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Função da carreira eclesiástica na organização


do tecido social do Antigo Regime

Ana Mouta Faria

A-.utilização do conceito de classe senhorial abrangendo cm sentido lato


as ordens privilegiadas da·nobrez:a e do clero I permite compreender melhor
a ideia de que o ingresso no estado eclesiástico correspondeu, predominan-
temente, desde a Idade Média e ao longo do Antigo :Regime, a um modo-
de preservação da capacidade económica das familias nobres, pelo imedi-
mento de umaparte dos membros te cada geração à sua reproduçãolegitima.
Por outro lado, ressalta com nitidez le estudom
s ais recentes c parcela-
res que têm focado a origem social dos candidatos à vida eclesiástica 2 e o
seu outro carácter de.mecanismo de.mobilidade ascendente, tanto no inte-
rior de cada uma das duas ordens de leigos como pela transição à.da nobreza
permitida por esta via a uma parte dos filhos do povo.
A caracterização dos estímulos .individuais que, na: sua diversidade, tra-
duziam a coacção social ao ingresso no estado eclesiástico é só por si quase
tão extensa como a que .a· seguir se apresenta, e sai fora do âmbito deste
trabalho sob pena de deixar escapar o fio da meada. Mas repare-sc, apenas
a título de exemplo, nos seguintcs-.argumentos, apresentados ao. Congresso
vintista por .um pai de-numerosa prole, solicitando autorização para que um
·filho ingressasse como noviço na ordem de S. Bento: «diz [...] que tendo
um filho[...] de dezoito anos,[...] suficientemente.instruído cm Gramática
Latina, Lógica e Música, [...] com enxoval c,mais arranjos a cujo fim o Supli-
_cante se empenhara· por ser pobre, ·tendo. apenas a-servc11tia -do ofício de
curação de órfãos que ·exerce sem nota há muitos anos, c mais oito filhos,

A NA MOUTA FARIA - C. E. II. C. P.- I. S. E.


C. T.

Texto redigido.no âmbito de um,trabalho-ddnvcstigaçào sobre o movimento peticionário


vintista rclativo ao Clero e à Igreja, integrado nas provas de aptidão científica e·capacidadc
pedagógica aprcscntadas•nol.SCTE, _cm 1986, 'A sua elaboração correspondeu à necessidade
de caracterizar,um conjunto de estruturas dc·ordcm social que a implantação do liberalismo
fez. pouco a poucodesaparecer,mas que em1820-1823 enformavam demodo tão alargado
.. o tecido social português e entravam tantono vocabuláriode uso corrente quc as petições apre-
sentadas às Cortes as referiam sem as identificarem, muitas vczcs sob designações divcrsas,
cuja correspondência-se foi. posteriormente· apagando, •mesmo na-mcmória,,da-bibliografi:t cipc-
cializada. O artigo não trata, assim, de um problema ou questão historiográfica; mas·de for-
ncccr elementos cuja utilização mc foi-necessária para a ·artálisc-·de .outras questões.
cujoarranjo desejava nãofossesimplesmente ode Cavadores ou quaisquer
i<OÚtto~·offc(o~ :mccânicos... :»3 • • "
: :.~ào 'Se'(játa ·de'iludir,a::possfüilidade de c_on:espondência entre o ingresso
na vida religiosaemoüvaçosde ordcmc spiriual. ób viamente tinha que
: existirpara alguns esse apelo interior a, que o vocabulário-católico- ·(ia. o·nome
ac
rocacão,-maisamplamente
Iacão.cclcrada;
cm
cxerimcntaaoconjuntu
embora scmprcprivilégio dc uma minoria como.os pró:
rasd 1tansror-

prios historiadores daIgreja d eixamperceber ao abordar a sucessão dc cri;


. ·scs de yida religiosa doclero. tanto secular-·como,·regular4 •• Só que a· procura
- • ,, ..::r:i. a•Sft"Cii:giõc:;;-d·cC1Um:a,::r-esp'Ost-a--a.-.pi:Q.&.illOS de mudança social profunda, ··se
• .•. -é um dado uucmer ·e : • mental . · entalidãêle reh-
, giosa,nãoserve.porémpara entender@dinâmica_social a conduzi@ao
[ clero amaiorpartedosscus membros. Ess amas+v trarente pela defesa
•· ·-dos,m.ecams·mos•.dc::trarrs~ nroóma ·na ,orenac das classes,.p.r1Y1=...
l lcgiadas.cpcla garantia dealguma mobilidade ascendente tanto in t ra como
1 ntct'~ o.r-dca&.---
h .- • /M~s comÓ.:s·~ concretizava-·esta:dinâmica no;percurso singular de cada
- :..oi n.gi-\!'í-du4c---- .
Através de um conjunto d~portunidades profissionais. propostas, no
que dizia respeito
ao sclérigos,_pela carreira eclesiástica, as quais; mais do
-, q e.. eia,suà,soina ,me.:impressionaram pela diversidade revelada. Daí ·que
nàs:págiírár.•seguintes ,procure traceJar'oS -1m1tes- do território-que as. estru-
turascclesiásticas configuravam na sodedade-,portuguesa do. Antigo Regime .
. ".lmp.õc:se,, porém,. uma 'nota.,pr.évia.
• Q_'. mótiv-o':tie.,as mulheres ·não ·poderem desempenhar, ,nessa. sociedade,
;'' funç.ões .\,orrespondentes• a cargos ou-,empregos públicos-impede que o. con-
0

., ·cei'to·:ctc.-.iéârr.eira'>sc lhes aplique.-e,implica, por conseguinte, que se encon-


,-tr-cm· excluí.dás deste ,-trabalho, mão obstante ,constituirem parte -integrante
0

do gru po social designado por '.Clero' ,<Na: verdade; factores o.e naturezadife-
·,.·,i.cntc- toricptri._tm·'para ,faj. exclusão:
ofacto dc a :coridição;:fcminina inabilitar. por si·-mesma .para qual-
. • :quer. Jorma'êle.adividade ,profissional ou de cargo público (com a excepção,
.e :_cm, é:hcunslãndas ,muito particulares, ·da sucessão· dinástica);
o a facto de igrcja católicanunca ter .admitido.às-,mulhcrcs.o· acesso
à•:êl-i:gnidade 'tl~-profissào"sacerdotal•(em.consonância c.om a sub'alternização
?g,ener'alizâdà.,-i.ui-pbsta pelas ·estruturei$ sociais) não ·o-bstante -!hes-•aceitar a con-
• sàgração:votiva,ou··defücação ·exclusiva à..prática .da religião; ••
• ' ·•;...,...,•·ofa.ào:de; enquanto elementos.oriundos de.grupos sociais.predomi-
' : ~; ctàmérricotc.,rcntistas,-,monjas e,frciras tercm:·a subsistência assegurada,'regra
• -,:;&cicil,l_'PP·r:dotações pacrimoniais à-semelhança das,suas irmãs de classe-que
--~ão- perdiam a·.condição,-secular. .. .
• ,,,A,,cont.r,aprova. de _que o'conceito· de 'carreira -eclesiástica' não se-deve
à aplicar parte femininado clero reside quanto a .mim ,na;;evidência de que
<ãi/têljgiosa!)·seiencontra:vam fortemente· dependentes -da. casa -ém·que. pro-
fcssavam, emcontraste comamobilidadepermitida aeclesiásticos regulà-
:r.es-,-ou secÍ.il'ares;caspécto que nem o•facto,de a·, vida conveJ\tUàl-implicar um
conju
.
ntode.
cargos semelhantes nas .instituições 'de homens e de .mulheres
er pode desmentir; porquanto no segundo caso apenas se relacionavam com
a organização interna do quotidiano. •
$5o De agora· em diante o· texto scguc portanto conjugado no masculino.
que. Em primeiro lugar, os «funcionários» desse imenso «quadro dc pessoal»
me eram em número muito superior à quantidade de empregos existentes, por
~
Gr- ,estes se caracterizarem pela admissão simultânea de dois niveis de benefi-
ró- ciários: o dos «proprietários» (conforme a c.xpressão corrente no século xv111
cri: e até 1820) ou ·«beneficiados» e o dos ocupantes .de facto, «serventuários»
ura • ou «encomendados». Com .'efeito, sobretudo na carreira eclesiástica. que
;·se .implicava obrigações ·de natureza religiosa,·fossem clas cultuais ou pasto-
el- rais,· estava· associada a cada urna·sua dotação -material previamente insti-
.ao tuída sem a qual nenhuma função -tinha ·existência.reconhccida-J: e era dos
a- respectivos rendimentos que, sendo suficientes,· se destinava urna porção (ou
ivi- côngrua) para pagamento de um substituto no exercício das tarefas incrcn-
mo • tcs ao cargo.
Nestes dois aspectos pareceu-me aplicar-se parcialmente. aos empregos
ada eclesiásticos o mesmo modelo que A. M. Hcspanha elaborou para-os car-
gos administrativos dos aparelhos de estado do .Antigo Regime, nos quais:
no - cada agente é o titular- cm termos patrimoniais do·scu posto, de que
do decorre a inexistência duma separação entre o património privado do•agcntc
que e os meios administrativos;
:ru- - não.existe coincidência entre o titular do poder e os titulares dos meios
me. do seu exercício 6•
Em rigor, -nenhuma das duas regras citadas era de aplicação absoluta.
de, .Quanto à primeira, a utilização do vocábulo «patrimoniais» não signi-
con- • fica que cm tais empregos o direito ao cargo existisse por.transrni.ssão here-
:on- ditária, a qual tendia a verificar-se, nesta época, já não de pais para filhos
nte mas entre. parentes próximos da.·mesma famílias· (tios/sobrinhos). Ofacto
dife- de o parentesco não ser à luz do direito eclesiástico, um critério juridica-
mente válido para assegurar a sucessão, dava lugar ao aparecimento de figu-
ual- ras contratuais que eram·utilizadas com particular frequência entre.familia-
ão, res. O que sc verificava de facto era pois «a inexistência de separação entre
o património privado do -agente e os mcios administrativos».
!SSO Quanto à segunda, ela aplicava-se nos cargos,que sc,jigavarn a· funções
tção cultuais próprias dos membros dos cabidos e colcgiadas, isto é, nos benefi-
con- cios simples, ou «símplices» que, quanto mais· elevados -na hicrarqúia ceie-
. siástica, -maiores rendimentos proporcionavam e portanto mais possibilida-
mi- des de ·substituição por encomendados permitiam.· Mas já os· benefícios
cgra curados (a que correspondia a ·função· de pastor ou cura d'·almas) não admi-
·que tiam a substituição integral, e apenas parcelar, por coadjutores, capelães .ou
curas 7•
deve Em .segundo lugar as oportunidades eram ·.múltiplas e--adequavam-sc a
que feitios e temperamentos diversos; a pontos de partida situados a vários níveis
pro- ·segundo a origem social e/ou o valor do dote concedido pela família; às
i
,ula-
• um
I quais se vinham também juntar possibilidades de mudar de carreira sem aban-
dono :do hábito talar ou, mesmo quando isso acontecesse, -benc.ficiando aind~
1creS !
i de boas ·hipóteses de emprego, devido à preparação. intelectual recebida.
.Ycjamqs.p(imciro a carreira eclcsi:ástic~ cm sentido estrito, isto é, aquela
a;quê,comcr,atrás.rcfcri.:sc.cnco,ntravamassociadas funções óc natureza reli-
giosa. j

Seria ncccss-ário ·começar por disting~ir entre a ·função de carácter prc- l


domina-ntemcntc cultuais e o-oficio de paroquiar. Neste o candidato.ao sacer-
dócio poderia principiar. na-mais dcsfavoráveLdas hipóteses, por servir gra- \
tuitamente de coadjutor a um pároco idoso ou-doente, e mediante a chamada i
• «renuncia in favorcm» suceder no benefício eclesiástico por morte do seu l
• titular.- Prática muito -frequente entre. clérigos .da:mesma faµiília que assim !
>transmitiam em sucessivas gerações- um .património quase tão inamovível
,como.·qúalquer.bem-de raiz, não óbstante-não·haver em tal caso·direito a
dispor' dele em-testamento. ---:-;---:..,...:e.....,__ ~~--==---......-.--. • • .. , ..
·-,:~ . ;A posse, de·um·emprego curado, quando o lugar ·em causa não era do· l
\:·" •·__.ª·gr·~ --º: ~,~llular ,::.@~ elhor-a_d_a-atra-vés-de--1:1-m·a~emdad_osa.es~rat€gia
• • - -de. ,s uccs sLv os ..e.o n.c ursos parabenefíciosvagosouentão,muito maisrara-}
l
.•
'! Proas
g!e;
m
entre titulares (cgnhgcidas. por.«permuta do barrete»)",
ediano compensações de conven iência m útua. O topo desta carreira, se
!
1
teoricamente era o lugar_de último.grau
bispo.-- das.ordens.sacras.e.mais.. E
..e, elevada das funções_pastorais- ..na realidade consisti ria numa confortável [
- 2@róquia pois quc os sucessores _dos Discípulos,_ pclomeio socialde que ]
pinolampodiam jamais aspi rarasucessores dos Apóstolos.Ainda do j
.,mesmo. Ltpo ·e :adequando-se também a· sua mclusao no baixo e ero, eram 1
• o) cargos dc capclãcs de ·recolhimcntos,-mosteiros femininos, estabclecimcn- 1
tos de assistência ou do exército e da marinha. Neste caso um pouco melho-
:rcs, visto que tinham direito às reformas e graças dos ·oficiais 9•
~s, funções- de ca,rácter predominantemente litúrgico eram consideradas
.com frcquência·mais·atraentes pela.localização urbana da maioria dos-empre-
gos, pelo conforto das respcctivas obrigações-nem sujeitas-às desoras da assis-
tência religiosa aos fregueses agonizantes nem à ajuda pessoal à-miséria a
,que.os }'lárocos·estavam vinculados 10, e pelo tempo deixado livre para exer-
·Cício cumulativo de outros cargos remunerados.
;Basicamente distinguiam-se duas-modalidades possíveis: ou a execução
de sufrágios instituídos por testamento a-que correspondiam legados (bens
d'alma) indiferentemente possuídos por clérigos -regulares (com· forte prc-
..:dominância, ·das ordens ,mendicantes) e seculares, ou a realização .de litur-
gias solccs com o fim de tornar mais brilhante o culto celebrado nas catc-
·,drais· ou sés'' ', marcando assim a difcrença de importância entre a
.cabc.çá da diocese e-as simples.igrcjas-paroquiais,-ou ainda em certas igrejas
• • c.olcgiact·as 11. Aqueles a quem pertenciam tais funções, os cónegos do capí-
i:r - • ~low1 •Cabi·cfü: eram..f+eqUC~ nte clêngos âeOn!'C1fSn'le1rc>rC"S""'-(tai como
\ kfodiam sê-lo os executores dos legados pios), apenas sccularcs, e o acesso
I 1 várias
às dignidades@u@compunham ur colégio capitular (deao, chantre,
{ }csgurciro, m estava
e stre-escola) e conesias condicionado pela cxi@@ncia dc
} habilitações universítárias",Nao raro, ãhâs, algum asdes tas conesias (ou
:ry;_ 1'·canon1Catos).:eS!Jl.Xarn vmcufaaos ao·ensino,. quer eclesiástico fem aulas capi-
• {ulares ou conventuais), quer a_instrução secundária ou universitária, justi-
·---- ficando a éxistência dedignidades ««magistrais»_c «doutorais».
• -~ ~
J
"leia Dignidades de natureza diferentes que podiam também recairsobrc "' (
reli- bros e um ea ido, eram·.os cargos de arcediago, arcipreste e vigário da vara__ )
q r 1 avam da· urisdi ao episcopal sobre ·um certo número de fregue- "
pre- sias de cada bispado. Com efeito, os arcc iaga os, arc1prcstados e vigara- ~
:er- -s:"".!ll\s (011 llai:as) cons1st1am cm subdivisões da c1rcunscrtçrrcrtlíoccs~m:t-wrrc,- fv~f-
gra- pondcntes a um nível intermédio cntrç este e a paróquia, dando lugar a mais -
ada umescalão nahierarquia dos beneficioscurados, mas cujos ocupantes eram
seu cm simultâneo dignitários capitulares.
sim Um outro factor que concorria para tornar mais procurados tais empre-
vel gos consistia no facto de se aljarcm-ncstc c:iso menores graus clericais (e Í/ /
oa maiores habilitações 1rnivcrsir.árias.~ ordenados mais elevados que cm//i--
fuédia trjp)icayam mas que.chegavam a atingir@ leu is-ré@ limcnios-,,~,3,

G:
do
g1a
E@ ump4roo".
A universidade devia estar ligada de resto, a maioria das formas de ocu-
·e
!
Ira-- pação dos membros do clero tanto regular como secular. Exccptuando os
9%, • escalões inferiores das carreiras atrás descritas, e as funções-mais modestas
,se 1 na organização conventual e monástica ou paroquial, todos os cargos reser-
1ais L vados aos eclesiásticos ou aqueles a que os mesmos tinham acesso cm igual-
6i {I
que
dade de circunstância com pessoas leigas passavam pela.frequência das aulas
universitárias e pela obtenção de graus académicos que, de acordo com a
do [ sua importância, abriam oportunidades diferentemente recompensadas .
1
1
Dado que oiny [ciástico exigia habilitações intelcc-
•.en- 1 tu~!§_ específicas e a progressão nas carreiras im unha o seu acr to;-uma I jÍ
ho- partedaexlstênc1a atos podia decorrer absorvida por essa prepa-l?
ração Uá 1ínanc1ada pelos rcnmmentos do cTcro, rndilerentemenTêaãor·-
das gcm destes) que abria condiJões para alargar as perspect!vas de futuro~cé; .
re-
:sis-
4 a actividades não cs • , .. '"\
riam ser e 1ca os ao estudo longos anos e até toda a vida (ele que são exem-
aa plo os cargos .de bibliotecários e livreiros conventuais), contribuindo pata
er- neutralizar a relutância de muitos na assunção dos compromissos increntes
à condição eclesiástica ".
ção No fim de contas a «vocação para estudante» devia ser facto comum,
ens e mais frequente entre os membros do clero regular tanto uc suscitava crí-
pre- 't$..11Q.~Jnterio!i na o ra Os Fra es Julgados no Tribunal da Razão
'tur- tivesse ou não sido seu autor o futuro cardeal Saraiva , denunciava-se «o
ate- repreensível método de passarem (os ditos frades) para ·os· estudos apenas
·e a professavam» ", o que era facilitado pela existência cm Coimbra de colé-
:jas gios pertencentes a quase todas as congregações. Uma.das pctiçõcs·cnviadas
1pí- às Cortes em 1821, por um frade jerónimo protestando contra o ·prejuízo
mmo .que lhe iria causar nos estudos uma sentença de encarceramento. proferida
:sso pelo seu superior é exemplificativa da importância que esta actividadc·assu-
tre, mia para os interessados 20. Por outro lado, muitos dos legados pios insti-
rae=-
• (ou -
tuídos, destinavam-se a formar e dotar clérigos seculares e regulares, possi-
bilitando o acesso ao.ensino a jovens-que .doutra forma o não teriam. Não
api- é apenas a literatura de ficção oitocentista a·inundar com exemplos- este meca-
sti- nismo: «mas já vimos que foi frade/só por vocação da Tia» censurava-se
cm i 823 no calor da .polémica congrcganista a um frade liberal 21.
: •· E, :pclo"nicnos-no que toca· à organização do modo de vida claustral, ou
havia muitaspossibilidades de transformar cessa «vocação para estudante» G
,,-
cm acti-,,idade profissional.permanente, ligada ao labor intelectual: possibi-
fidadcs.essas que eram aproveitadas, a julgar pelas apreciações elogiosas ou i bc
criticas,oriundas tanto .do interior do ,clero como do mundo profano. i Cf
!
O ensino comoprofissão, aos diferentes níveis, era quase.monopólio do i a
clero que a ele estava .intimimamente,ligado:não só pelas aptidões.literárias I' gc
::r.cqucridas como. ·pelos próprios Iins que o sistema de estudos visava: 1 da
! çã
-. «devFndo..tcr o.primeiro· lugar.a educação religiosa, ·os Mestres [de Pri- ( to .
.meiras Lctras]·usarão, nas Escolas do Catecismo Pequeno de Montpel- rc.
\:
• ·, licr, .co.m o .qual andará junto o :de Civilidade Cristã, segundo o que se
, ordenava no Alvará de 30 de Setembro de 1170, § V ...."
r ta,
1: CC
A figura do paqre-mcstrc tanto pertencia ao universo das Primeiras Letras
r çà
l
- e.a documentá-lo .está o facto .de as .petições que os. pediam ao congresso de
1
vintista, 1sereip. muitas vezes· encaminhadas para a Comissão Eclesiástica, 1 inl
i'dentificando-sc ,até o cargo como· uma das ·funções dos sacristães (que se '11 m
estimava fossemclérigos)', como .ao dos estudos secundários que modi- lar
•,.ficados Jarcialmente pela reforma-pombalina, ofereciam razoáveis oportu- d
nidades profissionais a professores, leccionassem em casa própria ou fos- re
,sem ·dar}aula ·aos colégios conventuais ou das coleg1adas. . de
Não só as cadeiras de maior,difusão territorial que ·eram as de Gramá- ·
i
icaLatina
c mas
Portuvsa" tam5em as rcs@artes disciplinas de instrução \·. CC
. •• sccundária,,.de teor cxclush,ãinente humanístico, constituíam possibilidades 1 ·só
1
·de sobrexivência,para muitos clérigos menores que não desejassem,prosse- 1 aL
,guir na gradução clerical, e a. egressos25 dos.conventos que readquiriam o !
estatuto· c)e· pessoas leigas, .devido ao conjunto de aspectos que caracteriza- ri•
vam a instrução pública de nível secundário no ·último quartel do ci
século XVIII. R
Tanto a sua franca disseminação -geográfica verificada neste período, da
como o ·conteúdo, apenas -literário, e o curriculum, ou o funcionamento iso- e
lado de cada cadeira em relação às restantes deixando de constituir um ciclo
de cstudo's desde a reforma pombalina, e ainda o facto de o sistema de con- G
tratação dos professores ·depend.er de provas públicas apenas relacionadas de
com a matéria a leccionar, não se 'lhes exigindo grau-académico específico da
ligadO à. docência"" deveriam, globalmente, criar razoáveis. condições, mas tr
• ,não· dem~siado,sedutoras para os diplomados pelas faculdades. É que se a
estes se apresentavam perspectivas mais atraentes e bem remuneradas, os
que-tinhar1-.começado a carreira,eclesiástica e tivessem ficado pelo caminho
podiam agarrar o ofício a mãos ambas, rentabilizando a preparação inte-
•:jl_ kctual rd:cbida, quer concorressem -às ·aulas públicas, onde as havia, quer
·se dedica~sem. a ,liçõ.es particulares .
.=:.Eor outrooc)adora,;impor.tância das ·aptidões musicais exigidas à maior
partedos eclesiásticos que aspirassem a não permanecer nos_escalões_infe-
riores do_clero abriauma perspcctiva de futuro, paralela-ou complementar,
a_quantos; te@/ou repugnância@mrir@seguir nagradução clc-
rica],_utilizassem as suas_habilitações executando,_compondo,reproduzindo
-- l
'•stral, ou ensinando música,mediante-remuneraçõcs que permitiriamapenas-um;a
nte» estanca
«limpa.
ssibi- Jão cnsino superior tinhaoutro prestigio e proporcionava: rendimentos
as ou i bem mais elevados. Nas muitas cátedras das [acuidades de Teologia, Leis,
·.O. it Cânones, Filosofia e Matemática que eram reservadas ao clero secular ou
'iodo
árias
r a clérigos secularizados (isto é, clérigos egressos),sentavam-sc muitos cónc-
gos capitulares _:, das dignidades doutorais já referidas -,' pagos através
1
3: 1 da posse de canonicatos e benefícios curados; cujo provimento (apresenta-
1 ção) devia recair cm eclesiásticos graduados pela universidade de que o rei-
; Pri- 1,. tor era, por·inerência, o bispo-conde de Coimbra 28. Ou seja, as receitas que
ltpcl-
ue se l remuneravam os lentes eram cm última análise .dízimos eclesiásticos e por-
i • tanto da mesma natureza.que os rendimentos paroquiais, capitulares c·dio-
1: cesanos. Ou, se quisermos, apesar do esforço· de Pombal para a seculariza-
,étras r ção deste nível de ensino, o aparelho universitário (rendas, uma .grande parte
i
resso 1
dos professores designados, 'e iodas os empregados não docentes) continuava
stica, 1 integrado na estrutura da igreja portuguesa 29. Isto, mesmo sem nos referir-
ue se '
1
1 mos à preparação universitária ministrada nos colégios das corporações regu-
modi-
-0rtu- l
!
lares, directamente ligada ao ensino da Teologia e matérias afins, relaciona-
das com a função pastoral, à qual correspondiam os _graus oficialmente
u fos- reconhecidos de bacharel e de do_utor, abrindo caminho para uma carreira
1
docente paralela: a do ensino eclesiástico.
amá-·
i1 O acesso a cargos públicos nas instâncias superiores do aparelho de estado
ução
ladcs
l
1
1
·constituía outra -possibilidade de carreira para os membros do clero, não
• só para os que fossem de origem nobre mas também para os nobilitados
·osse- 1 através da obtenção de grau· académico.
.am o : E exclusivamente reservadas,a eclesiásticos-eram as magistraturas supe-
riores da secção eclesiástica do govcr-no30 composta pela Mesa dc,Consciên-
:riza-
cl do cia c Ordens, Junta do Exame de Estado Actual e Melhoramento das Ordens
Religosas, Conselho Geral do Santo Ofício e os três tribunais portugueses
'.oda, da Inquisição, os tribunais da Curia Patriarcal e da Nunciatura Apostólica
) iso- e a Junta da Bula da Santa Cruzada.
. ciclo Emparaleloabria as artas das mais importantes magistratu-
con-
1adas
as
particularmen te
'·moral'_s a ascendência.
sc aula no
llldlff
de exemplo registam-se os cargos de D. João Cosme de Távora e Cunha,
:!fico da família dos Távoras, cóncgo regrante. de Santo Agostinho e um dos qua-
mas tro ministros de D. José à data da morte deste:
: se a - conselheiro de estado
\S, OS comissário geral da Bula da Cruzada
tinha - regedor das justiças
inte- - inquisidor geral do Santo Ofício
.quer - inspcctor da reedificação da cidade de Lisboa
- presidente da Junta de Previdência Literária
maior - ministro assistente ao despacho
infe- cardeal?
·ntar, Tratar-se-á de um caso cxccpcional ou-antes de uma situação típica de
'>
o ele- alto funcionário do aparelho de estado português no apogeu do dcs·potismo
zinao iluminado?
}
_ PAhasç. ,ú-atcriaLdas ,estruturas 'da.lgreja,-o seu foro jurídico prqprio,
, :f:in'terv.cnção,dos:ministros ·da religião nos momentos públicos mais impor-
antes da vida dos indivíduos, :a diversidade dc ·célutas,cmque·sc,organizava
\ 1à::p•~á_tica.r_c~igiosa e a·distinta,arlicula:çã_o.dcstas com o corpo eclesial tanto
i
' . no remo como com-Roma,davam.lugar·a uma·actividade burocrática,-admi-
'nistrativa cjudicial, gçradora,dc empregos de tipo .difcr.entc: dos atrás -foca- \.
<l,os'.· Os. quais"--sc se dcstinava:m;maioritariamcntc -a clcmcntos·do clero, não !'
. -cxclu~m;!Jeneficiários leigos, -sobretudo nos ofícios mfenô! es dos-r,Ae-unais !
IA c~9s :ae Oilàe,.QSc-'pr.imeir.oLe_ililYam:.afa stados.:..Q,Q r lei. _ 1·
l ;.
4 Este aparelho era enorme c, à semelhança do aparelho adminis trativo 1

,·do,ç;stado)1bsol.utó-.Joi•sc.:progressivamen,tc·alargando com novos órgãos de i1


··:c_µpula', <;~·concoriência,de funções, com os antigos que·não se extinguiam. 1
1
- ,_. O aumento desinccuras,.dahcsultante,ccriando·novos beneficiários, impu-
Jihaéi.Jma )edistribuição,éada v.cz .mais complcxa•·das·,rendas eclesiásticas ·e 1
o conscquentereforçoda expropriação, que incidia sobretudo nosleigos mas i
tam'bém,-nc'>.s níveis:ihfcriores- do clero,. mormente paroquial. Não cabe aqui \
,,dnalisá~la;tbasta,que~se: tenham em ,mente-as pensões impostas-nos bencfí- -1.
cios curados, diminuindo-lhes os proventos, a substituição do direito aos
'.:édizimos· paroquiais por ordenados.,fixos {côngruas), as. certidões. (e cmolu- ·t
1
i
•• 1ncnlqs) nc'ccssários'·a,qucm·precisava casar, herdar; deslocar-se no país, obter
_!'
um emprego, recorrer aos tribunais, ingressar num convento, abandoná-lo, 1
ser ,ad'injijdo/f1s:várias•.ordcns clericais, pregar, confessar, etc_., para se pres- -r
. -'SCt'ltir- á,.importáncia·dc,stc meio de apropriação. E, partindo daí;:perceber-
. -se o
como reforço desta burocracia significava uma forma de gerar empre-
. ·-gos rlovo~çguc:com:-freqúenc1a eram exerc1dos·cumulauvamente',pelas-mesmas
pessoas.
; .. ··.·.1•:f··•.· ,,~-:
~.:~
.':: ~.:. at~á. s..:r.d~c~ artiçã.o,tcrrito.rial, das dioceses cm arccdiagado_s, .sub-
-. •• il9J_v1d1dos. ·ém- v1garar-1as .ou arc1pres a os, ·cuJos t1tu •
..\ t' :,.~ _m•:~C:;so\ocação rural) ,,ã mm1s ravam, um certo número de 'igrejas 1
-~;:q:oq~ 0utra esfera ·de ç;ompclenc1a .aos bispos que cra.também·repar-
• :,' ·'.tidà)por.,rqprcseniantcs seus ·chamados visitadorcs-.(podcndo ou não haver 11
1
4rtià.'.cor~dpondcncia ge.9gráfica - e daí o·aparecerem dioceses divididas
.a
-~ w) d1_,1a r.espcito JUflS • - • itual e-canónica, ou sc·a à-fis- \
'1
:·•~aj~ o-~ mcn!-o.:.m..Qffil ·C da prática •rcligiosa•dos súbditos da
1
·lgrcJa · a • .••
!
:', ·Exn:pli~àdorçs'Sinodais -e -Cãmara':Eclcsiástica constituíam a parte. tal-
_. vcl.' 1hais .vjslvcl- deste· aparclh9 ,·. instalada na·s cidades sede de cada diocese. 1
t
, Aos: p'dmciros ,cfabia o exame para-pregar e confessar- que os-candidatos
· 'ao. oficio tinham que renovar anualmenté3 4• As Câmara Eclesiásticas eram
os tt1bu:nãis,d1ocesanos; onde.se julgavam; em ptimeira instância, as causas
doforo eclesiástico?'. Paraalém do provisorque lhes presidia(também cha-
l
. _ - . màdo-,vigáfio;episcopaJ ou vigário geral) e dos mais juízes clérigos,um con-
juntodcoficiais leigos (escrivãcs, notários apostólicos,contadores c meiri-
, nhos, variando cm número e cargOS'.Segundo·o bispado) asseguravam-ainda
• .,_Õ.dtra:s\funçõcs: o 'âviarne_ntcr:das-ietras apostólicas vindas daNunciatura ou
(c
dc Roma necessárias aoprovimento de qualquer emprego) e a emissão •
•. ;,/de: CC(tídõc~ ,que se baseasscmsnos: registos -paroquiais de anos findos,-os· quais
t t
rio, a partir do reinado de D. José passaram a arquivar-se.nas Câmaras. Os se s
.,or- acrescentados-poderes e o uso discricionário que deles era feito geravam cons-
:ava tantes recursos para a Coroa ou para as instâncias supeíÍorcs do foro
into eclesiásticoJ6 e deram origem a um dos núcleos de petições do congrcs o
1
imi- vintista em que é mais violenta a contestação de estruturas da igreja portu-
2ca- guesa.
l-
não I Nos territórios isentos de jurisdição episcopal (isemptos) como. os .prio-
nais i
i' rados das ordens militares e os dependentes de certas igrcjas-colegiadas e
1· ·de mosteiros havia necessidade de uma máquina que, embora de menor
tivo 1
dimensão e com funções -também relacionadas com o carácter senhorial da
s de i maior parte deles, reproduzia ·a administração diocesana, através de provi-
1
am. sores, desembargadores, ·visitadores e oficiais leigos.
:
1pu- -=A-maioria das ordens religiosas, igualmente isentas de sujeição ao poder
as ·e 1 ordinário diocesano, carac:tcrizava-Sk..pcla existência de uma hic@Fqµja_pró-
mas pria de subordinação directa a Roma, que começava nos cargos capitularcs
: aqui e prelatício dentro de cada convento ou mosteiro, e se continuava nos pre-
1efí- lados gerais (ou•provinciais) com poder·sobre todas as casas da mesm~
aos i gregação, e nos visitadores seus representantes, compondoporano uma_ ",
·!
olu- estrutura autónoma que administrava o braço regular do clero português. /-
bter i Se esta variedade de cargos, a que acediam com maio-rcsiffõoà"b"ilidades-- é?,..
i-lo, i p,oc s lérigos urbanos colocados nos escalões capitulares ou nas paróquias
·pres- { 'importantes, tinha em comum o carácter administrativo, judicial e de fisca-
iber- ' l!Eção da disciplina canónica e eclesiástica, um outro tjpo de fo:2_çõcs, o •
pre- último deste meu-inventário analítico, relacionava-se.com o que designat-ê1
mas c
g_or gestão de base económica da Igreja dos bcns scus
dosmembros, 1di-
":Ld al,Qg_ç_g)_ç__cti..Y.runcnt..e..p.assuírlos..---
sub- Na totali_dadc dos bens nas mãos do clero os dízimos e primíci-as consri-
ade= ·tuiam a parte que anualmente era renovada, dado o seu carácter de contra-
·ejas partida da função religiosa desempenhada. E, independentemente dos divcr-
.par- ..sosnivci da estrutura eclesiástica a que· 'ci-am ;;aptàdõs,:as- actívidades de
aver cobrança, arrecadação e distribuição clos beneficiários da mesma massa
'idas .:.9- bolQ.il~êf1z1am res eito a administr,ad.QillSIY..e_di.(c_(i(Lm entre si a c-
·à fis- nas. novolumsdos sns.manipulados..-
s·da .É.s.\\lili!QJJ11.LJl.Uilrupos e primlcias andavam frcg!-1.<:.!llcmc~~;_ir.~cnda-
i dos nosfinaisdo.Antigo,Rcgimc,muitasvczcs cmconjunto com outros bens
:e. tal- i _,/4) ..das igrejas ou dos párocos (o passai, outros tributos ou ·esmolas ·pagos por
:ese.1 o#é,iezaã íos).adriiindocmprimeiramioa figura de um renutro
'.atos ! \ - ~que tanto 2,odia ser eclesiástico co_!Tlo nãQ.....9..9!!111 c~j~I~[fr:"fü.on--
. eram sável pelo aparelho deavaliadores c cobradores, masque não odcnocntan0
er
{ I p

lUSas \9, considerado @mo. umc aroligado àgestãodopatrimóniodo clero.


cha- Esta começava com a· entrada desses bens no celeiro dos dízimos (ou
con- tulha). D arrecadação--que podia pois ser acnas o rcccimentoda renda
1ciri- -p9 dizimal -se encarregavam o tesoureiro ouo. piostc,a/umas yczcs ohu:('.h ,
ainda tre. Se o celc1r_o era paroguial,-era-o igualmente o cléngo que cumpria essas~ '.
•a·ou fim556es, asando-sedadisinfüisã@nlos coa@jstrcs se havia par@vis ",
issão anexas,do pagamento de pensoes a bencf1ciaâos nao curados caso eslives- ./' 1-.hSU'-
0

quais impostas
sem
to.tte
nessamassadizimal;datransferência dc 1/3
a9ti. Lu to,toa,".q o
para amcsacpis- ,,
_,Q_,, ('.

}'+,-e
copal c de outro (CIO .para a «fábrica» da igreja(indico apenas a
regra geral),
, o
cumprindo csüpulado no contrato para a fundação de cada templo.
n.- mesa comum entre bispo· c:•clcro .capitular, .mst1tulda·nas origens da
Ircja lusitana, no sécu lo-II-havia muito que dcsaparcccra, dando lugar 1
ao desdobramentdem mesa cpicop a!msou.
capitular
sa fábricadacatedrán).
, • Nestr, scmclha-ntcrncllre"às:fflesas das-êõ1i::g1adas, os respectivos priostcs \:
,•· ~"9.(qúc.,ta1:ribém· podiam chamar-sc,prcbcndciros C contadores) 37 encarregavam- 1
, -sé'.-tla·~r'rceadaçã·o dos,-âízimos a:·quc o· cabido tinha ·direito ·indcpendentc- 1
·mcnte·,d~ prov~niência dos mesmos38', bem comoda sua distribuição. pelas i
• dignidadcs•tcónegos, outros ·beneficiados 39, e ·pagamento dos ordenados às 1
várias catcgorias de clérigos serventuários"". Dado que havia na posse dos 1
l
capitulos muitosbens de ;raiz, •O ·seu comportamento económico obedecia i
às mesmas estratégias de gestão 'adaptadas. pelos. grandes proprietários de .1
.ter:ras.nó\Ântigo ·Regime,c,procurando beneficiar,o.mais ,possível do.seu pró- 1
,,prió sistcina··ifc,p_rivilégios (com realce para a, isenção·fiscal e a não sujeição i
a dizimos). Dai quc essa administr.ação, em geraLde avultados recursos, mui- l
tas vczcs contestada, com uma contabilidade a.que-hoje chamaríamos irra-
ciomil, • ocu1:;:ass&:frcq·~cntes·-vczcs mais do que um titular,,.errt constante arti-
• •culação· cont,,a:., justiça, eclcsiástic.a. diocesana para .convencimento .dos
rccalcitrantcs. i
. •À x:hancclatia.dá mitra Óu mesa episcopal cabia a gestão de bens de ori- .
I
· gcns rriuit9 dive.í-sas·, ac.umuladas durante séculos e a:rcdistribuição conforme
•. .aos. cncarkos inc(cntcs'à ,função :do bispo. • . 1
. _Aacresceràfortuna pessoalde indivíduoscom frequência_recrut ados. 1
•. na álta· nobreza· do .país, ,e à posse- de. coutos, honras e'.ãonat(!.riªs em razão !
de sare@@@@@z üp@iam..si@f@mwsomar.sE c oE±chata±lo:;cce stas@ses ãceo 1
! gc n'csdo direito deaprescntacão nasfreguesias que cabiam ao bispo, c os-
i 'tributos.cobrados.ag.clero_paroquial. e,
c m.certas circunstâncias, aos.
',/ mosteiros"".-
•Sca administração dos bens do clero secular ;,sobretudo dos arrecada-
• ,·dos pelos ;seus· estratos·s4per.iores se podia ·considerar.complexa,. não o seria
• 'mcnos.,a ·gbstão .do património- das ordens,'· fossem ·elas militares.,· monásti-
cas ou mendicantes"dada a sua variedade: prédios rústicos e urbanos, meios
, ·de produç~o-:os·ntais-,divcrsos,:&rossas,quantias em-dinheiro, juros .regular-
-m.cntc 'Y.cnaidoir, terras cm fatifúndio., ·em quintas, ein casais, tanto. de explo-
ração dirccta como •cmprazadas ou ,arrendadas. i
·nestâ:diversidadc. dc,formas.:de:riqueza-incorporadas no -património de. i
.câc\:a.~;sa.rdu1tàva·a· neccssidadei:ie'.pessoas espec\alizadas na cobrança e
• • .:_atrccacta·çãb .das.reridas; bem ·eomo no investimento com ,fins· lucrativos dos 1
1
excedentesnão consumidos no quotidiano. Administradores, carturários e
.. • #procuradolcs. cncan:egavam,se:· de,,receber .os foros; os juros e os dízimos,
• decomercializaras receitas ·em· frutos; de-renovar os .prazos ,que, segundo
as MemóriasqueJosé Libcrato Freire de ,Carvalho.guardou do ·ofício, «anda-
vamhavia .. ,•··
muito tempo comoesquecidos, em mãos,alheias; e( ...) em cui-
l.. .· 43 · •
1 \,
-:da,.t;clc· den:i:µid:asque-pocesses,objcctos ·não·ei:-am poucas». , como em mves-
stir.,rias:cóntpanhia~,comcrciais, ;na ·dívida pública e cm emprestar, dinheiro \
.a j,uros. 1

\;
ral), Actividade semelhante nas ordens militares caberia -apenas aos pro •iso-
), rcs e oficiais da mesa dos grão-priores, pois que estando o restante parrimó-
s da nio das ordens dividido cm comendas e baliados e a administração e uso-
lugar 1 ·fruto destas cedida individualmente aos seus membros, fossem leigos
ra).. 44
(cavaleiros) ou professos (frcircs) , não se pode cm rigor falar de adminis-
Jstes i: tração de bens possuídos cm comum neste sub-grupo do clero regular.
'am- 1 Por fim, um ofício do mesmo ·tipo e cujo exercício surgia sem ligação
mte- 1 dirccta com ·as estruturàs da igreja: o de adm1mstradores_ de E:.3Pti~gqgw_
,elas jou usüfrut<ntc--bens-}:i-nei-v,iG.u-aí~e-ecssoas eclesiásticas ou do pat.rimóuio
s às 1 de irmandades e confrarias. O qual era· frequentemente ocupado por mino-
dos l ristas,
-..~Utilizando alguma intução jurídica -- indispcnsável
-
equc-sc- acrescc n-

l,.
- - --•-

ceia ava pela prática de demandas,constante.naposse lestes.bens, a julgar pcl a


s de Y(!riedade processual dos litígios sobre os mesmos cm que as Cortes foram
pró- chàmadas a intervir. Habilitações que.os tornavam candidatos bem coloca-
j dos à ad;;'inistrâçãoTas casas nobres (à semelhança-do que se passava com
ção 1

mui- o ensino que frequentemente eram chamados a ministrar dentro· delas, como
irra- preceptores particulares). . _ ,
-arti-
dos
' /1'. (lc,./)-0 J.1 /VvV.N-'(f\1/\ T Cv:.,

i \ \ Em síntese, e reto ando a afirmação inicial: o·ingrcsso na vida cclcsiás-


ori- - 1· ·\
tica ·abria as portas uma diversidade de carreiras profissionais -bem para
·me \R , além do exerc!cio • e funções.religiosas,..Q._que con~ribuiria certamente para _
'ycnccr-os.cscri@los de muitos cm fazer depender: a subsistência própria de
1 _obrigacãcsd scmclh; ca.pois.quc aspossibilidadcs de opçãoc.
dos--
zão ! adegu~a a outra~clinações e aspiraç~s;gcrinjo o-património da Igreja,
;QI; } dos clérfos, dcninariascde muitos leigos, administrando o aparelhouro;
0s- crático das dioceses e das ordens religiosas, exercendo cargos públicos, sobrc-
a0s. ado.#os6rgaos
eclesiásticosdoEstado, cninandoecsudando.
O que..não_e.ql!i_vale a dizer que todos os individl!.Q.LQÇP-,Ç_ruicssern 0-:'."exer
da- ~i.Q_çk_aç, ~e profüsional específica, coisa que por certo não aconte-
ria cia nas categorias mais elevadas .do clero s·ccular e:no clero rcgular4 l. Nem
sti- também que as diferentes carreiras constituíssem necessariamente profissões
:ios autónomas.-Se tentei tipificá-las foi porque me pareceu que o podia ser, con-
ar- tribuindo para alargar as hipóteses de realização pessoal, dentro-de.uma cstru-
nlo- a
tura cm que maio rianãocntrava poriniciativa própria mas condicalã
c
pelo fÜnciÕnâmento da sociedade; na qual eram posslveis cst ratégias, quer
de para progredir na carreira obtcndo cargos melhor recompcrisã(l os, quer para
a e obliquar de umas ac:tividades a outras, mesmo güe alguma mcompatibili-
dos dade de .fundo conduzisse ao abandono do estado eclesÍáiiiêõ:
se Aiicsar disso, e tã! como se ouve Oizêrclm-rr~HõjC<<éftTC~ilcrn-:'todos os
os, estudantes podem ser doutores», também daqueles que seus pais destina-
do vam ao serviço da religião. nem todos ·podiam chegar a bispos. Ou seja: a
da- . •• capacidade de escolha atrás referida tinha limites bastªnt.c.ru:.c.ciso.s.c.onfonru:
ui- i \ a origem familiar dos candidatos; limites que no conjunto permitem -rcla-
es- ] ' clonar«ators@caiu@com . zr@a@ @t g@es especificas.moa"dizrceio
a eaosrgularcs, defi nir-além disso_ r@lações ir@f@rcnciis citrc ccrtas ordcn:
iro
}
1
até
vezes
(e.àscertas casas.da mesma ordcm) e a qualidade
r-
aia»ilia;e
-----~--···-- _;_...---
!
1
"k 7
8 Srcdos_noviços" " • Enquanto os percursossingulares de cxccp-
ça0 a esta norma que cvilentcmentc aconteciam,:ao•-permitiralguma mobi-
/:Jidadc. asccridente,,nas diversas categorias-do clero,-só-podia'm contribuir para
reforçar as expectativas cm.. torno ,da carreira.
Esta permitia, na. sociedade •do Antigo--Regime (e· continuando um pro-
- cesso que vinha .dos :tempos medievais) ·o-.re(orço-da capacidade económica
• dasfamílias,nobrcs.pcla privação do direilo à, reprodução legítima e à herança
do património familiar a-uma parte dos seus membros. Comportamento que
passa .também a-ser adaptado, mais tarde, pelas-camadas superiores do ter-
cciro cstado, c que é corrente no pcriodo .que estamos a estudar48.
O ·clero, cnqu_anto .ordem privilegiada, era dotado com um património
- s.cnhorial do·mesmo,tipo que o da.nobreza, ao qual a-Igreja através de Jegi-
• timação ideológica própria, de natureza réligiosa, acrescentava novos meéa-
• nismos·de apropriação sobre a renda - o ·dízimo a Deus-, para sustento
·da parte.liturgicamcntç•consagrada da classe senhorial. Os diversos cargos
que cram função dos seus membros correspondiam assim no -plano cconó-
mico aoutros tantos pontos de captação individual dessa renda apropriada,
ncstc pceriodo com ·frequência acrescida, -através de investimento dos capi-
_- tais .•acumulados ..

' REgincRobin - La sociétéfrançaise en_ 1·789: Semur-en-Auxois, Plon, 1970, p.48.


- Relativos a congregações -ou a livros dc .visita.
'Arquivo Histórico e Parlamentar da Assembleia ·da República. (A. H. P. A. R,), scc-
ção IcII, caixa 77,doc. n. 74. _
• 'Por..diversos motivos •o ,conceito moderno·dc vocação não é operacional para explicar
adecisão dc ingressar no clero até finais do Antigo Regime:
-'-,pelo.que·àctualmcntc prcssupõe;de_poder de-escolha de uma forma de vida futura (car-
• reira :profissional, ou ·outra),: o qual n,as sociedades' europeias só no ·período ·contemporâneo
começou ,.a .ser .considerado .um direito.,dó iridi.vlduo,. cm vez ·de atribuição dos pais;
- pelo facto'de,·antcriormente, a carrcira·individual se decidir por esse mot,ivo desde muito
• .'cedo; veja-sc· a:pouca idade -com.que-eram ajustados os esponsais ou a quantid,adc,dc cargos
c naturalmente tambémeclesiásticos,quc cramatribuídos a crianças;,
- porque a nacionalização dosbens das ordens religiosas e a· separação entre a ·Igreja
coEstado, rcalizadacom a -rcfonna'protcstantc na maior. parte da:Europa do Norte e nos
paiscs·catóncos :com as rcvoluçõe:diberais; vieram diminuir ,-que nào anular,.-as·possibilidadcs
dc acessp a cargos importantes pclo poder político ou scgurança cconómica que proporciona-
- vam, acentuando na contraluzas motivações de ordem ideológica.
• ·'- É o ·motiyo pclo ·quai as-. pctlçõcs,.-singularcs- ou ciJlectivas, para a criação· de um novo
. -cargo déviam fazer .prova de· que os suplicantes -o podiam patrimoniar, como-acontece com
. a· maior-ia das que-foram •aprcscntadas..às Gortcs ·de ·1821-1823.
"António Manucl HcspanhainL'espace politiquedans I'AncienRégime, 1983,p. 15a 17.
·JL · :'.·Embora a função:.dc-cura·,d'almas fosse-própria de todo-o clero paroquial (abades.como
priores, reitores ou vigários), a dcsignação dc «cura» cra mais frequentemente utilizada para
os cncomcndados.
. 'A. H.P.A. R., secção I c II, caixa 77, doc.n.° 63.
. -: ..: 0·,uso ;da, expressão «permuta do barrete» não era restrita. aos empregados eclesiásticos,
mas verificava-scquando havia lugar a trocas cntrc titulares de cargos públicos.
° Silva Carneiro c Paiva Pitta, Elemenros·do-Direito-Eclesidslico Português, ed. de 1896,
;;p.'.221,:'§ 198.
cp- "" «Serviço suave» chama-lhc o anónimo autor das Observaçõessobre o Mistério Puro-
bi- chial, d. de I815, p 15.
11
para • Op. cit., ·p. 15: «Coros (estabclecidos . .nas: catedrais e vilas principais). onde con1inua-
mcntc se cantam os .louvores de.Deus ··cm·nomc de todos os fiéis.» Na petição ,do-cabido da
Sédo Funchal (28.. 8,1821) aparece igualmente a defesa d·c locais•dcstinii.dos apcas à czclcbra-
pro- ção su.mptuosa do ·culto como.. fundamenco de que depende do «cultivo dela (rdigião) n 1rir
1ica os sentidos que são os veículos dos sentimentos ao Coraçãodos Povos». (A. H. P. A. R.,
nça secção I e II, caixa 8, doe. 24).
' Catedrais c Sés são designações rcsenadas às igrejas cabeça de diocese.
que lJ Sobrevivência dos.tempos cm que, o clero secular.se caracterizava por formas clc vida
ter- comum que no século xtx cram .apenas cx'clusivas do clero regular.
Fortunato de Almeida, História da Igreja emPortugal, vol. II, p. 58 e vol. .111,. • 31.
nio ·Clérigo ·de ordens menores, minorisca ou, -cm. latim, o cU:r.igo in··minor:ib11s: ·signiCicav:i
lcgi- que:um indivíduo tinha,percorrido a 1.' fasc dos cscalõcs•quc conduziam à ordenação como
padrc.-Por isso a designação de·«ordcnado» é sinónimo de «padre» ou icprcsbitcro», embora
.:ca- em . rigor um candidato ao saccrdócio·tivessc"de ser ordenado sele vezes.
nto ' Era a seguinte a progressão nos ·graus e até se chegar a- prcsbilcro:
gos
nó- HABILITAÇÕES OUTRAS EXIGÊNCIAS
• IDADE
da, LITERÁRIAS PRÉVIAS

pi- PRIMA TONSURA não A partir dos Sabcr ler e escrever Habilitação Ide gcnere' ou. lim-
é -uma ordem ·mas uma 7, variando pcza de sangue c também filia-
cerimónia •q ue prepara conforme os ção lcgitima, dc pais católicos,
para as: ·bispados q.ue não tivessem cometido
crime· nem sido submetidos a
pena ·vil ou infâmia pública

48. ORDENS Ostiário '14 Saber latim Idem e também 'de vila e
MENORES, Acólito moribus'. {bons coSl'umcs)
see-
Leitor
Exorcista

(car- ORDENS Subdiácono 22 diferentes graus aca- Nova habilitação 'de vita c
nco MAIORES • démicos- a que cor- nioribus'
Diácono ·23 respondiam exames
,uito específicos Nova habilitação 'de vita· cl
gos • Presbítero 25 moribus'

rcja
nos Informação retirada 'de Elementos ·de Direito· Eclesiástico Português,
1dcs Silva -Carneiro e· Paiva Pitta, 5. • ed., -1896, p,. 77 a 79
ona-
1 A habilitação académica mínima cxigida para o provimento cm benefícios capitulares
novo cra o grau de bacharel cm Leis ou Teologia (S. Carneiro e Paiva PiHa; ElcmMtos de Ditcitv
com -Eclesiástico, p. '1.76).
' 16 Em petição.enviada às Cortes, um clérigo de prima•tonsura·matriculado no 1. •.ano jur!-
ia 1.7. :,dico cm Coimbra.entende ter direito-a suceder num canoniealo-da Sé de Elvas, median1e·coad-
;:,mo .,jutoria efütura s11ccssào do padre.beneficiado; o.que pode significar que o suplicantc cspcrava
para suceder no canónica/o apenas-como clérigo de prima-tonsura.(A: H. P.A. R., sccção Ie li,
caixa 9,,doc. n. 0 4'5). ·Era frequente, apesar-de canonicamente proibido pdo Concilio de Trento,
os canonicatos recaírem sobre-'c.studantes-clérigos-menorcs.
7
" Pela análise-do conjunto-de petições enviadas às Cortes com o objectivo· de pedir aumento
• .de· ordenado; avalio a: côngrua. média de um ·padre proprictário cm 2005000 rs,cnquanto os
1896, . ,cónegos 'de prebenda inteira (porque havia dignidades que eram rcpartidas pordois ou mais
.beneficiados, ·dando lugar· aos cónegos mcio:prebendados ou ·rnçoeiros) rcccbedanr rcl'lclim, !1·
tosnunca inferiores a4505000 rs c mais próximosdos600$000 rs. Os cónegos .regranles da
;-, S-_:1111a.Cru:i de. Câimbra,,.i.,éohfirmar-se a indicação do.aut-or·anónimo·.das Observações sobre
o Ministério Parochial... no ano de 1796, estariam cntre os ceclesiásticos mélhor remunerados
(sc não-inéluir-mps'·as·c_atcgÕrias episcopal e cardinalicia);•dispunham-dc 5000 a 6000 cruzados
• por a:noi' E·.l u:do me Jçva.:a-;crcr;quc a informação é.fidedigna.
Porém a maioriadospárocoscncomcndados, dos coadjutorcs c capclãcs. curados não che-
iiava 1>or. :yi;t de regra a-ve.ncer mais de AOSOOO rs-em dinneir.o_,eacrcscentados todavia.pelos'ren-
. :·dimcnio,-uo- passa1'(porçào dc terra-.ancxa à rcsidcncia_paroquial) e do chamado «pé d'allam
• •• ou «bencsscs» (csmolas dcquantia fixada localmente segundo Qcoswmc-,,quc linhn lugar pela
cclcbração dcbaptismos,casamentos, cnterros c procissdcs) cquc podiam ser ainda reforça-
dos pclaretribuição dc confissões c sermões realizados noutras frcgucsias a titulo dc ajuda
nasalturas doano cm quc sc verificava maior afluência dos fiéis à igreja: a Páscoa e a festa
.\,tio ,tirago. . • • .---·,• -·
• ContaJosé Libertolrcire de Carvalho nas suasMemórias (p. 13, 33 c J4 da edição
de 1982): •
««... c como fosse costumedistribuir pelos conventos-da Congregação os estudantes que
acabavam-o 'scus.c:slUdos;_1ocav-a-mc·1ambém a mim-escolher um, ou. pedir que.me nomcas-
··,.scm:o ,qac:cu 'm:iis. dcscja-v:i-,- E como os •meus-desejos ciam a· ocupar-me o menos que. fosse
possivcl com.. a. diária,--·m.onótona- e faslidÍ.o~a tar.cfa .das eanlorias .e rezas do Coro,. para as
·- _quaiJi0nunca tive. gi,ito·c.}.-i fiz. logo tenção de pedir·rooradia,para- o convento onde elas fossem
mcno[cs .C'lÍlcnos,im-pcrtincntcs,;;_(p.·l3) .
-·1rn,10 1cndo,obrigaçãc>',aiguma:-de.eoro,- pois me tinham cons_crvado-.as honras e privilégios
dc_.profcssor (:-:,) era.a maior das vcmuras ele que podia gosar:dêb.aixo do-teclo elaostral» (p; 33).
.• _. «cununca quis, cnquanto cstivc no.claustro, ter cmprcgo algum, além dó literário, e ·que
·:para_·inc·.Jivnar'·dclcs. nuncà'inc, quis habili_tar para· pregar e confessar... » (p, 34).
19
-, .Ci1, por·Hoqa CoÚcia in ,Lib_eralismo e·,Catolicismo, 1974, p. J-30. A pólémica sobre
a identificação do autordc Os FradesJulgados no Tribunal daRazão vem resumida a p. 129,
.,.1101.i; ('.I) .e para. ela·rcnieto, -n;i.o. tendo o.u_tros-elcmen1os a-acrescentar.
2
;: . º-·A.,:H.. P ..-A:_.R.; secçãool e Jl;·:c:.aixa), 'doc. n.° 76. .
. --1.,i Cic-·Por,Hortà Correia in op. cit., p. 157. •
? Instrução para os Mestres de Primeiras Letras, $ 3.°, ResoluçãoRégia de 28 de Sctcm-
brodc .1824. • • - •
• ,-:., A.,H . .'P: A:.-R._. s,;cção·1 ·c·u, caixa 3, documcnto n.e 54.
.''4_, José Maria Amado Mendes; Trás-os,Montes-nos fins• do século X VII_I, 1981, p. 141;
"·Vasco Pulido -Valente, O-Estado-Liberal e o Ensino, ·1973, p. 98..
~)_ Egtésso -:-·,religioso regular ·qu,c abandonava os votos, A par.tir de então, se linha rece•
bido ordens sacras, podiahabilitar-sc a cura d'almas como qú:ilqucr outro pnclr.e.-Muilos cgrcs-
0 ·-sos-;· -sobretudo se,não'ér.am.'.padres,.eonservavam a- designação da-ordem· a que -iinham pcrtcn-
, .êido. Excniplo:.~Fulano, êgresso;da ordem de S.c·Bcnto ...», o que funcionava como uma espécie
.cde:t'iúilo.-,pa~·ticu,l_armcn_tc récomcnd;\vcl:, indicava a- pr.cparaçãocintcleclual recebida.
~!'-é:arnc1eris_lica-'.da-:r~forma poinb:ilin:;i do ensino secundário apresentadas por Yaseo Pulido
Valcntc in OEstado -Liberal e o "Ensino, p. 30/32, 98 .e 116/l17. ·Sobrc,a cdação-do ensino
'r•égio, priin4t'io e secundário, ver também Oliveira'Manins: ·«A lei de 6·de Novembro de 1772»,
• iin-Polftic~i! Histôria_(Pispersos ~.{g84-189J);Lisboa, Guimarães Editores, ·1957, p. "93 a 100.
a
7 Muitos minoristasaliavamas lições alunosnobres ou burgueses com a frequência de
·.•,s-:1l0cs quc:-iib.r.illi:m1avam.'na· medid.a dos.scus_(àlentos: •João Domingos-Bontempo ou ·o abade
. Arilónid ·da Costa foram:apcrtas dois notávçis·-cxcmplos dc·-um·modo de vida que ·na segurida
.. ·,-mctadc do séc.ulo xÍ,,111.-dévia,ocupar um·númerc;>-signifiealivadc-indivlduos. -Ver nas Cartas
deste ültimo .i-dcscti:ção-d'o-:scu quotidiano.cm Roma «onde não é mau ser-se clérigo·(i.c. ordc-
4f nadopadrc) para um caso de ncccssidadc, c é ccrto que sccu o fosse escusava de andar até
agora abuscar modosdc viver .por.· rabecas, franccs (...) e outras jangadilhas». («Carta VI»,
, ·-l.'.isboa, ÇadcrÍÍo,s Sc;ira··NoYa, -cd. de 19<16; p. 81).
a ;21. Que clesse candidatavam em concurso público (ou;-oposiçõo).
. 21 Vcjiim.,sc:•as•pc.liçõcs,constantes-âo-A. H:·.p, A. R., seéÇão I e II, caixa•6, doe. 35, de
. , um tóncgo q.uc pede. dis-pc.nsa da :obrigação de residiLn_o· seu ·bcncflcio·durantc.a-11arlc do ·ano
• . ·ócÍ:cssárfo._,acfeumprirnc:ntq das suas obrigações na Faculdadede Coimbra, onde é.doutor-em
:.Leis;:e_ caixai 8,-' çÍo_~·,. 26(8},,que •refere o direito .de aprcseínação.:quc-a universidade; tem num
da c<:onjunto·dc benefícios eclesiásticos, reservado a clérigos seculares e sccu!ari·z.:ido, e uc eram
bre destinados a doutores, e portanto à carrcira,univcrsitária.
dos Jo_ Secção eclesidslica· do governo é a expressão utilizada por Ba!bi no Essai Satistique ... ,
tios tomo.!, p. 249 ela cd. de I 822.
In Caetano.Dcirào,-D. Maria·/, cap. 1, p. 69-103 de 193-1.
;he- .J; Silva Carneiro e· Paiva Pitta, Elemenlos de Direito Eclesiástico Portugues,.p. -li6.
rcn- JJ A obrigação, da visita às paróquias da.diocese vem de tradição antiga nas-obrigações
ar» dos bispos c é muito acentuada no Concilio dc Trcnto·[-1545-156]).
·-pela " Exccptuando a ordem dos Dominicanos, especificamente dc Pregadores (motivo pclo
ça- qual aparccc por vczcs csta designação como sinónimo de Dominicanos, inclusive cm dicron4-
uda rios actuais), nas corporações de.regulares Pregador representava-um grau. na carreira que cor-
festa • respondia ao- topo da habilitação cm I.:ctras.
Por isso, a criação por caria régia de 8. l J. I 802 de 24 lugarcs de prcgadorc~ régios cíccti-
içlo vos na Rcal Capela da Patriarcal (Fortunato de Almeida, op. cit., vol. m, p. 33), quc iguala-
vam·cm dignidad.es e· privilégios aqueles-que só obtinham a graduaçfo na-sequênci:t de. l 2 :11rc,•,
que •.de estudos, veio ofender prerrogativas cuja defesa ainda se fazia sentir cm-1822 (A. H. l'. A.
cas- R., secção 1 ·e li, cai><a 11, doe. n. 0 )2) .
fossc " Para a caracterização-dos órgãos do foro cclcsiástico c suas funçõcs, scrvi-me dos ele-
a as mentos apresentados por Fortunato de Almeida in Histdria da igreja em Portugal, 11, p. 231
sem a 236 e Silva Carneiro e Paiva P_itta in-Elementos do DireÍ'/o Eclesiástico Portu1:uês, .p. 401.
Os Almanaques do Clero do Patriarcado d.os anos-1"861 e 1862, organiza.dos pclo P, António
gios Osório de Campos e Silva, permitem estabelecer um .organograma· revelador da quantidade
33). -de cargos e empregos - perto.de uma centena - que se relacionam com a·adminimaçào da
que diocese de Lisboa. Ainda que sem ler encontrado nenhuma sis1emafi.zaç:lo para o pcrlodo· quc
estou a-estudar, as muitas referências dispcrsas··quc ·cncon.tro nas pctiçcs c nas obras imprcs-
brc ,-sas .fazem-me pensar que em 1820 o seu número ainda podia scr superior ao de I862. Por outro
129, lado, as restantes dioceses caraclerizavam-s~ por uma organização administrativa e judicial emc-
·lhante,-.cxceptuando a Curia Patriarcal c os órgãos decorrentes de representação .diplomática
. pontiflcia.em Portugal.
Jo A Curia Patriarcal·dcpendcnlc do Arcebispo de Lisboa ·e o Tribunal de Legacia, órgão
cm- da Nunciatura Apostólica .
Fortunato dc Almeida, op, eit., v-ol, 11, •p.·J0S e· 106.
" Para além da parcela da-terço episcopal, ·que competia ao cabido pelo desdobramento
141; referido, cabia-lhe também a totalidade dos dizimes de muitas freguesias da diocese, pagando
• apenas côngrua aos .respcctivos curas, por Jhc pertencer o direilo de apresentação (ou.indica-
ccc- ção) do pároco. Este direito nuns casos era-posse comum do colégio capitular e noutros distribuía-
3res- -sc individualmentc pelas .diversas dignidades, sobretudo pelas de arcediago e arcipreste.
•tcn- ° com cfcito, além dos cóncgos quc venciam ordcnado ou «prcbcnda» inteira, haviaainda
:>écie prebendas di-vididas cm 2, 3, 4 ou S rações, a que correspondiam os «meios-cónegos», «terce•
nários»·, .«quatarnários»,• de um modo geral,designados por.«porcionários", «bcn"Cficiários"
ilido ou «raçoeiros» - Fortunato de Almeida, op. cit., vol. I, p. 57 e scg1s.
rsino •° Corciros ·ou cantores, capelães, serventes - Fortunato de Almeida, :op. dt., vol. 11,
'72», p. 57 e sgts.
100. Terças pontificais ou episcopais, censos, mortulhas, lutuosas, catedrádcgo ou calendá-
ia·de rio;Visitação ou jantar, resgate.dos aliares, meias-vagas,-calúnias ou .coimas - F. d.c Almeida,
·bade op. cit., vol. 1, p. 116/117 e vol.-11, p: 105/110: Tudo somado,·scgundo o autor das já cita-
urida ,das Observações ao Ministério Parochial, p. IJ';. havia- «bispos com cem mil. cruzados e mais
ar/as. de renda». •
ordc- • 42 A 'divisão do clero rcgular.nesles 3 grupos-de ordens: militares, mon:lsticas e .mendican-
r até tes, a.doptada pelos historiadores da igreja portuguesa consultados, não faz intcgralmcntc scn-
VI», iido,quando se-estabelecem diferenças no plano do funcionamento económico. Porque, na minha
opinião, no que-se refere à constituição do património, cm· Portugal os-dois primeiros. grupos
se assemelham-(o que já não se verific;,. quanto à fruição individual do mesmo) e às mendican-
35, de tes haveria a juntar um grupo mais moderno - o das ordens dos scculos-xv11·e xv111, que ape-
)ano sar de igualmente obrigadas a estatutos diversos quanto ao accsso dos seus-membros à riquc1,,.
··or-em não· se diferenciavam de .forma-significativa na utilização colecliva que dela faziam;, dai talvcL
, num o aparecerem incluídos no grupo mendicante pcl.os referidos autores. Como é a-primeira vc,
(.;que' o-;s~unto .;iparccc-ncs_lc trabalnó. adoptó-a-·classific_ação l<trãdicional» c-cslabcleccrci-difc-
;:-rcnça:s-,~pc.na~.quantlo_-mc-parcccr-.quc,são. escl:i,cccdoras para a compreensão das.,qucstõcs abor-
dadas.
't Memórias,p. 34 da cd. de1982.
. ";hl'ascoal,Jost.'dé Mcllo ·Frçirc·, in...Qissertação;Historico-Jurldicasobrc.os direitos e juris-
'."d_íção élç,.CcáÓ'.Priot·do -Crato e"do -seu pro.visor, vcr·capsc 2, 4, 5 e J l '(1808}.
-,.•~---Hcini_'.€,or.réia in•op,.:cit,, c_ap. ,2.-d.r fartc-JI,.:analisou .a. critica .que a este -propósito
.·foi•'pu_blic:11J1tiJIC;gi(riha1\qo.corpo:no. i:ncio século que preçcdcu a. l. • ·revolução liberal, oriunda
··1an10.-cJo·_ekro.-como do ,mundo «pmfa,no». Também, mas geralmente· sem intenção critica,
nas Memórias dá·.épOêà (M.arquês·da,Frontcira;_ W.Bcckford, Lichnowsky, ·por exemplo) apa-
. , rcccm a cada passo .altos,:i:!ignitários' da,igreja .quc·residcm na .Corte ou.nas c,asas da própria
.farnilia, dis1anJesidas suas sinccuras - ·-racto ·que é :,:onfirmado ,por-:Fortunato .de Almeida,
na História da-.ig/tja--em.Porrugal. -
Na realidade,a remuneração de um cargo não dependia .da·-rcalização de um conjunto
• ·de funçõés,.i;t;imo'j/1- atrás-foi:dito:· Desde o Concilio de.Trento que- por-direito .canónico era
·.ob~igatór"ió-àquelcs que -sc,destinavara.~o sacerdócio. o garantir uma dotação material à data
doscuingresso. Aqual podia assumir diversas modalidades: a posse--dc·um beneffcio cclesiás-
:1ico (emprego), a de pa/rim.dn/o,(instituldo p_cla fariíllia),_dc pensão,ou ordenado_ (quando era
outrem a asscgurar a sustentação do <Calididato),, ou ainda a subsistência- a' titulo ·de missão
', (o que dispensav:r.o, beneficio ou ,património} - [S. Ca_rnciro e P. Pitta, op cit., ,p.· 102).
• .Fernaildo:dc-'5ousa calcula cm-3617/o.a.,pcrcentagcm de clérigos sem ocupação especifica
.:11a· cidade do·:Pàr,to'no:·inicio,do•~é.culo,x1x, média_ que- ora desce para 30%-ora,atinge os 45%
·n-outr.as eoinarcas :eclcsi.j,s_ticas ·da diocese d_urien}e (in «O. clero na diocese do Porto ao tempo
., das .Cones·'c.onsti_tµintcst>,,Rc.v.is1a-de~Histdria, ,1979,•vol.u,.-p. 256}.
-.•• «de gencrc» - ver nota .14.
,., ·Esta·rclação··é cm.si própria umestudoque tanto quanto sei está por fazer e teve que
fiear:fora do,prés~ntc-trab-álho. Porém as-Jndicaçõcs de múltipla proveniência sobre a origem
,_-·•social· dos..mcmb_rós .de dadas ordens.religiosas ou:dc certos graus e.dignidades (obras singula-
res sobrc·d'if<:rciltcs-·cimgr_çgações, cstudos,.íkámbito gcográfico•diocesano,-pctições, notas bio-
·gráficas, .rc1iradas·dc memói-ias,,almanaqucs·, um outro-livro de profiss·ões,;biografias.c a His•
't'ória--da· lgreja emPortugal de F.deAlmeidanoquc tocaao clero secular} permitem-me avançar
o---scguimc·quadrq, nccessariam_cntc muito·incomplcto ·e porventura' com- erros.
A o'rigcn) soci~l,.do·c1cro sccular-.tr:insmontano, que foi-estudado, é predominantemente
.-a.da-·pçquena··e· média: bµrgucsia sobretud<;>:tural e a burguesia nobililada. ou, mais raramente,
_- a nobreza prov1ri:ciarÚ1;-scmclhantc corrcliição parece estabelecer-se também para a diocese. do
, - -Pano e; ~upóriho que sem grandes diferenças, para o resto do- pais·. Mas, se os lugares melhor
_, remunerados ila hieqirquia·paroquial (abadias e·-priorados, em-que oflitularcs recebiam dlzi-
mos),-como-0S:bcricfli::ios•e•dignidadcs das-Sés.-rccalam cm· fidalgos-da casa real, filhos de mulhc•
, tcs quc assinavamDona, ou dc cemcreiantcs.-.(a maior parte já" familiares de beneficiados da
'.:-Í•~!'r:irquia:c.·1pitu- lar)~.k1!100: _ QililUJ:1(%iorc~.dc vigârios, .curns- e priores ,(pcrccbcn_do,-.ªn.çllll$
. __ J, eeng-~o~n:Fessor~"êgãÕÕres, -eram prcdommantê'ín-cntc:-oeur>ade!rjlOl'-»id,"lduos
\
,-_ • ,l -saido·s de fami!i;is-'com:mcnor .Ca,.ll:!9AA<i~o.n6mica..,com0-r=la.o..fact.o...dc..paae.rlos.t-0nsu.
1:1~ - • , 1!,"011p1'~ililli:õnÕSÍ, no _ano· d~ :!;822:!1~!!\Q_çcsc do ·Pe>rto n:lo. ter recebido ordens
,~2,ras,por-fàO;i·~-e_dot_açào, dc~c~~rma cocr asslm paro o resto-Uns suns·vldru. (Jl. dc Sousa,
Su8's'ldiol"]farirarí1stõrínõêiol 1do,'11rcebispado -de Braga. A Comarca de- :Vi/a - ea/, p. 16
0

.\, e -17. e:·,,o ,cl.c:ro:Ua diqc~sc.dàsPono aó_ rempo. dascCor.te5' Conslituintcs» in Revista de J-Iistd•
_ ·_ ,ria,--1"9_79, vai': u.-.p~-'25(};.253)....Estac.lllil(Ç,~pob~a·dos que-conslitulam os·cscalõcs mais
'{ baixos_doclero_sccular é'. confirmada num.escrito aOôoiom da c!oõéa, scllUl~a...posst\tCI--
, \_\ eí/1~r.roin~ntcxt0-gCQ!!raftt0-,a,.qucAaUtoi:-sc.i:epo~ervaçõespara o Ministério-Paro-
• \k1uàh'.1_8f5, p.'94}.
l _ ' -•-~~!!2l~:2~~r.o, tjlnto regular como secular_. corr~pondendo aos ca.rgQ.U.!!12!<~.•
,__ ·-riorcs·dàs::colcgiadas-:m'ais:,riE~sccapltuleS>-das-catcdrai~c"to~s";da..podccoso
p%4is4ecaries+a
Patcsr«site
_/i$82clsmcntosde oriscmcxtcrior.
1.is0s0..4asordens mo4si@@; - miares,afie@cate
à s catcorias mais importantesda.nobreza.Os arcebispo
c bispos,nomeadamente os das principais dioceses Lisboa,Braga, Porto, Coimbra)perten--•
nos
cem smprc séculos 4
3Y!€?1 altanobrcz, sendo com ccr a.frequêncialhoslegiti-
m05 0u.bastardosdos_rcis_c familiares_muito chegados da famíliarcal,assimcom9.os.,
. inquisidorc-s-mor do Sanlo Ofício. {Almanaclz do Clero dó Patriarcado: biografia dos bispos
de Lisboa; J. M. Amado Mendes, Trás-os-Montes11osfinsdoséculoXYIII. p. 131; J. Pinha-
Janda Gomes,. História da Diocese da Guarda, cap. ·li e m da 2;' ,pane; C. l3drão. D, ·Mana /,
cap. 111; Miguel de Oliveira, PrMlégios do Cabido da Sé Patriarcal de Lisboa, etc.).
Para o dcro regular é possível também encontrar corrcspondência cntrc rupos de on-

lo l(
gregações e camadas da -população. O que não deve fn,cr esquecer, dc111ro de rndac uma ..,
cxisrência de,divcrsas calcgorias de pessoas, desde as mais humildes de donatos ou conversas
-porvcnrura o único grupo ligado às classes produtoras, que, pela origcm·social quer pelos
lrabalhos cm .que eram empregados -, a.de corciros e i,mãos leigos (sem ·ordens clcrtcaisl.
1. e fin. almcnle a·dos clérigos-professos. Donde, a corrclaç-Jo que a seguir ..se apresenta referir-se
ia n ...,.r, .predominantemente a esta última categoria e à base .social cm-que era recrutada - por ser
1, V ~
r ·~~:C.Fa~e imprimia, por assim-.dizcr, a c<imagcm de marcau.da ordc.m na. cslratiíicaçào SOCIJI.

• J<J)/" As maisyrcstigiadas (e mais patrimoniadas) correspondiamao grupo mais anj9 d19 or4€0$_
o +u7aaküicas [Dei0o», .Em[O5,RegrantesdeSai@zoininojc ± parte monástica das ordens
a ',:3 mi litares. Não faltam indicações sobre o rigor seleciwv@@são na colha dos candidatos. cujo
a ai}' $76 aa aossuperiores d caa. Por exemplo, arofiTcccu ao·autor do E,wo-dc Yt,11as
,iás- 1"~,,.J' 'utilizallo por F. Sousaº'(Siios,'aios parãâ Hisrória Social cio Arcebispado de Bfaga) o .ter,sc
era /!', ordenado como secularpor@uc, lhodum-aP!cit o,neto de lavradores aios._nio pôde
lo , l:" inrcssar na ordem _beneditina dado· que «como não era pessoa distinta não foi aceite, pelo
l ,age@ii
@.asi.se5
os csaca arasar
a-raa
ecii,ao a s 7rw ao <w»sano
ca \r,;.- 1},.,,._ 'ld\:'ll~rnardas», a casa rchg1osa mais nobre da c1dadc!.-dcs1mada as «Glbo~
E cm Viana do Castclo,..IllUécu!O-.Xlli,.a4uoclaç-ia ela ca□vcnta ele 5 •flrnLQ.tlfiliL
1 ._],eer moa AS),
jof7-<llcr.as. filhas.dos.cansriante c dc ccrta naabrcza., q ucm a_superiora_doconvcno_de
a
j St,'Ana,.gxistcnte na mesma cidade e recolhimento-das _«filhas d'alKQ1LLt.i;1JSJ1ti\,.gjo&L so )
. .(D. H. J.· P., arugo «Dcncdttmas»). _,.. ,I, ,
JC
1
se
Mas a nobreza também acolhia nas ordens mendicantestalvez som_maior_incidêncií..,
m nos nominanas.mo r.Gatiip ou.'Azo1uil6Calçados, enquantoosFranciscanos cJcr o:; ·,A
,
nimos (com a possível exccpção~~-fQID'fUl.culs..S • i;t._Qf,!l.c!{rn}..luc.crutaxarn.cntrc __1 - _e.,. J: .,;
i.la53em t'diaA.pequena .õbrcza, maior.absrtura
sgm a clemcntos deoriscm naio nobre.. ".
7. • •. • \\t!.
o-
.is- 2cgueoa b.urgucsia acrcs. anal e os-pequenos proprietários rurais, .na maioria dosca99» yiycdo. +-
ar ao produto do scu trabalho diário, constituiria a· camada-predominante. cm que .cranr rccr~l'!:. · J
\. • • • ~-, ,2,0,(~~.]'51.:.L\lÜl!.!l.QUStgllndo E. dos Santos, 176) n. e; peno cu, oquadro iaivc não fosse
,te /' para
• muito diferente as muitas congregações novas dos séculos Ta#no») %"H!(ami;
,e, O r,·,, r)-.., l.Ql,-Erulr,çuk.,M~,ào e ivlnnan'l5:sJ,~~n·da•dC"'l'ãcrtl:!l'l:nc-:póilc.adialttar cm relação oos .
jn o -mendi gantes.r:( ma0491.."3i!o·99.fwl0».81·.(C3mm"ita·Descalços. A«os@nto»
or 4' Desalos, novasob&diérci@5 ffãnéíscai$);o quadro, mesmo cnsandosenasas consrca-
ti- çõcs mais numerosas· está, como se vê, ·longe de ficar ,completo. E o- vocabulário -social útili,-
,zado foi retirado dos autores lidos, que·mc pareceu mais aconselh~vcl, n:1o obstante os p!oblc·-
mas que possa lcvanlar, do que-tcntar,uma· «conversão» na ·ausência -das ,fontes,
(Os dndos.utilimdos,para.ns ordens religiosas, ,dcseontnndo ns,inúmc.ras réfcrcndas bio-
• ·os gnHicns que se ol>têm um pouco por· toda n bibliografin rcfcrcntcuo Antigo kciuue, forau
;u, principalmente recolhidas no Dicionário de História da Igreja cm Pu,111gut,,artigos ,.,\~osti•
nhos», «Beneditinas»; «Bens -Ordens religiosas: carmelitas, cartuxos,.dominicanosJrancis-
líl,
·cnnos,,hospillllciro!, jcrónimos, lazaristns, loios c·-tentinosu ..Fo1ali1 tnmhcm importamc, o,
16 . scguinlcs lrabalhos, -MemórlanJa· Vida de José Liberato Freire de Ca, vulho (sobre Cúucgos
tó- Regrantes); Os Jerónimos em Portugal de Cfindido dos Santos (sobre Jerónimos): O Orátório
no Norte de Port11gal·de Eugénio.dos 'Santos (sobre Oratorianos), c«A Recoleta de Tamel
cos Estatutos de 1695», de A. S. Araújo, in llurcel/os Revistu, vol..11, 11,º l, 19114 (sobre Fr:111-
.ro- ciscanos)] .
41
Eis como o assunto se apresentava claramente, cm documentos onde não se questiona
a legitimidade de scmclhanle. privação:
«A casa religiosa mnis nobre dcsln -cid:nlr.' e. de toUo o reino do AIJ(!lrvr, ;1011dc- conror•
·nle riam a clausurar-se (...) as filhas dos ho.mcns de bem,; que tendo suas famllias cstabckciua,
o com sucessão dedicavam ao Senhor aquelas esposas como·dcccntc ·e mais ·própri.o para preser-
var este.sexo das conlradiçõcs-do ·século» (A. N, T. T. min. da ,Justiça, ·maço 285, Petição
..·da.Câmara de Tavira contra a cxlinção-do Mosteiro dc-Bcrnardas daqu-cla localidade; cit: por
li-
·Horta Corrcia•in op, cit., p. 83, nota 2).
·.,,/\\cm dcs1as.ra1.ões a-,reu.nü-ncia·.dos bcns·.lcmpo,rais q_ue e·stá ·unida à Profissão é causa
';prcd,;i pari!. rq1,ularo·s-in1cfcsscs JJ-as-·.íamilias: dcsla :renúncia depende algumas vezes o matri-
móniode outrofilho, algumas vczcs odotedc uma irmã». (Reflexões Christan epolíticas
sobre o estadoreligioso, obra franccsa traduzidapara portuguêsno final do século XVI quc
H. Correiaanalisa como exemplodedefesa das ord_cns regulares-: .op;_cit., p,.· 9·8 a.\100 e nota
.·· • 2'.;dcsla:.p;\gina). •

........
Portugal e Espanha: Integração e ruptura.
Os caminhos-de-ferro (1850-1890)

r-
Magda Pinheiro 0
e

«Sans lc-tremblcmcnt de -lerrc el le fatal «O pais pela sua situação geográfica, na


protcc1ora1 dd'Anglctcrrc, qui a si longtemps .estrutura do continente europeu; não assume
paralysé ct paralysera'longlemps encare peu1- aquclc papel de cntrcposto dc transito de
-ê1rc, ,!'industrie ponugaisc, ·Lisbonnc aurail 'placa giratória do 1rá!ego,in1cmacional' como
-alleint un h.au1 degré de prospérité. Sa posi- .' é apodada.a Suíça e como cm época normal,
tion cmmincmcnt· favorable au ·eommc,cc a Bélgica c cm menor cscala a própria
maritime, ct la bcauté de son port, doivent IÔI França.»
ou tard rcndrc cclui-ci l'un des premiers du ,F. Lapa, Aspccros ,económicos de um pro-
mondc.» blema nacional. Transportes terrestres con-
Magazin Universel, tome Z, Paris ,1834/35, corr.éncia e.coordenação, Lisboa, '19.46, p .. 47.
p. 161.

Estas.duas frases separadas por mais de um século exprimem realidades


•aparentemente.objcctivas e·imutávcis. A evolução das ideias domi·nantcs-põc
múitas vezes entre o historiador e o pensamento.produzido no.scio.daS"Socic-
dades que estuda barreiras dificilmente transponíveis.
A «Intelligentsia»· portuguesa do inicio dadcgunda mc"tadc do
,século XIX, ·alimentada pela economia pÓliticá liberal cpor uma maravilhosa
•· adesão ao .progresso tecnológico - :progresso tão palpável nos transportes
ferroviários - acreditava.que os caminhos-de-ferro proporcionariam ao país
as condições de uma melhor integração internacional e· ibérica. Para cla o
potencial transformador. dos caminhos-dc-ferro não se limitava ao espaço
nacional. Pelo contrárioos seus olhos viravam-se primeiro para as ligações
internacionais.
A ilusão só existe a,posteriori e não estava circunscrita a um circulo de
.políticos fátuos e incultos. Era uma ilusãopartilhada·por estrangeiros e acen-
tuada cm artigos e livros escritos sobre Portugal. A transformação dessa
ideia cm ilusão· tcm·uma história que tentaremos tornar prcsc.htc na· primeira

■.MAGDA Pll"lHEIRO - e. E. 'li. e. P. - 1. s. e. T. E.


Capítulo de uma tcsc·.de doutoramento dcfendida cm Janciro de 1987 na •Universidade
de Paris I.

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