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GÊNEROS TEXTUAIS E PRÁTICAS DISCURSIVAS

Repare nas imagens a seguir!


Você consegue interpretá-las?
De que modo?
As imagens que você viu anteriormente
podem ser consideradas textos?
Por quê?

E o vídeo que segue pode ser considerado texto? Por quê?


YOUTUBE – Mulheres de Atenas, Chico Buarque

Assistir:
https://www.youtube.com/watch?v=MabbVn0Rlv4
Tanto as imagens quanto o vídeo podem ser considerados
textos?
Você sabe o porquê?
O poema Aula de leitura, de Ricardo Azevedo, nos dá pistas
sobre isso. Vamos ver?
Aula de Leitura

Ricardo Azevedo

A leitura é muito mais na cara do lutador,


do que decifrar palavras. se está sentindo dor;
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender: vai ler na casa de alguém,
o gosto que o dono tem;
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão; e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
e na cinza da fumaça,
e no jeito da pessoa, o tamanho da desgraça;
se trabalha ou se é à-toa;
e no tom que sopra o vento, vai ler nas nuvens do céu,
se corre o barco ou vai lento; vai ler na palma da mão;
e também na cor da fruta,
e no cheiro da comida;
vai ler até nas estrelas
e no som do coração.
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo; Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
e na pele da pessoa, pois os olhos têm segredos
e no brilho do sorriso; difíceis de decifrar.
Na leitura de textos, é preciso considerar o ponto de vista de
quem produz o texto e de quem o lê.
Portanto...
Texto, então, é toda e qualquer unidade de informação no contexto da
interação; entendendo-se interação como uma ação entre sujeitos, entre
interlocutores. Um texto pode ser oral ou escrito, literário ou não-literário, de
qualquer extensão.
Mas o que é contexto?
Contexto se refere não só ao entorno espacio-temporal (local, tempo de
interação, meio de propagação), ao entorno sócio-histórico-político-cultural
(tempo histórico, objetivo da comunicação, a temática apresentada), como
também toda a bagagem sócio-histórico-cultural e cognitiva que os
interlocutores possuem e utilizam na produção e na leitura que realizam ao
estarem em contato com textos. Esse último, centrado nos interlocutores,
pressupõe todos os conhecimentos que enunciador e co-enunciador possuem
necessários à leitura e à produção de textos: conhecimento linguístico,
encinclopédico e interacional (já estudados em aula anterior).
O contexto permite avaliar o que é ou não adequado do ponto de vista dos
modelos interacionais construídos culturalmente.
O contexto altera os significados do que se diz...
Escola que obrigar criança a cortar cabelo afro terá aula de História
obrigatória para coordenadores

Na última semana, uma mãe recebeu um bilhete da coordenadora da escola mandando


que seus filhos gêmeos cortassem o cabelo afro. A diretora escreveu que, apesar de
achar o cabelo dos dois lindos, “ficaria mais feliz” se eles fossem cortados.
(...)
A Associação Brasileira de Escolas Que Não São Ridículas (ABEQNSR) aproveitou
para anunciar que fez lobby e conseguiu que entrasse na pauta da Câmara um projeto
de lei que obriga essas escolas a dar aulas de História para coordenadores, professores
e diretores.
Sugere o texto da ABEQNSR:

“Sugerimos começar pelas grandes navegações para a costa da África, passar pelos
navios negreiros, pela morte e degradação moral imposta aos escravos. Pode falar de
tortura, de estupro, do cárcere, da libertação para um mundo sem oportunidades e
estrutura social para lhes dar futuro. Pode falar também da discriminação racial que só
recentemente se tornou crime num país em que humilhar e caçoar da aparência de
pretos e pardos fazia parte da rotina. Pode falar dos números de desemprego entre
populações negras, do número de homicídios entre jovens de pele escura. Eles têm
157% mais chances de ter uma morte violenta. Pode falar também um pouco de
biologia, para explicar a função evolutiva do cabelo afro, que é a de proteger contra a
radiação solar, o que aliás é mais indicado para o nosso clima tropical.
M Zorzanelli

http://www.sensacionalista.com.br/2016/06/22/escola-que-obrigar-crianca-a-cortar-
cabelo-afro-tera-aula-de-historia-obrigatoria-para-coordenadores/
O contexto justifica fatores que se incluem entre aqueles que
explicam ou justificam por que se disse isso e não aquilo
O contexto

permite fazer uma interpretação única de

certos enunciados antes ambíguos...


A falta do respeito ao contexto traz problemas para a interpretação
do texto...
Enunciados retirados de contexto ou co-texto

podem gerar polêmicas trazer outros sentidos

que não os pretendidos pelo autor


“Negro quando não faz na entrada... (...) Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que
gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá
em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir
buraco, ninguém se habilita. Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre
prontos. Raça de safados! E ainda se queixam! (...)”
Racismo
Luís Fernando Veríssimo (1975)
- Escuta aqui, ó criolo...
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não
adianta. Negro quando não faz na entrada...
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm
futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão
precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.
Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E
ainda se queixam!
(...)
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo
igual. Agora, eles lá e eu aqui.
Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O ...
(...)
O que é co-texto?
Co-texto se refere ao entorno verbal, aquilo que está no interior do texto, de
seus elementos linguísticos.
Agora, analisemos...outras situações...
Use sua intuição linguística e seu conhecimento do mundo para identificar/
nomear os textos a seguir.
Você conseguiu reconhecer o que eram os textos anteriores
(mesmo estando em outra língua)? De que maneira?
Sabe por que isso aconteceu?
Vocês sabe o que são gêneros textuais?
Já ouviu falar sobre eles?
Gêneros textuais são maneiras de organizar as informações linguísticas de
acordo com a finalidade do texto, com o papel dos interlocutores e com as
características da situação.
Aprendemos a reconhecer e utilizar gêneros textuais do mesmo modo que
desenvolvemos uma competência linguística quando apreendemos o código
linguístico, desenvolvemos uma competência sociocomunicativa quando
apreendemos comportamentos linguísticos. A identificação dos gêneros está
incluída nesta competência sociocomunicativa.
No uso da linguagem, utilizamos as lentes que adquirimos enquanto
aprendemos a falar e a escrever. Essas lentes são nossas competências
sociocomunicativas. Quando crianças, não adquirimos apenas as regras da
língua de nossos pais ou de nossa comunidade, adquirimos também maneiras de
“enxergar” o mundo e organizá-lo linguisticamente, ou seja, aprendemos
também comportamentos linguísticos: o que pode/ deve ou não ser dito, como
dizer, em qual situação. Sabemos também, por nossa experiência linguística e
conhecimento de mundo, que em algumas situações os textos devem ser
escritos, noutras devem ser falados (ou orais); em outras ainda, é indiferente se a
modalidade é escrita ou oral.
Por exemplo: quando se fala em festa, em um dia de trabalho, num ritual religioso ou
mesmo sobre determinado gênero, logo o leitor acessa o seu conhecimento de mundo
sobre o que ocorre nesses eventos ou o que é comum que aconteça em determinado
gênero discursivo e o que pode esperar que aconteça a partir dali, criando hipóteses
que serão testadas a fim de se comprovar ou não o que se esperava a partir daquela
situação. É exatamente a partir desse conhecimento de mundo que, ao ler um texto
humorístico (construído para que o leitor crie determinada expectativa em torno do que
ocorrerá no final), o autor quebre com essa expectativa trazendo algo inesperado pelo
leitor, produzindo assim o humor.
Ainda utilizando seu conhecimento de mundo, que textos você utilizaria se houvesse
a necessidade/ finalidade de:

i) contar para a mãe que precisou sair antes dela chegar para pegar uma encomenda
urgente na escola? (escrita)
ii) falar para adolescentes sobre a importância de não se prevenir de doenças
sexualmente transmissíveis? (oralidade e escrita)
iii) comprovar que você estuda naquele horário em determinada escola? (escrita)
iv) comprovar que foi realizada uma consulta médica e que, por isso, você faltou à
escola? (escrita)
v) comprovar que participou de um curso do início ao fim, tendo concluído todas as
atividades e avaliações desenvolvidas? (escrita)
vi) felicitar um amigo por algo? (oralidade e escrita)
vii) convidar alguém para uma festa que se realizará em detrimento de sua
aprovação no SISU? (oralidade e escrita)
Você já parou para pensar nas diferenças entre um texto oral e um
texto
escrito? Isso tem a ver conhecimentos que adquirimos ao longo das
interações de nossa vida e, muitas vezes, nem nos damos conta que
sabemos.
Vejamos algumas.
Os textos abaixo foram transcritos de dois momentos e elaborados por uma
mesma falante
em um trabalho realizado por alunos na disciplina de português em 2007.
O primeiro texto pertence à modalidade falada da língua; o segundo, à
modalidade escrita.
Foi solicitado que uma aluna do 6º ano de uma escola pública recontasse um
conto maravilhoso
que tenha lido ou ouvido e de que muito gostasse. Leia-os, comparando-os.
Modalidade Falada (texto falado)

Tem:... uma:... é:... é:... uma história que:... ela é... ela é:... é:.. muito legal... e eu
adoro ela... É a história da Chapeuzinha Vermelha. A profe... a professora do 2º
ano... acho... não, foi... foi a do 3º que contou pra gente, sabe?... Acho que tu
também conhece, né?... Todo mundo conhece... Qualquer pessoa conhece... Uma
menina que... que ganhou da vó... uma... uma capa... vermelha... e... e... aí...
ficou sendo chamada de:... de:... Chapeuzinha Vermelha... A ti... não... a mãe da
Chapeuzinha... Ela... Ela foi... Ela mandou a menina ir na casa... na casa da vó
dela... que a mãe mandou, né? que a vó tava doente... né?... Aí, a mãe mandou
ela visitar ela... né?... pra ver como a vó tava... mas... mas quando chegou lá... a
Chap...
A Chapeuzinho.... num encontrou ela não... encontrou foi o:... o lobo, né?...
vestido de vó... e aí... aí o caçador foi ajudar a menina... pra ela se livrar do
lobo, né?... Por causa que... ô... porque... o lobo tinha comi... não... tinha...
engolido a... a vó dela... Aí... Aí o caçador tirou a vó da barriga dele... Aí... Aí...
a Chapeuzinho ficou livre por causa que do caçador e a vó dela também... Aí,
todo mundo viveu feliz pra sempre... menos o Lobo Malvado que morreu, né?
Modalidade Escrita (texto escrito)

A istória que eu gostu dela é a istória da Chapeuzinha Vermelha. Apelidaro ela di


Chapeuzinha Vermelha por causa qui ela tia gainado uma capa da vó dela. A vó
fico duente e aí a mãe dela mando ela ir na casa da vó dela pra ve como qui a vó
tava. Mais aí lá ela encontro um lobu disfassado di vó e depois veiu u cassador e
tirou a vó da bariga do lobu qui tia engulidu ela. E todu mundo fico felis pra
sempri. Menus o lobo que Moreu.
1) Em relação ao tamanho dos textos, ambos apresentam o mesmo número de
linhas?
2) O que podemos dizer então quanto à diferença de tamanho entre os textos
falados
e escritos? Por que será que isso acontece?
3) É possível entendê-los com facilidade? Por quê?
4) O que parece ser comum na modalidade falada? Apresente características.

4) Algumas características da língua oral identificadas no texto falado:


Hesitações e correções (Ela foi... Ela mandou; por causa que... ô... Porque);
Repetições (ela é... ela é...);
Marcadores conversacionais (né? Sabe?)
As suas formas de comunicação oral e escrita nas atividades diárias
são sempre iguais? O que parece mudar/ variar?
Vamos pensar um pouco mais?
Você sabe o que é variação? Imagina o que significa variação linguística? Acha que
todos os falantes brasileiros, por fazerem parte de um mesmo país, falam da mesma
maneira? Pois bem, você verá que não. De qualquer forma, essas diferenças
dependem de diversos fatores. Entre eles: idade (se criança, adolescente, adulto,
idoso), escolaridade (se nunca estudou, se estudou só até o 5º ano, só até o 9º, se
concluiu o ensino médio, se cursou uma faculdade), sexo, profissão, local onde o
falante cresceu, classe social, modalidade da língua (escrita ou fala), grau de
monitoramento (se o contexto é formal ou informal), momento histórico da língua,
gênero discursivo (interlocutor, finalidade...), o assunto de que se fala (se é
conhecido dos interlocutores, se é incômodo ou não). Vejamos de que modo eles
influenciam nosso modo de usar a língua.
Você sabe qual a diferença entre formalidade e informalidade? O que caracteriza cada
momento? Vamos pensar sobre isso?
Imaginemos diferentes momentos festivos:
Situação 1 – ida ao cinema durante a semana
Situação 2 – ida ao cinema no final de semana
Situação 3 – ida à escola
Situação 4 – um passeio pelo Parque das Dunas
Situação 5 – ida à praia ou piscina
Situação 6 – Academia de ginástica
Situação 7 – Festa no trabalho
Situação 8 – Casamento pela manhã
Situação 9 – Casamento à noite
Situação 10 – ida à casa dos avós
Agora, pense em cada situação citada como muito formal, menos formal, mais
informal, menos formal e escreva no continuum abaixo (em que linha estaria
cada situação).
/___________________________/__________________________________/
+ informal - informal
/_________________________/____________________________________/
+ formal - formal
Pois bem, da mesma forma que é preciso adequar a roupa a cada evento social,
também precisamos adequar nossa forma de usar a língua. Pensando nisso, reflitam
e indiquem, ao lado de cada situação, se vocês usariam uma linguagem mais formal,
menos formal, mais informal ou menos informal, explicando o porquê.
a) Situação 1 – uma carta para uma amiga que está distante contando as novidades
b) Situação 2 – uma carta para uma amiga contando que mentiu para ela sobre algo
c) Situação 3 - uma carta para a diretora da escola solicitando que contribua
financeiramente com um lanche coletivo para turma
d) Situação 4 – uma conversa com colegas na escola na hora do intervalo.
e) Situação 5 – uma conversa com colegas na biblioteca
f) Situação 6 – uma conversa com colegas na direção contando sobre um problema
Na leitura e naescrita, nossa competência sociocomunicativa nos
auxilia a perceber o que é ou não inadequado para escrever/ falar,
que interpretação devemos ou não seguir

Um exemplo que todos nós conhecemos é aquele em que uma determinada


pessoa não identifica uma situação de ironia ou de humor e leva a sério alguma
coisa que deveria ser apenas uma brincadeira. Há um exemplo de não
reconhecimento das intenções do falante na seguinte anedota:

José: Quero convidar você para a festa de quinze anos de minha filha.
Fernando: Aceito com o maior prazer, mas infelizmente só poderei ficar dois
anos.

Pela resposta que dá, como você acha que Fernando entendeu a pergunta?
Esse diálogo em forma de piada – gênero anedota – ilustra diferenças na apreensão
textual que vão além do que é apenas linguístico no texto. Reconhecer, ou não, a
impossibilidade de uma festa ter a duração de quinze anos é parte da competência
sociocomunicativa do falante. A expressão “de quinze anos” foi erroneamente
tomada, não como qualificação do tipo de festa, mas delimitação do tempo de
duração do evento. Do ponto de vista gramatical essa pode ser, perfei- tamente, uma
das funções da preposição “de”, como em “aula de quarenta minutos”, “jogo de dois
tempos”, etc.
Somente um conhecimento de mundo elimina tal interpretação, conduzindo o
ouvinte à interpretação desejada por José, mas não reconhecida por Fernando.
O leitor que reconhece esse mal-entendido reconhece o texto como piada. O
leitor que faz a interpretação de Fernando não apreende o humor do texto.
O contato com textos no nosso dia-a-dia exercita nossa capacidade de
reconhecer os fins para os quais este ou aquele texto é produzido. O nível de
linguagem, o jogo entre conteúdos explícitos e implícitos, o respeito às relações
de interlocução tornam, assim, um texto adequado ou não a sua situação de
produção/leitura. Essas são características que definem o uso de um
determinado gênero.
Não apenas realizamos escolhas linguísticas ao produzir um texto também
“escolhemos” o gênero em que vamos realizar esse texto. E o mais interessante é que
muitas vezes sabemos “escolher” esse gênero sem ao menos ter aprendido isso na
escola. Sabemos isso, porque desenvolvemos esse conhecimento junto com nossa
intuição linguística.
Mas é importante destacar que a maior parte dessas escolhas não é livre: existe uma
“história cultural” que nos orienta para que, social e culturalmente, cada um de nós
também revele sua posição nas redes sociais em que circula – seus papéis sociais – e
de que modos queremos que os outros nos vejam. Essa “escolha” do gênero obedece
a hábitos culturalmente construídos e a determinações históricas.
Alguns textos têm, assim, definido de antemão, o gênero em que já devem ser
produzidos, outros admitem uma certa flexibilidade. O requerimento, por exemplo, é
uma forma rígida de texto que não admite mudanças.
Dependendo dos nossos objetivos e da imagem que temos dos nossos interlocutores,
fazemos nossas opções linguísticas, tanto de nível de formalidade da linguagem
como de vocabulário, por exemplo. Também, dependendo da situação, escolhemos
como vamos organizar a sequência textual – ou seja, definimos qual gênero será o
mais adequado para a comunicação.
É preciso considerar a esfera de atividade/ domínio discursivo que um gênero é
produzido: esfera acadêmica, jurídica, familiar, escolar etc.
Nossa experiência diária, nos coloca frente a frente com diversos gêneros
textuais, que podem ser definidos como enunciados relativamente estáveis, mas
não estáticos. São estáveis porque podemos ver neles o que têm de igual e o que
têm de diferente em relação a outros textos. Considera-se estabilidade o conjunto
de marcas na organização textual que nos leva a decidir se um texto é uma carta,
uma biografia, uma anedota, uma receita, etc.
Mas estabilidade não quer dizer rigidez, por isso, gêneros textuais não são
estáticos: a longo prazo, são suscetíveis às alterações históricas, culturais e sociais
no seio das quais se realizam; a curto prazo, podem ter as marcas de estilo dos
sujeitos que os produzem.
Ao classifica ser um gênero textual, devemos considerar sua composição,
estrutura formal e linguística, seu conteúdo temático e estilo e a esfera social em
que se insere. Além disso, devemos estar cientes de que há gêneros que se
hibridizam (intergenericidade).
Há determinados gêneros em que se esperam determinados conteúdos temáticos,
criando expectativa no leitor; o estilo está relacionado ao tipo de relação que
existe entre locutor e interlocutores.
1. Por que gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa?
Porque são eventos textuais altamente maleáveis e estão ligados às atividades socioculturais.
São flexíveis e variam segundo as necessidades de comunicação.

2. Por que os gêneros são caracterizados como práticas discursivas, ou práticas


sociocomunicativas, e não como práticas linguísticas?
Porque o mais relevante na sua definição é sua situação de comunicação, a prática de sua
realização, e não sua forma lingüística.

3. A palavra “suporte” aparece várias vezes no texto para designar algo ligado ao texto e
ao gênero. A partir do contexto, a que você acha que ela se refere? Dê alguns exemplos.
“Suporte” pode ser o veículo, o canal usado para a comunicação; o objeto concreto onde se
apóia o texto: livro, gravador, telefone, internet, revista, etc.
4. A partir do que diz o texto, como você acha que surgem novos gêneros?
Surgem a partir de inovações culturais, do uso constante de novos meios de comunicação;
mas não são completamente novos: apóiam-se em gêneros já conhecidos que mantêm com
eles alguma semelhança. Surgem quando há um novo enquadramento comunicativo para
um gênero já existente.

5. Por que desaparecem gêneros antigos?


Desaparecem porque deixam de ter relevância cultural, quando novas tecnologias os
substituem.
6. Como se comportam os novos gêneros em relação às fronteiras entre oralidade e
escrita?
Os novos gêneros tendem a desfazer ou a enfraquecer as fronteiras entre oralidade e
escrita porque são mais plásticos, mais maleáveis. Integram signos de várias naturezas.

7. Que aspectos podem servir de critério para a classificação de um gênero?


Podem ser aspectos formais (linguísticos, estilísticos) e funcionais (culturais); podem
estar ligados ao suporte ou ao objetivo.
Fonte: Programa Gestar II
As finalidades do gênero literário são estéticas; ou seja, em qualquer situação particular, a
leitura de um texto literário desperta emoções, prazer.
O uso da linguagem com finalidade estética, prazerosa, não precisa, necessariamente, ter
rimas e métrica: pode também apresentar a forma de prosa. Nesse caso, o fato de poder
ser ficção é fundamental para sua classificação.
Além disso, os critérios usados para caracterizar uma forma literária ou poética podem
variar de época para época. Mas uma coisa permanece constante: na linguagem literária,
tão importante quanto o dizer é o como dizer. Por isso, forma e conteúdo são
inseparáveis.
Hoje em dia há um certo consenso entre os estudiosos para se classificar um texto
literário como aquele que tem uma função estética, enquanto se considera que o texto
não-literário tem uma função utilitária (informar, convencer, explicar, responder, ordenar,
etc.). Ou seja, uma característica fundamental do gênero literário é colocar em relevância
o plano da expressão, que não serve apenas para transmitir conteúdos, ou informações,
mas para recriá-los na sua organização.
Tanto os textos considerados literários, quanto os não-literários, são assim classificados
por um conjunto de fatores que não podem ser considerados isoladamente.
Dependendo da função maior que um texto exerce na interação, sua classificação pode
variar. Nem o tema, nem a maneira de organizar e explorar o vocabulário podem, por si
só, justificar uma classificação.
Os textos considerados literários põem, em geral, em relevo o plano da expressão, da
sonoridade, do jogo de imagens, mas a definição do que seja texto literário, ou poético,
pode variar, segundo as escolas literárias.
Em geral, os textos não-literários (funcionais ou utilitários) têm como finalidade maior a
informação e, por isso, aspectos estéticos da linguagem – ou a exploração do plano
sonoro ou da linguagem figurada – são considerados em segundo plano.
Podemos considerar que os gêneros dividem-se em dois grandes grupos: os
literários e os não-literários. Entre os literários está o gênero poético, composto
por poemas. Nesta seção comparamos dois poemas para identificar neles
características que permitem assim classificá-los.
A maneira de trabalhar com as palavras, explorando sua sonoridade, suas
significações, as imagens sonoras e poéticas que criam, constitui o traço mais
marcante do gênero poético. Essas características associadas à finalidade da
produção de um gênero poético, ao papel que se espera dos interlocutores,
compõem o que chamamos a função sociocomunicativa do gênero poético.
No gênero poético, a função sociocomunicativa visa à exploração estética da
linguagem, tanto para quem produz quanto para quem lê, ou ouve. Por isso, os
temas do gênero poético podem ser bem diversificados e cada época e lugar, ou
cada escola literária, costuma definir suas prioridades temáticas. Também as
exigências formais, como de rimas ou métrica, variam de época para época, ou
de escola para escola literária.
Apesar de todas essas possibilidades de variação, o texto literário se caracteriza
pela exploração de imagens que as palavras podem criar e pela finalidade de
proporcionar prazer aos leitores ou ouvintes.
Fonte: Programa Gestar II
Obrigada!

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