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Caderno CRH

ISSN: 0103-4979
revcrh@ufba.br
Universidade Federal da Bahia
Brasil

Melo, Rúrion
TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO
Caderno CRH, vol. 24, núm. 62, mayo-agosto, 2011, pp. 249-262
Universidade Federal da Bahia
Salvador, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=347632184002

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Rúrion Melo

TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO1

DOSSIÊ
Rúrion Melo*

A tradição de pensamento conhecida como Teoria Crítica, que conta com os nomes
de Horkheimer, Adorno, Marcuse e Habermas, entre muitos outros, é composta por
diferentes modelos críticos. Encontramos, numa mesma geração ou ainda num mesmo
autor, diferentes formulações da crítica social apoiadas em diagnósticos do tempo
renovados. O presente artigo procura pensar as condições de renovação dos diag-
nósticos a partir da qual os obstáculos à emancipação ou potenciais emancipatórios,
quando presentes numa dada sociedade, sejam considerados e analisados de modo
crítico. Essa renovação implica desvincular a fundamentação normativa da crítica
do “paradigma produtivista” e conceber as lutas emancipatórias na pluralidade de
seus sentidos.
PALAVRAS-CHAVE: teoria crítica, emancipação, novos movimentos sociais, democracia.

O que distingue uma teoria crítica das de- dio e os direitos sociais de bem-estar, o reconhe-
mais posturas teóricas no campo das ciências hu- cimento de minorias culturais etc. compreen-
manas consiste em seu interesse pelas condições dem fenômenos históricos diversos de formas
emancipatórias socialmente existentes. Porém, de luta nas sociedades complexas e plurais. O
além desse princípio geral, a teoria crítica se colo- desafio da teoria crítica consiste em poder reno-
ca uma forte exigência de fundamentar, de um var seus diagnósticos de modo a tornar possível
ponto de vista imanente ao próprio objeto social, que continuemos formulando uma perspectiva
suas análises e diagnósticos sobre as condições de a partir da qual os obstáculos à emancipação ou

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possibilidade e sobre os obstáculos existentes à potenciais emancipatórios, quando presentes
emancipação. Uma vez que tais condições e obs- numa dada sociedade, sejam considerados e ana-
táculos precisam estar presentes de algum modo lisados de modo crítico. Quais são as categorias
na própria sociedade, transformações políticas, e diagnósticos mais adequados hoje para levar
econômicas e culturais necessariamente influen- adiante essa tradição de pensamento? Essa ade-
ciam todo diagnóstico crítico voltado para o pro- quação não implica atrelar necessariamente nos-
blema da orientação emancipatória. O capitalis- sas inspirações teóricas e intuições normativas a
mo liberal e a luta de classes, o capitalismo tar- um novo diagnóstico sobre o Estado democráti-
co de direito vinculado ao Ocidente capitalista?
* Doutor em Filosofia. Professor da Universidade Federal Apesar de sua composição necessariamen-
de São Paulo (UNIFESP)/Campus Guarulhos.
Estrada do Caminho Velho, 333. Pimentas. Cep: 07252- te heterogênea, a história dessa rica tradição de
312. Guarulhos – São Paulo. rurion.melo@unifesp.br pensamento pode ser reconstruída a partir dos
1
Uma versão preliminar do presente texto foi apresentada
no Seminário de Ciência Política da USP em junho de problemas teóricos e práticos surgidos inicialmente
2010. Agradeço a todos os participantes pelas críticas e
sugestões. As ideias aqui reunidas resumem parte de mi- na teoria crítica de Marx, especialmente no que
nha tese de doutorado Sentidos da emancipação: para além diz respeito à exigência teórica de fundamentar
da antinomia revolução versus reforma, defendida em 2009
no Departamento de Filosofia da USP. adequadamente a crítica social de modo imanente.

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Por essa razão, inicio apresentando o que enten- abandonaram as orientações emancipatórias pre-
do ser, desde sua fundação com Marx, a tarefa sas ao paradigma produtivista e estabeleceram
comum da teoria crítica na formulação de diag- uma reflexão sobre a gênese dos conflitos exis-
nósticos de época para a práxis emancipatória, ou tentes a partir da compreensão das condições
seja, para a relação entre teoria e prática. Procu- presentes da política e do direito.
ro frisar que se inicia, na década de 1930, uma
primeira renovação da teoria crítica na versão de
um “materialismo interdisciplinar”, que foi segui- MARX E A TEORIA CRÍTICA
da, em seu desdobramento específico, a partir da
década seguinte, por um novo diagnóstico carac- A filiação autodeclarada da tradição de
terizado pela desconfiança diante dos potenciais pensamento da teoria crítica a Marx e ao mar-
emancipatórios presentes no capitalismo tardio. xismo nem sempre se deixa ver de forma muito
Considerando que a orientação emancipatória clara. O livro Dialética do esclarecimento, por
ligada mais estreitamente ao projeto de Marx exemplo, escrito conjuntamente por Max
configurou suas abordagens teóricas e ideais prá- Horkheimer e Theodor Adorno e publicado em
ticos a partir do conceito de trabalho, faço, em 1944 (Adorno; Horkheimer, 1985), é um forte
seguida, um breve excurso apenas com o intuito sintoma de que muita coisa havia mudado nessa
de sublinhar que os limites da emancipação pelo filiação, se tivermos como referência as formu-
trabalho, cristalizados nos clássicos paradigmas lações contidas em História e consciência de clas-
revolucionário e reformista, também engessaram se de Georg Lukács (2003). Desde a fundação da
a atividade política na utopia da sociedade do teoria crítica em 1929, em que se tratava de abrir
trabalho vinculada a um reducionismo novas possibilidades para o projeto hegeliano de
funcionalista criado pelo paradigma produtivista. esquerda, temas clássicos do marxismo foram
Foi preciso enfrentar o déficit normativo da pri- reavaliados em função de conjunturas políticas
meira geração da teoria crítica e também fazer e diagnósticos sociais sensivelmente modifica-
uma crítica ao próprio modelo de ação baseado dos. Isso não significou, no entanto, que até mes-
no trabalho como orientação emancipatória pre- mo o “abandono” das pretensões emancipatórias
dominante no projeto crítico como tal para dar diagnosticado por Adorno e Horkheimer no Pre-
continuidade a uma teoria crítica da sociedade. fácio daquele livro de 1944 não estivesse ancora-
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Do interior do debate entre diferentes aborda- do, em alguma medida, numa atitude teórica
gens críticas para se fundar adequadamente uma crítica semelhante àquela adotada por Marx. Foi
teoria atual da emancipação, o presente artigo justamente esse vínculo com Marx que permitiu
procurará expor uma crítica ao paradigma que a postura teórica de certa tradição de pensa-
produtivista e sublinhar a necessidade de uma mento fosse qualificada como crítica, ainda que
reconstrução do conceito de emancipação não isso implicasse apontar para uma direção con-
mais fundado no modelo de ação baseado no trária àquela para a qual as próprias teses de seu
trabalho. O passo dos teóricos críticos que pro- suposto fundador nos levariam.
curaram continuar os diagnósticos de época con- Em que sentido a teoria de Marx pode ser
siste em incluir, em suas respectivas renovações chamada de crítica? Não no mesmo sentido em
teóricas, categorias que permitissem explicar as que as teorias de autores como Lassale, Proudhon
novas formas de luta política e de mobilização e Bakunin eram críticas em relação ao capitalis-
cultural que ampliaram os sentidos da emanci- mo e apontavam diferentes saídas para o futuro.2
pação e configuraram atualmente o grande de-
2
safio das democracias. Isso se tornou possível, A bibliografia sobre a crítica de Marx às outras formas de
socialismo é extensa. Cf. especialmente Lichtheim (1965,
como mostrarei em minha última seção, quando 1969) e Draper (1990).

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O ímpeto transformador da práxis revolucioná- bio de mercadorias, esconde uma oposição en-
ria, tantas vezes defendido por Marx, precisava tre diferentes classes, oposição estabelecida na
ser fundamentado numa relação bem sucedida desigualdade constitutiva entre aquele que entra
entre a teoria e a prática. Pois a práxis política nas relações sociais como proprietário de mer-
não poderia mais se confundir com a “mera ação” cadorias e aquele que possui como mercadoria
nem com o simples desejo de mudança, preci- apenas sua própria força de trabalho. Por outro
sando, antes, ser instruída por considerações te- lado, longe de simplesmente descrever imparci-
óricas adequadamente fundamentadas. Porque almente o funcionamento do capital, a crítica da
a relação com a prática não se esgota na simples economia política mostra que o próprio capita-
negação do que é o efetivo, a própria teoria pre- lismo produz, de forma imanente, as condições
cisou se voltar de um modo muito particular de sua autodestruição, de onde decorrem tanto
para a realidade social, uma vez que tal negação suas análises sobre as crises internas do sistema
deve ser engendrada nas contradições presentes capitalista quanto sobre a possibilidade de uma
nos processos reais. Nesse sentido, uma com- ação revolucionária do proletariado.
preensão adequada do sistema capitalista foi fun- Esse diagnóstico de época presente em O
damental para a orientação esclarecida da ação capital expõe determinada forma de patologia so-
revolucionária.3 cial.4 Em outros termos, podemos dizer que Marx
Isso significa que, diferentemente do so- expõe simultaneamente o diagnóstico histórico do
cialismo utópico, Marx retira das próprias con- capitalismo desenvolvido e a consequência patoló-
dições capitalistas existentes o movimento real gica que a lógica capitalista impõe sobre os indi-
de sua transformação. Para tanto, a tarefa teóri- víduos. Segundo Marx, o capitalismo se caracte-
ca mais importante consiste em produzir um riza pelo fato de que suas relações sociais funda-
diagnóstico de época capaz de evidenciar as con- mentais são constituídas pelo trabalho, mais es-
dições e os obstáculos para a orientação prática. pecificamente, pelo trabalho abstrato (Marx,
O que Marx expõe em sua principal obra, O ca- 1998). Embora o trabalho seja também um pro-
pital, consiste na tentativa de oferecer o melhor cesso para se criarem materialmente produtos,
diagnóstico da sociedade capitalista de seu tem- o aspecto do trabalho mais decisivo sob condi-
po. Esse diagnóstico possui dois momentos fun- ções capitalistas consiste em determinar feições
damentais em que se expõe, num mesmo pro- abstratas de relações sociais. O sistema capita-

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cesso imanente, a relação entre teoria e prática. lista incorpora o trabalho abstrato como uma
Por um lado, os potenciais emancipatórios pre- forma de dominação social que mantém a fun-
cisam estar presentes na sociedade capitalista, ção das estruturas objetivas e impessoais sobre
para que a justificação da transformação social as relações concretas dos indivíduos. Intrinseca-
não decorra de algum ponto de vista transcen- mente à sua lógica reprodutiva, o capitalismo
dente. Certamente que tais potenciais, ainda que manifesta, assim, uma forma de patologia social
existentes, precisam ser “libertados”, já que, na (Postone, 1993, cap.4).
sociedade capitalista, tais potenciais permane- A crítica imanente, sobre a qual deve se
cem bloqueados. Por essa razão, Marx traz à tona debruçar a teoria, resulta de uma articulação
o fato de que o capitalismo não cumpre o que desses diferentes fatores analisados. Trata-se de
promete, pois o princípio de reciprocidade, pres- um diagnóstico de época ancorado a) na investi-
suposto numa sociedade baseada no intercâm- gação histórica e categorial da lógica de funcio-
3
É por essa razão que “o comunismo”, dizem Marx e Engels, namento e reprodução do capitalismo; b) que
“não é, para nós, um estado que deve ser produzido, um
ideal para o qual a realidade terá de se direcionar. Chama- lança luz sobre as determinações contraditórias
mos comunismo o movimento real que supera o estado
presente. As condições desse movimento resultam do pres- 4
Para uma apresentação geral da gênese do conceito de “pato-
suposto atualmente existente” (Engels; Marx, 1990, p.35). logia” na tradição da teoria crítica, ver Honneth (2000, 2007).

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TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO

do sistema (criando intrinsecamente formas de à emancipação e suas respectivas patologias.


patologia social); e c) que retira dos pressupos- Ora, a teoria crítica precisou fazer um
tos do desenvolvimento do próprio sistema as reexame do marxismo para poder repensar a re-
condições sociais de sua superação, ou seja, da lação entre teoria e prática. Nesse ponto, é natu-
emancipação social. Para que todos esses fatores ral que as circunstâncias históricas fossem
trabalhem conjuntamente na perspectiva da te- determinantes. Como notou Martin Jay em sua
oria, isso implica um tipo de crítica social excelente reconstrução da história do Instituto
autoreflexiva. “O ponto de partida da crítica”, de Pesquisas Sociais, os intelectuais de esquerda
comenta Moishe Postone, “é imanente ao seu da Alemanha, que ocupavam o centro do mar-
objeto social; ele está baseado no caráter contra- xismo ocidental, estavam diante de um “dilema”
ditório da sociedade capitalista, o qual aponta que os forçava a reformular os diagnósticos apre-
para a possibilidade de sua negação histórica” sentados pela tradição crítica ligada a Marx. Por
((Postone, 1993, p.140). um lado, considerando o inesperado sucesso da
De acordo com tais considerações iniciais, Revolução Bolchevique, eles poderiam se ligar
é possível agora caracterizar a singularidade da ao Partido Comunista Alemão e dar continuida-
teoria crítica com base em dois princípios. Se- de às estratégias lideradas por Moscou para com-
gundo Marcos Nobre, “a orientação para a eman- bater o espírito liberal e “burguês” que animava
cipação é o primeiro princípio fundamental” da a República de Weimar. Por outro lado, seria
teoria crítica (Nobre, 2004, p.32). Isso significa possível simplesmente apoiar os socialistas mo-
que o teórico não busca separar-se do objeto que derados e se orientar pela realização progressiva
estuda, não atribui a seus próprios procedimen- da democracia, evitando, assim, a via da revolu-
tos investigativos uma postura desinteressada e ção. Entretanto, “um terceiro curso de ação”, lem-
neutra, limitada à mera quantificação, classifica- bra Martin Jay,
ção e comparação de fenômenos observáveis. De
saída, o olhar do observador está inserido no resultou quase inteiramente da ruptura radical dos
pressupostos marxistas, uma ruptura acarretada
próprio objeto estudado, a sociedade, e, com pela guerra e por suas consequências. Essa última
consciência do lugar que nela ocupa, a teoria lida alternativa foi o reexame minucioso das bases da
teoria marxista, na dupla esperança de explicar
de forma reflexiva com os próprios contextos
os erros do passado e preparar a ação do futuro.
em que é formulada e aplicada. A teoria tam- Isso deu início a um processo que conduziu, ine-
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bém é um “sujeito” do momento histórico den- vitavelmente, às regiões mal iluminadas do pas-
sado filosófico de Marx (Jay, 2008, p.39).
tro de uma totalidade social que o comporta-
mento crítico pretende transformar. Já o segun-
Ao me ater à posição exemplar de
do princípio fundamental consiste no “compor-
Horkheimer entre tais intelectuais, esse dilema
tamento crítico relativamente ao conhecimento
faria implodir aquelas condições pressupostas por
produzido sob condições sociais capitalistas e à
Marx para que o movimento real de emancipa-
própria realidade social que esse comportamen-
ção pudesse ser reafirmado ainda no tempo pre-
to pretende apreender.” (2004, p.33). Se a pers-
sente. Diferentemente das posições mais domi-
pectiva da emancipação não pode ser derivada
nantes no interior do marxismo,
de meras ideias, se não pode limitar-se a ima-
gens ideais de condições de justiça e igualdade, Horkheimer não considerava mais possível, em
vista das novas condições históricas, continuar
então a teoria tem de ser capaz de apresentá-la
sustentando que o proletariado seria a única for-
como uma possibilidade real. Caso essa possibi- ça política interna ao próprio sistema, que seria
lidade não seja identificada na análise das con- portadora da destruição do capitalismo e da ins-
tauração do socialismo. Em razão de seu diag-
dições existentes, a teoria ainda assim pode di- nóstico do tempo, já não considerava possível
agnosticar criticamente os obstáculos presentes sustentar uma união entre teoria e prática nos

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termos em que havia sido pensada pelo marxis- de destaque, capaz de ver, a partir de sua pró-
mo de seu tempo (Nobre, 2008, p.37).
pria especialização, o todo social. A totalidade
das relações sociais só pode ser avaliada critica-
A consequência mais radical desse novo
mente levando-se em consideração os diferentes
diagnóstico, portanto, consistiu em não se en-
aspectos da sociedade iluminados por cada uma
contrar mais os pressupostos efetivos para que o
das áreas do saber especializado. Supera-se, as-
proletariado pudesse continuar a ser considera-
sim, a particularidade das ciências tradicionais
do o portador universal da emancipação. A pas-
em virtude do interesse pela compreensão da
sagem do capitalismo concorrencial para o
totalidade (Held, 1980; Jay, 1984, 2008).
monopolista, o enriquecimento (e não “empo-
Esse materialismo interdisciplinar não
brecimento”, como havia previsto Marx) da clas-
apenas produz como também é fruto do novo
se trabalhadora e a ascensão do Nazismo impeli-
diagnóstico de época que a teoria procura for-
am os teóricos do Instituto de Pesquisa Social a
mular. Com ele, deixam de ser porto seguro não
um novo diagnóstico de época.
apenas o proletariado como portador da eman-
Em seu texto “Teoria tradicional e teoria
cipação, mas também algumas conquistas da
crítica”, provavelmente um dos mais importan-
modernidade que, em um momento posterior
tes de todo o período da década de 1930,
da renovação do diagnóstico, serão paradoxal-
Horkheimer apresenta uma alternativa para se
mente esvaziadas de seu sentido crítico. A teo-
pensar criticamente a relação entre teoria e prá-
ria crítica pretende superar as verdades incrus-
tica (Horkheimer, 1975). Essa alternativa ficou
tadas no liberalismo, ao afirmar, acompanhando
conhecida como o materialismo interdisciplinar,
a esteira da crítica de Marx, que as concepções
um trabalho exercido em conjunto por diferen-
morais e políticas dos indivíduos, sua autono-
tes perspectivas teóricas – filosofia, sociologia,
mia moral etc. resultam antes de uma sociedade
psicanálise, economia, direito etc. – que se vol-
de sujeitos econômicos independentes. Porém a
tavam para as investigações sobre a sociedade,
autonomia e a independência do indivíduo, so-
adotando aquela atitude da teoria com interes-
bretudo sob condições de um capitalismo
ses práticos acima aludida. Desse modo, o ponto
monopolista, deixaram de existir, ou seja, “o in-
de vista “privilegiado” a partir do qual seria pos-
divíduo deixou de ter um pensamento próprio”
sível diagnosticar a sociedade contemporânea não
(Horkheimer, 1975, p.159). A teoria não pode-

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corresponderia mais àquele do proletariado,
ria, desse modo, ancorar-se na autonomia dos
como pretendeu Lukács, mas seria atribuído agora
sujeitos e se voltar para si mesma de modo refle-
à postura crítica da teoria. “Por mais que sofra
xivo, isto é, mantendo a postura crítica da teoria
na própria carne o absurdo da continuação da
como condição de possibilidade de negação dos
miséria e do aumento da injustiça”, comenta
males da sociedade capitalista.
Horkheimer,
Nesse sentido, a existência de uma postu-
a diferenciação de sua estrutura social estimula- ra crítica da teoria mantém presente, juntamen-
da de cima, e a oposição de interesses pessoal e te com seus diagnósticos, a possibilidade mesma
de classe, superada apenas em momentos excep-
de que a transformação da ordem social vigente
cionais, impede que o proletariado adquira ime-
diatamente consciência disso (1975, p.142-143). seja efetiva e encontre condições para o “êxito
histórico”. Aquele princípio de orientação para
Logo, a tomada de consciência das con- a emancipação, embora não esteja ancorado ime-
tradições sociais (e das patologias) concerne a diatamente na base de uma “práxis esmerada”,
um materialismo interdisciplinar. Porém isso sig- como diz Horkheimer, tem de ser medido no
nifica ainda que, no rol de teorias tradicionais quadro desse novo materialismo interdisciplinar,
especializadas, nenhuma delas assume posição segundo seu “interesse na transformação”. Esse

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TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO

interesse, segue Horkheimer, “deve ser informa- capitalismo de Estado) consiste, grosso modo,
do e dirigido pela própria teoria, ao mesmo tem- no império da razão instrumental exercendo seu
po em que exerce uma ação sobre ela” (1975, domínio sobre todas as esferas da sociedade. As
p.161). Fica evidente, agora, que a crítica social patologias da modernidade, produzidas pela im-
(e toda provável orientação emancipatória vis- posição hegemônica da razão instrumental, ma-
lumbrada) passa a depender necessariamente do nifestam-se nos campos da moral, da ciência e
esforço em se produzir o melhor diagnóstico da arte. É resultado de uma economia capitalista
possível. A abrangência, a profundidade e a ade- monopolista, que conta com ampla intervenção
quação de tal diagnóstico estão sujeitas ao traba- do Estado sobre a vida dos indivíduos e cria as
lho interdisciplinar igualmente exigente. Sem condições favoráveis para a implementação de
uma teoria social que ancore sua postura crítica um mundo totalmente administrado6. Encontra-
no diagnóstico produzido por um materialismo se obstruída, portanto, toda a possibilidade de
interdisciplinar, toda orientação emancipatória emancipação e, por sua vez, a própria relação
corre o risco de se perder no mero normativismo. entre teoria e práxis (Horkheimer, 2008, p.136).
Porque, na teoria crítica, não há oposição Do ponto de vista propriamente político, há, em
entre verdade e história: a verdade passa a ter Adorno e Horkheimer, um “período de hiberna-
um núcleo temporal fundamental.5 O que leva à ção” que se manteve por muito tempo sob os
necessidade de reformular os diagnósticos, como efeitos da Dialética do esclarecimento. Embora
aponta explicitamente o Prefácio do livro de desde sempre ambos os autores mantivessem
Horkheimer e Adorno de 1944: particularidades que caracterizavam a teoria ela-
borada por cada um separadamente – posições
Embora tivéssemos observado há muitos anos independentes que perduraram posteriormente
que, na atividade científica moderna, o preço das
grandes invenções é a ruína progressiva da cul- –, a relação entre teoria e prática continuou, em
tura teórica, acreditávamos de qualquer modo que grande medida, bloqueada pelos diagnósticos
podíamos nos dedicar a ela na medida em que
reiteradamente “negativos.”7
fosse possível limitar nosso desempenho à críti-
ca ou ao desenvolvimento da temáticas 6
Que o diagnóstico presente no livro Dialética do esclareci-
especializadas. Nosso desempenho devia restrin- mento seja condicionado pela história e, portanto, pela
gir-se, pelo menos tematicamente, às disciplinas forma histórica adotada pelo capitalismo tardio não pare-
tradicionais: à sociologia, à psicologia e à teoria ce ser algo indiscutível. Não apenas em muitas passagens
do conhecimento [...] Os fragmentos que aqui do texto, mas considerando ainda a exposição dos ensai-
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os e a temática central que anima o livro (“o mito já é


reunimos mostram, contudo, que tivemos de esclarecimento e o esclarecimento acaba por reverter à mi-
abandonar aquela confiança (Adorno; tologia”), esse diagnóstico lança mão de uma série de ele-
Horkheimer, 1985, p.11). mentos a-históricos. Obviamente, não havia capitalismo
monopolista na época de Ulisses, porém já na proto-his-
tória surgem centelhas da razão instrumental. Há assim,
Esses fragmentos sugerem que o projeto por exemplo, uma disparidade entre o capítulo sobre a
indústria cultural (em que a passagem do capitalismo libe-
emancipatório diagnosticado no texto anterior ral para o monopolista é explicitamente sublinhado) e os
de 1937 estaria temporariamente suspenso, pois demais capítulos contidos no livro. Para uma crítica desse
modo de exposição da Dialética do esclarecimento, ver
as condições emancipatórias existentes na socie- Habermas, J. (2002, cap. 5).
7
Horkheimer se aproximou de uma “teologia negativa” e de
dade estavam obstruídas, incluindo aquelas con- uma concepção filosófica pessimista, cuja postura negati-
dições que tornavam possível o próprio empre- va permitia uma forma continuada de teoria crítica. (Ra-
mos, 2008, p.99-113). Já Adorno, por sua vez, nunca dei-
endimento de uma teoria interdisciplinar refle- xou de admitir, assumindo o paradoxo, que a teoria assu-
miria a atitude crítica obstruída por uma práxis que, se-
xiva com interesses práticos. gundo o autor, tornou-se “cega”. “A práxis – e eu também
não me envergonho de afirmar isso com tamanha
O que o livro Dialética do esclarecimento radicalidade – se fincou em grande medida na teoria, ou
diagnostica (tendo como horizonte teórico os tra- seja, nas esferas da reflexão renovada sobre a possibilida-
de de um comportamento correto”. Adorno (1996, p.13).
balhos do economista Friedrich Pollock sobre o Sobre a relação entre o diagnóstico da Dialética do esclare-
cimento e aquele desenvolvido posteriormente por Ador-
5
“Se a verdade tem, de fato, um núcleo temporal, então o no, ver Nobre (1998). Para uma visão não apenas global,
conteúdo histórico torna-se, em sua plenitude, um mo- mas comparativa da obra tardia de Horkheimer e Adorno,
mento integral dessa verdade”. Adorno. (2003, p.26). ver Demiroviæ (1999).

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Rúrion Melo

Cabe notar que não há um diagnóstico tasse a ortodoxia do socialismo soviético e uma
único por detrás da variedade de autores da teo- provável resignação de uma postura social-de-
ria crítica. Por motivos de espaço, privilegiei até
mocrata que flertava, cada vez mais, com o libe-
aqui apenas os traços principais daqueles diag- ralismo. Essa tomada de posição alternativa abriu
nósticos mais comuns atribuídos ao “círculo in- a possibilidade de se questionarem os paradigmas
terno” da primeira geração da teoria crítica revolucionário e reformista que marcaram teó-
(Honneth, 1999), sobretudo limitando-me a cer- rica e praticamente o imaginário do socialismo
tos passos de Horkheimer e Adorno. Mas a desi- quase em sua totalidade. Esse questionamento,
lusão com a luta de classes e com o paradigma ao menos por princípio, não implicava abrir mão
revolucionário ou mesmo a recusa em admitir de uma teoria crítica orientada para a emancipa-
saídas democráticas para os dilemas presentes ção. Essa tentativa de superar a clássica oposição
na articulação entre teoria e prática, não foram que se estabeleceu historicamente entre o mar-
seguidas por todos os autores naquele mesmo xismo revolucionário e concepções reformistas
momento. A história da teoria crítica é marcada denota um dos aspectos mais centrais da teoria
por uma concorrência entre os diagnósticos de crítica (Melo, 2009b). Contudo, o modo como
época, e podemos avaliá-los como mais ou me- essa superação foi formulada teoricamente en-
nos adequados à crítica da sociedade (Melo, tre os diversos autores da teoria crítica nem sem-
2009b). Para ficarmos com apenas um exemplo, pre levou a soluções mais adequadas para a re-
Franz Neumann, considerado membro do “cír- novação dos modelos críticos. Pois essa tarefa
culo externo” da teoria crítica, jamais abdicou dependia, antes, de se questionar um elemento
da luta política e da ação do proletariado como nuclear da teoria da emancipação de Marx,
caminho para a emancipação social. Contudo, recolocado pelas concepções revolucionária e
certo diagnóstico do capitalismo monopolista, reformista, a saber, o paradigma produtivista e
aliado à sua reconstrução do desenvolvimento o modelo de ação baseado no trabalho. Foi no
da tradição do direito ocidental, permitiu a conceito de trabalho que Marx pôde encontrar o
Neumann destacar o potencial emancipatório do conteúdo normativo inscrito nos processos efe-
direito no âmbito da teoria crítica. A despeito tivos e mostrar ser preciso libertá-lo de suas for-
do que ocorria simultaneamente na Alemanha mas sociais reificadas para restituí-lo como
nacional-socialista, Neumann deu especial aten- autoatividade produtiva.

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ção também aos acontecimentos políticos na In- Desde Marx, já tomamos consciência dos
glaterra com a entrada do proletariado inglês no efeitos colaterais disfuncionais e perigosos de uma
Parlamento (Neumann, 2011; Rodriguez, 2008). sociedade que se moldara profundamente pelo tra-
Essa formulação nos abre diferentes e novas pers- balho abstrato, ou seja, trabalho remunerado, re-
pectivas críticas, relativizando o diagnóstico de gido pelo mercado e organizado socialmente na
Horkheimer e Adorno, presos aos acontecimen- forma capitalista. A crítica da economia política
tos ligados à ascensão do Nazismo e à experiên- mostrou que o sistema econômico burguês criado
cia totalitária do capitalismo de Estado. impossibilitava a realização da liberdade e da igual-
dade no interior de sua lógica reprodutiva. Porém,
se, por um lado, o processo de autovalorização do
EXCURSO: a emancipação pelo trabalho nos capital retirava dos indivíduos a capacidade de
paradigmas revolucionário e reformista uma ação autônoma, pois submetia todos os
âmbitos da vida ao seu próprio imperativo, o
Vimos acima que a fundação da teoria crí- paradigma produtivista, por outro lado, caracte-
tica esteve atrelada à possibilidade de se encon- rizaria também a condição de superação dessa
trar uma saída no campo do marxismo que evi- situação de opressão e da restituição da própria

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TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO

autonomia. Marx entendeu a forma de sociali- çado, ou seja, à imagem de uma sociedade desi-
zação não-capitalista segundo categorias do tra- gual, configurada sob os efeitos negativos e injus-
balho, ou seja, a capacidade que um sujeito soci- tos do capitalismo, se opunha aquela de uma so-
alizado possui para dispor dos meios e dos pro- ciedade emancipada, na qual reinaria a disposi-
cessos materiais que configuram sua própria vida. ção mais justa e igualitária sobre os produtos do
Nessa linha de interpretação, a autonomia, ou trabalho e as condições de sua implementação.8
autoatividade produtiva dos indivíduos ou das Para os revolucionários, a restituição da
classes só poderia ser alcançada quando os tra- autonomia alienada sob condições capitalistas
balhadores se apropriassem coletivamente da dependeria antes da transformação radical do tra-
totalidade da produção, identificando, assim, balho heterônomo em trabalho autônomo, justi-
emancipação e desenvolvimento das forças pro- ficando, assim, tanto as bases do argumento mar-
dutivas (Lange, 1980). Em suma, afirmar que a xista ortodoxo, segundo o qual a emancipação
crítica radical empreendida por Marx permane- decorreria das determinações estruturais do de-
cia fixada dentro do horizonte da utopia da soci- senvolvimento capitalista, como a substituição da
edade do trabalho significava que a revolução constituição de uma comunidade de livres e iguais
do capitalismo visava à possibilidade de consti- pela auto-organização holista de trabalhadores
tuição de uma reorganização social fundada no- associados, libertos do fetiche do capital. Além
vamente no trabalho, mesmo que de outro tipo. disso, o próprio conceito de práxis política, cen-
Foi exatamente essa “visão utópica que penetrou tral para a ideia de uma autoemancipação do pro-
o movimento operário e ainda nutre a ideologia letariado, seria concebido no processo revolucio-
do trabalho compartilhada pelas esquerdas clás- nário como epifenômeno das relações econômi-
sicas” (Gorz, 2003, p.33). cas, limitando a atividade autônoma da classe
Os debates em torno dos ideais trabalhadora à autoatividade produtiva assim
emancipatórios socialistas foram articulados, so- como fundindo e homogeneizando a autodeter-
bretudo, pela antinomia da revolução ou reforma minação política, de sorte que o proletariado fosse
do capitalismo. Muitos autores reconhecem que constituído somente como uma afirmação sub-
essa antinomia entre comunismo revolucionário jetiva da lógica reprodutiva do próprio capital.
e reformismo social-democrata, que dominou os A orientação reformista, por sua vez, ab-
termos do debate sobre a esquerda no século XX, dicou do socialismo científico e das pretensões
CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 249-262, Maio/Ago. 2011

estava situada nesse campo. Em linhas gerais, os revolucionárias, estabelecendo seu programa
comunistas acusavam os reformistas social-demo- político com base em reformas político-admi-
cratas por terem traído os interesses da classe tra- nistrativas centralizadas na universalização dos
balhadora ao abandonarem o fim último da trans- direitos civis. O núcleo normativo do reformismo
formação revolucionária do capitalismo. Os soci- social-democrata consistia, portanto, na trans-
al-democratas procuravam justificar caminhos formação do trabalho considerado mercadoria
alternativos para se imaginar uma sociedade na em trabalho entendido como base de um direito
qual se pudesse combinar a intervenção do Esta- de cidadania industrial. Contudo, as conquistas
do e o mercado com a finalidade de alcançar uma obtidas pelo Estado social confinavam, parado-
redistribuição mais centralizada de recursos e pro- xalmente, a democracia à instância meramente
ver, assim, mais oportunidades para a vida. Con- administrativa que determinava o plano social-
tudo, apesar dessa antinomia, ambos se preocu- democrata, engessando a autodeterminação po-
pariam prioritariamente com os melhores meios lítica dos cidadãos no papel de meros clientes da
e estratégias de se alcançar uma distribuição soci- 8
Essa abordagem centralizada na questão da revolução ou
almente mais justa e igual, mas não haveria um reforma do capitalismo é predominante mesmo em histo-
riadores tais como Sasson (1996), Eley (2002) e também
desacordo sobre o próprio fim último a ser alcan- Rosemberg (1999).

256
Rúrion Melo

burocracia dos programas de bem-estar e no de (Breuer, 1977, p.11). A teoria social crítica
consumidores de bens de massa. As orientações recepcionaria essa continuidade de uma teoria
revolucionárias e reformistas levaram adiante o da revolução presa ao conceito de trabalho como
projeto de uma democracia radical apenas par- “crítica de falsas promessas” (1977, p. 240). O
cialmente, reduzindo tradicionalmente a orien- trabalho não teria potencial emancipatório, mas
tação emancipatória ao processo de realização se apresentaria sempre como dominação, pois,
da utopia de uma sociedade do trabalho.
segundo sua lógica interna, tal seria a
consequência dessa interpretação, a análise da
forma do valor não se consolidou em uma teoria
da revolução, mas antes no conceito de sua im-
SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO: superando o
possibilidade: o que ela mostrou foi a submissão
paradigma produtivista da sociedade sob a generalização de suas rela-
ções abstratas (p.17-18).
Uma autorreflexão crítica sobre as orien-
tações emancipatórias vinculadas aos diferentes Em segundo lugar, a interpretação mar-
diagnósticos de época obrigou a teoria crítica a xista ortodoxa, de acordo com a qual a democra-
rever certas limitações de pressupostos comuns cia consistiria em mero reflexo da base econô-
responsáveis por manter suas inspirações teóri- mica, dificultou uma recepção dos textos de
cas e intuições normativas predominantemente Marx na qual a teoria da emancipação não fosse
voltadas a um sentido de emancipação em parti- diretamente determinada pelo paradigma
cular. A primeira geração da teoria crítica come- produtivista. Evitar essa sobredeterminação con-
çou a desconfiar do potencial emancipatório ins- sistiria numa das principais tarefas de uma nova
crito na categoria do trabalho e denunciou a jus- teoria crítica, uma vez que a teoria das classes
tificação positiva que o papel das forças produti-
exclui perigosamente a possibilidade [...] de po-
vas interpretadas como razão instrumental exer- der haver outros modos de dominação que não as
cia no modelo de Marx e do marxismo. Entre- relações de classe socioeconômicas, outros prin-
cípios de estratificação além de classe (nacionali-
tanto, os diagnósticos negativos apresentados pela
dade, raça, status, sexo, etc.), outros modos de cri-
primeira geração deixaram uma lacuna em rela- ação histórica e de interação que não o trabalho e a
ção ao ponto de vista prático-emancipatório, de práxis revolucionária, outras fontes de motivação
para a orientação da ação social, outras formas de
modo que não foi possível preencher o lugar ocu-

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interação política (participação) que não relações
pado pelo trabalho. Ou melhor, embora manti- hierárquicas de poder, e outras maneiras de con-
testar a sociedade capitalista que não as lutas de
vessem o horizonte negativo do trabalho social
classe em torno de necessidades radicais que emer-
para a produção de seus diagnósticos, a primei- gem na dialética do trabalho (Cohen, 1982, p.193).
ra geração não preencheu com outro conteúdo
normativo aquele aspecto positivo que o traba- Para alguns autores, apenas outra recep-
lho anteriormente também possuía para o senti- ção da obra de Marx permitiria encontrar, já em
do emancipatório. seus próprios textos, possíveis saídas para o
A crítica ao paradigma produtivista im- impasse criado pelo paradigma produtivista como
plicaria duas possíveis interpretações da história orientação emancipatória e superar a determi-
dos efeitos presentes em uma autocrítica do nação da política como mero epifenômeno das
materialismo histórico. Primeiramente, na me- relações econômicas (Melo, 2009a).
dida em que “esse pensamento procurou criticar A tarefa da autorreflexão da crítica social
a metafísica burguesa do trabalho”, comenta consistiria, assim, em “superar o paradigma
Stefan Breuer, “também se movimentou no mes- produtivista, sem abrir mão das intenções do
mo espaço homogêneo, abrangente e tradicional marxismo ocidental” (Habermas, 1985, p.217).
que a ideologia burguesa havia produzido” Na formulação de Marcos Nobre, “as aporias da

257
TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO

vertente ‘de esquerda’ do projeto moderno são reformistas, isso não ocorreu porque estaria in-
índice da necessidade de reformular os termos tima e necessariamente inscrito, nos pressupos-
do próprio projeto” (Nobre, 1998, p.183). Essa tos e motivações de suas concepções, um déficit
reformulação, tão importante para a fundamen- democrático, mas antes porque a plena realiza-
tação das orientações teóricas e práticas das no- ção da liberdade e da igualdade permaneceu vin-
vas lutas emancipatórias, requer um acerto de culada à utopia da sociedade do trabalho. Desse
contas com o paradigma produtivista. Axel modo, a questão da democracia precisaria ser
Honneth sintetizou essa ideia ao lembrar que a recuperada na produção renovada dos diagnós-
“fraqueza teórica” do “círculo interno” da pri- ticos de época.
meira geração da teoria crítica residiria exata- A bancarrota do socialismo de Estado e os
mente em manter seu programa vinculado ao novos movimentos sociais ocorridos no leste eu-
quadro de um “reducionismo funcionalista” em ropeu foram sintomáticos para se repensarem não
que “apenas os processos sociais suscetíveis de apenas os significados históricos, os limites dos
assumir funções na reprodução e na expansão estímulos teóricos e as orientações normativas da
do trabalho social podem encontrar um lugar esquerda, mas, principalmente, para a recons-
nele” (Honneth, 1999, p.516). Porém, “os im- trução de um novo quadro de problemas em que
pulsos antifuncionalistas [...] chegaram à a arena democrática estabelece os contornos de
autoconsciência teórica” (p.538), justamente na um novo diagnóstico ligado à política e ao direi-
teoria apresentada por um autor da segunda ge- to. Certamente, a esquerda não-comunista – que
ração, Jürgen Habermas, e, desde então, se tor- não se culpou pela falência de um socialismo de
naram o novo quadro de referência de grande Estado que ela sempre criticou – não deveria “agir
parte dos novos modelos de teoria crítica para como se nada tivesse acontecido” (Habermas,
uma concepção diversa da sociedade, a qual pre- 1990, p.188). Os novos movimentos sociais, que
cisaria evitar, por um lado, aquela aporia que respondiam às desastrosas consequências do
uma “dialética do esclarecimento” criaria para a estatismo social sobre diferentes formas de vida,
relação entre teoria e prática e para a possibilida- formas de participação, solidariedade e autono-
de de justificar normativamente uma perspectiva mia, pretendiam tornar o Estado social mais re-
para a própria atitude crítica e, por outro lado, flexivo ao constituírem demandas pela conquis-
abandonar a utopia de uma sociedade do traba- ta de direitos e garantias individuais, passando
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lho cujas energias utópicas teriam se esgotado. pela rediscussão de problemas de redistribuição
Partindo das críticas propostas pela teoria econômica e compensações sociais, até reivindi-
social contemporânea à categoria do trabalho, cações por reconhecimentos de identidades co-
podemos notar que o elemento crítico e letivas marginalizadas, etc. Tais acontecimentos
emancipatório que perpassava o desenvolvimento indicariam a possibilidade de superação da
das sociedades modernas consiste não na antinomia clássica entre reforma ou revolução,
centralidade da gênese e no conjunto do proces- pois acirravam a relação entre democracia radi-
so de autovalorização do capital privilegiado pelo cal e Estado de direito e lançavam nova luz à
paradigma produtivista, mas no resgate do pro- pluralidade de sentidos que a teoria crítica atri-
jeto de uma democracia radical, ou seja, no res- buiria hoje aos seus ideais emancipatórios (Arato;
gate de um projeto de autodeterminação e de Cohen, 1995).
autorrealização pelo qual os próprios cidadãos O esgotamento da utopia em face dos obs-
seriam capazes de se organizar de forma livre e táculos da economia e do poder político pôs de
igual. Nesse sentido, se a questão da democra- lado não a orientação emancipatória como tal,
cia, muitas vezes, se tornou um problema deri- mas suas determinações totalizantes. A utopia
vado na teoria e na prática de revolucionários e da sociedade do trabalho parece ter ficado para

258
Rúrion Melo

trás, mas não o ímpeto de formas de vida que ticulados com as lutas sociais e com uma con-
reagem e lutam pelo seu espaço de autonomia, cepção de democracia sensível às manifestações
mostrando que a emancipação não tem apenas da esfera pública (Habermas, 1992).
um sentido, mas é perpassada por uma Portanto, a dimensão do conflito classi-
pluralidade de perspectivas. Emancipação sig- camente considerado pela esquerda entre capi-
nifica, portanto, “libertação de energias políti- tal e trabalho e os remédios redistributivos vis-
cas paralisadas” (Habermas, 1990, p.93). E as lumbrados não podem mais pretender represen-
manifestações de revolta não são inventadas pelo tar as condições políticas, sociais, econômicas e
teórico. Elas são provocadas estruturalmente culturais a partir das quais podemos diagnosti-
pelas desigualdades produzidas pelo mercado e car as possibilidades imanentes para a realiza-
pelo Estado ou pela dinâmica dos conflitos em ção de mudanças nos contextos de nossa época.
torno de valores, do pluralismo social e cultural, Na verdade, essas condições – chamadas sinto-
dos fenômenos de intolerância, injustiça etc. maticamente por alguns de “pós-socialistas” –
(Melo, 2009b). dificultam uma visão historicamente progressis-
Essa emergência de uma pluralidade de ta para interpretarmos a natureza, muitas vezes
movimentos sociais, mobilizações políticas e pouco transparente, das novas orientações
manifestações de revolta, que permitiram que emancipatórias. Porém, como esclarece Nancy
os diversos sentidos da emancipação fossem Fraser, embora inviabilizem um diagnóstico atu-
articulados com o projeto de uma democracia al que aponte para um grande e único projeto
radical, tornou necessário estreitar o vínculo fun- emancipatório, tais condições “pós-socialistas”
damental entre uma teoria crítica da sociedade e constituem o horizonte inevitável de toda teoria
o quadro de problemas da teoria política, volta- política contemporânea (Fraser, 1997). E não cabe
dos aos estudos da esfera pública e da sociedade à teoria crítica preencher a lacuna criada pela
civil, da democracia e do direito. Muitos autores ausência desse projeto e reescrever sua história,
da nova geração da teoria crítica enfatizaram que mas sim investigar criticamente essa prolifera-
só seria possível atualmente dar continuidade ção de conflitos e reconstruir seus sentidos. A
ao projeto crítico-emancipatório dessa tradição solução do conflito entre capital e trabalho eli-
de pensamento se os temas da política, do direi- minaria também a desigualdade de gênero, a dis-
to e da democracia fossem seriamente levados criminação racial ou a homofobia? O diagnósti-

CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 249-262, Maio/Ago. 2011


em consideração para que a formulação dos no- co que apoia esse panorama contemporâneo não
vos diagnósticos de época fosse compatível com precisa ser produzido somente se considerarmos
um conceito de política radical, participativo e as esferas mobilizadas por tais conflitos, as quais
pluralista.9 Pois a cultura política estudada nes- não se limitam à economia, mas abrangem inves-
sa, digamos, teoria crítica da democracia, for- tigações amplas sobre o direito e a democracia?
mada por um público capaz de se mobilizar di- Parte do projeto de renovação dos mode-
ante dos riscos da perda de liberdade, torna pre- los críticos implica não pensar mais os movi-
sente o ideal de um Estado democrático de di- mentos por emancipação a partir do conceito de
reito na medida em que o vincula necessaria- totalidade, posto que a autodeterminação políti-
mente aos processos políticos de legitimação ar- ca é conquistada apenas no interior de um pro-
cesso de circulação do poder em que se luta pela
9
Para citar apenas dois exemplos: “A negligência quanto a integridade da autonomia das formas de vida,
uma tal teoria política e democrática é um dos principais
pontos cegos da teoria crítica da Escola de Frankfurt”. pelos espaços de autorrealização e conquistas de
(Benhabib, 1986, p.347). “A teoria crítica não pode mais
manter seus propósitos práticos sem uma teoria política”, direitos em face da pressão exercida pelos impe-
uma vez que “a crítica da razão funcionalista precisa ser rativos da economia e as constrições do sistema
complementada por uma teoria da democracia” (Arato;
Cohen 1989, p.493). político. A teoria crítica passa a reconstruir, as-

259
TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO

sim, a pluralidade dos movimentos por emanci- adequada que primeiramente descreva e compre-
pação, em torno da reivindicação de direitos le- enda os fenômenos reais da sociedade. Se, para
gítimos mobilizados por lutas por reconhecimen- Marx, essa interdisciplinaridade estava arranjada
to em que se explicitam a interdependência e as em torno da economia política, atualmente a pro-
relações recíprocas entre política e direito (Taylor,
dução de um diagnóstico pretensamente correto
2000; Honneth, 2003; Habermas, 1997). A afir- parece depender de uma composição disciplinar
mação radical da autodeterminação política evi- diferente. Contudo, a mera descrição, limitada à
denciada por tais movimentos envolvem deman- positividade do objeto social, não permite evi-
das por direitos políticos, sociais e culturais ,as-denciar os interesses práticos que formam parte
sim como maior participação nos processos de crucial da realidade. Porém antecipar o que se-
formação política da opinião e da vontade e nos ria considerado emancipatório sem apresentar a
procedimentos democráticos de deliberação pú- gênese dos conflitos e de suas respectivas pre-
blica (Bohman, 1996; Melo; Werle, 2007; Melo, tensões práticas consiste em fazer o exato opos-
2011). Compreender essa complexa dinâmica to daquilo que seria exigido de uma teoria críti-
sem perder de vista a orientação para a emanci- ca, pois ela não pode senão limitar-se a recons-
pação constitui a tarefa crucial para a renovação truir as condições de acordo com as quais os
dos modelos críticos. próprios concernidos procuram restituir sua au-
tonomia. Assim como não há teoria crítica sem
a renovação de seus modelos críticos, não há
CONSIDERAÇÕES FINAIS como oferecer novos diagnósticos sem entender-
mos os processos efetivos a partir dos quais a
O esforço para se mobilizar uma teoria orientação emancipatória ancora seus sentidos.
social interdisciplinar com o intuito de produzir
um diagnóstico crítico de nossa época está no
cerne das preocupações daqueles que pretendem (Recebido para publicação em 18 de maio de 2011)
(Aceito em 19 de julho de 2011)
fazer teoria crítica. Porque não há um diagnósti-
co definitivo, não é apenas no que diz respeito
aos aspectos metodológicos que temos de lidar REFERÊNCIAS
com um elemento falibilista que habita o em-
CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 249-262, Maio/Ago. 2011

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261
TEORIA CRÍTICA E OS SENTIDOS DA EMANCIPAÇÃO

CRITICAL THEORY AND THE SENSES OF LA THÉORIE CRITIQUE ET LES SENS DE


EMANCIPATION L’ÉMANCIPATION

Rúrion Melo Rúrion Melo

The tradition of thought known as Critical Composée de divers modèles critiques, la


Theory, which has the names of Horkheimer, Adorno, tradition de pensée connue comme Théorie Critique
Marcuse and Habermas, among many others, is compte, entre autres, avec des noms tels que ceux de
comprised of various critical models. We find, in the Horkheimer, Adorno, Marcuse et Habermas. Nous
same generation or even in the same author, different trouvons dans une même génération ou encore chez un
formulations of social criticism supported by renovated même auteur, différentes manières de formuler la cri-
time diagnostics. This paper seeks to consider the tique sociale basées sur des diagnostics renouvelés du
conditions for renovation of the diagnoses from which temps. Cet article se veut de penser les conditions de
the obstacles to emancipation and emancipatory renouvellement des diagnostics à partir duquel les
potential, when present in a given society, are obstacles à l’émancipation ou aux potentiels
considered and analyzed critically. This renovation émancipatoires, lorsqu’ils existent dans une société
involves untying the normative foundation of the criti- donnée, doivent être considérés et analysés de manière
que of the “productivist paradigm” and to conceive the critique. Ce renouvellement demande que le fondement
emancipatory struggles in the plurality of their senses. normatif et la critique du “paradigme productiviste”
soient séparés et suppose la conception de luttes
émancipatoires dans la pluralité de leurs sens.

KEYWORDS: critical theory, emancipation, new social MOTS-CLÉS: Théorie critique, émancipation, nouveaux
movements, democracy. mouvements sociaux, démocratie.
CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 249-262, Maio/Ago. 2011

Rúrion Melo - Doutor em Filosofia. Professor de Teoria Política do Departamento de Ciências Sociais da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Coordenador do Grupo de Estudos de Política e Teoria
Crítica da UNIFESP. Pesquisador do CEBRAP, desenvolvendo pesquisas na área de Filosofia Política e
Teoria Crítica. Publicou recentemente O uso público da razão: pluralismo e democracia em Jürgen
Habermas (Loyola, 2011), e coorganizou Tensões e passagens: filosofia crítica e modernidade (2008) e
Democracia deliberativa (2007), ambos publicados pela Singular/Esfera Pública.

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