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N ESTA SEMANA > BELÉM SO U N D CH ECK / F U NICU L AR DA GR AÇA / POR TO COVO, ALÉM DA PR AIA

Comida indiana
Festival de cores
Roteiro de restaurantes, em Lisboa,
que nos traz a verdadeira gastronomia
da Índia – dos rotis aos melhores chacutis
MARCOS BORGA
7 ---------- CO M E R

DA ÍNDIA COM SABOR


As especiarias cozinhadas com as diferentes proteínas
e vegetais marcam o tom e o sabor da cozinha indiana,
que vai bem além do tikka masala ou dos nans, tal como
o comprovamos neste roteiro de restaurantes, em Lisboa
— P O R M A R I A N A C O R R E I A D E B A R R O S T E X TO
M A R C O S B O R G A F OTO S

92 VISÃO 21 MARÇO 2024


NotíciasFlix

Q
Paneer pakora São já “Quando não sa- servido na versão de frango ou borrego. Para es-
famosas em Alvalade bem o que pedir, tômagos mais fortes, sugere um frango jalfrezi,
as pakoras do Masala
as pessoas es- com molho à base de malaguetas. Vale sempre a
Kraft, feitas de queijo
fresco, servidas com colhem sempre pena olhar para esta e outras ementas dos res-
molho de menta. Em tikka masala ou taurantes indianos, em Lisboa, e viajar, para lá
baixo, Hamir Balu, dono butter chicken”, dos clássicos de conforto.
e fundador do Haweli comenta Ha- Explica à VISÃO Hambir Balu, e confirma-se
Tandoori, na Graça mir Balu, dono facilmente com algumas fontes fidedignas, que
e fundador do o tikka masala foi inventado na Escócia por um
Haweli Tan- chefe bengali, depois famoso em todo o Reino
doori, na Graça. Unido, e está ligado na génese a um prato da
Di-lo com um Índia, igualmente popular no Ocidente, o butter
certo ar confor- chicken. Ricardo Dias Felner, jornalista e crítico
mado de quem já gastronómico, explica que esta é uma receita
viu, serviu e cozinhou muito. Da primeira fila, “criada num restaurante em Nova Deli e que se
assistiu a todas as mudanças do bairro lisboeta tornou uma opção mais turística hoje.”
– “quando abri, em 1991, era o único desta rua” Sobre o advento dos restaurantes indianos
–, notou novos hábitos alimentares – “há cada em Lisboa (e em Portugal), esclarece que surge
vez mais vegetarianos” – e continuou, firme, por diferentes vias. “Uma grande vaga vem de
a servir um menu com diferentes influências, Inglaterra, de indianos de segunda ou terceira
fruto da sua itinerância pessoal. geração, já nascidos na Europa; depois há a via
Neto de avó indiana, nasceu e cresceu em de Moçambique, que tem uma comunidade de
Ressano Garcia, Moçambique, e voou sozinho, imigrantes indianos, há décadas, que chegou a
aos 16 anos, para Portugal (ano de 1976). Estudou Portugal depois do 25 de Abril, com origem em
em Lisboa e trabalhou na Grécia e em Inglaterra, diferentes regiões da Índia.” Desta herança, alguns
onde teve as primeiras experiências de restau- criaram restaurantes indianos convencionais,
ração. No início dos anos 90, fundou a própria outros servem culinária goesa ou indo-portu-
casa, uma das primeiras a usar o tandoori, um guesa – “para mim”, diz o jornalista, “uma das
forno de barro com o formato de uma ânfo- mais interessantes cozinhas de Lisboa”. Mesmo
ra, para confecionar frango ou borrego ou os em toda a Índia, as cozinhas são diferentes entre
populares nans. “Abri eu e, pela mesma altura, si. “O Sul é mais suave, mais tropical, tem mais
também outra casa no Campo Grande, que já peixe, vê-se marisco; o Norte, em contraste, tem
fechou. Mas agora há muitas mais”, conta. Na uma cozinha mais forte, por regra mais pican-
carta juntou os pratos que aprendeu a cozinhar, te”, refere. E acrescenta: “É comum os indianos
sobretudo em Londres, “porque em Moçambi- dizerem que alguns pratos não são picantes,
que não havia este tipo de cozinha”, e que são mas, mesmo o nível médio deles, é muito forte
o reflexo, diz, “de uma cozinha mais do Norte para nós.”
da Índia, apesar de haver tandoori em todo o
país”. Adicionou-lhe algumas influências goesas, PALAVRA DE ORDEM: EXPERIMENTAR
com as quais cresceu em Moçambique, como Nas traseiras da Avenida de Roma, mora, desde
o sarapatel, o vindaloo ou o frango à goesa, e 2019, o Masala Kraft, um indiano que assume a
ainda um especial do seu país natal, “muito tradição de diferentes regiões. É o projeto de dois
suave e famoso aqui”, o camarão com molho de irmãos, Deep e Purvi Radia, ele de 26 anos, ela
amendoim, feito com molho de coco e também de 32, filhos de pais indianos, naturais de uma
vila pequena no centro da Índia, já nascidos em
Lisboa. E aqui apostam em oferecer algumas
especialidades alternativas – tome nota: estão
sublinhadas a amarelo no menu. É o caso de
quatro receitas indo-chinesas, cujos pratos “se
comem também muito na Índia”, explica Deep,
em referência, por exemplo, ao prawn man-
churian, camarões salteados com molho de soja,
ou ao chilli chicken, um frango frito com tomate,
pimento e cebola, também com molho de soja.
“Os chineses usam especiarias semelhantes às
nossas, mas na cozinha indiana elas são logo
cozinhadas nos refogados e o sabor fica todo no
prato; na China, colocam-se mais para finalizar
as receitas.”
Na cozinha está um nepalês, que fez as pri-
meiras provas do restaurante em casa da família
Radia, antes de ser contratado para abrir o Masala
Kraft. “Temos muitos pratos vegetarianos, os

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o marido, Sumilkumar Bhaskaran, e que tem


neste prato uma das estrelas da companhia. Mas
não vem só. Há também outras especialidades,
como o meen pollichathu, um peixe grelhado
em folhas de bananeira; o appam chicken stew,
uma panqueca à base de farinha fermentada de
arroz e leite de coco, servida com caril de frango
cozinhado em leite de coco; a rasam, uma sopa
tradicional do Sul da Índia, feita com sumo de
tamarindo, tomate, pimenta, cominhos e outras
especiarias, ou ainda o idli sambar, uns bolinhos
a vapor, também de farinha fermentada de ar-
roz e lentilhas, servidos com sambar, um caril
JOANA FREITAS

de legumes e de lentilhas cozido num sumo de


tamarindo temperado com assafétida, “muito
boa para a digestão”, diz Sunil. A ementa presta
homenagem à chamada Costa do Malabar, zona
Gunpowder O pato meus pais são vegetarianos, e a fonte principal litoral do Sudoeste Indiano, onde há mais tra-
chettinad é servido de proteína são as lentilhas. Há muitos sítios na dição de se cozinhar peixe. “Tenho ideia de que
com cenoura crua,
feito para comer à
Índia onde não se comem animais”, comenta. os portugueses também potenciaram a pesca
mão e perfeito para Servem, por exemplo, um tadka dal, uma mis- na Índia”, diz Simi, a par de outras culturas e
acompanhar com um tura de lentilhas amarelas, finalizada com um trocas intercontinentais – é o caso do tomate
espumante; ao lado, óleo aromatizado a ferver, que leva ainda espe- e da batata –, entretanto adotadas e dissemi-
a masala dosa do ciarias e ghee (manteiga clarificada), um roti, o nadas pela Índia.
Costa do Malabar; autêntico pão indiano feito com farinha integral, A conversa com Sunil e Simi é uma verda-
na página da direita,
um chouriço à ou ainda um laccha paratha, várias camadas de deira aula de gastronomia indiana, com direito
goesa e um balchão pão indiano também de farinha integral. Mais a prova olfativa e tudo. Para a mesa trazem
de camarão, do comuns, mas muitíssimo bem-feitos, e com chalotas de Bombaim, tamarindos desidratados
Tentações de Goa fama no bairro, são os paneer pakora, pastéis (usados no caril de peixe, por exemplo) que vêm
de queijo fritos com molho de menta. “Temos de Kerala, cidade onde Sunil nasceu, folhas de
também alguns pratos do Punjabi [a norte da caril frescas, estas últimas a servir para fazer a
Índia, que apanha também o Paquistão], como pasta de caril, em que são adicionados coco e
os vindaloos, uma comida mais pesada”, refere. tamarindo, também. “Trazemos 90% das es-
No Costa do Malabar, em Arroios, prova-se peciarias da Índia, mas fazemos aqui as nossas
um prato indiano também com fama mundial: misturas e temperos”, explica Sunil.
masala dosa, um crepe à base de farinha de ar- Para Harneet Baweja, fundador do Gunpow-
roz e lentilhas, recheado com um puré de batata, der, no Chiado, “as especiarias usadas em cada
temperado com masala de especiarias. “Há uns prato têm um propósito. A cozinha indiana é
anos, The Huffington Post escreveu que é um quase científica. As ervas ou raízes devem aju-
dos dez pratos que se tem de provar uma vez na dar a curar o corpo. A curcuma, por exemplo,
vida”, esclarece Simi Pannian, a engenheira de é antibacteriana, anti-inflamatória. A papaia
software que abriu o restaurante, em 2016, com verde usa-se muito com carnes. Se são animais

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RESTAURANTES
Haweli Tandoori

Tv. do Monte, 14 > T. 21 886


7713 > seg-sáb 12h-15h,
18h-22h30

Masala Kraft

R. Dr. Gama Barros, 15 B >


T. 21 589 6758 >f seg-dom
12h30-15h, 19h30-23h

Costa do Malabar

R. Rosa Damasceno, 6A >


T. 96 767 3230 > seg-dom
12h-15h, 19h-23h

Gunpowder

que tiveram uma vida cheia, ela ajuda a quebrar Felner como uma “fusão antiquíssima, super- R. Nova da Trindade, 13 A >
T. 21 822 7470 > seg-dom
alguma rijeza”. Quando abriu o restaurante, no -regional, com elementos goeses e portugueses”. 12h-16h, 19h-24h
final de 2022, quis trazer os sabores tradicionais E que antes de voltar a Portugal ganhou ainda
da Índia, cozinhá-los com os produtos locais, alguns pós moçambicanos, por intermédio de Tentações de Goa
num espaço a transpirar modernidade. “O goeses que ali se instalaram. “A comida indo-
mundo conhece apenas três pratos indianos. -portuguesa de Lisboa já é diferente da que se R. de São Pedro Mártir, 23 >
Dizer que a cozinha indiana é sinónimo de caril come em Goa”, diz Ricardo. Maria dos Anjos, T. 21 887 5824 > seg 19h-22h,
ter-sáb 12h-15h, 19h-22h
é tão errado... ou que as especiarias significam a icónica mulher que comanda o Tentações de
picante. A cozinha indiana é muito mais rica”, Goa há 28 anos, corrobora a ideia: “Lá, a gastro- OUTRAS MORADAS
manifesta Harneet. Se os portugueses levaram nomia hoje já é mais adaptada ao turismo, en-
as especiarias ao mundo, “quero que agora contra-se pouco esta comida mais tradicional.” Caxemira
provem coisas diferentes”, diz. Foi através do marido, moçambicano de Acaba de festejar os 37
Por isso, quando decidiu abrir uma extensão origem goesa, que se atirou para este negócio anos numa nova morada,
do londrino Gunpowder em Lisboa, desenhou de abrir uma tasquinha castiça no coração da no Intendente, além de ter
uma ementa variada, com pratos que têm norte Mouraria, onde serve alguns pratos que re- uma extensão no Parque
e sul, comida caseira ou mais sofisticada. Dela plicam esse caminho Portugal-Goa-Portugal. das Nações. Continua a ser
fazem parte especialidades como o pato chet- “O vindalho de porco – não confundir com um dos indianos melhores
tinad com oothappam, um crepe de farinha de vindaloo, são coisas diferentes –, uma adap- de Lisboa.
arroz recheado com estufado de pato, servido tação da vinha-d’alhos, o sarapatel, também R. Antero de Quental, 3 >
com pickle de cenoura, a tosta de Camarão tem origem num prato alentejano.” A sua re- T. 21 886 5486 > seg-sáb
CPC (homenagem ao Clube em que Harneet ceita inclui diferentes partes do porco (fígado, 12h-15h, 18h30-22h
ia com o pai em criança) ou corvina com mo- língua, orelha, entremeada), cozidos, cortados
lho coorgi, com o filete de corvina marinado e em pequenos pedaços, fritos em óleo, depois Cantinho da Paz
grelhado servido sobre caril de coentros. “Há temperados com tamarinho, gengibre, comi- Um porto seguro para
tantos sabores bons e diversos para mostrar nhos, cravinho, entre outras especiarias. Maria quem procura, em Lisboa,
que mudamos o menu constantemente”, re- dos Anjos fala sobretudo de uma gastronomia comida goesa autêntica,
mata Harneet. mais elaborada, demorada na confeção, que com destaque para o caril
ganha em ser deixada a apurar de um dia para de gambas e o chacuti de
A FUSÃO COM GOA o outro. “O meu chacuti leva um molho de 14 cabrito.
São já conhecidas as influências portuguesas especiarias, tostadas e trituradas”, dá como R. da Paz, 4 > T. 96 5014
na cozinha goesa, um leva-e-traz com mais de exemplo. Costuma abastecer-se de produtos 667 > ter-sáb 12h30-15h,
500 anos de História, definida por Ricardo Dias e temperos na Mouraria, mas nas viagens que 19h-22h (sex e sáb até
fazia a Goa, ao longo dos anos (hoje menos fre- 22h30)
quentes), comprava camarão seco (pequenino),
“Dizer que a cozinha indiana usado no molho do balchão, cardamomo preto Natraj Tandoori
Para comer pratos feitos
é sinónimo de caril é tão ou solans de brindão, “um primo do mangustão,
compra-se a casca para dar acidez aos pratos no tandoori e outras espe-
errado… ou que as especiarias de peixe”, conta. Tem no chouriço à goesa o seu cialidades como os vários
caris à base de peixe.
significam picante. A cozinha prato mais picante e diz que muitos clientes
lhe pedem para não o usar. “Pedem-me caril
indiana é muito mais rica”, sem picante, mas eu não o faço, sigo a receita
R. do Sol ao Rato, 50 >
T. 21 388 0630 > seg-dom
diz Harneet, do Gunpowder original.” E ainda bem. visao@visao.pt 12h-15h, 19h-23h30

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7 ---------- CO O R D E N A DAS

Fora
dois dias. Nesta quinta, entrada gratuita
21, o dia será dedicado O Teatro que Abril
à poesia colombiana, Abriu inclui uma breve
contando com a antecipação de Quis
presença de Mónica Saber Quem Sou – Um
Giraldo, Filipa Leal e Concerto Teatral, de
Pedro Rapoula. Já no Pedro Penim; o debate
sábado, 23, destaca- Teatro e a Revolução
-se a conversa sobre com os atores Manuel
a poesia de Roberto Coelho, Noémia Costa
Bolaño (17h), com e Rui Mendes; um
Francisco José Viegas concerto de Bruno
e Carlos Vaz Marques, Pernadas e Margarida
e o lançamento do Campelo, que revisita a

PEDRO FERREIRA
livro Cuaderno de música de intervenção
Septiembre (18h), com no teatro de revista, e
a presença do autor uma performance de
Juan Gabriel Vásquez, Batida. É necessário
seguindo-se a atuação levantamento prévio
O que há —— Exposição —— Arraial da cantora cubana
Lindiana Murphy.
de bilhete (online, a
partir de dia 25, às 12h,

de novo CELEBRAR ABRIL


A Mostra de
HORA
DO PLANETA
e presencialmente, no
Capitólio, no dia 27, a
—— Celebrações
para sair Fotografia & Autores
(MFA), que inaugura
Neste sábado, 23, há
arraial Hora do Planeta,
DIA MUNDIAL
partir das 12h; dois por
pessoa).

ou ficar neste sábado, 23,


no Clube Fenianos
no Mercado de Alvalade,
em Lisboa, com uma DO TEATRO
—— Cultura Pop
em casa
do Porto (CFP), série de atividades Ainda em digressão
reúne o trabalho gratuitas. Sob o lema pelo País, enquanto
de 126 fotógrafos Pequenas ações têm decorrem as obras no PARABÉNS,
Entre o Dia nacionais e grande impacto, entre edifício do Rossio, o COMIC CON!
Mundial estrangeiros e da as 16 e as 21 horas Teatro Nacional Foi há uma década
cartoonista Cristina decorrem oficinas D. Maria II vem a que nasceu a maior
da Poesia Sampaio sob o mote para criar ninhos e Lisboa para assinalar o festa ibérica da cultura
e do Teatro, dos 50 anos da bebedouros de aves, Dia Mundial do Teatro, pop. Para celebrar a
provam-se Revolução de Abril transformar materiais que se comemora a 27 data, a Comic Con
espumantes e e dos 120 anos do descartados em arte ou de março. No Capitólio, regressa à Exponor,
vinhos de talha CFP. Até 11 de maio, cozinhar com espécies o o programa de em Matosinhos (onde
será possível ver silvestres, contos para nasceu em 2014), desta
em ambiente exposições de José crianças, pintura mural quinta a domingo, 21
de primavera Carlos Carvalho e ioga. Às 20 horas, a 24. Esta edição
(fotojornalista apagam-se as terá 10 palcos
da VISÃO), Luísa luzes, gesto dedicados a
Ferreira, Ana Brígida, simbólico de cosplay, livros,
Lara Jacinto, Nelson reflexão, a cinema, televisão,
Miranda, Paulo que se segue jogos ou banda
Pimenta ou, entre o concerto desenhada. Por lá
outros, de Enric de Selma vão passar nomes como
Vives-Rubio. Uamusse. o ator Raymond Lee
Haverá ainda um (protagonista da série
mercado de livros DIA MUNDIAL Quantum Leap),
e fotografia (neste DA POESIA o autor japonês de
sábado, 23), assim A Casa da América banda desenhada Stan
como visitas guiadas Latina, em Lisboa, Sakai ou a escritora
com os autores e assinala o Dia Mundial Stacey Halls (A Orfã
conversas (sábados). da Poesia, com uma Perdida). Bilhetes: €25/
A entrada é gratuita. programação gratuita de dia; €55 (sáb-dom).

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Dentro
recebe neste fim
de semana, dias 23
e 24, o Millésime
– Encontro Nacional
de Espumantes.
O programa conta
com degustações
de espumantes de
vários produtores,
—— Vinhos provas comentadas
e harmonizações da
FESTIVAL bebida com leitão
TALHA À MESA à Bairrada e outras

DIANA TINOCO
A primeira edição iguarias. Bilhete: €10,
do festival Talha à com copo.
Mesa acontece neste
sábado e domingo
na Vidigueira. Serão —— Mercado —— Disco Oppenheimer, de cores (dois tamanhos,
dois dias recheados Christopher Nolan, é um €11 a €56). À venda nas
com uma série de PRIMAVERA “METADE-METADE”, filme biográfico sobre o lojas da marca ou no site
atividades na Adega NA PRAÇA DE ALDINA DUARTE pai da bomba atómica: bordallopinheiro.pt.
de Vidigueira, Cuba e É com um mercado A fadista lança nesta o físico teórico J. Robert
Alvito, ligadas ao vinho de produtores e sexta, 22, o seu novo Oppenheimer.
de talha: almoços e marcas portuguesas, trabalho. Metade-
jantares vínicos pelos workshops e DJ sets -Metade, com letras
chefes José Júlio que a Praça, no Hub da rapper e escritora —— Mesa
Vintém, Pedro Mendes Criativo do Beato, Capicua, “é uma
e João Mourato (€65/ em Lisboa, celebra a declaração de amor à COPOS A LÁ
cada), que também chegada da primavera natureza, à liberdade CARMEN MIRANDA
vão à adega e à vinha neste fim de semana, e à poesia. E, também, A Bordallo Pinheiro
fazer showcookings dias 23 e 24. O uma grande incerteza acaba de lançar
(€15); animação, mercado inclui ainda, sobre o futuro da uma nova coleção
Copo das 5 (tardes no sábado, oficinas de Humanidade”, escreve de copos a que
de petiscos regionais, bombas de sementes Aldina Duarte. O álbum chamou de Carmen.
€15), e masterclasses e de cozinha; aulas será apresentado ao “Divertidos, festivos —— Livro
(€10). de ioga e de pilates. vivo no Coliseu dos e assumidamente
No domingo, os Recreios, em Lisboa, extravagantes”, VIAGEM COLORIDA
FESTA workshops serão no dia 17 de abril e o descreve a marca, estão AO CORPO HUMANO
DO ESPUMANTE dedicados ao pão público irá sentar-se disponíveis em dois O novo livro da
O Curia Palace de massa mãe e à com a fadista, em palco. modelos: com um pé ilustradora Catarina
Hotel, em Anadia, costura. em faiança em forma de Sobral, Palmiras
fruto (morango, laranja, Pantaleões Malaquias
—— Televisão uva ou limão) e cálice (Coleção Orfeu Mini,
em vidro facetado; e 42 págs., €15) é uma
“OPPENHEIMER” em cerâmica de alto- viagem colorida e
EM STREAMING -relevo, em diferentes divertida pelo sistema
O grande vencedor imunitário à descoberta
da 96ª Cerimónia dos de como o nosso corpo
Oscars está disponível reage diariamente a
a partir desta quinta, bactérias e infeções.
21, no SkyShowtime. Neste sábado, 23, às 15h,
Com sete estatuetas é lançado na Casa do
(entre outras, as Comum, em Lisboa, com
de Melhor Filme, a presença da autora, e
Melhor Realização, com leituras encenadas
Melhor Ator e Melhor por Manuel Henriques
D.R.

Ator Secundário), e Joana Pupo.

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7 ---------- M Ú S I CA

LISBOA

Sónar Lisboa
Sem pausas
Terceira edição lisboeta do festival,
que junta o melhor da música eletrónica
mundial com reflexões sobre o presente e futuro LISBOA

Teresinha

O
ADN deste festival estará conferência Future Days, sobre o futuro Landeiro
sempre marcado pela vibrante que nos espera em várias áreas.
Barcelona de meados dos anos No alinhamento, há muitos nomes
90, mas hoje é do mundo promissores e uma atenção espe- A fadista apresenta em Lisboa
(já se realizou em 35 cidades de vários cial dada à produção nacional, entre o terceiro álbum de originais
continentes), e Lisboa faz parte desse os consagrados (Branko, Rui Vargas e Para Dançar e Para Chorar,
mundo desde 2022. A terceira edição Moullinex, por exemplo) e os emergen- no qual, pela primeira vez,
do Sónar Lisboa é, dizem os organi- tes (Iolanda, que irá representar Portu- canta alguns compositores
zadores, de “consolidação”. Desistiu- gal, em maio, no festival da Eurovisão exteriores ao fado, como
-se de espalhá-lo por pontos distantes na Suécia, XEXA, Rita Maomenos, entre Maro, Mário Laginha, Milhanas
da cidade, e as atividades estão todas outros). As atuações mais esperadas, (autora da letra e música da
concentradas, durante três dias (desta entre concertos e DJ sets, serão as de faixa de abertura, Chegou a
sexta, 22, até domingo, 24), na zona do Sevdaliza, artista iraniana e holandesa, Hora) ou Jorge Cruz, entre
Parque Eduardo VII. O fundamental, a a sempre surpreendente dupla belga outros. Teresinha Landeiro
sua identidade, porém, mantém-se: um 2manydjs (com Éclair Fifi e Erol Alkan começou a cantar na Mesa
cartaz recheado com as mais variadas como convidados), Bonobo (em versão de Frades, em pleno coração
tendências contemporâneas, ou até já DJ set), Tiga & Hudson Mohawke, o te- de Alfama, ainda adolescente
históricas (neste ano em que o techno de chno do alemão Paul Kalkbrenner, a jo- e com apenas 18 anos, e,
Berlim foi reconhecido, pela UNESCO, vem britânica Nia Archives, a canadiana depois de se estrear a solo
como Património Imaterial da Humani- Marie Davidson, o norte-americano no Centro Cultural de Belém,
dade), de música eletrónica e um espaço Oneohtrix Point Never entre muitos assumiu-se como profissional.
aberto a conversas, debates, conferên- outros – divididos, como sempre, em Aos 28 anos, mais do que
cias e apresentações, que cruzam arte dois blocos: Sónar by Day e Sónar by uma promessa, é há muito
com criatividade e tecnologia. Os con- Night. — Pedro Dias de Almeida uma das grandes certezas do
certos vão acontecer no Pavilhão Carlos fado, como mais uma vez se
Lopes; na Estufa Fria estará a instalação Pavilhão Carlos Lopes e Estufa Fria > Parque comprova neste novo disco,
Eduardo VII, Lisboa > 22-24 mar, sex-dom >
imersiva Marcos Límbicos, do coletivo €45 (diário, Sónar by Day ou Sónar by Night)
construído a partir da “festa
português Zabra, e uma programação de e €245 (Passe VIP) > programação completa e a tristeza”, que, segundo
workshops e de conversas integradas na em sonarlisboa.pt a própria, a “habitam desde
sempre”. — M.J.

Nia Archives Teatro Maria Matos > Av. Frei


Com apenas 24 anos, Luís Contreiras, 52, Lisboa >
já é uma presença T. 21 362 1648 > 26 mar, ter 21h
sólida na cena > €14 a €16
eletrónica britânica.
Vai estar no Sónar
Lisboa
D.R.

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DIANA TINOCO
S Stereossauro
tereossauro está de Dead Combo. Por último,
regresso com +351, o Pedro Jóia, que é outro
uma homenagem
à guitarra portu- “A guitarra portuguesa guitarrista enorme, tem
um estilo muito próprio,
guesa, instrumento quase
omnipresente na sua obra faz parte do meu modo próximo do flamenco, e
que remete para as sono-
e que agora tem direito a
um álbum completo, para o
qual contou com um naipe
de expressão” ridades da nossa vizinha
Espanha. Apesar de ser um
disco pensado para um
de convidados de luxo: O produtor e DJ apresenta ao vivo o seu novo instrumento português, nós
Ricardo Gordo, Ângelo álbum, +351, um trabalho instrumental que não estamos sozinhos no
Freire, José Manuel Neto, mundo e as influências não
António Chainho, Tó Trips teve a participação de convidados de luxo conhecem fronteiras.
e Pedro Jóia. É este trabalho Como vai ser o concerto
instrumental que apresenta de apresentação, vão lá
pela primeira vez ao vivo estar todos estes convi-
no sábado, 23, em Sintra, lhor, a ideia de fazer o disco do que natural. E o Ângelo dados?
num espetáculo que passará instrumental é dessa altura, Freire também é alguém Gostaria bastante, mas é
também pelos aclamados mas os temas são todos no- com quem tenho trabalha- muito complicado conciliar
discos anteriores, Bairro da vos e foram compostos para do, como aconteceu mais todas estas agendas. Vou ter
Ponte e Tristana. este trabalho. Surge agora recentemente nos concertos o Ricardo Gordo, que toca
A guitarra portuguesa porque finalizei uma série da Sara Correia. As pessoas mais de metade dos temas
tem estado sempre muito de projetos que tinha em que não conhecia pessoal- do disco, e logo aí está ga-
presente na sua obra. É mãos e, antes de me atirar a mente eram o José Manuel rantida uma presença muito
por isso que lhe dedica outra coisa, senti que tinha Neto e o mestre António forte. O Pedro Jóia vai tocar
agora todo um álbum? mesmo de o fazer. Chainho, que também é o tema dele [Peninsula Cy-
Sim, embora no último dis- Até porque é um disco que uma pessoa muito aberta bérica] e vou contar tam-
co, Tristana, tenha tentado requer alguma logística, a ideias mais fora da caixa bém com a participação da
afastar-me um pouco disso, nem que seja em termos de e eu nem tinha essa ideia. Ana Magalhães, para revisi-
mas de facto é algo que agenda, tendo em conta a Depois, quando decidi alar- tarmos algumas faixas dos
faz parte do meu modo de quantidade de convidados. gar o espectro mais além da álbuns Tristana e Bairro da
expressão enquanto artista, Qual foi o critério destas guitarra portuguesa, o Tó Ponte. E vai estar também
portanto, o melhor é mes- presenças, que acabam por Trips era óbvio. Conheço-o presente o DJ Ride, que, de
mo abraçar quem sou. não se limitar à guitarra há muito tempo, desde os uma forma ou de outra, tem
Mas porquê agora? portuguesa, como se ca- tempos do punk, e até já fez participado em todos os
Era uma ideia antiga, da lhar seria mais óbvio? algumas capas para dis- meus discos. — Miguel Judas
altura em que comecei a O Ricardo Gordo é um cos meus, mas convidei-o
fazer um disco que depois companheiro já de há mais acima de tudo porque sou Centro Cultural Olga Cadaval >
acabou por se transformar de uma década, portan- um grande admirador do Pç. Dr. Francisco Sá Carneiro,
no Bairro da Ponte. Ou me- to, a sua presença é mais seu trabalho a solo e com os Sintra > 23 mar, sáb 21h > €12

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7 ---------- M Ú S I CA

Belém IL GIARDINO
ARMONICO COM
GIOVANNI SOLLIMA

Soundcheck Fundado em 1985 e dirigido por


Giovanni Antonini, o ensemble Il

Novos dias
Giardino Armonico junta músicos
de várias instituições da Europa,
atuando no campo da música antiga.

da música
Neste concerto, apresenta-se com o
violoncelista e compositor Giovanni
Sollima, num programa composto
por peças de Vivaldi, entre outros
O novo festival do Centro Cultural compositores barrocos, e pela obra
de Belém quer cruzar diferentes Passa Calle XXI escrita por Sollima
para o ensemble.
públicos. A primeira edição, entre os Grande Auditório > 22 mar, sex 20h
dias 21 e 24, traz Patti Smith, música
eletrónica e erudita, fado e jazz
— P O R I N Ê S B E LO
CAMANÉ
Este concerto será uma

A
justa e devida homenagem a
José Mário Branco, parceiro
inda andamos a sonhar com fundamental no trajeto e
os festivais de verão e eis que na formação da carreira de
o primeiro dia de primavera Camané. Em Inquietação,
nos traz um novo festival. O assim se chama o espetáculo,
Belém Soundcheck estreia-se o fadista interpretará grande
no Centro Cultural de Belém parte dos temas que José
(CCB) e vai realizar-se de dois em dois anos, Mário Branco compôs para
com “um objetivo claro”, diz Delfim Sardo: ele e outros do repertório
cruzar diferentes públicos. Nesse sentido, es- do músico desaparecido em
clarece o administrador do CCB, não se trata 2019. Em palco, Camané estará
de um regresso dos Dias da Música (a última acompanhado por um trio de
edição aconteceu em 2019 e a de 2020 já não guitarras, mas haverá outras
se realizou devido à pandemia): “Decidimos instrumentações fora
repensar o modelo face ao perfil do que é, hoje, da sonoridade do fado.
o CCB e tendo em conta a oferta que existe num Grande Auditório > 21 mar, qui 20h
País onde já se realizam dezenas de festivais de
LUÍS BARRA

música, sempre com uma grande exigência de


qualidade.” Uma missão só possível, sublinha,
devido às parcerias com a EGEAC (a empresa
municipal que gere os equipamentos culturais
de Lisboa), a Égide – Associação Portuguesa das
Artes e o Instituto Italiano de Cultura. Delfim MARIA JOÃO
Sardo sublinha uma dimensão “pedagógica”
neste trabalho, “na medida em que, em Portu- Imaginado por Maria João e João Farinha,
gal, os públicos da dança, do teatro e da música parceiros há mais de 10 anos na área
ainda são de alguma maneira segmentados”. do jazz, Songs for Shakespeare parte
Este ano zero do Belém Soundcheck mistura das palavras do dramaturgo inglês para
diferentes estilos (improvisada, erudita, jazz) e construir um espetáculo que junta pianos
projetos tão especiais como os do Soundwalk elétricos, sintetizadores, eletrónica,
Collective com Patti Smith ou de Camané a bateria e um ensemble de câmara.
cantar José Mário Branco. O programa foi Em palco, contarão ainda com a
pensado para que nenhum dos espetáculos (no contribuição de André Gago, que dará
Grande e no Pequeno Auditório) seja realizado vida às palavras de Shakespeare.
à mesma hora. No final de cada dia, o foyer do Pequeno Auditório > 21 mar, qui 22h
Grande Auditório transforma-se numa pista
de dança (a entrada é livre), entre as 23h e a
uma da manhã, com um DJ set de Switchdance
(dia 21), Pedro Ricardo (22), Funkamente (dia 23)
e Sama Yax + Luísa (dia 24). ibelo@visao.pt

100 VISÃO 21 MARÇO 2024


KREMERATA BALTICA
COM GIDON KREMER
Gidon Kremer, violinista, fundou a
orquestra Kremerata Baltica em 1997,
formada apenas por jovens músicos
bálticos. No concerto que apresenta
em Lisboa, com Kremer como solista,
vão ouvir-se as peças Fratres, de Arvo
Pärt; Kādas Biogrāfijas Lappuses, de
Georgs Pelēcis; I Like Schubert do
compositor lituano Vidmantas Bartulis

GIEDRE DIRVANAUSKAITE
e as Cuatro Estaciones Porteñas,
FRANCESCO FERLA

de Astor Piazzolla. O solista Georgijs


Osokins interpretará o Concerto
para Piano n.º 2, de Chopin.
Grande Auditório > 24 mar, dom 17h

D.R.

SOUNDWALK COLLECTIVE COM PATTI SMITH


A performance que junta os Soundwalk Collective e Patti Smith será o momento
mais aguardado do festival Belém Soundcheck. O coletivo de arte sonora
experimental, formado por Stephan Crasneanscki e Simone Merli, e a cantora e
poeta norte-americana têm vindo a colaborar nos últimos anos, uma ligação da
qual já resultaram três registos discográficos, com o nome comum de Perfect
Visions. No palco do Grande Auditório do CCB vão apresentar Correspondences,
uma performance musical que se articula com a exposição, patente no Museu de
Arte Contemporânea do CCB (inaugura neste sábado, 22), à volta dos autores
franceses Antonin Artaud, Arthur Rimbaud e René Daumal, e a partir das viagens
que estes fizeram pelo mundo. O bilhete para o espetáculo dá acesso a Evidence:
Soundwalk Collective & Patti Smith, exposição imersiva com um sistema de
geolocalização sofisticado, já antes apresentada no Centro Georges Pompidou,
em Paris, e na qual o público terá de entrar de auscultadores.
Grande Auditório > 23 mar, sáb 19h

21 MARÇO 2024 VISÃO 101


7 ---------- CI N E M A

De regresso
à Amazónia
A Flor do Buriti
é um filme de não
atores, filmado
em película, nas
terras dos craós,
pela dupla João
Salaviza e Renée
Nader Messora

D.R.
A Flor do Buriti
Aprender a falar craó
A segunda aventura de João Salaviza e de Renée Nader
Messora com os índios craós é, também, um pedido de ajuda

O
percurso de João Salaviza no cinema entregues aos seus maiores inimigos. Há, ao
tem, claramente, duas fases distin- mesmo tempo, um historial desta luta do povo
tas. A primeira corresponde às curtas indígena pela sobrevivência e defesa da flores-
e à primeira longa, Montanha, com ta, com a reconstituição de um massacre que
retratos da Grande Lisboa, revelando um en- ficou inscrito na memória coletiva dos craós.
gajamento sociopolítico, que lhe valeram uma Os realizadores partem daí para a atualida-
Palma de Ouro em Cannes (Arena) e um Urso de, passando pelos protestos em Brasília, mas
de Ouro em Berlim (Rafa); a segunda é fruto também por simples ilustrações da mitologia
do seu encontro com Renée Nader Messora e e vivência dos povos. Fica clara a diferença
com os craós, povo indígena da Amazónia bra- de significados da “terra”: enquanto para os
sileira. O primeiro fôlego da nova fase foi Chu- fazendeiros representa um enorme potencial
va é Cantoria na Aldeia dos Mortos e, agora, de negócio, tendo em vista a multiplicação de
surge A Flor do Buriti. Não é uma sequela, mas lucros, para os craós ela é a própria vida.
uma sequência lógica. A linguagem mantém- Embora também tenha essa função, o fil-
-se nos territórios de fronteira entre ficção e me é mais do que um panfleto. A construção
documentário, com uma participação ativa da narrativa é rica na forma livre como retrata e
comunidade na própria conceção do resultado conta as histórias, os rituais e os mitos indí-
final. É um filme de não atores. genas – e esteticamente é deslumbrante, pelo
Se em Chuva é Cantoria na Aldeia dos olhar dos realizadores e pela opção corajosa de
Mortos já havia um subtexto político, na di- filmar em película, o que permite uma fotogra-
vulgação e defesa de outro estilo de vida, em fia com textura e lugar para todos os tons de
A Flor do Buriti essa dimensão é reforçada, verde. — Manuel Halpern
devido, em parte, ao contexto de opressão com
que os craós lidaram durante a presidência de De João Salaviza, Renée Nader Messora, com Francisco
Bolsonaro, quando as instituições, que supos- Hyjno Kraho, Ilda Patpro Kraho, Luzia Cruwakwyj Kraho,
tamente deveriam proteger os indígenas, foram 123 min

102 VISÃO 21 MARÇO 2024


7 ---------- L I V R O S

Revelações
Quatro livros de não ficção, bem ancorados na realidade, que permitem
espreitar mundos pouco conhecidos e que nos põem a pensar

Viver a alta O Brasil de Aprender com


competição Josef Mengele curandeiros
O Meu Treinador, Baviera Tropical, O Cheiro do Sangue de
Joana Bértholo Betina Anton Ovelha, Paulo Granjo

Antes de se dedicar
ao design (a sua Pelo Brasil afora Imagine que um dia
descobre que a sua
Ao correr dos anos
e das viagens,
formação) e à escrita
(área em que tem feito de camião professora da Escola
Primária foi responsável,
Paulo Granjo foi
compreendendo cada
o seu percurso criativo), durante anos, pelo vez melhor a prática
Joana Bértholo foi uma O Que É Meu, encobrimento de dos curandeiros
desportista dedicada
(praticou natação e
José Henrique Bortoluci um dos nazis mais
procurados no século
de Moçambique.
Aprendeu a
depois triatlo), o que a XX. Pois, talvez esteja identificar os objetos
levou ao convívio com a sentir o mesmo que manuseavam
Uma certeza todos temos: o restaurante
a alta competição. choque que Betina nas sessões, os
em que há um camião parado nas redon-
É sobre esse mundo Anton sentiu. A sua termos que usavam
de alto rendimento,
dezas tem garantidamente boa comi- referência da infância e as diferentes
tão marcante nos da. Mas à volta dos camionistas foram ajudou Josef Mengele aproximações. Só
Jogos Olímpicos, criados mais estereótipos do que ideias nas últimas décadas de não esperava ser
que ela escreve em com fundamento. A leitura do livro do vida e foi responsável aconselhado (sempre
O Meu Treinador, o brasileiro José Henrique Bortoluci é uma pelo seu enterro com por via indireta) a
mais recente volume boa oportunidade para desfazer imagens um nome falso. A partir um tratamento de
da coleção retratos da feitas e perceber que não há país sem dessa revelação, a proteção. Identificado
Fundação Francisco o esforço e a dedicação destes profissio- jornalista da TV Globo como espírito forte,
Manuel dos Santos. nais. Concebido em várias camadas, refez os caminhos dos os males que lhe
Trata-se de um O Que É Meu é, em primeiro lugar, uma nazis na América do eram lançados
testemunho pessoal, conversa entre um pai e um filho. So- Sul e, em particular, os podiam estar a fazer
de uma reflexão sobre ciólogo de formação, Bortoluci percebeu que levaram o “anjo ricochete e a atingir
a perfeição e de uma que a vida do pai encerrava uma parte da morte” do campo curandeiros amigos.
pesquisa sobre o lado importante da História recente do Bra- de concentração Passados muitos anos,
menos falado (e mais sil, em ditadura e em democracia: a das de Auschwitz aos recorda essa cura que
difícil) da entrega obras públicas e dos direitos laborais, arredores de São Paulo. envolveu a ovelha e
total em idades tão bem como a dos ataques à Amazónia e Uma investigação que o sangue do título
precoces. Lúcido e da perseguição aos índios. E até o cancro assume o registo de do livro. É um relato
informado, é também thriller, para revelar extraordinário, crente
que surpreendeu o progenitor se revelou
uma carta de amor cumplicidades familiares e cético, disponível e
uma metáfora do consulado de Bolso-
ao desporto e uma e políticas. questionador, numa
naro. Com extrema sensibilidade, José
exposição dos limites — Casa das Letras, aprendizagem que
a que cada um pode
Henrique Bortoluci conjuga biografia, 368 págs., €22,90 continua a interpelar
chegar – para o bem História, sociologia e política, para fazer o antropólogo.
e para o mal. de um homem comum o protagonista — Tinta-da-China,
— FFMS, 104 págs., €5 de um épico invisível. Luís Ricardo Duarte 96 págs., €14,90
— Companhia das Letras, 192 págs., €17,45

21 MARÇO 2024 VISÃO 103


7 ---------- S A I R

Lisboa
Vencer
as colinas
O novo Funicular da Graça
veio facilitar o sobe-e-desce
entre a Baixa e o Castelo de
São Jorge, juntando-se aos
elevadores já existentes
— P O R S U S A N A LO P E S FA U S T I N O T E X TO
L U Í S B A R R A F OTO S

C
om as portas fechadas, começa
o burburinho no interior da
cabine. Enquanto uns pas-
sageiros comentam as vistas,
outros, de telemóvel em riste,
gravam e fotografam a sua pri-
meira viagem no novo Funicular da Graça,
um dos equipamentos que integram o Plano
de Acessibilidade Suave e Assistida à Coli-
na do Castelo e do qual fazem parte outros 2
elevadores, que foram sendo inaugurados
nos últimos anos. O objetivo é facilitar a
deslocação pedonal entre o Martim Moniz FUNICULAR DA GRAÇA
e a Baixa e o Castelo de São Jorge. Com a inauguração do funicular, a Mouraria e a Graça ficaram mais
Quinze anos depois do início da constru- perto. A cada dez minutos faz-se a viagem, numa composição com
ção, o Funicular da Graça faz a ligação entre janelas panorâmicas que transporta 14 passageiros de cada vez. Na
a Rua dos Lagares e o Miradouro Sophia de chegada à Graça, apreciem-se as vistas do miradouro, aproveitando
Mello Breyner Andresen desde o dia 12 de para passear pelo jardim e visitar a Igreja da Graça.
março, após vários anos de obras paradas
devido a achados arqueológicos – durante R. dos Lagares Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen
os trabalhos, foi descoberto um troço da > seg-dom 9h-21h > grátis até 2 de maio
muralha pertencente à Cerca Fernandina.
A leveza com que avança colina acima,
numa extensão de 78,03 metros – inclui um
pequeno túnel de nove metros –, contrasta
com a alternativa, feita a pé, pelas vizinhas
Escadinhas do Caracol da Graça, que exigem ESCADINHAS DA SAÚDE
alguma capacidade física. O acesso ao bairro histórico
A viagem entre gares leva um minuto e da Mouraria é facilitado
meio, e até sabe a pouco. No interior da com este equipamento. Dois
cabine, com capacidade para 14 pessoas, lanços de escadas rolantes a
há apenas um banco onde cabem alguns céu aberto, com cerca de 32
passageiros, e é permitido transportar-se a metros de extensão, fazem a
bicicleta ou a trotineta. Os animais de esti- ligação do Martim Moniz à Rua
mação, quando levados em transportadoras, Marquês de Ponte de Lima.
também são bem-vindos. Antes da chegada
ao Miradouro da Graça, arregalam-se os Pç. do Martim Moniz R.
olhos com uma bela vista de Lisboa, admi- Marquês de Ponte de Lima >
seg-dom 24 horas > grátis
rada em andamento lento. Inicialmente as
viagens vão ser gratuitas, passando depois
a ser pagas (exceto para portadores do passe
Navegante). slopes@visao.pt

104 VISÃO 21 MARÇO 2024


ELEVADOR DE SANTA LUZIA
Escondido num prédio reabilitado, este elevador
ajuda a vencer mais um desnível da colina. Fica entre
o concorrido Miradouro de Santa Luzia, onde a vista
se arregala com a paisagem e o conjunto de azulejos
que o decora, e a Rua Norberto Araújo, que celebra o
jornalista, olisipógrafo e autor do livro Peregrinações
por Lisboa.

R. Norberto Araújo, 21 Miradouro de Santa Luzia


> seg-dom 7h-18h > grátis
6

5 3

ELEVADOR DA SÉ ELEVADOR CASTELO-BAIXA


Encontramo-lo nas costas da Casa dos Neste equipamento não há um, mas três
Bicos, no Campo das Cebolas, e faz a elevadores que fazem a ligação da Baixa
ligação à Sé. A subida ou descida vence à Rua da Madalena. A partir daí, pode
12 metros de desnível com uma paragem seguir para o Elevador do Castelo, até
intermédia nas Escadinhas das Portas ao Miradouro do Chão do Loureiro, num
do Mar. No interior, o Núcleo Expositivo percurso com destino à Costa do Castelo.
do Elevador da Sé mostra achados
4 R. dos Fanqueiros, 170-178 R. da Madalena,
arqueológicos e estelas medievais.
149-151 > seg-dom 8h-21h > grátis
R. Afonso de Albuquerque, 38 R. Cruzes da
Sé > seg-dom 8h-21h > grátis
6
3

ELEVADOR CASTELO
É panorâmico e assegura a
continuidade no trajeto de
acesso ao Castelo de São
Jorge a partir da Baixa. No
topo, com saída no piso 7,
5 está o restaurante Zambeze
e o Miradouro do Chão do
Loureiro, de onde se avistam
Lisboa e o Tejo até à
Lisnave, na Margem Sul. No
parque de estacionamento,
encontra-se uma série de
obras de arte urbana.

Largo Chão do Loureiro


Calçada do Marquês de
Tancos > seg-dom 8h-21h >
grátis
1
4

21 MARÇO 2024 VISÃO 105


7 ---------- T E L E V I S ÃO

NATIONAL GEOGRAPHIC

Mestres da Fotografia
Missões e objetivas
Nova série documental centra-se no trabalho de sete
fotógrafos internacionais com os mais variados interesses,
da fotografia subaquática ao registo de guerra

KRYSTLE WRIGHT

O
Variedade s nomes de Elizabeth Chai Vasarhelyi e sobre o trabalho e a vida de sete grandes fotó-
Depois do Jimmy Chin, casal de realizadores, ain- grafos e destes sobre as suas paixões e motiva-
documentário da podem precisar de apresentações, ções para empunhar a máquina. Na estreia, Paul
Free Solo e do
mas as suas obras falam pela sensibi- Nicklen e Cristina Mittermeier, outro casal, estão
filme Nyad, os
realizadores lidade do seu olhar em situações de superação. concentrados na proteção dos oceanos, sendo
Elizabeth Chai Free Solo (2018), vencedor do Oscar de Melhor que a fotógrafa e bióloga mexicana é exímia em
Vasarhelyi e Documentário, acompanha Alex Honnold, o al- trazer imagens do fundo do mar, enquanto Paul é
Jimmy Chin pinista norte-americano que escalou o histórico especialista a planear expedições. É com espírito
selecionaram El Capitan, no Parque Natural de Yosemite, na ativista que embarcam para conseguir fotografar
sete fotógrafos
internacionais, Califórnia. Mais recente, a longa-metragem Nyad o navio da companhia Stena no oceano Atlântico,
exemplares do (2023), com Jodie Foster e Annette Bening, lem- junto às Bahamas, no meio de uma grande man-
poder da imagem bra a história da nadadora Diana Nyad, que, aos cha de óleo, munidos de lentes e drones.
64 anos, conseguiu fazer a travessia, em águas A particularidade de Anand Varma é ter na lupa a
abertas, de Cuba até à Flórida. sua melhor ferramenta de trabalho. Apaixonado
Agora, no novo projeto Mestres da Fotografia, por parasitas, morcegos carnívoros, medusas e
há várias visões a ter em conta: a dos realizadores fungos, vai mostrar no seu episódio os primeiros

106 VISÃO 21 MARÇO 2024


ANAND VARMA JAYCE KOLINSKI ANAND VARMA

21 dias de uma abelha, com pormenores que só o Onde acontecer uma tempestade, tornados, O risco e o belo
olho laboratorial alcança. furacões e trovoadas, a fotógrafa Krystle Wright A emersão de
O fascínio por ficção científica, e pelo universo está lá. Não se intimida com cenas apocalípticas um parasita e
os beija-flores
da saga Star Wars, levou Dan Winters a começar com grandes riscos envolvidos. E só um acidente vistos pelo óculo
a fotografar desde muito novo os modelos de na- num voo de asa-delta a fez abrandar o ritmo. microscópico de
ves, navios e foguetões por si desenhados. A via- A fotografia de guerra é a missão de Muhammed Anand Varma.
gem leva-o até Daca, capital do Bangladesh, para Muheisen, nascido em Jerusalém, em Israel, onde No episódio
registar o lado humano dos estaleiros de navios, na sua infância tinha de passar por check-points no dedicado a
Krystle Wright,
onde as gigantes embarcações são recuperadas caminho para a escola. Interessado no que não se a fotógrafa de
para voltarem a navegar. vê na maior crise de refugiados da Europa, aquan- catástrofes
Natural do Gana, Campbell Addy gerou gran- do do início da invasão da Ucrânia, Muhammed naturais viaja
de atração em Londres com a exposição I Love Muheisen acompanhou em Bucareste, na Roménia, até ao Grande
Campbell, em 2023. Habituado a fazer editoriais um grupo de mães e filhos a morarem em abrigos, Canyon
de moda, recebeu um grande elogio de Naomi com o desespero por companhia. — Sónia Calheiros
Campbell, a supermodelo britânica, ícone de uma
geração, que se sentiu muito bem representada Estreia 23 mar, sáb à tarde > 6 episódios,
pela sua lente. dois a cada sábado

As portas que Maria


Uma Ideia de Futuro
festas Concerto 50 anos do
25 de Abril em Lisboa
Amália abriu |
Fado e Liberdade
Conversas
Museu do Fado
Liberdade
Teatro Dom Roberto
Museu da Marioneta
25 e 27 abril, 16h00

de abril Terreiro do Paço


24 abril, 22h00
18 abril, 19h00
Antiprincesas:
Álbuns
de Família.

AGENDA
Catarina Eufémia Fotografias da
Os 10 dias que Toma, Liberdade! Teatro diáspora africana
abalaram Portugal (Com ou sem
São Luiz fora de portas na Grande Lisboa
Parque José Gomes (1975–hoje)
Arquivo Ephemera vírgula?) Ferreira, Alvalade
Exposição Visita guiada Exposição
20 abril, 11h00 e 16h00 Padrão dos
Mercado do Forno Museu Bordalo 21 abril, 11h00 Descobrimentos
do Tijolo, Arroios Pinheiro
A Liberdade a partir de 27 abril
23 março a 26 maio, 7, 14, 21 e 28 abril, 11h00
quarta a domingo, passa por aqui O povo está
11h00–19h00 Guião para Festa
um país possível na rua.
Museu do Aljube Praças e paços
Factum: Teatro 20 a 21 abril,
Eduardo Gageiro Teatro do Bairro Alto 15h00–20h00
das revoluções
Exposição 12 e 13 abril, 19h30 Percurso
Torreão Nascente 14 abril, 17h30 Quis saber Museu de Lisboa –
da Cordoaria Nacional quem sou Teatro Romano
até 5 maio, terça a Fazer do Castelo, Teatro 27 abril, 11h00
domingo, 10h00–13h00 Abril Teatro São Luiz,
Oficina e Mural Mais Alto!
e 14h00–18h00 Sala Luis Miguel Cintra
Castelo de S. Jorge Música
20 a 28 abril, terça a
Mais Festival Política 14, 21, 25 e 28 abril, sábado, 20h00 e
LU.CA – Teatro Luís
informações Cinema São Jorge 10h00–12h00 domingo, 17h30
de Camões
em egeac.pt 3, 4 e 5 abril 27 abril, 16h30 e 18h30
Luisa Cunha – uma Dia do Livro – 28 abril, 11h30 e 16h30
25 Abril, Sempre! obra em seis partes Noite da Rádio
Exposição Instalação Leituras
Museu do Aljube Galerias Municipais de Casa Fernando Pessoa
a partir de 4 abril Lisboa e Atelier-Museu 23 abril, 21h00
Júlio Pomar
16 abril a 5 maio
7 ---------- ESCA PA R

FRANCISCO NOGUEIRA
1

Porto Covo 2.
Mercados

Há mais vida Nesta altura do ano, a banca


de Cristina Brás, no Mercado

além das praias de Porto Covo, enche-se de


brócolos, grelos, coentros,
cebolas, maçãs e peras,
entre tantos outros produtos.
Andar a cavalo, apreciar o pôr do Sol, provar vinhos
“Produzimos a maior parte
e saborear a boa gastronomia. Sete sugestões para da fruta e dos legumes que
visitar fora da época balnear esta vila alentejana vendemos num terreno a cerca
de cinco quilómetros; o que
— P O R S A N D R A P I N TO
não conseguimos tentamos
arranjar o mais perto possível”,
conta Cristina. Já para
1. esplanada, preparando-se sugestões de peixe, carne e encontrar bom peixe e marisco,
Abranda para abrir no dia 30 de março, vegetarianas. “A ideia é dar vale a pena ir até ao Mercado
a tempo do fim de semana a conhecer vinhos menos de Santiago do Cacém, a cerca
da Páscoa. Gerida por Pedro conhecidos desta região, de 30 minutos, para conhecer
Em frente à Igreja da Nossa Martins, proprietário da entre outros produtores que a banca da energética Rosa
Senhora da Soledade, guesthouse O Lugar, esta seguem a filosofia de pouca Martins, ali há mais de uma
na bonita Praça Marquês casa juntará as duas grandes intervenção”, salienta Pedro década. A par dos produtos
de Pombal, o novíssimo paixões: a hospitalidade e os Martins. do mar – carapau, robalo,
restaurante-bar Abranda vinhos. A ementa aposta tanto safias, garoupa, búzios
ocupa uma casa térrea, nos petiscos (queijos, muxama Lg. Marquês de Pombal, 15 e camarões (podem ser
pintada de branco com a e marinados) como nos pratos > sex-dom 12h-23h, a partir embalados a vácuo e cortados
tradicional risca azul e com com mais substância, com de junho ter-dom 12h-23h à vontade do freguês) –,

108 VISÃO 21 MARÇO 2024


vende também vinhos, azeite e em 2017, junto com a mulher,
queijos da região. Inês. Os seis quartos apostam
numa decoração minimalista,
Mercado de Porto Covo > em cores neutras e com
Estrada Municipal 55 > seg-sab mobiliário de linhas direitas,
8h-13h > Mercado de Santiago
do Cacém > R. de Moçambique e têm varanda com vista
> ter-sáb 7h-13h para a baía. Na sala de estar,
servem um pequeno-almoço
com produtos da região:
3.
pão alentejano, croissants,
Trilho dos Pescadores queijadas de requeijão, feitas
na padaria da família do
O mar, aqui tão perto, desafia proprietário, sumo de laranja
a um passeio ao longo natural, iogurte, cereais e fruta
da costa e a apreciar um fresca.

GONÇALO F. SANTOS
dos melhores pores do sol
desta região integrada no R. 25 de Abril, 7C > T. 96 580
Parque Natural do Sudoeste 0557 > a partir €90
Alentejano. Aproveite-se
então um dos troços do 5
Trilho dos Pescadores, que, Branco. Num passeio de abrótea, às lulas fritas
nesta zona, liga Porto Covo a por esta herdade, que se crocantes com maionese
São Torpes. A partida faz- estende por oito hectares, e limão ou às saladinhas
se junto ao miradouro da com vista para o mar, de ovas e de polvo (todos
vila e entende-se por dez descobrem-se diversas €6,50). Mas há que guardar
quilómetros, passando pela atividades para entreter apetite para os pratos
Praia do Banho (deve o seu as crianças e também os principais, categoria em que
nome aos tradicionais banhos mais crescidos: passeios se destacam o arroz cremoso
de 29 de agosto) e pela a cavalo, dois campos de peixe e camarão (€33)
D.R.
Praia Grande, que pede uma de padel, piscina, parque e a açorda alentejana com
paragem mais prolongada no infantil e muitos animais, linguado frito e ovo escalfado 7
miradouro e um mergulho no nomeadamente burros, (€23,50). 7.
verão, claro. cavalos, lamas e veados.
R. Cândido da Silva, 55A Herdade do Cebolal
Porto Covo a São Torpes Monte da Bemposta > T. 96 451 > T. 92 406 0426 > ter-dom
> 10 quilómetros 3088 > a partir de €100 12h30-14h30, 19h30-22h30
Em Vale das Éguas, a cerca
de dez quilómetros de Porto
Covo, a Herdade do Cebolal
5. merece uma visita prolongada.
Lamelas Quem nos recebe é o enólogo
Luís Capitão, de 35 anos, a
quinta geração à frente deste
Em dias soalheiros, a varanda projeto familiar fundado em
com vista para o mar de 1890. A visita começa com
ENRIC VIVES-RUBIO

Porto Covo é um dos lugares um passeio pela propriedade,


mais concorridos do Lamelas, que se dedica à produção de
que entrou recentemente vinhos com baixa intervenção
D.R.

para a lista de restaurantes de produtos químicos, e


4 recomendados do Guia 6 continua na adega, com a
4. Michelin Portugal. “Não 6. prova de três ou seis vinhos,
estava à espera de receber entre eles o Palhete, um lote
Monte da Bemposta esta distinção, mas fiquei
O Lugar com mistura de uvas brancas
muito contente”, confessa e tintas, e o tinto Nat’Cool,
Bem perto do farol de Porto Ana Moura, a chefe de É com o chilrear dos feito em parceria com o
Covo, com vista para a ilha cozinha que trocou Lisboa passarinhos que se acorda produtor Dirk Niepoort, com
do Pessegueiro, uma terra pela vila dos avós maternos, n’O Lugar, no centro da vila. aroma a bagas vermelhas
em estrada batida leva-nos onde passa férias desde “O sonho do meu avô sempre maduras. À mesa, juntam-se
até ao Monte da Bemposta, pequena. A ementa do foi ter um alojamento, e eu ainda os petiscos da região.
um turismo rural com 21 Lamelas aposta sobretudo no consegui concretizá-lo”, conta
quartos espaçosos e bem peixe em receitas da região Pedro Martins que também Vale das Éguas, Santiago do
decorados (a maioria com trabalhadas com criatividade. trocou Lisboa por Porto Covo, Cacém > T. 91 464 2466 > visitas
cozinha), inaugurado em Nas entradas, é difícil resistir onde viveu até aos 18 anos, mediante reserva > provas
2021 por Pedro Castelo ao saboroso paté de fígados para abrir esta guesthouse €29/3 vinhos, €73/6 vinhos

21 MARÇO 2024 VISÃO 109


7 ---------- O G O STO D O S O U T R O S

“A Garota Não é —— Futebol


LEIXÕES SPORT CLUB
Luísa Amaral, entre outros
– que passaram pelo ciclo

uma mulher de uma ”Gosto muito de futebol e o


de poesia ao longo de 23
anos. “Mudançar porque

integridade intelectual
Leixões é o clube da minha é uma espécie de dança
terra [João Gesta é natural da mudança no sentido
de Matosinhos]. O meu tio foi certo, ou seja, refinar o

extraordinária médico do clube e, às vezes,


viajava com ele para ver
que a Revolução de Abril
nos trouxe de muito bom”,

e grande poeta. os jogos, que eram sempre


muito animados e com
alguma porrada à mistura.
justifica João Gesta.

As letras são oportunas Ninguém ama o seu clube


do coração por ser grande,
—— Cantautora

e as músicas amamos por ser nosso”, diz. A GAROTA NÃO


Tem uma admiração por

maravilhosas” —— Restaurante
A Garota Não (nome artístico
de Cátia Mazari Oliveira),
que conhece desde que a
DUVÁLIA PORTO convidou para as Quintas
Situado a poucos metros de Leitura em 2020. “É uma

João Gesta
do seu local de trabalho, mulher de uma integridade
o Teatro do Campo Alegre, intelectual extraordinária
é neste restaurante e e grande poeta. As letras
Escritor, poeta e programador das Quintas de Leitura, confeitaria que almoça, são muito oportunas e
no Porto, 70 anos todos os dias, há mais de as músicas maravilhosas.
duas décadas. “O cozido à Do álbum 2 de Abril
portuguesa, o bacalhau à destaco os temas Dilúvio
Brás e as tripas à moda do e Urgentemente, o poema
Porto são maravilhosos. Além de Eugénio de Andrade
do bolo-rei que fazem todo que ela musicou, e, mais
o ano.” recentemente, o 422, sobre
a realidade política e social
portuguesa.”
—— Livro
“MUDANÇAR É PRECISO” —— Poeta
Trata-se de uma antologia
poética, que vai ser lançada, MÁRIO CESARINY
na sessão das Quintas de “É o meu poeta de eleição,
Leitura, no dia 28, com tenho sempre na mesa
poemas de 30 poetas de cabeceira o livro Pena
– Tolentino de Mendonça, Capital. Tem versos muito
Filipa Leal, Nuno Júdice, bonitos, mas há um que
Maria Teresa Horta, Ana me excita mais do que os
outros: Ama como a Estrada
Começa. Em todas as
paredes de Portugal deveria
O ciclo de poesia estar escrita esta pichagem.”
Quintas de Leitura
assinala 23 anos, —— Filme
numa sessão no “MASCULINO, FEMININO”
dia 28, no Teatro JEAN-LUC GODARD
do Campo Alegre, “Impressionou-me este filme
no Porto. Nesse de Jean-Luc Godard que vi
no Cinema Batalha nos anos
dia, será lançada 73-74, sobre a liberdade e
LUCÍLIA MONTEIRO

a antologia poética o amor, com uma fortíssima


carga política.”
Mudançar
é Preciso — Florbela Alves

110 VISÃO 21 MARÇO 2024


Oferta de 1 bilhete na compra de outro
nestes espetáculos da Yellow Star Company

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7 ---------- J O G O S

PALAVRAS CRUZADAS
> > HORI ZON TAIS > > 1. Cada uma das peças de marfim ou de outro
material que, com a pressão dos dedos, faz soar o piano ou outro
instrumento semelhante. Elegante. // 2. Vazia. Rebuçado. // 3. Tratador
e condutor de elefantes. Fila. // 4. Antigo instrumento de cordas.
Planta apiácea conhecida por erva-doce. // 5. A mim. Espécime do
grupo dos acarídeos, que inclui os causadores da sarna do Homem
e as carraças dos cães. // 6. Congelar. // 7. Poema dramático ou lírico
originário da Itália, cantado com acompanhamento de orquestra. Antes
do meio-dia (abrev.). // 8. Parte do tronco ou da raiz que fica na terra
após o corte de uma árvore. Estimavas. // 9. Jornada. Proposição
que deve ser demonstrada para se tornar evidente. // 10. Cárcere.
Sofrimento físico ou moral. // 11. Cheiro, odor. Campo que tem cereais
semeados. > > VERTICAIS >> 1. Tanger. Parte da Física que trata da
luz e dos fenómenos da visão. // 2. Ecologia (abrev.). Limpar ou cortar
os ramos inúteis das árvores. // 3. Rosto. Mensagem. // 4. Relação
entre uma quantidade e outra quantidade, tomada como termo de
comparação e chamada unidade. Indicativa de relação de lugar.
// 5. Lugar onde se armazena e trata o vinho. Irmã dos pais ou
dos avós. // 6. Banco Central Europeu (sigla). Agência Europeia
do Ambiente (sigla). // 7. Antiga possessão portuguesa na costa
da Índia. Choupo. // 8. O primeiro algarismo da série dos números
inteiros. Fazer ficar ou ficar de cama por questões relacionadas com
a saúde ou a condição física. // 9. Agitar o ar com o abano. Protege
com vedação. // 10. Tornar lustroso pela fricção. Afeto. // 11. Terceiro
ventrículo do estômago dos ruminantes. Servira-se de.

SUDOKU QUIZ
— DIFÍCIL — PO R PED RO D IAS D E ALM EI DA

1. Depois da entrada da Suécia, 6. Que jornalista contracenava


quantos países fazem parte da com Ana Zanatti no filme
NATO (Organização do Tratado O Lugar do Morto,
do Atlântico Norte)? de António-Pedro Vasconcelos?
A. 25 A. Pedro Vieira
B. 29 B. Pedro Moutinho
C. 32 C. Pedro Oliveira

2. Qual destas cores não está 7. Quantas medalhas olímpicas


na bandeira de Angola? venceu a atleta Rosa Mota?
A. Amarelo A. Uma
B. Vermelho B. Duas
C. Verde C. Três

3. Onde nasceu, há 104 anos, 8. Quantas letras tem


a marca de gomas e guloseimas (na atualidade) o alfabeto grego?
Haribo? A. 21
A. Antuérpia B. 24
B. Bona C. 26
C. Zurique
9. O Parque Nacional do
4. Em que ano se estreou na Quilimanjaro encontra-se junto
televisão portuguesa o reality à fronteira entre que países?
show Big Brother? A. Uganda e Quénia
A. 2000 B. Tanzânia e Quénia
B. 2003 C. Tanzânia e Uganda
C. 2005
10. Que cidade francesa
5. De quem é a canção é conhecida como “capital
Foi na Cruz, editada em 1990? dos perfumes”?
A. Nick Cave & the Bad Seeds A. Limoges
B. Roberto Carlos B. Annecy
C. Paolo Conte C. Grasse

> > QUI Z > > 1. C // 2. C // 3. B // 4. A // 5. A // 6. C // 7. B // 8. B // 9. B // 10. C


// 6. BCE, AEA. // 7. Goa, Álamo. // 8. Um, Acamar. // 9. Abanar, Veda. // 10. Polir, Amor. // 11. Omaso, Usara.
SOLUÇÕES >> VERT ICAIS >> 1. Tocar, Ótica. // 2. Ecol, Podar. // 3. Cara, Recado. // 4. Número, Em. // 5. Adega, Tia.
// 6. Regelar. // 7. Ópera, AM. // 8. Toco, Amavas. // 9. Ida, Teorema. // 10. Cadeia, Dor. // 11. Aroma, Seara.
>> HORIZON TAIS >> 1. Tecla, Guapo. // 2. Oca, Bombom. // 3. Cornaca, Ala. // 4. Alaúde, Anis. // 5. Me, Ácaro.

112 VISÃO 21 MARÇO 2024

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