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Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de São José do Rio Preto (IBILCE)

Curso de Licenciatura em Letras – Diurno/Noturno


Disciplina: Estudos do Texto e do Discurso; Docente: Eduardo Penhavel

ESTUDO DIRIGIDO SOBRE ORGANIZAÇÃO TÓPICA

Uma das propriedades caracterizadoras de um texto é a Organização Tópica, que é a


organização (divisão) do texto em partes e subpartes no que diz respeito à estrutura temática
interacionalmente construída no texto. No processo de Organização Tópica, as menores partes
em que o texto se divide são chamadas de Segmentos Tópicos mínimos (SegTs mínimos). Em
outros termos, os SegTs mínimos são as menores porções textuais que apresentam a
propriedade da centração tópica.

Tendo em vista o processo de Organização Tópica e a noção de SegT mínimo, faça o que se
pede:

a) defina a propriedade de centração e explique cada um de seus traços definidores;

b) divida o texto abaixo em SegTs mínimos (indique as palavras e as linhas em que


começa e termina cada SegT mínimo e nomeie o tópico de cada SegT mínimo);

c) escolha o tópico (isto é, o tema) de um dos SegTs mínimos identificados e demonstre


que esse tópico apresenta os três traços constituintes da propriedade de centração;

d) monte a representação gráfica da hierarquia tópica do texto em análise.

Texto
(trecho adaptado de uma Narrativa de Experiência extraída do banco de dados IBORUNA)

[...] eu tenho assim uma história que eu acho que éh:: pra mim é interessante né? éh::... 1
quando::... no fato da gravidez dos meus três... filhos... e começando que a minha mãe 2
não ficava grávida... minha mãe se casô(u)... demorô(u) uns... ficô(u) dois anos sem 3
tê(r)... engravidá(r)... aí ela precisô(u) fazê(r) nove::na... promessa um monte de coisa pa 4
tê(r) filho... aí quando eu cresci ela sempre falava pra mim que eu num ia criÁ(r).. 5
porque como ela num num num cria::va eu também num ia tê(r) filho... aí foi eu me 6
casei aí a gente nem... num tomei comprimido na época nada porque.... ela sempre 7
falava que eu num ia ficá(r) grávida... que eu num ia ficá(r) grávida ((fala rindo))... que 8
eu num ia tê(r) filho e tal... aí logo que eu me casei daí um mês ou dois... eu fiquei 9
grávida... do meu filho mais velho... aí fiz trata/ fui fazê(r) pré-natal:: tudo né? no logo 10
no comecinho... aí eu já tive logo no começo problema de querê(r) abortá(r)... aí eu tive 11
que fazê(r) muito repou::so... tomei muito reMÉ::dio... aí:: naqueles TEMpo num se 12
fazia... ultra-SOM:: pra sabê(r) o SExo... a gente né? ficô(u) espeRAN::do pra pra 13
sabê(r) o que que era aquela curiosida::de... éh a gen/ foi pe/ meu marido foi comigo... 14
né? a minha mãe tamBÉM::... e a gente ali no hospital esperan::do... aí ele nasceu... né? 15
chorava MUIto por/ ((risos)) ele era chorão ((fala rindo))... ele num gostava de ficá(r)... 16
no berço né? as enfermeiras... éh::... iam no quarto e falavam – “eu num sei que que eu 17
faço com aquele filho seu porque ele só chora” –... ele só ficava no colo... de 18
pequenininho... éh a/ às vezes à noite tava com so::no... o o V. tinha que carregá(r) 19
ficá(r)... de noite com ele com cobertor porque tava frio fazia é/ época de frio né?... com 20
ele no colo aTÉ ele pegá(r) uma idade... aí daí quatro anos a gente levô(u) mais ou 21
menos né?... aí uns três anos e po(u)co eu fiquei grávida... do E.... que é o meu filho do 22
meio... aí já foi uma gravidez MAIS ou menos normal... mas aí a gente ficô(u) muito 23
feliz::... porque né?... pa quem num criava tê(r) o segundo... ((risos)) já era muita sorte... 24
aí na gravidez do E. o E. já era eu já percebia na gravidez que ele já era mais... já na na 25
própria gravidez eu percebi que era mais (tímido)... às vezes saía às vezes saía porque 26
tem um costume aqui na nossa... nossa... entre as mulheres... quando tá grávida... uma 27
falá(r) –“ai agora cê vai tê(r) homem... ai com essa barriga cê vai tê(r) menina” –... e 28
como já tinha o H. que era homem... eu saía as pessoa... a:: as mulheres falavam muito 29
que eu tê(r) menina... ai eu percebia que quando a/ era... à noite toda vez que eu ouvia 30
duas três pessoas durante o dia falá(r) que eu é/... que eu tava grávida de menina... à 31
noite eu sonhava que ele era menino... e que:: ele num/ que eu num gostava dele... às 32
vezes eu acordava choran::do... e/ e conversava com ele falava que eu gostava muito 33
dele independente do sexo que ele tinha eu amava ele do jeito que ele era... e foi aí 34
nasceu... aí já o E. num chorava... o E. era bem mais quieto NÃo gostava de ficá(r) no 35
colo... quando ele ia dormí(r) às vezes a gente pegava ele no colo ele ia se 36
esborrachan(d)o se estican(d)o até::... sabe? ele ficá(r) na cama ou no sofá... sozinho... 37
mas aí ele já... ele já tinha problema de bronquite aos dois meses ele começô(u) com 38
problema de bronqui::te aí a gente... fez muito tratamen::to... até:: simpatia e com o 39
passar dos anos realmente graças a Deus ele ficô(u) bom... e aÍ... passando né? esses an/ 40
o/ foi passando os anos com três quatro anos... aí... eu fiquei grávida... do meu ter/ do 41
meu terce(i)ro fi::lho... no caso é a M. né? veio uma menina... aí todo mundo aí todo 42
mundo já falava – “você é louca... éh já tem dois filhos arrumô(u) mais UM você tá 43
doida... onde já se viu”– aí eu fiquei assim só pensan(d)o comigo... pô eu me sinto 44
feliz... porque a minha mãe falava que eu nunca ia tê(r) filho... aí de repente eu tô 45
grávida do meu terCE(i)ro... e ainda nessa época num se fazia ultra-som... não existia 46
ultra-som ((risos))... então ía... aí todo mundo falava... –“mas agora é HOmem... já que 47
cê teve dois HOmens... o seu terce(i)ro filho é HOmem também... agora é Homem”– 48
né?... aí assim... fui pro hospital... tê(r) o bebê... todo mundo achava que ia sê(r) 49
menino... inclusive meu marido ele ainda ele falô(u) assim brincan(d)o assim pra mim 50
assim– “olha... se for menino”–... ele tinha tanta certeza que:: a criança era HOmem... 51
ele falô(u) assim – “então eu vô(u) pôr o nome... aí se for menina ((risos)) num conta” – 52
aí... tudo bem aí... fui pro hospital tê(r) ela... a surpresa... que era uma menina... aí... 53
sabe?... assim a gente quase que num acreditava porque c/ cê já tinha tanta certeza que ia 54
sê(r) menino e eu ainda tenho uma cunhada... eu tenho uma cunhada só e ela teve três 55
meNInas... aí EU né?... dois meninos e uma menina aquilo pra gente foi assim... tanto 56
até os menino ficaram super feliz... de vim uma irmãzinha pra eles né? aí eu escolhi o 57
nome dela eu coloquei M.... né? então é/ foi a gestação né?... dos três filhos que eu tive... 58
e no caso eles só::... até HOje os três filhos que eu tive eles só me dão alegria... né::?... 59
eles estudam graças a Deus... vão muito bem... na aula... eles são... inteligen::te eles 60
gostam de estudá(r) de lê(r) livros... que é uma coisa que eu amo lê(r) livro eles também 61
amam... eles gostam de fazê(r) mú::sica gostam de cantá(r) os três cantam juntos... éh 62
então... qué(r) dizê(r)... são os filhos que eu tive... que eu PUde TÊ(r)... os três que... 63
foram os três que a gente... éh::... na nossa análise a gente falô(u) –“não esses a gente dá 64
conta de tratá::(r) de sustentá::(r)... de... como se diz... de tomá(r) conta”–... e:: a gente 65
colocô(u) esses três e graças a Deus esses três só:: me dá:: alegria foram os três que eu 66
pude tê::(r)... e que eu a::mo e que eu não me arrependo em instan/ em instante nenhum 67
de tê(r) colocado eles no mundo... é a minha alegria é o maior presente que Deus podia 68
dá(r) pra mim e pro meu marido... é os três filhos... e no caso eu só lamento os outros 69
que eu não pude tê(r)... por questão de finance(i)ro de você não dá(r) conta de 70
sustentá(r) de mantê(r) com estudo c’uma vida mais digna... pra eles... né? 71
RESPOSTAS:

a) defina a propriedade de centração e explique cada um de seus traços definidores;

Definição:

A propriedade de Centração tópica pode ser definida como a centração dos


interlocutores na construção de um agrupamento de enunciados formulados a respeito
de um conjunto de referentes, concernentes entre si e em relevância num determinado
ponto do texto.

Traços definidores:

a) Concernência: relação de interdependência semântica entre os enunciados de um


segmento textual – implicativa, associativa, exemplificativa, ou de outra ordem –, pela
qual se dá a integração desses enunciados em um conjunto específico de referentes;

b) Relevância: proeminência desse conjunto, decorrente da posição focal assumida


pelos seus elementos;

c) Pontualização: localização desse conjunto, tido como focal, em determinado


momento do texto.

b) divida o texto abaixo em SegTs mínimos (indique as palavras e as linhas em que


começa e termina cada SegT mínimo e dê um nome a cada SegT mínimo);

SegT mínimo 1:
- O casamento antes da primeira gravidez;
- eu tenho assim (l. 1) [...] eu num ia tê(r) filho e tal (l. 9).

SegT mínimo 2:
- Gravidez do primeiro filho
- aí logo que eu me casei (l. 9) [...] aí ele nasceu... né? (l. 15).

SegT mínimo 3:
- Fase após nascimento do primeiro filho
- chorava MUIto (l. 16) [...] eu tô vendo que você num é (l. 23)

SegT mínimo 4:
- Gravidez do segundo filho
- aí daí quatro anos (l. 23) [...] e foi aí nasceu (l. 37)

SegT mínimo 5:
- Fase após nascimento do segundo filho
- aí já o E. num chorava (l. 37) [...] ele ficô(u) bom (l. 47)

SegT mínimo 6:
- Gravidez do terceiro filho
- e aÍ... passando né? (l. 47) [...] que era uma menina (l. 61)

SegT mínimo 7:
- Fase após nascimento do terceiro fillho
- aí... sabe?... assim a gente (l. 61) [...] eu coloquei M.... né? (l. 65)
SegT mínimo 8:
- Alegria com os três filhos
- então é/ foi a gestação né? (l. 65) [...] pra eles... né? (l. 78)

c) escolha o tópico (tema) de um dos SegTs mínimos identificados e demonstre que esse
tema apresenta os três traços constituintes da propriedade de centração;

SegT mínimo 2, tópico (tema): Gravidez do primeiro filho

Concernência: o tema Gravidez do primeiro filho tem a propriedade de concernência, pois o


texto constrói um conjunto de referentes concernentes entre si em torno desse tema, como se
vê nos elementos destacados abaixo:

[eu num ia tê(r) filho e tal...] aí logo que eu me casei daí um mês ou dois... eu fiquei 9
grávida... do meu filho mais velho... aí fiz trata/ fui fazê(r) pré-natal:: tudo né? no logo 10
no comecinho... aí eu já tive logo no começo problema de querê(r) abortá(r)... aí eu tive 11
que fazê(r) muito repou::so... tomei muito reMÉ::dio... aí:: naqueles TEMpo num se 12
fazia... ultra-SOM:: pra sabê(r) o SExo... a gente né? ficô(u) espeRAN::do pra pra 13
sabê(r) o que que era aquela curiosida::de... éh a gen/ foi pe/ meu marido foi comigo... 14
né? a minha mãe tamBÉM::... e a gente ali no hospital esperan::do... aí ele nasceu... né? 15

Relevância: esse tema (Gravidez do primeiro filho) apresenta relevância porque é um dos
temas colocados em destaque, em foco, no decorrer do texto.

Pontualização: esse tema tem a propriedade da pontualização, porque é focalizado num ponto
específico do texto (no caso, entre as linhas 9 e 15); ou seja, uma parte do texto é
particularmente dedicada à focalização desse tema.

d) monte a representação gráfica da organização intertópica do texto em análise (a


representação gráfica da organização intertópica é uma representação semelhante ao
Quadro 1 e ao Quadro 2 do handout 4);

Os filhos
da informante

Gravidez e fase
Casamento antes Alegria com
após nascimento
da primeira os filhos
dos filhos
gravidez

O primeiro filho O segundo filho O terceiro filho

Gravidez Após nasc Gravidez Após nasc Gravidez Após nasc


do 1º filho do 1º do 2º filho do 2º filho do 3º filho do 3º filho
filho

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