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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


COORDENAÇÃO DA ÁREA DE GEOMÁTICA
CURSO TÉCNICO EM AGRIMENSURA

3. PROJETO GEOMÉTRICO

O projeto geométrico deverá ser elaborado em duas fases: fase de projeto


básico e fase de projeto executivo, sendo que os serviços constantes do projeto
geométrico são especificados pela instrução de serviço de número 208 elaborada
pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (BRASIL, 2006).
De acordo com Brasil (1993) o projeto básico pode ser caracterizado como:

Conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão


adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou
serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos
estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o
adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que
possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do
prazo de execução.

O projeto executivo, por sua vez, consiste num "conjunto dos elementos
necessários e suficientes à execução completa da obra, de acordo com as normas
pertinentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT" (BRASIL, 1993).
De acordo com Pontes Filho (1998), o projeto geométrico das estradas deve
ser embasado nos princípios da geometria, da física bem como das características
de operação dos veículos. Para a elaboração do projeto geométrico deverão ser
utilizados não apenas cálculos teóricos, mas também resultados empíricos
deduzidos a partir de observações. Ainda segundo o autor, "a construção de uma
estrada deve ser tecnicamente possível, economicamente viável e socialmente
abrangente" (PONTES FILHO, 1998, p.1).

3.1 Estudos topográficos para projetos de engenharia

Os estudos topográficos para a construção de rodovias rurais devem ser


realizados de acordo com as Instruções de Serviço de n os 204 (Projeto Básico) e 205
(Projeto Executivo) do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(BRASIL, 2006).
Para o projeto básico, os estudos topográficos objetivam a obtenção de
modelos topográficos digitais do terreno necessários à seleção da melhor alternativa
de traçado. Neste caso, o modelo digital do terreno poderá ser obtido por processo
aerofotogramétrico, desde que obedeça às metodologias definidas na instrução de
serviço para levantamento aerofotogramétrico (IS-226).

Caso o modelo digital do terreno seja obtido por processo convencional,


deverão ser realizadas algumas etapas:

Profª Mª Zuleide Ferreira


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a) Implantação de uma rede de apoio básico - Deverá ser implantada uma


poligonal topográfica com marcos monumentados ao longo da diretriz estabelecida.
A rede de apoio planimétrico deverá ser apresentada segundo o sistema de projeção
Local Transversa de Mercator (LTM), devendo estar amarrada à rede de apoio oficial
do IBGE. Os pontos de apoio deverão estar materializados no máximo a cada 500
metros, sendo obrigatória a visibilidade entre três pontos (ré, estação e vante). A
rede altimétrica, por sua vez, deverá ter como referência a rede de RRNN oficiais do
IBGE, devendo possuir cotas verdadeiras em relação ao nível do mar.
b) Lançamento de linhas de exploração: Estas linhas serão utilizadas
como apoio para os serviços topográficos e seu principal objetivo consiste em
levantar elementos visando à representação gráfica do relevo do terreno ao longo da
faixa. Caso seja de grande extensão, a linha de reconhecimento pode ser entregue a
uma única equipe de topografia ou distribuída entre mais equipes (MACÊDO, 2000).
c) Nivelamento e contranivelamento das linhas de exploração: O
nivelamento e contranivelamento deverão ser feitos em todos os piquetes e pontos
notáveis, principalmente em locais de travessia de cursos d'água. A cota inicial
deverá ser obtida a partir do transporte de uma referência de nível (RN) existente na
região. Para isto, serão utilizados níveis eletrônicos com leitura a laser e mira com
códigos de barras. As RRNN deverão estar implantadas com distância máxima de
500 metros uma da outra, obedecendo às especificações da Norma ABNT-
13.133/1994 (Casse IIN - 20 mm √K) (BRASIL, 2006; MACÊDO, 2000).
d) Levantamento de seções transversais: O levantamento de seções
transversais deve ser realizado visando representar graficamente o relevo do terreno
ao longo da faixa de exploração. A largura levantada deve permitir o
desenvolvimento de estudos relativos ao traçado como, estudos de drenagem, de
meio ambiente, entre outros, inclusive em trechos onde ocorrem as variantes do
traçado1 (BRASIL, 2006; MACÊDO, 2000).

Figura 1 - Seções Transversais

Fonte: Campos (1979) apud Macêdo (2000)


e) Levantamentos complementares: Podem ser necessários alguns
levantamentos específicos em áreas onde serão construídos postos policiais,
balanças, praças de pedágio, cursos d'água, entre outros.
f) Levantamento cadastral da faixa de domínio: Este levantamento é
composto de informações do cadastro físico, plantas individuais de cadastro e

1
"Alteração apreciável da diretriz da rodovia, introduzida no traçado existente ou projetado e que tem
por finalidade melhorar as condições técnicas da rodovia" (BRASIL, 1997).

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documentação fotográfica. Deverão ser identificados: divisas, limites e confrontações


de cada propriedade; benfeitorias e classificação das construções; atividades
econômicas desenvolvidas na propriedade, serviços públicos existentes (rodovias,
ferrovias, linhas de transmissão, rede de abastecimento d'água, rede de esgoto);
dentre outros (BRASIL, 2006).
g) Locação dos pontos do eixo: O eixo de projeto deverá ser locado a
partir das coordenadas dos marcos da poligonal de apoio, com equipamento, no
mínimo, classe 2, precisão média (NBR 13133/94). Deverão ser cravados piquetes
de madeira de boa qualidade a cada 20 metros e também em pontos notáveis (início
e final de curvas, cruzamento com rodovias, ferrovias, divisas de propriedades, etc.).
Para facilitar a identificação dos pontos, também serão cravadas estacas
testemunhas junto aos piquetes onde serão anotadas informações do ponto locado.
Os pontos também poderão ser identificados com tinta indelével em postes, moirões
de cercas, muros, pavimento existente, etc (BRASIL, 2006).
h) Estaqueamento: este serviço consiste em demarcar no terreno pontos a
cada 20 metros ao longo dos alinhamentos, a partir de um ponto inicial (estaca
zero). O estaqueamento deve ser enumerado de forma crescente no sentido do
desenvolvimento do caminhamento (MACÊDO, 2000) (Figura 2). De acordo com Lee
(2005), considerando a notação convencional, o projeto se inicia na estaca 0 (Ponto
de Partida) e os demais pontos constituem as estacas inteiras, espaçadas a cada 20
metros, sendo denominadas sequencialmente, por estaca 1, estaca 2 e assim,
sucessivamente. Dessa forma, os pontos serão referenciados a esse
estaqueamento e sua posição será determinada pela estaca inteira anterior
acrescida da distância em metros. Ainda segundo Lee (2005), existe outra forma de
enumeração de estacas, denominada notação quilométrica, onde os pontos são
denominados pelo número inteiro de quilômetros, acrescido da fração em metros.

Figura 2 - Poligonal de exploração com o estaqueamento

Fonte: De Senso (1980) apud Macêdo (2000)

Exemplo (Lee, 2005): Imagine que no projeto de um eixo de rodovia, uma das
cabeceiras de um viaduto estivesse localizada a 5.342,87 metros da origem. Esta
cabeceira, utilizando o método convencional de estaqueamento para o seu
posicionamento, estaria localizada na estaca 267 + 2,87 m. Utilizando a notação
quilométrica, a cabeceira estaria localizada no km 5 + 342,87 m.

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Pontos de Igualdade

Devido a vários fatores, são feitas muitas alterações de traçado durante a


realização de estudos para elaboração do projeto. Os trechos onde ocorrem
alterações de traçado são denominados de variantes. Sempre é acarretada uma
diferença entre a estaca de chegada da variante e a estaca do traçado original. Para
que não seja necessária a remarcação de todas as estacas subsequentes, são feitas
igualdades de estacas de chegada da variante com as estacas do traçado original.
Sendo que, a partir do ponto de o estaqueamento permanece conforme o original
(MENDES, 2008).

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 8666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e
dá outras providências. Lex.

BRASIL. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Diretoria de Desenvolvimento


Tecnológico. Divisão de Capacitação Tecnológica. Glossário de termos técnicos
rodoviários. - Rio de Janeiro, 1997. 296p. (IPR. Publ., 700).

BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria de


Planejamento e Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e Pesquisa. Instituto de
Pesquisas Rodoviárias. Diretrizes básicas para estudos e projetos rodoviários:
escopos básicos / instruções de serviço. - 3. ed. - Rio de Janeiro, 2006. 484p. (IPR.
Publ., 726).

MACÊDO, Edivaldo Lins. Noções de topografia para projeto rodoviário. 2000. Disponível
em: <http://topografiageral.com.br/Nocoes/index.php>. Acesso em: 22 abr. 2016.

MENDES, Lúcio. Projeto Geométrico Horizontal: TRAÇADO DE ESTRADAS – 1ª PARTE.


2008. Disponível em: <http://sites.florianopolis.ifsc.edu.br/agrimensura/download/>. Acesso
em: 24 abr. 2013.

LEE, Shu Han. Introdução ao projeto geométrico de rodovias. 2. ed. Florianópolis: Ed. da
UFSC, 2005. 430p.

PONTES FILHO, Glauco. Estradas de rodagem: Projeto Geométrico. São Carlos: GP


Engenharia, 1998. 432p.

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