das g1·andes fe1·as. Fazen1
exceção os ovinos e ca1)1·inos, que não se defendem, mas fo-
gen1, tendo, ent1·etanto, n1ulti1)licada 1)1·oteção na multipli-
cada vigilância.
Além disso a contínua atencão dos animais a seus com-
~

1)anhei1·os, ajuda a encaminhá-los a })astos e aguadas me-


lho1·es, que uns podem te1· descobe1·to no seu avanço pa1·a o
desconhecido. O instinto g1·egá1·io faz voltar c1·ias e mes-
mo 1·êzes adultas desga1·1·adas po1· enchentes, incêndios de
campos, t1·ovoadas, dis1)a1·os devidos ao a1)a1·ecin1ento subi-
tâneo de fe1·as. O instinto gregá1·io aj t1da a vencei· bar1·ei-
1·as que o gado aliás não vence1·ia tão galha1·dan1ente.
O instinto g1·egá1·io unifica e 1·efo1·ça a di,·eção de 11za1·-
clia apontada 1)01· l)astos e aguadas melho1·es. Não deve sei·
desprezado nas conjett11·as sôb1·e a ma1·cha p1·ovável das va-
cas na antiga Vaca1·ia do Ma1·.

35. O apêgo à «que,·ência». Que1·ência chan1an1os o lu-


ga1· que o gado conhece e an1a, po1· te1· ali nascido, c1·es-
cido, do1·mido, estado ao abrigo do sol e da chuva e do frio
nas noites de inve1·no, te1· encont1·ado boas condições de
pasto e aguada nos conto1·nos, te1·-se talvez acasalado, tô-
das as lemb1·anças afetivas que pode te1· uma vaca ou um
te1·nei1·0. . . Que1·ência é a casa 1)ate1·na do boi, ainda que
não passe dt1m ca1)ão Oll da bei1·a de um mato.
E' conhecido o a1)êgo que bois e cavalos têm })a1·a com
a sua que1·ência, que não abandonam tão fàcilmente, se não
há n1otivos n1uito fo1·tes })a1·a fazê-lo. Devem estai· em j ô-
go g1·andes im1)t1lsos ot1 g1·andes 1·e1)ulsas. Lotação excessi-
va con1 f ai ta de l)asto l)a1·a todos, sêcas ext1·aordiná1·ias, !)es-
tes, a l)1·esenca., de uma f e1·a g1·ande. - Na busca de novas
})astagens a distância })a1·a voltai· fica cada vez maio1·, os
caminhantes se acostt1mam mais e mais a novos 1uga1·es,
novos pastos, novas aguadas, novos ab1·igos cont1·a a inten1-
l)érie, e eis! qt1e se c1·ia uma nova que1·ência. A Vaca1·ia deu
mais um passo para a frente. Se a nova que1·ência sob1·e-
puj a em muito a antiga, é p1·ovável que mais e mais com-
38 PESQUISAS 1960, HISTORIA N.O 13

panheiros a abandonem pa1·a ·estabelece1·-se 11a nova. Na


Banda 01·iental, há tanta á1·ea cam1)est1·e e tão abundantes
aguadas que quase nunca se da1·á êste caso, senelo po1· isto
p1·ovável que a i)l'Ol)agação se faça à moela de enchente e
não na fo1·ma de nuvem que se desloca totalme11te. As cluas
que1·ências se enche1·ão })ouco a IJOt1co até esta1·en1 nova-
n1ente su1)e1·lotadas, e o })1·ocesso con1eça ele 11ovo l)a1·a dois
novos luga1·es. Quanto n1ais lim1)a e unifo1·111e fô1· a á1·ea can1-
pest1·e e 111enos at1·avé111cacla de ba1·1·ei1·as, tanto n1ais densé-1.
se1·á a 1·êde de núcleos este11didos na direção da n1a1·cha.
A geog1·afia nos ensina que a divisa elas ágt1as ent1·e
Atlântico e U1·uguai, ent1·e os fo1·mado1·es do J act1i, do Ibi-
cui, do J agua1·ão e Rio Neg1·0, é de tôdas as 1·egiões da Ba11-
da 01·iental a n1ais li1111)a e a menos im1Jedida de ba1·1·eiras.
E tendo-se dado o caso qt1e JJ1·ecis,1n1ente 11a J)a1·te n1ais se-
tent1·ional desta faixa se sol ta1·é1m os g·ados que i1·iam for-
n1ar a antiga Vacaria do l\ia1·, não é de est1·anha1· que tan-
to a conj etu1·a con10 os dados históricos assinalen1 esta 1·0-
ta })a1·a a n1a1·cha elo gado vacum Dê:1 1·efe1·ida Vaca1·ia do
Ma1·.

36. A p1·ocura de «ab1·igos». - O a1Jêgo à que1·ê11cia


se baseia nos instintos g1·egá1·io, sexual, 11a })1·ocu1·a de })as-
tos e aguadas, e tan1bén1 de ab1·igos cont1·a as contra1·ieda-
des que o gaclo encontra en1 sua vida de libe1·dade. A que-
1·ência costu111a sei· u111 ca1)ão ou a })orta clun1ê:1. mata. Ai
o gado encont1·a so1nb1·a 11as ho1·as de sol caustica11te, en-
cont1·a u1na es1Jécie ele tell1ado cont1·a a cht1va, u1n escuelo
cont1·a os g1·anizos que c:.1stigan1 sem l)iedacle, um ar1te1)a1·0
cont1·a os ventos gelados, t1n1 esconcle1·ij o co11t1·a as n1oscas,
as aves de 1·apina, qt1e sob a 1·amada não l)odem \'Oej a1·.
Umas que1·ências estão no alto l)a1·a fugi1· das neblinas.
Out1·as se acham nas dob1·as duma coxilha, aonde 11ão che-
gan1 os ventos f1·ios do inve1·no.
C1·emos qt1e o g·ado se1111)1·e })1·efe1·i1·á t1ma di1·eção de
ma1~cha em q11e encont1·a, além de bons })astos e boas agua-
das, n1uitos pequenos ca1)ões que lhe ofe1·eçan1 os ab1·igos
que l)l'ecisa. No 1)an1pa a1·gentino há trechos inte1·mináveis
de este1)e 1·asa se1n matos ot1 ca})Ões natu1·ais. Na Banda
01·iental riog1·andense e u1·uguaia (nesta menos) as á1·eas
cam1)est1·es estão sen11)1·e })ontilhadas de r.1ati11has ci1·cula-
1·es que chamamos ca1)ões, e de que há milha1~es e n1ilha1·es
dissen1inados po1· tôda a }Ja1•t,:--. ge1·almente ao 1·edo1· du111::t
fonte que brota do seio da co:{ilha. ~1as é evidente qu~ há
1·egiões oncle há mais e onde há 1nenos ca1)ões, ainda qt1e
é 1·a1·0 o luga1· onde faltem con1p]etan1ente. Daí })ode1·mos
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 39

dizei·, que a n1::1.io1· ot1 n1eno1· abundância de ab1·igos vegetais


pa1·a o g·aclo, te1·ia influi elo algt1111a coisa na 1na1·cl1a do gado,
n1as não decisiva111ente, visto não havei· casos com ext1·e-
n1os de ca1·ência Oll abundância:

37. O cli11,a. Já se viu o cli111a e111 out1·os fatô1·es.


Influi di1·eta e indiret<1.111ente. I11cli1·eta111e11te éltl'ê;:,,6~; c1a
deco1111)osição elo solo, êlt1·avés das cht1vas e de111ais un1icla-
des do a1·, con1 1·eflexo clestas 11a vegetação e nas ag·uadas.
Se fô1· de 111e11os cht1va fa~ n101·1·e1· até o ca1)i1n, se fô1· cle-
n1ais sufoca o capim co1n vegetações n1ais altas e i11se1·víveis
pa1·a a ali1nentação 01·diná1·ia elos a11in1ais.
Assin1 o clin1a te111 g1·ande influência incli1·eta sôb1·e as
condições do ambiente e co111 isto sôb1·e a ma1·cha da difu-
são espontânea do g·ado.
l\ías o clin1a també111 inflt1i di1·etamente, ao menos co-
mo f1·io. A qt1ein1a dos J)élstos J)ela geada é ação indi1·eta e ·
costu1na sei· J)assagei1·a. l\tlas o J)l'ÓJ)I'io sentido do tato do
gado pode senti1·-se n1al co111 g1·a11des frios e })1·ocu1·a1· al-
cançai· 1·egiões de mais a111enidade. Ainda qt1e 11este 1)a1·ti-
cula1· haja granel e dife1·ença entre as cli\rersas 1·aças de g·a-
do vacum não tomamos isto e111 conta, 1)01·qt1e naquele te111-
l)O só havia u111a (1nica 1·aça c1·iot1la. E con10 esta só se acl1a-
\1a solta na baixacla da Dep1·essão Central e Cam1)anha elo
St1doeste, oncle as dife1·enças de f1·ios e calo1·es são insig-
r.ificantes })ara a sensibilidade do g·ado c1·ioulo, c1·en1os qt1e
o f1·io ou calo1· cli1·etamente infl t1it1 n1t1ito })ouco ou qt1ase
nada na ma1·cha ou di1·eção da ma1·cha do gac.lo Vê1Ct1n1 da
antig·a Banda 01·iental. Não oco1·1·em máxin1as ou mínin1as
insu1)01·táveis. Nem seqt1e1· g1·adt1ações n1t1ito acima ou ri1t1i-
to êlbaixo do ótimo J)a1·a a 1·é1ça c1·ioul,:i.
Ent1·etanto a ação di1·eta do cli111a nos })ode aj uclar en1
algu111as conjett11·as. Assin1 cn1 vista dela não é p1·ovável
que o gado te11ha st1biclo da bai}cacla })a1·a as altu1·as elo l)la-
nalto, e nen1 l)a1·a as J)a1·tes n1ais altas da Se1·1·a do Sudeste.
E se 11estas l)a1·tes tivesse siclo solto, l)i·ovàveln1ente te1·ia
descido J)a1·a as baixadas, abando11ando as ai tu1·as n1ais
f1·ias. Pocle l1a\re1· tan1bé111 dife1·ença notável J)a1·a a sensi-
bilidacle té1·n1ica do gado ent1·e as 1·egiões ge1·aln1ente an1enas
na 1)1·oxi1nidac1e do n1a1· e os 1·ígidos in,re1·nos do i11te1·io1·, in-
clir1ando o g·a.do a a1)1·oxi111a1·-se da costa elo n1ar, sob1·etudo
se conco1·ren1 ta111bé111 outras vantagens. A constatação es-
tá de acô1·do com a direção que tomou a Vacaria do Ma1·.

38. A salinidade. Já mencion ;11110s os })1·inci1)ais as-


pectos dêste fato1· quando t1·atamos das aguadas. Vi111os que
40 PESQUISAS 1980, HISTÓRIA N.O 13

.
o sal é ingerido J)ela água e pelo pasto. Tanto o de menos
como o demais é J)1·ejudicial. Ivias ent1·e o ótimo e a ausên-
cia total há uma escala enorn1e. Também ent1·e a média óti-
ma e a demasia insupo1·tável, que ge1·almente só estará na
aguada, pois que os vegetais não podem ultra1)assa1· certa
salinidade em seu suco celula1·, sob pena de J)a1·a1· a ação
da osmose ...
O costume t1nive1·sal do sul do B1·asil de adicionai· sal
de cozinha à alin1entação do gado vacum, é sinal eviden-
te que em tôda a J)a1·te a salinidade está abaixo da média
ótima, que 1·eque1· a sa(1de pe1·feita dos animais. Consta que
a dose de salinidade melho1·a en1 direção à f1·ontei1·a da Re-
pública do U1·uguai. Talvez seja esta uma das causas da
n1a1·cha do gado J)a1·a aqt1ela di1·eção, além da ausência de
bar1·ei1·as. C1·emos que o mecanismo da salinidade influi sô-
b1·e a ma1·cha do gado, não como um aliciamento individt1al,
n1as uma média n1elho1· de p1·oc1·iação e sob1·evivência, daí
un1a J)1·essão maio1· no sentido da n1a1·cha, ope1·ando-se as-
sim uma ma1·cha ge1·al no sentido da melho1· salinidade.
Não sabemos se esgotamos o 1·01 dos fato1·es J)ositivos
que podem p1·opeli1· ou at1·ai1· o gado em certa direção.
Também pode sei· que nos que 1·esenhamos se tenha esque-
cido algum aspeto importante. O nosso intento era alinhar
o que mais fàcilmente pode oco1·re1· na Banda 01·iental.

FôRÇAS NEGATIVAS QUE AFASTAlvI O GADO DE


ALGUMA PARTE.

39. Devemos dai· J)1·imei1·0 un1a idéia sôb,·e a quase-


identidade ent1·e fatô1·es negativos e J)ositivos, e também sô-
b1·e a sua 1·elatividade. Já falamos dêste J)onto no núme1·0
29. Ac1·escentemos mais alguns exemJ)los sôb1·e a qt1ase-
identidade. Uma J)astagem })éssin1a é boa e mesmo ótima
em relação ao nada. Com êste ponto de 1·efe1·ência é, J)Ois,
positiva. Mas em 1·elação a uma pastagem boa ou ótima,
evidentemente é fô1·ça negativa que 1·epele e faz sai1· o gado
dela. - O mesmo vale com 1·es1Jeito à bebida, à querên-
cia, aos ab1·igos. . . A qt1e1·ência enquanto 1·etém é fô1·ça ne- •

gativa J)ara a ma1·cha, enquanto favorece a p1·oc1·iação e su-


pe1·lotação, é positiva para a difusão. Tudo depende do
ponto de vista. Faz-se mister olhar primei1·0 os tê1·mos de
com1)a1·ação, e os pontos de 1·efe1·ência.
Devemos dividi1· logicamente os fatô1·es em duas clas-
sesses distintas, sendo a J)1·imei1·a a dos fatô1·es negativos -
ca1·enciais e a segunda dos fatô1·es negativos J)resenciais.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 41

40. Fatô1·es negativos ca,·enciais. São os fatô1·es lJO-


sitivos, qt1ando en1 situação de at1sentes ou i·elativan1ente
deficientes. O 1Jasto at1sente de todo ou em menor qt1anti-
dade do que num luga1· vizinho, é un1 fatoi· ca1·encial. Não
afii·mamos que todos os fatô1·es 1Jositivos l)Odem sei· cru·en-
ciais. Vemos que neste 1Jonto tudo é relativo. Um bom 1Jasto
é positivo com i·elação a menos ou nenhum 1Jasto. Mas pode
ser negativo com 1·elação a JJasto n1elhoi· ot1 em 111aio1· qt1an-
tidade. O gado co111 o co1·1·ei· do tem1Jo ce1·tamente se cli1·i-
gi1·á no sentido do l)asto melho1· ou mais abundante.

41. Fatô1·es negativos p1·esenciais. Não são a falta de


algt1ma coisa, mas ao conti·á1·io a J)1·esença de algo qt1e J)O-
sitivamente influi no gado })a1·a o 1·e1Jeli1·. 1\1:as i·e1)itamos
que aqt1i se ti·ata exclt1sivamente de se1·es que 1·e1Jelem o
gado na sua difusão es1)ontânea e natt1i·al. O hon1em en-
quanto conscientenzente influi na dift1são do gado ou im-
pede a sua ent1·ada en1 algt1ma })a1·te, não J)e1·tence a esta
classe de fatôi·es. Só enti·a nesta catego1·ia, se se com1)01·-
ta pa1·a com o gado a1Jenas con10 mei·o caçadoi·, igt1al às
outras feras, que negativamente l)Odem conse1·va1· o gado
longe de cei·tos lt1ga1·es.
Uma p1·imeira classe de fatô1·es negativos }J1·esenciais
se1·iam os animais fe1·ozes da 1·cgião. Assin1 t11n ou dois ca-
sais de tig1·es })odem fazei· emig1·a1· uma n1anada de bois ou
cavalos, não talvez J)a1·a fo1·a dt1ma 1·egião mas }Jelo n1enos
JJa1·a fo1·a de ce1·ta localidade. Os tigi·es tinham seu hábitat
nas selvas virgens e de gale1·ia dos 1·ios. E1·a uma das 1·a-
zões po1·que o gado evitava a proximidade dos 1·ios con1
mato de gale1·ia. Caviglia menciona os «tábanos» ot1 motu-
cas, como caJJazes de afugentai· o gado da costa do Ui·u-
guai pa1·a leste em di1·eção ao ma1·. Dii·ão os entendidos se
a razão JJ1·ocede. Se1·á que a devastação causada }Jelos ga-
fanhotos é ca1)az de afugentai· o gado ]Ja1·a ot1tra região?
Ci·emos que não, po1·que o lJasto devo1·ado 1Jelos insetos 1·e-
nasce, como 1·enasce de1Jois das queimadas.
Além dos i1·i·acionais, })oden10s ai·1·olai· tambén1 o ho-
mem (índio) enquanto se con11Joi·ta con10 fe1·a que caça, sem
i11tenção alguma sôbi·e a })l'O})agação do gado. Caviglia
J)ensa que os cha1·1·t1as te1·iam afugentado o gado de He1·-
nandái·ias da boca do Rio Neg1·0 l)a1·a leste. Se1·á que os
cha1·1·t1as só estavan1 na costa elo U1·11gi.ta.i e não tambén1
te1·1·a adenti·o, de modo q11e t1ns es1)antassen1 pai·a leste, ou-
ti·os pa1·a oeste?
• Po1· fim JJodei·ía1nos talvez enun1e1·a1· algt1ns fenôme-
nos da natu1·eza. Tempestades ext1·ao1·diná1·ias que espantas-
42 PESQUISAS 1gso, HISTÓRIA N.O 13

sen1 o gado l)a1·a longe? Incêndios de can11)os causaclos })01·


1·aios, })01· caçaclas de índios? O pad1·e Soa1·es que fez as })1·i-
mei1·as 111edições 11a ba1·1·a do Rio Grande en1 1737 })ensa
que a luz do sol conce11t1·ada 1)01· c1·istais de qt1a1·tzo c1·istali-
no, que casualme11te se achasse à su1Je1·fície do can11)0 se-
ria ca1)az de causai· incêndios no }Jasto 1·esequido. O mé-
todo de caça cl1a111ado «cac110» consistia en1 ce1·ca1· un1a
g1·ande })01·ção ele can11)0, talvez n1ete1· ainda fôgo e abt1ter
os animais de caça qt1e 1J1·ocu1·assem esca1Ja1· elo cê1·co. A
qt1ein1a vol u11tá1·ia elos can11Jos }Jara benefici{t-los })e1·tence
já ao influxo artificie,! na c1·iação e dift1são elo gado. Afu-
genta na l101·a do fôg·o, 1nas faz voltai·, qUélndo b1·ota a g·1·ê:1.-
111a 11ova. Enche11tes, 11evaclas, f1·ios ext1·ao1·diná1·ios, cn1 ce1·
ta maneira també1n são fatô1·es neg·ati\ros 1J1·ese11ciais, aind:
que sob out1·os l)Ontos de vista se 1·elacionam com os fatô
1·es positivos ot1 sua negação, os fatô1·es ca1·enciais, l)Ois fal
ta a justa n1edida.

BARREIRAS OU OBSTÁCULOS QUE I11PEDE1\'.1 ,.!\


ENTRADA DO GADO E IVI ALGUMA PARTE

42. P1·imei1·0 te1·en10s qt1e cla1· alguns conceitos ge1·ais.


Ba1·1·ei1·a é u111 obsté1Ct1lo qt1e i1111Jede a l)assagem de unia
}Jarte }Ja1·a a ot1t1·a. Há ba1·1·ei1·as negativas e ba1·1·ei1·as IJO-
sitivas. A falta de ágt1a ot1 de ág11a s11ficiente é u111 fato1·
negativo ca1·encial, ao mesn10 tem1)0 que uma ba1·1·ei1·a ne-
gativa, })ois que ba1·1·a a entrada do gado })a1·a aquela 1·e-
gião. E' 1·e1)ulsa e ba1·1·ei1·a ao r11esn10 ten1po. Un1 1·io l)l'O-
fundo entre dois can11)0s ele l)astos igt1aln1ente bo11s l)ode
sei· cha111ado 11n1a ba1·1·ei1·a }Jositiv,1 }Ja1·a o cam1Jo e1n c11..1e o
gado ainda não se acha. Un1 n1é1.to es}Jesso ele consiele1·éível
la1·gu1·a, t1ma 111ontanha de g·1·a11de acliviclade são ba1·1·ciras
}Jositivas. Poclían1os chan1ar as ba1·1·ei1·as de ba1·1·ei1·as ca-
1·enciais e ba1·1·ei1·as 1)1·ese11ciais.
També1n dev·en1os mc11ciona1· a 1·elatividade elo ca1·áte1·
da ba1·1·ei1·a. O gado, se ten1 escolha ent1·e u1n pasto 1Jéssin10
e 11m })asto bo1n con11Jorta1·-se-{t dia11te do }Jasto })éssi1no co-
n10 diante de uma bar1·ei1·a. lVIas se tem escolha ent1·e un1
IJasto bon1 e t1m llasto ótin10 t.1·ata1·{t o JJasto bom con10 11111a
ba1·1·eira ca1·encial. Mesmo as ba1·1·ei1·as 1J1·esenciais 1·a1·an1en-
te são absolutas. Em te1111)0 de {1.g·t1,i suficiente, u111a cert~1
es1)essu1·a de inato, pode ser t1111ét ba1·1·ei1·a t)1·esencial i:1-
t1·ans1)onível. Mas em tempo ele sêcas ext1·ao1·din{1.1·ias o ga-
do va1·a1·á os 111atos mais es1Jessos se })1·essente at1·ás dêle
a água q11e p1·oct1ra pa1·a não n101·re1· de fo1ne e de sêde.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 43

Tudo de1)ende da J)sico1ogia elo a11in1(.1l, e ela fô1·ça elos f::1-


tô1·es que 1·e1)elen1 ot1 ,1trae111, elos 111oti\10s qt1e te111 J)a1·a aL1·a-
vessa1· as ba1·1·ei1·as. E' de ext1·ao1·di11{i1·ia, i1111)ortância te1·
se1n1)1·e cliante elos olhos ::t 1·elativiclade ele fatô1·es. e l)a1·rci-
1·as, pa1·a não con1ete1· os 111aio1·es clislates 11as con.i ett1ras
histó1·icas sôb1·e a dift1são es1)011tâ11ea do g·,1do.

Ago1·a as barrei,·a.s e11i co11c1·eto.

43. As ba1·1·eircts liidrográficc1s. Cha1nan10s assi111 tôclas


as ágt1as co1·1·entes ot1 l)a1·ad,1s ca1)azes de a111ed1·onta1· o gado,
segunclo a st1a e s1Jécie. São os rios 111aiores e 111c1101·es, os
a1·1·oios enqt1anto tê111 ele111entos que cat1san1 l)avor ao g·ado.
São as lag·oas, os banl1ados co111 ft1nclo fi1·111e ou 111ovediço,
de n1ais ott 111enos cobe1·tur::1 de 1Jas tiçal. Tôdas as {ig·uas
enfim qt1e ,1111eaçan1 afogai· o e aclo Oll qt1e não ll1e clê111 a ex-
pe1·iê11cia ele st1a t1·ans1)onibiliclade. Ac1·escen1 ot1t1·as ci1·ct1ns-
tâncias: ~1 J)1·esença de altt1s e ab1·t11Jtê1s ba1·1·anc,1s, as ce1·-
caduras de matos de gale1·ia com a st1a falta ele J)::1stos, a
J)resença de tig·1·es, cob1·,1s g·igé111tes, j aca1·és, JJi1·anl1as nas
águas. Nos 1·ios da Banda 01·iental os jaca1·és são de . l)e-
que110 })01·te, to1·11ando-se pe1·igosos a1)enas l)a1·a animais J)e-
qt1enos; as })i1·a11h~1s não existe111 11a bacia elo U1·ug·t1ai. Po-
de1·-se-ia 1)e1·gt1nta1· que fô1·ça cleven1 te1· os fatores in11)e-
le11tes ot1 1·e1)elc!1tes l)ara ob1·ir;·~11· t1n1a 111anad:.:1 ele vacas ou
cavalos a l)assar t1n1a cleter111i11ada ba1·1·ei1·a hid1·og1·áfica. A
ex1)e1·iência dos nossos c1·iac1ores 11ô-lo cli1·ia i1necliatan1e11te.
Pode1·-se-ia elabo1·a1· assi111 t1111a certa escala e111 cacla t1n1a
das ba1·1·ei1·as hicl 1·og·1·áficas, esc8.1a tr.111l)én1 nos motivos de
i1111)t1lso ot1 1·e1)t1lsa. Desta 111é111eira })odería111os com mais
p1·obabilidade ace1·ta1· os })01·meno1·es ela n1a1·cha da vaca1·1a
chin1a1·1·on<-1 qt1ando 1Ja1·a isto nos fal ta111 os doct1n1entos coe-
\70S ela histó1·ia.
Un1 ce1·to conhecime11to ex1J21·i111ental e cloct1111ental en-
t1·etanto nos })ocle n1ost1·a1· ao 111e11os qt1e g·1·at1 c1e ba1·1·ei1·a
ce1·ta111ente não se J)assa J)elo rra.do e qt1e ot1t1·0 g-rat1 11a ex-
t1·en1iclade cont1·ária ela escala certa111ente o gaclo })assa1·ia
co1n tal e t,11 motivo.
Tere111os qt1e 1·eco1·1·e1· 11lt1itas vêzes a estas 11oções r.o
deco1·1·e1· dêste t1·ab~llho, sob1·etudo nos ca1)ítt1los 1·efere11-
tes a Vaca1·ias, e a Estâ11cias. A títt1lo de ct11·iosidade ar.-
tcci1)an10s ,lf)e11,ts q~.1e as cê1·cas das est ftncias e1·an1, excl usi-
va111ente, veclação r1~tt11·al 1)01· l)a 1:rei1·as nat111·rtis, co111 exce-
ção de t1111 qt1e 011t1·0 I1.1g·::1.1· e111 q11e se colocava111 os postci-
1·os. Sendo, 1Joré111, as clesc1·ições elas antigas estâ11cias mis-
sionei1·as alg·o i1111)1·ecisas e igt1 rr l111enie os vá1·ios n1a1)as sô-
44 PESQUISAS 11160, HISTÓRIA N.O 13

b1·e a mesn1a n1até1·ia, })oden1os não obstante dete1·111ina1·


de alguma n1aneira os limites das estâncias, a1)licando o
p1·incípio ge1·al das ba1·1·ei1·as natt11·ais, que na gi·ande 1naio-
ria dos casos e1·an1 hid1·og1·áficas.

44. Ba1·1·ei1·as vegetais. As ba1·1·eii·as vegetais negati-


vas ou cai·enciais teo1·ican1ente })ode1n sei· n1uitas, }Jois })Ode
havei· ca1·ência absoluta de })asto e ca1·ência 1·elativa. O ga-
do sem motivo não l)assa du111 can11Jo li1npo e bom })a1·a um
cam})O «sujo» ot1 seja de l)astiçal em vez de }Jastagens. Em
tôda a Banda 01·iental não há dese1·tos ou á1·eas de ca1·ên-
cia absoluta de l)asto, a não sei· a faixa in1ediatan1ente en-
costada ao ma1·. Todo o i·esto te111 carê11cia -a})enas 1·elati-
va. Do campo lim})O, que só tem })asto bom, até a n1ata vi1·-
gem t1·01Jical, há uma escala infinita de va1·iedades, em que
un1 é bom con11)a1·ado co111 o i·t1im, n1as o 1·uin1 ai11da é bom
com1)a1·ado com o pio1·. O que nt1n1 1t1ga1· é 1·e1)ulsa, no out1·0
é im1Julso e at1·ação.
Ba1·rei1·a vegetal })Ositiva })i·o1J1·iamente dita é um n1ato
de tal es1Jessu1·a e la1·gu1·a que o gado não o at1·avesse, não
só }Jela falta de }Jasto adequado, n1as tan1bén1 JJelo e111a1·a-
nhado das })lantas e }Jela })i·esença de fe1·as, 1notucas, es1)i-
nhos, e mesmo }Jela sin11Jles 1·esistência mecânica. O gado
se ab1·iga na bo1·da da mata, mas não o atravessa, se ten1 su-
ficiente la1·gui·a e es1)esst11·a e se não há motivos exti·ao1·-
dinàriamente fo1·tes pa1·a fazê-lo, con10 a n1oi·te }Jela sêde e
coisas semelhantes.
Os g1·aus de intrans1)onibilidade dt1m inato de1)endem
dos vegetais qt1e nele se encont1·an1, da st1a idade, e sob1·ett1-
do da sua la1·gu1·a, ou seja do ten11Jo qt1e o gado fica1·ia J)I'i-
vado de })asto conveniente na travessia. Tambén1 de1Jende-
1·á essencialmente das es1Jécies ele gado. Os }Jo1·cos, }Jo1· seus
antepassados, J)ela confo1·111ação do seu co1·1Jo, }Jela st1a co-
1·agen1 em enf1·enta1· ani1nais b1·avios, })ela st1a qualidade
de onívo1·os, fàciln1ente se en1b1·enhan1 e vive1n no mato.
Mas já os bois e cavalos e 111ais aincla as ovelhas necessitan1
de motivos fo1·tíssimos })ai·a se 111ete1·en1 a ft1ndo nt1n1 n1ato.
As cab1·as tal,rez só se infilt1·en1 nas bo1·clas.
Mas neste estudo histó1·ico só se t1·ata de bois e cavalos
na Vaca1·ia do lVIa1· e de ovelhas nas estâncias.

45. Ba1·1·ei1·as Orog1·áficc1s. São elevações de solo que


se inte1·põen1 entre duas á1·eas a1Jtas })a1·a a c1·iação. Poden1
sei· de aclive e de declive. A distinção é de alg·un1a im1)01·tân-
cia, po1·qt1e c1·emos que alguns anin1ais mais fàcilmente des-
cem do que sobem. Que falen1 os entendidos! Mas, de modo
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 45

unive1·sal, 11ma encosta con1 })a1·edes ab1·u1)tas é vedação n1ais


ou menos absoluta })a1·a bois e cavalos, 1nenos })ai·a ovelhas
e quase nenhun1a pa1·a cab1·as. ·
E' evidente também qt1e o g1·au de invencibilidade desta
bar1·ei1·a de1)endei·á dos g1·a11s de inclinação, da natt11·eza do
solo, do seu i·evestimento vegetal, ele suas ag·uadas, da ex-
tensão do })e1·cu1·so, da })e1·ce1)tibilidade do })asto na ot1t1·a
exti·emidade, do ca1·áter es1)ecífico e 1nes1no individt1al do
gado ...
Estas noções são de exti·e111a im1)01·tância })a1·a quem
quiser su1)i·i1· com conj etu1·as científicas, as bases docu1nen-
tais que faltam })a1·a el ucida1· muitos })ontos da antigêl pe-
cuá1·ia da Banda 01·iental. O 1nodo de J)1·oceder é legítimo,
l)Orque 1·ealmente estava a11sente a inte1·venção do homem
que é liv1·e. Ag·iam i1nicamente as leis da natu1·eza e do ca-
1·áter dos animais que hoje são as n1esmas que naquele
tem1)0.
Também são de im1)oi·tância 1·elativa J)ai·a a detei·n1i-
nação dos limites mais exatos das estâncias J)oste1·ioi·es, pa-
1·a detei·minai· as i·otas qt1e levaran1 as t1·01)as de gado que
iam e vinhan1 na Banda 01·iental, ainda q11e menos nelas
poi·qt1e já inte1·vinha a vontade do homem.
46. Barrei1·as quínzicas. . . Poi· bar1·ei1·a quín1ica en-
tenden1os a im1)1·egnação excessiva ou deficiente do solo com
os sais, que p1·ecisa ou 1·efuga o gado. Os sais passam do
solo ao })asto e às agt1adas. Já vimos que uma salinidade
que se api·oxima do ótin10, que deseja o gado, é un1a fôi·ça
qt1e at1·ai; se o gado que está em te1·1·as de ce1·ta salinidade
se enconti·a com uma 1·egião qt1e tem demais ou de menos
sal, te1·-se-á encont1·ado com uma fô1·ça que o 1·e1)ele. Nes-
te caso nem J)odemos falai· també111 em bar1·ei1·a química.
Em tôda a Banda 01·iental não conhecemos nenhum lt1-
ga1· de excessiva salinidade, a não sei· })eq11enos trechos na
costa do ma1·. Também não os há de salinidade ext1·aordi-
nà1·iamente deficiente. O q11e há é uma diminuição de sal
do st1l pai·a norte, sendo que, segundo dados técnicos, a sa-
linidade meno1·, po1· i·eg1·a gei·al, se acha no Planalto. En1
todo o 1·esto a salinidade está ainda tão distante do ótin10
desejável que os ci·iado1·es adicionam sal à comida ou à ágt1a
do gado vacum, })a1·a chegai· ao ótimo que 1·equei· a saúde
do gado e boa qualidade da cai·ne.
Caviglia aduz o fatoi· salinidade J)ai·a explicai· J)o1·que
o gado q11e He1·nandá1·ias largou mais ou n1enos na boca do
Rio Neg1·0, tei·ia emig·1·ado totaln1ente de lá })a1·a leste, de en-
contro à Coxilha Grande onde, segundo êle, se encontraria
46 PESQUISAS 1960, HISTóRIA N.O 13

con1 a n1anacla 1nissio11ei1·a qt1e clescia do No1·te. Neste caso


o grau me1101· de boa saliniclacle elas te1·1·as qt1e o gado ia ,tban-
donando, te1·ia ob1·aclo co1110 l)a1·1·ei1·a qt1ín1ica negativa })a1·a
não deixai· \rolta1· o gaclo, a 11B.o sei· qt1e t1m n1otivo n1ais fo1·-
te o fizesse 1·etrocede1·. Tam})é1n nós acha1nos qt1e o fato1·
salinidade agi1·ia como i1111)t1lso 1)a1·a acentt1a1· a ma1·cha do
gado parêl st1l , n1as não sabe1110s se a dife1·ença de sa.linida-
de, natu1·al na di1·eção de norte })a1·a st1l, é ta11ta qt1e ob1·i-
g·ue o ga.do vact1m a cleslocar -se en1 foi·n1a de nt1vem e não
em foi·ma de enchente, que c11che out1·os e 111ais ot1t1·0s 1u-
gares, mas 11ão abandona o lt1gar que anterio1·1nente ocu-
pava.
Não é descabida a })e1·gt111ta se o clesa1)arecimento da
''acaria elos Pinl1ais se deve unica111ente às de1)1·edacões dos
• j

Lagt1nistas e Pat1listas ot1 tan1bé111 ao 111·og1·essivo empobi·e-


cin1ento Sê1nit:-11·io do gaclo, devido à cleficiente salinidade
do Planalto, f,1zenclo con1 qt1e alg·t1ns ot1ti·os fatô1·es menos
favo1·áveis con10 as geadas, o f1·io en1 g·e1·al, as sêc3.s, agis-
••
sem co111 mais \1 irt1lência sôbre a 1·esistência deJ)at1pe1·ada
do gado, que estava intei1·amcnte abanclon~1clo a si mes1110.

47. Ba1·rei1·a clinzática. - O clin1a inflt1i como se sa-


be di1·etamente sôb1·e os J)astos e as ag·t1aclas 1Jo1· meio das
1)1·eci1Jitações atn1osfé1·icas. P1·eci1)itações deficientes p1·odu-
zem dese1:·tos ou sen1idese1·tos co111 J)Ot1co lJasto e J)Ot1ca agua-
da. P1·eci1)itações den1asiadas })1·odt1zen1 can1J)OS st1jos, ca-
J)oeii·as, matos, reduzindo ot1 extinguindo as á1·eas de pasta-
gem do gado ot1 c1·iando ba1·rei1'êlS qt1e inte1·ceptam a 1)as-
sage1n dt1n1a á1·ea l)a1·a a ot1t1·a, e da11do abrigo a tôda a
classe de feras daninhas. Demasiada ágt1a também ci·ia ba1·-
1·ei1·as hicl1·og1·áficas, e })ela e1·osão ta111l)ém ba1·1·ei1·as oro-
g1·áficas (vales J)1·ofundos e canhadas). Tudo isto é ação
indi1·eta sôb1·e o gado.
Aqui devemos conside1·a1· o influxo di1·eto sôbre a sen-
sibilidade té1·mica dos animais. As den1asias acima ot1 abai-
xo do no1·mal fazei· sai1· dt1n1a 1·egião (fô1·ça qt1e i·epele) ou
impedem de ent1·a1· (fô1·ça que 1·e1)ele e ba1·1·eira climática!)
A te1·n1icidade no1·1nal é t1m fato1· qt1e at1·ai.
C1·emos que em tôda a Banda 01·iental não ·há, nem ha-
via calo1·es ot1 fi•ios instI})o1·táveis 1)a1·a o gaclo. Seu influ-
xo oscila mais no sentido do menos bom pa1·a o bom e do
bon1 pai·a o melhoi· e o ótimo. Se a dife1·ença é notàvelmente
acima ou abaixo do ótimo que o gado clesej a, e se há pos-
sibilidade de emig1·a1·, e não há motivos mais fo1·tes })ara fi-
cai·, o gado, con1 mais ot1 n1enos infalibilidftcle, p1·ocu1·a1·á
emig1·ar pa1·a onde estê\ n1elho1· termicamente.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 47

Po1· isto acha111os qt1e o gado que foi solto na altt11·a


do J acui e Ibicui, n1esmo que }Jttdesse, n t1nca te1·ia st1bido
pa1·a o }Jlanalto, sem que o fo1·çasse t11na fo1·te necessidade
de }Jasto ot1 ot1t1·a fô1·ça de in11Julso ot1 1·e1Julsa. Pelo 11~es-
n10 111otivo, se estivesse em cima e }Jt1desse descei·, te1·ia eles-
cido. O mes1110 vale, em g1·at1 n1uito 111eno1·, da Se1·1·a do
Sudeste, JJelo menos nas 1Ja1·tes n1ais altas, onde ao 111enos
no inve1·no have1·ia sensíveis dife1·enças e11t1·e o qt1c lá ha-
via e o que o gado a1Jeteciê1 co1110 n1édia ótima. - Have1·á
também algun1a dife1·ença entre os clin1as n1ais a1nenos da
costa do ma1· e os elo longínqt10 inte1·io1·, qt1e estão afasta-
dos elo inflt1xo 1·egt1lado1·, qt1e })e1·to do ma1· JJ1·oelt1ze111 os
ventos cont1·á1·ios do dia e da noite.
Com 1·es1Jeito ao infl t1xo eli1·eto do clima }JenSéln10s que
11ão te1·ia sido 11otável nos i11divídt1os. A ação se fa1·ia 111ais
en1 conjunto e JJaulatinamente, avançando os ab1·igos, as
qt1e1·ências, n1ais e n1ais no sentido do ag1·ado té1·mico 111aio1·,
tanto mais qt1e }Ja1·a êste sentido inclinava també111 a me-
lho1· sanilidade, a meno1· dest1·uição hibe1·nal do JJasto, a
meno1· f1·eqüência de ba1·1·ei1·as 01·og1·áficas ...

48. Ba1·1·ei1·as «sociais»? Pomos a 1Jalav1·a en1 as1Jas


e com sinal ele inte1·1·ogação, JJ01·que não nos consta, JJ01· bi-
bliog1·afia ou JJ01· ex1Je1·iência no ca1n1Jo, se há insociabilida-
de ent1·e dois 1·a111os da 1nesn1a l'ê1Çê1 c1·iot1la, que se bift1r-
cassen1, ao 1·edo1· dt1n1a g1·ande n1ata vi1·gen1, e cle1Jois se
1·eencont1·assem. . . Nem nos consta qt1e duas 1·aças dife1·en-
tes de gado vact1n1 se hostilize111 quando se encont1·am 1·e1)en-
tinamente no mesn10 cam1Jo. Podia-se JJe1·g·t1nta1· tan1bém se
uma manada de bois e un1a de cavalos n1ost1·a1n insocia-
bilidade. Considere-se, ent1·etanto, que o gado su1Je1·manso
dos nossos dias talvez não se con11Jo1·te de n1anei1·a JJe1·fei-
ta111ente igual à qt1e te1·ia o gado intei1·amente asselvaj aclo
da Vaca1·ia.
Em caso afi1·mativo, te1·ían1os t1ma ba1·1·ei1·a social. Mas
até p1·ovas em cont1·ário, c1·emos que tal não se dá. - E
qt1anto ao }Jassado te1110s que e1n toclo o Rio ela P1·ata e st1l
do B1·asil não havia n1ais qt1e t1ma só e (1nica 1·aça c1·iot1la,
ct1jos ca1·ate1·es 1·aciais e }J1·ocedência detalha1·emos mais
adiante.

49. Ba1·1·ei1·as «1·aciais»? Engloban1os com êste nome a


pe1·gunta, se há ent1·e as vá1·ias ba1·1·ei1·2-s que n1encionan1os,
algun1as que o são 1Ja1·a t1n1a 1·aça de g·ado vacum e não pa-
1·a outra. Que g1·au de calo1· e t1midade supo1·ta1n e 1·e-
qt1e1·em })01· exen11)lo as vacas de raça l1olandeza? Que é
PESQUISAS 11160, ffiSTôRIA N.O 13

que supo1·tam ou mesn10 reqt1e1·em as 1·aças crioulas, e as


novas 1·aças que agora se c1·iam em tôda a Amé1·ica Latina,
as dive1·sas 1·aças de gado zebú, e tôdas as out1·as? Como
se com1)01·ta1·iam êstes animais diante dos dive1·sos obstácu-
los e ba1·1·ei1·as, im1)ulsos e 1·epulsas?
Entretanto devemos assinalai· qt1e a l)e1·g·t1nta no caso
ve1·tente é me1·amente acadêmica, l)o1·qt1e nos I)1·in1ei1·os sé-
culos, em todo o caso, não havia na Banda 01·iental, mais
aue tima e única 1·aça c1·ioula, da qual dize1n os at1to1·es,
que não só supo1·tava galha1·damente tôda a classe de fa-
tô1·es adve1·sos, mas chegou mesmo a melho1·a1· conside1·àvel-
mente I)ela vida selvagen1 que levava, eliminando defeitos
adquiridos, e a1)e1·feiçoando qt1alidades inatas, que pela do-
mesticidade haviam sido mais ou n1enos oblite1·adas.

RELAÇÃO ENTRE F A TôRES E BARREIRAS

50. Relação em ge1·al. Pa1·a l)roceder com acê1·to


n1aior nas conj etu1·as histói·icas, devia-se estabelecer esca-
la nos impulsos e re1)ulsas ( o que só l)Ode sei· feito 1)01· co-
nhecimentos expe1·imentais) e depois ve1·ificai·, também ex-
perimentalmente, que g1·au de atração ou i·epulsa é neces-
sária para vencei· uma ba1·i·eii·a dete1·minada.
Quase todos os fatô1·es l)Odem agii· como im1)t1lso ou
1·epulsa. Depende dos l)Ontos de 1·efei·ência. O bom é J)O-
sitivo ao lado do n1enos bom, mas é negativo ao lado do
melhor. E' mais questão de dife1·ença 1·elativa do que de
g1·aduação absoluta. Também se de,,e1·ia semp1·e conside1·a1·
o j ôgo complicado dos diversos fatô1·es l)Ositivos e negati-
vos, ti1·ando a média das coo1·denadas. Considerai· as di-
versas suspectibilidades das dife1·entes espécies de gado. Em
algo difei·ii·á o boi e o cavalo, e em mt1ito o gado n1aio1· e
menor.

51. Relação conc1·eta ent1·e impulsos e 1·epulsas, bar1·ei-


1·as de tôda a espécie ...
Só um conhecedo1· l)t·ofundo da natu1·eza dos fatôres
positivos e negativos e de suas combinações, .conhecedo1· })ro-
fundo também das dive1·sas sensibilidades do gado, l)ode-
i·ia estabelecei· a relação conc1·eta ent1·e im1)ulsos ba1·1·ei1·as
e psicologia de cada espécie de gado, com a ci1·ct1nstância
do completo asselvajan1ento do gado da antiga Vaca1·ia do
Ma1·. Não nos at1·even1os nem de longe a tal em1)1·êsa, po1·-
que nos falecem sob1·etudo os conhecimentos 1)1·áticos da
matéria.
BROXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 49

APLICAÇÃO DE TUDO À ANTIGA BANDA ORIENTAL

52. Distinguinios t1n1a aJ)licação total e })a1·cial. A to-


tal só seria })Ossível com un1 conhecimento total das GOndi-
ções geog1·áficas, 11ão só da att1al «Banda 01·iental » (Rio
Grande do Sul, e Re1)ública do U1·t1gt1ai) mas tan1bén1 da
antiga. Pois con1 o desmatamento e st1bseqt1ente alte1·ação
do 1·egime de chuvas e sêcas, e as infl t1ências clestas sôb1·e
a vegetação, já }lode te1· havido dife1·enças bem notáveis, so-
bretudo nas ba1·1·ei1·as hid1·og1·áficas. Além disso seria p1·e-
ciso que estivessen1 feitas as escalas de que se fala nos n(1-
mei·os 50 e 51.
E11ti·etanto, se não J)Odemos fazei· uma aJ)licação total
no sentido geog1·áfico e temático, J)odemos fazê-la pa,·cial
em ambos os sentidos. A dificulclade est{t n1ais na linha
média, onde há mais ot1 n1enos equilíb1·io ent1·e imJ)ulsos e
1·esistências. Nos casos 111ais ext1·emados pode1·emos ce1·ta-
mente dizei· que tal e tal ba1·1·ei1·a, con1 tal e tal im1lulso
Jlode1·á ou não sei· vencida J)Ol' tal ot1 tal e.SJ)écie de g::1.do.
Podemos sabei· que qt1antidade de água deve havei· pa1·a
vedai· a J)assagem de vacas e qual a que im1)ede o passo às
ovelhas. O mesmo com matos, com encostas abi·uptas ...
Estes conhecin1entos, en1bo1·a fragmentái·ios, são entre-
tanto segu1·os pa1·a decidii· n1uitas questões da antiga J)ecuá-
1·ia da Banda Oi·iental, em qt1e nos senti1nos abandonados
pela documentação esci·ita.

CAPíTULO TERCEIRO

INTRODUÇÃO DO GADO V ACUivI NO PARAGUAI

P r e â m bulo.

53. Estudamos até ago1·a a aptidão e acessibilidade e


algumas leis da difusão esJ)ontânea do gado vacun1 e cava-
la1·. Ago1·a ve1·emos donde veio o gado doméstico et11·01)et1,
que se esJ)alhott no Rio da Prata, e qt1e veio a J)a1·a1· também
na Banda 01·iental.
Antecipando })01· alto a di,risão de todo êste assunto, di-
1·en1os que o casco inicial de todo o gado do Rio da P1·ata
50 PESQUISAS 1960, HIST6RIA N.o 13

veio de São Vicente, da Costa do B1·asil, e do Pe1·u, da cos-


ta do Pacífico. O J)onto de conve1·gência foi en1 ARst1nção
do Pa1·aguai. Daí o gado se esJ)alhou e111 se11tido no1·te-st1J,
ao longo do Pa1·aná-Pa1·agt1ai, en1 Co1·1·ientes, Santa Fé e
Buenos Aires. E en1 sentido leste-oeste ot1 viceve1·sa, n1as
com l)OUco 1·esultado como ve1·emos, a não sei· na t1·ans1)lan-
tação pa1·a a Banda 01·ientêil, que de fato 1·e1)1·esenta un1 ga-
lho late1·al bastante g1·ande.
Po1· isto as J)a1·tes J)1·inci1)ais dêste ca})ítulo necessà1·ia-
mente ten1 que sei· J)1·imei1·amente \'e1·. de 1·elance, a int1·0-
dução do gado no B1·asil e no Pe1·t1, de1)ois a int1·odt1ção, eles-
de estes dois J)ontos, no Pa1·agt1ai, e fi11ê1ln1ente a dissemina-
ção em sentido me1·idional e latitt1dinal. Deixamos, J)o1·én1,
a int1·odt1ção do gado ,1acun1 na Banda 01·iental (qt1e J)e1·ten-
ce à disseminação Iatitt1dinal) J)a1·a t1m caJ)Ítulo à pa1·te,
por havei· nesta maté1·ia mt1itas })e1·guntas sem solução por
enquanto, e 1)01· sei· êste o assunto J)o1· excelência dêste t1·a-
balho. E n1esmo, quanto à int1·odução do gado na Banda
Oriental, dividi1·en1os ainda mais o asst1nto, t1·atando en1 ca-
})Ítulos à J)a1·te J)1·imei1·0 a qt1estão ela at1to1·ia da int1·odução
do gado na Banda 01·iental, e depois a int1·odt1ção esJ)ecifica-
da do gado vacum, do cavala1· e do gado meno1·.
ó4. Divisão porntenorlznda do cnpitn lo
A. Introdução do gado ,,acum no Brasil e no Peru.

I. Introdução 110 Brasil e1n geral e em S. Vicente em particular.


Motivos e decisão de introduzir o gado em São Vicente (55)
Execução da decisão tomada (56)
Disseminação e111 São Paulo
Em geral (57)
Nas teras dos irmãos Góis en1 particular (58)
Apêndice sôbre a côr da pelagem (59)

II. Introdução do gado vacun1 no Peru

Cavalos com os primeiros conquistadores (60)


Gado vacum e outras espécies de gado mais tarde (61)
B. Introdução do gado paulista e peruano no Paraguai.
Do gado paulista

Antecedentes da extração furtiva do gado paulista.

Espanhóis na costa do Brar.il


Fugidos de Assunção (62)
Naufragados na costa do Brasil (63)
Gestões inúteis dos espanl1óis para voltar e ,•oltar con1 ga-
do a Assunção do Paraguai (64) ·
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDI\ ORIENTAL DO URUGUAY 1 51

Pla110 de fuga con1 extração furtiva de gado vacu1n (65)


Con1binação co1n o:, irn1ãos Góis que eran1 donos do ga-
do (66)
A fuga da ca.ravan,\ c.:0111 gado paulista contrabandeado.
(:on1ponentes J1un1nnos da r<'lra.vana (67)
Gado vacu1n que levaram (G8)
Partida e perseguição pelas autoridades (69)
Salvação da caravana pelo Padre Nóbrega(70)
Dt1 ração e trajetórifl da viager11 (71)
C~l1egada a 1\ssunção (72)

Ileparos críticos a esta versão da História.

O silêneio dos contemporâneos que deviam falar (73)


Dúvida.s e conjeturas sôbre o nún1ero dos ani111ais qt1e le-
varam

Exposição da dúvida (7 -1)


.i\rgun1e11tos da dúvida.

1\rgun1entos de autoridade (75)


1\rgu111entos de conjetura histórica (76)

Resu1no da co11jetura (76 bis)


Argurnen tos da conjetura a posteriori: em do-
cun1e11tos

Quanto ao 11ún1ero de cabeças atingível (77)


Quanto ao ní1n1ero de cabeças atingido

Irala e Núfrio de C~havez (78)


Cabildo de Buenos Aires etc. (79)

Argume11tos de conjetura a priori: possibilidade


e conveniência de leYar mais gado (80)
Do gado peruano.

Aclarações (81)
Os i11trodutores

Felipe de Cáceres

Con1pron1issos do Adelantado Juan Ortiz de Zârate. (82)


Execução dos con1pron1issos por Fel ipe de Cáceres (83)
Quantidade de gado c1ue traria Felipe de Câceres (84)

Juan de Garay
Compro1nissos do Adelantado Jua11 Ortiz de Zárate (85)
('. un1prin1ento deles por Juan de Garay

Tese que o afirma (86)


Tese que o nega (87)
Juan de Garay cc1no grande disse111inador de gado (88)
Outros introdutores de gado, pela via direta do Tucuman ou
indireta do Chile (8!))
52 PESQUISAS 11160, HISTÓRIA N.O 13

INTRODUÇÃO DO GADO NO BRASIL E NO PERU

NO BRASIL.

55. Motivos e decisão de int1·oduzir o gado vacuni no


Brasil em ge1·al e em São Vicer,te, na costa de São Paulo,
em particula1·.
Em 1532 estava o donatá1·io da Ca1)itania de São Vi-
cente, Dom Ma1·tim Afonso de Souza, na costa de São Pau-
lo, atendendo aos asst1ntos da te1·1·a que lhe fô1·a confiada.
Chegou-lhe então uma carta del Rey com a notícia de q11e
1·esolve1·a dividi1· o B1·asil em Capitanias he1·edité\1·ias, e que
a êle, Dom Ma1·tin1, co11be1·a a de São Vicente. Era 11n1a no-
tícia alviça1·ei1·a. A he1·edita1·iedade ce1·tamente da1·ia asas
às fundações em muitos l11ga1·es.
Do1n Ivla1·tim passou logo a fundai· São Vicente, no 1u-
ga1· em que 1)1·imei1·0 esteve assentada. Mas, segundo F1·ei
Gaspa1· da J\1ad1·e de Deus, o ma1· levou tôdas as ob1·as J)Ú-
blicas e Dom Ma1·tim teve que estabelecei· a sua sede em ou-
tra pa1·te.
Du1·ante estas ocupações tôdas Dom Ma1·tim encont1·ou-
se na p1·aia com João Ramalho, que havia já uns vinte anos
que andava no J)lanalto e fundara Santo Andi·é da Boi·da do
Campo. Ramalho convido11-o a i1· com êle visitai· as te1·1·as
do planalto. Escala1·am a serra com st1a g·ente. Dom lvla1·-
tim 1·epai·ou qt1e os extensos can11)os de Pi1·atininga deviam
sei· muito aJ)tos pa1·a a c1·iação de gado vacum, e também
de cavala1· e ovelhum.
Esta constatação teve gi·aves conseqüências. Seduzido
pelas esplêndidas possibilidades, 1·esolveu-se Dom Martim a
ti·aze1· gado vacum J)a1·a a sua capitania. Pa1·a bus-
cá-lo voltou ao Reino em 1533, levando ce1·tamente as n1ais
cálidas 1·ecomendações da J)a1·te dos fidalgos seus comJ)a-
nhei1·os, que logo se deixa1·am ficai· na te1·1·a de São Vicen-
te. (1)

56. Execução da medida assentada. - Deixando tudo


regulado e nomeando o pad1·e Gonçalo Montei1·0 J)a1·a p1·0-
ve1· ofícios em sua ausência, e concedei· sesmai·ias na dona-
tai·ia, zarpou Dom J\ia1·tim Afonso de Souza J)a1·a o Reino e
apoi·tou em Lisboa em J\faio de 1533. Mas na CaJ)ital J)o1·-
tuguesa encont1·ou-se com a sur1)1·esa de te1· sido non1eado
Ca1)itão Mói· pa1·a a India. Carg·o de hon1·a e confiança, qt1e
enti·etanto o desviava dos ct1idados poi· sua incipiente CaJ)Í-
tania. P1·e1)a1·ou-se pa1·a parti1· a seu destino em 1534, a1)1·0-
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 53

veitando o ano de esJ)era J)a1·a cuidai· de sua ca1)itania. En-


viou-lhe, segundo Va1·nhagen, (2) casais, plantas, sementes,
cana de açúca1· . . . Neste ano deve te1· ido também o p1·in1ei-
1·0 gado vacum para São Vicente. Há, ent1·etanto, ainda mui-
tos l)ontos obsct11·os que J)1·ecisan1 de escla1·ecimentos ulte-
1·io1·es, e que escapan1 do escOJ)O dêste t1·abalho. Pode havei·
dúvidas sôb1·e algumas ci1·ct1nstâncias secundá1·ias, 1nas não
c1uanto à essência do fato. O gado foi levado })01· êste tem1)0
pa1·a a Bal1ia e })a1·a São Vicente. Não disc1·e1)am sôb1·e isto
os modernos histo1·iado1·es.
Quanto à data e autoria desta p1·in1ei1·a 1·en1essa pa1·a
São Vicente, 1)1·oct11·am 1)1·ova1· alguns, que foi du1·ante o ano
de es1)e1·a de Do111 lVIa1·ti111 e111 Lisboa, J)o1·tanto ent1·e 1533 e
1534. Há quem at1·ibua a })1·ovidência à mulher de Dom lVIa1·-
tim Afo11so de Souza, que e1·a Dona Ana de Pimentel. Vai
Esta suposição baseada na procu1·ação que lhe l)assou Dom
11a1·tim uma semana antes da 1)a1·tida J)a1·a a India. (3) Mas
é possível que Don1 Ma1·tim pessoalmente ainda tenha en-
can1inhado esta l)I·ovidência, de tanta im1)01·tância pa1·a os
engenhos e consumo de ca1·ne na sua capitania, e nas out1·as
que não dis1)unham de tão bons cam1)os de c1·iação.
Quanto ao lt1ga1· de onde se ext1·aiu o gado, que foi pa1·a
São Vicente, 1·e1)etimos a afi1·mação de Au1·élio Pô1·to, que
cita Gandavo, e dizen1os que se1·iam as ilhas do Cabo Ve1·-
de, já qt1e Gandavo atesta que e1·a destas ilhas que se p1·0-
viam de cavalos, éguas e gado vacum as armadas que de-
mandavan1 o ocidente. (4)
Discute-se a 1)1·imazia da int1·odução do gado ent1·e Ba-
hia e São Vicente. Embo1·~t seja de })ouca im1)01·tância 1)a1·a
êste estudo, seguimos a OJ)inião de Simão de Vasconcelos e
de F1·ei Gaspa1· da !viad1·e de Det1s que também se atém a
êle, e dizemos con1 êles, qt1e foi São Vicente a l)I'imei1·a a p1·0-
duzi1· açúca1· e dai· às out1·as caJ)itanias mudas desta l)la11ta
e também vacas pa1·a a c1·iação. (5) :rvras se as feito1·ias do
norte fo1·an1 fundadas antes ele São Vicente, é bem possivel
que lá também tenha havido gado mais cê.d o que em São
Vicente, J)elo n1enos en1 c1·iação de escala tão J)equena, que
não pudesse p1·ovê1· con1 gado as out1·as caJ)itanias.
Há que mencionar ainda a questão do 1·otei1·0 que te-
nha seguido o gado vact1n1 J)a1·a cheg·a1· a São Vicente. Não
há cla1·eza, que1· demos a 1)1·in1azia a São Vicente, que1· à
Bahia. Teoretica111ente é possível que se tenha emba1·cado
o gado em Cabo Ve1·de e se tenha levado di1·etamente })ara
São Vicente. Mas também é J)ossível que o gado tenha sido
adquirido na Bahia, ou qtte tenha sido de1)ositado })a1·a São
Vicente na Bahia, a fim de qt1e se 1·estabelecesse da longa
PESQUISAS 1960, msTóRIA N,O 13

e penosa viagen1 e n1t1lti1Jlicasse de algu111a 1n~lnei1·a. Em to-


do o caso o 1·oteiro foi Cabo Vercle-São Vice11te, con1 ou sen1
pa1·ada na Bahia. ·

57. Dissenzinação enz São Paulo e11z ge,·al.


A j ulga1· JJelo n(1n1ero e qualidade elos fidalgos afazen-
dados en1 São Paulo, e en1 São Vice11te, e111 es1Jecial, lJOde-
1110s fazei· icléia el a ânsi:.1: co111 que es1Je1·é11·ia111 as natis con1
as JJ1·imei1·as V él l' êlS e ca\,alos. .Jt1lga-se qt1e esta int1·odt1ção
se tenha daclo ao rec101· ele 1534. Já a êste te1111Jo n1uitos fi-
dalgos havié1n1 1·ecebido te1·1·as en1 São Pat1lo, cloadas lJelo
}J1·ó1J1·io donatá1·io ou }Jo1· se u l t1g·f11·tenente, o JJacl1·e Gonçal-
ves l\1ontei1·0, segunclo o t esten1tt11ho de Pe1·0 Lo1Jcs de Sot1-
za. (6)
Conj ett11·a1110s co111 1·azão qt1e todos estes fidalgos ad-
qt1iri1·am pot1co tl JJot1co 03 sementais que 1J1·ecisavam do ga-
do t1·azido en1 1534, e que se fô1·a n1t1lti1Jlicando ct1idadosa-
me11tc em set1s }J1·i111eiros c t11·1·ais. Nfto vem aqui ao caso }Ja1·-
ticula1·iza1· co111 Au1·élio Pô1·to n1t1itos non1es en1 conc1·eto.
Não nos dete1·en1os tão JJouco na pect1êí.ria do Colégio de Pi-
1·ati11inga con1eçc1.da e111 155:l con1 os g·aclos que lhe doot1 un1
antigo g1·ande cciçado1· de í11clios, Pe1·0 Co1·1·êa, o qual se
conve1·te1·a e se fizera i1·111fto leigo ela Cor111Ja11hia de Jesus
chegando a mo1·1·e1· 111árti1· c111 11on1e da cateqt1ese entre os
índios. Nen1 i11te1·essa aql1i ::1 estatísticri. ela 1Ject1á1·ia ele São
Paulo, que já e111 1564 n1anda•1a 1Jagar os clízimos \)elo ga-
do, confo.trr1e a lei. Não i11te1·essam as 111a1·cas de gado, ,ls
non1inatas dos c1·iado1·es, os }J1·eços qt1e alcançava111 os bo-
vinos em São Paulo naquelas 1~emotas e1·as. Tt1do isto 1>o<le
ve1·-se err1 Au1·élio Pô1·to e nas ob1·as que cita. (7)
Aqui nos inte1·essa de tt1do isto a1Jenas a conclusão (Itle
ele tt1<lo isto se t)o cle tir·~lr leg·iíi111an1ente. Pa1·ece qt1e nas
}Jrin1ei1·a s d écad::1s o gado .ic.í. s e l1avia n1t1lti1Jlicado bastante
en1 São P::1t1lo. cor1c l L1süo q t1e té1mbérr1 se ti1·a a JJ1·io1·i da bon-
dade dos cam}JOS e do gênio })1·ático claqueles colonizadores,
que ent1·eve1·ia1n ::1 g·1·a11de va11tagen1 do gado no abasteci-
mento de carne e 110 t1·abalho d,1 lavoura.
58. Ago,·a o gado nas te,·,·as dos i1·nzãos Góis em par-
ticula,·. Êstes nos inte1·essan1 1nais })ela est1·eita ligação que
vão te1· com a ext1·ação fu1·tiva do gado \7a ct1n1 J)a1·a Assun-
ção do Pa-raguai. Pa1·a a1)resentn1· a genealog·ia dos famoso[;
i1·mãos Ci1)ião e \lice11te de Gói~5 di1·emos b1·eveme11te, que seu
tio, Pe1·0 de Góis havia 1·ecebicl~) t1111a sesn1ê11·ia junto ao Er1-
guaguaçu, (8) onde ft1nclot1 o eng·enho da l\1ad1·e de Deus.
Deve te1· povoado os set1s carl1l)OS con1 gado como todos os
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 55

out1·os. Algun1 ten11)0 de1)ois foi designado pelo Rei para to-
mai· conta da Ca1)ita11ia de São Tomé. Deixou, pois, seus
can11)os aos cuidétdos de seu i1·mão Luiz de Góis. (9) Êsle
teve dois filhos \'icente e Ci1)i·ão de Góis, que foram da par-
te paulista e 1)01·tt1guesa os qt1e decisivamente ton1a1·am pa1·-
te no cont1·abanclo <las 1)1·i111ei1·as vacas l)a1·a Assunção do
Pa1·aguai. Êste se det1 em 1555, con10 ve1·en1os n1ais alJaixo.
Os pais dos dois i1·mãos 1nais ta1·de se 1·eti1·a1·am })ara j un-
to de seu i1·1não e ct1nhado Pe1·0 de Góis. Não nos consta
co111 ce1·teza se se 1·eti1·a1·am 1)01· causa da ação dos filhos
ou se os filhos .'-t 1)1·atica1·an1 en1 conseqüência da 1·eti1·ada
de seus pais.

59. A côr da pelage111 do gado de São Ji icente, ainda


que não tenha sido t1ma só, contudo vê-se l)ela lista dos p1·e-
ços, qt1e e1·a f1·eqüente a })elagem escu1·a, ve1·melha ot1 fôs-
ca, e qt1e os bois clesta l)elagen1 alcançava1n em ge1·al os me-
lho1·es 1)1·eços. (10) Esta 1)1·efe1·ência acusa na raça fôsca
qualidacles exce1)cionais, seja 11a facilidade da c1·iação, seja
110 tamanho elos anin1ais e qt1alidade da ca1·ne qt1e fo1·necem,
ou qt1alque1· ot1tra qt1ê1lidacle st1J)e1·io1·. Dizen10s que a cons-
tatação desta 1Jelage111 e ela 1J1·efe1·ência que se lhe dava, ten1
ce1·ta in11)01·tância, no estudo ela 1)ect1á1·ia da antiga Banda
01·iental, J)o1·qt1e é exata1nente esta pelagem que mais f1·e-
qi.ientemente assinalan1 os qt1e vi1·an1 o gado da antiga Va-
ca1·ia do l\tla1·. Tudo isto ex1)lica l)erfeitamente, como ent1·a-
1·e111os logo a ve1·, 1)01·qt1e o gado vice11tino, ao qtte pa1·ece,
teve n1aio1· qui11hão no Sélngt1e elo gado l)a1·aguaio e con1 is-
to no gado de Co1·1·ientes e Sa11ta Fé, qt1e 1)01· st1a vez fo1·-
nece1·am os sen1entais })a1·a a Banda 01·ie11t~tl. E 1nesmo qt1e
se admita a 1)1·os1)e1·idacle do gado lançado po1· He1·nanda-
1·ias descle Bt1enos Ai1·es, e111 nada se 1nt1da1·ia a situação 1)01·-
que também êste clesce11de exclt1sivan1ente do gado de As-
st1nção do Pa1·agt1ai.
lVIas anteci1)an1os ta1nbén1 qt1e a constatação da l)ela-
gem f ôsca não t~m valo1· algt11n l)ara p1·ova1· a p1·ocedência
n1issionei1·a do g·ado ela antiga Bancla 01·iental, 1)01·qt1e tam-
bén1 o gado qt1e I-le1·nanda1·ias te1·ia lançado e1·a descendente
do 111esn10 l)la11tel e téllnbém o qtie, 1)01· })a1·te dos 1)01·tt1gt1e-
ses , alg·t111s ~fj1·n1am te1· lançado o Gene1·al Salvado1· Co1·1·eia
de Sá e B e11avides . Se se Ia11çasse 1·eal1nente, se Iança1·ia
com gado tirado elas ca1)itanias do sul, ot1 seja São Paulo,
sendo portanto tn1nbém da mesn1a ascendência.
Temos co1n isto o gado vact1m int1·odt1zido no B1·asil em
g·e1·al e em São Vicente en1 })a1·t ic ~1la1·. Vamos à int1·odução
no Pe1·u.
56 PESQUISAS 1D60, msTôRIA N.O 13

NO PERU.

60. Embo1·a aqui n1ais nos inte1·esse ago1·a o gado va-


cum, contudo lla1·ece útil avançai· uma obse1·vação sôb1·e os
cavalos de gue1·1·a, que vale também 1Ja1·a o Rio da P1·ata.
Vemos que 2 uso constante dos conquistado1·es es1)anhóis
anda1·e111 quase sem1J1·e })1·ovidos desta a1·n1a tão eficaz, dos
cavalos, cont1·a os índios que não a conheciam. Sem o seu
co1·cel de gue1·1·a, as }lesadas cou1·aças dos cavalei1·os se1·-
viam n1ais de estô1·vo que ele auxílio, con10 aconteceu na
p1·in1ei1·a fundação de Bue11os Ai1·es, em que os índios co-
1na1·cãos de1·1·ibavan1 os cavalos com as suas boleadei1·as e
acabavan1 con1 os cavalei1·os a }Jaulada, antes que estes ti-
vesse1n ten1po de n1ove1·-se dent1·0 de suas cou1·aças pesadas.
C1·emos que g1·ande })a1·te dos cavalos de gue1·1·a não
e1·am cast1·ados. Tan1bén1 as éguas servi1·iam J)a1·a eventuais
t1·a11s1)01·tes. U1n casal eqt1ino solto nun1 1·incão se multi-
J)licava de1)1·essa, aun1entando o n(1n1ero de anin1ais tão ne-
cessá1·ios. Po1· isso })ensan1os que onde e1·a lJOssível os con-
quistado1·es do Pe1·u leva1·iam os seus cavalos e começa1·ian1
a c1·iação logo que as cois,is estivesse1n suficie11ten1ente as-
sentadas, pelo n1enos em algt11na 1·emota ilha ou 1·incão mais
Jl1·otegido cont1·a o ataqt1e dos autóctones.
Os out1·os gados })01· sua n101·osidade nunca l)Ode1·ian1
acom1)anha1· a n1a1·cha das com1lanhias conquistado1·as, so-
b1·etudo não nas })a1·tes n1ontanhosas, qt1e, além do 111ais,
ainda ca1·ece1·ia111 muitas vêzes do pasto necessá1·io. 1\1esmo
Dom Ped1·0 de Mendoza en1 1535 e o segundo Adelantado
Cabeça de Vaca, a1)esa1· de sabe1·en1 que o Rio da P1·ata e1·a
uma 1·eg·ião cam1)0st1·e, muito apta l)a1·a a c1·iação, não t1·ou-
xe1·am gado algun1 fo1·a ele seus cavalos, a 11ão sei· talvez
álgun1 gado suíno, que e1·a fácil de t1·ans1)01·ta1· 1)01· n1a1·, po1·
sei· um anin1al onívo1·0 e de l)equeno })01·te. Prova1·-se-á mais
ta1·de que os suínos ent1·a1·an1 já co111 Dom Ped1·0 de Men-
doza em 1535 no Rio de la Plata. A meta dos conquistado-
1·es e1·a })enetra1·, conquistai-, alcançai· as famosas minas de
p1·ata e ou1·0, de que todo o mundo falava. De1)ois com os
povoado1·es pro1J1·ia111ente ditos vi1·iam as outras espécies de
gado doméstico. Tanto mais é de admi1·a1· que os portu-
gueses tão cêdo levassen1 gado vacum pa1·a as st1as colônias
ocidentais no B1·asil.

61. Int,·odução do gado vac1l111 no Pe,·u.


' .
Não inte1·essam aqt1i os J)o1·n1eno1·es, nem p1·01)1·1amen-
te datas exatas e dados g·eog·1·áficos e J)essoais, pois que a
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 57

int1·odução do gado no Pe1·u é a1)enas u111a nota co1n1)le-


n1enta1· pa1·a o estudo de qt1e se ocuJ)a êste t1·abalho. À fal-
ta de melhor litei·atui·a sôb1·e êste })Onto, i·esenhamos uns
J)oucos de dados da Enciclo1)édía Es1)asa CalJ)e, que jt1lg·a-
mos ao n1enos 111edianamente be1n inforn1ado. Na })ala:v1·a
Pei·u diz que em 1544 as J)i·i1nei1·a.s calJ1·as se vendia111 à 1·a-
zão de 100 a 200 ducados cada uma. De1)ois qt1e a 1·egião
montanhosa favo1·ecei·a exti·aoi·dinàrian1ente a n1t1lti1)lica-
ção, chegou a sei· tão co1num, qt1e ninguén1 n1ais fazia caso
delas. Caçavan1-se aJ)enas J)ai·a a1)1·oveitar os chifi·es.
Dos bois diz qt1e en1 1550 se ví1·am as J)i·imeii·as j un-
tas de bois lavrando a te1·1·a })ei·to de Ct1zco. Os índios, que
aco1·i·ia111 aos n1ilha1·es, se adn1i1·avam e escandalizavam dos
es1),1..nhóis qt1e ei·a111 tão J)1·eg·t1içosos qt1e n1andava1n os bois
fazei· o t1·abalho que êles n1es111os deviam fazei·. Deven1,
J)ois, ter ent1·ado })01· êste te1111)0 as J)1·imei1·as vacas, cuida-
dosamente g·t1a1·dadas J)or set1s clonos. De1)ois JJassa1·am a
sei· vendidas à i·azão de 180 dt1cados cada uma. Se ducado
co1·i·es1)onde n1ais ot1 menos a t1111 J)eso, te1·en1os que nos bons
tem1Jos nas 1·eduções })01· t1n1 JJeso se con11)1·avam dt1~1s ou
três vacas.
Diz EsJ)asa CalJ)e, que e111 1557 se vendeu t11n asno })01·
480 ducados e Ol1t1·0 J)o1· 840. Se1·ia pela i·a1·idade. O p1·i-
1nei1·0 gato foi venclido J)o1· 600 J)esos. Un1 tal de Reynaga
int1·ocl t1zit1 t1m J)ar de camelos qt1e vendeu l)Ol' 8.400 ducados.
Confoi·1ne estes daclos o g·ado vact1111 deve te1· ent1·ado
no Pe1·u J)o1· volta de 1550, J)elo n1enos na J)a1·te interna cl,1..
te1·1·a.
O gado te1·-se-á, evidente111ente, J)rOJ)agado, embo1·a não
na escala J)1·odigiosa como no Rio da P1·ata, o qt1e já se de-
duz do fato que du1·ante séct1los se levava gado do T11ct1man
para o Pe1·u, sob1·etudo as t1·01)as de 111ulas pai·a t1·abalha1·
nas minas de J)1·ata; n1as també111 1·êzes J)a1·a o s11stento dos
índios mineiros.
Com1)arando os dados ve1nos que há a dife1·ença de uma
dúzia de anos ent1·e a inti·odução do gado va.cum no Pe1·u e
no Brasil. Também há un1 lapso ele 12-13 anos ent1·e a vin-
da do gado vicentino e a do gado J)e1·uano, 1)a1·a o Pa1·a-
guai, o que insinua a J)1~edon1inância J)oste1·io1· do sa11g·11e
vicentino.

INTRODUÇÃO DO GADO PAULISTA NO PARAGUAI.

Os antecedentes,· motivos e ocasiões da ext1·ação fu1·tiva


58 PESQUISAS 1Q60, HISTÓRIA N.O 13

do gado vact1111 da costa de s·ão Paulo, encont1·an10-los na


p1·ese11ça dos es1Janhóis en1 São Vicente. Le111b1·en10-nos qt1e
e1·a antes da união das duas co1·oas em 1580 com o desast1·e
JJ01·tugt1ês de Alcace1·-Qt1ebi1·. Os est1·angei1·0s e1·an1 de cluas
})1·ocedências: ou fug·idos ele Asst1nção 1)01· ocasião elas tu1·-
bulências que de1Juse1·an1 a Alva1· Núfiez Cabeça de Vaca,
ou nauf1·agados na costa st1l do B1·asil.

62. Tomen10s J)1·imei1·0 os fugitivos. O ft1nclado1· ela


})1·imei1·a Buenos Ai1·es se 1·eti1·a1·a finalmente }Ja1·a EsJ)a-
nha, mo1·1·endo na viag·e111 de volta. Manda1·a gente Pa1·an{1.
acima, a qual ft1ndou Assunção elo Pa1·ag11ai e111 1537. No-
meot1-se novo Adelantado na J)essoa de Alva1· Núfiez Cabeça
de Vaca. Mas antes que êste chegasse ao Pa1·agt1ai, 11101·1·e-
1·a Ayolas, o substituto de Mendoza e toma1·a conta da fun-
dação Domingo l\1Ia1·tí11ez de I1·ala. Tão insignes qt1ê1.lida-
des de chefe demonst1·ou I1·ala, que, quanclo cheg·ou final-
n1ente Cabeça de Vaca, 1)01· ter1·a clesde a ilha de Santa Ca-
ta1·ina, e se 111ost1·ou, ao que JJa1·ece, n1enos con11)1·eensivo pa-
1·a com os velhos co11quistado1·es, estes se 1·evolta1·an1, cle})ll-
se1·am-no e o en1ba1·ca1·an1 de volta })a1·a Es1)anha, conti-
nuando I1·ala co1n o con1anclo. Nesta ocasião, }Jois, alguns
}Ja1·tidá1·ios de Cabeça de Vaca tive1·a1n que fugi1· }Jo1· te1·1·a
})ara São Paulo e se achava111 e1n São Vicente, quando che-
ga1·am os out1·os, q11e e1·a111 nát1frag·os . A j ulg·a1· JJelo qtte
diz Vicente Sie1·1·a em stta I-Iistó1·ia ela i-\1·gentina, ao t1·ata1·
da fundação de lJOVoações es1Ji1nholas na 1·egião do G11airá
(Ontevi1·os, Vil la Rica etc.), c1·emos que e1·a bastante f1·e-
qüente acha1·en1-se }Ja1·agt1aios em São Paulo e viceve1·sa. De
n1odo que não se1·ian1 sõn1ente 1·ef11giaclos }Jolíticos, os q11e
se achavam en1 São Paulo, na ocasião, em que lá fo1·an1 })a-
1·a1· os náuf1·agos da ex1Jedição de Sanáb1·ia. (11)

63. Alé111 dos fugitivos, os náuf1·agos. - O 1·ei no111ea-


1·a, em substituição a Cabeça de Vaca a Jt1an de Sanab1·ia.
Êste meteu todos os seus bens na en11)1·êsa, mas faleceu an-
tes da })a1·tida. Ent1·ot1, con10 e1·a .i usto e legal, en1 set1 1t1-
ga1· set1 filho Don Diego de Sanab1·ia. - Pela ca1Jitulação
de Sanab1·ia se vê que sua expedição e1·a JJ1·efe1·enten1ente
}Jovoado1·a con10 se vê em Sie1·1·a, I-Iisto1·ia de la A1·genti-
na. (12)
Don Diego de Sanabi·ia conser;t1it1 a1·ma1· dois be1·g·a11-
tins e a nave de São Mig11el, e111 qt1e i1·iam as 1Jessoas n1a is
influentes da ex1)edição, levanclo co1110 cabeça 11n1a das n1u-
lhe1·es mais ext1·aordiná1·ias, que conheceu a l1istó1·ia das
fttndações de Espanha, Dona i\1ência ele Cal cle1·ón, mulhe1·
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 59

do falecido J t1a11 ele Sanab1·ia. - Pa1·ti1·a111 de Sa11 Lúcar


em 10 de ab1·il de 1550. Ia ta1nbém o céleb1·e a1·cabuzei1·0
Hans Staden, qt.. e esc1·eve1·ia mcn1ó1·ias sôb1·e as J)e1·ipécias
desta viagen1. Don Diego qt1e1·ia i1· 111ais ta1·de, 111as né"l. 1·ea-
lidade nunca chegou ao l ug·a1· de st1a e1n1J1·êsa. .
De1)ois elo Cabo Ve1·cle as e111ba1·cações fo1·an1 clis1Je1·-
sadas. Uma voltou à Es1Janha, out1·a conseguit1 i1· até Sa.n-
ta Cata1·in~t, onde se lJÔS a es1Je1·a1· JJelas con11Janheiras, a.b1·i-
gada nas baias qt1e fo1·n1am aqt1ela Ilha. A náu de São l\tli-
guel sing·1·ou por mt1ito ten11)0 JJelas costas da Ãf1·ica. Alí
cai11 11as 1nãos de corsá1·ios f1·anceses, que a saquea1·é11n e
111alt1·ata1·an1, n1as, com g1·ande adn1i1·ação de Hans Staden,
1·es1Jeita1·a1n as mt1lhe1·es, o qt1e, segundo Staclen, era mt1ito
JJa1·a un1 f1·ancês naquelas condições. De1Jois de qt1at1·0 me-
ses de e1·1·a1· J)o1· todos os n1a1·es, a São lviigt1el a1)01·tot1 fi-
naln1ente à Ilha de Santa Cata1·iné1, onde se e11cont1·ot1 co111
o be1·g·anti111 c1ue a espe1·a\1a. Encont1·a1·am té.ln1bém alg·t1ns
es1Janhóis ele Asst1nção, qt1e I-1avié1.111 })e1·st1aclido aos índios
da 1·egião, a 1Jlanta1·er11 n1t1ita 111andiocé1., JJa1·a a1Jrovisionar
con1 fa1·inha as nat1s de EsJJé1.nha.
Qt1iseram JJ1·ossegui1· viag·e111. 1\-lélS, de 1·c1)ente, a nau de
São i\'liguel se desfez e se élft1nclot1 no 111a1·. Ti\1e1·an1 que
ficai· r:.01· enqt1a11to onde estavan1. Des1Jacha1·ar11 JJ01· te1·1·a
un1a expedição a Assunção, pois sabian1 qt1e naqt1ele luga1·
.i á ha\ria estalei1·os navais JJê:11',l. ,l const1·t1ção de emba1·cações
ca1)azes de af1·011i.a1· o mé1.1·. Cabeça de Vaca fô1·a nun1a náu
const1·t1ícla en1 Assuncão.
,
Com a den101·a 1·esolve1·a111 en1ba1·ca1·-se no be1·ganti111
que ainda lhes 1·estava. Desce1·an1 1Jela costa cata1·ine11se, e
naufraga1·am na a.l tu1·a da att1al Lagt1na, JJe1·dendo tudo n1e-
nos a gente.
Dividit1-se entfto n1ais u111a vez a gente. Unia l)a1·te foi
})01· te1·1·a ao Pa1·aguai e cl1eg·ot1 co1n 11101·te de algumas cle-
zenas de J)essoas. A ot1t1·a J)a1·te ficot1 er.1 Laguna, co11st1·uiu
t1111 Jleqt1eno }Jovoaclo, e t1n1 JJec1i.1e110 navio JJa1·a co11tint1a1· na
de1·1·ota. IVIas logo qt1e cnt1·a1·an1 c111 alto n1a1·, vi1·an1 qt1e tão
Jleque11a emba1·cação não st11)01·t~1ria. os n1a1·es qt1e esta\ram
ainda })ela f1·e11te. Resol vc1·é1n1 vi1·a1· }Ja1·a no1·te e JJ1·oct11·::1r
alguma IJovoaçiio JJ01·tugt1esa. Nat1f1·aga1·an1 na altt11·a de
Itanhae111, pe1·dendo tt1do menos a gente. P1·osseguiram a })é
até chega1·e111 a São Vicente. U11s tencio11(1vam segui1· até
Assunção. Ivias ~l int1·é1Jicla Do11a I\'.Iência de Calde1·ón len1-
b1·ot1-se da ob1·igação, qt1e asst1111i1·a set1 111a1·ido e set1 filho,
ele ft1nda1· t1111a JJovo rtçfi.o 11a costa do Atlântico. A n1t1lhcr
fo1·te teve 111anei1·a ele vol ta1· l)ara e, st11 con1 algt111s de st1a
gente e fundou J)ovoação no J)Ôrto qtle hoje ainda se chama de
60 PESQUISAS 1g60, HISTÓRIA N.º 13

São F1·ancisco. Isto foi 1)01· volta ele 1553. Se ving·asse a


fundação ben1 out1·a se1·ia tôda a histó1·ia elo sul do qt1e ago-
1·a chan1an10s B1·asil. Mi1s en1 8 de feve1·ei1·0 chegou a São
Vicente o Ca1)itão Ge1·al Tomé de Sot1za, qt1e mandou desa-
loj a1· São F1·a11cisco, l)Or j ulga1· que estava na dema1·cação
po1·tuguesa. Os espanhóis foram todos devolvidos a São Vi-
cente.
Segt1ndo alg11ns a11to1·es (13) hot1ve desavenças g1·aves
ent1·e os comJ)oncntes que ainda 1·estavan1 da ex1)edição na
costa do B1·asil. Dona Mência destitt1it1 do co111anclo a .Jt1an
de Salaza1· y Es1)jnosa. Talvez fôsse })ela qt1estão da 1·eocu-
l)ação de São F1·ancisco. Salaza1· ficou en1 São F1·ancisco e
teve dois anos 1nais ta1·de })al)el saliente na ext1·ação ft11·tiva
do gado vact1m. Dona 1\1:ência entretanto, de1)ois de cato1·ze
mêses de cletenção em São Vicente, descet1 novamente J)a1·a
São Francisco e 1·eedificot1 a ft1nclação, que já fô1·a a1·1·a.sada
l)elos índios da te1·1·a. (14) Nascet1-lhe ali t1111 neto qt1e n1ais
ta1·de se1·ia, com o no1ne de F1·ay I-Ie1·nando Trejo y Sana-
b1·ia, o J)rimei1·0 bisJ)O do Tucu111an e f11nda1·ia a p1·imei1·a
g·1·ande Unive1·sidade qt1e ali teve J)o1· séc11Ios a Com1)anhia
de Jesus.
Mas a de1no1·a de Dona lVIê11cia e de st1a gente em São
F1·ancisco foi de J)ouca dt11·ação. Pois a1)ós algt1n1 ten1J)O
cl1egou-lhes a notícia ele qt1e Domingo l\1a1·tínez de I1·ala
fô1·a nomeado gove1·nado1· do Pa1·agt1ai J)elo Rei. Cad11ca1·a,
po1· falta de cun11)1·in1ento, a capitt1lação dos Sanab1·ias. Isto
e a indefesa situação em qt1e se achava São F1·ancisco dian-
te dos J)o1·tt1gueses, levou Dona Mência com todo o 1·esto de
sua gente, a em1)1·eende1· a viagen1 })ara o Pa1·agt1ai. Dizem
os auto1·es que 1no1·1·e1·am 32 soldados na t1·avessia do se1·-
tão. E chegados que fo1·an1 Irala mandou J)1·ende1· a I-Ie1·-
nando de T1·ejos, })01· havei· abandonado o J)ô1·to ele São F1·an-
cisco, que de tanta utilidade hot1ve1·a sido, em caso de st1s-
tenta1·-se.

64. Estan10s l)Ois ag·o1·a con1 dois gruJ)OS de espanhóis


ret1nidos em São Vicente. Pa1·ece que os dois chefes e1·an1
1·espectivamente Rt1y Dias de l\1elga1·ejo do g1·t11)0 de 1·eft1-
giados, e J ttan d~ Salaza1· y Es1)inosa do g1·u1)0 dos nát1f1·a-
gos. Vejamos as gestões dêstes dois g1·upos.
Pa1·ece qt1e os dois g1·u1)os fazian1 muita })ressão ent1·e
povo e auto1·idades de São Vicente J)a1·a l)Oder com1)1·ar a
})êso de ou1·0 algum gado e n1ate1·ial de fe1·1·0, que escassea-
va em Assunção. E' o que se elep1·eende de un1a ca1·ta de
Salaza1· ao Real Conselho de Indias, em 20 de julho de 1553.
Mas fo1·am baldados todos os set1s esfo1·ços. Não se lhes
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 61

dava licença ne1J1 pa1·a as co1n1)1·as, nem l)a1·a volta1·em à


sua te1·1·a. (15) - Abst1·aindo completamente drt justifica-
ção das 1nedidas po1·tuguesas, temos que ela ao menos é l)e1·-
feitan1ente com1)1·eensível. Tudo qt1e saísse da colônia .1)01·-
tuguesa, falta1·ia a esta e a1)1·oveita1·ia ao com1)etido1· na-
cional.
Não obstante esta atitt1de oficial, 1)a1·ece que as rela-
ções l)essoais ent1·e as dt1as nacio11alidades, deven1 te1· sido
bastante boas. Segundo t1ma ca1·ta de Nób1·ega, qt1e se qt1ei-
xa do êxodo dos })01·tt1gtteses elo B1·asil, elevem ter consegt1i-
do convencei· a não J)oucos a se traslacla1·em J)a1·a o Pa1·a-
guai, a ponto de êste P1·ovincial dos J esuitas l)ensa1· em
fundai· 1·esidência em Asst1nção, l)a1·a te1· un1 1·efúgio no s t1l
do continente, en1 caso ele se des1)ovoa1· Pi1·atininga. (16) A
ca1·ta de N ób1·ega é de 1553, ano en1 que se deu a ext1·ação
fu1·tiva do gado.
Ao que se pa1·ece os es1)anhóis se a1)1·oxin1a1·~1n1 mais
dos dois i1·mãos Ci})ião e Vicente de Góis. Vimos acima qtte
seu tio Pe1·0 de Góis de1·a seu engenho lvlad1·e de Det1s no
Enguaguaçu, ao pai dos dois i1·mãos, Lt1iz de Góis, e que
êste po1· st1a vez também se 1·eti1·a1·a, deixando a J)l'OJ)l'ie-
dade J)a1·a os dois filhos. Mais ta1·de Ruy Dias de Melg·a-
rej o é acusado de te1· desencan1inhado os dois i1·mãos, catt-
sando com isto a mo1·te JJ01· desgosto dos pais. (17) Mas é
acusação de inimigo. lVIelga1·ejo se defende dizendo que os
Góis de sua liv1·e e espontânea vontade consenti1·am na tras-
ladação.
65. O plano dos espanlióis se fundava p1·ecisamente na
boa vontade dos i1·mãos Góis, e na 1·elativa 1·iqueza em ga-
do que os i1·mãos Góis devian1 te1· já no Engenho do Engt1a-
guaçt1. Pois em 1555 o gado já fazia mais de vinte anos
que estava em São Vicente. Os pais e tio dos i1·mãos Góis
devem te1· sido bastante abastados con10 most1·a a escolha
que em Pe1·0 de Góis fizera o Rei de Po1·tugal. Não se1·iam
postos à f1·ente da CaJJitania de São Tomé, se não tivessem
1·ect11·sos pessoais. Dai pensa1·-se qtte se1·iam dos J)1·in1ei1·os
a abastece1·-se de gado em 1534, e dai J)ensa1·-se que em 1555
já deviam te1· bastante gado em seu engenho. Vinte anos é
muita coisa pa1·a a 1)1·olife1·ação do gado.

66. O pacto ou co1nbinação dos espanlióis coni os ir-


mãos Góis se to1·na bem con11)1·eensível, ainda que se abs-
t1·aia da qttestão da sua legalidade. Os despachos do Rei,
talvez a muito temJ)O J)edidos e a muito tem1)0 es1)e1·ados em
vão; as vexações que deven1 te1· sof1·ido, como é de ve1·, J)o1·
62 PESQUISAS 1Q60, HISTÓRIA N.O 13

causa da ft1ndação <le São F1·ancisco, e J)o1· cat1sa de st1a


condição de 1·efugiados dt11na nação 1·ival e inimiga; as al-
tercações })01· causa da com1)1·a de fe1·1·0 e g·ado; tt1do isto
e mt1itas 1·azões pessoais conj ett11·a-se fàciln1e11te co1110 cat1-
sas do atrito. N ób1·eg·a, com ser J)o1·tt1gt1ês, e qt1e J)o1·tt1guês !,
fala en1 t1ma ca1·ta ao Ge1·al como se os es1Janhóis tivessen1
tido 1nuita 1·azão de se encandaliza1·en1 dos J)o1·tugueses. (18)
Acicatava-os ta1nbé1n a imensa vantage111 que te1·ia a c1·ia-
ção do gado vacun1 em todo o Rio da P1·ata, qt1e na st1a i111en-
sa maio1·ia é t1m.a vasta á1·ea camJ)est1·e, qt1e os esJJanhóis
a.o menos te1·iam ent1..evisto nas suas st1bidas e descidas
do Pa1·aná ... Con1 a vantagem co1nt1m, a vantagem dos par-
ticula1·es qt1e levassem o gado e o mt1lti1)licassem e vendes-
sem a JJêso de ot11·0 JJa1·a os out1·os }Jovoado1·es. Diz Vicente
Sier1·a (19) qtie os i1·mãos Góis pe1·tencian1 ao nún1e1·0 dos
paulistas que f1·eqüentava1n o can1inho J)a1·a o Gt1ai1·á em
busca de índios pa1·a vendei·. Não é JJois JJ1·eciso SllJJÔr que
os irmãos Góis 3eriam tão deJ)endentes qt1e JJ1·ecisassem sei·
como que mo1·aln1ente fo1·çados ao JJacto co111 os esJJanhóis.
Acha1110s qt1e Salaza1· ten1 1·azão qtiando se defende dizendo
que Cipião de Góis já de pe1· si tive1·a a vontade JJa1·a a con1-
binação com êles. (20)
En1 resumo quais os 1notivos que leva1·am os i1·n1ãos
Góis a esta como que t1·aição legal à sua te1·ra? E' fácil de
conj etu1·ar que t1m dos n1otivos J)1·incipais se1·iam conveniên-
cias econômicas. En1·iquece1·iam com a venda de sementais
do gado que levavan1? Obte1·iam facilidades 11a cac;a e con1-
p1·a de esc1·avos indígenas nas recentes ft1ndações do Gt1ài1·á
ou oeste do Paraná e São Patilo?
Have1·ia também algt1m JJa1·entesco JJ01· casamentos? G1·e-
gó1·io ele Acosta acusa a Melga1·ejo de te1· casado em São Vi-
cente, de te1· desencaminhado os i1·mãos Góis, de lhes te1·
ti1·ado tt1do na viagem, e te1· até infan1ado a m11lhe1· de Ci-
·-
p1ao.

67. Os co,nponentes lzunzanos da ca1·avana da fuga cons-


tam em 1Ja1·te e esJJarsamente. Sintetizando a Au1·élio Pôr-
to, (21) JJodemos dizei· que ia nat111·aln1ente o ca1Jitão Juan
de Salaza1· y EsJJinosa, com sua mulhe1· Izabel ele Cont1·e-
ras, suas duas filhas, e mais t1·ês out1·as mulheres casadas.
Ia o famoso Ruy Dias lV[elga1·ejo, os dois irmãos Ci1Jião e
Vicente de Góis, dos quais o JJt·imei1·0 e1·a casado e levava
sua mulhe1·. Pa1·ece JJois q11e os Góis não Jlensavan1 1nais en1
voltar. A escolta e1·a de dez soldados esJ)anhóis e seis }Jo1·-
tugueses. Os soldados se1·iam }Jessoas pa1·ticula1·es liv1·emen-
te engajadas pa1·a o se1·viço das armas. Que1·-nos pa1·ece1·
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 63

Q_ue tôda esta gente b1·,1.nca ot1 mestiçfi que estava acostu-
mada a sei· sei·vida 1)01· índios, não iria sen1 t1n1 g1·ande aco1n-
panhamento de indígenas. Os índios gostavam de i1· em co1n-
l)anhia dos b1·ancos qt1e lhes 1)1·01)01·cio11ava111 tantas vanta-
gens. I1·iam })Ois índios de se1·viço })essoaJ, de bagagens, de
sentinela, de clefesa e ataqt1e. Talvez no ft1ndo tôda a em-
l)1·êsa tinha ares de bandei1·a. U111a co111itiva ele bra11cos
com todos os seus })ertences, con1 ao menos sete mulhe1·es
b1·ancas, con1 uma l)equena 111anacla de «nin1ais do111ésticos,
se1·ia uma })1·esa den1asiadamente tentado1·a })a1·a os índios
que mo1·avan1 de pei·meio. Daí que su1)01nos que a comitiva
total se1·ia bastante 1·efo1·çacla, constando tal,rez ele alg·i.1mas
centenas de l)essoas.

68. Os gados que leva,·anz. - Segundo a ve1·são da le-


gendária «A A1·gentina» de Rtty Diaz de Gt1zn1an leva1·an1
sete vacas e um tou,·o. (22) Qt1anto ao núme1·0 do gaclo ve-
i·en1os n1ais ta1·cle t111s 1·e1)a1·os c1·íticos no nú1ne1·0 74. Resu-
mimos aqui que os Góis de,1iam te1· 111ais animais em sua
fazenda, e l)Odendo levai· n1ais, e sendo de imensa vantagem
levai· mais, e estando J)1·ovàvelmente i·eso!vidos a não vol-
tai· 1nais })a1·a São Vicente, não se a1·1·isca1·ian1 a })e1·de1· tt1-
do que levavam nos })ercalços da viagem - imagine-se o
caso de pe1·de1· o único tot1ro que leva,1 am ! - e e1·an1 tan-
tos os l)e1·igos: f1·echadas de índios, ataqt1es de tig1·es, afo-
gamento na t1·avessia dos 1·ios. . . Além disso em 1568 ot1
p1·incí1)ios de 69, quando veio o })1·imeiro gado vacun1 do Pe-
1·u, já l)a1·ece qt1e havia no Pa1·aguai tan1anha qt1antidade
de vacunos, que o casco inicial deve te1· sido muito maio1·
do que sete vacas e u1n tou1·0. Mas sôb1·e isto mais no ci-
tado nún1e1·0 74.
E quanto a cavalos? E' verdade que Assunção, em 1555,
já fazia quase vinte anos que tinha os seus cavalos })1·ovin-
dos da p1·imei1·a fundação de Buenos Ai1·es. Também é ve1·-
dade que os bandei1·antes pat1listas 1)1·àtican1ente semp1·e iam
a pé nas suas exct11·sões J)1·eado1·as, l)1·ecisamente })01·que J)a-
1·a })1·ea1· índios e1·a necessário penet1·a1· nos matos ce1·1·ados,
onde os cavalos só servi1·ian1 l)a1·a esto1·va1·. Não sabe111os
se abundavam os cavalos em São Vicente em 1555. Po1· out1·0
lado podemos dizei· a })1·io1·i que uma g1·ande c1·iação de ga-
do vact1m nunca se fez nem se faz sem cavalhada abundan-
te, J)elo menos no Rio da P1·ata e sul do B1·asil. Em todo o
caso nos })a1·ece evidente, qt1e se em 1555, havia bastantes
cavalos e111 São Vicente, os irmãos Góis e os es})anhóis não
deixa1·ia1n de levai· cada ttm algt1ns cavalos pa1·a o se1·viço
das pessoas e do gado, tanto mais, que veremos adiante,
64 PESQUISAS 11160, HISTORIA N.o 13

o gado vacum, que Ieva1·am deve te1· sido l)elo 111enos de al-
gumas dúzias, em vez de sete vacas e um touro. (N. 9 7 4).
Nos auto1·es não consta qt1e levasse111 out1·as esJ)écies de
gado.

69. Pa,·tida e pe1·seguição pelas auto1·idades.


A J)a1·tida deve te1· siclo ft11·tiva, po1·que aliás não se ex-
plica1·ia a atitt1de das auto1·idades, e deve te1·-se dado em
maio ele 1555. (23) Os g·ove1·nantes entretanto não tarda1·am
en1 te1· conhecimento da ftigH.. A vigilância e1·a im1)e1·ativa
})ela lei e })elas manob1·as inclisfa1·çáveis dos es1)anhóis. Dian-
te da du1)la inf1·ação qt1e e1·a a ext1·ação de gente e de gado,
os gove1·nantes se jt1lga1·am con1 di1·eito e mes1no devei· de
inte1·ce1)ta1· a ca1·avana ainda que fôsse 1)01· n1eios violentos.
Até ai não cabe d(ivida. O 1·e1)a1·0 con1eça quando se exa-
minan1 os meios qtie em1)1·ega1·am. Pois n1ancla1·am a t1ma al-
deia de tu1)ís que ficava no ca1ninho da ca1·ava11a, qtie a fi-
zessem pa1·a1·, e en1 caso de 1·esistência, matassem tt1do. (24)
T1·atando-se de índios, sem1)1·e mais ou 111enos i1·1·es1)onsá-
veis e sem1)re ávidos da J)1·esa que ent1·eviam, e1·a o mesmo
que condenai· à n101·te tôda a ca1·avana.

70. Salvação da ca,·avana pelo Padre Manuel da Nó-


brega.
Se1·á po1· isso que N ób1·ega interveio no caso. Não qt1e
inc1·iminasse a lei em si mesma. Já êle clama1·a cont1·a o êxo-
do dos po1·tugueses de São Pat1lo. Te1·á pensado na situa-
ção deses1)e1·ada dos nat1f1·agados, e na sua sorte segu1·a se
caissem nas mãos dos t111)is, onde só a fô1·ça b1·uta te1·ia a
})alav1·a. Po1· isso, })ensando inte1·1)1·eta1· a mente de seu 1·ei,
foi avisai· aos t111)is que ce1·tamente o 1·ei e Det1s se da1·iam
po1· n1uito mal se1·vidos se eles atacassen1 os fugitivos. Abs-
temo-nos de j ulga1· o })1·ocedimento de Nób1·ega que t1n1 ano
antes funda1·a o colégio de Pi1·atininga e co1n isto dett p1·in-
cípio à hodie1·na cidade de São Paulo.
A ca1·avana passou ilesa e afundou-se nos imensos se1·-
tões do oeste em busca de Assunção do Pa1·aguai. (85)

71. A du1·ação e t1·ajetó1·ia da viagem seria de muito


inte1·êsse pa1·a qt1em estuda esta fase da })ecuá1·ia 1·iog1·an-
dense. Segundo as 1·efe1·ências dos autores parece que não
consta g1·ande coisa sôb1·e estes J)ontos. A viagem d111·ou uns
cinco longos meses, pa1·te 1)01· água })a1·te po1· te1·1·a. (26) Tal-
vez p1·ocu1·assem alcançai· desde o Guai1·á as cabecei1·as do
J ej uiguaçu que desembpca no Pa1·aguai, })ossibilitando uma
viagem aqt1ática })ara a gente, ao passo que o gado segui1·ia
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY l 65

})01· te1·1·a. Não Sé1be111os se a 1)arcin1ônia e111 notícias não


se deve ao 1·eceio de fo1·nece1· a1·1nas aos inimigos, que J)O-
de1·ia111 acusai· de cont1·aba11do e confi1·1na1· as act1sações J)e-
los de1)oin1entos das p1·ó1)1·ias })essoas acusadas, já qt1e e1·a
ilegal o })1·ocedimento.

72. Ta111bé11i a cliegada a Assunção ficou sen1 111uitos


J)o1·n1eno1·es. Deve te1·-se dado e111 nove111b1·0 de 1555. Re-
que1·ei·ia J)i·oft1ndos conhecimentos da histói·ia asst1ncenha
de então, a tentativa de })i·oj eta1· sôb1·e êste fundo históri-
co o que 1)1·ovàveln1ente se teria dado na chegada do })1·i-
meiro gado vacun1. Vicente Sie1·1·a assinala algt1ns fatos
(27) como a c1·eação do bisl)éldo elo Rio da P1·ata, a 1·es ol u-
ção de I1·ala de 1·e1)a1·tir enco111iendas de índios aos conquis-
tado1·es, a mo1·te de I1·ala em 1556. 1\1:as e1·a })1·eciso conhe-
cei· a vida p1·ivada de Assunção, a sua ag1·ict1ltu1·a inci1)ien-
te, o seu ti·ato com os índios, a dift1são das he1·dades den-
ti·o e foi·a da vila, l)a1·a f aze1· t1n1a idéia do in11)acto, enti·e
b1·ancos e índios, da chegada dos 1)rin1ei1·os bovinos vi11dos
da costa do Brasil. Falta-nos tem1)0 e con11)etência pa1·a con-
jeturar sôb1·e isto.
Passamos agoi·a a algt1ns re1)aros, que se podem fazer
a tudo isso. Enconti·ân10-los também a1)ontados en1 Aurélio
Pô1·to, emboi·a t1111 l)Ot1co conft1san1ente.

73. O })i·imei1·0 1·e1)a1·0 é sôb1·e o silêncio dos auto1·es


conte1npo1·c'i.neos que natu1·aln1ente devei·ian1 falai· dê.s te as-
sunto do gado. Segt1ndo constata Au1·élio Pô1·to, o único con-
tem1)01·âneo que poi· esc1·ito fala da coisa é Ruy Dias ele Guz-
man em sua A A1·gentina. Juan de Salaza1· y Es1)inosa e os
J esuitas })a1·ece que não mencionam a ext1·ação fu1·tiva do ga-
do, ao menos a j ulga1· l)elo qt1e diz Au1·élio Pô1·to. (28) -
Su1)ondo a ve1·acidade do silêncio clêstes auto1·es, de qt1e não
te1nos os documentos 01·iginais à disJ)osição, l)Odemos pruden-
cialmente conjetui·a1· qt1al havia de sei· o motivo de tal si-
lêncio. A ação a que concor·i·iam se com1)1·eendia, n1as es-
tava fo1·a da lei. Não quei·e1·iam l)Ois })rej udica1· amigos com
i·evelações ino1)01·tunas, qt1e não e1·am de sua obi·igação.
Que seu silêncio não p1·ova nada, vemos cla1·an1ente da
categó1·ica afirmação do auto1· da A1·gentina. Vêmo-la da
ca1·ta de Salaza1· ao Conselho en1 qt1e fala da intenção de
alguns es1)anhóis que e1n 1553 estavam en1 São Vicente de
levar gado })a1·a o Pa1·agt1ai. (29) Vêmo-lo da ti·adição l)Os-
te1·io1· que nt111ca foi contestada, senão solenen1ente afi1 n1a-
da })elo cabildo de Bt1enos Ai1·es, qt1e ve1·e111os no nú111e1·0
segt1inte. Vên10-lo sob1·etudo no fato atestado poi· mt1itas
66 PESQUISAS 1960, msTóRIA N.O 13

'
testemunhas de que havia b::istantc g1·ande quanticlade de
gado vacum em Asst1nç§.o, antes da vi11da dos gados J)ert1a-
nos, como ve1·emos mais l)o1·meno1·izaclamente nos nú1ne1·os
segt1intes. (30) 01·a êste gado não \1 eio 11em l)Odia vi1· ele
out1·a })arte, a não sei· ele São Vicente. Não veio ne1n elo
Pe1·t1 nem de Es1)anha, e ele 1·esto só ha,1ia gado na Bahia
e em São Pat1lo. Po1·tanto o silêncio dos j esuitas e es1)a-
nhóis não. p1·ova absol t1tan1ente naela cont1·a a ve1·acidade
do fato.
74. Exposição da segztnda diívida. Out1·0 J)onto qt1e se
pode c1·itica1· é o nún1e1·0 dos ani1nais, que aJ)onta Ruy Diaz
de Guzman em st1a A1·gentina con10 t1·azido na ocasião as-
sinalada. Diz qt1e eran1 sete vacas e t1n1 tot11·0, e qt1e esta-
vam a ca1·go de t1m tal Gaete, o qual J)o1· todo o in1enso t1·a-
balho de levá-las de São Vicente a Assunção tinha p1·omes-
sa de 1·ecebe1· un1a vaca. Dai diz qt1e se 01·igina o dito J)O-
pula1· ele que t1ma coisa n1uito ca1·a é ca1·a como as sete va-
cas de Gaete. (31)
Já o nú1ne1·0 sac1·0 sete to1·na sttsJJeita tôda a coisa,
além da 1·ima siete e Gaete, que l)Odem estai· numa f1·ase en1
voga naquele tem1Jo. Vejan10s os a1·gt1n1entos que há J)ara
duvidar se1·iamente dêste nún1e1·0 sete. Temos a1·gumentos,
que J)ode1·ía1nos chamai· a J)oste1·io1·i. São docun1entos. E
temos a1·gt1mentos a 1)1·io1·i, qt1e são cálculos, com base se-
gu1·a, que de antemão ot1 a })1·io1·i nos inclinam a c1·er que o
núme1·0 deve te1· sido bastante mais alto.

75. Argumentos de autoridade ou de docunientos. I-Iá


auto1·es de peso qt1e l)e11san1 que a caravana te1·ia levado
mais qt1e sete vacas e t1m tou1·0. Como tipo de at1to1·idade
lemb1·amos Au1·élio Pô1·to, que, em st1a Histó1·ia, (32) stts-
tenta qt1e teriam sielo mais qt1e sete vacas e u111 tou1·0. Po1·
meio dêle fala o Gene1·al Ptolomet1 de Assiz B1·asil. Out1·0
autor que sugere o mesmo é Vicente Sier1·a, em sua História
de Ia A1·gentina. (33) Ainda que Sie1·1·a, segt1ndo o seu costt1-
me, não indica exatamente en1 qt1em se aJ)oia, J)a1·ece evi-
dente que se afi1·ma em At11·élio Pô1·to. Coni e Caviglia são
ante1·iores a Au1·élio Pô1·to e ainda não tocan1 neste J)a1·ti-
ct1Ia1·.
76. Mas o fundan1ento em qt1e tôelas as auto1·idades se
apoiam, é t1m exame dos dados e de suas conseqüências, ,
de modo que se chegue a 1)ensa1· qt1e deve te1· sido maio1· o
núme1·0 de gado levado na ca1·avana.
76 bis. Vamos p1·inzei1·a11:.ente expô1· o 1·esumo da a,·.
BR'OXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 67

gumentação pa1~a que se J)ossa acom1)anhar n1ais fàciln1e11te


a lógica que nela se enco11t1·a. De1)ois da1·en1os mais deta-
lhadamente a manei1·a de a1·1·azoé11-.
Po1· um lado consta que o gado vicentino qt1e e11trou
em 1555 no Pa1·aguai, é o único g·ado que havia no Pa1·a-
guai antes da vinda do gado vacun1 J)e1·t1ano. Po1·tanto
quando veio o gado J)e1·uano, o gado que então já estava no
Pa1·aguai e1·a todo descendente do gado vicentino. E' lógico.
Ora J)arece que o gado vacun1 que já havia em Assunção
pouco antes da vinda do gado vacun1 l)e1·ua110 era bastante
mais do que se J)oclia es1)e1·a1· de sete vacas e um tou1·0. Lo-
go, concluimos, em 1555 devem te1· ent1·ado mais que sete
vacas e un1 touro.
Devemos pois ve1· p1·imei1·0 qual é o número atingível
com sete vacas e um touro (N::, 77), e depois qual o núme1·0
que já havia em Assunção antes da vinda do gado pe1·uano
(Ns. 78 e 79).

77. Qual o número de cabeças atingível de 1555 a 1569


})Or sete vacas e um tou1·0?
A esta pe1·gunta só pode 1·esponder um hon1em, que se-
ja peritíssimo em zootecnia e conhecedor profundo das con-
dições históricas e geog1·áficas em que se terian1 multiJ)lica-
do as vacas t1·azidas ao Pa1·aguai l)elos irmãos Góis. Con-
fessamos que nada conhecemos sôbre a pe1·centagem de au-
mento duma manada e1n dete1·minadas condições. Mas At1-
1·élio Pô1·to julgou te1· encont1·ado êste pe1·ito em zootecnia
e histó1·ia no Gene1·al Ptolomet1 de Assis Brasil, qt1e a pe-
dido de Au1·élio Pô1·to calculou, quantas cabeças de gado va-
cum resultariam da procriação de sete vacas e um tou1·0 de
1555 a 1568 ou 9. Evidente111ente os cuidados possíveis não
f alta1·iam da parte dos donos das sete vacas e um tou1·0. Pois
bem, Assis B1·asil chega ao 1·est1ltado que incluindo todos os
J)e1·calços natu1·ais, que se conhecem e se podem conjeturar,
o máximo de cabeças a que as sete vacas 1)ode1·iam te1· che-
gado neste lapso de tempo se1·iam 450 cabeças ent1·e machos
e fêmeas. (34) - Em Coni se acham dis1)e1·sa111ente bastan-
tes dados sôb1·e o natu1·al adiamento do acasalamento dos
animais, pelo menos na vida liv1·e da Can11)anha, sôb1·e a
média da parição, sôb1·e a mortalidade média da te1·neirada.
(35) Ainda que estes f ato1·es se 1·ed t1ziriam em algo pelos
ext1·emos de cuidado, que são in1agináveis naquelas ci1·cuns-
tâncias, have1·ia po1· out1·0 lado os descuidos dos índios de
serviço, os 1·oubos, os tig1·es, as cob1·as venenosas. . . O qua-
d1·0 dos cálculos de Assis B1·asil está em Aurélio Pôrto I,
256.
68 PESQUISAS 1960, HISTORIA N.O 13

Passen1os agora a ent1·eve1· .n os doct1mentos esc1·itos da-


queles anos se se1·ia maio1· ot1 meno1· o núme1·0 de cabeças
de gado vacun1, do qt1e o nún1e1·0 qt1e Assis B1·asil achou
como máximo em 14-15 anos J)a1·a sete v,icas e um tot11·0.

78. Dados ,·elativos a /rala e Núf1·io de Clzaves. - Em


1556, po1·tanto t1n1 ano a})ÓS a int1·odução do gado vicentino,
já a Câma1·a de Assunção clete1·n1ina que se })ague o dí-
zin10 do gado vact1m, ot1 seja que de cada dez cabeças de
gado vacun1 t1ma seja ent1·eg·t1e à at1to1·idade à manei1·a dos
nossos im1)ostos mode1·nos. (36) E' ve1·dade que o dízin10 de
cavalos e st1ínos já devia de estai· estabelecido desde a fun-
dação de Assunção, e 1)01· isto não se est1·anha1·ia que logo
se dec1·etassem imJ)ostos també1n acê1·ca das vacas, que tal- ·
vez nem chegassem ainclé't ao nú111e1·0 de dez. Po1· out1·0 la-
do o dec1·eto pa1·ece st1ge1·i1· qt1e já havia algo que dizimar,
e que po1·tanto haviam ent1·ado 111ais que sete vacas e un1
tou1·0.
De fato ve1·en1os que no ano de 1557 havia tanto ga-
do que q11ase necessà1·ian1e11te st11)on1os que também em
1556 e mesmo em 1555 devia havei· mais qt1e as famosas
sete vacas. . . Pa1·a 1557 ten1os o segt1inte:
Po1· t1ma J)a1·te te1nos que sete vacas e um tou1·0 de 1555
a 1557 não })odiam dai· mais qt1e 24 cabeças. 01·a em 1557
morre I1·ala, deixando ent1·e poucas out1·as coisas «cavalos
e éguas e ... gados» pa1·a os he1·dei1·os. (37) Aza1·a, que com-
J)ulsot1 n1uitos doct1111entos qt1e talvez hoje não existem mais
diz que os gados deixados po1· Irala eram 21! bovinos e equi-
nos. Pa1·ece inc1·ível que I1·ala ficasse pa1·a si com todo o
gado trazido pela ca1·avana dos i1·mãos Góis. Po1· isto di-
zemos qt1e })a1·ece que êles elevem te1· t1·azido bastante mais
que sete vacas e um tou1·0. Mas há n1ais. Neste mesn10 ano
de 1557 o General Núf1·io de Chavez se inte1·na Pa1·aguai
acima e na fan1osa 1·egião elos J a1·aes deixa ent1·e índios ami-
gos as emba1·cações e qt1antidade de gados maio1·es, como
diz ex1)1·essamente o documento. (38) Notemos que os an-
tigos, quando falan1 de equinos sen11)1·e dizem cavalos e
éguas. Quando falan1 de ganados n1aio1·es entendem so-
b1·etudo gado vacum. Tanto assim que I1·ala 1J,este mesn10
ano em seu testamento diz: « ... cavalos e éguas e gado ... »
(39) E Aza1·a identifica gados com gado vac11m. 01·a se
Núf1·io de Chavez levou })a1·a o se1·tão e cometeu a levian-
dade de deixar entregue ao cuidado de índios, amigos, sim,
mas inteiramente desacostumados com gado vacum e cava-
la1·, «quantidade de ga11ados n1aio1·es» é sinal de que havia
em Assunção uma 1·elativa abt111clância de vacunos. Os que
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 69

podiam descendei· das sete vacas de Gaete, estavam, segun-


do Aza1·a, com os descendentes de I1·ala. O fato de ar1·is-
ca1· o J)I'ecioso casco inicial })a1·a ent1·e índios, ainda que su-
pe1·visionados J)o1· alguns caJ)atazes b1·ancos, insint1a que ha-
ve1·ia algt1n1a abundância. Logo se insinua que os I1·mãos
Góis devem te1· t1·azido algo n1ais que sete vacas e um tou1·0.

79. Passe11ios cio que diz o Cabildo de Buenos Ai,-es,


1·efe1·indo-se, ao que J)a1·ece, excl t1sivamente ao gado qt1e
havia em Asst1nção a11tes da vinda do gado })e1·uano. (40)
Diz llOis que o gado qt1e os i1·n1ãos Góis haviam t1·azido a As-
sunção, se havia n1ulti1llicaclo tanto que dava }la1·a mante1·
a cidade de Assunção e os dist1·itos de sua J)1·01)1·iedade. E'
de supo1· que o Cabildo se 1·efi1·a só ao gado de 1555 e não ao
de 1568 e 9, J)o1·qt1e diz ex1)1·essan1ente o gado dos i1·mãos
Góis. O cabildo não igno1·ava a cont1·ibt1ição J)e1·uana e não
podia at1·ibui1· só aos J)o1·tt1gueses o qt1e tan1bém se devia
aos es1)anhóis. N en1 é de es1Je1·a1· qt1e falasse leviana1nente,
dizendo que dava })a1·a n1ante1· tôda a P1·ovíncia, em que se-
gu1·amente em 1568 havia cêrca de mil b1·ancos e mestiços,
se de fato não houvesse 111ais que as 450 cabeças, que ao
máxin10 podian1 te1· dado sete vacas e t1n1 tot11·0 ent1·e 1555
e 1568. Donde se dedt1z que as vacas eran1 mais que sete
en1 1555.

80. Mas te11ios ainda u111 a1·gunzento a p1·iori, que, de


ante111ão, nos convence de qt1e, podendo êles e sendo-lhes
útil, os i1·mãos Góis devian1 te1· levado mais que sete vacas
e um tot11·0. Vin1os no nún1e1·0 58 qt1e fo1·çosamente os l)ais
dos i1·n1ãos Góis te1·ian1 ce1·ta abundância de gado no seu
engenho da Mad1·e de Det1s em Enguaguaçu. Ao que J)a1·e-
ce e1·a J)ois l)Ossível lev,11· mais J)Or havei· mt1ito mais que
sete vacas e un1 tot11·0 no engenho. Além disso })a1·ece que
os dois i1·mãos se t1·ansfe1·iam pa1·a a sobe1·ania de Castela,
o qt1e suge1·e tambén1 a seve1·idade das n1edidas ton1adas con-
t1·a êles na ft1ga. A \7iagem se })1·olonga1·ia })01· cinco a seis
mêses, at1·avés ele n1atos e can11)os, banhados e caudalosos
1·ios, J)Ol' ent1·e tig1·es e feras humanas, J)odendo fàcilmente
da1·-se o caso de chegai· ao Pa1·agt1ai sem nada, ao menos
sen1 tot11·0, t11na vez qt1e leva\7a111 só t1m. Segundo a len-
da, Gaete teria · t1·::1.balhaclo co1n infinitas cansei1·as du1·ante
cinco mêses, levando ,is sete vacas para Asst1nção, con1 a
J)1·omessa de 1·ecebe1· no fin1 elas cansei1·as uma vaca. Se
a lenda é lenda, most1·a ao 111enos que estimação e l)l'êço
te1·ian1 as vacas em Assunção e111 1555, e qt1e luc1·os l)Ode1·ia
espe1·a1· qt1em se a111·esentasse con1 algt1mas dúzias dêstes uti-
70 PESQUISAS tgGO, HISTÓRIA N.O 13

líssimos animais. A condução de vinte ou ti·inta vacas não


custava muito r11ais do que a de sete, já que a viagem era
por te1·1·a, de n1atos e campos, onde de per si não pode fal-
tai·
,
a única coisa que as vacas })1·ecisam, qt1e e1·a })asto e
agua.
Se1·á que nestas ci1·cunstâncias os i1·mãos Góis e os es-
panhóis que ian1 en1 sua com1)anhia, podendo levai· mais
vacas, leva1·iam a1)enas sete? E se a1·1·isca1·iam a inutilizai·
todo o t1·abalho, levando a1)enas um tou1·0 que fàciln1ente se
podia pei·dei·? Ainda que as vacas já estivessem })i·enhes,
não havia segui·ança que nascesse })elo menos u1n tot1i·inho.
De todos êstes a1·gt1mentos ti1·amos a conclusão que se-
gu1·amente a ca1·avana dos i1·mãos Góis leva1·ia mais que se-
te vacas e um tou1·0. Note-se que quando dizemos os i1·-
mãos Góis não })1·ej ulg·amos de foi·ma alguma a questão de
se os i1·mãos Góis eram os chefes da ca1·avana ou se o eram
os espanhóis Jua.n de Salaza1· y Es1Jinosa ou Melga1·ejo. Al-
guns auto1·es non1eian1 sen11)1·e Salaza1· ou l\!Ielga1·ej o como
int1·odt1to1·es do gado de São Vicente. O Cabildo de Bue-
nos Aires, como vimos usa a ex1)1·essão os i1·mãos Góis, que
e1·am }Jo1·tugueses de São Vicente na costa do B1·asil.

INTRODUÇÃO DO GADO PERUANO NO PARAGUAI

81. Acla1·ações. - Ci1·cunstâncias imprevistas nos se-


pa1·am de mais abundante lite1·atu1·a sôb1·e êste })Onto. Ate-
mo-nos, pois, às indicações que fo1·necem Aui·élio Pô1·to e os
autores que êle consultot1. Há também dados em Vicente
Sie1·ra, História da A1·gentina, 1492-1600.
Segundo, pois, os documentos, que com1)t1lsou Au1·élio
Pôrto até 1940, em que J)ublicóu a Histó1·ia das Missões
Orientais, só J)odem entrar em questão como introdutores
do gado peruano dois ho1nens, aliás famosos na histó1·ia do
Rio da P1·ata: Feli1Je de Cáce1·es e Juan de Ga1·ay. Ambos
estavam imt)licados nos 1novin1entos, que, talvez pa1·a o bem
do Pa1·aguai, ti1·aram a gove1·nança desta P1·ovíncia a Juan
01·tiz de Ve1·ga1·a e a ent1·ega1·am por ordem 1·eal a Juan
01·tiz de Zá1·ate. (41) - A int1·odt1ção de Cáceres se deu
em 1568 ou })1·incí1Jios de 69; a de Ga1·ay t1ns vii1te anos mais
ta1·de, se é que se deu, }Jois há quem a ncg·t1e. l\Ias sôb1·e ês-
te })onto algo mais abaixo no número 87.
Já vimos co1no consta o fato e de algun1a manei1·a o nú-
me1·0 do gado que veio de São Vicente em 1555. Ago1·a o
fato e a quantidade do gado J)e1·uano. DeJ)ois se pode1·ia
abo1·dar a questão sôbre se domina o sangue vicentino
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 71

ou pe1·uano 110 g·ado que du1·a11te séculos ma1·chou no Rio


da P1·ata e na antiga Banda 01·iental.
Vamos p1·imei1·0 a Felipe. de Cáce1·es, exan1inando seus
con1p1·0111issos em nome de Juan 01·tiz de Zá1·ate, sua via-
gem com o gado e a qt1antidade que pode1·ia te1· trazido.
82. Os co111p1·o"lissos de Juan O,·tiz de Zárate, e de seu
lug·a1·-tenente Feli1)e de Cáce1·es. - São mt1ito co1111)licados
os can1inhos l)elos qttais Cáce1·es chegou à g·ove1·11ança do
I>araguai co1110 Iuga1·-tenente de Zá1·ate. Fô1·a non1eado co-
1110 go\re1·nado1· do Pa1·aguai F1·ancisco 01·tiz de Ve1·ga1·a.
l\1as as int1·ig·a~ de muitos lhe dificulta1·an1 a obtenção efe-
tiva do ca1·go. Sob1·essaia ent1·e todos os seus adve1·sá1·ios
ou antes conco1·1·entes Juan 01·tiz de Zá1·ate, 1·iquíssimo n1i-
nei1·0 do Pe1·u, que tinha a seu laclo e a seu se1·viço dois
ho111ens hábeis e decididos co1110 Felipe de Cáce1·es e Juan
de Ga1·ay. (42) - Zá1·éite se convence1·a de que havia ou1·0
no Pa1·aguai, seduzido 1)01· an1ost1·as que talvez fôssem do
oeste do B1·asil. Pleiteou o govê1·no l)a1·a si. E1·a homem
de g·1·ande fo1·tuna e ofe1·eceu levai· 1Jo1· sua conta e 1·isco
300 homens de a1·n1as, famílias de lav1·ado1·es, a1·tesãos, n1ais
de 4000 vacas e outras tantas cabeças de gado lanar, 500
ég·uas e cavalos, e 500 cabras. ·rudo de suas estâncias de Ta-
1·ij a e Cha1·cas. Alén1 disso co1111)ron1etia-se a fundai· cida-
des no can1inl10 do Pa1·ag·uai ao Pe1·u 1Ja1·a ga1·anti1· a co-
n1unicação do Pe1·u con1 a Es1)anha at1·avés do Rio da Pra-
ta, evita11do os l)e1·ig·os do 111a1-, que co1·1·e1·iam os t1·ans1)01·-
tes de ot11·0 l)e1·uano. . . (43) Não saben1os qt1e condições
ofe1·ecia Ve1·g·a1·a. Talvez a 1·iqueza de Zá1·ate desse mais
ga1·antia elo sucesso da em1J1·êsa.
Zá1·ate tinha a sua no1neação cle1Jendente da a1J1·ovação
do Rei. Êle n1esn10 i1·ia ::1 Esl)élnha negociá-la. Nomeou pa-
ra seu luga1·-tenente a Felipe de Cáce1·es, não só pa1·a go-
ve1·nar en1 set1 l ug·a1·, 111as tan1bé111 1)a1·a chefiai· a ex1Jedição
fundado1·a que i1·ia do Pe1·u ao Pa1·aguai. (44) Os com1)1~0-
n1issos de Cáce1·es e1·an1 })Ois os mesn10s que os de seu man-
da11te Jt1an 01·tiz de Zá1·ate.

83. Cun1p,-i111ento e viage111 de Felipe de Cáce,·es. -


Fize1·an1 a viagen1 até Cl1t1quisaca, onde se lhes inco1·1)0-
1·011 o novo l)ÍSl)O elo Pa1·agt1ai e algt111s assuncenl10s qt1e ali
se àchavam. E111 Sa11ta C1·t1z ele la Sie1·1·a fo1·an1 bem 1·e-
cebidos 1)01· Núf1·io de Chavcz, que t1ns anos antes, 1nanda-
clo 1)01' I1·ala a ex1)lo1·a1· a ter1·c1, co1110 qt1e se inde1)endiza-
1·a e conti11t1a1·a a 1·ota e ft111cl,11·a, sen1 se1· at1to1·izado })Or
I1·ala, a cidade de Santa C1·t1z (te la. Sie1·1·a. Na segunda
n1etade d e 1568 volve1·an1 a 111arcl1ar. Co1111)unha-se a cara-
72 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.O 13

vana de sessenta es1)anhóis, e g1·ande n(1n1e1·0 de índios ele


se1·viço que conduzian1 })a1·te do gado a que estava1n co1n-
p1·ometidos Zá1·atc e Cáce1·es. ( 45)
De Santa C1·uz de Ia Sie1·1·a escoltot1-os ainda algum
tempo Núf1·io de Cl1a\1ez, que }Jo1· êste ten11Jo e ocasião foi
mo1·to pelos índios em tt111a en1boscada, })er·ecenclo co111 êle
todos os set1s com1)anhei1·os.
Feli1)e de Cáce1·es ent1·etanto 1)1·ossegt1ia viagen1, não
sem ter tan1bén1 da st1a }Ja1·te f1·eqüentes encont1·os co111 os
índios das coma1·cas em qt1e }Jasavam. Refe1·e Rt1y Dias de
Guzman, que estive1·an1 t1111a vez en1 1·isco de pe1·ece1· toclos
às n1ãos dos índios, se não fôssen1 as a1·1nas de fôgo que
contive1·an1 a investida. ( 46)
Ent1·ot1 C{1.ce1·es en1 Asst1ncão a 11 de dezen1b1·0 de 1568.
->

Esta data às vêzes leva a clizer qt1e o gado }Je1·uano veio ao


Pa1·agt1ai em 1569. (47)
E sta é a 1J1·imei1·a i11t1·odt1ção de gado l)e1·t1ano que os
auto1·es assinala1n det)ois da do g·ado vicentino em 1555.
84. A quantidade de gado t,·azido por Cáce1·es não cons-
ta cla1·amente das fontes de qt1e dis1Jon1os. Consta a obriga-
ção assun1ida na ca1Jitt1lação. l\1as não consta nen1 quantas
vacas sai1·am do Pe1·u ne1n qt1L1ntas cl1ega1·a1n ao Pa1·ag·uai.
Ce1·tamente não t1·a1·ia Cáce1·es todo o gado da ob1·igação já
na 1J1·imei1·a viage1n. E' de se ve1· se em 1568 já havia tanto
gaclo em n1ãos de un1 só, aincla qt1e fôsse t1n1 Jttan 01·tiz de
Zá1·ate. Po1· isso Sie1·1·a diz que Cáce1·es le\•ava uma 1Ja1·te
do gado da ca1Jitulação. Qt1e })a1·te se1·ia, não sabemos. l\tias
o contado1· Ped1·0 Do1·antes avisa que do gado t1·azido })01·
Cáce1·es, haviam sido desfalcadas 500 vacas antes de chegai·
a Santa C1·uz de la Sie1·1·a, e qt1e no Rio Pa1·agt1ai se ext1·a-
via1·am mais 130, de modo qt1e alg·uns }J1·op1·ietá1·ios, con1
n1ais de cinqüenta vacas no lote, chega1·am a ficar com a1)e-
nas cinco quando da chegada a Asst1nção. ( 48)
Pela lite1·atu1·a à nossa dis1Josição não nos consta de que
n1anei1·a se condt1zi1·ia o gado, se cada proprietário condu-
zia as st1as vacas se1Ja1·adt1n1ente - o que não é de es1Je-
ra1·, - ou se ia111 tôdas as vacas em conj tinto, sendo n1ui-
to mais fácil a tJ1·oteção necessá1·ia. Também não sabemos
se cada t1n1 1·ecebia do bloco final na p1·01Jo1·ção em qt1e ha-
via cont1·ibuido JJa1·a êle, ou se 1·ecebia as vacas de sua ma1·-
ca que de fato houvessem sob1·evivido. Po1· 111t1itos doct1-
1nentos do A1·chivo Ge11e1·al de la Nació11 em Buenos Ai1·es
sôbJ·e a condução e inve1·nação de gado vact1m e n1ua1·, te-
mos que ge1·almente o conduto1· 1·ecebia de 20-30 % do que
conseguia levai· a são e salvo })a1·a o seu clestino. C1·e111os
que e1·a a n1anei1·a em qt1e mais fàciln1ente se assegt11·avam
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 73
'.
os inte1·êsses de todos. - Se ago1·a todos os l)1·op1·ietá1·ios
tivessem 1·ecebido do bloco final na lJl'O}Jo1·ção de cinco 1Ja-
1·a cinqüenta, ot1 sejam 10 % (t1n1 décimo) do que houvessem
coloc.ado no lote inicial, então 1jode1·íamos calcular de algt1-
ma maneii·a o gado que havia saído do Pei·u e o gado que
havia ent1·ado no Pa1·agt1ai, lJOis qt1e Doi·a11tes nos avisa qt1e
se l)ei·dei·am 500 vacas antes ele Santa C1·uz de la Sie1·1·a e 130
ent1·e Santa C1·t1z e Assunção. Se chegou dez vezes 1nenos
do qt1e havia saído, não tei·ia chegaclo mt1ito mais que meia
centena. Mas tt1do isto são conj ett11·as que estão de })é ot1
caem confoi·n1e estão em })é ou caem as p1·emissas em que

se a1Jo1an1.
Pa1·ece qt1e Cácei·es não fez nen1 n1andot1 fazer ot1t1·a
inti·odttção do gado.
Passemos a ver a atuação de Juan de Ga1·ay: com1)1·0-
111issos e cun11)i·i1nento.
85. Con1p1·011zissos de Za1·ate e seu luga1·-tenente Juan
de Garcty. E11quanto t1·abalhava Feli1Je de Cácei·es, Juan 01·-
I tiz de Zá1·ate consegui1·a 1·eg·t1la1·iza1· en1 Es1Janha sua sitt1a-
ção de Adelantado. Ton1ot1 })osse legalmente em 15 de feve-
1·ei1·0 de 1575. lVIas set1 1·e1J1·esentante Feli})e de Cáce1·es se
tornaa1· im1)ossível no Pa1·aguai, e teve que sei· deg1·adado.
Zá1·ate nomeou 0L1t1·0 an1igo seu Jt1an de Ga1·ay em lt1ga1· de
Cáce1·es. Ga1·ay cont1·ait1 com Z{t1·ate a ob1·igação de levai·
ao Pa1·aguai 4000 vacas, 50 cabras e 300 cavalos e égt1as. A
data era denti·o de t1·ês anos. Encont1·á-los-ia nas estâncias
de Zá1·ate em Cha1·cas e Ta1·ija. (49) Não sabemos se e1·a
um co1111J1·omisso intei1·an1ente novo ou se e1·a a 1·etomada
JJelo menos })a1·cial dos com1Ji·omissos, qt1e }Jesa1·an1 sôb1·e Cá-
ce1·es. E' uma dí1vida. lVIas a dúvicla JJor excelência é se
Garay JJôde ct1mJJ1·i1· ot1 não os set1s com1Ji·omissos. Há os
que o afi1·man1 e há os qt1e o neg·am.
86. Os que afi1·n1anz a int1·odução de gado por Ga-
1·ay. A tese afii·n1ativa é sustentada e111 }J1·in1ei1·0 1uga1· }Je-
lo Cabildo de Bt1enos Ai1·es, e en1 seu seguimento }Jela maio1·
1Jarte dos histo1·iado1·es. Diz que Ga1·ay venceu mt1itos im-
}Jossíveis })ai·a levai· o g·ado desde La Plata até Assunção.
Fala de1Jois da distribuição das 4000 vacas enti·e as cidades
qt1e ia ft1ndando Ga1·ay. (50) Venclo os a1·gt1mentos dos que
negam a tese, te1nos a in11J1·essão de que deven1 andai· po1·
ai algt1mas co11fusões. Pai·ece qt1e se co11clui do devei· in1-
JJosto JJa1·a o devei· ct11111J1·ido, o que nem sen11J1·e é a mes-
ma coisa. Não ten10s te1111Jo nem 111eios de vei~ifica1· co1110
pôde o Cabildo afi1·ma1· o qt1e afi1·111a se é vei·dade o qt1e
alegam os qt1e nega111 a tese, baseados na pi·ó1)1·ia negação
74 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.o 13

categórica do 1)1·ó1)1·io Ga1·ay. Vejamos a tese dos que a ne-


gam.

87. Os que negar1i a tese se baseia11z sob,·etudo nu11za


1·azão que a1)1·esentamos ao j uizo dos leito1·es. En1 p1·imei1·0
luga1· devia constai· em algun1 documento coevo que Ga1·ay
1·ealmente havia feito a tal int1·odt1ção do gado. Os ho111ens
}Júblicos de então nunca deixavam de escla1·ece1· })atenten1en-
te diante do Rei as suas beneme1·ências }Ja1·a assim se candi-
data1·em a hon1·as e n1e1·cês da }Ja1·te do Rei. 01·a, qt1anto
saibamos, nada consta em doct1mentos coevos. Não se1·á
})1·ecisamente })01·que sem f1·at1de não 1Joclia constai·? - De-
J)ois veremos mais adiante, co1110 ai11da em 1587 Juan -ro1·-
1·es de Ve1·a y A1·agón, gên1·0 de Juan Ortiz de Zá1·ate e he1·-
deiro de suas ob1·igações, int1·odt1z seg·t1ndo p1·0,1 a Sie1·1·a (51)
4000 ovelhas e 8500 cabeças de gado vacum. Se1·á qt1e isto
não suge1·e que Garay, que 1no1·1·eu e1n 1583, não havia })O-
dido cump1·i1· com os enca1·g·os de Zárate?
l\1as }Ja1·ece qt1e tôdas as cl(1vidas ficam dissipadas com
uma decla1·ação fo1·111al e solenemente j t11·ada do 1J1·ó1J1·io
J t1an de Ga1·ay, en1 qt1e afi1·ma }Je1·entõ1·iamente q1.1e não ct1m-
}J1·iu os con11J1·on1issos asst1n1idos con1 Zá1·ate quanto à in-
t1·oduç2.o de gado vact1111 no Pa1·agt1ai. Vejamos as ci1·ct1ns-
tâncias. 1VI01·1·e1·a Zá1·ate, deixando o ca1·g·o de Aclelantaclo
a quem casasse com st1a filha e hc1·dei1·a. 01·a quen1 casou
foi Juan To1·1·es de Vera y A1·agón. Êste teve uma questão
con1 o Fiscal do Rei e Ga1·ay foi chan1ado a de1)ô1·, natt1ral-
mente con1 j u1·an1ento, em 1583. ( 52) Po1·tanto t1·ês a11os
de1Jois de te1· fundado a seguncla Buenos Ai1·es e oito anos
de1Jois de te1· fundado Santa Fé, e no mesmo ano em que pe-
1·eceu assassinado po1· índios do Pa1·aná.
A uma das tJe1·gt1ntas 1·esponde Ga1·ay que é be1n ve1·cla-
de que Zá1·ate lhe manda1·a desde Asst1nção a Santa Fé a 01·-
dem de i1· com1)1·a1· os 1·efe1·idos gados; que êlc, Ga1·ay, já
se })reparava })a1· i1·, quando soube da morte do Adelantado
em Assunção. Ac1·escenta que 1·ecebe1·a. 01·den1 ele Diego ele
l\1endieta, }Ja1·a qt1e fôsse t1·ata1· ftS coisas do gado e ot1t1·as
coisas com a filha do falecido Adelantado. Diz mais (Ga-
1·ay) que }Jo1· la1·gos meses não teve ten11Jo de i1· ao Pe1·t1,
e que ent1·etanto Juan Tor1·es de Ve1·a casa1·a ·con1 a fill1a
do Adelantado, herdando con1 isto o ca1·go do sog1·0. E qt1e
a To1·1·es de Ve1·a restitui1·a o !)Ocle1· e 01·dem qtte tive1·a (Ga-
1·ay) do falecido. Que Ve1·a e A1·agón lhe manda1·a ent:~o
comp1·a1· o gado no Tucuman. . . l\Ias 1)01· ve1· q1._1e Ve1·a y
1

A1·agón tinha dificuldade em sei· admitido no go-vê1·no que


adqui1·i1·a })Or casamento com a fill1a do Adelantado, e tam-
BRUXEL, O OADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 75

bén1 po1· suas n1t1itas ocu1)ações con1 a 1·e1)ressão dos ínclios


1·evoltados, ainda não J)use1·a en1 exect1ção o que lhe havi,i
mandado Ve1·a y A1·agón. . . ( 53)
Po1·tanto, SU})ondo a autenticidade da afi1·n1ação de Ga-
ray, que não temos n1eios de verificai· exatame11te, temos
que Ga1·ay mesmo afirn1a soleneme11te e com j t11·an1ento,
que não cump1·iu nem o que lhe mandara Zá1·ate, nem o que
:rvlendieta, nem o que To1·1·es de Ve1·a y A1·agon. Êste deJ)oi-
mento foi feito em 1583, e neste mesn10 ano n101·1·et1 Ga1·ay
às mãos dos infiéis elas solitá1·ias n1a1·gens do Pa1·aná.
Ten1os, l)Ois, qt1e negai· a int1·odução de gado vacun1 fei-
ta J)o1· Ga1·ay desde· o Pe1·u ao Pa1·ag·t1ai, até que se nos a1)1·e-
senten1 p1·ovas de que Ga1·ay n1entiu quando fez a 111encio-
nada decla1·ação ou que não a f êz de manei1·a alguma.

88. Esta atitude não é di111inui1· a gló,·ia de Juan de Ga-


ray. E' dizei· sim1)lesmente a ve1·dade, da qual ninguém se
pode esquivar, })01· mais que ofenda suscetibilidades exage-
1·aclas. Ga1·ay fez mt1ito bem en1 se 1)1·eoct1J)a1· de coisas n1ui-
to mais im1)01·tantes. Se o g·ado, t1·azido pelos i1·mãos Góis
se n1ulti1)lica1·a tanto, seg·t1ndo afi1·n1a o Cabildo de Buenos
Ai1·es, que dava })a1·a mante1· tôda a l)I'ovíncia do Pa1·agt1ai,
e se além disso ainda estava o g·ado t1·azido })01· Feli1)e de
Cáce1·es, para que i1·ia o grande Garay abandonai· tarefas tão
in11)01·ta.ntes con10 e1·a o enraizan1ento segu1·0 de Buenos Ai-
1·es e Santa Fé, })a1·a i1· buscai· 1nais alguns 111ill1a1·es de 1·e-
ies a dois mil Klms de distância e levá-las })a1·a um luga1·
onde já havia 1·elativa111ente 1nt1ito? ! Qt1anto gaelo não ha-
ve1·ia })01· 1583 no Paraguai e todo o Rio ela P1·ata, se e111
1555 ent1·a1·an1 talvez algumas clt'tzias ele vacas e em 1568
out1·as tantas ao n1enos? Pa1·ece qt1e é g·ló1·ift maio1· })a1·a u111
gove1·nante, dedica1·-se em p1·imei1·0 1uga1· às coisas n1ais t11·-
gentes.
Se Ga1·ay não foi talvez t11n elos int1·oduto1·es, foi um dos
mais gloriosos e imo1·tais p1·opagc,do1·es do gado vacu11i que
1)01· séculos constitt1i1·ía a base alin1entícia e eco11ôn1ica de
tôdo o Rio da P1·ata. Fun(lot1 as g1·andes ci(lades arg·enti11as
de hoje e }J1·oveu-as ele gaclo })01· n1eio de seus at1xilia1·es, en-
t1·e os qt1ais se encont1·a o 111aio1· dos p1·ó-l101nens (laqt1cles
ten11Jos, que é I-Ie1·nando Arias de Saaved1·a, nascido e cri~1-
do em Asst1nção do Pa1·aguai. - Pode-se clize1· qtte a st1a
~ição, ou as conseqi.iências de st1a açfto, es1Jalha1·a111 o gado
\racun1 ao longo dt11na linha ele dois mil I{lms, desde o Gt1ai-
1·á .:ité fttndnmente 1Ja1·a st1l na can11Janha bonai1·ense. - A
Ga1·ay lhe sob1·am gló1·ias. Não 1)1·ecisa das que êle mesn10
po1· sua decla1·ação se nega a si 111esn10.
76 PESQUISAS 11160, HISTôRIA N.O 13

89. lnt1·oduto1·es poste1·io1·es a Cáceres e Ga,·ay.


Vicente Sie1·1·a em sua Histó1·ia (54) cita Juan To1·1·es
de Ve1·a y A1·agón, qt1e em 1587, int1·oduziu 4000 ovelhas
e 8.500 vacunos «no Pa1·aguai, em cum1)1·imento do comJ)l'O-
misso de seu sog1·0 01·tiz de Zá1·ate». Sie1·1·a não diz se o
gado vinha do Pe1·u ou do Tucu1nan.
Talvez haja ainda ot1t1·0s int1·oduto1·es de gado antes ou
depois de Vera y Aragón.
lVIas todos êstes não l)odem mais ser chamados com
l)ro111·iedade de int1·oduto1·es de gado no Pa1·aguai, a não sei·
que faça111os vá1·ias classes ou 01·dens. A ca1·avana chamada
dos i1·mãos Góis em 1555 se1·ia a int1·oduto1·a de p1·imei1·a
classe. A ca1·avana de Cáce1·es de segunda. A de Ga1·ay, se
se p1·ova1· que foi feita, se1·ia de te1·cei1·a. A de Ve1·a y A1·a-
gón de qua1·ta. Po1·qt1e int1·oduzi1· })1·0111·ian1ente quer dizei·
levai· uma coisa pa1·a um luga1· onde ela não existe. Secun-
dà1·iamente se pode dizei· que int1·oduzi1· também é levai·
uma cosa 11a1·a onde ela não existe na devida abundância.
01·a que significa «a devida abt1ndância» de gado vact1m
J)a1·a a gove1·nação do Pa1·aguai qt1e tinha camJ)OS de c1·ia-
ção até a Patagonia? Int1·oduto1· em fim l)Ode1·ia chama1·-se
também a quem leva gado de fo1·a 11a1·a g1·andes 1·egiões do
Rio da P1·ata em que antes ainda não se achava. Mas isto
ent1·a 1nais na catego1·ia de })1·011agado1·es de gado, uma vez
que em tôda a circunscrição geográfica, que ab1·angia o go-
vê1·no do Pa1·aguai, o gado já se achava en1 muitos luga1·es,
ainda que não em todos.
Enfim quando falamos da int1·odução de gado deve1nos
defini1· bem o que entendemos })01· êstes têrmos. Assim mais
ta1·de JJode1·emos falar de int1·odução de gado na Banda
01·iental, po1·que rest1·ingimos o tê1·mo int1·odução J)elo a11os-
to da Banda 01·iental, e também 1101·que esta 1·egião está
geog1·àficamente, ce1·cada de tais ba1·1·ei1·as natu1·ais, qt1e o
gado 1101· si n1esn10 não 11ode1·ia nunca ent1·a1·.

ANOTAÇÕES PARA O CAP1TULO TERCEIRO

1. A. Pôrto, História das Missões Qrientais do Uruguai, P. Alegre,


1954, I, 244. ·
2. F. A. Varnhagen, Biografia de Martim Afonso. Revista do Insti-
tuto Histórico Brasileiro, V, 235 - A. Pôrto, História. . . I, 245.
3. Urbino Via11a, Sôbre o Gado curraleiro, Rio 1927. - A. Pôrto, His-
tória ... I, 245.
4. Pero de Magarll1ães Gandavo, ·rratado da Terra e Gente do Bra-
sil, Ed. 1924, Rio, 102. - A. Pôrto, História... l, 246.
5. Padre Simão de Vasconcellos, Cró11ica da Companhia de Jesus no
Estado do Brasil, 1.' Ed., Liv. I, 40. - A. Pôrto, História ... I, 246.
BBOXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 77

6. A. Pôrto, História I, 246 ss.


7. Atas da Câmara de Vila de São Paulo. São Paulo, 1914, vol. I,
39. - A. Pôrto, História ... I, 249.
8. A. Pôrto, História ... 1, 247.
9. A. Pôrto, História ... 1, 252.
10. A. Pôrto, in Revista do Museu Júlio de Castilhos e Arquivo •His-
tórico do Rio Grande do Sul, A110 1, N. I, pg. 435-480: Historia do
Gado do Brasil. - A. Pôrto, História ... 1, 250.
11. Vicente Sierra, Historia de la Argenti11a, 1492-1600 (citan1os
sen1pre: 1), Buenos Aires, 1956, pg. 250.
12. Sierra, Historia ... I, 269.
13. Sierra, Historia ... 1, 274.
14. Sierra, Historia ... 1, 274.
15. Correspondencia de Juan de Salazar. Archivo de lndias. - A.
Pôrto, História ... I, 255.
16. Padre Ma11uel da Nóbrega, Cartas do Brasil, Rio, 1931. pg. 175.
- A. Pôrto, História ... I, 252.
17. Carta de Jua11 de Salazar, in Cartas de lndias, 579. - A. Pôrto,
História ... I, 253.
18. Padre Manuel da Nóbrega, Cartas do Brasil, Rio, 1931, pg. 175. -
A. Pôrto, História ... 1, 252.
19. Sierra, História ... I, 268.
20. Carta de Juan de Salazar. Cartas de Indias, 579. - A. Pôrto,
História ... I, 253.
21. A. Pôrto, História ... I, 251.
22. Ruy Diaz de Guzn1an, Argenti11a, 107. - A. Pôrto, História ... I, 254.
23. A. Pôrto, História ... I, 254.
24. A. Pôrto, História ... I, 254.
25. A. Pôrto, História ... I, 254.
26. Carta de Juan de Salazar, Cartas de Indias. 579. Ruy Diaz de
Gusmân, Argentina, 107. - A. Pôrto, História... I, 254.
27. Sierra, História ... I, 267.
28. A. Pôrto, História ... I, 255.
29. Correspondencia de Juan de Salazar. Archivo de Indias. - A.
Pôrto, História ... I, 255.
30. Cf. Números 78 e 79.
31. Carta de Juan de Salazar, Cartas de Indias, 579. - A. Pôrto, His-
tória. . . 1, 254.
32. A. Pôrto, História ... I, 255.
33. Si erra, História. . . I, 283.
34. A. Pôrto, História ... I, 256.
35. E. A. Coni, Historia de las Vaquerias de Rio de la Plata, 1555-
1750, Madrid, 1930.
36. A. Pôrto, História. . . I, 257, citando proposta de Juan de Salazar
ao Rei.
37. R. Lafuente Ma.cl1ain. El Gobernador Domingo Martinez de Irala.
B. Aires, 1939, pgs. 561-562. •restamento de !rala. - A. Pôrto,
História ... I, 257.
38. A. Pôrto, História. . . I, 256, onde cita tôda a documentação.
39. Cf. Nota 37.
40. Acuerdos del Cabildo de Buenos Aires. B. N. Cod. Mss. I, 16, I, 16.
- A. Pôrto, História ... I, 258.
41. Si erra, Historia ... I, 320 ss.
42. Si erra, Historia ... I, 320 ss.
43. Sierra, Historia ... I, 321.
44. Ruy Diaz de Gusmâ11, Argentina, 142. - .A,.. Pôrto, História. . . I, 259.
45. Sierra, Historia ... I, 322.
78 'PESQUISAS 1960, msTóRIA N.O 13

46. Cf. Nota 44. - A. Pôrto, História ... I, 259.


47 . Si erra, Historia ... I, 325 .
48. Carta de Pedro Dorantes. Garay, Doe. 136-138. - A. Pôrto, His-
tória ... I, 259.
49. Archivo de Indias. Anales de la Biblioteca, X, pg, 69. - A. Pôr-
to, História . .. I, 260.
50. Acuerdos dei Cabildo. Cod. mss cit. Publicado in Acuerdos del
Extinguido Cabildo de Buenos Aires, 1704. - A. Pôrto, Histó-
ria . .. I, 259.
51. Sierra, Historia. . . I, 401.
52. Anales de la Biblioteca, X, pgs. 176. - A. Pôrto, História ... I, 261.
53. Cf. Nota 50.
54. Si erra, Historia. . . I, 401.
CAPíTULO QUARTO

A DIFUSÃO DO GADO BOVINO NO RIO DA PRATA

EM GERAL.

90. A aptidão ext,.ao1·dinária de todo o Rio da P1·ata


l)a1·a a l)ect1á1·ia devia sei· conhecida desde cêdo !)elos ft1n-
dado1·es es1)anhóis. Ainda qt1e 1·a1·an1ente sai1·iam da ág·ua
do 1·io quando st1biam e desciam l)elo Pa1·aná, contt1do de
oitiva ou de vista devem te1·-se a1)e1·cebido da in1ensa área
can11)est1·e que se estendia diante deles. De Co1·1·ientes f)a1·a
cima havia n1ais mato na ma1·gem esqt1e1·da do Pa1·aguai,
mas daí pa1·a baixo o 1)am1)a se estendia até a Patagonia e
po1· quase mil Kln1s pa1·a oeste, e t1ns mil e tantos tan1bém
para leste de Sa11ta Fé e Co1·rientes. E1·a campo pa1·a deze-
nas de milhões de cabeças, sem que os b1·ancos tivessem que
fazei· mais do qt1e la1·ga1· o gado, de1)ois de sei· tão nu111e-
1·oso que não pudesse mais sei· exte1·minado })elos índios. Já
en1 1553 e 55 esc1·eviam, segundo Coni, que la1·gando as va-
cas e1n algumas dezenas de anos enche1·iam tudo. . . (1)
Mais concreta.mente, na banda de Buenos Aires ala1·-
gavam-se . cam1)os })a1·a todos os lados, menos l)a1·a o estuá-
rio. E' ve1·dacle que segundo Coni há n1uitos t1·echos ine1)tos
})01' falta de água ou água l)Otável à su1)e1·fície. No luga1· de
Santa Fé havia cam})OS l)a1·a ambos os lados do Pa1·aná.
Mas no lado di1·eito havia os índios inimigos, ao passo que
na banda 01·iental do Pa1·aná os cha1·1·t1as f àcilmente se
amiga1·am com os b1·ancos se1·vindo mesmo de peões em suas
estâncias posterio1·es. (2) - Em Co1·1·ientes a oeste havia
os índios inimigos, a leste os gua1·anis que })Cste1·io1·mente
se conve1·te1·iam e f a1·iam amigos dos b1·ancos. Assunção ti-
nha no Chaco os índios inin1igos e na sua banda esque1·da
havia matos e cam1)os mistu1·ados, dada a natu1·eza algo
montanhosa da te1·1·a. A banda oriental podia te1· sido en-
t1·evista pelos })1·imei1·os naveg·adores do Pa1·aná e U1·uguai.
80 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.O 13

Em todo o caso })a1·ece qt1e os funclado1·es elas cidades


es1)anholas no Rio da P1·ata conheciam bastante a a1)tidão da
ter1·a })a1·a a })ect1á1·ia em g1·ande escala.

91. Tambén1 }Jode1·ia111 ent1·eve1· de algt11na n1anei1·a a


g1·ande impo1·tância do boi 1Ja1·a o lJOvoamento da te1·1·a, e
mais ai11da desta te1·1·a. A natt11·eza can11)est1·e 1nost1·a,ra
qt1e o solo era 1·elativa1nente f1·aco }Ja1·a a ag1·icultt11·a em es-
cala n1aio1·. - Alén1 disso, con1 um qt1e ot1t1·0 navio })01· ano
que expo1·ta1· e }Ja1·a onde? Pa1·a as costas fe1·tilíssimas do
B1·asil? De1Jois as sêcas, os gafanhotos, as devastações dos
índios! E onde bt1sca1· os b1·aços }Ja1·a a lavou1·ê1 intensiva,
quando os índios não qt1e1·iam t1·abalha1· e os b1·ancos e1·am
quase todos 11ecessá1·ios pa1·a o se1·viço das a1·111as nos })1·i-
mó1·dios da conquista? A lavou1·a não tinha 1Je1·s1Jectivas de
st1cesso.
Ao cont1·á1·io, na })ect1ária em g1·ande escala, e à Ia a1ne-
1·icana, haveria solução }Ja1·a tt1do. Haveria cot11·os e sebos
pa1·a ex1Jo1·tação e n1il e tlm t1sos casei1·0s. Have1·ia sob1·e-
tudo alimentação boa e ba1·ata qt1e não exigi1·ia mais t1·a-
balho que o de 1·ecolhe1· e abatei· as 1·êzes. Have1·ia bois pa-
1·a o t1·abalho da lavot11·a e }Ja1·a os t1·ans1Jo1·tes de ca1·gas
e }Jessoas. E tudo isto feito não 1J1·01J1·ia111ente como traba-
lho, pois dêste não gostavan1 ne1n os b1·ancos e 1nenos ainda
os índios, mas mais como ocu1Jação de b1·avatas e ostenta-
ções, na don1a dos cavalos e na a1·1·eada dos bois.
Onde }Jodia vivei· o boi, IJOdia vivei· o homen1, qt1e sem-
p1·e lhe segt1ia na }Jegada difttsiva, de1)ois de o nt1clea1· nas
povoações 1J1·inci1Jais ao longo do Pa1·aná. Era o boi a so-
lução no sul do Continente. E g·1·ancleza foi dos JJovoado-
1·es n.ão teimai· inutilmente em out1·as coisas. A senha e1·a
difundi1· o boi.

92. Qt1anto aos auto1·es da difusão te1·en1os qt1e distin-


gui1· ent1·e os difuso1·es oficiais e }Ja1·ticula1·es, ent1·e os man-
dantes e os exect1tantes. Os i1·1nãos Góis fo1·am 1Ja1·ticttla-
res. Cáce1·es, Ga1·ay e To1·1·es de V e1·a foram e111 1Ja1·te n1an-
dantes en1 }Ja1·te exec11tantes. O mandante s111J1·en10 e1·a o
Adelantado qt1e tinha assun1ido a ob1·igação oficial. Mas
junto a êstes oficiais, se1·á que não havia niuitos 1Ja1·ticu-
la1·es? Quen1 tem p1·01J1·iamente mais mé1·ito, o mandante ou
o executante? O mandante n1t1itas vêzes não dá mais qt1e o
dinhei1·0 que lhe sob1·a. O executante põe en1 j ôgo tôda a
stta p1·udência e ene1·gia e não 1·a1·as vêzes a1·1·isca a vida.
E mesmo no caso de exectttantes 1·es1Jonsáveis como Cáce-
res e Ga1·ay, fica o caso dos executantes subdelegados.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY 1 81

93. Te1·íamos que ve1· o ,,iodo ju1·ídico e11i que se leva-


vanz os gados. Em anos l)Oste1·io1·es o t1·ans1)01·te de t1·01)as
de gado, vacas, cavalos, mulas, muitas vêzes se fazia J)or
emp1·eitada, co1110 se vê en1 n1uitos doct11ne11tos elo A1·chivo
Gene1·al de la Nación em Buenos Ai1·es, Sección Con11)a11ia.
O em1)1·eitei1·0 1·ecebia de 20 a 30 J)o1· cento elo que conse-
guisse levai· são e salvo J)a1·a o elestino, esta11do assin1 111a11-
comunado o seu inte1·êsse co111 o inte1·êsse elos })lºOJ)1·ietá1·ios.
Será que as int1·oduções e dift1sões de gado se faziam da
mesma 111anei1·a? Será que muitos l)l'OJ)1·ietários ent1·eg·avê1m
diferente nún1e1·0 de cabeças ao e1111)1·eitei1·0, qt1e engajava
e pagava os J)eães e vaqt1ei1·os e 1·ecebia no fim de cada um
a st1a J)e1·centagem? No caso das sete vacas e um tou1·0 ele
1555, se diz qt1e J)ela conelt1ção de sete vacas e t1111 tot1ro
Gaete 1·ecebeu un1a vaca. Do1·antes fé1la de 1)1·01)1·ietá1·ios que
aJ)Ós a int1·odt1ção feita })01· C[tce1·es 1·ecebia111 aJ)enas cinco
, 1 acc=ts de cinqüenta. Ci11qüenta qt1e havia111 ent1·egado no lu-
gar da })a1·tida? ou a que teõ1·ica111ente teriain direito?
E ago1·a qt1al o 1nodo de levai· o gado na difusão J)a1·a
as cidades que se ian1 fundando? Pa1·a Co1·1·ientes foi He1·-
nanda1·ias que levou 1500 vacas. Vacas de quen1? De mui-
tos, de poucos, de un1 só? Vacas del Rey ou chuc1·as ti1·a-
das da Vaca1·ia con1un1?
C1·emos que os mo1·ado1·es que de Assunção se mud.a-
vam J)a1·a as 1·ecentes fundações te1·iam em Asst1nção os seus
gados co111 a 1·es1)ectiva ma1·ca. Ent1·eg·a1·iam tantas e ta11-
tas ao e1n1)1·esá1·io 1·es1)onsável, qt1e no caso de Co1·1·ientes
te1·ia sido I-Ie1·nanda1·ias. Tan1bé1n é J)ossível qt1e sejam duas
pessoas dife1·entes, a J)essoa do chefe ela escolta n1ilita1· que
a_com1)anhava a t1·01)a e o chefe dos vaquei1·os que fazia os
serviços do gado.
Na lite1·atu1·a ele que dis1)01nos não encont1·an1os 1·es1)os-
ta cla1·a a estas })e1·guntas, qt1e é geraln1ente omitida })elos
que t1·ata1· do gado. Mas não deixa de te1· a sua im1)01·-
tância, se que1·emos falai· de n1é1·itos na difusão do gado
at1·avés do Rio da P1·ata. Vê-lo-e111os também mais ta1·de na
int1·odução do gado na Ba11da 01·iental.

94. Deve-se 1nenciona1· ta1nbé111 o 111odo p1·ático de le-


va,· a t,·opa de gado. O modo J)1·ático não J)ode dife1·i1· sen-
sivelmente da manei1·a com qt1e se levava nos séculos J)os-
te1·io1·es un1a t1·01)a de gado vacun1. - Un1as J)oucas cabe-
ças pocliam sei· t1·ans1)01·tadas en1 balsa, levanclo un1 J)Ouco
de feno ou saltando à J)l'ê.lia 1)a1·a pastai·. lVIas tal não se
dava com g1·andes t1·01)as, co1110 as que fo1·an1 para a fttnda-
ção de Santa Fé, Bt1enos Ai1·es e Co1·1·ientes. O t1·anspo1·te
82 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.o 13

devia sei· po1· te1·ra, escolhendo a 1·ota de manei1·a qt1e se


evitassem quanto lJossível as g1·ancles ba1·1·eii·as hid1·ográfi-
cas, houvesse lJasto e aguada en1 te1111Jo 01Joi·tuno e fôsse }JOS-
sível evitai· as emboscadas dos índios que mo1·avam ao lon-
go da rota. Po1· algumas indicações que t1·az Siei·i·a, na fun-
dação de Co1·1·ientes, (3) conclt1imos qt1e a i·ota das ti·o1Jas
costumava sei·: IJassai· o Paraguai a st1l de Assunção e se-
gui1· at1·avés do Gi·an Chaco JJai·a baixo. Embo1·a hot1vesse
inimigos poi· lá, havia não obstante mais cam1Jo do que ma-
to e banhado. Se JJai·a ft1nda1· Co1·1·ientes na 111a1·gem es-
querda do Pai·aná, o gado veio }Jela ma1·gen1 dii·eita dêste
1·io, a f 01·tio1·i i1·[1. }Jela mesma ma1·gem para chegai· a Santa
Fé e Buenos Aii·es. Pode, }Jois, conjetu1·a1·-se com bastante
certeza sôbi·e as }Jeripécias que passa1·iam os conduto1·es das
t1·01Jas de gado que iam fundai· as cidades ao longo do Pêt1·a-
ná e Pa1·aguai.

95. C1·ité1·io de divisão dêste capítulo. - Podia sei· se-


gundo os anos de fundação, segundo a localização geog1·áfi-
ca, segundo os at1to1·es da difusão, e segundo a finalidade
princi1Jal que tinha a 1·es1Jectiva fundação. Escolhemos o
c1·ité1·io c1·onológico, }J1·ocui·ando ve1· bi·evemente em cada ci-
dade a sua fundação, o gado que te1·ian1 levado, a evolução
do gado en1 vaca1·ias e estâncias. E' cla1·0 qt1e as fundações
anterio1·es a 1555 só IJOdiam 1·ecebe1· cavalos e }Jo1·cos, já que
só êstes animais estavam no Rio da Prata desde a funda-
ção da p1·imei1·a Buenos Ai1·es em 1535. Por fim daremos
um b1·eve resumo com ci·ité1·io geog1·áfico.

95a. Divisão pormeno1·izada.


El\f GERAL.

Aptidão ... (90)


Importância da pecuãria para o Rio da Prata (91)
Autores da difusão do gado ... (92
Modos da difusão:
aspectos jurídicos (93)
aspetos práticos ( 94)
Critérios da divisão (95)

EM PARTICULAR.

Primeira Buenos Aires em 1535 (96)


Assunção em 1537 (97)
Ontiveros em 1556 (98)
Ciudad Real em 1557 (99)
Santa Cruz de la Sierra en1 1559 (100)
Vila Rica do Espirita Santo em 1570 (1576?) (101)
Santa Fé em 1573 (102, 103, 104)
BRUXEL, O GADO N,A ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I

Zarati11a e111 157·1 (105)


Seg unda Buenos Aires en1 1580 (106, 107, 108)
C~oncepció11 del Bermejo en1 1585 (109)
l '. orrientes en1 15gg (110, 111, l 12) ·
Santiago de Xerez (114)

Aspeto geográfico da dífusfio ( 115), en1 que o gado participa de algu-


111a ma11eira no sentido das fundações hun1anas. (Fundações a nor-
deste, a noroeste, a sul e a oeste).

Explanação.

96. A p1·in1ei1·a Buenos Aires (4) fundaàa em 1535 })01·


Don Ped1·0 de lviendoza não })odia te1· gado vact1m, })01·qt1e
êste ai11da não existia no Rio da P1·ata. Só veio con10 vimos
em 1555 l)a1·a Assunção. Pa1·ece qt1e Mendoza t1·ouxe st1í-
nos. Em todo o caso t1·ouxe seus cavalos de guerra e de 1·e-
p1·odução, o que se vê, alé1n dos muitos documentos que fa-
lam dos cavalos, tan1bén1 do fato ele havei· eri1 1580, na se-
gunda Bt1enos Ai1·es un1a «yegt1a1·ia>> qt1e os fundadores ava-
liam em 80.000 ou 800.000 cal)eças. Êstes equinos pastavam
selvagens nas imensas })rada1·ias de Buenos Ai1·es e e1·am
1·elíquias dos sementais deixaclos 11a })1·i111ei1·a Buenos Ai1·es.
O p1·imeiro ·gado vact1m veio })a1·a a região de Buenos
Ai1·es a1)enas na segt1nda fundação e1n 1580, como ve1·emos
mais adiante.
Pa1·ece que já havia 11a 1J1·i1neira Buenos Ai1·es alguns
sementais ele })01·cos, 1Jo1·qt1e 111ais ta1·de a1)a1·ecem e111 Assun-
ção sem que se saiba doncle vie1·am. E1·a 1nt1ito fácil levar
})01·cos nos navios: o luga1· qt1e ocu1)avam na coberta elos
navios e1·a })ouco, a aliment::1.ção fácil 1)01· se1·em anim~1is
onívo1·0s, a resistência aos pe1·calços da viagen1 era g1·an-
de, a })1·olife1·ação abundante. - Pa1·ece que e1·a costt1n1e
levai· po1·cos e galinhas 110s navios 1)a1·a ter alguma ca1·ne
f1·esca. l'IJ'o Duc de Cha1·t1·e qt1e nauf1·agot1 em 1743 nas
}J1·aias do Rio G1·ande do St1l l1avia t1m })orco que, at1·avés
das ondas chegou vivo à J)1·aia. (5)

97. Assunção, ft1ndada em 1537. (6) Sôb1·e o gado da


cidade de Assunção antes de 1555 nã.o })1·ecisamos })e1·de1·
palav1·a. Sai1·a da })1·i111ei1·a Bt1enos Ai1·es e co1no tal não
J)odia te1· senão cavalos e 1)01·cos. Aliás como veio o gado
vacun1 J)a1·a São Vicente, na Costa de São Paulo en1 153L1,
assin1 afinal tambén1 1Jocle1·ia ter vindo a Assunção nos na-
vios de Espa11ha. Mas 11ão consta nada a 1·es1)eito. Po1·tan-
to até 1555 Asst1nção só co11t.:1va com cavalos e po1·cos.
84 PESQUISAS 11>60, HISTÓRIA N.O 13

98. Ontive1·0s, fundada e111 1556. O })1·imei1·0 gado va-


cum veio em 1555. Ontive1·os que foi fundada, segundo in-
dica Vicente Sie1·1·a (7) em 1556, se1·á que teve gado vacum
na fundação ou logo méiis? Ontive1·os esteve bastante ac1n1a
do Salto das Sete Quedas, 111ais ou n1enos 11a 1·ota en1 que
vinham, iam e vinhan1 os })aulistas e os es1)anhóis que tran-
sitavam ent1·e a costa e o Pa1·aguai, con10 po1· exen1plo a
comitiva de Alva1· Núfiez Cabeça de Vaca, e os seus pa1·ti-
dá1·ios qt1e antes de 1555 haviam fugido 1)a1·a São Vicente.
Pa1·ece qt1e l1·ala qt1is 01)ô1· t1n1 diqt1e à caça e compra de
índios que os J)at1listas faziam no Guai1·á. Em 1554 l1·ala
mesmo ex1)lo1·a1·a a 1·egião. Em 1556 (20 de ma1·ço) o capi-
tão Ga1·cia Rodriguez de Ve1·ga1·a foi com sessenta espanhóis
e fundot1 Ontive1·os uma légt1a acin1a do Salto do Guai1·á.
Sie1·1·a indica que es1)e1·ava ti1·a1· ou1·0 do 1·io. (8)
Os l)Oucos textos à dis1)osição não 1)e1·mitem avaliai·
se leva1·iam gado. Com ce1·teza leva1·am seus cavalos. Tal-
vez também })01·cos. Vacas de ce1·to não leva1·an1. Pois ape-
nas em 1555 vie1·am de São Vicente e os donos não as a1·1·is-
cariam em um lugar tão n1al segu1·0. - Por uma referên-
cia de Caviglia sabemos que os missioná1·ios jesuitas n1ais
tarde tiveram que lutar cont1·a o escá1·neo dos espanhóis, c1ue
se 1·iam dos padres, J)Or que1·e1·em en1·aiza1· gado no Guai1·á.
(9) Sinal de que as condições na n1a1·gem do Pa1·aná não
eram boas. Mas as fundações dos J)ad1·es pouco a pouco en-
traram no Estado do Pa1·aná até a J)arte cent1·al dêle, onde
havia mais cam1)os. C1·emos que nenhun1 gado vacum foi
para Ontiveros, tanto mais que no ano seguinte Ontivc1·os
se desamparou e se incor1)01·ou com Ciudad Real.

99. Ciudad Real, fundada em 1557.


Irala queria fundai· nos J a1·áes, a oeste do atual iviato
Grosso, e no Guaí1·a. Mandou a Núf1·io de Chavez })a1·a os
Jaráes, mas nada se fundou. No Guai1·á a fundação te1·ia
a finalidade de Ontive1·os, isto é 01)ô1·-se aos JJaulistas qt1e
com seus tupis caçavam e con11)1·avam índios naquela 1·e-
gião. Ao mesmo tem1)0 des1)acha1·ia como fundado1·es os
elementos indesejáveis da cidade de Assunção, os quais vi-
viam revoltados po1· não have1·em sido contemJ)lados na 1·e-
partição de encomiendas de índios. Rui Dias Nielga1·ejo foi
em 1557 com cem homens a Ontive1·os e l)e1·suadiu a seus
moradores que era melho1· i1·en1 com êle algu1nas léguas n1ais
para cima a fim de ft1nda1·em Ciudad Real. Ft1ndou-se efe-
tivamente a nova cidade na desen1bocadu1·a do Pequi1·i.
Olhando a data da fundação, se to1·na mais ot1 n1e11os
evidente que os fundadores não IJOdiam te1· levado gado l)a-
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY l 85

1·a aquela região, })Ois a1)e11as fazia dois anos que haviam
vindo pa1·a Assunção as vacas dos ii·mãos Góis. Não a1·1·is-
cai·ia1n o l)Ouco que tinham nos azai·es duma nova ft1ndação.
E talvez fôsse mais fácil levai; gado de São Paulo pa1·a o
Guai1·á que levá-lo da cidade de Assunção })a1·a lá. Os guai-
renhos ainda en1 1610 ou 20 zombavam dos jesuítas que tei-
mavam em levai· gado }lai·a o Guai1·á, sinal de que não se
pi·estava n1uito pai·a a Ilecuái·ia, a não sei· a muita distâ11-
cia do Paraná, onde de1)ois os jesuítas fundaram os seus })O-
vos. Lozano tlensa que êste gado missionei1·0 do Guai1·á se
alçou depois da dest1·uição dos J)ovos e se es1lalhou e chegou
ao mai·. Mas• c1·emos que é conft1são con1 a Vaca1·ia do Mar
na Banda 01·iental. (10)

100. Santa C1·uz de la Sierra. (11) Núf1·io de Chavez


fôi·a n1andado ao J ai·áes Jlai·a ft1ndai·. Não ft1ndot1 nada e
continuou po1· sua conta e 1·isco J)ai·a noi·oeste. Os comJ)a-
nheii·os pi·otesta1·am e em 24 de junho de 1559 se separa-
1·am e volta1·am pai·a Asst1nção do Pa1·aguai. Núfi·io conti-
nuou e em agôsto de 1559 fundo11 a Nueva Assunción, que,
poi·ém, não se fii·mot1. Enconti·ou-se com soldados pe1·uanos
que também haviam saído co111 lll'OllÓsitos de fundação. Hou-
ve desavenças, foi·a1n a Lima, e Lin1a decidiu que fundasse
Núf1·io de Chavez. Êste voltot1 e fundot1 en1 26 de feve1·ei-
i·o de 1561 a cidade de Santa C1·t1z ele la Siei·ra no Iuga1· em
que hoje se acha. Finginclo descobei·ta de g1·andes jazidas
de oui·o e p1·ata, log1·ou at1·air n1ais l)0\70ado1·es da velha As-
sunção do Parag11ai, que esteve em Jlei·igo de despovoar-se.
I11de1lendenten1ente de J)1·ovas documentais, })Odemos di-
zei· que Santa Ci·uz de la Siei·1·a não se llovoou com gado va-
cun1 assuncenho. A longa e êlzai·osa viagen1 de ex1)loração de
Chavez, o fato de ainda en1 1568 levai· Cáce1·es gado vacum
do Pe1·u pa1·a o Pa1·agt1ai, }lassando po1· Sa11ta Ci·t1z de la
Sie1·1·a, o fato ele estai· a bastante llOt1ca distância Tai·ij a e
Charcas, en1 que o Adelantado Juan Oi·tiz de Zái·ate ap1·on-
tai·a o gado pa1·a sei· levado a Assunção po1· Cácei·es: tudo
isto nos leva a c1·e1· qt1e todo o gado, menos os cavalos de
guer1·a, de Santa C1·t1z de la Sie1·1·a, se1·iam do Pe1·u e não
do Pa1·aguai, a1)esa1· de sei· êl cidade uma fundação JJai·aguaia.
A não sei· que os emig1·antes do g1·ande êxodo de Assunção
1Ja1·::t Santa C1·uz entre 1564 e 5 tenham levado consigo os
seus gados. Mas os })a1·aguaios não iam para Santa C1·uz
c1·iar gado, senão }la1·a cavai· ou1·0 e pi·ata.

101. Villa Rica do Espírito Santo, em 1570 ( ou 76? ).


A fundação se deu em 1570 ou segundo Lozano (III,
86 PESQUISAS 11160, HISTÓRIA N.O 13

207) e111 1576. Dizen1 os auto1·es que Ga1·ay n1anclo11 a Mel-


ga1·ejo sair de Ciudad Real })a1·a leste a fim de fundar un1a
cidade. Saiu lVIelga1·ej o con1 40 homens e 53 cavalos, a11da-
1·am 60 léguas de matos e n1ontes e f11ncla1·am na ma1·gen1
esquerda do Iv:ií na confluência dêste co111 o Co1·umbati.
Chamou-se Villa Rica 1)01·q11e l)enso11-se encont1·a1· minas de
metais 1)1·eciosos. Encont1·a1·a111 a1)enas qua1·tzos e ametistas
e miné1·ios de fer1·0 qt1e l\1elga1·ejo f11ndiu en1 alguns inst1·t1-
mentos. J aege1·, Pesqt1isas I, })g. 100. Note-se de J)assag·em
que esta ft1ndiçfto de fe1·ro se deu mais de cen1 anos antes
da que fez o famoso Padre Se1)J) na 1·edução de São João no
Rio G1·ande do St1l.
Não consta que levassem gado vac11m. Somente os seus
cavalos. Talvez alguns })01·cos, que se ali111enta1·iam ben1 na
1·egião dos Pinhei1·os.
O que pe1·deu Villa Rica foi a \7enda de esc1·avos indí-
genas 1)a1·a São Pat1lo. Levados J)o1· êste engodo, avança-
1·am os paulistas e em 1632 ob1·iga1·an1 os es1)anhóis a de-
sam1)a1·a1· Villa Rica e 1·eti1·a1·-se J)a1·a a ma1·gem di1·eita do
Pa1·aná. Tinha havido dois fins em ambos os contendo-
1·es: 11m e1·a econômico e J)essoal, 111inas nos esJ)anhóis e es-
c1·avos nos bandei1·antes; o out1·0 e1·a J)olítico tanto da J)ar-
te de I1·ala que manda1·a ft1nda1· Villa Rica, como da })a1·te
das autoridades de São Pat1lo, que ao 111enos tàcitame11te
ap1·ovavam os avanços de st1a gente, }Jo1· inco1·1)01·ar mais
ter1·a na possessão JJ01·t11guesa.
Sôb1·e a 11ova Villa Ric~t do Es1)í1·ito Santo, fundada no
Itatim veja-se Vicente Si erra, Histó1·ia . . . I, 232.

Difusão do gado para Santa Fé e111 1573.

102. A fundação de Santa Fé. - Segundo Vicente


Sie1·1·a (12), Santa Fé foi fu11dada e1n 1573, J)o1· 89 J)ovoa-
do1·es, dos quais 80 e1·an1 c1·ioulos ou nascidos na te1·1·a. Uns
duvidavam do êxito po1· não ama1·em o t1·abalho; 011t1·os
se es1)e1·ançava1n }Jo1·q11e })1·ecisamente eram bons cavalei1·os
e bons ati1·ado1·es, o q11c \7alia muito na gue1·1·a e tambén1
na paz, se o t1·al)all10 e1·a a })ect1á1·ia em grande escala. -
Não inte1·essa aqui a biog1·afia do g1·ande Juan de Ga1·ay,
que fundou a cidade e que estava no Pa1·agt1ái desde 1568,
quando seu p1·edecesso1~ Feli1)e de Cáce1·cs teve que aban-
donai· o govêrno. A ex1)ecliçlío ft1ndado1~;;1. foi JJa1·te J)o1· te1·-
ra, J)a1·te po1· água. A 6 ele .i•1:ho cte 1573 chega1·am ao lt1-
ga1· de Cayastá, 011de co1-;1eçaram a levantai· as casas. En-
t1·etanto Ga1·ay foi mais })a1·a sul, onde cl1egou a estai· e1n
l)e1·igo de })erece1· nu111 ataque de índios, sendo salvo po1·
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 87

uma escolta de es1)anhóis que casualmente andava por lá,


vinda do Tucun1an, con1 os n1esmos l)l'opósitos f undado1·es.
Garay voltou e fez ap1·essa1· a fundação, que efetuou ofi-
cialmente a 15 de noven;ib1·0 de 1573. Notemos de lJassa-
gem que t1ns oitenta anos mais ta1·de, em 1651 t1·asladou-se
a cidade mais l)a1·a o sul, a fim de não estai· tão afastada
de suas estâncias ocidentais e a fin1 de deixai· 111ais afasta-
dos os ínclios do no1·oeste que semp1·e a hostilizavam, na
n1argen1 ocidental. ( 13)

103. O gado que leva,·iani na fundação de Santa Fé.


Não encont1·an1os na g1·ande Histó1·ia ela A1·genti11a de
Vicente Sie1·1·a alusões cla1·as a êste ponto, sendo que e1·a
quase a base princi1)al de tôda a sua econon1ia du1·a11te mui-
tos anos. Só se vê que leva1·am cinqüenta ou cinqüenta e
cinco cavalos, e o gado que foi 1)01· te1·1·a. Como 11aqt1eles
tempos ainda não estava 1Jacificado o caminho de Itapua,
que 1nais ta1·de e1·a o caminl10 01·diná1·io de tudo que subia
e descia de Assunção J)ara baixo, é de c1·e1· que o caminho
do gado se1·ia na n1a1·g·e1n di1·eita do Pa1·aguai e Pa1·aná, on-
de haveria menos 1·ios e banhados e mais can11Jos, p1·01)01·-
cionando n1ais clefesa e n1ais l)asto pa1·a o gado em ma1·cha.
- G1·oussac (14) diz qt1e e1·an1, con10 e1·a evidente, cavalos,
éguas e gado vacum. Parece, l)Ois, que não consta quantos
vacunos se1·iam. Ac1·escenta G1·ot1ssac que nos l)1·imei1·os
ten1pos Santa Fé foi abastecida 1)01' Assunção até que os f1·u-
tos da te1·1·a e os gados multi1)licados, facilita1·am a vida
mate1·ial. (15) Se1·iam muitos ou JJoucos os bovinos que le-
va1·an1? Em Assunção fazia quase vinte anos que estavam
os gados vicentinos que julgamos seria111 algt1mas dúzi~s
em 1555 e, segt1ndo o Cabildo de Bt1enos Aires, antes da
chegada do gado pe1·t1ano, em 1568, já bastava pa1·a man-
te1· Assunção e dist1·itos. Coni cliz en1 seu liv1·0, página 12,
que em 1627 se julgava qt1e Santa Fé já tinha 100.000 ca-
beças de gado vacu111, donde se })ode1·ia calculai· o casco ini-
cial co111 alguma a1)1·oxin1ação. Tan1bén1 JJodemos concl ui1·
ce1·ta abundância no casco inicial !)elos fatos que aponta
Coni, a sabei· que já em 1577 se mandou que os donos de
gado, que tivessen1 1·êzes nas ilhas do Paraná, as ma1·cas-
se111. No mesn10 ano se vendia un1a cria de égua ou vaca
po1· uma qua1·ta de l)ano. Se a qua1·ta fô1· a qua1·ta duma
vara então se1·ia um lenço de 20 J)Or 80 cms }Jo1· uma 1·ez
ainda })Or c1·ia1·. Tôda a cabeça ele gado menor 1)01· t1ma li-
b1·a de algodão ( em 1·ama), ot1 seja cê1·ca de meio Klg po1·
uma ovelha, um po1·co, uma cab1·a. (16)
Os J)OVoado1·es eram 11a sua imensa maio1·ia c1·ioulos,
88 PESQUISAS lll60, HISTÓRIA N.O 13

.
homens afeitos e afetos qt1ase exclusivan1ente às lides can1-
pei1·as como esfô1·ço l)essoal de t1·abalho.
Po1·tanto conhecendo êles a a1)tidão })1·efe1·encial da ie1·-
1·a, l1avendo abu11dância de gado vact1n1 em Assunção, e sen-
do mais do gôsto dos })ovoadores a pecuá1·iét que a lavou1·a,
é de su1)ô1·-se que leva1·iam J)a1·é't casco inicial o 1náximo que
lhes e1·a possível.

104. Evolução do [J(tdo Santa/ecino en1 Vaca1·ias e Es-


tâncias.
Não J)oden1os 11en1 qt1e1·emos ent1·a1· e1n den1asiados
1)01·n1eno1·es, qt1e talvez ne111 existan1 docun1entados. l\'las é
evidente de anten1ão qt1e devian1 sei· ext1·emos os cuidados
com os J)lantéis, })01· causa da relativa 1·a1·idade e J)1·eciosi-
dade das J)1·imei ras 1·êzes de q tte cada t1n1 dis1Jt1nha, })Or
cat1sa dos pe1·igos, con10 tig1·es, enchentes, cob1·as ve11eno-
sas e índios. Começa1·ian1 con1 o sisten1a ct11·1·alei1·0, conti-
nua1·iam con1 JJot1·ei1·0s, ri11cões e estâncias, que ian1 c1·es-
cendo à medida que c1·escesse o n(1n1e1·0 dos 1·incões qt1e
ab1·igava1n o gado. . . Ga1·ay tinha a sua estância on·d e mais
ta1·de foi t1·asladada a cidade de Santa Fé, como anota Vi-
cente Sie1·1·a (17) ao t1·ata1· dês te assunto. En1 1577 já se
manclava aos do110s qt1e tivessen1 gado nélS ill1as que o 1na1·-
cassem. Uma ilha é un1a estância ideal }Jo1· causa da cê1·-
ca natt11·al da água.
Os estudiosos te1·ão esquad1·inhado os docun1entos e
apontado o }Jaulatino avançai· da.s estâncias na n1a1·g·em di-
1·eita e esqt1e1·da elo Pa1·aná. E n1ais na n1a1·gem esque1·dé1
do que na di1·eita, a1)esa1· de estai· a cidade na ma1·gem di-
1·eita. Po1~ que? Po1·qt1e na Banda Ociclental, sob1·ett1do n1ais
1Ja1·a o no1·te havia índios mais hostis do que na Banda 01·ien-
tal. Nesta havia os cl1a1·1·t1as de Ent1·er1·ios, que nt1nca se
pacifica1·am com1Jletamente, mas que gostavam de lidai· com
os es1)anhóis. Digamos antes que êstes sabiam conquistá-
los pa1·a as lides campei1·as, de modo que não só resJ)eita-
vam de alg·uma n1anei1·a os b1·ancos, mas até lhes ajuda-
vam na vida de can11)0. Foi clesta coope1·ação de b1·ancos
e cha1·1·uas e111 Entre1·1·ios que nasce1·am os J)1·imei1·0s gaú-
chos ou seja b1·ancos qt1e se 1·eti1·avam mais ou menos pa-
1·a se1n1J1·e da vida civilizada e })e1·n1aneciam no meio da in-
diada dos camJ)OS. Foi, })Ois, na Banda 01·iental do Pa1·a-
11á (não do U1·uguai ! ) qt1e se estende1·an1 as estâncias san-
tafecinas. E o gado que se esca1)ava destas estâncias em
b1·eve começou a formai· a Vac.11·ia de Santa Fé. Em 1606
He1·nanda1·ias encont1·a vacas a 10 léguas do Pa1·aná na st1a
ma1·gem esque1·da. Se1·ia111 t111c; 50-60 Klms tP.1·1·a adentro.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 89
,.
Em 1627 se calcula qt1e Santa Fé te1·ia un1as 100.000 cabe-
ças de gado o qt1al esta1·ia sob1·ett1do nas suas Vacai·ias de
Ent1·e1·1·ios. (18) Ent1·e 1630-40_ começa a nuclea1·-se o gado
da ,,.aca1·ia de Santa Fé nas estâncias do l)OVO de J a1)ej t1.
Em 1636 há t1111 encont1·0 sang1·ento entre gua1·anis c1·i.stãos
e cha1·1·uas l)agãos, que ha,rian1 ti1·ado cavalos da Vaca1·ia
de Santa Fé. Olhando t1n1 n1a1)a da 1·egião de Ent1·e1·1·ios ve-
n1os que o di,riso1· de água ,rai n1ais ou n1enos e1n di1·~ção
nordeste, desde a 1narge111 01)osta a Santa Fé até a desen1-
bocadt11·a do Ibict1i, onde na n1a1·ge111 ocidental do Uruguai
esta,ra J aJ)ej u . 01·a en1 luga1·es de cochilhas e 1nais ainda de
g1·andes baixadas, o diviso1· de éÍ.gt1as, ou ao 111enos as abas
do diviso1· de águas, costuma sei· a 1·ota mais favo1·ável I)a1·a
a dift1são es1)ontânea do gado, con10 se vê tan1bém na Ban-
da Oriental do U1·t1gt1ai onde a Vaca1·ia do :rvia1· se estendeu
sôb1·e a divisa ent1·e as ve1·tentes atlânticas e do U1·uguai.
Assin1 se co1n1)1·eende1·ia a })ronta cl1egada da Vacaria de
Santa Fé às })1·oximidades de J a1)ej LI. A vaca1·ia esta1·ia de
alguma n1anei1·a canalizada })ela divisa das águas.
J

105. Za1·atina. Segundo Sie1·1·a, (19) Za1·atina ou Sa-


ratina fundou-se 1Jo1· Juan 01·tiz de Zá1·ate ( dai Za1·atina ! )
e Juan de Ga1·ay en1 n1é1io de 1574, na 1na1·ge1n esqt1e1·da do
Rio San Salvador, 1J1·àtican1entc à ent1·ada do Rio Uruguai.
Devia se1·vi1· })a1·a 1·ecebe1· os 11é1vios de Es1Janha, J)ois a se-
gunda Buenos Ai1·es só se ft1nda1·ia seis anos 1nais ta1·de
pelo mesn10 J t1an de Ga1·ay.
1Yias os l)Ovoado1·es esta,1an1 a 111ais de mil Kln1s da
cidade-111ãe de Assunção. Santa Fé estava n1ais 1Je1·to, n1as
a1Jenas tinha t1n1 ano de ft1ndação (1573). Co1·1·ientes fal-
tava ainda mt1itu JJa1·a ft1nda1· (1588). Sentindo-se aban-
donados na imensidão, ent1·e í11dios fe1·ozes, os J)ovoaclo1·es
IJOuco a }Jouco fugi1·an1 da JJovoação. Uns 40 se esca1Ja1·an1
pa1·a Có1·doba clel Tuct1111an, })al'él esca1)a1· ao castigo a qt1e
estavam sujeitos 1)01· abando11a1·e111 u111a fundação a que se
haviam con11)1·ometido. En1 1577 fugiu também un1a g1·ande
l)a1·te elos soldados qt1e i1·iam sei· n1andados })a1·a lá. Za1·a-
tina ficou abandonacla.
r
Não nos consta que l)a1·a Za1·atina fôssem levados ga-
dos fo1·a dos cavalos de gue1·1·a que sen11)1·e se levavam. Se
levaram gado, levá-lo-ian1 de Assunção, }Jo1·qt1e Santa Fé mal
estava ft1ndada. Pa1·ece antes qt1e não leva1·an1 gado vacun1.
Se levassem e ainda que não 1)e1·mé1necesse de1)ois da 1·eti1·a-
da dos })Ovoado1·es, contt1do o fato ofe1·ece1·ia p1·etexto JJa1·a
afi1·ma1· mais ta1·de Jançan1entos d.e gado feitos po1· es1)a-
nhóis na Banda 01·iental do U1·t1guai. 01·a não nos consta
90 PESQUISAS 1g60, HISTóRIA N,O 13

que jamais alguém alegasse tal coisa. E ainda qtte alegas-


se o lança111ento, 1·esta1·ia a 1)1·ova1· que tinha l)1·ospe1·ado. Na
p1·imei1·a décacla do séctllo seguinte He1·nandá1·ias l)assou em
1·evista J)1·ecisamente tôda aquela zona. Não consta nada que
houvesse visto gados. Êle n1esmo diz que em 1611 e 1617
n1andou lanç:.t1· gado na Banda 01·ientn.l do U1·t1guai. lVIas
pa1·ece que nem êste não t)1·os1)e1·ou.
106. A segunda Buenos Aires: a fundação. (20)
Desfeita Zaratina })ouco antes de 1580, Ga1·ay devia
l)ensar em un1a ot1t1·::1. fundação na boca do Rio da P1·ata
pa1·a assegt11·a1· a posse e ofe1·ece1· t1n1 l)Ovoado })a1·a 1·ece-
be1· os navios de Es1)a11l1a. Decicliu-se ft1nda1· ot1 1·eft1nda1·
Bt1e11os Ai1·es. Para os })01·tt1gueses foi um alívio })ois sig-
nificava que os es})anhóis 1·ent1nciavam a ft1nda1· em São
F1·a11cisco.
En1 j anei1·0 de 1580 a1)1·egoot1-se a fundação e alista-
1·a1n-se mais de sessenta homens, na maio1·ia criot1los. P1·e-
pa1·ou-se gente, gado, en1ba1·cações t)a1·a levai· a gente. Saiu
a ex1)edição a 9 de n1a1·ço de 1580. Deteve-se em Santa Fé
J)a1·a ca1·rega1· at1xílios. En1 29 de j t1nho de 1580, dia da
Santíssima T1·indade lança1·a111 âncoras no Riachuelo. Em
11 de julho de 1580 se decla1·ou fun-dada a cidade.

107. O gado que leva1·(tn1. - Vicente Sie1·ra cita do-


ct1n1entos qt1e falan1 de «1nil cabal los, quinientas vacas y
ot1·os ga11ados 1neno1·es». Sie1·1·a I, 385. Dezesete homens a
n1ando de Alonso de V e1·a leva1·an1 o gado 1)01· te1·1·a. A gen-
te foi en1ba1·cada. As mulhe1·es fo1·am n1ais ta1·de. Há ain-
da dúvidas sôb1·e quen1 foi o chefe da ca1·avana do gado:
se foi Alonso de Vera ot1 He1·nandá1·ias. Sie1·1·a })a1·ece su-
ge1·i1· qt1e o gado de Bt1enos Ai1·es l)l'Ocedia todo do _g ado
})e1·t1~1no, })01· se ti1·a1· todo dos cam1)os do Ibiti miri em que
Cáce1·es })t1se1·a o gaclo qt1e t1·ot1xe do Pe1·t1, e que se esti-
ma en1 600 cabeças. (21) Não })odemos ve1·ifica1· a ve1·aci-
dade da afi1·mação e os fundamentos en1 qt1e se baseia. Pa-
1·ece est1·anho que os gados vicentinos que segundo o Ca-
bildo de Btlenos Ai1·es davam })a1·a n1ante1· todo o Pa1·aguai,
não se tenham mistt11·ado com o gado pe1·uano, qt1ando a
mistu1·a de 1·aças só podia a1)e1·feiçoá-las, })Ois tôdas e1·am
crioulas. -
108. Evolução em Vacaria-~ e estâncias. Sie1·1·a diz qt1e
as vacas que se leva1·an1 e1·an1 qt1inhentas (N9 107), Co11i
prova qt1e em 1585 as cabeças de gado ,ract1n1 en1 Buenos
Ai1·es e1·am apenas 675 (22). Deviam ser grandes as difi-
ct1ldades de guardar o gado, l)Ois a região de Bt1enos Ai1·es
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 91

não tinha nen1 n1atos nen1 })ecl1·as })a1·a fazei· cê1·cas, tenclo
que sei· vig·iado contint1a111ente })Or })asto1·es. Pot1co a })Otl-
co foi }Jossível i1· colocando os g·ados n1ais longe elas l101·tas
e dos 1·oçados das 1Jovoações . · Algt1ns a1·roios e o a1)êgo à
que1·ência fo1·111a1·ia111 os li111ites e })1·imei1·os núcleos das es-
tâncias. J✓Ias as sec,ls, as qt1ei111élS dos ca1111)os, algt1111 ata-
que de fe1·as ot1 de í11dios l)Oelia f aze1· t1·ansborcla1· o g·ado
de suas f1·ontei1·as. Co111eça1·a 111 assin1 élS V acé1rias de g·ado
cht1c1·0 ou chi111a1·1·ã o, ot1 seja gado qt1e esca1),1 va co1111)l eta-
me11te da vista e c1o co11t1·ôle elos ho111ens. As c1·iêl.S seJ,,a-
gens já não 1Jodia111 sei· n1él.I'Céldê1s. O gado não se sabia
de ql.1e111 e1·a. lvlas os couros, os sebos, a s g·1·axas ti11ha111
seu e1111)1·êg·o na casa e 11a exiJ01·tação. Daí co1r1eçot1 a cor1·i-
da aos bois . Co11i t1·az 111t1itos textos sôb1·e o estado st1ces-
sivo elas vaca1·ias de Bt1enos Ai1·es e sôb1·e as leis que lhe re-
gulava1n a e~ct1·,1ção, })a1·,1. qt1e não se exti11g·11isse con11Jlet,l-
mente. A ca~a do gad_o selvnge111 })1·odt1zit1 t1111 ,1nel de vazio
po1· fora das estâ11cias. Por st1a vez o g·ado na pe1·ife1·ii1
dêste anel esca1J,1.va caela vez }Ja1·a n1ais longe. S egt1ndo
os testemunhos que cita Coni, 1Jo1· 1700 a pe1·iferia ext1·e-
ma do gado cht1c1·0 estava ,1 50 ou 100 lé:gu,1s de distân-
cia (250-500 I{lms). Po1·tanto o quadro g·e1·al da Vaca1·ia
de Bt1e110s Aires e1·a o seg·L1inte: Ao 1·eclo1· ela ciclade as ro-
ças e ho1·tas, de1)ois L1n1 a11e 1 sen1 g·ado })~1ra conse1·vá-Io
~tfastado das })l::1.ntações. De1)ois o a11el elas estâncias. De-
l)Ois o anel vazio da Vaca1·ia já exte1·1ninada. De1)ois, se-
g11ndo Coni, a 100 légL1as e1n 1700, o anel ele gado da Va-
ca1·ia, ql1e no elect11.·so dêste século teve contatos 111ais fre-
qüentes con1 os índios a1·at1ca110s cisandinos, que co111cç,1-
1·a111 a caçai· v~1cas e cavalos l)a1·a cot11·ear e vender os })1·0-
dutos aos es1Janl1óis, 1)1·ovoc,-:i.nelo de cc1·ta n1anei1·a a v'olta
da vaga de gado. qt1e até então segui1·a u1na di1·eção cent1·í-
fuga. Po1· volta de 1700 con1eçava a extingui1·-se a Vaca1·ia
de Buenos Ai1·es e Sa11ta Fé e })01· isso os es1)anhóis se inte-
1·essaran1 })ela. Vaca1·ia ela Ba11cla Orie11tal con10 vere111os mais
ta1·de (23).

109. Conce11ción del Be1·111ejo, e11i 1585. - J t1a11 Tor-


1·es de Ve1·a y A1·ag<Sn aincla estava detido no Pe1·u; Ga1·a)'
estava n101·to e e111 SCll lt1g·,lr g·ove1·na\ a Jt1a11 rror1·es de Na-
1

va1·1·ete. Recebett orde111 de ft1nelar t1111,1 cielacle qt1e ligasse


Assunção ao Pe1·1.1. Engajot1 a gente ele Alonso de Ve1·a e He1·-
nanda1·ias foi enca1·regado (l,1 l)a1·te 1nilita1·. Passa1·am ao
Chaco e1n n1a1·co ele 1585 e inte1·nr1.1·a111-se l)elo Rio Ve1·111c-
~

1110. A Cê11·::1.vana e1·a de 150 hori1e11s be111 a1·111ados e })l'O-


vidos de tt1do. E1n c,1to1·ze de ~1b1·il dêste 111esn10 ano de
92 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.O 13

.
1585 funda1·am nas n1a1·gens do Be1·mejo a cidade de Con-
ce1)ción del Be1·mej o (24).
O gado que levarani, e1·am mil cavalos, cinqüenta jun-
tas de bois e mais de 300 vacas c1·iadei1·as. Sie1·1·a I, 404.
Na lite1·atu1·a que está à nossa dis1Josição não nos cons-
ta se o gado chegou a desenvolve1·-se bem. lVIas é de espe-
1·a1· que sim. Pois a cidade durou até 1631 em que t1ma co-
ligação de índios in11)ôs o desan11)a1·0 de Concepción del Be1·-
mej o e a fuga de todos })a1·a Co1·1·ientes, sem que fôsse j a-
1nais l)ossível 1·e1)ovoa1· a cidade, a1Jesa1· de t1ma sé1·ie de
tentativas. Um dos chefes destas ex1)edições lJUnitivas con-
t1·a os índios, é act1sado de t1·aze1· de volta gado chima1·1·ão
de Conce1)ción, o qt1al vende1·ia em seu 1J1·oveito (25). Pa1·e-
ce, pois que a })ecuá1·ia vinga1·a em Conce1)ción. Talvez fôs-
se esta a Vaca1·ia de Co1·1·ientes na n1a1·gen1 ocidental do
Pa1·aná. A vaca1·ia que saiu das estâncias de Co1·1·ientes es-
tá na ma1·gem 01·iental do Pa1·aná, em di1·eção ao U1·uguai
(26).

110. Co1·rientes: fundação. Os motivos da fundação


fo1·am 1)01· t1ma l)a1·te o con11)1·omisso de Juan To1·1·es de Ve-
1·a y A1·agó11 de fundai· cidades, e })01· out1·a })a1·te a neces-
sidade de te1· um ent1·e1)osto ent1·e Santa Fé e Assunção.
Sie1·1·a I, 410. Parece que tambén1 s e J)ensava na ligação de
t1n1a das cidades es1)anholé:1.s co111 a costa do ma1·, })Orqt1e
evita1·ia g1·andes 1)e1·igos e demo1·a.s l)ara Asst1nção en1 st1as
1·elações com Es1)anha. E das cidades do Pa1·aná, Co1·1·ien-
tes se1·ia a mais indicada.
O ft1ndado1· foi nat111·almente aquele q11e tinha l)Ode1·es
1)a1·a tal. Foi o Adelantado J11an To1·1·es de Ve1·a y A1·a-
gón, casado com a filha de Zá1·ate. Mas segt1ndo indicam
documentos citados 1)01· Sie1·1·a (27), JJa1·ece que os mo1·a-
do1·es de Ass11nção não se a1·1·isca1·iam à fundação se não
fôsse a ga1·antia, qt1e lhes dava o g1·ande c1·ioulo He1·nan-
do A1·ias de Saaved1·a, qt1e se achava mais ou menos à tes-
ta do emp1·eendimento.
Os l)Ovoado1·es foran1 140 ho111ens e 48 n1ulhe1·es. Sie1·1·a
acentua qt1e 130 dos homens e1·an1 c1·io11los. Das n1ulhe1·es
o se1·ia a maio1·ia também.
A viage1n como de costt1n1e l)a1·te 1)01· te1·1·á, })a1·te JJ01·
água. Po1· água gente e coisas. Po1· te1·1·a o gado. Os ba1·-
cos e1·am dois be1·gantins, t1n1 baixel, e 48 balsas ou sejan1
tablados de taqua1·a en1 cin1a de dt1as g1·andes canoas .
A pa1·tida foi de Assunção ent1·e 15 e 20 de ma1·ço de
1588. A chegada a 29 de ma1·ço. Se a parte que foi po1·
te1·ra, seguiu ao longo do Rio Pa1·aguai, então é evidente
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 93

que te1·ia ido na 111a1·g·en1 cl1aque11ha, })Ois a n1argen1 esqt1e1·-


da está cheia de «este1·os» e banhados e n1ais ao leste l)a1·a
Itapt1a, os gt1a1·anis não estavam l)acificados. Isto se to1·-
na evidente !)elo que diz Sie1·1·a, qt1e a 29 de n1a1·ço I-Ie1·nan-
da1·ias c1·uzot1 o Pa1·aná e a 3 de ab1·il se fundot1 a cidacle
oficialmente. 01·a 11este laJ)SO de te1n1)0 o gado não })ode1·ia
ma1·cha1· de ItaJ)Ua (Posadas) él Co1·1·ientes. Sie1·1·a I, 412.
- Tt1do o mais da ft1ndação aqt1i não inte1·essa a não sei· o
fato de que os limites ele Co1·1·ientes J)a1·a leste iam até o
ma1· (18).

111. O gado que leva1·ct111. Sie1·1·a, citando doct1n1entos,


indica 3000 cabeças de gado vact1m e 1500 de equinos. Os
vaqt1ei1·os e gua1·das do gé:i.do e1·an1 J)Ottco n1ais de uma dú-
zia (29). Daí concl uimos que i1·ia1n ttns cinco ou seis ca-
valos de serviço J)a1·a cada t1111 dos vaquei1·os, mais os cava-
los de gt1e1·ra que p1·ecisa1·ian1 os homens que ia1n fundai·
Co1·1·ientes, e o resto se1·ian1 na n1aio1· 1)a1·te éguas. Tan1bén1
os vacunos na maio1·ia se1·iam vacas c1·iadei1·as.
O gado meno1· talvez i1·ia mais ta1·de. E fàcilmente i1·ia
po1· água, em balsas. Pelo menos o JJ01·co que e1·a tão útil
e fácil de c1·ia1·. Pa1·ece que ovelhas e cab1·as não e1·am abun-
dantes em Co1·1·ientes. Pois qtte os pad1·es missioná1·ios qt1an-
do 1)01· 1630 quise1·am int1·oduzi1· gado meno1· nas 1·edt1ções
semp1·e o fo1·am buscai· en1 Santa Fé e Buenos Ai1·es, como
veren1os mais ta1·de no caJ)Ítulo qt1e t1·ata da introdução
dêstes animais.
Con10 já acenamos no núme1·0 110 e.s ta g1·ande t1·01)a
de gado n1aio1· comboiado J)OI' He1·nanda1·ias, ce1·tamente foi
})ela ma1·gem di1·eita do Pa1·aguai até abaixo de sua confluên-
cia com o Pa1·aná, sendo então J)assado J)a1·a a ma1·gem es-
querda, onde se i1·ia ft1nda1· a cidade.

112. Evolução eni estâncias e Vaca1·ias. a) no dist1·i-


to de Cor,·ientes. Au1·élio Pô1·to ten1 1)1·ovas documentais,
de que leva1·am uns t1·ês mêses de contínuos cuidados, pa1·a
J)1·otege1· a n1anada de gado cont1·a os ataques dos índios,
até que estes fo1·an1 de tal manei1·a esca1·mentados que so-
cega1·am momentânea1nente (30). Sie1·1·a I, 413 diz que logo
deJ)Ois de fundada a cidade foi atacada })elos índios, que
mata1·am 21 homens, fe1·i1·an1 mais 15 e 100 índios do se1·-
viço, fize1·am pe1·de1· t1·eze cavalos e mais algt11nas barcas e
canoas. Também en1 1591 os índios ainda mata1·am es1)a-
nhóis cor1·entinos que estavan1 t1·abalhando numa JJlantação
de mandioca (31). Au1·élio Pô1·to I, 263, nota 50, t1·az docu-
mento pelos quais se vê que tanto cuidado toma1·am na con-
94 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N. 0 13

se1·vação do gaclo que nfto l)e1·111iti1·c:1111 111atá-lo ne111 i)éll'ét


fazei· as cot11·acas, de cou1·0 tão necessá1·ias na I uta con-
t1·a as f1·ecl1as dos índios. l\1a11da1·c:1111 qt1e 1)a1·a isto se n1a-
tasse1n tot11·os elas Vaca1·ias. 01·a l)a1·ece qt1e Co1·1·ientes 110s
tJ1·imei 1·os tem })OS não J)odia ter· Vaca1·ias. Se1·ia111 tot11·os
da Vaca1·ia de Asst1nção ot1 tal\1ez de Conce1)ción del Be1·1ne-
j o, ft1ndada e111 1585, e qt1e J)o1· 90 e 1Jot1co já JJode1·ia te1·
Vaca1·ias que na n1a1·gen1 ocidental do Pa1·aná fôssem che-
g·ando pe1·to de Co1·1·ientes.
Info1·n1a o at1to1· desconhecido da «Relacão Histó1·ica»
J

que se acha 11ê1 Coleção de Angelis 11a Biblioteca }Jacional


do Rio de J anei1·0 (32) (A. Pô1·to I, J)g. 264, nota 52) que
o gado da Banda 01·iental de Cor1·ientes e1·a do Adelantado
Juan To1·1·es de Ve1·a y A1·agó11, ft1ndado1· de Co1·1·ientes, e
que êste gaclo se n1t1lti1)licot1 asson1b1·osan1ente, 1)01· te1·-se
J)I'oibido J)o1· mt1ito te1nJ)O vaqt1ea1· nele, nem n1esn10 pa1·a
n1etê-lo en1 estâncias, e que desta Vaca1·ia saiu mt1ita t1·0-
IJa de gado JJa1·a a P1·ovíncia do Pa1·agt1ai e 1Ja1·a as l\'.Iissões.
Diz também qt1e, das 1nãos do Adelantado, o gado IJassou
}Ja1·a as de Hernanda1·ias, que e1·a gênro de Ga1·ay, l t1ga1·-
tenente do Adelantado. 01·a He1·nanda1·ias e seus he1·dei-
1·0s 1Jodian1 vendei· a qt1em qt1isessen1 o di1·eito de vagueai·
na sua Vaca1·ia. Diz, ]Jois, a «Relação histó1·ica» que no tem-
IJO en1 que os j esuitas n1ete1·a111 gaclo nas 1·eduções e1·a de-
tento1· do di1·eito de vaquea1· o ca1Jitão IVIant1el Cab1·al Al-
J)oim, 1Jo1·tugt1ês que, en1 c1·iança vie1·a con1 st1a mãe 1Ja1·a
o Rio da P1·ata. Cab1·al, en1 1628, a1)a1·ece co1110 aliado dos
gua1·anis c1·istianizados cont1·a a conj u1·ação dos }Jagãos da
Banda 01·iental do U1·ugt1ai, qt1e ha,1ian1 matado os 1Jad1·es
Roque Gonzales de Santa C1·uz, Afonso Rod1·igues e Juan
del Castilho.

Po1·tanto ainda qt1e não dis1)onhan1os no mon1ento de


a1·gumentos mais especificados, l)Odemos afi1·ma1· q11e os co1·-
1·entinos começa1·am a mt1lti1)lica1· ct1iclaclosamente set1 ga-
do vact1m nos seus cu1·1·ais e 1·incões de estâncias, e que,
qt1ando o gado esca1Jot1 e se asselvajot1 na Vacaria de Co1·-
1·ientes, 1J1·oibi1·am a ext1·ação 1Jo1· n1t1ito te1111)0, }Ja1·a que se
multi1Jlicasse de tal manei1·a que não pt1desse n1ais sei· ex-
tinguido. Esta 1J1·ovidência foi de imensa vantagen1 1Ja1·a as
1·eduções, que, ent1·e 1610 e 30, se ft1nda1·am a leste de Co1·-
1·ientes, às qt1ais a Vaca1·ia de Co1·1·ientes fo1·neceu J)1·i1nei1·a-
mente o gado necessá1·io })a1·a }Jovoa1· as estâncias gua1·anís
na margem ocidental e 01·iental do U1·ugt1ai, e segt1ndo pa1·a
os salvai· da fon1e e111 vá1·ias ocasiões, sob1·ett1do em 1638
quando esca1)avan1 da «r~izzia» dos banclei1·antes.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 95

113. Conz isto já toca1110s ct ,·elação do gado co1·1·entino


com Missões. Mais ta1·de te1·emos que oct11Jar-nos n1ais de-
tidamente com êste JJonto. lVIas nesta altt11·a convém ante-
ciJ)a1· 1·est1midamente t1ns dados, JJa1·a 1·essalta1· a im1Jo1·tâ11-
cia da Vaca1·ia de Co1·1·ientes JJa1·a a Bé1nda 01·ie11tal e con1
isto JJa1·a a 1Ject1á1·ia, que, de 1630 mais ot1 n1enos até a al-
tu1·a de 1900, im1Jerot1 no Rio G1·ande do St1I.
P1·imei1·0 ve1·emos qt1e ele Co1·1·ientes J)1·oceclem os ga-
dos vacuns que fo1·am i11t1·odt1ziclos nél antiga Banda 01·ien-
tal. E' ve1·dade que de algun1a JJa1·te J)ode JJ1·0,ri1· també111
da Vaca1·ia de Santa Fé. lVIas foi meno1· a cont1·ibt1ição JJ01·
causa da fe1·eza dos cha1·1·uas qt1e mo1·avan1 na Vaca1·ia de
Santa Fé e que e1·an1 inin1igos de longa data dos gt1a1·é1nis.
Além disso as Vaca1~ias co1·1·entinas salva1·an1 alg·umas
, 1 êzes da mo1·te 1)01· fon1e os índios g·ua1·anis, sob1·etudo na
ocasião de sua evacuação JJa1·a a Banda Ocidental en1 1638,
qt1a11do da invasão dos bandeirantes na Banda 01·iental.
A vizinhança de Co1·1·ientes e Redt1ções ge1·ou tambén1
não poucos litígios de f1·ontei1·as e de gado. Mencionam-se
alguns nos J)apéis que fican1 nos a1·qt1i,·os e que 01Jo1·tuna-
mente JJodem sei· JJostos à l t1z do dia.

114. Santiago de Xe,·ez. Desta fundação na 1·egião do


Guai1·á, no momento não temos dados qt1anto à JJect1á1·ia. Re-
sumindo o qt1e diz o Gene1·al Raul Silvei1·a de Mello, en1 sua
Histó1·ia do Fo1·te de Coi111b1·a, (33) Rio, 1958, JJg. 146, te-
mos que Rt1i Diaz de lVIelga1·ejo ft1ndou a J)I'imeira Xe1·ez
em 1580, nas ve1·tentes do l\!Ibotetei, que, J)o1·ém, logo n1ais
foi abandonada.
Em 1593 Rt1i Diaz de Guzn1an funda a nova Xe1·ez, que
também logo teve qt1e sei· t1·ansladada pa1·a ot1t1·0 luga1·.
Xe1·ez foi dest1·uida pelos bandeirantes em 1632 ot1 33,
juntamente com as 1·eduções do Guai1·á.
Guzman fala de te1·1·as boas J)a1·a ag1·ict1ltt11·a e 1Ja1·a ga-
do, bem como de jazidas de ou1·0, qt1e mais ta1·de fo1·am de
fato encont1·adas J)elos bondei1·antes. - Não nos consta JJ01·
01·a, o que se fêz de fato em questão de J)ecuá1·ia.
E' de Stll)Ol' qt1e ao menos te1·ian1 1)a1·a o consun10 do-
méstico.
115. Retrospeto geog1·áfico da difusão do gado no Rio
da Prata.
P1·imei1·amente estabelecet1-se o eixo norte-sul entre
1535 e 37, do qual ficou a1)enas Assunção em JJé. Co1n ca-
valos, sem gado vacun1.
Depois foi um esgalho a no1·deste, segtiindo o Paraná,
96 PESQUISAS 11160, HISTORIA N,o 13

ent1·e 56 e 70 con.1 as fundações de Ontive1·os, Ci11dad Real e


Villa Rica. Co111 cavalos, })1·ovàvel1nente ainda sem gado va-
cum. O fin1 e1·a oc111)a1· a te1·1·a e 1·e1)eli1· o con11)etido1· l 11so-
b1·asilei1·0, })1·oc111·ando sen11J1·e chegai· até o n1a1·.
En1 seguida houve u1na 1·an1ificação J)a1·a no1·oeste, con1
Santa C1·uz de la Sie1·1·a, e111 1559. Con1 cavalos, sen1 gado
vac11n1, qt1e ent1·etanto foi b11scado no Pe1·11. D11as finali-
dades: chegai· à famosa Sie1·1·a de la Plata e 1·esisti1· às
avançadas JJe1·11anas.
Ao de1)ois 1·eton1011-se a tentativa no1·te-sul, ag·o1·a, ex-
t1·ao1·dinà1·ian1ente fecunda, con1 a fundação de Santa Fé
em 73, de B11enos Ai1·es en1 80, e Co1·1·ientes e1n 88. Vá1·ias
finalidades: toma1· J)osse cont1·a os est1·ang·ei1·os a quem a1Jete-
cesse estabelece1·-se })01· ali, e tan1bém cont1·a os J)e1·uanos
que J)o1· 11m t1·iz cheg·a1·am antes ao Paraná no li1ga1· onde
Ga1·ay f11ndou Santa Fé. Tôclas as t1·ês cidades co1n base
p1·inci1)al na JJecuá1·ia, à la a111e1·icana, em g1·ande escala,
a qual d111·ou })01· séc11los e ai11da continua, en1bo1·a mode1·ni-
zada sob todos os respeitos.
Com Zaratina, houve 11m esgalho 01·iental, n1as não teve
du1·ação, ficando a conq11ista es1)i1·itual J)a1·a os missioná-
rios da ComJ)anhia de Jesus, que també1n a enche1·am de
gado vacum desde os cont1·afo1·tes da Se1·1·a Ge1·al até as
p1·aias do Rio da P1·ata.
Com Concepción del Be1·mejo ho11ve out1·a tentativa
cont1·a ou ao encont1·0 do Pe1·u. Mas não teve efeito du1·a-
douro })01· causa da fe1·eza dos índios chaquenhos.
O eixo B11enos Aii·es-Assunção no deco1·1·e1· dos séc11los
se ala1·gou J)a1·a an1bos os lados enchendo muitos milhões
de Kln1s quad1·ados de camJ)O com o gado c1·iot1lo que vie-
1·a <le São Vicente na costa do Atlântico e das J)lagas do Pe-
ru na costa do Pacífico.

ANOT..1\ÇõES PARA O CAPíTULO QUARTO

1. E. A. Coni, Historias de las Vaquerias de Rio de la Plata, Ma-


drid, 1930, pg. 8.
2. Coni, Contribución a la Historia dei Gaucl10, B .. Aires, 1935, pg.
15 ss.
3. Si erra, Historia ... I, 412.
4. Sierra, Historia. . . I, 216.
5. A. Pôrto, História ... II, 154.
6. Si erra, Historia. . . I, 232.
7. Sierra, Historia ... I, 267.
8. Sif'rra, Historia. . . I, 269.
9. C;tviglia, Sobre el Origen e Difusion del Bovino en nuestro Uru-
guai, Mo11tevideo, 1935, pg. 175.
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUGUAY I 97

10. L. G. Jaeger, Pesquisas I, pg. 99.


11. Sierra, Historia ... I, 318.
12. Si erra, Hi storia. . . 1, 327.
13. Sierra, Historia. . . 1, 362.
14 . Paul Groussac. l\fendoza y Garay. Buenos Aires, pg. 359. A. Pôrto,
História ... I, 262.
15. Cf. Nota 14.
16. Sierra, Historia .. . 1, 331.
17. Si erra, Historia. . . 1, 362.
18. Coni, Historia. . . pg. 11 e 12.
19. Si erra, Historia ... I, 371.
20. Sierra, Historia ... 1, 383.
21 . Sierra, Historia ... I, 401, 402.
22. Coni , Historia ... pg. 9.
23. Coni, Historia ... E1n n1uitas passag ens dispersas ...
24. Sierra, 1-Jistoria ... I, 404.
25. Sierra, Historia ... II, 236.
26. Si erra, Historia. . . II, 298.
27. Sierra, Historia ... I, 413.
28. Si erra, Historia. . . I, 412.
29. Sierra, Historia ... I, 263.
30. A. Pôr to, História. . . I, 263 .
31. Sierra, Historia ... I, 413.
32. 1'relles, Revista de la Biblioteca. B. .<\.ires, I, 22 e seguintes. A.
Pôrto, História . .. I , 264.
tNDICE

A1,tidào e acessibili,lnde ela Ban1la Ori~ntnl para a pecuária. 9.

Preâmbulo.

Justificação dêste capítulo (1) 9.


Divisão dêste capi1ulo (2) 9.

Explanação.

A gênese en1 conjunto das cinco regiões naturais.

A constelação das fôrças que as 1nodelaram (3) 11.


O predomín~,> dos matos ou campos nas diversas regiões (4) 13.

A aptidão e acessibilidade natural das cinco grandes regiões.

A Faixa Litorânea
Aptidão (5) 15; Acessibilidade (6) 15; Pormenores (7) 16.

A Serra do Sudeste
Aptidão (8) lo; Acessibilidade (9) 17; Pormenores (10) 17.

A Campanha do Sudoeste
Aptidão (11) 18; Acessibilidade (12) 18; Pormenores (13) 19.

A Depressão Central
Aptidão (14) 20; Acessibilidade (15) 20; Pormenores (16) 21.

O Planalto
Aptidão (17) 21; Acessibilidade (18) 22; Pormenores (19) 23.

A aptidão e acessibilidade artificial na antiga Banda Oriental.

Definição de aptidão e acessibilidade artificial


Aptidão artiílcJal (20) 24.
Acessibilidad-e artificial (21) 25.

Traços gerais da aptidão e acessibilidade artificial.

Da aptidão artificial (22) 25.

Da acessibilidade artificial
Por vias marítimas (23) 26.

NOTA: Os números em parêntese se referem aos parágrafos; os fora de parêntese,


às páginas.
100 PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.O 13

Por vias terrestres

para portugueses (24) 27.


parJ. espanhóis (25) 27.
para índios e Padres (26) 28.

Conclusões
quanto à aptidão e difusão es1,ontânea do gado (27) 28.
quanto à aptidão e difusão art.iricial do gado (28) 30.

C1\PJTID,O II.: I1n1,ulso e repn1sn nn dif11são do ga(lo bo,·ino.

Introdução:
Distinção funda1nental (29) 30.
Divisão dêste capítulo (30) 32.

1. Fôrçns 1,ositivns ,111e ntri1..,111 o gado 1,ara algurna parte.

1. A comida (31) 33. 5. A «querê11cia» (35) 37.


2. A bebida (32) 34. 6. Os abrigos (36) 38.
3. O i11stitnto sexual (33) 36. 7. O cli111a (37) 39.
4. O instit11to gregário (34) 36. 8. A salinidade (38) etc. 39.

2. Fôrças negati-ras que afasta1n o gado (le nlg111n lugar.

Conceito geral sôbre a relatividade de 1nuitos fatôres negativos (39) 40.


Fatôres negativos em concreto.

Primeira classe: ausência absoluta ou relativa dos fatôres que


atraem. (40) 41.

Segunda classe: presença de fatôres que ativa111e11te repelerr,.


(41) 41.

Animais maiores e n1enores


Homens (índios), que en1 nada cultivan1 o gado mas apenas
se con1portan1 como feras inteligentes para com êle.

Fenômenos da natureza inanimada, causados por agentes


meteóricos ( cl1uvas, ventos, tempestades), l1idrográficos
(encl1er1tes ... ), climáticos (frios ou calores que aja1n
sôbre o gado diretan1ente, 11ão mediante a co111ida e be-
bida tão somente).
BRUXEL, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO URUOUAY I 101

3. Barreiras q11e se opõen1 à prossecução da n1arcl1a espontânea do gado.


Conceito geral de barreira para o gado. ( 42) 42.
Barreiras negativas que se i<lentificam com as fôrças que repele111
Barreiras positivas, que «ativan1ente intercepta1n a n1arcl1a>>...
Distinção entre barreira absoluta e barreira relativa
Barreiras em concreto.

1. Barreiras l1idrográficas 4. Barreiras químicas ( 46) 46.


( 43) 43. 5. Barreiras climáticas ( 47)
46.
2. Barreiras vegetais ( 44) 44. 6. Barreiras «sociais» ( 48) 47.
3. Barreiras orográficas ( 45) 7. Barreiras «raciais» ( 49) etc.
44. 47.

4. Proporção entre hnrreiras e fat.úres pnrn <1ne a barreira seja vencida.

Dependências absoluta e relativa (50) 48.


Proporção em concreto: co11fecção de escalas. (51) 48.

5. 1\pJicação de tu1lo à Ban<la Oriental (52) 49.

1. Aplicação parc·ial em casos ocorrentes neste traball10.


2. .,\ plicação total , que ainda carece de muitos elementos de pre-
paração.

{~,\ l'i'fITT,0 III. .,\ introdução 110 ga1lo ,·acum 110 Paraguai 49.

A. Introduçã.o do gado vacun1 110 Brasil e 110 Peru.

Generalid,1de (53) 49.


Di, isão do capítulo ( 54) 50.
0

I. Introdução no Brasil em geral e e1n S. Vicente e1n particular.

:J\fotivos e d.ecisão de i11troduzir o gado en1 São Vicente (55) 52.


Execução da decisão to111a<la (56) 52.
Disseminação em Sflo Paulo
E111 geral ( 57) 54.
Nas terras dos irmãos Góis em particular (58) 54 .
..t\pêndice sôbre a côr da pelagem (59) 55.

II. Introdução do gado vacltlll no Peru

Cavalos con1 os prin1eiros conquistadores (60) 56.


Gado vacun1 e olttras espécies de gado 1nais tarde (61) 56.

D. Introdução do ga,do paulista e peruano no Paraguai.

Do gadQ paulista.

Antecedentes da extração furtiva do gado pau lista.

Espanhóis 11a costa do Brasil


Fugidos de Assunção (62) 58.
Naufragados na costa do Brasil (63) 58.
10:Z PESQUISAS 1960, HISTÓRIA N.O 13

Gestões inúteis dos espanhóis para voltar e voltar com ga-


do <l .,\.ssu11ção do Paraguai (64) 60.
Plano de fuga com extração furtiva de gado vacum (65) 61.
Combinação com os ir111ãos Góis que eram donos do ga-
do (66) 61.

A fuga da ca.ravana com gado paulista contrabandeado.


Componentes humanos da caravana (67) 62.
Gado vacum que levaram (68) 63.
Partida e perseguição pelas autoridades (69) 64.
Salvaçãf) da caravana pelo Padre Nóbrega (70) 64.
Duração e trajetória da viagem (71) 64.
Chegada a Assunção (72) 65.

Reparos críticos a esta versão da História

O silê11cia dos contemporâneos que deviam falar (73) 65.


Dúvidas e conjeturas sôbre o número dos animais que le-
varam

Exposição da d(1vida (74) 66.


Argumentos da dúvida
A1 gu1nentos de autoridade (75) 66.
Argumentos de conjetura histórica (76) 66.

Resu1no da co11jetura (76 bis) 66.


Argun1e11tos da conjetura a posteriori: em do-
cumentos

Quanto ao número de cabeças atingível (77)


G7.
Quanto ao nún1ero de cabeças atingido

Ira.la e Núfrio de c:11avez (78) 68.


Cabildo de Buenos Aires etc. (79) 69.

Argumentos de conjetura a priori: possibilidade


e conveniê11cia de levar mais gado (80) (,9.

Do gado peruano.

Aclarações (81) 70
Os introdutores

Felipe de Cáceres

Compromissos do Adelantado Juan Ortiz de Zârate. (82) 71.


Execução dos co1npron1issos por Felipe de Cáceres (83) 71.
Quantidade de gado que traria Felipe de Câceres (84) 72.

Juan de Garay

Compromissos de Adela11t:.1do Juan Ortiz de Zárate (85) 73.


Cumprimento deles per Juan de Garay
Tese que o afir1na (86) 73.
Tese que o nega (87) 74.
BRUXEI,, O GADO NA ANTIGA BANDA ORIENTAL DO trRUGUAY I 103

Juan de Garay como grande disseminador de gado (88) 75.

Outros introdutores de gado, pela via direta do Tucuman ou


indireta do Chile (89) 76. ·

CAP1TULO IV. ~\ difusão do ga(lo bo,·lno no Rio da Prata. 79.

EM GERAL.

Aptidão ... ( 90)


Aptidão (90) 79.
Importância da pecuária para o Rio da Prata (91) 80.
Autores da difusit0 do gado (92) 80.
Modos da difusão:
aspectos juridicos (93) 81.
aspectos práticos (94) 81.
Critérios da divisão (95) 82.

E!v! PARTICULAR.
Prirneira Buenos Aires en1 1535 (96) 83.
Assunção em 1537 (97) 83.
Ontiveros em 155ô (98) 84.
Ciudad Real en1 1557 (99) 84.
Santa Cruz de la Sierra em 1559 (100) 85.
Villa Rica do Espirito Santo em 1570 (1576 ?) (101) 85.
Santa Fé em 1573 (102, 103, 104) 86-88
Zaratina em 1574 (105) 89.
Segunda Buenos Aires em 1580 (106, 107, 108) 90.
Concepción del Bermejo em 1585 (109) 91.
Corrientes em 1588 (110, 111, 112, 113) 92-95
Santiago de Xer~~ (114) 95.

Aspecto geográfico da difusão (115) 95, em que o gado participa de algu-


n1a maneira no sentido das fundações l1umanas. (Fundações a nor-
deste, a noroeste, a sul e a oeste).
RESUMO DOS CAP. 1-IV

O a.t1to1· en1p1·eende t1n1a investigação alg·o mais longa sô-


b1·e a histó1·ia do g·ado na antiga Banela 01·ie11tal, que co111-
JJ1·eendia e11tão o att1al Estado b1·asilei1·0 elo Rio Grande elo
Sul, e a att1al Re1)(1blica 01·iental do U1·t1g·t1ai. - Pe1·seg·t1e
dois fins J)1·inci1)ais. - O JJ1·i111ei1·0 é 1·acionalizar o assu11-
to, visto qt1e nas ob1·as, aliás be111 valiosas até hoje JJt1bli-
cadas 1)1·evalece 1nais t1111 sin11)les encadeiamento de ficl1as,
ligadê1s ,rag·a111ente ent1·e si l)Ol' 111eio de c1·ité1·ios não t1ni-
fo1·n1es de c1·onolog·ia, te111ática, geog1·afia e no111es de l)es-
soas, deixando todo o asst1nto t1n1 tanto conft1so. Tan1bén1
não l)Õe1n cla1·a111ente os diversos qt1esitos. 01·a })ara se el u-
ciela1·e111 estes, deve111 sei· e111 })1·i111eiro 1t1ga1· cla1·a1nente fo1·-
n1ulados, co1n st1as distinções, e afi1·n1ações })a1·ciais e gratis
de certeza qt1e a1)a1·ecen1. O a!.1to1· faz, l)Ois, t1n1a tentativa
nes~e sentido.
O segt1ndo fim é to1·na1· 111ais conhecidos u11s elados con1-
J)leta111ente novos contidos 11a ob1·a ft1nda111ental de At11·élio
Pô1·to (1)11blicada J)ela 1)1·i111ei1·a \ ez em 1943, e 1·eeditada 11a
1

Liv1·a1·ia Selbach, de Pô1·to Alegre, en1 19G4, l)elo Pad1·e Lt1iz


Gonzag·a J aeg·e1· S.J .) . Alén1 de clivulg·a1·, ac1·escenta1· algu-
n1as co1·1·eções e fo1·nece1· 111ais algt1ns dados 1·ecentes, qt1e
fo1·nece o 1·iqt1íssin10 e qt1ase inex1)lo1·aclo A1·chivo Gene1·al
de la Nación em Bt1enos Ai1·es.
Os ítens desta investigação total consta1·ão do í11dice ge-
1·al q11e a1)1·esenta1·emos 110 fin1 da 1)1·in1ei1·a J)Ublicação. Se-
1·á 11111 índice J)Ol' alto, sendo J)o1·meno1·izado a1)e11as o qtie se
1·efere à l)Ublicação dêste nún1ero. - Essencialmente tt1do
se con11)õe de elt1as })a1·tes. A l)l'i111ei1·a t1·ata do infl 11xo elo
ho1nen1 sôb1·e o gaclo, 11a i11t1·odt1ção, l)l'Ol)ag·ação e ex1)lo-
1·ação da antiga })ec11á1·ia 01·iental (lnt1·odução, Vaca1·ias, Es-
tâncias, ... ) e a segt1nda ve1·sa sôb1·e o infl tixo qt1e o g·aclo
exe1·ce11 sôb1·e os hon1e11s ot1 seja a g·eo1)olítica elo g·ado con1
1·elação aos índios e J)acl1·es, es1)anhóis e })ortt1g·t1eses, elescle
1626, en1 qt1e co1neçar€l111 ;;1 sei· ft1ndaclas €ls 1·ed t1ções 01·ien-
tais até 1828 en1 qt1e t)ela invasão ele Frt1tuoso Rive1·a se ex-
tingt1i1·an1 definitivamente.
106 PESQUISAS 1G60, HISTÓRIA N.o 1=,

A limitação que no momento im1)õem as condições eco-


nômicas da Revista, só })ei·mitem uma l)Ublicação pai·celada.
Assim acontece que ce1·tas pa1·tes, que }Jo1· si sós não tei·iam
c1·edenciais suficientes 1Ja1·a a l)Ublicação, n1as que 1Je1·ten-
cem logicamente à est1·utu1·a do estudo, tên1 que ocupai· seu
lugar, mesmo na IJublicação pa1·celada, com pei·igo de cau-
sar estranheza aos leito1·es ...
Gei·almente os autoi·es, a1)1·esentam a1)enas os dados do-
ct1mentais qt1e descobi·ii·am, sen1 assinalai· as lacunas que
ainda existem. O at1to1· 1J1·ocu1·a }J1·ecisa111ente assinalai· estas
lacunas e deixai· abe1·tas as questões IJara a investigação de
quem dis1)onha de mais meios e tempo e conhecimento es-
pecializados. Só assim se alerta a atenção e se JJi·og1·ide mais
no can11Jo da histói·ia.
Quanto aos caJJítulos I-IV, qt1e oi·a se publicam, temos
no primei1·0 uma tentativa de ex1Jlicai· poi· suas causas na-
tui·ais a aptidão da antiga Banda Oi·iental IJai·a a pecuái·ia
em gi·ande escala. Além disso a sua acessibilidde natu1·al
e a1·tificial à JJ1·01Jagação es1Jontânea do gado. Desta manei-
i·a se podei·ão su1J1·ir n1uitos dados documentais que nos fal-
tam a i·espeito da inti·odução, 1Ji·o1Jagação, vaca1·ias, estân-
cias (lin1ites). lVIuitas questões }Jodem sei· decididas, j untan-
do os I)Oucos dados que IJossuimos con1 os que fo1·necem a
geogi·afia e as leis da JJ1·01Jagação es1Jontânea e a1·tificial
do gado. No segt1ndo ca1Jítt1lo ten1os outi·a tentativa de 1·e-
senha1· as 1J1·incipais fô1·ças natu1·ais que im1Jelem ou 1·e1Je-
lem o gado na sua ma1·cha natu1·al; as ba1·1·ei1·as que se lhe
opõem, e a pi·o1Joi·ção ent1·e fôi·ça e bai·i·eii·a, que deve haver
pai·a esta ser vencida. E' mais uma ex1Josição teórica do que
nos capítulos da a1)tidão e acessibilidade se supõe e pi·atica.
- Nc, ca1Jítulo tei·ceii·o temos a introdução do gado vacum
no B1·asil e no Pei·u, e destes dois }Jontos no Pa1·aguai. No
capítulo quarto temos a difusão do gado vacum na Provín-
cia do Paraguai. Nos caJJÍtulos qt1into e sexto, te1·emos a in-
t1·odução do gado na Banda 01·iental, e, se a situação nô-lo
permitir, algum ca1Jítulo a mais dos que constam do índice
geral.
INDICE ABREVIADO DE TODO O ~\SSUNTO DESTA PURLIC.i\ÇÃO

Há duas partes pri11cipais .

.<\.O l1on1em e o gado.


B. O gado e o l1on1em.
Subdivisão das partes.

A. O ho1ne111 e o gado.
A natureza
!la terra: aptidão e acessibilidade da antiga B. Oriental.
do gado: algumas leis da propagação espontânea do gado.

O l1ome1n
na introdução do gado vacu111 no Brasil, Peru e Paraguai.
na propagação do gado vacum em todo o Rio da Prata.
na propagação do gado vacum para a Banda Oriental
discussão sôbre a autoria da introdução
( espanl1óis, portugueses, missionários)
a introdução feita pelos missionários e indios.
11a introdução dos ti,1uinos na Banda Oriental
11a i11trodução do gado 111enor na Banda Oriental.
na sua relação com o gado solto da Vacaria.
na sua relação com o gado das estâncias ntissioneirtts.

B. O gado e o ho111en1.

As bases do i11fluxo do gado sôbre o l1omem ou sejam as


utilidades do gado para o l1omem. Questões sôbre o uso,
e questões do direito sôbre gado.

As conseqiiências geopolíticas da presença do gado na Ban-


da Oriental:
Geopolítica do gado e1n geral {no Brasil e no Rio da
Prata).
Geopolítica do gado em especial 11a Banda Oriental
Para os diversos grupos étnicos mais isoladamente
(indios, espanl1óis e portugueses até 1750).
Para os diversos grupos étnicos mais em conflito
uns co1n os outros de 1750 em diante.
Zusan1111enfassung.

Dei· Vei·fassei· beschaftig·t sich n1it dei· Gescliiclite der


Vie/1.zuclit in dem bi·ê1silianischen Staate Rio G1·ande do Stil
und dei· Re1)t1blilc Ui·tiguay, die man bis zt1n1 Ende dei· I{o-
lonialzeit t1ntei· cle111 Namen «Banda Oi·iental dei Ui·ug·ttay»
( õstliche Seite des Ui·t1guay-Sti·omes) zt1samn1enfasste. Das
bis zt11· Stunde l1ei·at1sgekon1111ene Sch1·ifttt1n1 begnügt sich
meistens 1nit eine1· n1ehi· odei· n1indei· losen A11einandei·-
1·eihung von Einzeltatsachen ohne dt1i·chgehendes Oi·dr1t1ngs-
p1·inzi1), was eine lclai·e Sicht unn1oglich macht.
Einen gi·ossen Foi·tsch1·itt bedet1tet das 1943 e1·schiener1e
vVe1·k von Aui·élio Po1·to, das 1954 \ 7011 L. G. J aege1· SJ von
neuem hei·ausgegeben wt11·de; Ve1·fasse1· lcom1nt oft at1f dieses
Buch zu1·ück, ve1·besse1·t 111anche seine1· Ansichten und e1·-
weite1·t sie dtti·ch neue Ft1nde at1s dem A1·chivo Gene1·al de
la Nación in Bt1enos Aii·es.
Dei· allgemeine Plan des We1·lces umfasst die Zeit vom
e1·sten Beginn dei· Jest1iten1·eduktionen (1626) bis zt1 dei·en
endgültigen Vei·nichtt1ng clui·ch den Einb1·t1ch des Banden-
füh1·e1·s F1·t1ctuoso Rive1·a (1828). Die t1·agenden Gedanke11
sind ,vesentlich zwei: Erstens, dei· Mensch t1nd die Vieh-
zttcht (Einfüh1·t1ng, Haltung, Ve1·wei·tt1ng·) ; zweitens, die
Viehzt1cht tlnd de1" Mensch (Geopolitilc dei· G1·ossviehzucht).
Besch1·ankungen ve1·schiedene1· Ai·t e1·1auben vorlãufig
nui· clie Ve1·offentlicht1ng dei· vie1· e1·sten Ka1)itel. In1 ei·sten
KaJ)itel wi1·d die natüi·liche Eignting des Raumes fü1· clie
Viehzucht t1nte1·sucht, wo1·aus sich manche Züge dei· Geschich-
te leichete1· ve1·stehen, andei·e unmittelbai· ableiten lassen
Das zweite KaJ)itel untei·st1cht in at1sfühi·liche1" vVeise das
Vei·halten des Viehes bei seine1· Ausbi·eitt1ng auf einem mit
natüi·lichen Wande1·st1·assen und ebensolchen Hinde1·nissen
at1sgestatteten Raun1. Das d1·itte KaJ)itel behandelt die Ein-
füh1·ung des Viehes in B1·asilien t1nd in Pert1, ttnd von beiden
at1s, in Pai·agt1ay. Das vie1·te Ka1)itel ist dei· Ausbreitt1ng dei·
Viehzucht in Pai·aguay gewidn1et.
Dei· zweite Teil dei· Unte1·st1chung befasst sich mit dei·
Geschichte des Viehzt1cht in Rio Gi·ande do St1l t1nd Ui·u-
guay, also der eigentliche11 Bancla 01·ie11tê1I; e1· \vird in Pes-
qt1isas 1961 ei·scheinen.
110 PESQUISAS 1960, HISTORIA N.O lS

A b s t r a e t.

The l)resent pa1)er deals with the Histo,·y of Cattle in


the South Brazilian State of Rio G1·ande do Sul and the Re-
public of U1·uguay, which count1·ies, during the Spanish-Po1·-
tuguese colonial times, were known under the common name
of «Banda 01·iental del U1·ug11ay» (The Easte1·n Margin of
the U1·uguay Rive1·). Lite1·atu1·e on this theme is sca1·ce and
unsatisfacto1·y, gene1·ally no much more than a loose as-
sembling of f acts and opinions without any guiding line
of methodical 1·esearch.
Noticeable p1·og1"ess was n1ade in the book of Au1·élio
Po1·to, 1943 (re-edited by L. G. J aeger S. J ., 1954), which is
often cited by the author, cor1·ected in many cases, and am-
plified by new findings in the A1·chivo Gene1·al de la Na-
ción, Buenos Ai1·es.
The general plan of B1·uxel's work comp1·ises the span
of time between the first beginning of the J esuit Mission
(1626) by Roque Gonzalez, and their final dest1·uction by
the invasion of F1·uctuoso Rive1·a (1828). The guiding ideas
a1·e essentially two: Man and Cattle (int1·oduction, breeding,
economy) ; and Cattle and Man (geopolitics of Cattle b1·eed-
ing).
For seve1·al reasons, only the fou1· first chapters can be
published this year. ln the first chapter, the natu1·al
layout of the count1·y with respect to Cattle breeding is
discussed; in the second, the natural behaviour and aptitudes
of Cattle in 1·elation to ways and ba1·1·ie1·s of mig1·ation are
given lengthy attention; the thi1·d, <leais with the int1·oduction
of Cattle into Brazil and Pe1·11 and, f1·om both, into Para-
guay; the fourth, desc1·ibes the expansion of Cattle in Pa1·a-
guay. Introduction, ex1)ansion, breeding, and economy of
Cattle in the Banda Oriental p1·ope1· (U1·uguay and Rio G1·an-
de do Sul) belong to the second pa1·t of this study, in })1·epar-
atio11 for 1961.

:PESQUISAS

PUBLICAÇÕES
-
DE HISTORIA
'

• 1. A FILMOTECA HISTõRICA DO INSTITUTO ANCHIETANO DE


PESQUISAS - A. Bruxei, S. J. - Pesquisas 1, 1957, 14-67.

2. ISABEL, CONDESSA D'EU, VIAGEM AO RIO GRANDE -DO SUL


- Dioclécio de Paranhos Antune-; - Pesquisas 1, 1957, 68-92.

3. LA COMP~!A DE JESúS EN EL ANTIGUO GUA1RÃ - L. G.


Jaeger, S.J. -Pesquisas 1, 1967, 93-120.

4. PESQUISAS RISTõRICAS EM LAVRÃS DO SUL - L. G. Jaeger,


S . J. - Pesquisas 2, 1958, 3-19.

5. O GOV1hRNO TEMPORAI, DAS MISSÕES E O PADRE ANTONIO


SEPP - Ma~sueto Bernardi - Pesquisas 2, 1958, 21-33.

6. AI,GUNAS ADVERTENCIAS TOCANTES AL GOBIERNO TEMPO-


RAL DE LOS PUEBLOS (com tradução portuguêsa) - Antônio
Sepp, S. J. - Pesquisas 2, 1958, 35-54.

7. UM NAUFRAGIO NAS PRAIAS DO TRAMANDAt - Melchior


Strasser, S.J. -Pesquisas 2, 1958, 65-73.

8. PANICO NOS VICE-REINADOS ESPANHôIS EM 1750; «SA.~ SE- •
p:s,, EM 1751. - A. Bruxei, S.J. - Pesquisas 2, 1958, 76-79.

9. A NOBREZA DOS CACIQUES GUARANIS, DO PRIMITIVO RIO


GRANDE DO SUL - Pesquisas 2, 1958, 81-112.

10. A CATA DE TESOUROS JESUlTICOS - L.G. Jaeger, S.J. -


Pesquisas 3, 1959, 9-27, 1 mapa, 3 fot.

11. O SISTEMA DE PROPRIEDADE DAS REDUQõES GUARANITI-


CAS - A. Bruxel, S. J. - Pesquisas 3, 1959, 29-198.

12. A EXPULSÃO DA COMPANHIA DE JESUS DO BRASIL em 1760:


Exame Critico-Histórico no seu- Bicentenário - L. G. Jaeger, S. J.
- Pesquisas 1S60, História nr. ·12, 64 pg.

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