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Jerônimo (português brasileiro) ou Jerónimo (português europeu), nascido Eusébio Sofrônio Jerônimo (em latim: Eusebius Sophronius Hieronymus;
em grego: Εὐσέβιος Σωφρόνιος Ἱερώνυμος) e também conhecido como Jerônimo de Estridão (Estridão, c. 347 – Belém, 30 de setembro
de 420), foi um sacerdote cristão ilírio,[1] destacado como teólogo, historiador e confessor, e considerado santo e Doutor da Igreja pela
Igreja Católica. Filho de Eusébio, da cidade de Estridão, na fronteira entre a Dalmácia e a Panônia, é mais conhecido por sua tradução da
Bíblia para o latim (conhecida como Vulgata) e por seus comentários sobre o Evangelho dos Hebreus, mas sua lista de obras é extensa.[2]
Biografia
Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu na cidade de Estridão, na província romana da Dalmácia, por volta de 347,[5] mas só foi batizado entre
360 e 366, quando viajou para Roma com seu amigo Bonoso – que pode ou não ser o mesmo Bonoso que Jerônimo identifica como sendo
seu companheiro quando foi viver como eremita numa ilha no Adriático – para continuar seus estudos sobre retórica e filosofia. Lá,
Jerônimo estudou gramática latina e um pouco de grego[6] com o gramático Élio Donato, embora não tenha adquirido a proficiência na
língua grega que, anos depois, alegaria ter obtido como estudante.[7] Jerônimo, tendo nascido em uma região do Império com forte
presença romana desde 165 a.C., quando da derrota do último rei da Ilíria, Gêncio, e já completamente latinizada no século IV d.C.,[8] teria
falado latim como língua materna.
Ainda como estudante em Roma, Jerônimo se envolveu no comportamento errático dos colegas mais despreocupados, o que lhe
provocava depois terríveis ataques de arrependimento. Para apaziguar a consciência, visitava aos domingos as sepulturas dos mártires e
dos apóstolos nas catacumbas, uma experiência que lhe lembrava dos terrores do inferno:
“ Frequentemente me encontrava ” São Jerônimo
entrando naquelas profundas
criptas escavadas na terra, com
suas paredes de ambos os lados
preenchidas com os corpos dos
mortos, onde tudo era tão escuro
que parecia quase como se as
palavras do salmista tivessem se
realizado: «Desçam vivos ao
São Jerônimo, de
Cheol» (Salmos 55:15). Aqui e ali, Francisco de
a luz, não vinda de janelas, mas Zurbarán (c. 1640)
descendo através das valas, Eremita; Confessor;
aliviava o horror da escuridão. Doutor da Igreja
Mas novamente, tão logo você se Nascimento c. 347
via caminhando cuidadosamente Estridão
adiante, a noite escura se (provave
fechava a sua volta e vinha-me à Strido
Jerônimo então recebeu diversos encargos em Roma e realizou ali uma revisão da Bíblia
(cristianismo
Latina (Vetus Latina) baseando-se em manuscritos gregos do Novo Testamento. Ele
também atualizou o saltério contendo o "Livro dos Salmos" que era na época utilizado
ocidental)
em Roma baseando-se na Septuaginta grega. Embora não tenha ficado claro para ele na
ocasião, a tradução de muito do que depois se tornaria a Vulgata latina demoraria ainda
15 de Junho
muitos anos e tornar-se-ia seu mais importante legado (vide abaixo).
(cristianismo
Em Roma, Jerônimo estava rodeado por um círculo de mulheres bem-nascidas e bem-
educadas, incluindo algumas oriundas das mais nobres famílias patrícias romanas, como oriental)
as viúvas Leia, Marcela e Paula, com suas filhas Blesila e Eustóquia. Como resultado da
crescente inclinação destas mulheres pela vida monástica, da indulgente lascividade que
imperava em Roma e mais a crítica feroz de Jerônimo ao clero secular, que não poupava
Atribuições Leão;
ninguém, logo irrompeu um conflito contra o clero romano e seus aliados. Depois da
morte de Dâmaso, seu patrono (10 de dezembro de 384), Jerônimo foi forçado a abdicar
hábito
de suas funções em Roma quando um inquérito foi aberto pelos seus inimigos para
investigar uma suposta relação inapropriada entre ele e Paula.
cardinalíc
cruz;
Além disso, sua condenação ao estilo de vida hedonista de Blesila levou-a a adotar
práticas ascetas que acabaram afetando sua saúde e a tornaram tão fraca fisicamente caveira;
que ela morreu apenas quatro meses depois de começar a seguir suas instruções. A
maior parte da população romana ficou enfurecida com Jerônimo, acusando-o de causar
trombeta
a morte prematura de uma jovem tão altiva. Para piorar, sua insistência de que Paula não
deveria lamentar a morte dela e suas reclamações de que o luto por ela era excessivo
coruja;
foram vistos como cruéis e polarizaram ainda mais a opinião pública contra ele.[15]
livros e
material
escrita
Padroeiro Arqueólogo
arquivistas
estudiosos
da Bíblia,
bibliotecár
crianças em
Jerônimo com Santa Paula e sua filha Eustóquia,
duas de suas principais devotas. Uma rica viúva, idade esco
Paula deu condições para que Jerônimo pudesse
estudantes
viver sem preocupações financeiras e se dedicasse
aos estudos. Ela seguiu-o depois para Belém e
morreu com ele na Terra Santa.
1638-1640. Por Francisco de Zurbarán, atualmente na Galeria
Nacional de Arte.
tradutores
Em agosto de 385, Jerônimo abandonou Roma definitivamente e voltou para Antioquia
Portal dos Santos
com seu irmão Pauliniano e diversos amigos; logo depois vieram Paula e Eustóquia,
decididas a terminar suas vidas na Terra Santa. No inverno do mesmo ano, Jerônimo
viajou com elas na função de conselheiro espiritual. O grupo, acompanhado do bispo
Paulino de Antioquia, peregrinou por Jerusalém, Belém e os lugares santos da Galileia antes de seguir para o Egito, onde viviam os heróis
da vida asceta, os monges do deserto.
Na Escola Catequética de Alexandria, Jerônimo ouviu Dídimo, o Cego, ensinar sobre o profeta Oseias e contar o que se lembrava de Santo
Antão, que morrera trinta anos antes. Depois, passou algum tempo na Nítria admirando a disciplinada vida comunitária dos numerosos
habitantes da "cidade do Senhor", percebendo que, mesmo ali, "serpentes escondidas", ou seja, a influência do polêmico teólogo alexandrino
Orígenes. No final do verão de 388, voltou para a Terra Santa e passou o resto de sua vida numa cela eremítica perto de Belém rodeado por
uns poucos amigos, homens e mulheres (incluindo Santa Paula e Eustóquia), a quem ele atendia como sacerdote e professor.
Com recursos financeiros suficientes providenciados pela rica Paula, que investia também em aumentar sua biblioteca, Jerônimo passou a
levar uma vida de incessante produção literária. A estes últimos trinta e quatro anos de sua carreira pertencem suas mais importantes
obras; sua versão do Antigo Testamento traduzida do original hebraico, o melhor de seus comentários sobre as Escrituras, seu catálogo de
autores cristãos (De Viris Illustribus) e o seu diálogo contra os pelagianos, de perfeição reconhecida até pelos seus adversários. A este
período também pertence a maior parte de suas polêmicas, obras que o distinguem dos demais Padres da Igreja da época, incluindo
tratados contra o origenismo (crença que seria depois anatemizada) do bispo João II de Jerusalém e de seu antigo amigo Rufino.
Em 416, como consequência de suas obras contra o pelagianismo, partidários inflamados da crença invadiram os edifícios monásticos
perto de onde vivia, atearam-lhes fogo, atacaram os moradores e mataram um diácono, forçando Jerônimo a se refugiar numa fortaleza
nas imediações.
Jerônimo morreu perto de Belém em 30 de setembro de 420, uma data que aparece na "Crônica" de Próspero da Aquitânia. Diz-se que seus
restos, originalmente enterrados em Belém, foram trasladados para a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, embora outros locais no
ocidente também reivindiquem a posse de alguma relíquia relacionada ao santo.
Traduções e comentários
Jerônimo foi um acadêmico numa época que o título implicava fluência em grego, mas ele sabia também alguma coisa de hebraico
quando começou seu projeto de tradução. Para reforçar seus conhecimentos, mudou-se para Jerusalém estudando os comentários
judaicos sobre as Escrituras. Paula, a rica aristocrata romana que era uma de suas seguidoras, financiou sua estadia num mosteiro em
Belém onde ele pôde concluir sua tradução. O trabalho começou em 382, com a correção da versão latina do Novo Testamento utilizada na
época, a Vetus Latina. Em 390, iniciou a tradução da Bíblia Hebraica a partir do original, tendo já traduzido algumas partes utilizando a
Septuaginta grega originária de Alexandria. Jerônimo acreditava que o Concílio de Jâmnia — da corrente principal do judaísmo rabínico —
havia rejeitado a Septuaginta como versão válida das Escrituras judaicas por conta do que ele aferiu serem erros de tradução e elementos
heréticos helenísticos.[16][17] O trabalho terminou em 405.
Antes da Vulgata de Jerônimo, todas as traduções do Antigo Testamento eram baseadas na Septuaginta e não na Bíblia Hebraica. Porém, a
decisão de utilizar esta ao invés daquela, que era também uma tradução do hebraico, como fonte foi contrária às recomendações da
maioria dos cristãos de seu tempo, incluindo Santo Agostinho, que considerava a Septuaginta inspirada. O consenso acadêmico moderno,
porém, tem lançado dúvidas sobre o quanto Jerônimo de fato conhecia de hebraico e muitos acreditam que, na realidade, a "Hexapla" grega
teria sido a principal fonte para a tradução "iuxta Hebraeos" de Jerônimo do Antigo Testamento.[18]
Seus comentários patrísticos se alinham de forma muito próxima à tradição judaica e ele se entrega às sutilezas alegóricas e místicas no
estilo de Fílon e da "Escola de Alexandria". Ao contrário de seus contemporâneos, Jerônimo enfatizava a diferença entre os apócrifos da
Bíblia Hebraica e os livros protocanônicos da Hebraica veritas ("verdadeira [Bíblia] Hebraica"). Evidências disso aparecem em suas
introduções para os apócrifos salomônicos (como os "Salmos de Salomão") e os livros de Tobias e Judite. Mais notável, porém, é sua
afirmação na introdução de seu comentário aos Livros de Samuel:
Obras
Importante também foi sua "De Viris Illustribus", escrita em Belém em 392, com título e arranjo emprestados da "Vida dos Doze Césares" de
Suetônio. Ela contém breves notas biográficas e lista de obras de 135 autores cristãos, de São Pedro até o próprio Jerônimo. Para os
primeiros setenta e oito, a "História Eclesiástica" de Eusébio é a fonte principal; no segundo grupo, começando com Arnóbio e Lactâncio,
Jerônimo incluiu uma boa quantidade de informações independentes, especialmente para os autores ocidentais.
Epístolas
As epístolas de Jerônimo formam uma importante porção do que restou de suas obras literárias, tanto pela enorme variedade de temas
quanto pela qualidade estilística. Independente de estar discutindo os problemas do ensino acadêmico ou argumentando em casos de
consciência, reconfortando os aflitos ou apenas fazendo elogios aos amigos, atacando os vícios e corrupções de sua época ou a
imoralidade sexual no clero,[20] exortando à vida asceta e a renúncia do mundo ou se digladiando com seus adversários, Jerônimo
apresenta uma imagem vívida não apenas de sua mente, mas de sua época com características peculiares. Como não existia naquele
tempo uma distinção entre documentos pessoais e públicos, frequentemente encontramos em suas cartas tanto confidências pessoais
quanto tratados direcionados a terceiros lado a lado.[21]
As mais frequentemente republicadas ou citadas são as exortativas, como "Ad Heliodorum de laude vitae solitariae" (Ep. 14), "Ad Eustochium
de custodia virginitatis" (Ep. 22), "Ad Nepotianum de vita clericorum et monachorum" (Ep. 52), uma espécie de epítome de teologia pastoral
do ponto de vista ascético, "Ad Paulinum de studio scripturarum" (Ep. 53), de mesmo objetivo, De institutione monachi (Ep. 57), "Ad Magnum
de scriptoribus ecclesiasticis" (Ep. 70) e "Ad Laetam de institutione filiae" (Ep. 107).
Obras teológicas
Praticamente todas as obras de Jerônimo no campo do dogma tem um caráter polêmico de tom mais ou menos veemente, direcionadas
principalmente contra os defensores de doutrinas contrárias às ortodoxas. Até mesmo a tradução de um tratado de Dídimo, o Cego, sobre
o Espírito Santo para o latim (iniciada em Roma em 384 e completada em Belém) revela uma tendência apologética contra os arianos e os
pneumatomachoi. O mesmo vale para sua versão para "De principiis", de Orígenes (ca. 399), cujo objetivo era sobrepujar a tradução
incorreta de Rufino. Obras mais polêmicas, stricto sensu, foram escritas em todos os períodos de sua vida, em diferentes contextos.
Durante suas passagens por Constantinopla e Antioquia, por exemplo, Jerônimo estava mais preocupado com a controvérsia ariana e,
especialmente, com o cisma em Antioquia protagonizado por Melécio de Antioquia e Lúcifer Calaritano. Duas cartas ao papa Dâmaso (Ep.
15 & 16) trazem reclamações a ambos os partidos em disputa, os melecianos e os paulinianos, que tentavam atraí-lo para a controvérsia
sobre a relação entre Deus Pai e Deus Filho na Trindade e, mais especificamente, à aplicação de termos como ousia (substância) e
hipóstase a esta relação. Na mesma época ou pouco depois (373), ele compôs sua "Liber Contra Luciferianos", na qual ele utiliza o diálogo
de forma bastante inteligente para combater os princípios da facção dos calaritanos, principalmente sua rejeição ao batismo realizado por
heréticos (uma tese de cunho donatista, já rejeitada antes).
Em Roma (por volta de 383), Jerônimo escreveu uma apaixonada resposta aos ensinamentos de Helvídio defendendo a doutrina da
virgindade perpétua de Maria e da superioridade da castidade sobre o matrimônio. Um adversário de natureza similar foi Joviniano, com
quem debateu em 392 ("Adversus Jovinianum" e a defesa desta obra endereçada ao seu amigo Pamáquio - Ep. 48). Em 406, uma vez mais
Jerônimo defendeu as práticas piedosas cristãs e sua própria ética asceta contra o presbítero gaulês Vigilâncio, que era contrário à
veneração dos mártires e das relíquias, ao voto de pobreza e ao celibato clerical. Em paralelo, participou ainda da controvérsia com João II
de Jerusalém e Rufino sobre a ortodoxia do origenismo. A este período pertencem algumas de suas mais apaixonadas e completas obras
polêmicas: a "Contra Joannem Hierosolymitanum" (398 ou 399); duas obras intimamente relacionadas, "Apologiae contra Rufinum" (402) e
sua "última palavra", escrita poucos meses depois, "Liber tertius seu ultima responsio adversus scripta Rufini".
A última obra polêmica de Jerônimo foi sua "Dialogus contra Pelagianos" (415), contra a heresia do pelagianismo.
Legado
Jerônimo é o segundo autor mais prolífico do cristianismo antigo tardio (depois de Santo Agostinho). Na Igreja Católica, ele é reconhecido
como santo padroeiro dos tradutores, bibliotecários e enciclopedistas.[22]
Arte
Na arte, Jerônimo geralmente aparece representado como um dos quatro doutores latinos, juntamente com Santo Agostinho, Santo
Ambrósio e São Gregório Magno. Como um membro proeminente do clero romano, ele foi muitas vezes representado —
anacronisticamente — com o hábito vermelho de cardeal. Mesmo quando ele aparece representado como um anacoreta semi-nu, com a
cruz, a caveira (símbolo da mortalidade) e a Bíblia como únicas mobílias de sua cela, o chapéu cardinalício ou outro indicativo de sua
posição de cardeal aparece, via de regra, em algum lugar da obra.
Jerônimo é também geralmente representado na companhia de um leão, uma referência a uma conhecida lenda de como ele teria domado
um leão ao curar um ferimento em sua pata. A origem da história, quase idêntica à contada sobre São Gerásimo, foi possivelmente uma
confusão entre os nomes em latim dos dois santos, "Gerasimus" e "Geronimus".[a][b] Hagiografias de Jerônimo contam que ele passou
muitos anos nos desertos da Síria romana e diversos artistas intitularam suas obras "São Jerônimo no Deserto", entre eles Pietro Perugino
e Lambert Sustris.[23]
Ele é por vezes também representado com uma coruja, o símbolo da sabedoria e da erudição.[24] Finalmente, a iconografia de São
Jerônimo inclui ainda materiais de escrita (pena, tinteiro, papel etc.) e a trombeta do Juízo Final.[24]
Ver também
Traduções da Bíblia
Ordem de São Jerônimo
Notas
[a] ^ Eugene Rice sugeriu que, com toda certeza, a história do leão
de Gerásimo se ligou a Jerônimo em algum momento no
século VII, depois que as invasões militares árabes forçaram
muitos monges gregos que viviam nos desertos do Oriente Médio
a buscarem refúgio em Roma. Rice conjectura[25] que, "por causa
da similaridade entre os nomes 'Gerasimus' e 'Geronimus', este o
nome latino de Jerônimo, um sacerdote também latino tornou São
Jerônimo o herói da história que ele havia ouvido sobre São
Gerásimo; e que o autor da 'Plerosque nimirum', atraído por uma
história ao mesmo tempo tão pitoresca, tão aparentemente
apropriada e tão ressonante em significado e sugestionamento; e
sob a impressão de que ela teria origem em histórias que peregrinos
teriam ouvido em Belém, incluiu-a em sua 'vida' de um santo favorito
que, não fosse assim, não realizara milagres".[26]
[b] ^ Uma reminiscência desta história pode ser encontrada na
"Legenda Áurea" (século XIII), de Jacobus de Voragine[27]
Referências
Bibliografia
Ligações externas
Controle de autoridade
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title=Jerônimo&oldid=67609525"
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2024. •
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