Capítulo 20

Fundamentos e Práticas Pediátricas e Neonatais – Edição III

Palavras-chave: Cetoacidose Diabética; Pediatria; Complicações do diabetes

CAPÍTULO 20
COMPLICAÇÕES DA CETOACIDOSE DIABÉTICA NA
DIABETE MELLITUS TIPO 1 EM PACIENTES
PEDIÁTRICOS

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INTRODUÇÃO
A cetoacidose diabética (CAD) é uma com-
plicação aguda, grave e temida pelos portadores
da Diabetes Mellitus tipo 1, causada por um
aumento da concentração de glicose sérica (>
200-300 mg/dL), levando à cetonemia, que ao
entrar em contato com o pH fisiológico do
sangue sofre dissociação completa e promove a
liberação de íons H+, induzindo à um quadro de
acidose metabólica, onde o paciente apresenta
o pH sanguíneo <7,3 com nível de bicarbonato
sérico <15 mEq/L (FERRAN & PAIVA, 2017).
Além disso, a cetoacidose como consequên-
cia pode gerar quadros de queda do bicarbonato
plasmático, cetonúria e/ou cetonemia, dispnéia,
náuseas, polidipsia, poliúria, perda de peso e
pode causar quadros graves como edema
cerebral, acidose hiperclorêmica, hipoglicemia,
hipocalemia, coma e óbito. Em casos mais raros
também pode provocar um acidente vascular
cerebral ou trombose venosa profunda, devido
ao aumento da formação de coágulos sanguí-
neos, ainda pode acarretar em alterações
pulmonares.
Portanto, podemos observar que a CAD é
uma doença preocupante, devido às suas com-
plicações. A situação se torna alarmante, pois
segundo Souza et al, 2020, no Brasil temos
incidência de 10,4 casos de DM1 por 100.000
habitantes, sendo que 20% dos enfermos
evoluem para cetoacidose diabética, ocorrendo
predominantemente em crianças menores de 4
anos. Desse modo, a CAD é constantemente en-
contrada na unidade de terapia intensiva
pediátrica.
Com isso, tendo em vista a gravidade da
cetoacidose diabética pediátrica e que os profis-
sionais de saúde não têm um preparo adequado
para lidar com os agravos da CAD, somado a
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importância de um diagnóstico correto, a pre-
sente revisão busca discutir as principais
complicações a fim de orientar médicos, demais
profissionais de saúde e acadêmicos de
medicina, para que possam identificar as
consequências geradas pela CAD em crianças.
MÉTODO
O presente estudo foi elaborado a partir de
uma revisão da literatura das bases de dados in-
dexadas PubMed e SciELO, utilizando os se-
guintes descritores em saúde: “diabetes mellitus
tipo 1”,“cetoacidose diabética”, “pediatria”,
“complicações do diabetes” tendo como fatores
de exclusão faixa etária não pediátrica e de
inclusão dos estudos dos últimos 10 anos desta
faixa etária. Após escolha dos estudos elaborou
-se uma revisão qualitativa do material a fim de
organizar um artigo de revisão para facilitar o
diagnóstico e manejo desta doença.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para esta revisão, 25 artigos foram encon-
trados e 10 selecionados, que cumpriam com os
critérios de inclusão e exclusão do trabalho.
Na literatura, há diversos artigos relaciona-
dos com as diferentes complicações da cetoaci-
dose diabética, porém, são poucos os artigos en-
contrados que abordam e agrupam algumas das
mais comuns e alarmantes complicações, que
levam à óbito diversos pacientes pediátricos ao
redor do mundo. Dentre as complicações, pode-
mos destacar a hipoglicemia, edema pulmonar,
trombose venosa profunda (TVP) e alterações
cognitivas.
Hipoglicemia
Segundo Ferran et al, 2017, a hipoglicemia
é classificada por uma glicemia menor que 60
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mg/dl em crianças maiores de 12 meses, sendo
uma das principais causas de morte na CAD. A
diminuição de glicose no sangue é
extremamente grave, pois o encéfalo utiliza a
glicose como combustível fisiológico para ma-
nutenção de células neurais, ou seja, o paciente
pode apresentar alterações neurológicas como
sonolência, alterações cognitivas, fadiga,
podendo apresentar convulsão e em coma.
Além disso, ele também pode apresentar sinto-
mas de sudorese, náuseas e palpitação. Isso
ocorre devido ao uso inapropriado de insulina
no tratamento da cetoacidose, que leva a uma
hipoglicemia secundária. Por isso, é necessário
um acompanhamento minucioso dos exames
laboratoriais e da hemodinâmica, para que o
paciente não evolua para esse quadro. Outra
medida que pode evitar essa situação, é
administrar baixas doses de insulina progressi-
vamente para corrigir a CAD (ISHII, 2017,
NETO et al, 2010).
Edema cerebral
O edema cerebral (EC) é a mais severa
complicação da CAD, que pode levar ao óbito
se não houver manejo rápido e adequado. Nos
locais onde possui menor infraestrutura no
serviço de saúde, a mortalidade decorrente de
edema cerebral é maior. Em média, ao redor do
mundo, os casos de edema cerebral são
responsáveis por cerca de 60% a 90% das
mortes decorrentes das complicações de CAD
(LOPES et al., 2017).
O edema cerebral pode apresentar como
sintomas a diminuição do nível de consciência,
cefaléia, letargia, alterações pupilares, bradicar-
dia e parada respiratória. Apesar da fisiopatolo-
gia ainda ser desconhecida, sabe-se que o
edema osmótico é um dos responsáveis para o
edema cerebral, causado pela oferta de grandes
volumes de fluidos durante as primeiras horas
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de tratamento. Estudos recentes sugerem que
este está associado à isquemia cerebral devido
à hipoperfusão. A hipocapnia causada pela
CAD leva à vasoconstrição cerebral, a qual, as-
sociada à desidratação, diminui o aporte nutri-
cional e leva ao edema. Estudos sugerem que
este tipo de aumento da pressão intracraniana
está associado à isquemia devido à hipoperfu-
são (BASSELL et al., 2021; PANNIA et al.,
2020).
Edema pulmonar
Durante o quadro de cetoacidose a frequên-
cia respiratória pode alterar devido ao meca-
nismo de compensação da acidose metabólica,
o paciente pode ficar dispneico e em casos
graves apresentar a respiração de Kussmaul
Além disso, pode ocorrer alteração no ritmo e
frequência respiratória, devido ao mecanismo
de compensação frente à acidose metabólica
causada pela cetoacidose diabética. Destaca-se
dentre as alterações respiratórias a dispneia e
em pacientes com quadros graves, pode-se
verificar presença do ritmo respiratório de
Kussmaul (BIALO et al., 2015; NETO &
PIRES, 2010).
Já o edema pulmonar é uma complicação
mais rara durante o quadro de cetoacidose dia-
bética pediátrica. Algumas crianças podem
apresentar quadros de hipoxemia, que leva à di-
minuição da pressão osmótica, gerando
aumento da concentração hídrica nos pulmões
e reduzindo sua complacência. Sendo assim,
necessitam de suporte de oxigênio complemen-
tar ou intubação (BIALO et al., 2015;
GOSMANOV et al., 2021).
Trombose venosa profunda (TVP)
A TVP é uma complicação decorrente da
CAD devido à desidratação severa que aumenta
a viscosidade sanguínea, estimulando a cascata
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de coagulação e favorecendo um estado
hipercoagulável, assim causando a estase
venosa. Os maiores níveis séricos de glicose,
que ocorrem no início da doença, corroboram
para a TVP. Além disso, a introdução de
cateteres venosos centrais é outro fator
estimulante para essa complicação, uma vez
que trata-se de um corpo estranho, causando
dano endotelial. Crianças menores de 3 anos de
idade com CAD possuem maiores chances de
desenvolver TVP devido ao menor diâmetro do
vaso - o qual está mais sujeito aos eventos de
glicação avançada (BIALO et al., 2015;
OLIVEIRA et al. , 2017).
Alterações cognitivas
Estudos em crianças com CAD a longo
prazo indicaram que estas apresentaram uma
piora no desenvolvimento de memória, como
associações evento-cor e associação evento-
posição espacial. Assim, foi apresentado uma
teoria que no edema cerebral ocorre uma lesão
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isquêmica no hipocampo (BIALO et al., 2015;
ISHII, 2017).
CONCLUSÃO
Com base no exposto, a cetoacidose
diabética pediátrica apresenta desfechos
relevantes que precisam ser investigados para
melhorar a compreensão das complicações,
melhorar as políticas de saúde e diminuir a
morbimortalidade. É importante salientar que
pacientes portadores de DM1 podem apresentar
como consequência a CAD, e se não tratada
desenrolar complicações importantes nos
pacientes pediátricos, que podem levar a danos
severos como ao óbito. Portanto, intervir no
quadro primário da DM1 para que não ocorram
eventos como os abordados no decorrer do
artigo é de suma importância para a
comunidade científica, profissionais da saúde,
pacientes e para os sistemas de saúde ao redor
do mundo, permitindo assim, melhores
tratamentos e diagnósticos mais rápidos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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