Você está na página 1de 11

Necessidades e oportunidades de

investimentos em infraestrutura no Brasil

Wilson Ferreira Junior


Presidente da Eletrobras

1. Introdução

O Brasil tem consistentemente figurado entre as maiores economias do mundo em termos


absolutos. Em duas recentes listas de países classificados por Produto Interno Bruto (PIB)
nominal, o Brasil aparece:

 Segundo o Banco Mundial, como a 9ª maior economia do mundo, com um PIB nominal
de US$ 1,84 trilhão (dados de 2019)1; e

 Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), como a 12ª maior economia do mundo,
com um PIB nominal de US$ 1,36 trilhão (estimativas de 2020)2.

Entretanto, outros indicadores apontam que a economia brasileira ainda tem pela frente
desafios e gargalos significativos que limitam decisivamente as possibilidades de crescimento e
desenvolvimento do país. No Índice Global de Competitividade 4.0 (Global Competitiveness
Index 4.0) do Fórum Econômico Mundial, que avalia economias nacionais de acordo com pilares
como infraestrutura, estabilidade macroeconômica, mercado de trabalho e capacidade de
inovação, o Brasil figura apenas na 71ª posição, atrás de outros países latino-americanos, do
Chile (33ª) ao Panamá (66ª), abaixo ainda de países como as Filipinas (64ª) e a Armênia
(69ª)3. O Brasil, portanto, está bastante aquém da fronteira da competitividade, e um de seus
principais obstáculos são justamente suas deficiências de infraestrutura, dimensão em que o
país tem desempenho ainda pior do que no geral: dentre os 141 países do índice, o Brasil
possui apenas a 78ª melhor infraestrutura, posição que contrasta com a pujança do PIB
nacional, e inequivocamente o limita.

A atual situação econômica brasileira, resultado da recessão de 2015-2016 e das consequentes


dificuldades fiscais desde então, evidencia as necessidades de investimentos estruturantes em
diversas frentes, notadamente infraestrutura. Essas necessidades, por outro lado, caracterizam-
se também como oportunidades para investidores, empresas e governo, com potencial de
geração de valor para todas as partes e para o país.

1
Fonte: https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?year_high_desc=true.
2
Fonte: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/weo-database/2020/October/weo-
report?c=512,914,612,614,311,213,911,314,193,122,912,313,419,513,316,913,124,339,638,514,218,963,616,223,51
6,918,748,618,624,522,622,156,626,628,228,924,233,632,636,634,238,662,960,423,935,128,611,321,243,248,469,2
53,642,643,939,734,644,819,172,132,646,648,915,134,652,174,328,258,656,654,336,263,268,532,944,176,534,536,
429,433,178,436,136,343,158,439,916,664,826,542,967,443,917,544,941,446,666,668,672,946,137,546,674,676,54
8,556,678,181,867,682,684,273,868,921,948,943,686,688,518,728,836,558,138,196,278,692,694,962,142,449,564,5
65,283,853,288,293,566,964,182,359,453,968,922,714,862,135,716,456,722,942,718,724,576,936,961,813,726,199,
733,184,524,361,362,364,732,366,144,146,463,528,923,738,578,537,742,866,369,744,186,925,869,746,926,466,11
2,111,298,927,846,299,582,487,474,754,698,&s=NGDPD,&sy=2018&ey=2025&ssm=0&scsm=1&scc=0&ssd=1&ssc=0
&sic=0&sort=country&ds=.&br=1.
3
Fonte: http://www3.weforum.org/docs/WEF_TheGlobalCompetitivenessReport2019.pdf.
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

2. Investimento em infraestrutura no Brasil: muito aquém da necessidade

Na última década, o Brasil tem apresentado queda na proporção da Formação Bruta de Capital
Fixo (FBCF), indicador que mede o investimento em ativos que aumentam a capacidade
produtiva de uma economia no futuro, sobre o PIB do país. A razão FBCF / PIB no Brasil, que
havia sido de 20,5% em 2010, e chegado a 20,9% em 2013, caiu para 15,4% em 20194.

Gráfico 1 FBCF / PIB no Brasil de 2010 a 2019 (Fonte: IBGE)

20,7% 20,9%
20,5% 20,6% FBCF / PIB
19,9%

17,8%

15,5% 15,4%
15,0% 15,2%

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Essa queda é evidenciada também pelo expressivo decréscimo do total de investimentos na


infraestrutura brasileira no período, que, com a recessão e a crise fiscal a partir de 2015,
caíram de cerca de R$ 180 bilhões por ano em 2014 para R$ 123,9 bilhões por ano em 2019,
com destaque para retração expressiva do investimento público4.

Gráfico 2 Investimento em infraestrutura no Brasil: público x privado


(valores em R$ bilhões) (Fonte: Abdib) Privado
Público
178,8 180,3
167,8
157,2
151,3
145,8
128,0 123,9
122,5 120,1
109,6 109,3
99,3
82,2 96,0
101,1

82,6 79,9 90,0 89,8

63,6 68,5 69,2 71,0


61,2
50,2
39,9 40,2 38,0 34,1

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

4
Fonte: Abdib. Livro Azul da Infraestrutura. 2020.

Página 2 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

Com efeito, no período, foi a iniciativa privada que liderou cada vez mais os investimentos em
infraestrutura no país. O poder público, que costuma atuar como indutor de investimentos em
infraestrutura mundo afora, viu sua participação no fomento a esse setor fundamental à
economia brasileira cair de 43,6% em 2010 para 27,5% em 2019. O setor privado, em
contrapartida, aumentou em 28% sua participação, e atualmente lidera os investimentos em
infraestrutura no país.

Gráfico 3 Investimento em infraestrutura no Brasil: % público x privado

72,5%
70,3%
66,8% 67,4% 66,5%
61,1% 61,3% 60,6%
59,2%
56,4%

Privado
Público

43,6%
40,8%
38,9% 38,7% 39,4%

33,2% 32,6% 33,5%


29,7%
27,5%

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

No mundo, investimentos do Estado no setor são muito representativos. Dados do Banco


Mundial mostram que, nas economias emergentes, o financiamento público representa cerca de
70% do total de recursos aplicados em infraestrutura5. Atualmente, o Brasil está muito aquém
desse patamar.

Apesar do empreendedorismo crescente do setor privado, os investimentos em infraestrutura


no Brasil ainda estão muito abaixo do necessário. Como indicado no Gráfico 2, em 2019, foram
investidos R$ 123,9 bilhões em setores diversos, como transportes/logística, energia elétrica,
telecomunicações e saneamento. Tais investimentos representaram 1,71% do PIB do ano, mas
se estima que, para suprir as necessidades do país, deveriam ter sido investidos em 2019
R$ 284,4 bilhões ou 4,31% do PIB brasileiro6.

Os gargalos dos investimentos em infraestrutura nos últimos anos ficam ainda mais claros
quando se analisa o estoque de capital – ou seja, tudo o que foi investido no setor em relação
ao PIB. Como se pode ver no Gráfico 4 a seguir, atualmente, no Brasil, o indicador está em
36% do PIB, patamar distante do registrado por outros países 7. Em economias emergentes,
como na Índia e na China, o nível é de 58% e 76% do PIB, respectivamente. O Japão lidera,
com 179% de seu PIB investidos em infraestrutura.

5
Fonte: Abdib, 2020.
6
Fonte: Abdib. 2020.
7
Fonte: Abdib. 2020.

Página 3 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

Como o PIB do Brasil em 2019 foi de R$ 7,4 trilhões, e o valor da infraestrutura instalada no
país equivale a 36% do PIB, o estoque de capital do Brasil é de cerca de R$ 2,7 trilhões.
Assumindo que a vida útil média de ativos de infraestrutura é de 25 anos, a cada ano, o
estoque brasileiro deprecia cerca de R$ 100 bilhões, valor que, portanto, deveria ser investido
anualmente apenas para repor a depreciação. Como dito, em 2019 foram investidos apenas
R$ 123,9 bilhões, valor que representa pouco além de compensar no período a depreciação dos
ativos de infraestrutura já existentes.

Gráfico 4 Estoque de infraestrutura em % do PIB (Fonte: Abdid)

179%

82% 85% 87%


76% 80%
71% 73%
64%
57% 58% 58%
36%

3. Oportunidades de investimento em infraestrutura no Brasil

A carteira de projetos de infraestrutura do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do


governo federal traz ao setor privado projetos que despertam o apetite de investidores. Dentre
os projetos federais, nos setores de ferrovias, aeroportos, rodovias, portos, energia elétrica,
petróleo e gás, a carteira atualmente conta com 54 projetos em diferentes estágios de
elaboração e tramitação, representando investimento total de R$ 379 bilhões 8.

No setor de ferrovias, com investimento total estimado de R$ 63,4 bilhões, destacam-se:

 No Mato Grosso (MT) e Pará (PA), a concessão da Ferrogrão, que já passou pelas etapas
de estudos e consulta pública, atualmente está na fase de acórdão do TCU, e prevê
investimento estimado de R$ 21,5 bilhões; e

 Em Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), a prorrogação da concessão
da MRS Logística, que já passou pela etapa de estudos, atualmente está na fase de
consulta pública, e prevê investimento estimado de R$ 16,8 bilhões.

8
Fonte: Abdib, 2020.

Página 4 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

Mapa 1 Atual carteira de projetos do PPI9

No setor de aeroportos, com investimento total estimado de R$ 6,1 bilhões, destaca-se a


concessão do chamado Bloco Sul, que inclui aeroportos em cidades como Curitiba, Foz do
Iguaçu e Joinville, já passou pelas etapas de estudos e consulta pública, atualmente está na
fase de acórdão do TCU, e prevê investimento estimado de R$ 2,8 bilhões, e leilão no segundo
trimestre de 2021.

No setor de rodovias, com investimento total estimado de R$ 128,6 bilhões, destacam-se:

 A concessão das chamadas Rodovias Integradas do Paraná (PR), um conjunto de nove


BRs interligando o porto de Paranaguá à fronteira com o Paraguai passando pela região
metropolitana de Curitiba, que ainda está na fase de estudos, prevê investimento
estimado de R$ 42 bilhões, e leilão no terceiro trimestre de 2021;

9
Fonte: https://www.ppi.gov.br/projetos1#/s/Em%20andamento/u//e//m//r/.

Página 5 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

 No RJ e SP, a nova da concessão da Via Dutra, que já passou pela etapa de estudos,
atualmente está na fase de consulta pública, prevê investimento estimado de
R$ 15 bilhões inclusive em melhorias como um túnel no trecho da Serra das Araras, e
leilão no segundo trimestre de 2021; e

 A concessão de 5.384km de rodovias em 13 estados, que ainda está na fase de estudos,


prevê investimento estimado de R$ 30 bilhões, e leilão no terceiro trimestre de 2022.

No setor de portos, com investimento total estimado de R$ 15,3 bilhões, destaca-se a


desestatização do porto de Santos (Codesp), que ainda está na fase de estudos, e prevê
investimento estimado de R$ 10,5 bilhões, com data de leilão a definir.

No setor de petróleo e gás, está previsto o leilão de cessão onerosa nas bacias Potiguar,
Campos, Santos e Pelotas, previsto para o segundo semestre de 2021, com investimento
estimado de R$ 145 bilhões.

Os governos estaduais de todo o país e do Distrito Federal também preveem em seu


planejamento importantes e promissores projetos de infraestrutura, totalizando investimentos
estimados de R$ 162,4 bilhões10.

No Centro-Oeste, com investimento total estimado de R$ 12,5 bilhões, destacam-se:

 No Distrito Federal (DF), a PPP Avenida das Cidades, que prevê a reurbanização e a
revitalização da região sudoeste do DF, já passou pela etapa de prospecção de mercado,
atualmente está na fase de estudo de viabilidade técnica, e prevê investimento estimado
de R$ 3,2 bilhões;

 A PPP para a implantação do VLT do DF, que já passou pelas etapas de prospecção de
mercado, estudo de viabilidade técnica e modelagem, atualmente está na fase de
consulta pública, e prevê investimento estimado de R$ 2,1 bilhões; e

 No Mato Grosso do Sul (MS), a PPP para esgotamento sanitário do estado, que já passou
pelas etapas de prospecção de mercado, estudo de viabilidade técnica, modelagem,
consulta pública e edital, atualmente está na fase de licitação, prevê investimento
estimado de R$ 1,7 bilhão.

No Nordeste, com investimento total estimado de R$ 31,2 bilhões, destacam-se:

 No Ceará (CE), a PPP para esgotamento sanitário do estado, que já passou pela etapa de
prospecção de mercado, atualmente está na fase de estudo de viabilidade técnica, prevê
investimento estimado de R$ 6,7 bilhões, e leilão no terceiro trimestre de 2021;

 Em Alagoas (AL), a concessão para distribuição de água e esgotamento sanitário do


estado, que já passou pelas etapas de prospecção de mercado, estudo de viabilidade
técnica, modelagem, consulta pública e edital, atualmente está na fase de licitação, e
prevê investimento estimado de R$ 2,6 bilhões;

10
Fonte: Abdib, 2020.

Página 6 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

 Em AL, a implantação do VLT metropolitano de Maceió, ainda em fase de elaboração,


com investimento estimado de R$ 2,3 bilhões; e

 Na Paraíba (PB), a revitalização do Polo Turístico do Cabo Branco, em João Pessoa, que
já passou pela etapa de prospecção de mercado, atualmente está na fase de estudo de
viabilidade técnica, e prevê investimento estimado de R$ 1,8 bilhão.

No Norte, com investimento total estimado de R$ 19,3 bilhões, destacam-se:

 A implantação da Ferrovia do Pará, modal que interligará Bom Jesus do Tocantins a


Barcarena e ao Porto de Vila do Conde, que já passou pela etapa de prospecção de
mercado, atualmente está na fase de estudo de viabilidade técnica, e prevê investimento
estimado de R$ 12,6 bilhões;

 No Amapá (AP), a PPP para a universalização de água e esgoto no estado, que já passou
pelas etapas de prospecção de mercado, estudo de viabilidade técnica e modelagem,
atualmente está na fase de consulta pública, prevê investimento estimado de
R$ 3,1 bilhões, e leilão no primeiro trimestre de 2021; e

 Em Roraima (RR), a PPP para a implantação do Corredor de Desenvolvimento Brasil –


Guiana, com rodovia, porto, gasoduto e cabo de fibra ótica interligando os países, que
está atualmente está na fase de prospecção de mercado, prevê investimento estimado
de R$ 2 bilhões, e leilão em dezembro de 2023.

No Sudeste, com investimento total estimado de R$ 79,8 bilhões, destacam-se:

 No RJ, a concessão para abastecimento de água e esgoto no estado, que já passou pelas
etapas de prospecção de mercado, estudo de viabilidade técnica e modelagem,
atualmente está na fase de consulta pública, prevê investimento estimado de
R$ 33,5 bilhões, e licitação no primeiro trimestre de 2021;

 Em SP, a PPP para a implantação do Trem Intercidades Americana-Campinas-São Paulo,


que já passou pelas etapas de prospecção de mercado, estudo de viabilidade técnica e
modelagem, atualmente está na fase de consulta pública, e prevê investimento estimado
de R$ 7,2 bilhões; e

 Em MG, a concessão de cerca de 3 mil km de rodovias, que já passou pelas etapas de


prospecção de mercado e estudo de viabilidade técnica, atualmente está na fase de
modelagem, e prevê investimento estimado de R$ 7,1 bilhões.

Por fim, no Sul, com investimento total estimado de R$ 19,7 bilhões, destacam-se:

 No Paraná (PR), a concessão para a desestatização da Ferroeste, com extensão da


malha ferroviária, que já passou pela etapa de prospecção de mercado, atualmente está
na fase de estudo de viabilidade técnica, prevê investimento estimado de
R$ 12 bilhões, e licitação no segundo semestre de 2022; e

Página 7 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

 No Rio Grande do Sul (RS), a PPP para esgotamento sanitário em 31 municípios do


estado, que já passou pela etapa de prospecção de mercado, atualmente está na fase de
estudo de viabilidade técnica, prevê investimento estimado de R$ 3 bilhões, e licitação
no segundo trimestre de 2021.

No total, o PPI do governo federal e os 27 governos estaduais e do DF planejam ou já estão


avançando nos trâmites de 260 projetos de infraestrutura em todo o país nos próximos anos,
com necessidades e oportunidades de investimentos estimados de R$ 541,5 bilhões.

Segundo estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), aumentar o investimento público em


1% do PIB pode fortalecer a confiança e impulsionar o PIB em 2,7%, o investimento privado em
10%, e o emprego em 1,2% gerando, diretamente, entre dois e oito empregos para cada
milhão de dólares gasto em infraestrutura.

No caso do Brasil, se o governo atrair investimento privado e complementar de forma que o


país invista os R$ 284 bilhões ou cerca de US$ 56 bilhões por ano necessários a suprir as
necessidades do país, impulsionará a geração de até 450 mil empregos, e ainda mais
investimentos privados nacionais e internacionais nos atraentes projetos de infraestrutura do
PPI e dos governos estaduais.

3.1. Oportunidades de investimento no setor elétrico brasileiro

A falta de energia elétrica afeta de forma negativa o bem-estar humano e o desenvolvimento.


Países com qualidade de vida mais alta consomem mais energia elétrica per capita.

Página 8 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

O setor elétrico brasileiro possui a 8ª maior capacidade instalada do mundo, com 171.879 MW,
dos quais 74,4% são de fontes de energia limpa (hidráulica, eólica, solar e nuclear)11. E, com
156.538km de linhas, o sistema de transmissão brasileiro poderia dar quase quatro voltas no
planeta Terra. Trata-se de um setor robusto e com grande potencial de investimento. De acordo
com o Plano Decenal de Energia (PDE) 2029 da Empresa de Planejamento de Energia Elétrica
(EPE), a eletricidade é a fonte de energia que mais crescerá no Brasil na próxima década.

Ainda segundo o PDE 2029, a garantia física existente e já contratada deixará de ser suficiente
para o projetado crescimento da demanda por volta de 2024. Para atender à demanda
projetada, até 2029, será preciso investir na implantação de 19.500 MWmed adicionais na
capacidade instalada do país, lastreados por novos empreendimentos.

Gráfico 5 Garantia física X Projeção de demanda


(Valores em MWmed) (Fonte: EPE, 2020)

11
Fonte: MME, Boletim Mensal de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasileiro. Março de 2020.

Página 9 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

Para suprir as necessidades energéticas do Brasil na próxima década, o PDE 2029 estima que
será preciso investir R$ 456 bilhões no setor elétrico nacional, nos seguintes segmentos:

 R$ 303 bilhões em ativos de geração centralizada;

 R$ 50 bilhões em ativos de geração distribuída;

 R$ 104 bilhões em transmissão, sendo R$ 74 bilhões em linhas, e R$ 30 bilhões em


subestações; desses R$ 104 bilhões, R$ 70 bilhões dizem respeito a projetos já com
outorga, R$ 24 bilhões a projetos com estudos concluídos, e R$ 15 bilhões, a projetos
indicativos, com estudos a iniciar.

Prevê-se, para a próxima década, o crescimento significativo das fontes eólica e solar na matriz
energética brasileira, contribuindo para a manutenção do caráter limpo da geração de energia
no país, e impulsionando novas oportunidades de investimentos e negócios.

Gráfico 6 Capacidade instalada do Brasil: 2019 x 2029


(Valores em GW) (Fonte: EPE, 2020)

4. Conclusão

O setor de infraestrutura tem um papel central, uma vez que constitui a mola mestra para
reestabelecer a economia brasileira via aumento da competitividade do país.

Precisaremos de todas as fontes possíveis para recuperar os investimentos no setor. Somente a


complementaridade entre o setor público e o privado conseguirá via ferramentas que envolvam,
por exemplo, investimentos, estruturas de garantias e bons projetos assegurar um incremento
das taxas de investimento do setor que superarem os atuais 1,7% do PIB em direção a pelo
menos 4%.

O Brasil precisa preparar-se para retomar os investimentos, administrando adequadamente


contingências em contratos de concessão existentes e preparando as bases para concessões e
investimentos futuros, que são imprescindíveis para a aceleração da recuperação econômica.

Página 10 de 11
Necessidades e oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil
Wilson Ferreira Junior

Dentre as principais medidas recomendadas, destacam-se:

 Recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão de


infraestrutura em função da atual crise, que provocou redução da demanda, aumento da
inadimplência, dificuldades operacionais e redução da liquidez. A Advocacia Geral da
União (AGU) já reconheceu que a pandemia é caso fortuito e de força maior, e que os
concessionários têm direito ao reequilíbrio de seus contratos;

 Reformas regulatórias para acelerar investimentos em infraestrutura. Projetos de lei


importantes atualmente em tramitação ou apresentados no Congresso incluem:

o PL 1.292/1995: Substitui regimes de licitações públicas existentes por uma


legislação nova, mais eficiente, com mais racionalidade e transparência;

o PL 3.729/2004: Esclarece competências entre União, estados e municípios no


licenciamento ambiental, aperfeiçoa processos e revê exigências desnecessárias;

o PLS 232/2016 – Promove revisão e aprimoramento no modelo do setor elétrico a


partir de uma ampla consulta a empresas e especialistas do setor;

o PL 5.877/2019 – Desestatização da Eletrobras e fim do regime de cotas;

 Estrutura de garantias e financiamento por meio de mecanismos como fundos


garantidores prevendo recuperação da dívida, ou parte dela, caso o projeto não tenha
sucesso e sua concessionária não tenha capacidade de saldar o financiamento. No Brasil,
na saída da crise, há perspectiva de que os orçamentos públicos estarão ainda mais
pressionados, sendo necessário viabilizar outras fontes de financiamento e de garantias
para programas de concessões à iniciativa privada;

 A securitização da dívida tributária renegociada dos entes públicos oferece oportunidade


real de contribuir, no atual contexto de crise fiscal, com o aumento de receita no
orçamento dos entes públicos (federal, estadual e municipal), impulsionando
investimentos públicos e privados já no curto prazo;

 Um programa de médio e longo prazo de investimentos em infraestrutura é importante


para a definição de um planejamento e de uma estratégia de desenvolvimento para o
país. No entanto, os erros do passado não podem ser repetidos. Um deles é elaborar um
programa sem uma visão sistêmica de estratégia de desenvolvimento e projetos bem
estruturados, com racionalidade econômica e uma governança adequada;

 A remuneração regulatória deve estar adequada às condições de mercado no momento


do investimento, tanto para ativos ainda a serem licitados como para ativos operacionais
que necessitem de reforços e melhorias. A metodologia de cálculo do WACC regulatório é
de fundamental importância para atração de investimentos no setor; e

 Robustecer a agenda ESG corporativa para atrair investidores internacionais cada vez
mais exigentes com o desempenho sustentável de empresas e empreendimentos.

Página 11 de 11

Você também pode gostar