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TÉCNICAS DE RECONSTRUÇÃO PARA DEFEITOS CUTÂNEOS EM REGIÃO DE COTOVELO DE


PEQUENOS ANIMAIS -REVISÃO DE LITERATURA Reconstruction techniques for skin defects in the
elbow region of s...

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4 authors, including:

Bruno dos Santos Gusmão Nazilton Reis Filho


Universidade Estadual de Londrina São Paulo State University
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investigação, 18(1): 25-34, 2019
investigação, 18(1): 25-34, 2019
REVISÃO DE LITERATURA

TÉCNICAS DE RECONSTRUÇÃO PARA DEFEITOS


CUTÂNEOS EM REGIÃO DE COTOVELO DE
PEQUENOS ANIMAIS – REVISÃO DE LITERATURA

Reconstruction techniques for skin defects in the elbow region of small


animals – Literature Review

¹Graduando em Medicina Veterinária nas Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO), São Paulo, Brasil. E-mail: brunosantosgus-
Bruno dos S. Gusmão¹*, Caio Xavier de O. Verdelone², Andrigo B. De Nardi³, Nazilton de P. Reis Filho4 mao@gmail.com
²Médico Veterinário Autônomo, São Paulo, Brasil.
³Professor Doutor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da Universidade Estadual Paulista, Campus Jaboticabal, São
Paulo, Brasil.
4Doutorando em Cirurgia Veterinária – UNESP/Jaboticabal, Professor Mestre do Departamento de Clínica, Cirurgia e Oncologia
Veterinária nas Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO), São Paulo, Brasil.

RESUMO ABSTRACT
Lesões cutâneas e subcutâneas em pequenos animais são frequentes na rotina clínica cirúrgica. Afecções como o Cutaneous and subcutaneous lesions in small animals are common in the surgical clinic routine. Affections
higroma, neoplasias cutâneas e subcutâneas ou lesões traumáticas ocorrem com frequência na região do cotovelo such as a hygroma, subcutaneous and cutaneous neoplasms or traumatic injuries are frequent in elbow because of
devido às particularidades dessa região. Além disso, muitas vezes não é possível o fechamento primário da ferida some particularities of this body region. Often, it is not possible to close the wound primarily, being indicated the
cirúrgica, tendo indicação o emprego de cirurgia reconstrutiva. As técnicas de reconstrução mais utilizadas incluem use of reconstructive surgery. The most commonly used reconstruction techniques include flaps of axial pattern of
o retalho de padrão axial da artéria toracodorsal, da artéria torácica lateral e da artéria braquial superficial e retalho the thoracodorsal artery, lateral thoracic artery, superficial brachial artery, and subdermal patch of the axillary fold.
em padrão subdérmico da prega axilar. As principais complicações relatadas pelo uso dessas técnicas são necrose The main complications reported are distal necrosis of the flap, hematoma and seroma. However, although the few
distal do retalho, hematoma e formação de seroma. Entretanto, apesar do baixo número de trabalhos relatados na numbers of papers described, they show satisfactory results with the use of these flaps. The present study aims to
literatura, estes demonstram resultados satisfatórios com a utilização destes retalhos. O presente trabalho tem como describe different elbow reconstruction techniques options in order to assist the surgeon at the time of surgical
objetivo descrever as diferentes técnicas reconstrutivas de cotovelo e suas particularidades, de forma a auxiliar o planning.
cirurgião no momento do planejamento cirúrgico.
Keywords: cat, dog, humerus-radio-ulnar joint, reconstructive surgery, skin flaps
Palavras-chave: articulação úmero-rádio-ulnar, cão, cirurgia reconstrutiva, gato, retalhos cutâneos

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INTRODUÇÂO
As lesões cutâneas representam alta incidência cirúrgica na Medicina Veterinária, epicôndilo medial, epífise do úmero e do processo proximal anconeal, apesar deste último
podendo ser de etiologia traumática, neoplásica, secundárias a procedimentos cirúrgicos ou ser um centro de ossificação que pode ser considerado secundário em todas as raças. Outro
por anomalias congênitas. Muitas vezes, as lesões são extensas, o que dificulta o fechamento fator é a baixa cobertura muscular da região, que favorece lesões traumáticas, principalmente
primário da ferida. Nessas situações deve ser considerado o uso de técnicas reconstrutivas pelo frequente contato com solo (CASTRO et al. 2015; PAVLETIC, 2018).
(DAL PIETRO et al. 2013).
A cirurgia reconstrutiva envolve técnicas de reconstrução tecidual, como os retalhos de
Higroma
padrão axial ou subdérmicos, enxertos, fechamento em figura geométrica, suturas de alívio de
tensão ou incisões de relaxamento. Atualmente, existem diversas técnicas disponíveis, sendo O higroma é caracterizado por um aumento de volume preenchido por líquido
a escolha baseada em fatores como o local da lesão, elasticidade tecidual da região acometida, seroso (Figura 1). Sua etiologia está relacionada com lesões crônicas em tecidos moles que
suporte sanguíneo local, qualidade do leito doador e receptor, e experiência do cirurgião recobrem protuberâncias ósseas. Normalmente estão localizadas sobre o olécrano, calcâneo,
(MACPHAIL, 2014; PAVLETIC, 2018). tuberosidade isquiática, trocanter maior, carpo e crista nucal. Geralmente acomete cães
jovens, de raças de porte grande (PAVLETIC, 2007).
A região do cotovelo é uma articulação de grande mobilidade e realiza principalmente
movimentos de extensão e flexão, fundamental para a biomecânica do membro torácico (DYCE, Na região do cotovelo os higromas podem apresentar variados tamanhos, conforme
2004). Diversas afecções cutâneas e subcutâneas podem acometer esta região incluindo o a cronicidade, maior será o tamanho e espessura da pele que o recobre. Geralmente, são
higroma, neoplasias cutâneas entre outras lesões como lacerações e queimaduras (MACPHAIL, indolores e estéreis, porém, podem ser contaminados de forma iatrogênica, principalmente
2014). Lesões na região do cotovelo podem gerar desafios em seu tratamento, principalmente na tentativa de drenagem do conteúdo (MACPHAIL, 2014). O tratamento clínico pode ser
por ser uma área de mobilidade intensa, recidivas são frequentes mesmo após o manejo útil no início da doença, entretanto, frequentemente ocorre recidiva, sendo necessária
clínico-cirúrgico adequado. Consequentemente, as feridas cirúrgicas quando extensas são a abordagem cirúrgica (JOHNSTON, 1975). No trabalho realizado por Green et al. 2008,
tratadas por meio de técnicas reconstrutivas (TRINDADE, 2009). Contudo, ainda há poucos um canino, apresentando massa flutuante recidivante medindo 20 x 17 cm em região
relatos na literatura sobre as principais técnicas de reconstrução que podem ser utilizadas no de cotovelo, foi submetido ao tratamento cirúrgico. Foi realizado a excisão cirúrgica do
tratamento de lesões na região do cotovelo. Dessa forma, o escopo do presente trabalho é higroma, enxerto do músculo reto abdominal, enxerto em malha e estabilização articular
descrever as opções de técnicas reconstrutivas de cotovelo e suas particularidades, de forma com fixador externo transarticular tipo IA. O enxerto do músculo reto abdominal forneceu
a auxiliar o cirurgião na eleição da técnica de maior eficiência caso-específico e planejamento proteção e boa vascularização na região, o enxerto em malha da região lateral de tórax
cirúrgico. permitiu o fechamento da pele e a estabilização articular permitiu a restrição do movimento
favorecendo o processo cicatricial. A técnica empregada demonstrou resultado satisfatório
em um caso de higroma recidivante ao tratamento clínico.
REVISÃO DE LITERATURA
PRINCIPAIS AFECÇÕES CUTÂNEAS NA REGIÃO DO COTOVELO
A região do cotovelo é complexa e a realização de intervenções cirúrgicas pode ocasionar
complicações, pois é estruturada a partir de cinco cernes de ossificação: côndilo medial e lateral,
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sendo as mais frequentes: mastocitoma, carcinomas de células escamosas, melanomas, sarcomas de tecidos moles (STM),
tumores de queratinócitos, papiloma escamoso e viral, acantoma infundibular ceratinizante, pólipo fibroepitelial e neoplasias
ósseas de menor incidência (GRANDI e RONDELLI, 2016).
Em relação às neoplasias que acometem a região do cotovelo, destacam-se os lipomas e STM, dentre estes, com maior
frequência o neurofibrossarcoma (DAZZI et al. 2012; FERREIRA et al. 2017; SCALZILLI et al. 2017). Estes tumores envolvem um
grupo de neoplasias mesenquimais, com comportamento clínico semelhante, podendo ser provenientes do tecido adiposo,
conjuntivo, neurovascular, muscular e fibroso. O tratamento cirúrgico é o de eleição para os STM, devendo respeitar as
margens de segurança adequadas (2 a 3 cm ao redor do tumor e um plano tecidual de profundidade) (JARK, 2016). Entretanto,
comumente é necessário o uso de técnicas reconstrutivas para remoção tumoral e obtenção dessas margens (DAZZI et al.
2012).
Matera et al. (1998), relataram 6 casos de hemangiopericitoma com acometimento da região perineal (1/6) e membros
(5/6), sendo que um destes acometia a articulação úmero-rádio-ulnar. O tratamento empregado foi à excisão cirúrgica com
margens de 1 a 2 cm ao redor e reconstrução do defeito com flape de transposição para síntese da ferida cirúrgica. Castro et
al. (2012) obtiveram resultados satisfatórios após excisão cirúrgica de hemangiopericitoma em região de cotovelo, utilizando
margens de 2 cm, reconstrução do defeito com retalho de padrão axial da artéria toracodorsal e tratamento quimioterápico
pós-operatório. Os autores não observaram recidiva em até 24 meses após a intervenção cirúrgica. Dalmolin et al. (2013),
realizaram a exérese de histiocitoma em região de cotovelo, os autores utilizaram margens de segurança de 1 cm e reconstrução
do defeito com retalho de padrão axial da artéria toracodorsal.

Trauma
Feridas na região do cotovelo podem ocorrer por diversas causas como mordeduras, trauma automobilístico, lesões
perfurocortantes ou queimaduras. Para o manejo adequado é importante classificar estas feridas de acordo com a fase de
Fígura 1 – Higroma recidivante em cotovelo de um cão (seta vermelha). cicatrização (inflamatória, desbridamento, reparo ou maturação); grau de contaminação e origem (abrasão, laceração, avulsão,
perfuração, esmagamento ou queimadura). Permitindo o planejamento terapêutico mais adequado (TRINDADE, 2009).
Fonte: Arquivo Pessoal.
No trabalho realizado por Mota et al. (2012), relatou seis casos em cães de feridas traumáticas em membros. Sendo
cinco casos por trauma automobilístico e um deiscência de sutura. Em dois casos, foram descritas lesões lacero-contusas na
Neoplasias região da articulação úmero-rádio-ulnar, sendo utilizado retalho de avanço unilateral e retalho de transposição. Os autores
inferiram que é viável a utilização de retalhos de padrão subdérmico para reconstrução de feridas cutâneas traumáticas em
As neoplasias cutâneas e subcutâneas em cães possuem alta incidência.
membros, levando em consideração a extensão e geometria da ferida para escolha da técnica reconstrutiva.
Qualquer tipo de neoplasia cutânea pode acometer a região do cotovelo,

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TÉCNICAS RECONSTRUTIVAS PARA DEFEITOS NA REGIÃO DO COTOVELO


duas vezes a distância entre o acrômio e a depressão escapular caudal (incisão caudal) (Figura
3-A). Estender as linhas dorsalmente ao longo da linha média dorsal. Fazer a incisão do retalho
previamente demarcado por uma caneta dermográfica (Figura 3-B), seguida pela divulsão
Retalho de padrão axial da artéria toracodorsal
profunda do músculo cutâneo do tronco (Figura 3-C) e pela transposição do retalho sobre a
O retalho de padrão axial da artéria toracodorsal é utilizado para cobrir defeitos ferida (Figura 3-D) (MACPHAIL, 2014).
envolvendo o ombro, membro torácico, axila, tórax e cotovelo, como representado na Figura
2 (MACPHAIL, 2014). Este retalho é baseado no ramo cutâneo da artéria e veia toracodorsal
que se localizam próximo ao bordo dorsal do acrômio e ramificam-se dorsalmente através do
bordo caudal da escápula. É importante ressaltar que os retalhos podem ser prolongados além
da articulação escápulo-umeral contralateral, em formato de “taco de baseball” (LEONATTI e
TOBIAS, 2004; PAVLETIC, 2018).

Figura 2 – Representação esquemática das áreas de alcance do retalho de padrão axial Figura 3 –Demonstração da técnica reconstrutiva de retalho de padrão axial da artéria
toracodorsal (coloração vermelha) em cão. A) Vista lateral direita, áreas de alcance do retalho toracodorsal para recobrimento de defeitos na região do cotovelo. A) Demarcação da região
(cor vermelha dentro do contorno preto). B) Vista dorsal, representando áreas de alcance do doadora com auxílio de caneta dermográfica, demonstrada pelas marcações em azul. B) Incisão
retalho (cor vermelha dentro do contorno preto) e prolongamento dorsal do retalho (linha da região doadora do retalho. C) Elevação do retalho após divulsão e identificação do ramo da
pontilhada). C) Vista ventral, porção ventral de alcance do retalho na região axilar lado esquerdo artéria toracodorsal (seta vermelha). D) Posicionamento do retalho no leito receptor (cotovelo)
(coloração dentro do contorno preto). Fonte: Arquivo Pessoal. para síntese. E) Vista latero-medial após a síntese do retalho no leito receptor e do defeito
criado no leito doador. F) Vista caudo-cranial do resultado final da técnica reconstrutiva, após
Para a realização deste retalho, deve ser traçado uma linha ao longo da espinha escapular
a síntese completa do leito doador e receptor. Cadáveres de coelhos recém eutanasiados em
(incisão cranial) e outra linha paralela à espinha da escápula, a qual deve ser aproximadamente
razão de outro experimento. Protocolo CEUA nº 03286/18. Fonte: Arquivo Pessoal.

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Scalzilli et al. (2017) utilizaram o retalho da artéria


toracodorsal para síntese de ferida cirúrgica na região do cotovelo
após exérese de neurofibrossarcoma em cão. Foram utilizados
drenos passivos (penrose) para drenagem. Após quatro dias de pós-
operatório, a ferida apresentava-se seca e com boa cicatrização.
Como complicação, os autores relataram necrose na porção
distal do retalho onde cobria o olécrano. Aos 30 dias, realizaram o
debridamento cirúrgico da área necrótica. No entanto, os autores
associaram a complicação ao acolchoamento deficiente na região
do olécrano. Tal fato também foi observado em outro estudo de Aper
e Smeak (2013). Dessa forma, recomenda-se associar bandagens
acolchoadas e drenos nesta região para evitar tal complicação.
(APER e SMEAK, 2003).
Em geral, a sobrevida dos retalhos de padrão axial é alta,
entretanto, a necrose parcial do retalho é frequente. Trevor et al.
(1992) relataram sobrevida do retalho de 98% em dois animais,
utilizando o retalho toracodorsal. Em outro estudo clínico em
que foram avaliados dez cães, apenas três deles apresentaram
sobrevivência do retalho, enquanto a necrose parcial variou de 2 a
53% nos outros sete cães (APER e SMEAK, 2003).

Retalho de padrão axial da artéria torácica lateral


Figura 4 – Representação esquemática do retalho de padrão da artéria torácica lateral em cão. A) Vista lateral esquerda, áreas de alcance
O retalho de padrão axial da artéria torácica lateral é utilizado do retalho (cor vermelha dentro do contorno preto), artéria torácica lateral (linhas pontilhadas e seta amarela). B) Vista ventral, área de
principalmente para cobrir defeitos na região do cotovelo (Figura alcance do retalho na região ventral (cor vermelha dentro do contorno preto). Seta azul: Membro torácico esquerdo. Seta vermelha:
4), porém, pode ser empregado para correção de defeitos na região Região axilar e cotovelo. Fonte: Arquivo Pessoal.
axilar, escapular e torácica (BUIKS et al. 2013; MACPHAIL, 2014;
CASTRO et al. 2015) Para realização desse retalho, são feitas duas incisões, uma cranial e outra caudal, previamente demarcadas (Figura 5-A). A incisão
cranial é realizada pela borda dorsal do músculo peitoral profundo (Figura 5-B). A incisão caudal é realizada paralela à primeira incisão;
A artéria torácica lateral estende-se caudal à articulação do com um alcance que propicie posicionar a artéria torácica lateral ao centro do retalho. Estas incisões chegam de forma caudal à segunda
ombro, percorrendo horizontal e ligeiramente ventral a parede mama torácica; surgindo assim a borda caudal do retalho. É importante salientar que no momento de elevação do retalho, é necessário
torácica. Este retalho surge da artéria axilar e, irriga o linfonodo atentar-se para a preservação do músculo cutâneo do tronco (Figura 5-C) (HEDLUND, 2005).
axilar, músculo grande dorsal (porção ventral) e parte dos músculos
peitorais profundos (MACPHAIL, 2014).
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Retalho em padrão axial da artéria braquial superficial


Os retalhos da artéria braquial superficial podem ser utilizados para cobrir defeitos na
região do antebraço e cotovelo (Figura 6). Dependem de uma pequena ramificação da artéria
braquial. Está localizado a 3 cm proximal ao cotovelo (MACPHAIL, 2014; CASTRO, 2015).
Esse retalho é desenhado com duas linhas paralelas ao corpo do úmero que se estendem
dorsalmente e se concentram abaixo do tubérculo maior (Figura 7-A, B). A base do retalho
deve estar centralizada à superfície flexora cranial do cotovelo (Figura 7-C). É importante
ressaltar o cuidado que se deve tomar no momento da preservação do plexo subdérmico e,
dos vasos braquiais superficiais, devido ao calibre diminuído quando comparado com vasos
presentes em outros retalhos de padrão axial (PAVLETIC, 2018).

Figura 5 – Fotografias representando a utilização do retalho de padrão axial da artéria torácica


lateral em defeito na região do cotovelo. A) Demarcação da região doadora com auxílio de
caneta dermográfica (marcações em azul). B) Incisão da região doadora do retalho. C) Elevação
do retalho após divulsão. D) Posicionamento do retalho no leito receptor (cotovelo) para
síntese. E) Vista latero-medial após a síntese do retalho no leito receptor e defeito criado no
leito doador. F) Vista caudo-cranial como resultado final após a síntese. Cadáveres de coelhos
recém eutanasiados em razão de outro experimento. Protocolo CEUA nº 03286/18. Fonte:
Arquivo Pessoal.
Ferreira et al. (2017) utilizaram o retalho da artéria torácica lateral para reconstrução
de defeito na região do cotovelo, após exérese de lipoma infiltrativo em cão. Os autores
relataram complicações como hematoma na extremidade distal do retalho, seroma e
Figura 6 – Representação esquemática do retalho de padrão da artéria braquial superficial
deiscência de sutura na porção do retalho onde foi inserido um dreno. Foi necessário o uso de
em cão. A) Vista crânio-caudal, áreas de alcance do retalho (cor vermelha em contorno preto)
bandagens compressivas e pomadas. Segundo os autores, estas complicações podem ocorrer
e artéria braquial superficial (dentro da linha pontilhada). B) Vista lateral esquerda, áreas de
principalmente na porção distal do retalho. Após o manejo clínico, o retalho apresentou
alcance do retalho (cor vermelha em contorno preto). Fonte: Arquivo Pessoal.
adequada cicatrização e aspectos estéticos satisfatórios.

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de fibrossarcoma recidivante em cão. Para redução do espaço morto foi utilizado bandagens
compressivas. Como complicação, ocorreu edema de membro, necrose e deiscência de sutura
na região distal do retalho. Entretanto, apesar das complicações descritas, resultados estéticos
e funcionais foram satisfatórios. Outro estudo baseado no retalho de padrão axial da artéria
braquial superficial resultou na sobrevivência de 98% dos retalhos em cinco cães, assim como
Lago et al. (2017), os autores observaram seroma e necrose distal do retalho como complicação
(HENNEY e PAVLETIC, 1988).

Retalho em padrão subdérmico da prega axilar


Retalhos de padrão subdérmicos não recebem o aporte sanguíneo direto de vasos,
sua vascularização depende do plexo subdérmico, limitando o tamanho da área doadora
(PAVLETIC, 2018). O retalho da prega axilar ou dobra axilar é um retalho de padrão subdérmico,
normalmente utilizado para correção de defeitos localizados na região ventral do tórax, região
esternal, ombro e parede torácica lateral. Entretanto, devido à versatilidade deste retalho, este
pode ser aplicado de forma rotacional, podendo ser usado também para cobrir defeitos na
região do cotovelo (Figura 8) (MACPHAIL, 2014).

Figura 7 – Imagens representativas da técnica do retalho de padrão axial da artéria braquial


superficial, utilizada para recobrimento de defeito na região do cotovelo. A) Demarcação da
região doadora com auxílio de caneta dermográfica (marcações em azul). B) Incisão da região
doadora do retalho. C) Elevação do retalho após divulsão. D) Posicionamento do retalho no
leito receptor (cotovelo) para síntese. E) Vista latero-medial após a síntese do retalho no leito
receptor e defeito criado no leito doador. F) Vista caudo-cranial do resultado final após a
síntese. Cadáveres de coelhos recém eutanasiados em razão de outro experimento. Protocolo Figura 8 – Representação esquemática do retalho da prega axilar em cão. A) Vista ventral,
CEUA nº 03286/18. Fonte: Arquivo Pessoal. áreas de alcance do retalho (cor vermelha dentro do contorno preto), extremidade do
Lago et al. (2017) utilizaram o retalho de padrão axial da artéria braquial superficial para membro torácico esquerdo (seta azul). B) Vista lateral esquerda, áreas de alcance do retalho
correção de defeito no membro torácico direito, região de rádio/ ulna cranial, após exérese (cor vermelha dentro do contorno preto) e extensão da prega axilar (seta vermelha). Fonte:
Arquivo Pessoal.
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É importante ressaltar que existem quatro ligações na dobra da pele axilar com o corpo.
e reconstrução de defeito com uso do retalho da prega axilar, em região torácica ventral em
Na correção de defeitos no tórax ventral ou esternal, reomenda-se seccionar as ligações lateral
cão. No pós-operatório, em um pequeno intervalo após o procedimento cirúrgico, ocorreu à
e medial da dobra, seguindo pela ligação distal do tronco proximal do cotovelo. Outro fator
formação de hematoma subcutâneo com deformidade secundária. Foi realizada uma incisão
importante é que a pele mais espessa da região do cotovelo não deve fazer parte do retalho
de punção ventral para drenagem do conteúdo e bandagem compressiva. Observaram-se
entre 90º e 180º. A divulsão do retalho deve ser realizada abaixo do plexo subdérmico para
como complicação hematomas e necrose do retalho. No entanto, foi necessário o tratamento
cobrir o defeito. Dependendo da extensão da lesão pode ser necessária a utilização de sistemas
aberto de uma porção do retalho devido à necrose tecidual.
de drenagem (Figura 9) (CASTRO et al. 2015).
Nevil (2010) relatou um caso onde utilizou retalho da prega axilar (bilateral) para correção
de uma ferida crônica na região interescapular dorsal em cão. Foi necessário o debridamento
das bordas da ferida, lavagem da ferida e utilização de um dreno de sucção ativa durante três
dias. No pós-operatório o autor observou áreas de congestão, edema na região dorsal, áreas
de necrose em ambos os retalhos, na região caudodorsal lado esquerdo e região crâniodorsal
lado direito. As áreas de necrose foram desbridadas e fechadas por primeira intenção,
obtendo-se boa cicatrização da ferida. De acordo com os autores, a utilização de drenos
fechados é preferível em relação aos drenos abertos, uma vez que os sistemas fechados
apresentam menores taxas de infecção, são de fácil manejo e mais fáceis de se manterem
limpos. Entretanto, as bandagens são importantes, porém, devem ser utilizadas com cautela
para não comprometer a vascularização dos retalhos. (VAN HENGEL; KIRPENSTEIJN, 2013;
BROWING; TOBIAS, 2016).

COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS
As complicações da cirurgia reconstrutiva para reparo de lesões em cotovelo incluem
deiscência de sutura, infecção, hematoma ou seroma, cicatrização exacerbada e necrose.
A tensão excessiva nas bordas do retalho pode ocasionar edema e comprometimento
Figura 9 – Fotografias representando a utilização do retalho de padrão subdérmico da prega
circulatório, causando necrose, principalmente nas porções distais do retalho. As regiões
axilar em defeito na região do cotovelo. A) Demarcação da região doadora com auxílio de caneta
de necrose do retalho estão relacionadas com maior rotação, movimentação do retalho ou
dermográfica (marcações em azul). B) Incisão da região doadora do retalho (setas vermelhas).
pressão excessiva sob o retalho (MOORES, 2009). Outra complicação observada é formação
C) Rotação do retalho e transposição no defeito (seta vermelha). D) Vista latero-medial após a
de espaço morto o que favorece a formação de seroma e infecção da ferida. O espaço morto
síntese do retalho no leito receptor e defeito criado no leito doador. E) e F) Vista caudo-cranial
pode ser evitado utilizando drenos e bandagens (HAAR et al. 2013; SCHEFFER et al. 2013;
do resultado final após a síntese. Cadáveres de coelhos recém eutanasiados em razão de outro
CLAEYS, 2016). A oclusão vascular é a principal justificativa para perda do retalho, sendo a
experimento. Protocolo CEUA nº 03286/18. Fonte: Arquivo Pessoal.
oclusão venosa mais comum do que arterial. Espera-se que a maioria das falhas ocorram nas
A maioria dos trabalhos na literatura utilizando a prega axilar envolvem outras regiões, primeiras 48 horas do pós-operatório (NOVAKOVIC et al. 2009).
como no trabalho realizado por Hedler et al. (2017), foi realizada a excisão de um mastocitoma
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Lesões cutâneas e subcutâneas na região do cotovelo frequentemente necessitam
de cirurgia e, muitas vezes os defeitos não permitem aproximação primária. As técnicas
reconstrutivas descritas nesta revisão não possuem estudos com alto número de casos,
porém, o conhecimento destas como uma opção para a síntese de defeitos em região de
cotovelo, contribui para o auxílio do cirurgião para um melhor planejamento cirúrgico
e melhor resultado para o paciente, já que resultados frustrantes no manejo da lesão por
segunda intenção são comuns.

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REFERÊNCIAS
Aper R, Smeak D. 2003. Complications and Outcome After Thoracodorsal Axial Pattern Flap Jark PC, Reis Filho NP, Ferreira MGPA. et al. 2016. Sarcoma de Tecidos Moles Cutâneos e Silva JA, Filgueira FGF, Silva ACF. et al. 2017. Retalho de padrão axial da artéria
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